Contos2013

47
Narrar com “arte” Alunos do 9ºB e 9ºC Agrupamento de Escolas de Montemor-o-Velho Ano letivo: 2012/2013 …aquilo que nos une e aquilo que nos separa… Antologia de Contos e outras histórias

description

Contos

Transcript of Contos2013

Page 1: Contos2013

Narrar com “arte”

Alunos do 9ºB e 9ºC

Agrupamento de Escolas de

Montemor-o-Velho

Ano letivo: 2012/2013

…aquilo que nos une e aquilo que nos separa…

Antologia de

Contos e outras histórias

Page 2: Contos2013

Índice

Turma 9ºB

Em busca da liberdade

Uma vida dolorosa

Vingança por um fio

O Judeu

O rapto

Turma 9ºC

Da dependência à liberdade

O encontro

O sequestro

O roubo sangrento

Um anjo chamado André

Page 3: Contos2013

Em busca da liberdade

A tensão e agitação que se vivia em

Lisboa era enorme. O

descontentamento era geral. A ditadura

já vira melhores dias.

Na universidade falava-se sobre

uma possível conspiração contra o

governo, embora pela calada, tal era o

temor de que a Pide, que controlava o

país inteiro, efetuasse mais detenções

políticas.

Naquele dia, ao regressar a casa

depois das aulas, fiquei estarrecido ao

ver o péssimo estado em que a polícia a

deixara. Havia papéis e cartas

espalhadas pelo chão, gavetas caídas e

partidas, roupas e sofás rasgados e no

meio do chão algumas peças

decorativas de latão, apenas amolgadas.

A minha mãe e a minha irmã estavam

muito assustadas.

- Que é que se passa? – Perguntei-

lhes – O que é que aconteceu, pai?

O meu pai sem poder falar fez-me

sinal como que a pedir desculpa.

A minha mãe respondeu-me a

chorar:

- Estes homens vieram buscar o teu

pai para o prenderem.

A minha irmã completamente

apavorada, e sem saber o que se estava

a passar, não parava de gritar e as

lágrimas caíam-lhe dos olhos como

águas da cascata. Então percebi que

tinha de a tirar dali. Peguei nela ao colo

e levei-a para o jardim. Mirava-me

com uns olhos inocentes e inquiridores

e soluçando perguntou-me:

- O pai vai ser preso, mano?

- Não te preocupes Joana, o pai vai

ficar bem, e nós vamos ficar sempre

juntos e mais felizes do que nunca. Um

dia ainda nos vamos rir disto.

Page 4: Contos2013

Quando voltámos para dentro o

nosso pai já tinha sido levado. O

ambiente era aterrador, a minha mãe

estava dominada pelo pânico e a casa

sempre alegre chorava agora a sua

partida.

Mais tarde, um pouco refeitos da

violência da situação, perguntei à

minha mãe o que se tinha realmente

passado.

Afinal tudo aquilo tinha sido por

causa de um artigo que o meu pai

havia publicado no jornal sobre a

política do Estado Novo, publicação

essa que fora, de imediato, censurada.

No dia seguinte, quando os ânimos

estavam mais calmos fomos visitar o

meu pai à prisão de Peniche. Deixámos

a minha irmã aos cuidados de uma tia,

pois não era ambiente para ela e

porque iria ficar ainda mais confusa.

O meu pai encontrava-se num

estado lastimável, tinha sido espancado

e torturado, tinha os olhos negros e a

boca cheia de cortes, o que me deixou

muito preocupado.

- O que é que te fizeram pai? –

Perguntei-lhe.

- Olha para ti! O que é que eles te

fizeram, Santo Deus! – Exclamou a

minha mãe.

- Isto não é nada, eu aguento-me.

Tomás, cuida da tua mãe e da tua irmã,

elas precisam de alguém que as apoie. –

Dizia o meu pai debulhado em

lágrimas.

- Não te preocupes pai, eu vou tirar-

te daqui para depois cuidares delas. –

Sussurrei-lhe ao ouvido.

Partimos dali completamente

destroçados. A viagem de regresso a

casa foi muito melancólica, não

conseguia parar de pensar o quão

gélida e tortuosa era aquela prisão. Nos

dias seguintes, detive-me a arquitetar

um plano para o tirar de lá. Pensei,

pensei, até que tive uma ideia.

Page 5: Contos2013

Segundo o que o meu pai me havia

contado, as manhãs eram passadas a

trabalhar na jardinagem, sob o controlo

direto de um recluso chamado

Cantante. Fui investigar e descobri que

tinha sócios no exterior da prisão com

quem negociava contrabando.

Consegui arranjar alguém que os

poderia denunciar e, assim, arranjar

forma de o meu pai chantagear o

recluso Cantante.

No dia seguinte, fui visitar o meu

pai, sem a minha mãe saber, e disse-

lhe:

- Pai, descobri uma forma de te tirar

daqui. A única coisa que tens a fazer é

pedires ao Cantante que te deixe entrar

no serviço de jardinagem.

- Mas ele só lá deixa entrar os

“capangas” dele. – Respondeu-me sem

esperança.

- Não te preocupes, diz-lhe apenas

que conheces o polícia Pinto e que ele

pode pôr os amigos dele na prisão, aliás

foi por causa desse Pinto que ele foi

preso.

- Está bem, eu vou arriscar. Então e

depois o que é que eu faço?

- Daqui a dois dias dou-te mais

informações para que possas escapar

são e salvo.

No dia seguinte, vim mais cedo da

universidade para poder planear

melhor as coisas, sempre com a

preocupação de ocultar o meu plano da

minha mãe que já suspeitava de algo.

Fui à biblioteca da Câmara tentar

encontrar as plantas da prisão e

descobrir o local mais propício à fuga.

As plantas eram muito antigas, o papel

muito frágil e tinha de se ter muito

cuidado ao agarrá-lo para não se

rasgar nem danificar. Depois de muito

observar, descobri um grande cano de

esgoto escondido na vegetação

prisional que dava para o mar e que,

antigamente, devia servir para a

drenagem de resíduos.

Page 6: Contos2013

A rota de fuga estava já planeada só

faltava mesmo avisar o meu pai.

Voltei para casa, a minha mãe tinha

feito lasanha para o jantar, um dos

meus pratos favoritos. Antes de irmos

dormir disse-lhe que o dia seguinte iria

ser inolvidável.

Mal nasceu o primeiro raio de sol,

levantei-me, lavei a cara, vesti-me à

pressa e dirigi-me a Peniche como

tinha prometido ao meu pai.

- Então conseguiste alistar-te?

- Sim, o Cantante nem hesitou mal

lhe falei no Pinto.

- Ótimo. Presta muita atenção. Logo

à noitinha, quando começar o teu turno

de trabalho no pátio, por volta das

21h30m que é quando está maré baixa,

entras no cano escondido atrás do

arbusto ao pé da muralha. Este vai

levar-te direto ao mar. Eu vou estar à

tua espera a uns 100 metros com uma

mota de água, mas tem cuidado porque

o mar em abril ainda está muito

revolto. Fica com esta chave de fendas,

para qualquer eventualidade, mas tem

cuidado com ela para que ninguém a

descubra.

- Não te preocupes, vou cumprir o

plano à risca e já agora obrigado por

tudo o que estás a fazer.

- Não tens que agradecer, tu farias o

mesmo por mim.

Em vez de voltar para casa, fui à loja

do meu amigo Tony e, como ele me

estava a dever um favor, pedi-lhe uma

mota de água emprestada.

Prendi a mota de água ao atrelado

do carro, na garagem, para a minha

mãe não descobrir.

Estava muito nervoso mas sabia que

já não era altura de voltar atrás, não

era altura para vacilar. Estava prestes a

salvar o meu pai da prisão!

Voltei para casa e fingi que nada se

passava, como estava um pouco

Page 7: Contos2013

cansado, resolvi ir dormir um pouco.

Levantei-me quando a minha mãe já

tinha saído para o trabalho e a minha

irmã ainda se encontrava na escola.

Comecei a preparar uma mochila

com as coisas necessárias ao plano de

fuga.

Foi então que chegou a hora. Era

agora o momento que tanto ansiava,

não podia haver falhas e apesar de

arriscado não havia lugar a hesitações

pois o meu pai estava inocente.

Transportei a mota até ao mar e

deixei o carro no areal da praia. O mar

estava calmo e praticamente sem

ondulação. Era a hora perfeita para

fugir! Não hesitei, peguei na mota e

pus-me no sítio combinado à espera.

Aguardei cerca de dez minutos,

além da hora marcada, e comecei a

desesperar… até que avistei um corpo

a aproximar-se nas águas calmas. Só

podia ser o meu pai, o plano tinha

corrido bem! Aproximei-me, agarrei-o

e dei-lhe um grande abraço como uma

mãe dá a um filho à nascença. Foi um

momento muito especial e que nunca

esquecerei.

Quando regressámos a casa, a

minha mãe e a minha irmã já estavam

a dormir. Escondi o meu pai na cave

para não levantar suspeitas e para

ninguém o encontrar.

No dia seguinte, de manhã, fomos

até ao quarto da minha mãe que ainda

estava a dormir, o meu pai agarrou-a e

deu-lhe um beijo do tamanho do

universo. Ela nem queria acreditar,

pensava que estava a sonhar, como

seria possível?

- O que é que fizeste Tomás? Foste

tu que o salvaste?

- Sim, consegui arranjar um plano e

ninguém se magoou.

Quando ligámos a televisão, a

notícia tinha-se espalhado, só se falava

no Carlos Castanheiro que havia fugido

Page 8: Contos2013

da prisão de Peniche. Esta notícia deu

um grande incentivo à população e foi

o rastilho da revolta popular contra o

regime de Salazar.

Na manhã seguinte, era o dia 25 de

abril de 1974, um grupo de soldados

do MFA, conduziu ao derrube do

regime ditatorial salazarista e à

implementação de um regime

democrático. Foi a revolução dos

cravos. As pessoas saíram às ruas e

celebravam a queda do governo. Todos

os presos políticos foram libertados. A

liberdade há muito tirada fora agora

devolvida. Foi o dia mais feliz da minha

vida!

O ambiente que se vivia nas ruas era

alucinante, todos festejavam como se

não houvesse um amanhã.

Portugal fora finalmente libertado!

Trabalho realizado por:

Bernardo Loureiro nº 5 9ºB

Diana Maia nº7 9ºB

Joana Breda nº13 9ºB

Joana Rodrigues nº14 9ºB

Page 9: Contos2013

Uma vida dolorosa

Aqui, estou eu, ligado a estas

máquinas, observando o que se passa

lá fora, através da pequena e única

janela que tenho no quarto, esperando

pelo momento em que tudo acabará.

Nada mais há para fazer se não

relembrar as coisas horríveis que sofri

no passado.

Estava-se no auge do período nazi,

na pequena cidade da Baviera. Apesar

de ser banqueiro, era uma pessoa

simples, humilde e respeitadora. Era o

típico indivíduo a quem davam o nome

“ bicho-do-mato”, pois limitava – me a

fazer o meu trabalho, não me metendo

nas vidas alheias como muitos outros

faziam, tendo sempre a preocupação de

não ser capturado pelos alemães

adeptos do novo líder, visto que, nas

outras cidades se vivia um clima de

medo e tensão, pois os ataques dos

generais de Hitler já tinham começado,

e, como era de esperar, não tardaram

em chegar à minha cidade.

Certo dia, quando me dispunha a

entrar no meu escritório para

trabalhar, reparei que a porta tinha

sido arrombada. Um pânico súbito e

incontrolável instalou – se em mim.

Olhei para a frente e deparei – me com

a minha maior fobia, os soldados nazis.

De seguida, ordenaram – me que os

acompanhasse, levando – me para um

quartel da Gestapo perto dali e onde

encontrei muitos dos meus colegas e

amigos que tal como eu eram judeus

alemães. Dali, fomos transportados

para um campo de concentração em

Auschwitz.

Fomos recebidos pelo próprio

Führer, que aguardava a locomotiva

atulhada de prisioneiros. Depois fomos

Page 10: Contos2013

separados de acordo com o sexo e a

faixa etária e, de seguida, levaram – nos

para um campo de trabalho forçados.

Assim que chegámos, experimentei

uma dor profunda, ao imaginar como

iria ser a minha vida a partir dali.

Encaminharam – nos para os nossos

quartos, onde iríamos ficar durante a

nossa longa, e talvez, interminável

estadia. Nunca tinha pensado como

aquele sítio era miserável, assustador e

sombrio. Desejava dormir para tentar

esquecer o que estava a acontecer, e

assim fiz, até ser interrompido.

- Olá! És novo por estas bandas não

és? – Perguntou-me o desconhecido.

Era um homem alto e musculado,

que, provavelmente, havia pertencido

ao exército. Tinha um sotaque

estrangeiro que me parecia ser de um

país latino.

- Sim, sou. Tu já cá andas há muito

tempo?

De repente, ouvimos o som do

megafone, ordenando – nos que nos

dirigíssemos para a parte central do

campo, onde nos dispuseram alinhados

para nos fuzilarem. De seguida,

começou aquilo a que designo de

episódio de terror, pois para onde quer

que olhasse, via pessoas a esvair – se

em sangue como se de animais se

tratassem. O chão, momentos antes

amarelo, encontrava – se agora coberto

de sangue e o meu pavor não parava de

aumentar. Eu era dos poucos que tinha

sobrevivido, debaixo de um cadáver

que, já inerte, continuava a proteger –

me. Sentimentos de culpa, alívio e

alguma frustração magoavam – me.

Passados dois anos, de tortura e

sofrimento, o governo nazi, que dava

indícios de algumas dificuldades

financeiras, mandou – me chamar para

ajudar na logística do exército. Para

além disso, eu e o Cooper, o

desconhecido, tínhamo – nos tornado

amigos, muito próximos, e vi nisso uma

Page 11: Contos2013

oportunidade de o ajudar a ele e a

todos ou outros que ali se encontravam.

Comecei por rever as finanças

daquele campo e acabei por encontrar

um sítio longe dali, ideal, para nos

refugiarmos. Preocupava – me em

arranjar um plano, pois quanto mais

organizado fosse, mais judeus

conseguiria salvar do jugo nazi. E,

assim foi, depois de pensar durante uns

dias, cheguei à tão esperada decisão:

sairíamos de noite e arranjaríamos

cordas para conseguirmos escapar por

cima das vedações que não haviam sido

eletrificadas.

E, assim foi, no dia 19 à noite,

combinámos encontrarmo – nos no

recinto. Antes tínhamos a arriscada

missão de amarrar os guardas, para

que estes não nos impedissem de sair.

Reunidos no recinto, metemos em ação

o nosso plano e escalámos as grades.

Sentia – me orgulhoso, pois estava a

salvar a vida de muitas pessoas, porém

continuava com receio que fossemos

apanhados ou que algo corresse mal, o

que veio a acontecer, pois o Cooper ao

saltar a vedação para o outro lado, caiu

mal e não conseguia sentir as pernas.

Naquele momento, eu só pensava o

pior, mas agarrando – o herculeamente

pu – lo às costas e evaporámo – nos

dali.

Passadas algumas horas de viagem e

de muito cansaço à mistura, chegámos

a uma fábrica velha e abandonada,

onde passámos a noite e os dias que se

seguiram, dias estes que foram bastante

duros devido à falta de comida e de

água.

Permanecemos naquele local

durante duas semanas, até que, por

milagre, apareceu um indivíduo que

nos ofereceu comida e abrigo, em troca

de trabalho. Acolheu – nos na sua

moradia, uma casa de campo com

muitos compartimentos, onde foi

possível alojar todos.

Page 12: Contos2013

A minha preocupação com o estado

de saúde de Cooper aumentava e com a

ajuda do nosso anfitrião levámo – lo a

um hospital próximo dali, onde lhe foi

diagnosticado uma paraplegia dos

membros inferiores.

Passaram – se os anos e, felizmente,

o pesadelo nazi terminou. Cooper,

acabou por morrer devido às sequelas

da queda. Os outros, que estavam

connosco, seguiram com as suas vidas.

Eu agora, acometido de uma doença

degenerativa, vivo ou penso que vivo

ligado a estas máquinas teimosas.

Olho pela janela e vislumbro um

mundo escuro e silencioso que me

despreza.

Fecho os olhos e adormeço para

nunca mais acordar.

Trabalho realizado por:

Alexandre nº1

Ana Patrícia nº2

Ana Raquel nº3

Filipe nº9

Mafalda nº17

Page 13: Contos2013

Vingança por um fio

Agora sento-me na cadeira, que

em tempos fora de meu pai, e relembro

os preconceitos que as gentes, desta

pequena vila, nunca conseguiram

ultrapassar.

António de Albuquerque,

nascido no seio de uma família

aristocrata do interior alentejano, foi

estudar para a capital, onde ficou a

viver na moradia de um tio. Era uma

casa antiga, talvez do século XIX, com

as paredes cobertas por heras, onde

apenas se via refletido o brilho dos

vidros das janelas e da porta principal.

No interior, erguiam-se móveis de

carvalho, cobertos por uma película

fina de pó. O quarto ficava ao fundo do

corredor, tinha uma janela grande, que

dava para a varanda onde, dos vasos,

com terra, cresciam flores, apreciadas

por todos os que aí passavam. Era um

quarto espaçoso … e até demais!

O meu pai

namorava uma rapariga de Sintra,

também estudante. Tinham feito planos

para viverem juntos, mas assim que

soube que era traído, cometeu uma

loucura. Encontrara a pobre rapariga a

trocar carícias com outro rapaz, em sua

casa, e, num ato de frieza, assassinou-

os, com a navalha que sempre trazia

consigo no bolso das calças. Após dois

meses de investigação foi detido e

levado para a prisão de Peniche, de

onde fugiu pouco depois, durante um

tumulto que se levantara entre os

presidiários.

Após esta tragédia, não teve

coragem de enfrentar ninguém, nem

mesmo a própria família, que lhe

apontava o dedo acusador. Embarcou

numa vida de fora da lei e de

criminalidade, tendo, por isso,

falsificado a sua identidade para

Page 14: Contos2013

emigrar para o Brasil, de forma a dar

outro rumo à sua vida.

Ao desembarcar naquele país

além-mar, sentiu que ainda tinha uma

vida pela frente. Desta vez, teve sorte

no amor, ao encontrar para par uma

jovem indígena. O seu rosto belo e

ternurento, a pele morena e suave e os

negros e encaracolados cabelos, faziam

dela uma mulher belíssima. Entretanto

nasci, fruto desta nova e fogosa paixão.

Pouco me recordo da minha mãe …

faleceu ainda jovem, num acidente de

carro. Triste destino o dela! Joaquim

Pina, nome pelo qual era agora

conhecido o meu pai, depois de viúvo,

foi ganhando prestígio no pequeno

povoado onde habitávamos.

Passaram anos, tornei-me

homem e o meu pai havia-se tornado

Presidente da Câmara, na sequência de

umas disputadas eleições. Uma vila tão

pobre, só precisava de desenvolvimento,

para a melhoria da sua qualidade de

vida e assim fez o prestigiado

presidente.

Porém, um dia chegou à aldeia o

Sr. Jacinto, um velho curvado pelo peso

da idade, apenas suportado pela

bengala que trazia sempre consigo.

Raros cabelos brancos semeavam a sua

cabeça e na cara tinha vincado os

traços que a vida deixara. Vinha de

Portugal e trazia notícias. Conhecia o

meu pai dos tempos de escola, quando

frequentara diariamente a taberna

onde o vira servir à mesa com o seu avô

e conhecia todo o seu passado.

Não era possível! Como poderia

um velho vir desencantar o meu pai no

interior do Brasil? Além disso, estava

disposto a desmascarar o Presidente.

Não tardou muito para que o segredo

corresse de boca em boca por toda a

vila. Ficaram todos escandalizados com

o sucedido e pretendiam condenar o

meu pai … à morte.

Numa noite, cercaram a nossa

casa. O meu pai escondeu-me no sótão

Page 15: Contos2013

e disse-me que ficasse calado e

esperasse até ao dia seguinte para fugir.

Abraçou-me e despediu-se de mim,

com a cara lavada em lágrimas,

dizendo “Nunca te esquecerei, filho!”.

Foi preso durante uns dias e depois

enforcado, num dia chuvoso de inverno.

Já naquele tempo a justiça brasileira

era implacável com os homicídios!

Nesse dia, eu já tinha chegado à cidade

do Cabo, disposto a abandonar o país.

Talvez tivesse sido melhor não assistir

ao seu julgamento, pois não aguentaria

tal dor.

No ponto mais a sul de África, a

vida era totalmente diferente. Os

negros eram discriminados pela

minoria branca, o que não era

agradável de presenciar. A pobreza

imperava e a cada esquina viam-se

crianças a pedir esmola. Era uma

verdade desoladora, um ideal

inaceitável para uma minoria que

usufruía de todas as comodidades.

Passei muitos anos a relembrar e a

preparar a vingança daquele povo que

havia sido impiedoso com o meu

progenitor.

Depois de juntar algumas

poupanças, regressei à terra que me

vira nascer. Com mais alguma

experiência, consegui tornar-me

Presidente da Câmara, tal como meu

pai. Ninguém me reconheceu, mas eu

reconhecia todos aqueles que o haviam

condenado. Sem dúvida que a

povoação evoluíra com a política do

anterior presidente visto que a maioria

dos habitantes estavam empregados e

tinham um considerável nível de vida.

Tinha que fazê-los pagar pelo

lamentável passado! Incrementei uma

política que visava a sua ruína.

Durante anos fiz aquele povo afundar-

se.

Continuo a viver desta obsessão

e agora, sentado, espero a visita do Sr.

Amílcar, o candidato eleitoral

derrotado pelo meu pai. Não sei o que

me destinará.

Page 16: Contos2013

Agora, a maçaneta da porta

roda devagar e uma sombra inunda a

sala. Uma voz grave irrompe na tarde

soalheira.

- Bom dia!

Assustado, recosto-me na

cadeira e observo o homem alto e forte

já com alguma idade que tenho na

minha frente.

- Bom dia! O que o traz aqui?

O Sr. Amílcar com ar rude,

explica-me que me recorda dos tempos

de infância. Fico estupefacto e mal

consigo reagir às suas palavras. Diz

também que se não pedir a exoneração

do cargo de político, me denunciará, tal

como sucedeu com meu pai. Sem se

despedir sai, irado, descerrando a porta

violentamente.

Não tenho escapatória possível e

decido abandonar o cargo em favor do

Sr. Amílcar.

Passaram anos. Passei a viver

nos arredores da vila, numa tranquila

casa. Nas noites tempestuosas e escuras

como o bréu, o vento faz bater

violentamente as portadas das janelas

deixando-as escancaradas e o ruído da

chuva a fustigar as telhas são gravilhas

arremessadas contra o meu corpo.

Tranco as portas e corro as cortinas.

Acendo o candeeiro junto do cadeirão e

sento-me a desfolhar o álbum de

fotografias da família. É triste ver

deitado por terra, um sonho de

vingança! Afinal, não valeu de nada!

Porém, sei agora que esse princípio que

sempre me norteou me causa

insatisfação e algum mal estar.

Fecho os olhos, por momentos, e

acompanhado da melodia melancólica

das gotas da chuva que se despedem,

relembro as memórias que guardo da

minha infância.

Daniel Dias nº6 9ºB

Gonçalo Coelho nº6 9ºB

Inês Santos nº6 9ºB

José Regala nº6 9ºB

Ano Letivo 2012/2013

Page 17: Contos2013

O Judeu

Passou mais um dia e eu continuo aqui, fechado nesta cela sombria e gélida, sem saber bem porquê. Vim parar a esta prisão faz hoje dois meses. Um lugar horrendo e escuro! Por todos os cantos ouvem-se gemidos, os reclusos imploram piedade e justiça, gritam e, de um modo discreto, choram desalmadamente.

Eu nem sei bem por que razão aqui estou. Será que é porque sou de outra religião? Ou será que eu fiz alguma coisa de errado? Isso não sei, só sei que me encontro confinado a estas quatro paredes.

Neste momento, apenas desejo voltar a ver a minha família, os meus filhos, a minha mulher e os meus amigos mais próximos. Tenho saudades de acordar e de ver a minha linda esposa, com os seus grandes olhos azuis que fazem inveja a qualquer mulher, e o seu sincero sorriso a olhar para mim, e a dizer-me o seu habitual “Bom dia amor!”. Também sinto a falta de ver os meus queridos filhos, a correr pela casa com a sua alegria contagiante, e todos os que simplesmente ouvem a sua gargalhada.

Como será que eles estão? Será que sentem a minha falta? Espero bem que sim, porque eu estou deveras saudoso.

Finalmente anoiteceu e o jantar é servido: um bocado de pão e água, como se isso fosse alimento para alguém que não comeu o dia inteiro!

Um silêncio pesado cai sobre este horrível cácere e cerra as minhas pálpebras.

Encontrava-me mergulhado numa enorme escuridão quando, de repente, uma luz forte incidiu sobre mim. Os meus olhos fecharam-se e quando os abri encontrei-me num jardim repleto de flores. Havia um silêncio reconfortante que logo foi ocupado por uma sonora e cristalina gargalhada que me era familiar e agradável. Virei-me e vi a minha linda mulher e os meus adorados filhos a correrem na minha direção com os braços abertos, prontos para me dar o abraço que eu tanto desejava. Sentia saudades. Será que finalmente estava livre daquela prisão?

Finalmente, depois de dois meses passados eu sentia o gosto da liberdade.

Page 18: Contos2013

Já não era perseguido ou torturado por ser judeu e amar outro Deus que não era o deles.

Nunca me sentira tão bem como agora, estava com os meus filhos, a minha maravilhosa mulher e não enclausurado naquela medonha prisão. Os gemidos, os choros e os gritos haviam sido substituídos pelo chilrear dos pássaros e pelo som do vento a bater nas folhas das árvores.

Passei o dia a brincar com os meus rebentos, a matar saudades do que ficara para trás, quando fora detido. Brincámos na relva, nadámos num admirável lago de água cristalina e corremos pelo monte que se erguia sumptuoso à nossa frente.

Também recuperei das saudades da minha esposa pois falámos e namorámos durante o dia inteiro. Tudo era bom demais para ser verdade e eu não queria acreditar no que estava a vivenciar, no regozijo que me causava aquela súbita liberdade.

No final do dia, regressámos a casa com a satisfação plena de um dia bem vivido, estava, porém, receoso de que pudesse acabar e não passasse de um sonho.

Vivíamos num bairro onde a maior parte das pessoas eram judias como

nós. O quarteirão estava irreconhecível, já não se avistavam polícias a perseguir e a espancar pessoas, agora só havia crianças pela rua a brincar e uma alegria preenchia aquele lugar.

Constatava, feliz, que não era só eu que experimentava uma vida nova e cheia de liberdade, mas também todos os meus amigos e familiares.

Logo que entrámos, a minha esposa dispôs-se a cozinhar. Ah! Que saudades da sua comida e do aroma dos cozinhados orientais. Presenteou-me com a minha comida favorita e eu saboreei-a com um sorriso no rosto, tentando olvidar as míseras refeições do cárceres.

Depois daquela extraordinária refeição aprontámo-nos para ir à Sinagoga, onde eu iria agradecer-Lhe a sua infinita misericórdia ao permitir-me regressar ao meu lar e aliviar todos os habitantes do bairro da intolerância religiosa em que o país se encontrava. Rezei durante toda a noite e depois voltei para casa para finalmente ter uma boa noite de sono. Porém, deitado no leito de casal, não conseguia fechar os olhos, pois os gemidos e os gritos ecoavam horrendos na minha cabeça fazendo-me perguntar se a bem-aventurança que agora experimentava havia sido proporcionada a todos os

Page 19: Contos2013

que como eu haviam sido aprisionados pelos mesmos motivos. Na verdade, eu desejava que tal tivesse acontecido, visto que fizera alguns amigos e não gostaria de os ver sofrer e até morrer naquelas condições deploráveis.

Finalmente, fechei os meus olhos e a mesma luz intensa de antes voltou a perturbar-me e logo ouvi aquela voz encorpada que todos os dias me fazia saltar, sobressaltado, da cama.

- Ó Judeu! Acorda!- era a voz de um dos militares que guardavam a cela. Abri os olhos e não podia acreditar que o que havia vivido, que aquela liberdade aprazível não passara de um mero sonho.

- Podes sair Judeu! Estás em liberdade.- Gritava aquele vulto atlético entusiasmado enquanto fazia saltar para o chão os reduzidos trapos que me cobriam.

Radiante constatava que acordara de um sonho que se tinha tornado realidade.

De:

Lúcia Ramos n.º 16

Emília Pinto n.º 8

Ariano Ângelo n.º 4

Mariana Bernardo n.º 18

9ºB

2012/2013

Page 20: Contos2013

O Rapto

Naquele dia, eu e Miká, estávamos prontos para assaltar um banco apinhado de gente, no centro de Praga.

Entrámos e roubámos tudo o que pudemos, antes da chegada da polícia.

Entretanto, fizemos uma refém para termos a certeza de que saíamos em segurança.

Escapámo-nos a correr. Entrámos no carro e dirigimo-nos para uma estação a poucos quilómetros dali. Apanhámos o primeiro comboio que apareceu e se dirigia para Berlim.

Já perto da fronteira, depois de muito pensar no sucedido, olhei para Miká e perguntei assustado:

-O que vamos fazer com a refém?

-Deixamo-la na próxima paragem. – Respondeu-me.

Olhei-a fixamente e interroguei-me porque havíamos cometido tal atrocidade.

Era ainda uma menina. Tinha uns belos olhos verdes rasgados, uns cabelos finos de seda, loiros como raios de sol, e uma pele clara e macia. Reparei que, embora muito jovem, já tinha um corpo bem definido.

Entretanto, ela apercebeu-se de que a olhava, e perguntou com ar curioso:

-O que querem de mim?

-Só queríamos garantir a nossa segurança, desculpa pelo que fizemos, já podes telefonar à tua família.

Quando o comboio parou numa pequena estação, Miká ordenou-lhe que se fosse embora. Vi-a sair e comecei a pensar no que havíamos cometido: o roubo, o rapto, a fuga desenfreada, o dinheiro ilícito, a vida comprometida. O comboio arrancou mas parou logo de seguida. Era a polícia. Vinha-nos prender! Entraram, de rompante, na nossa carruagem com as pistolas apontadas às nossas cabeças. Obrigaram-nos a levantar e algemaram-nos. A primeira coisa em que pensei foi que ela nos tinha denunciado. Seria possível?!

Page 21: Contos2013

Já no tribunal fomos acusados de assalto à mão armada e rapto.

Aguardámos o julgamento na esquadra, onde as condições eram miseráveis e deprimentes pois dormíamos mal, comíamos mal, e sentíamo-nos mal.

Depois do julgamento, fomos transferidos para a prisão de Praga, onde iríamos permanecer a cumprir sete anos de cativeiro.

A prisão estava repleta de pessoas, umas arrependidas, outras com sede de vingança. Algumas fortes e musculadas, apresentavam muitas cicatrizes no rosto e nos braços. Estavam vestidos com macacões cor de laranja e nos seus olhares vislumbrava-se um sentimento de ódio.

Uma semana depois, Romenova, a nossa refém, apareceu para nos visitar. Miká, inquieto, começou por julgá-la, dizendo que tinha sido ela a denunciar-nos, porém não fora bem assim, e ela começou então a explicar:

-Enquanto falavam no comboio, eu roubei-vos algumas centenas de euros. Não perceberam porque estavam a decidir o que iam fazer comigo. Quando saí do comboio a policia já lá

estava à espera que se desfizessem de mim, eles já vos perseguiam desde a saída do banco. Tentei avisar-vos, mas quando me apercebi de tudo, o comboio já estava em andamento. A única coisa que posso fazer é pagar-vos a caução para que possam sair em liberdade.

Eu não sabia se deveríamos aceitar, mas na verdade, ela não tinha culpa de nada, e não merecia ter passado por tanto. Miká aceitou logo, sem pensar duas vezes:

-Claro, não fazes mais do que a tua obrigação, e com o dinheiro que nos roubaste!

Miká estava a ser egoísta. Eu só pensava na pobre rapariga e ainda me lembrava de quão assustada a deixara naquele dia. Afinal, o seu crime fora estar no sítio errado, à hora errada. E então, qual a verdadeira razão da sua atitude?

Passados uns dias, saímos em liberdade, graças a Romenova. Ela voltou para casa, em segurança, mas Miká não tinha aprendido a lição. Ele quis assaltar a casa de uma senhora, mas eu recusei-me a ajudá-lo. Aquela rapariga tinha-me feito repensar o rumo da minha vida.

Page 22: Contos2013

O meu companheiro decidiu efetuar um assalto sozinho, mas na fuga acabou por morrer.

Ele havia sido um grande amigo e, inexplicavelmente, acabei por me sentir um pouco culpado pela sua morte.

Agora eu estava sozinho, apenas com Romenova, a única pessoa que me continuava a apoiar depois destes acontecimentos. Era nela que eu confiava, era com ela que eu me sentia bem.

Os dias foram passando e apaixonámo-nos. Chegou então a altura de a pedir em casamento, para viver feliz com ela, o resto da minha vida.

Semanas depois do casamento, que foi lindo e maravilhoso, recebi a agradável notícia de que íamos ter o nosso primeiro filho. Chegaria na altura certa, pois a nossa situação económica e social era estável. Com o cadastro limpo, tinha conseguido arranjar trabalho numa empresa de automóveis, um dos meus sonhos de criança. Romenova já tinha trabalho

num café bar perto de casa e os dois salários somados davam para as despesas e ainda sobrava o suficiente para as compras e para as roupas do bebé que estava para vir.

Passaram-se dois anos e a nossa pequena Belia já frequentava um infantário onde fizemos alguns casais amigos.

No verão desse ano, fomos passar férias ao sul de Itália, a Nápoles, cidade costeira de praias de areia branca, quentes e de água transparente. Estávamos dispostos a passar duas semanas, mas tive de regressar mais cedo a Praga, pois tinha de substituir um colega meu que se havia lesionado no trabalho.

Aquele era o dia da chegada delas de Itália e eu tinha flores para as duas. Já tinham aterrado três voos e elas não chegavam. Comecei a inquietar-me. Entretanto Romenova telefonou-me:

-Foi raptada! – Dizia-me ela com a voz trémula e num choro convulsivo.

-O quê? Quem? – Exclamei aflito.

Page 23: Contos2013

-A nossa filha… - e chorava ainda mais.

-Não pode ser, eu vou já para aí!

Marquei voo, parti e desembarquei. Durante a viagem só pensava no episódio que vivêramos, no banco e no comboio, depois do assalto em Praga. Romenova esperava-me, ansiosa, na cidade napolitana.

Recebi uma mensagem que dizia ‘’Temos a tua filha, dá-nos 200.000 € até ao final do mês e tê-la-ás de volta’’.

Eu não sabia onde arranjar tal quantia já que a nossa conta bancária era muito inferior. Tive a ideia de pedir um empréstimo no banco de Praga, mas sem êxito. Resolvi hipotecar a casa, o que me deu dinheiro suficiente para o resgate. Depois de ter o dinheiro na mão, enviei ao raptor uma mensagem que dizia ’’Já tenho o dinheiro, nada revelei à polícia, só falta o local de encontro’’. Alguns minutos depois recebi a resposta. A troca ia ser feita no cais de Nápoles. Disse a Romenova que ia buscar a nossa filha e saí. Passei mais de vinte minutos à procura de número do cais referido na mensagem e, por fim, encontrei-o.

A menina estava no colo de um dos raptores. De súbito, percebi que estava perante a máfia italiana. Avisei Novak, um dos amigos de Miká e gritei-lhe:

-Aqui têm o dinheiro, agora devolvam-me a minha filha, por favor!

-Vá, vai- disse o raptor que segurava a menina.

Deixei o dinheiro, peguei na minha filha e vim-me embora sem olhar para trás. Cheguei ao hotel para ir buscar a bagagem e parti para o aeroporto com a minha mulher que nos aguardava nervosa.

Quando chegámos a Praga decidimos não viajar mais para fora do país e, sobretudo, nunca abandonar a nossa filha, por mais que a razão fosse urgente.

Trabalho realizado por:

Inês Martins nº12

Pedro Teixeira nº19

Sara Santos nº20

Xia Wei Wei nº 21

Page 24: Contos2013

Vou contar-vos a história de um grande amigo meu, um exemplo de vida para muita gente.

Conheci o Vasco há quase dez anos, num bairro muito famoso, conhecido por todos os lisboetas como “o bairro das gentes sem alma”.

Só pelo nome se percebe de que não era um lugar para ir, pois as ruas estavam sempre repletas de gente duvidosa e conflituosa, pertencente ao mundo do tráfico da droga e da prostituição.

Comecei a fumar para vivenciar novas experiências, pois não sabia que quando se entra nessa vida é quase impossível sair. Mas sei de alguém que conseguiu libertar-se desse flagelo e é isso que vos vou contar.

Conheci a Raquel, a traficante que me vendeu as primeiras doses e as seguintes. Estava acompanhada pelo Vasco, aparentemente seu namorado.

O Vasco era um rapaz simpático e despreocupado. Cedo me aproximei dele e passei a conhecê-lo melhor. Apercebi-me de que não era feliz com a vida que levava e isso levou-me a pensar que talvez eu também eu não o fosse, mas depois olhava para a Raquel

e via-a feliz com o tipo de vida que levava. Foi por causa dela que o Vasco tinha começado e daí a consumir estupefacientes regularmente foi um pequeno passo. Ela oferecia-lhe as drogas simplesmente para lhe testar os limites e quando começaram a namorar já ele estava dependente das drogas leves.

Quando Vasco percebeu que se tornara num toxicodependente veio desabafar comigo. Logo me apercebi que algo não estava bem quando apareceu à minha porta.

- Posso entrar?

- Claro, está tudo bem contigo?

-Não, ter entrado neste bairro foi o maior erro da minha vida, já não amo a Raquel e ela não merece que eu me tenha sacrificado por ela! Ela faz-me tanto mal como o que consumo!

- O que vais fazer? Já não há volta a dar e tu sabes disso!

- Eu sei, estou encurralado, tenho a Raquel e o bairro inteiro em cima de mim, preciso da tua ajuda!

Da dependência à liberdade

Page 25: Contos2013

- Esquece amigo, já foste! Mentaliza-te disso, continua a tua vida como antes e não levantes poeira.

- Obrigado a sério, pensava que podia contar contigo, és uma perda de tempo!

Saiu da minha casa, furioso, sem me dar tempo de reagir.

Ao cair da noite, ouvi tiros na rua, saí a correr preocupada com o Vasco, mas quando o encontrei tinha sido baleado. O som da ambulância ecoou na minha cabeça durante dias.

Não podia ir visitar o meu colega, pois não o conseguia encarar depois do que lhe dissera. Desde que ele se afastou dentro daquela ambulância perdi-lhe o rasto.

Passados anos, encontrei-o perto do bairro e mal o reconheci. Não era o mesmo Vasco. Tinha uma boa aparência, estava bem vestido, sem aquele olhar vidrado que o caracterizava quando consumia estupefacientes. Parecia levar uma boa vida e o mais surpreendente é que estava acompanhado por uma criança. Aproximei-me dele sem saber o que dizer pois, a última vez que lhe falara, ele estava bastante irritado comigo.

Vasco, percebendo que era eu, abraçou-me comovido.

- Como estás? Pensei que tivesses morrido! – Exclamei.

- Não, apenas descobri a força que faltava para me livrar da vida que levava. Estive internado durante três meses e durante a minha convalescença conheci a Carolina, uma enfermeira que me tratou e me fez acreditar que eu conseguiria sair do perverso mundo das drogas. Ela foi o meu baluarte quando a família e os amigos me faltaram.

- Eu não sabia do teu paradeiro, assim não me era possível ajudar-te.

- Eu compreendo, talvez se tivesses ido eu tivesse voltado para aqui, por isso agradeço-te… Quando tive alta, a Carolina acolheu-me. Tivemos uma grande empatia desde o início do tratamento e, por isso, ela decidiu ajudar-me. No início dava-me comida, roupa, atenção e ajudava-me na recuperação, na medicação, em tudo. Quando recuperei totalmente, decidi que queria um emprego para contribuir com as despesas. Era a forma de a recompensar por tudo o que fizera por mim. Um dia parti, dois meses mais tarde, encontrei-a por acaso. Decidi

Page 26: Contos2013

convidá-la para um jantar em minha casa que logo se tornou num jogo de sedução. Deste jantar surgiu o verdadeiro motivo para mudar de vida, o Sebastião.

Foi, nesse momento que olhou para baixo e acariciou a cabeça do pequeno rapaz que estava consigo.

- És um homem de grande coragem e valor, mereces tudo o que tens nesta vida! – Disse-lhe sorrindo.

Voltámos a encontrar-nos perto do bairro, alguns anos mais tarde.

Conto realizado por:

- Beatriz Martinho nº6

- Bruna Oliveira nº7

- Bruno Carvalho nº8

- Cátia Barros nº9

- Diogo Mendes nº13

Page 27: Contos2013

O encontro

Numa noite chuvosa houve uma grande discussão entre a Filomena e os pais. Muito nervosa a jovem saiu de casa e foi dormir para debaixo da ponte do rio. No dia seguinte, a Filomena resolveu regressar a casa disposta a falar com os pais, pois reconhecia que tinha agido de cabeça quente. Mal lhe abriram a porta, dispuseram-se a esclarecer a situação. - Porque fizeste isto? – Perguntou-lhe muito séria a mãe. - Eu quero ter a minha própria liberdade! – Respondeu-lhe revoltada. - Mas tu tens tudo o que tu queres! – Afirmava o pai. - Mas vocês não entendem que não é isso que eu quero?! Quero poder ir ter com os meus amigos, ir ao cinema com o meu namorado, divertir-me, vocês sabem! Aquelas coisas normais que os adolescentes fazem! Os pais da menina resolveram pô-la de castigo pela asneira que tinha cometido! A jovem ficou muito indignada, mas aceitou a punição. Passado um mês … os pais começaram a ficar angustiados porque reparavam que a filha estava triste e não reagia a nada.

Resolveram conversar com ela no quarto, mas quando entraram viram a janela aberta e a filha pronta a descer por uns lençóis que amarrara à cama. Os pais indignados gritaram-lhe: - Filomena!!! Onde é que vais? - Paizinhos, estou a descer, eheheh! - Filomena Maria, volta já aqui! Olha que vais para um colégio interno! – Disse o pai. A Filomena toda, contente, fugiu para casa do namorado, disposta a ter a vida que desejava. Os pais ficaram surpresos, pois não era aquela a educação que lhe tinham dado. Depois de tanto discutir o assunto, aperceberam-se de que ela talvez tivesse razão e que haviam agido de uma forma muito prepotente. Os pais decidiram procurar a filha em casa das amigas que haviam decidido não trair o segredo da Filomena. No dia seguinte, como a filha não os contactava decidiram ir à polícia para tentar descobrir o seu paradeiro. Na esquadra disseram-lhes que tinha de passar 48 horas para poderem averiguar o desaparecimento da filha.

Page 28: Contos2013

Os pais tentaram ficar calmos e pensar positivo, pois a filha poderia estar bem. Lamentavam-se por terem sido demasiado severos com Filomena. No dia seguinte foram novamente à polícia participar o desaparecimento da filha, visto que já tinha passado o tempo indicado. No trajeto para casa pensaram em ir ao

supermercado. Aí encontraram a Filomena e o namorado, felizes, às compras. Entretanto, os pais ligaram à polícia para encerrar o caso, porque a filha tinha aparecido.

Em casa conversaram até concordarem que deviam ser mais tolerantes uns com os outros.

Grupo:

- Micaela Cardoso - Patrícia Alexandra Matado da Silva - Paulo Alexandre Neves Leal - Rúben Silva Neves

Page 29: Contos2013

O Sequestro

Era uma tarde como todas as outras, uma tarde de Inverno, em que chovia torrencialmente. Vi os meus colegas a sair pelo portão da escola agarrados aos pais debaixo dos chapéus de chuva, enquanto eu aguardava pela minha mãe.

As horas passavam e a rua começava a ficar deserta, até que o dia se sumiu e a noite estendeu o seu manto de escuridão. Como a minha mãe não aparecia decidi meter-me a caminho de casa.

De repente, dois homens vestidos de escuro, forçaram-me a entrar numa carrinha e levaram-me para longe. Arrastaram-me para dentro de um velho armazém. Era um local escuro e grande. A lua brilhava através dos vidros partidos e ouviam-se ruídos assustadores. Quando entrei fazia muito frio. Os meus raptores amarraram-me a uma cadeira de madeira. Os dois indivíduos tentaram-me molestar, agredi-os pontapeando-os violentamente. Consegui fugir em direção à entrada, mas os homens apanharam-me de novo e violaram-me. Eu fiquei sem reação, em estado de

choque, estupefacta a olhar para eles, sem saber o que fazer. Eles

pareciam não estar preocupados, pois só se riam e falavam alto, olhando para mim com um ar concupiscente. Eu, num pranto silencioso, só pensava na forma de fugir dali.

Lembrava-me de já ter ouvido relatos de raparigas que haviam sido sequestradas e violadas durante anos a fio.

Ao mesmo tempo que pensava em fugir, sentia uma imensa raiva de ter saído da escola sem a minha mãe. Odiava-a por se ter esquecido de mim. Naquele instante, lembrei-me dos momentos que tinha com a minha família, de tudo o que me fazia feliz até àquele terrível momento, pois pensava que não ia sobreviver que, mais cedo ou mais tarde, iriam acabar com a minha vida.

Page 30: Contos2013

De repente, um telemóvel tocou e um dos homens atendeu e saiu disparado do armazém. O outro indivídou limitou-se a ficar sentado no chão a vigiar-me. Passaram-se horas até que o homem adormeceu e senti ali uma oportunidade para fugir. Lentamente, fui desenrolando as cordas à volta das mãos e dos pés e tirei o pano que amordaçava a minha boca. Levantei-me devagar e, em passos pequenos e silenciosos, alcancei a porta do armazém. Abri-a e, imediatamente, disparei a correr em direção à vila mais próxima, pois precisava de ajuda.

Encontrei uma casa e reparei que havia luz. Bati à porta e, de imediato, as pessoas chamaram a polícia e uma ambulância, pois estava num estado deplorável. Logo que as autoridades chegaram, disse-lhes onde ficava o armazém. A polícia identificou e prendeu os raptores e eu fui levada para o hospital onde permaneci até me fazerem exames e ligarem aos meus pais.

Ainda no mesmo dia, a minha mãe aflita, chegou ao hospital à minha procura.

-Filha, desculpa não te ter ido buscar à escola. Atrasei-me numa reunião.

-Não faz mal mãe, já está tudo bem!

Abraçámo-nos emotivamente e chorámos, mas eram lágrimas de alegria.

Retomei a casa. Aos detidos foi aplicada a pena máxima por tortura, violação, rapto e danos psicológicos.

Trabalho realizado por:

Cristiana Filipa, nº11

Daniela Roxo, nº12

Diogo Palmeira, nº15

Diogo Pereira, nº14

Inês Oliveira, nº17

9ºC

Page 31: Contos2013

O roubo sangrento

Depois da morte do meu trisavô fui encarregue de tirar toda a tralha do sótão da casa onde vivíamos.

Após uma demorada discussão com a minha mãe, que me gritava para que me comportasse como um menino de 13 anos, refugiei-me no sótão a remexer nos antiquíssimos baús. De repente, no meio das heranças descobri um velho diário. Comecei a lê-lo e não me apercebi da passagem do tempo. Começava assim:

“Senti-me na necessidade de escrever este diário para que outras pessoas não caiam no mesmo erro.

Esta história remonta ao século XV, quando a minha família, os Fénix detestava os Malcoon. Esta rivalidade familiar prolongou-se durante muitos séculos e espero que o seu desenrolar sirva para acabar com as discórdias entre as espécies.

A última batalha de que me lembro foi demasiada sangrenta: fez com que a terra tremesse, o chão abrisse, o céu escurecesse, as plantas sobreviventes crescessem como sangue derramado e que despertassem os abutres esfomeados por todo o

território da Califórnia. Toda aquela área que outrora fora verdejante agora não passava de uma mera zona obscura, sombria, seca e abandonada.

Naquele tempo dividíamos o território com outra espécie não menos assustadora que nós vampiros, os centauros. Apesar de termos uma grande agilidade e força não éramos indiferentes ao poder dos centauros Malcoon, velozes, fortes e espertos.

Esta rivalidade toda provinha do facto dos vampiros e dos centauros nunca se terem dado bem. Há séculos que era assim, batalhas atrás de batalhas, guerras atrás de guerras, mortes atrás de mortes, tudo isto só causava destruição atrás de destruição.

Finalmente, chegara-se a um consenso, foi feito um tratado de paz, claro e preciso, no qual as cláusulas impediam quer a destruição dos

Page 32: Contos2013

territórios quer as relações interpessoais entre vampiros e centauros.

No dia dos meus 118 anos, decidi visitar o lugar que há muito me era proibido visitar, a sagrada cascata dos diamantes.

Era um lugar deslumbrante e radiante, onde o brilho dos diamantes se refletia nas águas cristalinas. Eu havia cometido um crime que ninguém perdoara, nem mesmo os deuses: retirar um diamante da cascata.

Por consequência, pouco faltava para que tudo voltasse aquela era das trevas. Crescera, agora, em mim, um sentimento estranho, incontrolável e que não era aceitável pelas famílias. Sentia-me atraída por Gustav e ele por mim, ele era um centauro e qualquer relação entre um vampiro e um centauro acabava com o tratado de paz e a guerra recomeçaria.

Após descobrirmos esta atração, eu e o Gustav começámos a encontrarmo-nos com alguma frequência. Passaram-se meses, até que as famílias começaram a desconfiar dos nossos desaparecimentos à mesma hora e todos os dias. De dia para dia tornava-se cada vez mais difícil ocultar

a nossa relação. Um dia, Richard, um membro da Fénix, que me detestava por ser a filha do líder, seguiu-me sorrateiramente na esperança de me ver a fazer algo de errado. Como não dei conta da sua presença, devido à minha cega atração, as suas palavras devastaram-me:

- Traidora! Como ousas embaraçar a nossa espécie e, a tua família, que sempre te ajudou?!- gritava Richard, com um olhar maquiavélico.

- Calma, não é nada do que estás a pensar, ouve por favor! – Dizia eu, medrosa com as consequências e o rumo que tudo aquilo podia tomar.

- A tua morte já foi sentenciada. Agora, já não és mais uma Fénix!

- Por favor, não contes! - Dizia eu na esperança do segredo eterno, mas ele rapidamente se foi. Pouco tempo demorou para que todos soubessem, por isso dei um beijo de despedida a Gustav e do nada apareceram uns vampiros prontos para nos atacar. Gritei-lhe para que se salvasse e, pegando na navalha que trazia no bolso, esquartejei-os impiedosamente.

Para impedir que chegassem ao centauro, tive de os matar, ciente das

Page 33: Contos2013

consequências que a morte dos da minha espécie me acarretaria. Quando matei o último, com um golpe mortífero, apareceram muitos mais que rapidamente me amarraram com correntes de aço. O meu pai assumiu um ar de desilusão pela deslealdade da filha.

Entretanto corriam rumores de que Gustav também estava aprisionado e de que a guerra na Califórnia recomeçara. Sentia-me impotente perante aquele desfecho.

Passara uma semana e com febres altas, alucinações e constantes enjoos julgava ter chegado o fim dos meus dias. Entretanto, o líder dos Malcoon a fim de evitar mais mortes reuniu com o líder dos Fénix. Apesar de muito fraca e vulnerável ouvi-os a conversar no andar de cima. As falas eram determinados, porém dignas de dó porque Gustav e eu eramos filhos deles.

- O meu povo apontou para uma solução, que acho correta para manter um entendimento razoável entre nós- dizia o centauro.

-O sucedido não deve custar mais vidas, e por muito que me possa

doer a situação, apresenta a tua proposta!

-Vou ser direto. Amanhã estarei na arena abandonada para travar contigo um duelo até à morte.- disse convicto o pai de Gustav.

Ao ouvir isto, decidi convocar a minha madrinha de transformação, a Clarisse. Bastava-me dizer o seu nome três vezes para ela aparecer. Expliquei-lhe o meu envolvimento com Gustav e a necessidade de ele viver. Depois de refletir decidiu ajudar-me. Contactou o centauro e explicou-lhe o plano que engendrara. Era simples, teríamos de mastigar uma erva que parava o músculo do coração e uma outra que o faria voltar a bater. Sem certezas de que esta última teria o efeito desejado e, mesmo correndo o risco, aceitámos.

Assim que a noite do dia seguinte caiu, centauros e vampiros partilhavam um lugar nas bancadas da arena. Quando a lua atingiu o seu ponto máximo, espalhou-se no ar o som de uma trompa. Centauros e vampiros acotovelavam-se ansiosos de que a sua criatura ganhasse.

Consegui mastigar as ervas, deixadas por Clarisse debaixo da taça velha da carne. Via no horizonte uma

Page 34: Contos2013

luz ténue e mortífera que iluminava o campo da morte. Ouviam-se distantes os risos e as apostas dos adeptos inflamados.

Abriram o portão que me separava da arena e para lá me dirigi com passos lentos e duvidosos. Sabia que se não houvesse duelo a guerra entre centauros e vampiros continuaria. Ao aproximar-me do portão, senti cair sobre mim os olhos reprovadores e acusadores de todos. Ao fundo, Gustav esperava assustado, com a ideia de não me voltar ver no caso de as ervas não funcionarem.

Antes de a planta começar a produzir o efeito desejado fiz um sinal com a mão, na tentativa de dizer adeus a Gustav se não regressasse dos mortos. Ele correspondeu ao meu aceno e, de repente, a mistura começou a fazer efeito pretendido. Os meus olhos desfocaram a imagem do centauro, sentia dificuldades em respirar, parecia que o meu coração estava a parar de bater até que perdi a força e caí por terra, naquela areia antes calcada por muitos guerreiros em guerra. Ainda vislumbrei Gustav que corria para junto de mim, mas antes de me alcançar caiu inerte na areia.

O público mostrou-se, satisfeito porque nós, traidores, tínhamos perecido e, de imediato, os nossos corpos foram atirados para a mata, pois segundo eles, não tínhamos a dignidade de ser enterrados. Quando acordei, constatei, aliviada, que estava numa mata dos Fénix e dos Malcoon, no entanto, reparei que o corpo de Gustav não estava ao meu lado. Será que o tinham morto, será que ele fugira sem mim?

De repente, ouvi o barulho dos Fénix, que deviam estar a patrulhar as imediações. Subi a uma árvore na esperança de que não me descobrissem. A falta de energia fez-me cair e, quando abri os olhos, vi Gustav à minha frente com um veado morto.

Combinámos em fugir para o sul. Ficaríamos no deserto uns dias e depois iriamos para o oriente para uma zona nunca antes habitada pelas nossas espécies. Levámos carne e plantas suficientes para sete dias. No início de nossa fuga para a liberdade tudo parecia estar a correr bem. O primeiro dia foi o mais excitante, estávamos felizes porque nos tínhamos um ao outro. Passámos por muitos perigos antes de chegarmos ao deserto, mas

Page 35: Contos2013

superámo-los juntos. O sol já estava no alto do céu e parámos para fazer uma pausa breve. Antes de continuarmos caminho, comemos algo rápido e deitámo-nos para descansar perto de um poço junto a uma grande e velha árvore, que teria de certeza mais de 300 anos. Tudo à volta me fazia lembrar a Califórnia, com efeito notava-se em mim uma réstia de saudade.

Depressa a nossa pequena sesta se tornou num longo sono sombrio e cansado. Acordámos sobressaltados com o som de uma trombeta flamejante e, de seguida, uns gritos familiares. Mal abri os olhos não queria acreditar no que estava à minha frente! Gustav estava ao meu lado e não parava de se questionar sobre o que tinha acontecido para nós estarmos, de volta à arena, em pleno dia!!

Quando tomámos completa consciência daquilo que nos rodeava ouviu-se novamente aquele som irritante e inesquecível seguido de uma voz velha e rouca:

-Soltem o elefantossauro!

Tentei correr ou fazer uso da minha força para me tentar livrar das correntes que me prendiam ao chão. Rapidamente caí por terra ao aperceber-me de que tinha perdido os meus poderes todos. Sentia-me fraca e vulnerável, um alvo fácil à vista de todos. Do outro lado, via Gustav na mesma situação degradante em que eu me encontrava. Todos os nossos planos de fuga tinham desaparecido, já não havia nada a fazer. Os gritos nas bancadas aumentaram entusiásticos, mais uma vez levantei a cabeça e vi um grande portão a abrir-se devagar e a sair dele um elefantossauro furioso. Era uma mistura de elefante normal, mas com o dobro do tamanho, no dorso tinha uma grande armadura natural cheia de espinhos, era coberto de pelo, como um mamute e o pior era que cada vez que respirava parecia cuspir fogo. Mesmo que não o fizesse, os seus grandes olhos vermelhos fitavam o centauro que, fraco, tentou levantar-se para enfrentar o monstro que se erguia agora à sua frente. A sua velocidade assustava qualquer um, e quanto mais corria em direção a Gustav mais o seu peso fazia tremer o chão. E bastou um golpe com os seus grandes e afiados dentes de marfim para perfurar o corpo do centauro e desfazê-lo em mil

Page 36: Contos2013

pedaços, partindo assim, o meu pobre coração em pedacinhos! De repente, ouço uma voz vinda de longe cada vez mais nítida e clara, era a voz de Gustav a chamar-me:

-Vitória, Vitória!-dizia dentro da minha cabeça com uma voz preocupada e doce.

Num momento a imagem da arena desapareceu e senti-me cegar, como se estivesse a olhar diretamente para o sol. Quando consegui abrir os olhos, a muito custo, reparei que estava outra vez no bosque debaixo daquela árvore velha onde tinha adormecido, ao meu lado estava Gustav. Tudo não passara de um terrível pesadelo. O dia estava a amanhecer e o mundo passou de negro a anil e a verde à medida que a alvorada rastejava por campos e florestas. Chegara a hora de partir, de prosseguir a nossa caminhada, Chegámos ao deserto, horas mais tarde. Já não havia rasto de árvores, sombras e água, o céu estava limpo, só havia aquele sol quente e rigoroso que nos vigiava constantemente sem folga. Aquela tortura iria agora piorar. Num abrir e fechar de olhos, avistámos, vindo do nada, algo de dimensões monstruosas e com consequências

devastadoras. Era uma tempestade de areia, como eu nunca vira, e toda a gente sabe que não se pode fugir de uma tempestade que corre para nós. Montámos uma espécie de tenda rudimentar feita de pano, para ficarmos minimamente abrigados. Não esperávamos encontrar uma tempestade naquela altura do ano, por isso, não estávamos devidamente preparados para tal desafio. Mesmo assim fizemos o nosso melhor para nos proteger. A tempestade foi devastadora. Ficámos desorientados e sem comida.

Cedo, a nossa situação começou a afetar o meu comportamento. Já haviam passado 5 dias desde a tempestade e nada mais se via além de areia e mais areia. Comecei a ter momentos de descontrolo, os momentos críticos aconteciam agora com mais frequência e agressividade, e a situação começou a agravar-se. Os dias e as noites passavam lentamente numa espécie de melodia melancólica e triste com sons graves capazes de ferir qualquer um. Certo dia, pusemo-nos a caminho antes que a temperatura aquecesse demasiado. A direcção que tomávamos decerto nos conduziria a algum lado: o mundo não podia ser só areia e mais areia. Esta era a esperança

Page 37: Contos2013

que nos movia a continuar até ao limite das nossas forças. O sol atingia o seu Zénite quando, Gustav me fez sinal para pararmos um bocado para descansar. Não falávamos com o objetivo de não gastar energias. Do nada comecei a sentir algo dentro de mim, um mau estar alucinante, algo incontrolável. Quando Gustav me viu assim correu para mim. O meu instinto vampiresco apoderou-se de mim e sem uma vacilação devorei Gustav, que foi incapaz de se defender do meu ataque impiedoso. Estava esfomeada e parecia um animal cuja fome era insaciável, por incrível que parecesse aquilo dava-me prazer e angústia ao mesmo tempo, parecia que algo me estava a controlar e eu não conseguia parar a catástrofe que estava a causar.

Quando finalmente caí em mim e tomei consciência do que tinha feito já era tarde, não havia nada a fazer que trouxesse Gustav de volta. Senti-me um monstro. Como teria eu sido capaz de lhe fazer aquilo, depois de tudo o que havíamos passados juntos? Então percebi que o amor que sentia por ele não era verdadeiro. Tínhamos sido um joguete na mão dos deuses, destinado a nunca dar certo.

Passaram anos e um dia decidi registar neste diário a minha atribulada história de amor. Espero que nunca ignorem o quão cruéis podem ser os deuses e que aprendam a retirar lições da vida e assim termino a minha narrativa”.

Quando finalmente terminei a leitura deste diário percebi que já era noite e que a minha mãe há muito que devia estar preocupada com a minha ausência. Não sabia o que pensar daquela singular narrativa! Ana Saltão nº 2 Ana Rita nº 4 Andreia Oliveira nº 5 João Moio nº 21

Page 38: Contos2013
Page 39: Contos2013

“Um anjo chamado André”

De todas as imagens que me saltam à

mente, não sei porquê, sempre me

tocam as de antigas igrejas e de

conventos. Quando leio um poema, um

conto ou qualquer texto que me remete

a estas imagens, sinto como se estivesse

falando para mim. Dizem que é coisa

de vidas passadas, lembranças de

outras existências. Não sei se realmente

isto existe, mas a minha imaginação

está cheia destas imagens. Muitas vezes,

nos meus sonhos, passeio por ruínas de

conventos. Quando me dou conta, estou

diante de um portal de entrada, com

mais de três metros de altura, uma

porta enorme de madeira entalhada no

cimo de uma monumental escadaria.

Já sonhei em colocar um hábito, em

levar uma vida entre quatro paredes,

mas há sempre o mistério das freiras na

clausura.

Sentada à janela do meu quarto,

imagino a vida no convento. Sempre

que penso nisso há algo que me diz que

é lá o meu

lugar,

afastada

do mundo

real, onde vivo, do ódio, da mentira e

do sofrimento, do que me faz pensar

em desistir e abandonar tudo o que me

rodeia.

Finalmente, o dia em que o meu sonho

se tornou realidade chegou. Sorri e

corri para a roda. Era ali o verdadeiro

sítio onde realmente queria estar.

Despedi-me de tudo sem olhar para

trás, não pensei na mentira em que

vivia lá fora e enfrentei a realidade que

me esperava lá dentro.

Entrei, olhei à minha volta, era tudo tão

diferente… Não sei se era o que eu

esperava ver, mas gostei do que vi.

Acho que me ia sentir bem, era mesmo

ali onde eu queria ficar. Nunca tinha

pensado no que ia sentir quando aquele

momento chegasse. Pousei as malas,

sentei-me no singelo catre, tudo era

Page 40: Contos2013

novo para mim, não conhecia nada,

nem ninguém.

Os dias passaram, nem dei por isso, o

que sentia era mais do que aquilo que

consigo explicar. Não havia palavras

para descrever o que estavam a fazer

por mim. Entrei neste convento e

consegui mudar a minha vida.

Agora, os meus dias estão totalmente

preenchidos, mas de vez enquanto

ainda tenho tempo para pensar um

pouco. Penso no que deixei lá fora,

penso se fiz mesmo o que queria. Lá

fora, não estava bem, mas foi lá que me

apaixonei e que me entreguei àquele

amor. Passámos momentos felizes,

chorei por ele me ter desiludido.

Mas visto de outra maneira, é aqui que

estou bem, aqui não me esqueço de

viver por amar alguém, aqui não troco

Deus pelo rapaz que está no coração.

Aqui apenas me entrego a um homem e

Este ama-me de verdade e nunca me

vai trair, a Ele posso-me entregar

totalmente que nunca me vai fugir nem

abandonar.

Definitivamente, o convento é o lugar

onde quero permanecer até morrer.

Todos os dias ponho a mesa, lavo a

louça e a roupa, há muito trabalho a

cumprir e a aceitar. É habitual pensar-

se que é tempo de clausura e oração,

mas não é bem assim, o principal é isso,

mas não chega. Se queremos aqui

continuar temos de nos esforçar para o

conseguir e fazer o que nos é pedido.

No fim do trabalho feito e de termos

jantado, é hora de recolher e irmos

para os quartos. Todas nós rezamos um

terço antes de adormecer. Uma das

vezes em que me deitei tive um sonho,

não sei se posso dizer que foi um

sonho, acho que foi mais um pesadelo,

tal era a ânsia de acordar. Sonhei que a

minha vida tinha voltado a dar um

grande volta, desisti do meu sonho e

voltei para o universo que durante

algum tempo me cativara, quando

estava apaixonada. Mal acordei não

Page 41: Contos2013

acreditava, não podia ser verdade!

Como era possível ter eu sonhado com

aquilo? Não podia estar em mim.

Quando recuperei a normalidade,

vesti-me e corri para a igreja, tinha de

falar com Deus, Ele iria perceber a

minha posição, então não esperei mais.

Foi então no fim daquele tempo

passado na igreja que tive todas as

certezas, que era naquele local que eu

queria permanecer. Ali sentia-me livre

e estava afastada dos meus medos.

Aquelas 24 horas passaram e mais

dias como aquele vieram. Fui

aprendendo com as outras freiras a arte

da doçaria, pois era a produção de

doces e a exploração agrícola das

propriedades que pertenciam ao

convento que nos sustentavam.

Chegou o dia de decidir o meu

futuro, como não queria voltar a sofrer

como anteriormente, decidi seguir em

frente e procurar a ministra. Sabia que

era chegado o momento de mudar o

meu nome, de Maria Luísa para

Francelina de Jesus. Era o nome que

nunca pensaria vir a ter, mas não tinha

outra escolha. Depois de me tornar

freira, fui auxiliar de cozinha, durante

algum tempo. Confecionavamos as

refeições para as crianças órfãs que

haviam sido entregues ao nosso

cuidado. Durante esse tempo, várias

crianças foram entrando, mas só uma

me tocou de verdade, o André. Num

dos meus sonhos, alguém tocou no meu

ombro e me disse que aquela criança

era especial. Não era diferente das

outras, mas algo me disse, naquele

sonho, que a devia tratar de maneira

diferente.

Sempre que o André ia à cozinha

buscar o almoço, olhava-me nos olhos

como se sentisse o mesmo que eu.

Um dia, quando me encontrava no

mirante decidi falar com ele. Estava

triste. Abracei-o e senti que não o

deveria largar, o que sentia era tão

forte que parecia que ele me

pertencera.

Page 42: Contos2013

No domingo seguinte, preparámo-nos

para ir à missa, as crianças vestiram-se

e vieram ter connosco. O André deu-

me a mão, durante o tempo em que

assistíamos à missa, parecia ter medo

que eu fugisse e não voltasse. Não sabia

como havia de reagir, mas nunca o

larguei.

Os dias foram passando, ele estava

cada vez maior e o que sentíamos um

pelo outro não cessava de aumentar. A

partir do dia em que aquele rapaz

entrou no convento, alguém passara a

deixar alimentos na roda, talvez a

desculparem-se por o terem

abandonado.

Um dia, deixaram um bilhete, num

cesto de batatas que me era dirigido.

Não fazia a mínima ideia de quem

poderia ser, abri-o a medo e fui lê-lo

junto à madre, pois algo me dizia que

aquele seria o sítio certo para eu ler

aquele papel tão importante.

“Não aguentei, tive de te escrever, sinto

a tua falta. Sei que estás a tratar bem o

rapaz que entrou aí e de quem não te

consegues separar. Se calhar não fazes

a menor ideia de quem ele é! Não há

outra forma de o dizer, mas tu tens de

saber a verdade. Não sei qual será a tua

reação, mas penso que ficarás feliz. O

menino de quem tu tanto gostas é mais

do que um simples rapaz que não tem

mãe para cuidar dele, ele é o teu irmão.

Espero que este bilhete não tenha

mudado o que sentes por ele, pois ele

precisa bastante de ti. Precisa de

alguém que lhe dê carinho, já que eu

não lho posso dar. Beijos da tua mãe,

que te adora”

Depois de ler este bilhete fiquei

alvoraçada, não ia mudar o que sentia

pelo André, mas sim gostar ainda mais

dele. Como era possível ter sentido uma

atração inexplicável pelo André?

Debato-me com este dilema: o que

fazer em relação a esta situação. Devo,

fingir que o André não me é nada

quando ele é meu irmão ou devo

contar-lhe a verdade. Decidi não lhe

Page 43: Contos2013

contar nada. Se calhar faço mal e

quando quiser falar com ele já não vou

a tempo, mas ele não vai conseguir

perceber o que se passou.

Num dos dias em que olhei pela

janela, vi a minha mãe, estava sentada

mesmo em frente ao convento, com

lágrimas na cara. A minha vontade era

correr até ela, abraçá-la e dizer-lhe

que se eu somasse todas as estrelas do

céu, todos os grãos de areia da praia,

todas as rosas do mundo e todos os

sorrisos que já foram dados na nossa

história, começaria a ter uma ideia do

quanto a queria ver de novo.

Não podia fazer isso, então chamei o

meu irmão, abracei-o e dei-lhe um

beijo na testa. Uma lágrima caiu-lhe do

canto do olho. Será que ele também

sentia o mesmo? Não tinha resposta

para esta pergunta, pois era impossível

adivinhar o que ele sentia

Então decidi deixar-me ficar a olhar

para a minha mãe, pois era assim a

única hipótese de matar as saudades.

Não posso dizer que lhe estou a

“mentir”, porque eu não o estou a fazer,

eu apenas estou a omitir a verdade.

Mas mesmo assim ele não merece! Eu

já passei por isso quando vivia lá fora e

não é nada fácil, acreditem custa e

muito. É como parecer que somos

insignificantes, quando nos omitem

algo ou não nos querem contar o que se

está a passar e nós percebemos que

alguma coisa não está bem, é um dos

sentimentos que é mais difícil de

suportar.

Queria muito correr até ao André e

contar-lhe tudo o que sabia, mas não

podia fazer isso, assim, de qualquer

maneira. Então, decidi ir ter com uma

das freiras com quem tinha mais

confiança, tinha a certeza de que ela

me iria dar os melhores conselhos para

eu seguir.

Dirigi-me ao André, com toda a

coragem que tinha. Era chegado o

momento de lhe contar.

- Olá André, tudo bem?

Page 44: Contos2013

- Sim, tudo bem- disse ele.

-Então, o que andas a fazer?

-Estou a brincar.

-Preciso de falar contigo! Eu tenho de

te dizer uma coisa muito importante.

Falei com o André, não aguentei, e

acabei por dizer toda a verdade.

Olhou-me surpreso não esperava

aquela revelação. Questionei-o quanto

aos sentimentos que experimentava.

Sentia-me aliviada, já sabia que éramos

irmãos, já não havia nada a esconder. O

André sentia o mesmo que eu e gostava

muito de estar comigo, não podia estar

mais contente.

A partir do dia em que vi a minha

mãe em frente ao convento nunca mais

me esqueci e não parava de pensar

nisso. Qual a razão de se encontrar ali?

Seria para trazer alimentos para mim e

para o André.

Voltei a ir falar com a freira, ela sabia

sempre o que fazer e o que me dizer

quando eu tinha problemas. Era como

uma segunda mãe ali no convento.

A conversa com a freira tinha corrido

bem. Era importante provar ao André

que, apesar de a nossa mãe se ter

afastado por não ter possibilidade de

cuidar de nós, continuava a ver-nos

como filhos.

Os dias passaram e a senhora não

voltou a aparecer. Passava a maior

parte do meu tempo livre, lá em cima,

no mirante à espera daquela pessoa. Já

tinha contado ao André que tinha visto

uma senhora que me parecia ser a

nossa mãe e ele ficou entusiasmado

com a ideia de a poder ver, mas eu não

lhe quis dar muitas esperanças.

Até que, uma vez em que eu estava no

mirante, à espera daquele momento,

aquela senhora apareceu de novo.

Corri pelas escadas e chamei a freira,

esta correu o mais que podia para

chegar até lá acima, mas quando nós

chegámos tivemos uma grande

desilusão. Ela já não estava lá, já se

tinha ido embora, certamente para

casa.

Page 45: Contos2013

Estava ansiosa de confirmar se era a

minha mãe, mas não foi desta. Também

não desisti, todo o tempo que eu tinha

desocupado era passado no mirante a

olhar a rua. Ainda tinha uma certa

esperança de que a senhora ia voltar.

Entretanto, André crescia e eu estava

cada vez mais triste por não rever

aquela pessoa. Até que, um dia, em que

o sol brilhava e não havia nuvens no

céu, me senti um pouco mais animada.

Já tinha o trabalho da cozinha

despachado, então decidi voltar para o

mirante como era habitual passar as

minhas horas de recolhimento. A

senhora voltou a aparecer, pedi ao

André que estava ao meu lado para ir

procurar a freira o mais rápido possível

e correr até mim. Ele todo contente

correu o mais que pôde e felizmente a

freira chegou a tempo de ver a senhora

que mais uma vez chorava ali em

frente. Depois daquela conversa e

alegria, senti uma vontade enorme,

dentro de mim, de desistir do sonho do

convento, levar o André comigo, viver

livre lá fora e dar um abraço enorme à

minha mãe. Sim, porque, naquele

momento, eu tinha a certeza de que

ainda tinha a minha mãe e de que ela

sentia a minha falta, pois se não

sentisse não tinha vindo até ali e não

estava chorando. Naquela noite, sentia

que o melhor para mim era sair

daquelas quatro paredes que me

impediam de estar todos os dias com a

pessoa que mais amo.

Pesei muito se valia a pena sair dali e

como é óbvio levar o André comigo.

Depois de tanto pensar decidi seguir

em frente com a minha escolha. A

freira encarou a minha proposta com

um sorriso nos lábios, pois sabia que

era mesmo isso que eu queria e o

sacerdote concedeu-me a autorização

de saída do convento.

O último dia de clausura foi cheio de

emoções, era a despedida da minha

segunda família e todos os bons e maus

momentos passados naquele convento.

Page 46: Contos2013

Dei uma última vista de olhos pelo

mirante e pelos corredores que durante

anos foram a minha casa, deixei aquele

lugar e abri portas a uma nova vida.

Quando cheguei cá fora olhei para

aquele edifício alto e despedi-me com

um suspiro forte. Procurei a minha mãe

por todos os cantos da vila e, quando a

encontrei mostrei-lhe todo o meu

sentimento por ela. Agora eu já tinha

conhecimento de tudo, sabia que a

minha mãe estava bem e toda a minha

família restante também, exceto que o

nosso pai havia falecido. Aprendi que a

vida deve ser vivida sem atropelos e

com serenidade. Agora posso dizer que

a liberdade e a família completam-me.

Cláudio Filipe nº10 João Paulo nº19 Luís Filipe nº22 Mariana Maia nº23 Rúben Almeida nº28

Page 47: Contos2013

FIM