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Transformações no espaço doméstico – o fogão a gás e acozinha paulistana, 18701!"0

 #oão $uiz %a&imo da 'il(a1

)*'+%

Este artigo estuda algumas das transformações na cozinha paulistana, produzidas entre oúltimo quartel do século XIX e as três primeiras décadas do século XX, pela introdução denovas premissas sanitrias, levadas a ca!o por autoridades médicas e pela municipalidade"#lém disso, procuramos discutir o papel das principais empresas de energia, como a $he %an&aulo 'as (ompan) e, mais tarde, a $he %ão &aulo $ram*a) +ight and &o*er (ompan), napromoção da tecnologia do gs, e principalmente do fogão a gs que elas oporão aos fogõesa lenha e carvão" Estas empresas tiveram um importante papel na circulação de novas idéiasde racionalização e higiene, contri!uindo para a renovação do espaço doméstico que, pelatecnologia, passa a depender de um -sistema- de infra.estrutura destinado a articular, de uma

forma inédita, o espaço privado ao espaço pú!lico"-ala(rascha(e. (ozinha" &u!licidade" /ogão a gs" $ra!alho doméstico" %ão &aulo"

 /ntrodução

0 o!1etivo desse artigo2 é discutir algumas das transformações da cozinha na casa paulistanaentre 3456 e 3786" 0 ano de 3456 é considerado um marco fundamental para a hist9riaecon:mica e ur!ana de %ão &aulo por registrar um per;odo de mudanças ur!anas ligadas <e=pansão cafeeira, além do in;cio de operações das empresas de energia que tratamos nesse

artigo" 0 ano de 3786 foi escolhido como !aliza final, pois, além de ser um marco pol;tico,representa tam!ém um momento de mudanças no relacionamento entre o governo e asempresas de energia" 0 modelo de concessão de e=ploração de energia para gruposestrangeiros, inaugurado com a The San Paulo Gas Company  e consolidado com a Light ,chegou ao fim 1unto com a >epú!lica ?elha"

#lém do papel do poder pú!lico, procuramos avaliar a participação das empresas de energia@gs e eletricidadeA no fomento de novos com!ust;veis e equipamentos domésticos, quetiveram um papel importante nessas transformações" (omo desdo!ramento de suas atividadesnos serviços ur!anos, as empresas de energia procuraram desenvolver o consumo domésticode gs e eletricidade e introduzir, so!retudo, o fogão a gs, procurando su!stituir seu principalconcorrente, o fogão a lenha @e tam!ém a carvãoA" Besse processo, foram importantes duas

empresas de capital estrangeiroC a The San Paulo Gas Company  8, constitu;da em +ondres em34D7, e a The São Paulo Tramway Light and Power Company , constitu;da no (anad em

3477" Essas duas empresas, unidas mais tarde no grupo Light , foram as grandesresponsveis pela introdução do gs e da eletricidade em grande escala na cidade de %ão

&aulo a partir do final do século XIXF"

Gma das questões que devemos considerar é o resultado do impacto provocado pelas novasempresas e seu papel em um processo mais amplo, que envolvia aspectos da ur!anizaçãolevada a ca!o pelo poder pú!lico" Esse per;odo trou=e uma ruptura com o passado, e a casapaulistana foi fortemente modificada nesse processo de atualização, entrando em choque comantigas prticas" Bo espaço dessas novas residências, os equipamentos domésticos a gstiveram um papel central, pois propiciaram uma nova configuração espacialH e novas relações

de tra!alho e convivência doméstica" Empresas como a Light  representavam um ideal deprogresso endossado por nossas elites" #lém disso, foram o ponto de ligação da casa com oespaço ur!ano, por via das redes de distri!uição de energia e da prestação de serviçostécnicos, um fen:meno novo na cidade de %ão &aulo" Esse processo revelou um forte

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descompasso entre a realidade social !rasileira e sua representação pelos grupos estrangeirosque procuravam e=plorar o grande crescimento ur!ano de cidades como a capital paulista"Besse conte=to, o papel das empresas e da pu!licidade foi decisivo para vencer resistências eescamotear dificuldades e :nus"

 -roetos de racionalização da cozinha

#ntes de tratarmos da casa paulistana, é necessrio discutirmos os pro1etos de racionalizaçãoda cozinha que 1 eram pensados e implantados na Europa e Estados Gnidos" ustifica.se talpreJm!ulo, pois deles é que importamos os modelos, a tecnologia e, em !oa parte, osequipamentos"

#s preocupações com a organização da casa e do tra!alho doméstico remontam < segundametade do século XIX nos Estados Gnidos" 0 final da 'uerra de %ecessão e a a!olição daescravidão colocaram em primeiro plano os pro!lemas com o serviço doméstico" Bos EstadosGnidos esses estudos e propostas partiram de premissas sociais, 1 que o serviço domésticoestava fortemente associado < escravidão" #lém da diminuição de oferta de mão.de.o!ra parao tra!alho doméstico, havia cada vez mais uma reação contra a presença de empregados noslares @'IEKI0B, 374, p" 28A" #ntes mesmo da mecanização dos fogões e outros

equipamentos, que determinaram mudanças na cozinha, um componente importante foi acrescente preocupação com a organização do espaço da casa e suas atividades" %egundo'iedion @374, p" F34.F37A, o marco inicial desse movimento foi a pu!licação, em 343, domanual Treatise on domestic economy , de (atherine Esther Leecher" 0 o!1etivo da autora erao ensino de economia doméstica para donas de casa e a organização das tarefas na cozinha"%ua preocupação era com a racionalização das tarefas domésticas a cargo da mulher, lançandoas !ases para a organização do processo de tra!alho doméstico, < semelhança do queacontecia com o tra!alho nas f!ricas"

&rosseguindo em seus estudos, Leecher lançou em 34D7 a o!ra The American woman's home,em que analisava a importJncia do plane1amento da cozinha e do esta!elecimento desuperf;cies de tra!alho, que facilitariam o movimento da dona de casa na e=ecução dastarefas" %e nos primeiros modelos de cozinha o fogão era colocado separado do restante doespaço, com o desenvolvimento do fogão compacto de ferro, aconteceu o a1uste perfeito donovo equipamento < superf;cie cont;nua de tra!alho, 1 preconizado pela educação doméstica"

0s fa!ricantes americanos de aparelhos domésticos se interessaram pelas pesquisas deorganização da cozinha" # partir de 3732, (hristine /redericM empreendeu estudos de gestãocient;fica da rotina diria da casa e movimentos da dona de casa na e=ecução das tarefas" Esseprocesso era defendido por grupos femininos, como as chamadas material feminists, quepregavam a total coletivização dos tra!alhos domésticos" Elas propunham remuneração para otra!alho da dona de casa, transformação espacial e material das casas, e criação de cozinhascoletivas" # infra.estrutura propiciada pelas empresas de serviço @gs e eletricidadeA e osurgimento de equipamentos domésticos atendiam <s demandas desses grupos @N#OKEB,3743, p" DA" Besse processo, os engenheiros tiveram um papel importante, no

desenvolvimento de novas formas de organização espacial e no estudo dos movimentosnecessrios para a e=ecução das tarefas domésticas" # mecanização das tarefas domésticas eo fornecimento de gs e eletricidade nas casas reforçaram esse processo"

%e nos Estados Gnidos os engenheiros tiveram um papel primordial na reorganização dotra!alho doméstico, na Europa foram os arquitetos que tomaram a frente nas pesquisas, sem ocomponente social representado pela 'uerra da %ecessão do caso americano" #rquitetoseuropeus desenvolveram pro1etos como a -cozinha de /ranMfurt-, um espaço altamenteespecializado e de tamanho reduzido" Esta cozinha se destacava pela padronização doscomponentes e disposição dos equipamentos @fogão, pia e armriosA em superf;cie cont;nua detra!alho" 0 ponto de partida destas pesquisas foi o livro Household engineering: scientificmanagement in the home, de (hristine /redericM, pu!licado em 373F pela #merican %chool ofNome Economics @L>GB#, 3774, p" 34A"

# organização da cozinha visava a atingir uma simplificação das tarefas, com a economia demovimentos, e o !arateamento dos equipamentos, a partir da produção em grande escala" #idéia deste tipo de cozinha era li!erar a mulher para o mercado de tra!alho, diminuindo e

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simplificando ao m=imo o tra!alho doméstico" # padronização e racionalização da ha!itação eseus componentes visava a uma radical transformação da casa, em especial da cozinha, eapoiava.se tanto no desenvolvimento de novos equipamentos, quanto nos estudos deracionalização do tra!alho doméstico" # principal preocupação era o desenvolvimento de umnovo tipo de ha!itação, que deveria induzir um novo comportamento social" 0s novosequipamentos domésticos e a racionalização do tra!alho estariam a serviço de uma nova formade morar em casas conce!idas como -mquinas de morar- @L>GB#, 3774, p" 25.A"

Esse movimento arquitet:nico e social é que teria influenciado as discussões so!re ha!itaçãosocial no Lrasil a partir da década de 3786" Em maio de 3783, so! o patroc;nio da &refeitura edo Instituto de Engenharia de %ão &aulo, realizou.se em %ão &aulo o I (ongresso deNa!itação" 0 parJmetro para esse congresso era 1ustamente o de!ate da arquitetura européiaacerca da intervenção na vida das classes tra!alhadoras por intermédio da construção de

moradiasD" # partir da década de 3786, começam a ser discutidos no Lrasil os princ;pios deracionalização do tra!alho" %egundo Paria (ec;lia B" Nomem @2668, p" 32F.32DA o Idort@Instituto de 0rganização >acional do $ra!alhoA começou a pu!licar em sua revista uma sériede artigos, inspirados em princ;pios da engenharia norte.americana, so!re a aplicação deprinc;pios de racionalidade na cozinha"

Pas, antes disso, as preocupações com a cozinha e o tra!alho doméstico foram introduzidas

com a medicina sanitria e a oferta de gs e eletricidade para uso doméstico no in;cio doséculo XX" E as residências das elites ur!anas por sua vez, foram influenciadas pelosurgimento de moradias isoladas na Europa do século X?III, que estavam associadas a noções

de conforto e intimidade5" # diversificação das moradias na cidade de %ão &aulo trou=e asprimeiras preocupações com novas formas de morar e organizar as atividades domésticas" Emnosso caso a dimensão pol;tica e social tam!ém estaria ausente, como veremos a seguir"

 /nter(enções na cozinha paulistana

0 grande crescimento da cidade de %ão &aulo a partir das últimas décadas do século XIX gerouum aumento e diversificação dos padrões de moradia na cidade" # a!ertura de novas reas

estava diretamente ligada ao esta!elecimento de um mercado imo!ilirio cada vez maisatuante" 0 crescimento demogrfico e o desenvolvimento econ:mico provocavam uma grandedemanda por ha!itações para vrias camadas da população" #lém dos loteamentos paraclasses mais a!astadas, havia tam!ém o crescimento de cortiços na rea central, a construçãode moradias para aluguel e casas para operrios, evidenciando uma grande segmentação" %e,até 3456, do ponto de vista da renda, a propriedade da terra era pouco relevante, com odesenvolvimento econ:mico, o mercado imo!ilirio tornou.se e=tremamente lucrativo, atraindocapital antes imo!ilizado na posse de escravos @>0+BIQ, 3775, p" 362A" 0 centro @rea

conhecida como $riJngulo4A sofreu grandes transformações, com a regularização de suas ruase e=pulsão das camadas mais po!res para transformar em espaço de comércio elegante"Nouve uma especialização funcional da região e, em conseqRência, sua remodelação, com aconstrução de !ulevares, derru!ada de quarteirões e proi!ição de cortiços no per;metro

comercial @que coincidia com o referido $riJnguloA, esta!elecida pelo (9digo de &osturas de345F @revisto e ampliado em 344DA7"

/oi nesse universo de novos tipos de ocupações residenciais em %ão &aulo que se definiu oespaço da cozinha, distanciando.se da imagem caracter;stica da rea de serviço da antiga casa

paulistana" # imagem que chegou até n9s da cozinha da casa de padrão !andeirista36 sugeriatra!alho pesado e su1o, desenvolvido longe das reas de estar" $odo o serviço era concentradonesse local" # descrição de ohn Pa*e, que visitou %ão &aulo em 3465, é !em representativada imagem dessa cozinhaC

&ara dar uma idéia da cozinha, que deve ser a parte mais limpa e asseada daha!itação, o leitor pode imaginar um compartimento imundo com chão lamacento,desnivelado, cheio de poças dSgua, onde em lugares diversos armam fogõesarmados por três pedras redondas, onde pousam as panelas de !arro, em quecozinham a carneH como a madeira verde é o principal com!ust;vel, o lugar ficacheio de fumaça, que, por falta de chaminé, atravessa as portas e se espalha pelos

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outros compartimentos, dei=ando tudo enegrecido pela fuligem" +amento ter queafirmar que as cozinhas das pessoas a!astadas em nada diferem destas @P#TE,37, p" 4A"

Bão é apenas nas descrições de via1antes que temos esta imagem de cozinha" 0 poeta'uilherme de #lmeida, em uma conferência so!re ha!itações, evoca as recordações so!re acasa de sua infJncia no final do século XIXC -?em agora a cozinha, enorme e preta de fuligem,

onde a negrada acocorada contava hist9rias tene!rosas, so! a telha.vã povoada de gam!s emorcegos, e com um chão de alçapões que desciam para infernos ignorados- @#+PEIK#, 372,p" 354.357A"

# dispersão da cozinha no quintal da casa tam!ém atendia <s necessidades do tra!alhodoméstico" Kevido < su1eira e < escala do preparo das refeições @que envolvia atividadespesadas e demoradasA, o tra!alho era feito fora do corpo principal da casa" &odemos dizer que,como espaço circunscrito e especializado de preparo dos alimentos, a cozinha não e=istia" 0que aparece nas plantas e descrições deste espaço nos primeiros séculos é uma grande readestinada aos serviços, que inclu;am preparo, estocagem e !eneficiamento de alimentos, alémda criação de pequenos animais" %egundo (arlos +emos @3754, p" DFA, a cozinha formava -umcomple=o que envolvia fogão, tanque, !ica, cisterna, paiol, despensa, curral e pomar, situaçãoque permaneceu até o século XIX-"

0 espaço da cozinha era importante na definição dos novos padrões de moradia do final doséculo XIX em %ão &aulo" &rova disso era a preocupação das autoridades pú!licas e a tentativade padronização através dos c9digos de posturas e sanitrio" 0 grande alvo das autoridades foia péssima condição das cidades" Epidemias, como a de fe!re amarela em 3478, levaram opoder pú!lico a medicalizar sua atuação" # necessidade de melhor circulação das mercadorias e a de uma crescente elite tornou a salu!ridade a principal meta na melhoria das cidades"# medicina aliou.se ao novo sistema contra a antiga ordem colonial e, por intermédio dahigiene, incorporou a cidade e a população ao campo do sa!er médico @(0%$#, 3777, p" 57A"

# higiene @f;sica e socialA teve um papel decisivo nas transformações da cozinha nos centrosur!anos !rasileiros" #o contrrio dos Estados Gnidos, onde os engenheiros estavam noprimeiro plano, e da Europa, onde a arquitetura centralizava as discussões, no nosso caso, as

autoridades médicas tiveram um papel de destaque, apoiadas pelas autoridades pú!licas" Bumconte=to de epidemias e necessidade de limpeza e organização da cidade, as antigas moradias e o espaço da cozinha em particular despertaram a atenção das autoridades"

$ão importante quanto no espaço ur!ano, era a intervenção na fam;lia e na casa, visando aincorpor.la não apenas a uma nova realidade citadina, mas < l9gica imposta pela salu!ridade"# modificação do perfil arquitet:nico serviria para aumentar o intercJm!io entre o am!ientedoméstico e o meio social @(0%$#, 3777, p" 57A" #pesar da importJncia da medicinasanitarista nesse processo, ele tam!ém envolveu engenheiros, autoridades pú!licas e, ainda,serviu aos interesses dos fornecedores de serviços ur!anos e de o!1etos para consumo @comoveremos adianteA, so!retudo domésticosC -indústria e comércio internacionais precisavammodernizar a rede de serviços ur!anos a fim de escoarem seus produtos" # modificação docomportamento da fam;lia era um dado importante nessa estratégia- @(0%$#, 3777, p" 3F8A"

Ba questão da salu!ridade, o ponto e=tremo era a situação dos cortiços" 0 (9digo de 345F @eprincipalmente a versão revista e ampliada de 344DA tratava das normas referentes <construção de cortiços, esta!elecendo metragens m;nimas e a e=istência de pelo menos trêsc:modos, incluindo a cozinha" Ba verdade, o grande crescimento da cidade e a ocorrência deepidemias levaram o governo a a!ordar o assunto e, posteriormente, a intervir no espaço dascasas" #s primeiras legislações apenas davam orientações gerais, sem 1amais cogitar deintervenção no plane1amento interno das residências" 0 crescimento das cidades e oconseqRente aumento dos pro!lemas fizeram os especialistas repensarem tal questão" #modificação material estava intimamente associada < moralidade, principalmente nas camadasmais po!res, vistas como potencialmente perigosas"

 igiene e arrano material

Beste ponto, o principal alvo das autoridades eram os cortiços, que proliferavam em cidades

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como %ão &aulo" Em 344F, o Kr" Eullio da (osta (arvalho, médico da (Jmara paulistana, e oengenheiro +u;s (ésar do #maral 'ama fizeram relat9rios a respeito da relação entre aspéssimas condições de higiene dos cortiços e as epidemias que assolavam a cidade @+EP0%,

3777, p" 34A33"

Em 3478, com a epidemia de fe!re amarela, o Kr" (esrio da Potta unior, secretrio dosBeg9cios do Interior do Estado de %ão &aulo, constituiu uma comissão para fazer um relat9rio

das condições dos cortiços na região de %anta Efigênia" 0 relat9rio trou=e uma ampladescrição das condições de higiene nesse tipo de ha!itação e, com ele, podemos perce!er aimportJncia da cozinha na definição de um espaço doméstico organizado e limpo" # situaçãodos cortiços era o contra.e=emplo do ideal de ha!itação, na medida em que a cozinha nãoestava definida, e suas atividades eram feitas de forma precria, sem higiene, dividindo oespaço com o quarto de dormir" Kescrevendo um cortiço localizado no meio de um quarteirão,o relat9rio apontava as condições da cozinhaC

%ão estas casinhas em geral assoalhadas, forradas nos c:modos de dormir, e nasala de frente, sem outro sistema de ventilação que o natural por intermédio das

 1anelas e portas" Bo c:modo do fundo onde não h soalho nem forro, nem mesmoladrilhos, assenta um fogão ordinrio e rudimentar com chaminé que poucofunciona em vista de sua m construção ou do pouco cuidado que se lhe tem" Ka;

vem que o interior dessas pequenas casas tem as paredes enegrecidas e poucoasseadas, do teto 1 se não lhes conhece a pintura so! a camada de su1eiras dasmoscas" #s paredes com quadros de mau gosto tem o re!oco referido por umainfinidade de pregos e trincas que pendem vrios o!1etos de uso doméstico e aroupa de serviço" 0s m9veis desagradavelmente dispostos tem so!re si empilhadas

peças de roupas para lavar32"

# posição da cozinha é caracter;stica da maioria das casas do per;odo, localizada nos fundos,mas sem nenhum tipo de organização e com dom;nio da su1eira" Ba verdade, não pareciahaver uma cozinha propriamente dita, mas um espaço que seria improvisado para esse fim" 0fogão @provavelmente um a lenhaA parecia ter um papel de destaque na definição do espaço,causando a su1eira, pela fumaça que enegrecia as paredes" #lém de descrever a su1eira edesorganização da cozinha que dividia espaço com outras funções, o que era com!atidopelas autoridades , o autor do relat9rio tam!ém aponta o -mau gosto- na organização doespaço, se1a devido aos quadros, se1a devido < disposição do mo!ilirio"

Kevemos lem!rar que, nesse momento, as noções de organização e limpeza do espaçodoméstico inclu;am tam!ém o arran1o do mo!ilirio doméstico, visando a uma melhoreficiência do tra!alho" U claro que as condições de um cortiço estavam muito distantes desteideal, mas a descrição do relat9rio parece !astante sugestiva na definição da importJncia decaracter;sticas materiais da casa e de sua organização" # localização da cozinha tam!ém eraalvo de cr;ticas das autoridadesC -# cozinha, quando não é ao lado da latrina, est assentada

 1unto do aposento de dormir e, então, as condições de asseio são as mais precrias

poss;veis-38"

%ituação mais preocupante ainda era o caso dos so!rados convertidos em cortiço, onde acozinha era coletivaC -uma sala com vrios fogões improvisados, para gozo de todos, umas

latrinas pessimamente instaladas e compridos corredores com iluminação insuficiente-3"

Bos relat9rios tam!ém fica vis;vel uma grande preocupação com dados da vida material e dosh!itos cotidianos nos cortiços" 0 fogão e demais mo!ilirios da cozinha teriam um papelimportante nas novas prticas preconizadas pelas autoridades" # conclusão da comissão detécnicos é de que a rea devia ser desapropriada e os cortiços demolidos, deslocando apopulação para -vilas operrias- a serem constru;das" Este relat9rio teria influenciado o (9digo%anitrio promulgado em 347" Kevemos lem!rar que, apesar de não serem os cortiços o alvodos novos equipamentos domésticos, colocados < disposição dos consumidores maisa!astados, a improvisação @ou ausênciaA da cozinha era o s;m!olo do que deveria ser evitado

pelas autoridades pú!licas e médicas, sendo esse tipo de moradia uma referência apropriadapara as autoridades no tocante ao sanitarismo"

0 (9digo %anitrio de 347 ainda era essencialmente indicativo e dei=ou vrias questões sem

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regulamentação" Em relação <s cozinhas, e=igia uma !arra de impermea!ilização de 3,F6 m dealtura a partir do piso e proi!ia a comunicação direta com os quartos" # cozinha, muitas vezesconsiderada como o -la!orat9rio- da casa @segundo a visão das propagandas de fogão a gsA,era vista pelas autoridades como um espaço primordial na organização e limpeza da casa"

0utro dado que chama a atenção é o tamanho e=;guo, muitas vezes com cerca de m2 @+EP0%, 3777, p" 85A" &ara as elites e autoridades, a importJncia de um espaço adequado eratão grande, que os primeiros hotéis da cidade plane1avam oferecer serviços que não estavam

dispon;veis nas casas paulistanas" Em relat9rio aos acionistas, pu!licado no i!rio "ficial do#stado de São Paulo, de F de setem!ro de 3478, o diretor da (ompanhia %ão &aulo Notelassim se refere a esta questãoC

&arece.me mais acertado e prudente que a companhia, tendo por fim e=plorar aindústria de hotéis, longe de vender precipitadamente os terrenos da chcara,montasse ali um hotel modelo, com todas as comodidades e dependências que acivilização moderna aconselha e e=ige nos esta!elecimentos de primeira ordem,aproveitando.se a e=celente e vasta rea da chcara para fundar uma vila,edificando.se prédios pequenos, elegantes, !aratos, decentes e confortveis, parafam;lias as quais dependentes do 'rande Notel, seriam uma e=celente fonte derenda e viriam resolver o grande pro!lema da falta de casas para vivenda regular,com criados e cozinhas, o grande pesadelo de fam;lia nesta rica e florescente cidade@L>I$0, 2666, p" 4A"

# proposta do diretor da (ompanhia 'rande Notel parece uma solução original, com o hotelservindo como cozinha para grupos de fam;lias, constituindo.se em uma vila para fam;liasa!astadas" Kevemos ressaltar que, em outros pa;ses, os primeiros fogões a gs foraminstalados em hotéis e restaurantes" Gm dos primeiros fogões a gs foi constru;do pelo umproprietrio de um restaurante de 'lasgo* e apresentado na 'rande E=posição de 34F3@'IEKI0B, 374, p" F3A"

Enquanto os novos aparelhos eram testados nos hotéis e restaurantes da Europa, no Lrasil ogoverno tentava intervir no espaço doméstico por meio de leis visando < higienização" # +eimunicipal n" 85F, de 3474, em seu artigo 24, definia as ha!itações operrias -com mais de um

repartimento, cozinha, esgoto, o!servando as prescrições de higiene e asseio, dosregulamentos sanitrios-" # +ei municipal n" 74, de 3 de dezem!ro de 3766, esta!eleceuprescrições para construção de casas de ha!itação operria, que deveriam ser localizadas forado per;metro ur!ano, entre outras, esta!elecendo o m;nimo de três c:modos, incluindo acozinha"

# construção de vilas operrias parecia ser a solução para o pro!lema representado peloscortiços" Elas seriam o contraponto das ha!itações precrias, na medida em que haveria umadivisão clara dos c:modos da casa, em especial da cozinha, ficando ela livre da superposiçãode funções que ocorria no cortiço" #s vilas operrias eram consideradas soluções saudveis,com casas higiênicas, modernas e !aratas" #pesar disso, eram poucos os e=emplos de vilasoperrias, a maioria localizada 1unto <s f!ricas" ?rios construtores tinham interesse nessetipo de moradia, mas pediam, no entanto, a concessão de terrenos ao governo do estado de

%ão &aulo, para construção de três tipos de casas, como vemos, em 373, nessa not;cia no$oletim do epartamento #stadual do Tra%alhoC

&ara pequena fam;lia, compostas de sala, um quarto, cozinha e tanque paralavagem de roupa, latrina e !anho de chuva no quintalH para fam;lia maior,compostas de uma sala, dois quartos, cozinha e tanque para lavagem de roupa,latrina e !anho de chuva no quintalH casas apropriadas para armazéns, açougues,

padaria, etc"3F

# individualização das casas para diferentes tipos de fam;lia e a presença de cozinha em seuinterior era a imagem ideal da casa destinada <s populações mais po!res" Esse padrãoapro=imava.se da casa das classes mais a!astadas, ao menos no que diz respeito < e=igência

de higiene e reas separadas para cada atividade, notadamente a cozinha" # +ei municipal n"78, de 3763, isentava de impostos municipais as vilas operrias e não permitia as ha!itaçõescoletivas em forma de cortiço" # despeito disso, os cortiços aumentavam, e a situação dacozinha permanecia a mesma, < revelia das autoridades" # e=istência de cortiços e cozinhas

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insalu!res continuava a ser denunciada pelas autoridades médicas"

 23digo sanitário e -adrão %unicipal

0s pro!lemas e as preocupações dos médicos com os cortiços continuaram durante asprimeiras décadas do século XX, como podemos perce!er em revistas médicas do per;odoC

Besses cortiços não moram, amontoam.se os po!res seres, e, telheiros de zinco,em porões, nos quais seres irracionais não ficariamV W""" &ois, encontramos em umcortiço, num s9 c:modo, reunidos a cozinha e a privadaV E note.se que visitamosum !airro relativamente central, em que as condições de vida não são de todo

ms3D"

Ba visão dos médicos, a questão das ha!itações populares era de interesse médico.social"#inda na década de 3726, o Kr" /rancisco /igueira de Pello chamava a atenção para anecessidade de resolução do pro!lema, que teria repercussões morais" #nalisando dados so!re33D cortiços na região do !airro de %anta Efigênia, o médico constata, estarrecido, a ausência

de cozinhas em 7F,82 Y das unidades dos cortiços35"

E as descrições de cozinhas @ou da ausência delasA nos cortiços continuaram a ser pu!licadasnas décadas de 3726 e 378634, apesar de continuar a ser modificada a legislação so!re oassunto, sempre tendo em vista os conselhos de médicos e engenheiros" 0s tra!alhos de infra.estrutura ur!ana tam!ém influenciaram essa transformação, e mesmo as casas mais po!ressofreram influências"

0 (9digo %anitrio de 3734, no artigo 847, que discutia os cortiços, esta!elecia o papel dacozinha na casa e, mais ainda, de seus principais equipamentos, como o fogãoC -Uterminantemente proi!ido cozinhar, a não ser nas cozinhas, que deverão ser instaladas,

munidas de fogão e pias para a lavagem de louça-37" # legislação procurava ser precisa,definindo o local e=ato onde devia ser feito o preparo do alimento e, até mesmo, quais osequipamentos a serem utilizados" $anto o (9digo %anitrio quanto o de &ostura procuravam,ao longo dos anos, agregar em seus te=tos as preocupações das autoridades médicas comuma maior definição do espaço da cozinha, que evitasse so!reposição de funções eimprovisações"

0 am!iente de promiscuidade @na visão das autoridadesA não podia ser tolerado em um espaçotão importante, onde deveriam ser preparadas as refeições" 0 &adrão Punicipal de 3726avançava e dedicava um item inteiro < organização da cozinha na casaC

(0ZIBN#%

#rt" 384 #s cozinhas devem satisfazer as seguintes condiçõesC

Bão terem comunicação direta com compartimentos de ha!itação noturna e nemcom latrinasH $erem rea m;nima de sete metros quadradosH $erem piso ladrilhadoe as paredes, até um metro e cinqRenta cent;metros de altura, impermea!ilizadoscom material resistente, liso e não a!sorventeH $erem o teto gradeado de madeiraou tela metlica" [uando isto não se1a poss;vel pela e=istência de outro pavimentosuperior, as cozinhas terão teto de material incom!ust;vel e dispositivos especiaisque garantam a ventilação permanente"

#rt" 387 #s cozinhas podem ser instaladas nos em!asamentos, desde que,satisfaçam as seguintes condições, além das al;neas a e c do artigo anteriorC

$erem rea m;nima de dez metros quadrados e pé direito m;nimo de dois metros ecinqRenta cent;metrosH $erem as paredes, acima da fai=a impermevel, revestidasde pintura resistente a freqRentes lavagensH $erem o teto impermevel e de fcillimpezaH

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$erem a!erturas em duas faces livres e dispositivos que garantam ventilaçãopermanente"

#rt" 36 $odas as chaminés terão altura suficiente para que a fumaça nãoincomode aos prédios vizinhosH pode a Kiretoria de 0!ras, a qualquer tempo,determinar os acréscimos ou modificações que venham a tornar.se necessrios"

#rt" 33 #s seções de chaminé, compreendidas entre forro e telhado, e as queatravessarem paredes e tetos de estuque, tela, ou madeira, não serão constru;das

em material metlico26"

# legislação procurava, pois, definir minuciosamente o que deveria ser a cozinha,esta!elecendo tamanho, forma de circulação e materiais utilizados, tendo a organização elimpeza como o!1etivo maior" Pas se essas prescrições nunca chegaram a atingir os cortiços,influenciaram outros tipos de moradia" Bo e=tremo oposto aos cortiços, estavam os palacetes"Este tipo de construção, que inicialmente se distanciou do padrão e=igido pelos c9digos, trou=ealgumas soluções internas que, entre outras, atendiam <s novas e=igências so!re a cozinha eaca!aram influenciando os demais tipos de ha!itação na cidade de %ão &aulo" #o contrrio dos

demais tipos de casas, não havia superposição de funções, mas uma n;tida divisão em trêsgrandes zonasC estar, serviço e repouso" Espontaneamente, os palacetes introduziram o que asautoridades médicas tentavam na intervenção em cortiços e na construção de vilas operrias"$ais palacetes foram, assim, os precursores do sanitarismo, se1a na organização interna com adefinição clara das zonas, se1a na introdução de novos equipamentos para o tra!alhodoméstico @N0PEP, 3778, p" 7A"

Em relação ao espaço da cozinha, apesar da definição @conforme os c9digosA, a localizaçãovariava de acordo com as construções" #lgumas vezes, ficava no porão de pé.direito alto" 0&adrão Punicipal de 3726 e=igia, além de ventilação, a altura m;nima de 2,F6 mH e a ligação <sala de 1antar se fazia pelo uso de uma pequena escada até a copa, que servia como ponto dedistri!uição" $al solução impedia o contato direto da cozinha com outras reas da casa eimpunha uma r;gida separação da zona de serviço e dos empregados" 0 e=austor e o -fogão

americano-23 resolviam o pro!lema da fumaça, e a comida era transportada por um monta.cargas"

Ba copa, antes de ser levada < sala de 1antar, a comida era aquecida por um fogareiro, a

princ;pio de querosene22" 0 &adrão Punicipal de 3726 tam!ém legislava so!re esse novoespaço designado -copa-" 0 artigo 32 esta!elecia, para as copas e despensas @localizadas

sempre pr9=imas as cozinhaA, o mesmo piso ladrilhado e=igido nas cozinhas28" Esta solução,de cozinha localizada no porão, era uma grande ruptura em relação aos padrões vigentes nacasa paulistana, se1a nos antigos so!rados ur!anos, se1a nas casas mais simples, onde acozinha se localizava nos fundos, em um -pu=ado-" Essa solução era copiada de palacetes

europeus e s9 foi poss;vel devido < e=istência de novos equipamentos domésticos2"

# solução mais comum era a localização da cozinha no térreo, no fundo da casa, ao lado dadespensa e do quarto de criadas" # cozinha, neste caso, tinha ligação direta com a casa, maslocalizada nos fundos, em -pu=ado-, como era comum" Esta cozinha tinha todos os serviçosur!anos, gua encanada, gs, eletricidade e, em alguns casos, o fogão a gs" # região demaior concentração de palacetes em %ão &aulo era servida por redes de gs encanado, evemos a presença de uma série de equipamentos domésticos elétricos e, tam!ém, os fogõesa gs em muitos leilões pu!licados em 1ornais do per;odo"

(aracterizando.se como um meio.termo entre os palacetes e os cortiços, est a maiorquantidade de ha!itações em %ão &aulo, moradias que, nas descrições dos estudiosos,rece!eram diversas denominações, resum;veis em duasC -casa média- e -casa popular-@tam!ém chamada de -casa operria-A" Gma das principais caracter;sticas nesses tipos demoradia foi a presença constante da cozinha, sempre localizada nos fundos da casa"

0 &adrão Punicipal pu!licado em 34472F 1 tinha definido para a casa popular um m;nimo detrês c:modos, incluindo a cozinha" Esta ficava sempre nos fundos da casa, na maioria dasvezes tendo ligação direta com o corpo principal e tam!ém com o quintal" 0 acesso <s

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cozinhas era direto com a sala ou com o quarto" Bas casas de três c:modos, a ligação era coma sala @que poderia muitas vezes tam!ém servir de quartoA e, nas casas de dois c:modos, acozinha tinha acesso direto ao quartosala" #s pequenas dimensões e suas respectivascozinhas sugerem a superposição de funções, sem, no entanto, chegar < situação e=trema doscortiços"

Puitas dessas casas eram de imigrantes italianos @nas plantas freqRentemente estava grafadaa palavra cusignaA" %egundo (arlos +emos @3747, p" 4FA, foram eles os responsveis pelaintrodução dos pequenos fogões de ferro a carvão vegetal, os únicos que ca!iam no espaçoe=;guo" [uando a casa possu;a o tradicional fogão a lenha, ele estava encolhido dentro docu!;culo denominado cozinha, localizado quase que em um pu=ado, uma solução aindatradicional na casa paulista" 0s novos fogões de ferro, menores e mais limpos, possi!ilitaram aatividade em uma cozinha diminuta" Esses equipamentos foram os primeiros concorrentes dosvelhos fogões a lenha de alvenaria"

Kevemos ressaltar que, apesar de muitas das plantas !ai=as de casas pequenas ou médiasapresentarem o espaço da cozinha definido nos fundos dos quintais, muitas vezes essas casaseram su!locadas, provocando uma coletivização das atividades, como vemos em depoimentorecolhido por >aquel >olniMC -Eu tra!alhava na /ilepo, com dois teares, ganhava 266 mil réis epagava de pensão 46 mil para o português W""" Era dois quartos e cozinha eu vivia em um e

o português e sua fam;lia vivia no outro, e a gente cozinhava tudo 1unto-2D"0 que alguns autores costumam chamar de casa média era um tipo de ha!itação !astantedifundida em %ão &aulo, principalmente nas reas pr9=imas ao centro @Lrs, Lom >etiro,(ampos El;seos, etc""A" #ssim como as casas populares, este tipo de ha!itação tam!ém tinha oespaço da cozinha !em definido, em!ora reduzido" Ba verdade, este tipo de moradia estavamais pr9=imo dos palacetes, pelo menos no que diz respeito < circulação" # cozinha aca!oupor ser agregada ao espaço da casa, nos fundos" Pas, ao contrrio da casa popular, muitasvezes estava acrescida da despensa e do quarto de empregada" # especialização da rea deserviço, assim, era mais pr9=ima do palacete" 0utra diferença em relação <s casas menoresera o fato de as cozinha estarem ligadas diretamente < sala de 1antar, e não aos quartos"

#s diferenciações das cozinhas das casas descritas dificultam a definição de como tais cozinhas

seriam organizadas no per;odo" Bas moradias mais simples, o que imperava era a precariedadedo espaço, e=;guo, mal iluminado e mal equipado" #penas nos palacetes eram respeitadastodas as e=igências dos c9digos de posturas e sanitrio @superf;cie ladrilhada,impermea!ilização das paredes etc"A" Entretanto, muitas vezes o fogão a gs estava localizadona copa e servia apenas para aquecer as refeições vindas da cozinha em direção < sala de

 1antar @>0+BIQ, 3775, p" 388A"

 4ogões a gás

Besse conte=to em que a cozinha passava a estar no centro das preocupações de autoridades

sanitrias, o equipamento doméstico teria um papel decisivo nas transformações e=igidas25"

Kentre esses equipamentos, o fogão, como pudemos o!servar, destacava.se como centro depreparação dos alimentos na nova cozinha" 0 grupo Light  centrou seus esforços na promoçãodo uso doméstico dos novos com!ust;veis, elegendo o fogão a gs como seu principal produto"N, então, um considervel avanço na tecnologia doméstica @gs, eletricidade, gua encanada,esgotoA colocada < disposição para o consumo @ao menos para as classes mais a!astadasA" #tecnologia oferecida pelas empresas estrangeiras prometia essa adequação dese1ada da novacozinha < higiene e, ao mesmo tempo, procurava vencer as defasagens e os antigos h!itoscoloniais considerados indese1veis" #nalisando uma propaganda de fogão a gs da Soci&t&

 Anonyme du Ga  24, Glpiano Lezerra de Peneses @266F, p" 367A ressalta a idéia de tecnologiaconce!ida como um valor a!strato, independente de qualquer conte=to e, por isso mesmo,capaz de produzir, em qualquer circunstJncia, a consecução de todas as e=pectativas e dese1oscom relação ao novo equipamento em particular na oposição ao fogão a lenha, prevendo.se

que ele se tornaria totalmente o!soleto" Bo entanto, o confronto da imagem com o te=to dapu!licidade dei=a entrever resistências su!1acentes e :nus mal enco!ertos, assim como umae=trema e significativa am!igRidade na identificação dos destinatrios da mensagem" #tecnologia aparece, nesse caso, como uma instJncia a!strata e universal, impondo.se a

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qualquer conte=to, se1a nos Estados Gnidos, se1a no Lrasil, onde h um evidente pro!lema dedescompasso"

0s fogões a gs começaram a ser fa!ricados nos Estados Gnidos a partir de 34D6, mastornaram.se populares a partir da E=posição Gniversal de 345D, dominando o mercadoamericano nas duas primeiras décadas do século XX @LG%(N, 3748, p" 22A" 0 gs @eposteriormente a eletricidadeA tinha de ser vendido para um pú!lico desinformado edesinteressadoH e, como o consumo doméstico era considerado vital para o desenvolvimentodas empresas de energia, era necessrio incrementar as vendas de aparelhos para usodoméstico, principalmente as dos fogões @'0+K%$EIB, 3775, p" 32FA"

Bo Lrasil, o fogão @de !arro ou de alvenariaA esteve ligado principalmente < lenha comocom!ust;vel, e localizado no quintal, fora do corpo da casa ou em pu=ado" # empresa de gsaproveitou.se dessa situação e ancorou !oa parte de sua propaganda nessa idéia de evoluçãoe progresso, contrapondo lenha e gs" U dif;cil definir uma tipologia diacr:nica dos fogões, namedida em que se sucederam, e conviveram, em séries de equipamentos com vrias formas etipos de com!ust;veis" Pesmo com toda essa variedade, o principal concorrente do gs era,sem dúvida, a lenha" Kevido ao preço !ai=o e ao tipo de equipamento mais simples, era ocom!ust;vel mais usado na cozinha" 0s fogões de ferro @tam!ém os a lenha e os a carvãoA 1eram vendidos nas últimas décadas do século XIX" E=istem vrias referências de sua presença

na cozinha de palacetes através de anúncios de 1ornal e catlogos de leilões" #lguns im9veiseram descritos tendo em vista as comodidades oferecidas" #lém do material, a principalcaracter;stica era seu tamanho e a possi!ilidade de uso do carvão mineral ou vegetal, muitodifundido entre os imigrantes italianos, segundo (arlos +emos @3747, p" 44A" Kiferenciavam.sedos anteriores porque eram compactos e feitos de ferro, comportando as mesmascaracter;sticas dos fogões a gs em sua morfologia geral, mas com com!ust;vel efuncionamento a!solutamente distintos" Inicialmente importados dos Estados Gnidos e daInglaterra, no final do século XIX 1 eram fa!ricados em %ão &aulo @L#BKEI># GBI0>, 3763,p" 38A"

# produção e as vendas de fogões a gs estavam diretamente relacionadas < iniciativa dacompanhia, 1 que esta era detentora do monop9lio de produção e distri!uição do com!ust;vel,por tu!ulações ligadas diretamente <s casas" 0s primeiros aparelhos foram importados

diretamente pela empresa e fornecidos 1unto com a ligação do gs" Em suas propagandas, natentativa de assumir o lugar ocupado pela lenha e pelo carvão, as empresas de gsapresentavam uma idéia de evolução cu1o pice era o gs, relegando a lenha < completao!solescência" #s propagandas, mesmo quando ressaltavam os ganhos o!tidos nos novosfogões @principalmente em relação < limpezaA, procuravam destacar a importJncia do gs"

N poucas referências so!re a organização e a disposição dos equipamentos da cozinha" Baspropagandas, aparece claramente o dom;nio do fogão, como centro do espaço @claro quefalamos de uma propaganda de fogão a gs, o que 1ustifica o destaqueA, cercado pela pia euma mesa de tra!alho" #lguns manuais domésticos descreviam o mo!ilirio da cozinhaC

Po!ilirio na cozinhaC mesa no centro para louça lavada @se a cozinha for vastaA"&ias de lavagem com gua quente e fria em lugar claro" Pesinha para louça a ser

lavada ao lado da pia" &ano pendurado em gancho para lavar prato outro parapanela" &rateleira na pia para sa!ão" &rateleira para utens;lios longe do fogão @porcausa do vapor das panelasA" Pesa de cortar pr9=ima ao fogão, dep9sito de lenhaidem @(+E%E>, 3738, p" 343A"

#s recomendações feitas pelos especialistas apresentavam, assim, uma cozinha organizada em

torno do fogão" #rtigo @sem indicação de autoriaA na (e)ista *eminina de 373427 @/iguras 3 e2A definia que a cozinha deveria estar aparelhada de maneira a haver eficiência e comodidadepara o tra!alhoC -Ba cozinha, que é, por certo, a parte mais importante do lar, deve.se p:r omaior cuidado, transformando.a num lugar higiênico, escrupulosamente asseado, pratico até o

e=agero, c:modo, muito c:modo, tanto quanto o permitam as circunstJncias-86"

?isando < limpeza e organização, a artigo define o mo!ilirio !sico da cozinhaC mesa au=iliarao lado de dois fogões @carvão e gsA e instalação de pia com gua quente e fria" (laro que,nesse caso, est se falando da cozinha ideal, organizada de forma a otimizar o tra!alhodoméstico, mas somente a presença de gua, gs e eletricidade nas casas possi!ilitava tal

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organização" Ke qualquer forma, havia claramente uma preocupação inédita em relação a umespaço antes tão desprestigiado como a cozinha, que passou a mo!ilizar engenheiros,empresas fornecedoras de energia, educadores, autoridades pú!licas e, so!retudo, médicas"Esse artigo da (e)ista *eminina parece definir !em o papel que seria desempenhado pelo idealda cozinha organizada" $anto o te=to quanto suas imagens definem um padrão modelar doideal de cozinha perseguido pelas autoridades médicas com o aval pú!lico e, o!viamente, dasempresas de energia, que se valiam desse discurso para promover o consumo de gs e

eletricidade" Ba figura 3, vemos a atividade da empregada em uma cozinha limpa eorganizada" Bão h o menor sinal de su1eira no momento do preparo da matéria.prima"Kestaca.se, na imagem, o centro de preparação dos alimentos na cozinhaC mesa e pia" Pas ote=to colocado a!ai=o da foto ressalta os limites do modelo da cozinha higiênica e organizada,-tanto quanto permitam as circunstJncias-" (laro que a realidade @se1a das casas po!res, se1adas casas mais ricasA impunha limites <s transformações dese1adas" Bo entanto, o te=to éclaro ao falar de uma situação ideal" 0 alvo é !em definidoC -Bão nos referimos aqui cozinhamodesta das fam;lias que têm h!itos e=cessivamente frugais, mas cozinha moderna, que

tem de ser SmodelarS-83"

# e=pressão -fam;lias com h!itos e=cessivamente frugais- é um elegante eufemismo parapo!reza" (laro que o artigo est diretamente relacionado < possi!ilidade de aparelhamento da

cozinha pelas classes mais a!astadas" Pas devemos novamente ressaltar que a cozinhamostrada é um modelo, não e=istindo como tal, mas representando um ideal"

Ba /igura 2, temos a cozinha com seus principais elementos e mo!ilirio, que caracterizariamo ideal da cozinha modernaC pia, mesa de tra!alho e fogões @carvão e gsA perfeitamentealinhados e ordenados em um espaço limpo e organizado" # legenda -cozinha modelo-esta!elece esse padrão, e=presso visualmente como o modelo da cozinha dese1ada"

#inda no mesmo artigo da (e)ista *eminina, vemos a e=ploração das possi!ilidades do uso dosnovos equipamentos para variar e enriquecer o cardpio, não apenas na forma de novospratos, mas tam!ém nas renovadas formas de preparo propiciadas pela cozinha moderna" Emperfeita sintonia com a transformação e=igida da cozinha, o artigo procura definiro!1etivamente prticas identificadas com novos padrões de limpeza e controle, no qual o fogãoa gs teria um papel de destaque"

Bo caso !rasileiro, podemos dizer que tais questões foram utilizadas pela medicina higienista,que pregava a limpeza e organização da casa" Kevemos reiterar que a entrada de empresas degs e eletricidade no Lrasil teve uma grande influência nesse processo" (om a venda deaparelhos mecanizados para a cozinha, tais empresas se utilizaram tanto do discurso higienistaquanto dos estudos de organização e padronização da cozinha, muitas vezes e=plorando osmesmos princ;pios de educação doméstica"

 igiene, moral e neg3cio

Besse conte=to, a atuação das empresas de energia, reunidas em torno do grupo Light , foidecisiva nas transformações que se operavam no espaço doméstico" # mediação da empresa@concessionria do poder pú!licoA ligava definitivamente o espaço doméstico ao espaçour!ano, por intermédio das redes de a!astecimento, com todas implicações da; decorrentes" 0discurso da higiene, presente no discurso médico e no do poder pú!lico, foi utilizado pelasempresas de energia na promoção, principalmente, do gs para fins domésticos"

Bas propagandas, são freqRentes as referências < importJncia do fogão a gs na higiene da

cozinha82" Estavam presentes dois pontos principaisC a limpeza da casa e a alimentação sadia"Esses temas eram direcionados não apenas < mulher, mas tam!ém ao homem" Empropaganda, de 3738, da Soci&t& Anonyme du Ga , so! o t;tulo -um la!orat9rio importante-, ote=to dirige.se ao homem perguntandoC -Em qual das divisões da sua casa é o %nr" maise=igente\-" # resposta, o!viamente, é a cozinha e a 1ustificativa completavaC -0 la!orat9rioimportante onde se fa!ricar diariamente a !oa saúde de sua esposa e seus filhos, se para

preparo da comida se utilizar o aparelho mais sanitrio e higiênico que a civilização do nossoséculo criouC 0 fogão a gs-88"

0 te=to se dirige diretamente <quele que seria o responsvel pela compra do aparelho e do

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com!ust;vel, apelando para argumentos racionais e técnicos" Bas propagandas da Soci&t& Anonyme du Ga  em que aparece a imagem do fogão a gs, o processo tecnol9gico estpresente apenas naquilo que é mais evidenteC os controles da chama" #s eventuaisdificuldades de manuseio e entendimento e, mais ainda, seu funcionamento continuavammisteriosos" Bas imagens, não aparece a cone=ão do fogão com a rede, mas podemos inferir,pela leitura do te=to, a dependência < empresa, se1a na manutenção, se1a na presença demedidores e tu!ulações" &oucas propagandas mostram o fogão em funcionamento, e, quando

o fazem, o tra!alho aparece como uma atividade fcil e prazerosa" Bas poucas imagens emque aparece a mulher usando o fogão, ela sempre est posicionada lateralmente, para permitiruma melhor visualização do equipamento" Pas sua postura é elegante, sugerindo poucamo!ilização e sempre com o tra!alho em andamento, sem me=er nos controles" %ua únicapreocupação parece ser a de supervisionar o andamento do tra!alho" # idealização da cozinhacentralizada no fogão aparece de forma e=emplar em uma propaganda da Soci&t& Anonyme du

Ga  8 que associa o fogão < moda, com uma dona de casa usando um vestido social @ +upe,

cullote 8FA para cozinhar" Bo caso deste anúncio, a figura da empregada est ausente, em umaimagem idealizada do tra!alho doméstico em torno da figura da dona de casa associada <moda

$am!ém o discurso médico, adotado inclusive por engenheiros, arquitetos e autoridades

pú!licas, aparece no discurso pu!licitrio, associando o fogão a gs com a higiene" #o homem,como destinatrio dessa propaganda na qualidade de comprador, era enfatizada a necessidadeda alimentação sadia" #lém de propiciar higiene e asseio, o fogão teria a capacidade detransmitir essas qualidades < comida nele preparada" E, para isso, o papel da cozinheira emais ainda o da dona de casa seria decisivo, no uso adequado do fogão e na escolha docardpio" 0 papel do homem estaria esgotado na aquisição do fogão a gs e do pagamentomensal do fornecimento do gs, dados que, nessa propaganda, não são apresentadosespecificamente"

0s eventuais ganhos o!scureciam a crescente dependência a que estaria su!metida a casa"Kevemos lem!rar que o fornecimento de gs funcionava através de redes de tu!ulação de gs,com implicações referentes a a!astecimento, manutenção, preço etc" # relação com ofornecedor de serviços entrava em uma nova esfera" # mediação tornava.se indiferenciada e

profissional" # companhia era a única mediação poss;vel, sem as antigas relações pessoais depro=imidade com eventuais fornecedores que atendiam de porta em porta" #s antigassocia!ilidades eram su!stitu;das por relações empresariais e capitalistas, reguladas porcontratos, com direitos e deveres esta!elecidos e @nem sempreA protegidos"

Em suas propagandas, a companhia de gs não e=plicitava, em nenhum momento, adependência a que a casa passaria a estar su!metida, mas oferecia -gratuitamente- vriosserviços que comprovavam esta dependência" Ba maioria das propagandas das empresas degs, o fogão sempre aparece como fonte direta de ganhos, se1a em economia de tempo oudinheiro, se1a no sentido de evitar a!orrecimentos ou su1eira na cozinha" Pas sua evidenteligação com a empresa @e com toda uma rede de infra.estruturaA estava enco!erta pelodiscurso" Bas propagandas, podemos inferir o grau dessa dependência nos serviços oferecidosC-# (ompanhia gratuitamente far a ligação do fogão, e ainda o inspecionar, limpar econservar durante dois anos" %e a sua casa não tem medidor, o acréscimo de despesa serentão o pagamento de um pequeno dep9sito, além da compra do fogão-8D"

Este comple=o de relações se traduziu em reconfigurações do espaço da moradia, ligada aosinteresses privados capitalistas e regulados pelo poder pú!lico" Pas, como em todo sistema,um dos principais fatores estava associado < adapta!ilidade" # entrada da energia elétrica e dogs, tendo na ponta os aparelhos domésticos, trou=e modificações e resistências, mas tam!émadaptações" #s noções de progresso, e=ploradas pelas empresas de energia e endossadaspelas elites, inseriam.se com dificuldade na ordem social !rasileira" #s propagandas de fogõessão, ao mesmo tempo, evidências desse descompasso e uma tentativa de escamote.lo"

Em tal quadro, essas empresas tiveram um papel de destaque, utilizando.se do discursohigiênico e dos anseios de ordenação do espaço domésticoH e, ao mesmo tempo, participandoativamente desse processo, não como su!produto, mas como parte integrante" Pas essastransformações não ocorreram naturalmente, como simples su!stituição de uma formao!soleta de cozinhar por outra mais moderna, como queriam fazer crer as propagandas" Kois

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fatores são importantes na anlise desse percursoC as dificuldades de adaptação corporal <snovas prticas em novos equipamentos e as novas noções de tempo aplicadas < vida e aotra!alho doméstico" #s novas mediações da tecnologia doméstica e sua gestão de formaprivada, provocaram mudanças e dificuldades, enfrentadas pelas empregadas e suas patroas"

Era na cozinha e por intermédio dos equipamentos domésticos que uma nova relação entreespaço ur!ano e espaço doméstico estava em desenvolvimento na cidade de %ão &aulo" #via!ilização e comercialização de uma nova tecnologia, aplicada ao tra!alho doméstico edistri!u;da através de redes, trou=e um grau de dependência da casa <s novas relações, quee=trapolaram os antigos limites do espaço doméstico" Esse processo su!meteu a casa e a rua<s relações técnicas e econ:micas mediadas por novos agentes e novas formas dea!astecimento e prestação de serviços" #s propagandas e outras formas de divulgação foramusadas para diminuir a estranheza em relação < nova tecnologia e, ao mesmo tempo,escamotear custos, apresentando o produto como sendo completamente aut:nomo em relaçãoao sistema" Em compensação, vemos uma articulação @de amplas conseqRênciasA entre poderpú!lico, capital @capital estrangeiro e seus interessesA e infra.estrutura, redefinindo um novoespaço ur!ano e doméstico"