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2. MOVIMENTOS SOCIAIS: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS Para Silveira (2000), a historiografia revela que os movimentos sociais estiveram presente em todas as sociedades, com seu caráter conflitual e coletivo, estão necessariamente imbricados com os processos de mudanças. Na Antiguidade se identifica os movimentos de escravos e religiosos; na Baixa idade média os movimentos de camponeses; a idade Moderna traz junto ao fim do Feudalismo as mobilizações de mercadores e religiosos; na idade contemporânea com o sistema capitalista já consolidado nascem os movimentos operários; por fim na fase atual do capitalismo monopolista surgem os “novos movimentos sociais” configurados no plano ecológico, feminista, pacifista, etc. Depreende-se do citado anteriormente que toda a história sofre a influência dos movimentos sociais, que sua presença atua de maneira determinante nos acontecimentos e revela o inconformismo com as diversas formas de opressão presentes nas estruturas de poder, seja nas sociedades ditas escravocratas, seja naquelas onde os homens são livres, percebe-se como uma constante, a tensão das relações configuradas entre dominantes e dominados. Silveira (2000), define como movimento social uma ação conjunta de homens que compartilham uma mesma visão de mundo, tendo por objetivo a mudança ou a conservação de relações sociais numa determinada sociedade. Não é uma ingenuidade por tanto, classificar os movimentos sociais como ações reativas, visto que também são respostas que a sociedade articula diante de situações de injustiças, de

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2. MOVIMENTOS SOCIAIS: CONCEITO E CARACTERÍSTICAS

Para Silveira (2000), a historiografia revela que os movimentos sociais estiveram

presente em todas as sociedades, com seu caráter conflitual e coletivo, estão necessariamente

imbricados com os processos de mudanças. Na Antiguidade se identifica os movimentos de

escravos e religiosos; na Baixa idade média os movimentos de camponeses; a idade Moderna

traz junto ao fim do Feudalismo as mobilizações de mercadores e religiosos; na idade

contemporânea com o sistema capitalista já consolidado nascem os movimentos operários;

por fim na fase atual do capitalismo monopolista surgem os “novos movimentos sociais”

configurados no plano ecológico, feminista, pacifista, etc.

Depreende-se do citado anteriormente que toda a história sofre a influência dos

movimentos sociais, que sua presença atua de maneira determinante nos acontecimentos e

revela o inconformismo com as diversas formas de opressão presentes nas estruturas de poder,

seja nas sociedades ditas escravocratas, seja naquelas onde os homens são livres, percebe-se

como uma constante, a tensão das relações configuradas entre dominantes e dominados.

Silveira (2000), define como movimento social uma ação conjunta de homens que

compartilham uma mesma visão de mundo, tendo por objetivo a mudança ou a conservação

de relações sociais numa determinada sociedade.

Não é uma ingenuidade por tanto, classificar os movimentos sociais como ações

reativas, visto que também são respostas que a sociedade articula diante de situações de

injustiças, de ausência de direitos e da ineficiência do Estado. Os grupos organizados atuam

no sentido de intervir na realidade, buscar melhorias, amenizar tensões e a efetividades de

direitos já garantidos constitucionalmente. Ocorre um certo clamor das organizações civis,

exigindo um Estado presente e atuante nas questões de interesses sociais.

Gohn (2013), destaca os movimentos sociais como um campo de força sociopolítico,

além de reconhecer que suas ações impulsionam diversos tipos de mudanças. Suas lutas

demarcam interesses, identidades, subjetividades e projetos de grupos sociais. Mobilizam

ideias e valores e geram saberes e aprendizado coletivo.

Convém salientar o quanto essas mobilizações são importantes, como ferramenta

educacional, cultural e como meio de desenvolver a democracia através da participação.

Deixa como herança para as novas gerações um espírito libertário, um modelo de sociedade

em constante construção e aperfeiçoamento, que deve moldar-se pelas necessidades de cada

época, tomando sempre por base o bem comum.

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Tomando por referência o livro de Scherrer-Warrer, Movimentos sociais, uma

interpretação sociológica, Silveira (2000) destaca e faz uma reflexão sobre os elementos que

compõe o campo de análise dos movimentos sociais: o projeto, a ideologia e a organização.

Coloca a necessidade de compreensão dos movimentos a partir das proposições que

apresentam, das ideias que os sustentam e da organização que estabelecem para atingir suas

metas.

Com estes elementos é possível identificar os movimentos sociais que surgem,

diferenciá-los e determiná-los enquanto organizações com características peculiares que assim

os definem, como suas bandeiras de lutas, as ideias que embasam seus projetos, suas

articulações e suas práticas na sociedade. Enquanto processos dinâmicos em consonância com

a realidade que são, os movimentos sociais se expressam e se definem pelas vias da

atualidade, sua compressão requer um diálogo e um entendimento com as diversas forma de

comunicação e redes sociais contemporâneas.

2.1 Os “Novos” Movimentos Sociais

Pensar a definição de “novos” movimentos sociais, pressupõe-se fazer uma

diferenciação entre os movimentos sociais tradicionais e o que se conceitua como novos

movimentos sociais, para tanto recorremos a Silveira (2000)

“Os novos movimentos sociais são assim denominados porque apresentam algumas diferenças fundamentais em relação aos movimentos tradicionais ou clássicos e, em especial ao movimento operário. (...) Surgem e se desenvolvem a partir das contradições do capitalismo monopolista.”

Pelo o que se observa são estruturados em cenário contemporâneo, que foi construído

fundamentado no sustentáculo da Revolução Tecno-científica, que por sua vez revolucionou o

mundo do trabalho, fragilizou as relações entre os trabalhadores, atingiu frontalmente a área

ambiental e aprofundou o consumismo pela lógica da globalização.

Com o aumento da produtividade e do domínio do homem sobre a natureza, a partir de

uma tecnologia concentradora de conhecimento técnico e cientifico que fez uso descontrolado

dos recursos naturais, o mundo enxergou a possibilidade real de esgotamento de tais recursos,

além de sofrer as consequências da poluição e contaminação do ar, do solo e das águas. Antes

mesmo que a maioria dos países pudessem usufruir desses avanços e ter acesso ao consumo

de bens tecnológicos, a corrida armamentista e a iminência de uma guerra nuclear vêm trazer

para a ordem do dia as contradições de uma sociedade capitalista (Silveira, 2000).

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Disto convém situar os novos movimentos sociais numa perspectiva capaz de englobar

todas as demandas que nascem juntos com os projetos de integração global e seus novos

atores. Se pela lógica do desenvolvimento capitalista o mundo seguiria como uma verdadeira

aldeia, com todos os povos tendo acesso a todo o progresso viabilizado pelas tecnologias

produzidas, numa tendência progressista os principais problemas da humanidade estariam

próximos de serem resolvidos. Porém a realidade denuncia o fracasso do projeto humano de

igualdade, enquanto ratifica os princípios concentradores de tal sistema. E como resultado, os

países ricos ainda mais ricos e centralizadores e os países pobres, cada vez mais dependentes,

sem condições de eliminar um dos problemas mais antigos da humanidade, que seja a fome.

São estes conflitos que servem como pano de fundo e endossam os novos movimentos sociais.

Com o redimensionamento de problemas sociais já existentes, como a pobreza e o

surgimento de novos problemas sociais, percebe-se uma alteração da questão social que

repercute no nascimento de novos sujeitos sociais. Esse espaço dinâmico e efervescente é o

espaço que corporifica e qualifica os novos movimentos sociais. Os movimentos ecológicos

com suas correntes ambientalistas e conservacionista; os movimentos feministas pelo direito a

igualdade com os homens; o movimento hippie com a negação da sociedade de consumo e da

educação tradicional; os movimentos estudantis no questionamento dos currículos escolares;

os movimentos sociais urbanos reivindicando melhorias nos setores de transporte, saúde,

habitação, etc. (SILVEIRA, 2000)

Dentre os movimentos sociais urbanos se detecta o movimento do Skate, por definição

um movimento de essência jovem e imperativa, que procura imprimir o caráter radical do

esporte em seus projetos societários. Visam mudanças diante da sociedade, que os enxergam

sob o estereótipo da vagabundagem e frente ao poder público, onde quase sempre passam no

esquecimento das políticas, que acabam por anular este esporte como ferramenta no

desenvolvimento e aperfeiçoamento humano.

As atuais ações coletivas se organizam por outros eixos, focados menos nos

pressupostos ideológicos e políticos e muito mais nos vínculos sociais comunitários. Não

primam pela tomada do poder Estatal, mas reivindicam pautas coletivas, organizam atividades

conjuntas e buscam visibilidade social. (GOHN 2013).

Deduz-se que, a novidade que reveste os novos movimentos sociais, perpassam tanto

pelos atores em cena como pelas demandas do contexto da atualidade. Aqueles por seu nível

de consciência, por novos comportamentos e porque se pautam na construção de identidades;

estas por serem consequências de toda uma conjuntura social e repercutirem em todas as

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áreas, econômica, política e social norteando mobilizações compatíveis com as necessidades

atuais.

2.2 Movimentos Identitários e Culturais

Nessa virada de século pôde-se observar a emersão de vários novos movimentos

sociais, dentre os quais evidencia-se como característica fundamental a ação em redes sociais,

dados os interesses e reinvindicações comum entre os diversos movimentos. Essa nova forma

de organização, possibilitada pelo acesso à informação num contexto modernizado, propicia a

interação entre movimentos possibilitando maior eficácia em suas ações, como enfatiza

Scherer-Warren, 2006:

“As redes, por serem multiformes, aproximam atores sociais diversificados — dos níveis locais aos mais globais, de diferentes tipos de organizações —, e possibilitam o diálogo da diversidade de interesses e valores. Ainda que esse diálogo não seja isento de conflitos, o encontro e o confronto das reivindicações e lutas referentes a diversos aspectos da cidadania vêm permitindo aos movimentos sociais passarem da defesa de um sujeito identitário único à defesa de um sujeito plural.”

Essa forma de ação dos movimentos na contemporaneidade revelam a importância de

uma ação coletiva que vá além dos interesses subjetivos. Gohn (2010), identifica como

movimentos identitários e culturais os movimentos que atribuem aos seus participantes uma

identificação baseada em fatores biológicos, étnicos/raciais ou geracionais.

Entende-se assim que as redes sociais e o compartilhamento de valores e pensamentos

encontrados nos movimentos atuais são o estopim para a fomentação de uma tendência que

viabiliza a propagação de ideias centradas na homogeneidade, ainda que não na totalidade,

visto a existência inevitável de conflitos, mas de forma a manter a pluralidade de interesses

que seriam congruentes de um mesmo objetivo.

2.2.1 Movimento geracional e movimento jovem

Para Motta e Weller (2010), é indispensável a retomada de trajetórias sociais de

gerações passadas para a análise e entendimento das novas gerações e possíveis desafios a

serem enfrentados.

Para entender o movimento geracional é necessário apreender que os movimentos

sociais atuais derivam de um legado deixado por atores sociais de contextos passados e até

remotos. A posição geracional não está contida apenas no fato de pessoas viverem em um

mesmo espaço de tempo, mas, na possibilidade de ligação ou aproximação entre conteúdos,

acontecimentos e consciência identitária, mesmo em contextos variados.

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Observamos então que, há uma diferenciação nas formas de manifestação e

mobilização, mas que, sobretudo, movimentos anteriores e atuais formulam um pensamento

emancipatório na tentativa de superação das desigualdades, (vale ressaltar que, essas

antecedem o capitalismo), sejam elas de gênero, étnicas, econômicas e/ou culturais.

Com o processo de modernização tecnológica, obtém-se maior facilidade de acesso a

informação e uma mobilidade que facilita a deflagração dos pensamentos reivindicatórios. É

envolto dessa modernização que ocorrem os movimentos da juventude, por vias culturais,

musicas, danças, em movimentos como o Hip Hop, Rap, Punk, articulando temática étnica

racial, e o orgulho afrodescendente. (GOHN, 2013)

Percebe-se assim que, como já citado no presente artigo, os movimentos da juventude

tal como outros, ecológicos, feministas, pacifista, mesmo com seu cariz de modernidade, tem

suas raízes em movimentos anteriores e que, mediante o nível de conscientização identitária,

revelam-se como atores sociais de uma guerra ainda não vencida.

3. MOVIMENTO DO SKATE E SUA HISTÓRIA

A cidade de Juazeiro do Norte está situada em uma das regiões mais importantes do

estado do Ceará, a região do Cariri e com influência sobre população estimada segundo

o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 266.022 habitantes. É considerado

um dos maiores centros de religiosidade popular da América Latina atraindo cerca de 1,5

milhões de fiéis por ano que comparecem nas romarias de Nossa Senhora das Dores e de

Finados. Tem como principal referencia seu santo padroeiro, O Padre Cícero, uma

personalidade central, que introduziu uma política de fé, amor e trabalho e se tornou um mito

para o povo nordestino.

(POPULACAO JOVEM)

Juazeiro do Norte é notadamente reconhecida por seu valor histórico e cultural, mas

também ganha destaque pelo surgimento de coletivos e movimentos sociais que buscam

efetivar transformações. Assim como no cenário nacional, apresenta organizações

sociopolíticas de lutas em torno de questões relevantes como a democratização dos espaços

urbanos, decorrentes de questões religiosas, de identidade e cultural, da área do trabalho, entre

outros. Pablo Soares afirma que, apesar dos desafios, a experiência de militância no Cariri é

muito rica.

“As relações que se estabelecem entre as pessoas para uma única finalidade e uma única luta é muito prazerosa, mas também árdua, já que cada um possui suas especificidades e linhas de pensamento.(...) Os jovens são os mais receptivos com

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essas questões e observamos como são carentes e atenciosos quando pautamos assuntos vistos como tabus na sociedade”.

Os movimentos sociais ganham notoriedade a partir do espirito de solidariedade e

coesão criado dentro do grupo, do sentimento de inconformismo compartilhados por todos e o

reconhecimento do outro como espelho da situação de cada um, que também é a situação de

todos. Este sentimento deve animar as lutas e mobilizar as ações organizativas que visam a

conquista de direitos.

Dentre os movimentos sociais da juventude existentes em Juazeiro identifica-se o

movimento social do Skate. No caminho para conhecer a sua história, estabeleceu-se um

contato caracterizado pelo esforço de realização de uma pesquisa etnográfica que apresenta e

traduz a prática da observação, da descrição e da análise das dinâmicas interativas e

comunicativas como uma das mais relevantes técnicas. Desta forma, a partir de observações e

de elementos narrados pelo entrevistado 1 e entrevistado 2, ativistas do movimento e

praticante de skate foi possível construir a história no cenário de Juazeiro do Norte.

O inicio da sua história vem dizer que

“Desde a década de 80, meados da década de 80 já tinha skatistas aqui, só que a galera não andava com intenção de profissionalizar, mas era mais diversão mesmo.” (ENTRESVISTADO 1)

Compreende-se que a chegada dos primeiros skatistas na cidade era apenas como uma

prática de esporte radical tendo o lazer como único propósito.

“Na década de 90 começou a surgir mesmo a tribo skatistas onde a galera começou a ter uma identidade mesmo, identidade visual, de grupo mesmo.” (ENTRESVISTADO 1)

O movimento do skate possui características definidas segundo Gohn (2013), como

um movimento identitário e cultural por conferir aos seus membros elementos de identidade

centrados no fator geracional (idade). O grupo percebeu que se não houvesse uma

organização do grupo, não haveria conquistas ou seriam mais difíceis de alcançar.

“Final da década de 90 a gente tinha essa consciência de se organizar. Eu comecei em 98, já tinha uma galera que andava, a gente começou a perceber que se a gente não se organizasse a gente não ia conseguir um espaço para andar. A gente começou a se organizar, a fazer manifestação por um espaço que a gente não tinha.” (ENTRESVISTADO 1)

A prática do skate nessa época era feita no Anfiteatro do Parque Ecológico ou no

Ginásio Poliesportivo de Juazeiro do Norte, porém a cada evento lá realizado eram proibidos

de praticar. Um dos principais atos de manifestação acontecia no desfile do Dia 07 de

Setembro como forma de maior visibilidade tanto por parte da sociedade quanto do poder

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público. Desciam pelas ruas com cartazes, faixas e camisetas reivindicando um espaço

público sem nenhuma proibição e nem qualquer tipo de perturbação para a sociedade.

Em 2006 é fundada Associação Juazeirense de Skate – AJUSK como forma de

organização do movimento.

“A Associação foi fundada em 2006 para ficar mais fácil de conseguir nossas conquistas. Antes da Associação a gente só queria um local e após a Associação passamos a lutar por uma pista.”

No esboço do seu portfólio, a AJUSK se apresenta como uma entidade social sem fins

lucrativos e tem como objetivos

I- Organizar os skatistas de Juazeiro do Norte no intuito de lutar por melhorias para o esporte e para os atletas e ter maior representatividade diante dos órgãos públicos;II- Organizar eventos e praticas sociais para divulgar o esporte radical para a sociedade e agregar pessoas na busca de novos rumos que propicie melhorias nos indicadores sociais de inclusão com a intenção de ampliar a participação e o envolvimento da comunidade em ações esportivas, na perspectiva de democratizar o acesso ao desporto e ao lazer;III- Transformar o esporte radical em um instrumento de inclusão para favorecer a construção da cidadania dos nossos jovens.

A prática permaneceu acontecendo no Anfiteatro do Parque Ecológico e no Ginásio

Poliesportivo da cidade.

“Em 2008, na gestão do prefeito Dr. Raimundo Macedo conseguimos que fosse construído uma pista que começou a ser construída na Praça do Giradouro. No inicio do ano seguinte na gestão de Dr. Santana ela foi demolida que a Prefeitura usou de justificativa que a pista atrapalharia a visibilidade dos carros.”

Após muitos anos de luta, manifestações e pedidos, em 06 de Abril de 2009

conseguiram junto ao Governo do Estado do Ceará a primeira pista pública de Skate de

Juazeiro do Norte localizada no Parque Ecológico das Timbaúbas. Esta pista considera o

movimento, como a maior conquista concreta ou física alcançada por eles. Em 2010, durante

a realização do Campeonato Regional de Skate na cidade, aproveitaram-se do espaço para

fazer abertamente o pedido aos presentes de doação de materiais, peças e até mesmo de

skates. O evento contava com a presença do prefeito da gestão Dr. Manoel Santana que se

comprometeu publicamente com a doação de 10 skates, e, assim cumprido, deu início a

Escolinha de Skate, uma das atividades que até hoje é desenvolvida pelo movimento.

3.1 Associação Juazeirense de Skate – AJUSK

A Associação Juazeirense de Skate – AJUSK foi fundada em 19 de Março de 2006.

Na ocasião da sua criação, houve um evento no Anfiteatro do Parque Ecológico das

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Timbaúbas no qual contou com a presença de varias bandas de rock, do movimento hip hop,

vários skatistas de Juazeiro do Norte e de cidades vizinhas como também personalidades

políticas.

A sede esta localizada na Rua Joaquim de Souza Menezes n° 73 no bairro Romeirão,

sua direção é composta de nove membros, todos skatistas que se reúnem periodicamente de

acordo com seu estatuto social. O grupo desenvolve alguns projetos sociais e eventos

esportivos para incentivar a pratica do esporte, alem de palestras e apresentações em escolas.

No texto do seu Portfólio diz que as linhas de trabalho da associação estão voltadas

principalmente para a prática do skate, que através do incentivo a prática do esporte, visa tirar

crianças e jovens que estejam em condição de risco das ruas, jovens que estejam gastando seu

tempo livre em atividades não saudáveis e incentivá-las a praticar o skate como forma de

ocupá-las com uma atividade esportiva e como forma de inclusão social.

Essas atividades estão sendo desenvolvidas principalmente com contribuição

voluntária dos próprios skatistas, a partir dessas atividades vamos procurar firmar parcerias e

angariar recursos para ampliar as atividades. A própria equipe de trabalho desenvolverá

critérios para que os atletas possam participar dos eventos e atividades a serem desenvolvidos

pela associação, os atletas terão que se cadastrar através do preenchimento de formulários

cedido pela AJUSK onde colheremos dados estatísticos sócio-cultural-econômico para

análise, quantitativo e qualitativo, para se ter um diagnóstico concreto da situação dos

praticantes deste esporte.

A AJUSK possui alguns projetos

Projeto skate no park – escolinha de skate todo dia através do programa segundo tempo, as crianças e jovens que estiverem estudando pela manhã praticam o skate pela tarde, os que estudarem a tarde ficam na escolinha de skate na parte da manhã. Equipe radical – criar uma equipe com os melhores skatistas de juazeiro nas diversas categorias (mirim, iniciante, feminino e amador) para participarem de campeonatos, Campeonatos de skate – organizar o campeonato Juazeirense todo ano, e trazer pelo menos uma etapa do campeonato cearense de skate para juazeiro todo ano. Skate itinerante – fazer apresentações de skate nas praças com obstáculos itinerantes (corrimão, rampas, miniramp)

Os recursos da Associação são através de patrocínios e parcerias, adquiridos através de

ofícios e solicitações com empresários, lojas especializadas e prefeitura.

O criador do Portfólio da AJUSK concluiu no seu esboço que se os jovens tiverem

uma atividade saudável com a qual ocupe seu tempo, dificilmente eles se envolverão com

drogas ou outros meios maléficos e dentro de pouco tempo teremos atletas competindo em

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grandes campeonatos do país. Hoje em Juazeiro do Norte temos muitos atletas com grau de

capacidade de competir com grandes skatistas, mas a falta de incentivo leva-os a

desmotivação, alguns até desistem de andar de skate.

A constante evolução do skate faz deste esporte, que é um dos mais radicais, um dos

mais expressivos do mundo, sua popularidade vem crescendo a cada dia, o skate tem a cara da

garotada, a maioria dos seus praticantes são jovens que associam as atividades esportivas com

a convivência da juventude e seu espírito renovador e dinâmico, o skate não se resume a

manobras na pista e a um “bando de malucos” que lançam moda, ouvem músicas esquisitas e

seguem a risca um estilo de vida, mas também vem construindo socialmente o seu conteúdo e

o seu conceito estratégico de sociedade. Entendendo que diversos fatores que constituem a

identidade juvenil dessa tribo é parte integrante da construção de sua personalidade. São

diversas tribos urbanas com identidades próprias, os skatistas são só mais uma tribo, entre

tantas outras, com atitude de vencer obstáculos na vida ou na pista de skate. Juazeiro como

grande centro urbano é testemunha dessa evolução. Pois suas principais ruas sentiram a

presença dessa tribo “mandando” várias manobras em suas calçadas.

3.2 Bandeira de Luta e atividades desenvolvidas pelo movimento do Skate

Na luta do movimento incluem bandeiras como a transformação do esporte em

instrumento de inclusão social, divulgação do esporte, o respeito ao cidadão praticante e a

diminuição do preconceito gerado a partir dos estereótipos que vinculam o skatista a um fora

da lei.

O movimento inclui nas suas atividades e atos

Escolinha de skate para crianças e jovens – sábados e domingos das 8:00 as 10:00 na pista pública de skate do parque ecológico das Timbaúbas. Atende a 25 alunos, Realização de palestras sobre skate, historia do skate, como surgiu, primeiros campeonatos, historia do skate em escolas do município; Propõe rodas de conversa sobre diversos assuntos da atualidade como política, inclusão social, entre outros, em parceria com estudantes e professores do Curso de Filosofia da Universidade Federal do Cariri – UFCA Apresentações de skate nas escolas e em eventos, com manobras radicais dos skatistas de Juazeiro; Incentivo à participação dos jovens em campeonatos.

(V SE COLOCA DESSA FORMA)

Suas bandeiras de luta expressam suas propostas de intervenção na realidade social onde seus objetivos dão forma às suas ideias e projetos. Com isto estabelece um novo paradigma diante da sociedade, coloca o Skate como instrumento de lazer, de saúde, de educação,

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além de seu continuo esforço de solidificá-lo como um esporte representativo da cidade de Juazeiro do Norte. Enfatiza-se também neste âmbito a desconstrução do estereótipo da vadiagem e a propensão de seus praticantes ao uso de drogas e ao cometimento de crimes, enquanto se enaltece o Skate como um estilo de vida libertário com seu espírito jovem e aventureiro.

3.3 A sociedade e o Movimento do Skate

A identificação do skate como um esporte de rua, no geral praticado por jovens de

baixo nível social e econômico, contribui para a marginalização dos praticantes e o seu

enquadramento como pessoas desajustadas que precisam ser retiradas de circulação por

incomodarem e oferecerem riscos sociais aos demais, afinal são vistos como mais suscetíveis

às drogas e aos atos ilícitos.

Atualmente com o destaque que o skate ganhou na mídia, sendo inclusive cogitado

para se tornar uma modalidade olímpica e sua crescente popularização entre jovens de todos

os níveis sociais têm favorecido para o desvelamento do skate como um esporte radical, que

como qualquer outro esporte pode trazer benefícios para o corpo e favorecer no

desenvolvimento psicossocial dos jovens. Percebe-se que ocorreu uma maior aceitação por

parte da sociedade diante dos skatistas, já são encarados como praticantes de um esporte e não

apenas como marginais, além de um espaço que se abre também para as mulheres numa

categoria de esporte onde predomina o universo masculino.

De fato, o preconceito ainda sobrevive e se faz sentir nas ações do cotidiano. O skate

como atividade de lazer é identificado por muitos como um ato de vagabundagem e

ociosidade, excluindo os jovens das relações sociais quando na verdade deveria estar

agregando todos os indivíduos. A sua total aceitação é um caminho que permanece em

construção e exige esforços contínuos da sociedade aliada ao poder público.

3.4 Contribuições do Assistente Social junto ao Movimento do Skate

O Assistente Social no efetivo exercício profissional pode contribuir de forma incisiva

e decisória para os movimentos sociais que se articulam diante da ineficiência ou da ausência

do poder público. Ele identifica nos movimentos sociais um espaço de intervenção, podendo

influenciar na sua auto-organização a partir da visibilidade que pode trazer às reivindicações

através da divulgação das propostas do movimento.

Em sua dimensão interventiva o Assistente Social poderá, fazendo uso de sua função

educativa, promover a socialização de informações para fortalecer e qualificar a participação

política, além de construir uma relação de troca de experiências práticas (do movimento) com

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experiências teóricas (do Assistente Social). Tomando por base seu projeto ético-politico,

pode ainda elaborar um projeto de atuação que venha a materializar as/ uma das propostas do

movimento.

O Assistente Social precisa atuar sempre no sentido de fortalecer os movimentos

sociais, reconhecendo-os como instrumentos de participação e mudanças sociais e creditar a

sua importância na conquista do espaço da sociedade civil frente ao Estado. O

empoderamento desses grupos organizados a partir da conscientização dos seus direitos, da

instrumentalização e da capacitação para deliberar juntos ações que venham a causar impactos

sociais na intenção de conclamar o poder público para atender suas reivindicações.