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POSTURAS PATOLÓGICAS NAS LESÕES DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL Valéria Neves Kroeff Mayer 1 Anormalidades sensório motoras, posturais e do tônus, são comuns após lesões do Sistema Nervoso, tanto Central quanto Periférico. Este artigo se propõe à apresentar três posturas patológicas reflexas presentes em casos de grave comprometimento do Sistema Nervoso Central, são elas: Decorticação, Descerebração e Opistótono. As respostas motoras reflexas em pacientes com baixo nível de consciência são testadas através da aplicação de estímulos nociceptivos e da observação e registro da resposta (motora) apresentada pelo paciente (Umphred, 1994. p. 348). A fim de efetuar não apenas a avaliação, mas também o registro da evolução das respostas motoras destes pacientes, utiliza-se a Escala de Coma de Glasgow. Este protocolo, reconhecido e utilizado mundialmente, pontua o nível de consciência do paciente, numa escala de 3 à 15 pontos, à partir da melhor resposta verbal (1-5 pontos), melhor resposta motora (1-6 pontos) e abertura ocular (1-4 pontos). A Escala de Coma de Glasgow nada mais é do que uma “escala de pontuação clínica usada na avaliação do nível de consciência durante o coma” (O‟Sullivan e Shmitz, 1993. p.150) Como dito anteriormente, por esta escala de coma pontua-se de 1 à 6 a melhor resposta motora. Esta pontuação é feita da seguinte maneira: Seis pontos quando o paciente executa ação motora, obedecendo ao comando verbal; cinco pontos se o paciente localiza o estímulo nociceptivo; quatro pontos se apresenta resposta protetora de retirada; três pontos se a resposta observada é de flexão anormal (decorticação); dois pontos se a resposta apresentada é de extensão anormal (descerebração) e um ponto se o paciente não apresenta nenhuma resposta motora a estímulo nociceptivo produzido pelo avaliador. Deste modo, pode-se dizer que as respostas motoras são vistas em três categorias: apropriadas, inapropriadas e ausentes (Umphred, 1994. p. 348). Assim sendo, à medida em que as respostas motoras vão involuindo, desde uma 1 Fisioterapeuta, Mestre em Educação (UFRGS) e em Desenvolvimento Regional (UNISC), Especialista em Educação Especial (UNISC), Professora das Disciplinas de Fisioterapia Neurofuncional I e II na Universidade de Santa Cruz do Sul.

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PPOOSSTTUURRAASS PPAATTOOLLÓÓGGIICCAASS NNAASS LLEESSÕÕEESS DDOO SSIISSTTEEMMAA NNEERRVVOOSSOO CCEENNTTRRAALL

Valéria Neves Kroeff Mayer1

Anormalidades sensório motoras, posturais e do tônus, são comuns após

lesões do Sistema Nervoso, tanto Central quanto Periférico. Este artigo se propõe à

apresentar três posturas patológicas reflexas presentes em casos de grave

comprometimento do Sistema Nervoso Central, são elas: Decorticação,

Descerebração e Opistótono.

As respostas motoras reflexas em pacientes com baixo nível de consciência são

testadas através da aplicação de estímulos nociceptivos e da observação e registro

da resposta (motora) apresentada pelo paciente (Umphred, 1994. p. 348).

A fim de efetuar não apenas a avaliação, mas também o registro da evolução

das respostas motoras destes pacientes, utiliza-se a Escala de Coma de Glasgow.

Este protocolo, reconhecido e utilizado mundialmente, pontua o nível de consciência

do paciente, numa escala de 3 à 15 pontos, à partir da melhor resposta verbal (1-5

pontos), melhor resposta motora (1-6 pontos) e abertura ocular (1-4 pontos). A

Escala de Coma de Glasgow nada mais é do que uma “escala de pontuação clínica

usada na avaliação do nível de consciência durante o coma” (O‟Sullivan e Shmitz,

1993. p.150)

Como dito anteriormente, por esta escala de coma pontua-se de 1 à 6 a melhor

resposta motora. Esta pontuação é feita da seguinte maneira: Seis pontos quando o

paciente executa ação motora, obedecendo ao comando verbal; cinco pontos se o

paciente localiza o estímulo nociceptivo; quatro pontos se apresenta resposta

protetora de retirada; três pontos se a resposta observada é de flexão anormal

(decorticação); dois pontos se a resposta apresentada é de extensão anormal

(descerebração) e um ponto se o paciente não apresenta nenhuma resposta motora

a estímulo nociceptivo produzido pelo avaliador.

Deste modo, pode-se dizer que as respostas motoras são vistas em três

categorias: apropriadas, inapropriadas e ausentes (Umphred, 1994. p. 348). Assim

sendo, à medida em que as respostas motoras vão involuindo, desde uma

1 Fisioterapeuta, Mestre em Educação (UFRGS) e em Desenvolvimento Regional (UNISC),

Especialista em Educação Especial (UNISC), Professora das Disciplinas de Fisioterapia Neurofuncional I e II na Universidade de Santa Cruz do Sul.

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motricidade voluntária (apropriada) até uma resposta cada vez mais reflexa

(inapropriada), ou então à ausência total de resposta motora, o avaliador vai

observando um maior ou menor comprometimento do tecido nervoso.

“A disfunção reflete o envolvimento seletivo de vários neurônios motores e suas

vias ou funções que são „liberadas‟ quando o controle dos centros superiores está

comprometido”. O que irá determinar os padrões de distúrbios motores, no entanto,

será a extensão e a localização da lesão (Umphred, 1994. p.348).

DDEECCOORRTTIICCAAÇÇÃÃOO

Embora o termo decorticação seja utilizado por alguns autores para referir-se à

retirada de parte ou totalidade do córtex cerebral, geralmente realizada em animais

para experimentações científicas, feitas em laboratório, este termo será aqui utilizado

para definir uma postura flexora patológica causada por danos cerebrais. Autores

como Umphred (1994), usam a expressão rigidez de decorticação para denotar este

tipo de postura anormal.

O Dicionário Médico Blakiston diz que, posição decorticada é a postura

observada em casos de “lesões ao nível ou acima do pedúnculo cerebral superior,

isto é, cujo córtex cerebral não está funcionando”. Segundo esta referência teórica o

paciente, quando em posição decorticada mantém-se deitado, numa postura imóvel e

muito rígida. Quando aplicado algum estímulo, pode haver uma exacerbação da

postura, podendo o tronco apresentar-se em opistótono, ou seja, arqueado

anteriormente.

Nitrini e Bacheschi (2003) descrevem este sinergismo postural flexor num

posicionamento em “adução, flexão do cotovelo, flexão do punho e dos dedos do

membro superior, e hiperextensão, flexão plantar e rotação interna do membro

inferior”. (p.159)

Observa-se assim, que o sinergismo postural flexor que caracteriza a

decorticação, não diz respeito à uma postura de flexão total de membro(s)

superior(es) e inferior(es). A flexão patológica é observada apenas no membro

superior, ou nos membros superiores, estando o(s) membro(s) inferiore(s) em rigidez

extensora.

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DDEESSCCEERREEBBRRAAÇÇÃÃOO

O termo descerebração, ou como prefere Umphred (1994), rigidez de

descerebração é também usado para denotar um tipo de postura anormal. Esta

postura caracteriza-se, no entanto, por resposta extensora anormal do(s) membro(s)

superior(es) e inferior(es).

Rigidez descerebrada, segundo o Dicionário Médico Blakiston, diz respeito à

uma postura patológica extensora decorrente da destruição das áreas encefálicas

responsáveis pelo controle extra-piramidal superior.

Nitrini e Bacheschi (2003) descrevem o achado deste sinergismo postural

extensor (descerebração) em pesquisas com animais. Apontam, no entanto, que no

homem “este padrão ocorre por lesões em nível de tronco alto, acima do núcleo

rubro2, e até diencéfalo3” (p.159).

Estes autores (Nitrini e Bacheschi, 2003) descrevem este sinergismo postural

extensor, característico da descerebração, como uma postura em que ocorre

“adução, extensão, hiperpronação do membro superior, e extensão, flexão plantar do

membro inferior”, podendo haver opistótono e oclusão da mandíbula (p.159).

2 Núcleo Rubro: “Agrupamento mesencefálico de células envolvidas no controle do movimento” (Bear,

Connors e Paradiso, 2002. p. 822) 3 Diencéfalo: “Região do tronco encefálico derivada do prosencéfalo” (Bear, Connors e Paradiso,

2002. p.815). Segundo o Dicionário Médico Blakiston, prosencéfalo é a “vesícula cerebral anterior do embrião, que se subdivide em telencéfalo e diencéfalo”. O diencéfalo compreende as seguintes partes: tálamo, hipotálamo, epitálamo e subtálamo, todas em relação com o III ventrículo. (Machado, 1991. p.37)

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OOPPIISSTTÓÓTTOONNOO

Embora alguns autores definam opistótono como sinônimo de postura de

descerebração, este é descrito por Umphred (1994) como uma “posição de extrema

hiperextensão da coluna vertebral causada por um espasmo tetânico da musculatura

extensora”(p.863).

Entende-se por espasmo tetânico, um estado tônico anormal da musculatura,

semelhante à que se observa na presença de tétano, ou seja, com “extrema rigidez

do corpo e espasmos tônicos dolorosos da musculatura voluntária” (Dicionário

Médico Blakiston).

O Dicionário Médico Blakiston descreve esta postura patológica como um

“estado no qual a cabeça e os membros inferiores estão recurvados para trás,

enquanto o tronco se arca anteriormente, por um espasmo tetânico dos músculos

dorsais”. Observa-se a postura opistótona em casos de irritação meníngea grave e

“em outros estados neurológicos pronunciados”.

Disponível em: http://www.sistemanervoso.com/images/neurologia_clinica_aula2008/avaliacao_geral02.jpg

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RREEFFEERRÊÊNNCCIIAASS

1. BEAR, Mark; CONNORS, Barry e PARADISO, Michael. Neurociências:

desvendando o sistema nervoso. 2.ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.

2. Dicionário Médico Blakiston. 2.ed. São Paulo: Andrei Editora, s.d.

3. MACHADO, Ângelo. Neuroanatomia funcional. Rio de Janeiro: Atheneu, 1991.

4. NITRINI, Ricardo e BACHESCHI, Luiz A. A neurologia que todo médico deve

saber. 2.ed. São Paulo: Atheneu, 2003.

5. O‟SULLIVAN, Susan e SHMITZ, Themas. Fisioterapia avaliação e tratamento.

2.ed. São Paulo: Manole, 1993.

6. UMPHRED, Darcy Ann. Fisioterapia neurológica. 2.ed. São Paulo: Manole, 1994.