Resumo Direito Administrativo - Aula 12 (10.02.2012) - Leitura.pdf
consciencia linguistica e leitura.pdf
Transcript of consciencia linguistica e leitura.pdf
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
1/179
RAQUEL LAZZARI PACHECO
A COMPETNCIA EM LEITURA EM L1 E A CONSCINCIA LINGSTICA EM L2
COMO FACILITADORAS DA COMPREENSO LEITORA EM L2
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Letras Mestrado, rea deConcentrao em Leitura e Cognio, Universidadede Santa Cruz do Sul UNISC, como requisitoparcial para obteno do ttulo de Mestre em Letras.
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
2/179
2
Raquel Lazzari Pacheco
"A competncia em leitura em L1 e a conscincia lingstica em L2
como facilitadoras da compreenso leitora emL2"
Esta Dissertao foi submetida ao Programa de Ps-Graduao em Letras Mestrado, rea de Concentraoem Leitura e Cognio. Universidade de Santa Cruz do Sul
- UNISC, como requisito parcial para obteno do ttulode Mestre em Letras.
Professora Orientadora
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
3/179
3
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
4/179
4
RESUMO
Este estudo tem como objetivo averiguar em que medida a competncia
leitora em L1 e a conscincia lingstica em L2 contribuem para a compreenso
leitora em L2. A pesquisa investigou se leitores proficientes em L2 refletem
conscientemente sobre a estrutura lingstica durante a leitura em L2; se o nvel de
conscincia lingstica em L2 e o uso de estratgias de leitura beneficia a
compreenso leitora em L2; e se a competncia leitora em L1 elemento facilitador
da leitura em L2. So apresentados os resultados de uma pesquisa emprica
realizada com vinte sujeitos, brasileiros, adultos, estudantes de ingls (L2), com um
nvel de conhecimento lingstico em L2 no inferior ao intermedirio. Os dados
foram analisados pela combinao das metodologias quantitativa e qualitativa. A
quantitativa foi aplicada a trs subsdios da pesquisa: o Reward Placement Test,
para estabelecer o nvel de conhecimento lingstico em ingls; um texto configurado
no procedimento Cloze, para a avaliao da competncia leitora em L1; e o teste de
conscincia lingstica em L2 (RAYMUNDO, 2005). A metodologia qualitativa
desenvolveu-se a partir da leitura de um texto em ingls, em que os sujeitos
verbalizaram sua compreenso, atravs da tcnica dos protocolos verbais. A anlise
da compreenso leitora em L2, pelos protocolos verbais, mostrou-se adequada para
investigar se houve reflexo consciente sobre a estrutura lingstica da L2, bem
como as estratgias de leitura que os sujeitos utilizaram. A anlise qualitativa sugere
que tanto a competncia leitora em L1 quanto a conscincia lingstica em L2
facilitam a compreenso leitora em L2.
Palavras-chaves: compreenso leitora, cognio, conscincia lingstica em L2,
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
5/179
5
This study aims to investigate to what extend reading competence in L1 and
linguistic consciousness in L2 contribute to reading comprehension in L2. The
research investigated if proficient readers in L2 reflect consciously on the linguistic
structure of the language whilst reading in L2; if the level of language consciousness
in L2 and the use of reading strategies assist reading comprehension in L2, and if the
reading proficiency in L1 is a facilitating element for reading comprehension in L2.
This work presents the results of an empirical research carried out with twenty
Brazilian adult students of English (as L2) with a level of linguistic knowledge of
intermediate and above. The data was analyzed by means of both quantitative and
qualitative methodologies. The quantitative methodology was applied to three
elements of the research: Firstly, the Reward Placement Testto establish the level of
the subjects with regards their linguistic knowledge in L2. Secondly, a text, formated
in the Clozeprocedure, which was used to assess their reading proficiency in L1 and
finally, the linguistic consciousness in L2 test created by Raymundo (2005). The
qualitative methodology involved the subjects reading a text in English, and
verbalizing their comprehension using verbal protocols whose analysis was helpful in
investigating if there was a conscious reflection on the language structure of L2, and
also in determining which reading strategies the subjects used. The qualitative
analysis suggests that both reading competence in L1 and linguistic consciousness
in L2 facilitate reading comprehension in L2.
Key Words: reading comprehension, cognition, linguistic consciousness in L2,
reading strategies, verbal protocols.
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
6/179
6
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1.......................................................................................................... 59
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
7/179
7
LISTA DE TABELAS
1. Equivalncia entre os percentuais dos escores no teste Cloze e no teste de
mltipla escolha.........................................................................................................
44
2. Perfil dos sujeitos ..................................................................................................... 61
3. Freqncia de leitura em L1...................................................................................... 62
4. Nvel de conhecimento lingstico em L1.................................................................. 63
5. Resultados do teste de conhecimento lingstico em L2.......................................... 65
6. Equivalncia entre os percentuais dos escores obtidos no teste Cloze e num teste
de mltipla escolha................................................................................................... 66
7. Nveis de conscincia lingstica dos participantes por item..................................... 67
8. Escores de acertos por itens corretos....................................................................... 69
9. Escores por nveis nos erros interlinguais e erros intralinguais ............................... 70
10. Correlaes entre soma dos escores interlinguais e intralinguais............................ 71
11. Soma dos escores dos erros interlinguais e intralinguais por participante............... 71
12. Estatsticas da soma total dos escores do teste de conscincia lingustica em L2.. 72
13. Escores dos erros interlinguais e intralinguais dos itens do teste de conscincia
lingustica por participante.........................................................................................
73
14. Escores percentuais para a compreenso leitora medida pelos protocolos verbais 74
15. Resumo dos resultados dos instrumentos utilizados................................................ 75
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
8/179
8
SUMRIO
INTRODUO........................................................................................................ 10
1 REFERENCIAL TERICO............................................................................... 14
1.1 Aquisio de segunda lngua ASL........................................................... 15
1.1.1 O papel da primeira lngua e a transferncia lingstica ............................... 18
1.1.2 O conhecimento lingstico........................................................................... 21
1.2 Conscincia lingstica e metalingstica ................................................... 23
1.3 Leitura.............................................................................................................. 28
1.3.1 Leitura e compreenso leitora em L1............................................................ 33
1.3.2 Leitura e compreenso leitora em L2............................................................ 34
1.3.3 Leitor e competncia leitora.......................................................................... 36
1.3.4 Estratgias de leitura.................................................................................... 38
1.4 Instrumentos de pesquisa............................................................................. 42
1.4.1 Teste de conhecimento e nvel lingstico em ingls................................. 42
1.4.2 Procedimento cloze.................................................................................... 43
1.4.3 Teste de conscincia lingstica................................................................ 45
1.4.4 Protocolos verbais...................................................................................... 47
1.5 Sntese ........................................................................................................... 50
2 PESQUISA EMPRICA........................................................................................ 51
2.1 Objetivos.......................................................................................................... 512.2 Questes norteadoras.................................................................................... 52
2.3 Metodologia de produo e de anlise dos dados...................................... 52
2.3.1 Sujeitos.......................................................................................................... 52
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
9/179
9
2.4.2 Nvel de conhecimento lingstico em ingls................................................. 64
2.4.3Procedimento Cloze......................................................... ............................. 65
2.4.4 Conscincia lingstica em L2....................................................................... 67
2.4.5 Protocolos verbais......................................................................................... 73
2.5 Revisitando as questes norteadoras......................................................... 99
CONCLUSO......................................................................................................... 103
REFERNCIAS...................................................................................................... 106
ANEXOS................................................................................................................ 112
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
10/179
10
INTRODUO
O processo de leitura pode ser definido sob o escopo de diversos aportes
tericos, mas o que no pode ser negligenciado que, quaisquer que sejam as
reas de conhecimento ou teorias a estudar a leitura, um aspecto constante permeiaesse estudo: o aspecto cognitivo, ou seja, como o leitor compreende, como a
construo de sentido se d no contato leitor/texto. Kintsch (1998) v a
compreenso como um paradigma para a cognio e acrescenta que, por um
sculo, os cientistas deixaram a teorizao sobre a cognio humana para os
filsofos. Talvez isso tenha ocorrido pela falta de exatido nas informaes colhidas,uma vez que os processos cognitivos so complexos e do vazo a vrios graus de
interpretaes, isto , h vrias formas para elucidar um fenmeno local e isso
impossibilita estabelecer qual interpretao a correta ou a mais apropriada.
Samuels e Kamil (1988) afirmam que alguns modelos tericos que descrevemo processo da leitura como um todo, do momento em que o olho se depara com a
pgina at o leitor vivenciar o clique da compreenso, no tm mais de 30 anos de
histria. Portanto, o estudo cientfico da leitura e de seus processos cognitivos pode
ser considerado recente e toda a contribuio sistematizada envolvendo uma
experincia investigatria in loco, em um determinado grupo social, regido por umsistema lingstico institudo, relevante para a pesquisa nessa rea.
Sabendo-se que a lngua materna opera primeiro no desenvolvimento das
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
11/179
11
da lngua como um elemento facilitador que o levem autonomia para ler e
compreender.
Portanto, a partir da experincia profissional, aliada vontade de investigar se
o conhecimento consciente dos aspectos lingsticos em L21, bem como o quanto a
L12 contribui para compreenso em leitura em L2, esta pesquisa tem o intuito de
verificar se competncia leitora em L1, tanto de leitores assduos como ocasionais,
facilita a compreenso leitora em L2 e, em que medida, a conscincia lingstica3em
L2 e a utilizao de estratgias de leitura tambm contribuem para a compreenso
leitora em L2.
A fim de alcanar o objetivo proposto, o presente trabalho foi organizado em
dois grandes captulos: o primeiro, denominado referencial terico, subdivide-se em
quatro sees, a saber: 1) aquisio de segunda lngua; 2) conscincia lingstica e
metalingstica; 3) leitura; 4) instrumentos de pesquisa; e 5) sntese. O segundo,
pesquisa emprica, apresenta: 1) objetivo geral; 2) questes norteadoras; 3)
metodologia de produo e anlise de dados; 4) apresentao e discusso dos
resultados; e 5) avaliao das questes norteadoras.
A seo inicial do primeiro captulo parte de uma breve contextualizao
sobre a aquisio de segunda lngua, enfatizando o papel da primeira lngua e a
contribuio da transferncia lingstica sob diferentes perspectivas. Oconhecimento lingstico foi tratado como precursor da construo de significado,
ponderando que esse pode ocorrer com base na conscincia lingstica e
metalingstica.
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
12/179
12
Na terceira seo deste primeiro captulo, a leitura foi enfocada a partir de sua
importncia lingstica (em especial, psico e sociolingstica), partindo de alguns
conceitos e especificao de alguns modelos sobre a mesma. Foram priorizados os
modelos cognitivos de processamento automtico de LaBerge e Samuels (1994), o
modelo interativo de Rumelhart (1994) e o modelo de construo e integrao de
Kintsch (1994). Alm disso, o modelo transacional scio-psicolingstico de
Goodman (1994) recebe destaque por abordar o carter ativo do leitor e o aspecto
sinttico no processamento da leitura. Essa seo traz, tambm, um detalhamento
no que diz respeito compreenso leitora tanto no contexto da L1 quanto no da L2,
os aspectos que tornam um leitor mais ou menos competente, na viso de Kintsch
(1998), bem como as estratgias de leitura.
Na quarta seo, so apresentados alguns instrumentos de coleta de dados
presentes na literatura especializada, utilizados na pesquisa.
A ltima seo oferece uma sntese dos principais assuntos delineados nas
sees anteriores, propiciando uma retomada de todo o captulo.
A primeira seo do captulo 2 apresenta o objetivo geral e os objetivos
especficos que delinearam o trabalho. As questes que conduziram o processo de
investigao encontram-se na segunda seo, seguidas da metodologia de
produo e anlise dos dados, que serviram para a apresentao e discusso dosresultados.
Para a pesquisa emprica houve a combinao das metodologias quantitativa
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
13/179
13
A concluso, que compe a parte final deste estudo, responde aos objetivos,
apresenta as limitaes encontradas durante a realizao da investigao emprica,
bem como sugestes para estudos adicionais. Aps a concluso seguem as
referncias e anexos.
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
14/179
14
1 REFERENCIAL TERICO
Este captulo agrega aspectos tericos de relevncia para o entendimento
desta pesquisa.
Ao iniciar esta reviso da literatura pertinente deixar clara uma questo
terminolgica em que aquisio e aprendizagem so diferenciadas por alguns
autores, a partir da teoria de Krashen (1982). Partindo desse refinamento,
aquisio responde pela linguagem adquirida atravs do desenvolvimento informal
e espontneo da segunda lngua com o uso inconsciente das regras gramaticais. A
aquisio est vinculada hiptese do input4, em que a nfase dada mensagem,
comunicao que se quer obter. No h preocupao com a forma ou estrutura da
lngua. J a aprendizagem o processo pelo qual a linguagem aprendida de
forma consciente, o saber sobre a lngua. Essa est vinculada hiptese do
monitor5que implica o uso da linguagem policiado pela conscincia lingstica sobre
a mesma (KRASHEN, 1982).
Posio distinta assumida por Ellis (1985, p.6), quando diz que a aquisio
de segunda lngua se refere aos processos subconscientes e conscientes pelos
quais qualquer outra lngua, que no seja a lngua materna, aprendida num
ambiente natural ou orientado6. No desenvolvimento deste texto, os termosaquisio e aprendizagem sero usados indistintamente, seguindo a abordagem
de Ellis (1985).
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
15/179
15
1.1 Aquisio de segunda lngua ASL
Dentre as vrias reas que compem os estudos psicolingsticos, pode-se
considerar a de aquisio da linguagem uma das mais produtivas. Nos ltimos 50
anos, inmeros estudos foram realizados, enfocando sub-reas como as de
aquisio de lngua materna - AL1 (com e sem desvios), aquisio de segunda
lngua - AL2, alfabetizao e letramento. Nesta seo, sero resgatados alguns
pressupostos tericos da aquisio de segunda lngua ou AL2.
Em se tratando dos estudos em segunda lngua, possvel identificar pelo
menos trs situaes distintas. A primeira refere-se aquisio simultnea da
primeira e segunda lngua, tambm conhecida por bilingismo infantil; a segunda diz
respeito aquisio da segunda lngua, e quaisquer outras lnguas,
espontaneamente, em situaes de imerso como a migrao para um pas de
lngua estrangeira em perodo posterior infncia; e a terceira enfoca a
aprendizagem da segunda lngua e quaisquer outras lnguas de forma sistemtica,
em geral em um ambiente de sala de aula (SCLIAR-CABRAL, 1988).
Para a finalidade deste estudo, ser dada nfase terceira situao, ou seja,
a aprendizagem da segunda lngua de forma sistemtica, isto , quando o aprendiz
j passou pelo processo de aquisio da primeira lngua de forma espontnea e j
incorporou a L1.
Por algum tempo, estudiosos consideraram que a aquisio de uma segunda
lngua assemelhava-se aos processos de aquisio da primeira lngua. O primeiro
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
16/179
16
Outro aspecto errneo dessa comparao seria no levar em considerao as
diferenas individuais e sociais que podem estender-se desde a motivao para o
aprendizado at o contexto no qual o sujeito est inserido durante o aprendizado da
primeira em relao ao da segunda lngua. Alm disso, a segunda lngua ensinada
fora de seu ambiente de uso autntico, uma vez que, em geral, professor e aluno
compartilham de uma L1 comum, no necessitando da L2 para se comunicar.
Ao considerar as situaes contrastivas, que sero explicadas na seo
seguinte, deve-se contemplar o fato de que a primeira lngua utilizada como fator
de sobrevivncia e contribui para que o indivduo, ao utilizar-se da linguagem verbal,
altere a forma de avaliar suas experincias externas e internas. Essas alteraes
decorrentes da aquisio da primeira lngua podero fomentar a aprendizagem deoutra lngua.
Ao comparar uma criana adquirindo a lngua materna e um adulto adquirindo
uma segunda lngua tem que se levar em considerao que o desenvolvimento
cognitivo do adulto lhe permite apoiar-se em seu conhecimento metalingstico,incorporando os lxicos mais complexos ligados a experincias distantes no tempo
e espao, bem como ser capaz de valer-se de estratgias de aprendizagem, que
diferem das utilizadas pela criana quando est aprendendo sua primeira lngua
numa atmosfera fluente e propcia. O aprendiz adulto poder apresentar dificuldades
em adquirir alguns automatismos da segunda lngua, no que diz respeito articulao de fonemas, entonao ou outros aspectos distintos de sua lngua
materna, mas sem prejuzo ao processo de aquisio como um todo (SCLIAR-
CABRAL, 1988, p.45).
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
17/179
17
Bialystok e Hakuta (1994) ponderam tambm que os tipos de linguagem
variam dependendo a quem essa endereada, se a uma criana ou a um adulto.
Uma vantagem possvel da criana a suscetibilidade ao aprendizado pela
simplificao da linguagem. Em contrapartida, o discurso voltado ao adulto mais
complexo, melhor elaborado e diverso, fazendo com que essa riqueza de input
(informao)proporcione equilbrio e vantagem ao adulto quanto aprendizagem.
Quanto informao para a aquisio de uma lngua, Anderson, citado por
Scliar-Cabral (1988) a distingue em declarativa e de procedimento. declarativa
a informao concernente aos dados, ou seja, aquilo que sabemos de uma lngua e
a informao de procedimento diz respeito ao modo de operacionalizar esses dados.De acordo com Scliar-Cabral (1988, p.45-46) na aquisio da primeira lngua, a
criana possui a informao declarativa e o conhecimento metalingstico est
implcito. Ao iniciar um aprendizado sistmico, gradativamente passa a incorporar
informao declarativa a de procedimento. A criana, na medida em que estiver
regularmente exposta a esse processo gradual de aprendizagem da primeira lngua,estende sua construo cognitiva da simples inferncia utilizao dos significados.
Dessa forma, ao aprender uma segunda lngua, ser capaz de aplicar esse
conhecimento.
Esse processo gradual de aprendizagem tem como base os momentos deconstruo da memria, em que a apropriao da informao ocorre seguida de sua
estocagem e posterior resgate. A apropriao da informao o processo de
percepo ou reconhecimento do evento fsico que se transforma em uma
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
18/179
18
modificao da informao. Ainda, segundo esse autor (2005, p.4), a memria o
registro da experincia que subjacente aprendizagem. difcil desassociar os
termos memria e aprendizagem em virtude de sua estreita interdependncia, uma
vez que a aprendizagem s pode ser mensurada pela capacidade que o indivduo
tem de lembrar ou evocaros fatos vivenciados.
Enquanto Anderson (2005) v a aprendizagem como o processo e a memria
como o resultado da modificao da informao, Izquierdo (2004, p.15) acredita que
a memria aquisio, conservao e evocao de informao. A aquisio o
aprendizado. A evocao a recordao ou lembrana, que o mecanismo pelo
qual se mede ou avalia a memria. Assim, nossa memria aquilo que evocamos.
Dessa maneira, a memria nos permite o que fundamental para a aquisio deuma segunda lngua, a capacidade de lembrar as palavras, agreg-las e como
aplic-las de forma inteligvel dentro do sistema lingstico em estudo.
Fica evidente que a aquisio de segunda lngua est correlacionada a
aspectos da aquisio de L1 e que esta detm um papel significativo para aaquisio de uma segunda lngua. Entender o papel da L1 um dos objetivos desta
pesquisa. Para tanto, um dos aspectos a serem contemplados o da transferncia
lingstica, que ser o tema da prxima seo.
1.1.1 O papel da primeira lngua e a transferncia lingstica
Ellis (1985, p. 6 -7) explica que, por duas dcadas, at os anos 60, houve um
entendimento de que as dificuldades que o aprendiz tivesse ao aprender uma
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
19/179
19
duas ou mais lnguas. Um dos aspectos que gerou crticas ao trabalho desses
tericos foi o fato de que essas observaes contrastivas enfocavam basicamente
as diferenas entre L1 e L2, ignorando o processo, ou seja, como a transferncia era
operacionalizada.
Para Ellis (1985), essa transferncia ou interferncia levava em considerao
apenas a possibilidade da L1 operar vinculada viso especfica de que a
aprendizagem da linguagem era desenvolvida atravs de prtica e reforo somente
das reas de dificuldade atreladas L2. Houve a necessidade de demonstrar que os
velhos hbitos da L1 no impediam o aprendizado de novos hbitos da L2 e que os
erros na L2 no eram predominantemente o resultado da interferncia da L1.
Ainda, de acordo com esse autor, a L1 pode contribuir para o aprendizado da
L2 de outras formas: o aprendiz pode no transferir regras da L1 para a L2, mas
pode evitar usar regras que esto ausentes no seu sistema de L1. Pode ainda usar a
L1 como um recurso consciente para melhorar seu desempenho.
Partindo da assero de que o aprendiz adota parmetros lingsticos da L1
e esses produzem efeito na aquisio da L2, White (1989) diz que a L1 representa o
papel de organizadora dos dados da L2, resultando em efeitos de transferncia na
interlinguagem.
Segundo Scliar-Cabral (1988, p. 47), a aquisio do lxico e a capacidade de
planejar o discurso numa segunda lngua podem ser facilitadas com a maturidade,
atravs de estratgias metalingsticas conscientes que concentrem nos
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
20/179
20
personalidade, habilidades individuais e ao conhecimento prvio do indivduo. Deve-
se levar em considerao, portanto, a influncia mtua entre o aprendiz e o
contexto, determinando resultados lingsticos e no lingsticos. Para esse autor,
o conhecimento de uma nova lngua se realiza em diferentes patamares, que nem
sempre ocorrem simultaneamente.
Seguindo a teorizao de Odlin (1989), a palavra interferncia utilizadapara transferncia, porm, com o cuidado de no ser descrita como transferncia
negativa o que geraria a idia de que hbitos velhos interferem em hbitos novos,
ou seja, quando a primeira lngua torna-se uma das fontes de erro em segunda
lngua. O autor ressalta que a transferncia pode no ser s originada da influncia
da lngua materna, a menos que a primeira lngua seja a nica geradora deinformao na aquisio de uma segunda lngua. Deve-se levar em conta que o
aprendiz possa estar no processo de aquisio de uma terceira lngua. Para esse
terico, a transferncia a influncia de uma lngua fonte, ou seja, a influncia de
uma lngua plenamente adquirida sobre uma em processo de aquisio.
A coerncia discursiva tambm um fator relevante na transferncia. As
distines que envolvem a coerncia entre a primeira lngua e a segunda podem
gerar dificuldades para o aprendiz ao buscar compreender uma leitura ou uma fala.
Mesmo que a coerncia seja senso-comum e utilizada nas diferentes formas
comunicativas de cada sociedade, as relaes no que diz respeito organizao
estrutural podem se modificar significativamente, em diferentes culturas, acarretando
uma formulao conceitual inadequada.
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
21/179
21
De acordo com Silva (2002), o significado das palavras semelhantes
(cognatas) pode representar um aspecto positivo na compreenso leitora,
especialmente entre lnguas que tenham uma origem comum como as lnguas
latinas, germnicas, eslavas, asiticas, entre outras. No entanto, ao mesmo tempo
em que essa aproximao lexical pode servir de elemento facilitador, pode tambm
ocasionar uma falsidade semntica, atrapalhando a compreenso e comprometendo
o processo de transferncia.
A transferncia lingstica uma condio fundamental para a aquisio de
outra lngua, pois vrios processos, que ocorrem quando se est adquirindo a
prpria lngua, sustentam o aprendizado da L2. Mesmo os aspectos de transferncia
negativa, ou seja, transferir um trao da lngua materna e aplic-lo equivocadamenteem outra lngua, podem tambm auxiliar no entendimento das diferenas e ser
corrigido na medida em que se tenha um conhecimento lingstico aumentado em
L1, pois no momento da aquisio de uma segunda lngua o aprendiz utiliza esse
conhecimento. Dessa forma, outro aspecto relevante nos estudos de aquisio de
linguagem o conhecimento lingstico, que ser abordado a seguir.
1.1.2 O conhecimento lingstico
O conhecimento lingstico o conhecimento sobre uma lngua. Pode ser
fontico, ou seja, relacionar-se s caractersticas fonticas da lngua; fonolgico:vinculado aos fonemas, sons silbicos e frasais; morfolgico, por se referir ordem,
combinao e produo dos morfemas; pragmtico, atravs do uso intencional das
palavras, articulao das expresses e o momento adequado para alternncia de
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
22/179
22
internalizada no igual para a L2. Mesmo que existam propriedades comuns em
ambas as lnguas, o desenvolvimento da competncia para organizar os dados de
entrada (input data) no ocorre imediatamente, uma vez que a construo de um
sistema de regras no processo de aquisio da L2 requer tempo para que as
transformaes ocorram.
Adams (1994) tambm enfatiza a importncia do conhecimento sinttico, umavez que o significado isolado das palavras pode levar desordem e ambigidade e
o conhecimento sinttico que define a inter-relao das palavras de forma
compreensvel. Para essa autora, a competncia sinttica crucial para a
competncia lingstica. Chegar compreenso leitora requer, tambm, o domnio
de conhecimento sinttico.
Koda (2005, p.69-70) refere-se interdependncia entre leitura e
conhecimento vocabular. De acordo com a autora, na fase inicial de aprendizagem
da leitura, o conhecimento do vocabulrio facilita a compreenso. J nos estgios
mais avanados, a expanso vocabular uma conseqncia da leitura, uma vez quepalavras e expresses mais comuns em textos escritos sero aprendidas atravs da
leitura, sem que o leitor, muitas vezes, se d conta dessa aprendizagem. A autora
acredita que o aprendiz de segunda lngua ter sucesso na leitura se houver uma
abordagem especial do vocabulrio e que o fato de a maioria das palavras em L1
serem aprendidas atravs da leitura, h uma certeza de que as crianasdesenvolvem sua capacidade heurstica de auto-ensino. Dessa forma o aprendiz
ter competncia para descobrir a resposta para uma situao problemtica
utilizando-se de sua prpria capacidade criativa na viabilizao dos resultados em
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
23/179
23
ciente de) chamamos conscincia lingstica e metalingstica cujo papel na AL2
abordaremos na prxima seo.
1.2 Conscincia lingstica e metalingstica
Do ponto de vista conceitual, a conscincia lingstica assume uma vasta
abrangncia de definies nos contextos acadmicos e pedaggicos. James eGarret (1992, p.4) discorrem a respeito dessa questo e enfocam a nova postura
dentro da educao britnica em conscincia lingstica a partir dos anos 80.
Ancorados em relatrios de estudiosos da rea e no relatrio do NCLE (National
Council for Language Education), os autores mencionam o trabalho pioneiro de
Hawkins (1981,1984) na busca de respostas para o significado da conscincialingstica. Esse entende que a conscincia lingstica deva: (1) ser uma ponte de
transio no trabalho de lnguas entre a educao primria e secundria; (2)
fornecer um ponto de encontro e um vocabulrio comum para as diferentes reas do
ensino de lnguas, prepararando o caminho para cursos da educao secundria; (3)
facilitar a discusso da diversidade lingstica, desenvolvendo habilidades auditivas(como pr-requisitos para um estudo eficiente de segunda lngua) e a autonomia na
leitura e motivao para a escrita.
Segundo a analogia de James e Garret (1992), a conscincia lingstica est
para a lingstica assim como o estudo da natureza est para a biologia. Ou seja, elatem carter decisivo dentro de sua cincia e deve ser vista no como um modismo,
mas como uma necessidade crucial para o avano dos estudos lingsticos.
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
24/179
24
influenciar outras reas da linguagem, pois uma pessoa que tem percepo da
forma como a lngua funciona ter uma base valiosa para o aprendizado de lnguas.
Para James e Garret (1992), h cinco grandes domnios (campos) acerca da
conscincia lingstica: o afetivo, o social, o de poder, o cognitivo e o de
desempenho.
O domnio afetivo relaciona-se com a abordagem humanstica de Stevick
(1976), em que a conscincia lingstica visa a uma atividade lingstica individual. O
encorajamento do aprendiz a interiorizar a gramtica de uma lngua estrangeira no
somente uma ao de inteligncia e cognio. Essa incorporao de informaes
lingsticas deve passar pelo afetivo para alcanar o sucesso de aprendizagem dalngua. A conscincia lingstica, sob o domnio afetivo, contribui para a formao de
um aprendiz sensvel, atento e interessado na busca de respostas.
O domnio social enfoca a multiplicidade de lnguas interligadas em virtude
das migraes, especialmente, em pases de primeiro mundo. A diversidade tnica eas relaes intergrupais ocasionaram divergncias quanto manuteno da unidade
de linguagem e a conscincia lingstica serviu como suporte para o entendimento
das diferenas de origens e caractersticas de cada lngua ou dialeto (JAMES e
GARRET, 1992, p.13).
O domnio do poder aponta para a questo do uso da lngua como
instrumento de manipulao. Aqui relevante citar Freire (2003) quando fala da
conscientizao como uma forma de alertar as pessoas dos significados implcitos,
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
25/179
25
deve partir do modelo da lngua em uso e as implicaes cognitivas devem permitir
que a linguagem seja a traduo do intelecto.
O domnio do desempenho volta-se questo de o conhecimento sobre a
lngua influenciar ou no o desempenho ou controle sobre a mesma. Os aprendizes
de lnguas fazem progresso em suas habilidades na medida em que percebem ou
tornam-se conscientes do fato de que seu discurso falado ou escrito no se encaixano discurso modelo. Outro aspecto desse campo diz respeito motivao do
aprendiz, pois essa se constitui numa condio para a aprendizagem. O aprendiz
tende a um desempenho mais eficaz se aliada ao aprendizado da lngua houver uma
necessidade ou algo motivador. O campo do desempenho lingstico qualifica a
proficincia lingstica (JAMES e GARRET, 1992).
Nicholas (1992, p.78), ao considerar a conscincia lingstica como uma
questo macro-educacional, descreve-a como um meio de aumentar a conscincia
reflexiva dos alunos sobre as lnguas que usam, aperfeioando seu potencial,
tornando-os mais cientes da influncia que a lngua exerce sobre eles. A conscincialingstica aqui vista como fator para o desenvolvimento da habilidade de
articulao da lngua.
Esse mesmo autor (1992, p.18) examina aspectos do desenvolvimento
macro-humano que exercem influncia na conscincia que os aprendizes tm,independentemente da reflexo consciente sobre a lngua. Postula que o
desenvolvimento de uma segunda lngua pode ser distinto do desenvolvimento da
primeira lngua pela conscincia do nvel lxico-gramatical. A conscincia do nvel
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
26/179
26
conscincia pragma-lingstica emerge nos adultos. Essa leva manipulao do
discurso como um meio de transmitir a informao antes codificada atravs damorfossintaxe. A emergncia da conscincia pragma-lingstica permite a instruo
sobre a morfossintaxe para complementar a instruo de comunicao de maneira
vantajosa (NICHOLAS, 1992 p.79-80).
Schmidt (1990) salienta a necessidade de padronizar os conceitossubjacentes ao uso da palavra conscincia, dualizando seu sentido em
intencionalidade e ateno, sendo que intencionalidade uma tomada de
deciso consciente e deliberada de apreender conhecimento em L2. Ele afirma
que no importa se o aprendizado de L2 intencional ou incidental
(KRASHEN,1982), pois esse envolve ateno consciente s proeminncias dainformao (input). Ellis (1997) entende que essa distino relevante, pois nos
permite ver que, quando Krashen fala de aquisio como sendo incidental e
subconsciente, no prev que essa possa envolver certo grau de ateno
consciente ao input, ao que Schmidt (1990) chama de noticing. Noticing o
processo de atender conscientemente s proeminncias da informao ( input). Onoticing um processo interno e requer alto grau de inferncia a partir da
observao de um comportamento. A hiptese do noticingpressupe que o que o
aprendiz percebe (notice) no input o que se torna internalizado ( intake) para o
aprendizado. Intake, ento, a parte da informao (input) que o aprendiz
percebe e leva para a memria de curto prazo. Na memria de curto prazo oinput comparado ao conhecimento j existente e, em seguida, integrado
memria de longo prazo, levando ao conhecimento gerado (output) no
desenvolvimento da interlinguagem.
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
27/179
27
hierrquico ascendente (bottom-up)8como descendente (top-down)9se no tiver a
conscincia dessa diferena em relao a sua primeira lngua, no caso, oportugus. Se o aprendiz no tiver desenvolvido sua conscincia metalingstica
para a L1, isso pode tambm ser fator de dificuldade e lentido na aquisio de L2
(CLARK e IVANI, 1992).
Clark e Ivani (1992) abordam a questo da conscincia metalingsticano pelo aporte terminolgico gramatical convencional e, sim, como forma de
gerar um tipo de metalinguagem intuitiva que leve a uma necessidade real de
classificao dos termos, ou seja, uma terminologia para o que se quer fazer com
a outra lngua. Logo, h um propsito legtimo para o uso das descries a
respeito de qualquer sistema de significao.
A conscincia metalingstica, segundo Brumfit (1992), pode ser
identificada como o conhecimento explcito do sistema lingstico alvo. Bialystok e
Ryan, citados por Masny (1992), falam da inter-relao da linguagem e cognio
no desenvolvimento das habilidades metalingsticas no sentido de desenvolverum conhecimento analisado e um controle cognitivo. Nesse modelo, o bilingismo
promove nveis mais altos de controle cognitivo, enquanto a habilidade de usar a
lngua eficientemente desenvolve o conhecimento lingstico.
Smith (1994, p.178) utiliza a expresso modo-meta, assim definida: vocexplica aos aprendizes como uma parte da gramtica funciona. Se os aprendizes
entenderem e memorizarem isso, esses aprendizes so ento capazes de explicar
aquele aspecto por si mesmos em outra ocasio.10 Nessa perspectiva, Sol
28
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
28/179
28
A variedade de definies sobre conscincia lingstica e metalingstica
converge sempre para a acepo de conscincia lingstica como a habilidadeindividual para refletir sobre a lngua, convencionar discursos escritos ou falados a
partir do conhecimento lingstico. Ao fazer uso da conscincia lingstica de forma a
otimizar um resultado, h controle deliberado e planejado da atividade leitora para a
compreenso.A conscincia lingstica e metalingstica compem o processo de
compreenso da leitura, foco da seo que segue.
1.3 Leitura
A pesquisa sobre leitura ainda tem um vasto caminho a seguir. H muito
ainda a ser descoberto. Para ratificar essa afirmao, pertinente citar Gabriel
(2005, p.207) quando diz que:
Dissertar sobre leitura, compreenso em leitura e avaliao dacompreenso em leitura tarefa das mais complexas, pois haver semprealgo que no foi dito, dada a infinidade de elementos envolvidos. Discutir acompreenso em leitura pressupe que consideremos no apenas os
processo mentais individuais atravs dos quais o leitor constantemente testahipteses e faz inferncias, mas tambm aspectos externos, como naturezae uso da lngua, relaes interpessoais e diferenas scio-econmicas eculturais.
Se olharmos para a cronologia dos estudos em torno da leitura, o qu se l
data da segunda metade do sculo passado. Segundo Samuels e Kamil (1988), a
tentativa de conceituar o conhecimento e a teoria sobre o processo da leitura e seus
modelos surgiu a partir de meados dos anos 50 e esse movimento em direo
construo desses estudos deve-se s mudanas que ocorreram na pesquisa sobre
29
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
29/179
29
Soares (2003) entende que ler se estende desde a habilidade de traduzir em
sons slabas isoladas at habilidades de pensamento cognitivo e metacognitivo. fazer a decodificao de smbolos escritos, reter o sentido do texto escrito;
interpretar seqncias de idias ou fatos, analisar, comparar, inferir e fazer
predies construindo novos conhecimentos.
Ao pensar a leitura conforme a viso de Soares (2003), em que o sentido do
texto passa pela interpretao de fatos, anlise e comparao do mesmo, inferindo e
predizendo, h uma aproximao do modelo de leitura de LaBerge-Samuels aqui
apresentado por Samuels (1994, p.817). Ele explica que o modelo LaBerge-Samuels
de processamento automtico da informao durante a leitura apresenta trs
caractersticas fundamentais para qualquer modelo de leitura consistente, pois tem a
propriedade de sumarizar o passado, explicar o presente e predizer o futuro. Esse
modelo desencadeia uma rota que se inicia na representao escrita da palavra
para ativar o sentido, valendo-se da viso e audio, envolvendo a memria
episdica at chegar a ser compreendido no sistema semntico. O centro do modelo
a ateno, que compreende caractersticas externas e internas. Uma caracterstica
de ateno externa quando o professor chama o aluno a prestar ateno na
leitura, conduzindo a ateno visual e auditiva do mesmo, para aspectos que levem
compreenso.
As caractersticas internas da ateno so bem mais difceis de descrever,
mas poderia ser assumido, por exemplo, que quando o leitor est com os olhos fixos
no texto esse est internamente processando a informao e construindo um
significado. A ateno interna se caracteriza pelo estado de vigilncia (alertness)
passando por uma ao seletiva (selectivity) e pela limitada capacidade de
30
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
30/179
30
Por sua vez, esse processo deve considerar a leitura de leitores iniciantes e a
leitura de leitores fluentes. Os leitores iniciantes alternam a ateno entre odecodificar e o compreender, isto , realizam uma tarefa de cada vez. Os leitores
fluentes decodificam automaticamente e a ateno se centra na compreenso.
Ambas as tarefas so feitas simultaneamente (SAMUELS, 1994, p. 817-821). Nesse
sentido, o autor entende que a compreenso est relacionada com a exatido e
automaticidade do ato de ler.
O principio bsico da abordagem tradicional de leitura, por no responder s
complexidades dos processos intrnsecos no ato de ler, passou a ser questionado,
uma vez que evidenciava a leitura apenas pelo estabelecimento de associaes
entre som e grafia, em que o aprendiz extraa o sentido do que lia atravs de uma
atividade falada.
Nessa perspectiva, Goodman (1988) contesta a abordagem tradicional. Para
o autor, o leitor no mero sujeito passivo no processo de aquisio da leitura e
nem a linguagem segmentada, com base na relao comportamental de estmulo-
resposta. Seu modelo psicolingstico est fundamentado na psicologia cognitiva,
em que a aprendizagem produto de fatores cognitivos constantes no
desenvolvimento da compreenso e contextualizao, e a leitura um processo
seletivo que envolve conhecimento lingstico por parte do leitor, bem como sua
expectativa na busca do significado. O leitor passa a ser sujeito ativo no
processamento da informao. Alm disso, segundo o autor, os leitores proficientes
so ao mesmo tempo eficientes e eficazes. Eficientes em construir um significado,
trazendo um certo nvel de concordncia com o sentido original dado pelo autor do
texto e eficazes por usarem o mnimo de esforo para atingir a eficincia Goodman
31
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
31/179
31
[...] os leitores mantm constante foco na construo do significado atravsdo processo, sempre buscando o caminho mais direto ao significado,sempre usando estratgias que reduzam a incerteza, sempre sendoseletivos sobre o uso de pistas disponveis e utilizando-se profundamentede competncia conceitual e lingstica prvia.11
A leitura, na definio de Goodman (1988, p.12), um processo lingstico
receptivo, que comea pela codificao da representao lingstica superficial do
escritor e se completa com a significao que o leitor desenvolve, proporcionando
uma interao entre pensamento e lngua na leitura.
Assim, pode-se dizer que os modelos de leitura previam basicamente o
processamento de forma ascendente ou descendente, e, por sua vez, incapazes de
dar conta da totalidade do processo da leitura. Isso levou criao de outrosmodelos.
O modelo interativo de Rumelhart (1994, p.877-880) parte da noo de que
diferentes fontes de informao interagem na leitura. A informao grfica entra no
sistema e registrada num depsito de informao visual (VIS) e, posteriormente,
retirada pelo dispositivo de extrao de caractersticas que convergem, juntamente
com os conhecimentos sintticos, semnticos ortogrficos e lexicais para o
Sintetizador de Padres. Tais informaes podem ser aceitas, preservadas e,
quando necessrio, redirecionadas por meio do Centro de Mensagem para se
chegar a mais provvel interpretao.
Sol (1998, p.23) tambm fala da perspectiva interativa em que a leitura o
processo mediante o qual se compreende a linguagem escrita. Nesta compreenso
intervm tanto o texto sua forma e contedo como o leitor suas expectativas e
32
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
32/179
32
da nfase no texto em si mesmo para a interao entre texto e conhecimento
(KINTSCH, 1998). Ele combina um processo no qual a base de texto construda apartir da informao lingstica (linguistic input)e da base de conhecimento do leitor,
com uma fase de integrao na qual a base de texto integrada num todo coerente,
aps todos os elementos contextuais inapropriados serem rejeitados, excludos ou
suprimidos. A base de conhecimento entendida como uma rede associativa. O
processo de construo modelado como um sistema de produo.
Mesmo que a abordagem tradicional de leitura seja passvel de contestao,
ela foi o ponto de partida que impulsionou os avanos nos estudos sobre processos
da leitura. Goodman (1988), saindo da abordagem tradicional, descreve a leitura
como um processo seletivo em que o leitor passa a ter um papel ativo e tambmconstri o texto atravs das transaes que ocorrem durante o ato de ler. Soares
(2003) entende que a leitura vai da habilidade mais elementar de identificao dos
smbolos escritos at habilidades que envolvam o pensamento cognitivo e
metacognitivo. Samuels (1994), por sua vez, explica a leitura como o processamento
automtico da informao, apresentando trs caractersticas fundamentais, queenvolvem retomar o passado, justificar o presente e prever o futuro. Para Samuels
(1994) esse trs momentos tornam um modelo de processamento de leitura
completo. Rumelhart (1994)eSol (1998) falam da perspectiva interativa em que a
leitura a compreenso da linguagem escrita tendo como elementos o texto, sua
forma e contedo, e o leitor, suas expectativas e conhecimentos. Partindo daproposio de Kintsch (1994,1998), a partir da interao texto/conhecimento que a
compreenso leitora se d.
33
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
33/179
33
1.3.1 Leitura e compreenso leitora em L1
Saber ler representa para o indivduo ter autonomia para interagir enquanto
pertencente a uma sociedade com um mesmo cdigo lingstico escrito. A
capacidade de ler numa primeira lngua permite ao sujeito conhecer, atuar, decidir,
influenciar nas decises do grupo. A leitura se caracteriza basicamente como um ato
social. atravs dela que construmos e acumulamos conhecimentos. A leitura
abrange aspectos scio-culturais num processo complexo que preconiza um
conjunto de movimentos desde a percepo e reconhecimento das letras at a
ativao do conhecimento guardado na memria, que leva ao estabelecimento de
sentidos. No havendo compreenso, no se pode dizer que houve leitura.
A compreenso leitora implica a construo de significados. Sol (1998) diz
que, nessa construo, o texto desempenha o papel de interventor e deve estar
organizado dentro de padres estruturais coerentes. Sob uma abordagem interativa,
h de se levar em considerao o leitor que, atravs do empenho cognitivo, mantm
uma postura ativa no processamento e na atribuio de significado ao que est
lendo. Vrios elementos contribuem para que o processo de leitura se realize com
xito, sendo que o conhecimento prvio, a finalidade da leitura e a motivao para a
mesma so elementos relevantes.
Segundo a autora, o conhecimento prvio resultado de uma caminhada
individual em que agregamos experincias, valores, conceitos, atitudes, posturas
sociais e comunicativas; elementos que esto inter-relacionados numa hierarquia
interna e associados ao contexto histrico desse conhecimento.
34
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
34/179
aluno a vislumbrar outras possibilidades de leituras diferenciadas das motivadas
pelos seus interesses iniciais.
A aprendizagem, a partir da leitura, resulta da agregao e reorganizao do
conhecimento. Estamos aprendendo quando ao conhecimento anterior pudermos
somar um novo, suscitando uma nova reorganizao conceitual.
Quando a criana inicia seu processo de aprendizagem de leitura e escrita,
ela j demonstra uma considervel competncia comunicativa, em que emprega
estruturas complexas da lngua. Essa capacidade essencial para a aquisio da
leitura e escrita. Todavia, para aprender o cdigo escrito de sua primeira lngua, a
criana deve manipular e refletir sobre ele: perceber a palavra, o som, fazendodistines elementares para decifrar o cdigo.
Assim, o sucesso para a compreenso leitora em L1 deve levar em
considerao aspectos sociais e culturais do aprendiz, sua bagagem de
conhecimento e experincias prvias, ao mesmo tempo em que esse dever lidarcom o conjunto de cdigos que compem seu sistema lingstico de modo a
formular, estruturar e atribuir significado s palavras, sentenas e textos que vir a ler.
1.3.2 Leitura e compreenso leitora em L2
O aprendiz adulto ou a criana em fase de escolarizao, ao iniciar o
processo de leitura em L2, j percorreram um caminho no que diz respeito
aquisio da lngua materna e, portanto, trazem consigo uma bagagem formulada a
35
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
35/179
Taglieber (1988) explica que, at o final dos anos 40, aprender uma lngua
estrangeira equivalia a aprender a ler. Aprendia-se a nova lngua por meio da leitura,literalmente. Porm, a partir dos anos 50, com a introduo da abordagem ou
mtodo udio-lingual, houve um direcionamento para linhas totalmente opostas, em
que a leitura fluiria naturalmente, pela memorizao de estruturas e vocabulrio. A
representao grfica da palavra era apresentada ao aprendiz somente depois que
esse tivesse controle udio-oral, por entender-se que o contato com a palavra escritapoderia gerar problemas de pronncia na lngua em estudo.
A partir dos anos 70, a leitura volta a ser considerada como facilitadora da
aprendizagem, sem interferncia na questo da pronncia. A autora acredita que a
leitura base para outras habilidades da lngua e para a ampliao doconhecimento, e a exposio do aprendiz leitura agiliza sua competncia em L2.
Ela afirma que a compreenso do texto ocorre por dois processos: o ascendente
(bottom-up) e o descendente (top-down). No primeiro, a leitura efetuada pela
decodificao das letras, palavras, frases, de forma ascendente, seqencial e
hierrquica e o conhecimento lingstico requerido em primeira mo. No segundo,o aprendiz emprega seu conhecimento cultural e estratgias cognitivas para
estabelecer uma previso do contedo do texto. O reconhecimento global prevalece
sobre o particular ou especfico. Assim, bottom-up o desenrolar da leitura do
particular para o todo, do menor item ao conjunto total, enquanto o top-downpermite
a visualizao do todo para o particular, do conjunto ao item menor. Ambos ocorremsimultaneamente e so responsveis pela construo de sentido em um texto
coerente.
36
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
36/179
Leitura e compreenso leitora so processos intrnsecos, tanto em L1 quanto
em L2. Compreender um texto implica construir um significado a partir do que se leue envolve: manipular, refletir e decifrar o cdigo escrito; levar em considerao
aspectos fsicos, sociais, culturais, cognitivos e lingsticos. Segundo Kintsch (1998),
a compreenso em leitura decorre da competncia leitora, que ser abordada na
seqncia.
1.3.3 Leitor e competncia leitora
Kintsch (1998, p. 282) afirma que ler uma atividade complexa com vrios
fatores que se compensam mutuamente at um certo ponto. Como conseqncia,
tm-se leitores fluentes e muito inteligentes que so pobres decodificadores, bemcomo leitores com grande conhecimento especfico, mas de habilidades leitoras
restritas, que superam a um leitor habilidoso num determinado conjunto de
circunstncias. Segundo esse autor, pode-se fazer uma distino entre leitores
pobres e bons leitores12, partindo da anlise de trs fatores: as habilidades de
decodificao, habilidades de linguagem e domnio de conhecimento.
Assim, ser um bom leitor ser um bom decodificador, ou seja, fazer a
converso grafema-fonema com rapidez e correo. Melhores decodificadores
constroem representaes mais complexas e precisas do contedo textual
contribuindo para a ampliao vocabular. O bom leitor capaz de fixar as palavrasna sentena e perceber erros ortogrficos, tornando-se menos dependente do
contexto discursivo para o reconhecimento de uma palavra. Isso no significa que
um bom leitor no se apie na informao contextual quando necessrio. Ento, o
37
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
37/179
construdo, suprimindo o significado inapropriado. Na perspectiva do modelo de
construo e integrao de Kintsch (1998, p.283-4), isso significa que o processo deintegrao reduz a ativao de associaes contextuais inapropriadas.
J um leitor pobre seria o decodificador lento, que usa processos de ordem
superiores para compensar sua falta de habilidade de decodificao, usando o
contexto da sentena para reconhecer palavras. O leitor pobre mostra padresirregulares na fixao de palavras e falha em detectar erros ortogrficos.
Levando em considerao o terceiro fator, ou seja, o domnio do
conhecimento, Kintsch (1998, p.287) diz que leitores com elevado domnio de
conhecimento tm melhor desempenho do que leitores com baixo domnio deconhecimento, sem levar em considerao sua habilidade geral de leitura. Portanto,
baixo QI ou baixa habilidade verbal poderiam ser compensados pelo domnio do
conhecimento 13.
No processo da leitura, o leitor recorre a uma srie de recursos conscientesou inconscientes que o auxiliem na compreenso do texto e essa depende tanto do
prprio leitor e da situao pragmtica quanto do texto em si mesmo.
Compreender um texto conforme exposto anteriormente depende de
conhecimento lingstico, conhecimentos especficos do assunto em questo,aspectos internos (processos mentais) e externos (contexto cultural, social,
histrico), inteno e motivao para ler. Alm disso, a compreenso tambm
depende do tipo de leitor. Um leitor pobre que apresenta baixa habilidade intelectual,
38
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
38/179
Nessa perspectiva, as estratgias de leitura so tpicos de importncia, uma vez
que um dos objetivos considerar em que medida as estratgias de leitura sousadas pelos participantes desta pesquisa.
1.3.4 Estratgias de leitura
As estratgias de leitura so todos os movimentos intencionados conscientesou no que venham propiciar leitura significativa para o leitor. Elas podem ter um fim
especfico e uma funo a cada etapa do processo da leitura.
Van Dijk e Kintsch (1983) afirmam que as estratgias, de forma geral,
envolvem ao, metas e noo de otimizao. Para esses autores, a estratgia ,intuitivamente, a idia de um agente sobre a melhor maneira de agir no sentido de
atingir a meta. Os autores consideram que as estratgias de leitura so flexveis e
operam em muitos diferentes tipos de input (informao fornecida); elas devem ser
capazes de funcionar com input incompleto ou parcial, operar paralelamente nos
diferentes nveis de anlise dos resultados, afetando ou no os processos em outronvel. Elas so basicamente no deterministas e freqentemente produzem um
grande nmero de resultados alternativos que variam plausivelmente.
As estratgias operam bem antes do texto ser visto, ou antes das primeiras
palavras terem sido lidas, e o resultado dessas estratgias preparatrias,comunicativas e contextuais, determina o objetivo geral do ato de ler, ou seja, a
escolha de estratgias textuais mais locais ou globais de compreenso. Elas
envolvem o uso do mundo do conhecimento, o uso do conhecimento episdico
39
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
39/179
Ainda, para os autores, no existem estratgias explicitamente controladas
para atingir uma meta, como, por exemplo, entender um filme, ler um texto. Hmuitas atividades cognitivas que no parecem ter essa conscincia, natureza
controlada e as estratgias envolvem altos nveis de processamento de informao.
Ao abordarem a interao de estratgias, Van Dijk e Kintsch (1983) pontuam
que as estratgias locais estabelecem os significados das oraes e sentenas e ossignificados e funes de relaes entre as sentenas. J as estratgias globais
determinam os significados globais dos fragmentos do discurso ou do discurso como
um todo.
As estratgias so flexveis e facilitam a compreenso semntica, operandoem vrios nveis ao mesmo tempo, usando informaes incompletas e combinando
os modos do processo de informao indutivo (bottom-up) e dedutivo (top-down)
como componentes fundamentais da nossa habilidade cognitiva para usar (entender
e produzir) as elocues da linguagem. Portanto, reforando o que j foi mencionado
na seo anterior no processo de informao indutivo, os usurios da linguagemmanipulam as estruturas de superfcie (palavra, frase, significados das oraes,
informao pragmtica do contexto), enquanto que, no processo dedutivo, operam
com os dados interacionais, sociais e culturais. Essa manipulao origina a
coerncia que possibilita ao usurio da linguagem estabelecer relaes de sentido
entre a sentena anterior e o discurso anterior, tanto de partes do discurso ou dotodo (VAN DIJK e KINTSCH, 1983)
Sol (1998) faz uma distino entre estratgia e procedimento. Para ela, o
40
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
40/179
envolvendo procedimentos de ordem cognitiva e metacognitiva. A autora (p.70)
complementa: o que caracteriza a mentalidade estratgica sua capacidade derepresentar e analisar os problemas e a flexibilidade para encontrar solues.
Segundo a autora, deve-se manter o foco numa construo e uso de procedimentos
em que o aprendiz possa transferir esse conhecimento estratgico para outras
situaes de leitura, garantindo uma aprendizagem significativa e formando leitores
competentes.
Sol explica tambm que, quando o processo de leitura flui automaticamente,
as estratgias so utilizadas de forma inconsciente sobre um procedimento
automatizado, isso quer dizer que, quando lemos com compreenso, estamos no
estado fluncia leitora mecnica ou automtica, pois dominamos o input(informaofornecida no texto). Porm, ao nos depararmos com qualquer empecilho, quer seja
uma palavra desconhecida, frases sem sentido ou um resultado contraditrio
nossa expectativa, entramos no que a autora chama de estado estratgico, que
acionado pela necessidade de dar significado ao que lemos, resolvendo dvidas de
maneira ponderada e definida. Passamos a agir conscientemente para que aapreenso do contedo do texto ocorra.
Van Dijk e Kintsch (1983) abordam esse estado estratgico como o
resultado dos processos mentais conscientemente controlados e ordenados, para
que cada passo mental resulte na informao necessria para o prximo passo.Essa ordem das estratgias de compreenso da linguagem tem dois traos
complementares bsicos: ela estreita a esfera da operao das estratgias de nveis
mais baixos ou fornece suposies diretas e possveis, eliminando a anlise
41
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
41/179
compreenso. Ele utiliza um conhecimento implcito, no racionalizado na hora da
leitura. J as estratgias metacognitivas so definidas como operaes (no regras)a serem executadas com algum objetivo j delineado mentalmente. H um controle
consciente por parte do leitor daquilo que quer compreender, estabelecendo o
porqu e para qu.
Para Kato (1995), as estratgias cognitivas do conta dos comportamentosrelacionados compreenso sinttica da frase, estabelecendo conexo entre a
ordem linear do texto e a ordem temporal dos episdios ou interpretando sintagmas
do texto como co-referncias. As estratgias metacognitivas abordam as nossas
metas em relao leitura, ou seja, a definio do tema, a harmonia interna do texto
e a significao atribuda ao que conhecemos sobre o objeto em pauta e a
conseqente comparao com vistas ao estabelecimento da coerncia e ao controle
do entendimento.
O Malley e Chamot, citados por Silva (2002), apresentam as estratgias
metacognitivas, cognitivas e sociais como as mais relevantes leitura em L2.
Atravs das estratgias metacognitivas, o aprendiz esboa o planejamento atravs
da antecipao das idias e contedo do texto a ser aprendido, valendo-se da
tcnica de skimming; atende a uma tarefa especfica e deixa de lado aspectos que
possam afast-lo do foco principal; h na seqncia desse processo o planejamento
em que o aprendiz lista os elementos lingsticos para a realizao da tarefa; ocorre,
ento, um enfoque seletivo do tipo de informao a ser utilizada acompanhada de
controle e autocontrole da compreenso leitora durante a leitura. Essa estratgia
passa pela verificao dos resultados de sua prpria aprendizagem na finalizao da
42
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
42/179
uma sucinta abordagem terica dos instrumentos, especialmente dos que fizeram
parte da produo dos dados desta pesquisa.
1.4 Instrumentos de pesquisa
Instrumentos so parmetros que propiciam informaes para a avaliao
qualitativa e/ou quantitativa do aprendiz. A pesquisa progride mediante odesenvolvimento de instrumentos para medir compreenso em leitura. Porm, os
instrumentos so limitados e sua ajuda parcial, uma vez que nos fornecem
informaes especficas de um determinado aspecto da leitura. Outro fato, que
variveis ocorrem e podem interferir nos resultados (GABRIEL, 2005).
Alliende e Condermarn (2005) afirmam que o nvel de leitura pode ser
avaliado com a utilizao de procedimentos qualitativos ou informais e medidas que
forneam critrios, avaliaes taxionmicas ou testes padronizados. Portanto, a
avaliao pode partir da medio de habilidades de leitura, que podem ser
estabelecidas de modo gradativo, e da medio da compreenso leitora, essamuitas vezes difcil de ser avaliada por impor variaes compreensivas distintas
entre os leitores.
O entendimento que hoje se possui sobre o processo de compreenso em
leitura est intimamente relacionado aos instrumentos desenvolvidos para investigaresse processo. Assim, alguns instrumentos utilizados na produo de dados da
pesquisa emprica, apresentada no prximo captulo, encontram-se na seqncia.
43
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
43/179
O teste possui 120 questes relacionadas a aspectos lingsticos sintticos emorfolgicos.
1.4.2 Procedimento Cloze
O procedimento Cloze um instrumento para medir compreenso leitora eapresenta algumas vantagens elencadas a seguir: (1) simples de elaborar, aplicar
e interpretar; (2) no requer que a pessoa que o elabore, aplique e interprete seja
algum especializado; (3) os resultados por parte dos aprendizes fundamentam-se
somente pelas pistas do texto e no so instigados ou encobertos por indagaes
do examinador; (4) textos breves de uma pgina e de qualquer gnero podem serutilizados.
A base do teste est na supresso de palavras, que podem ser apagadas em
intervalos regulares, entre 5 e 10 palavras. Deve-se evitar a omisso de nomes
prprios. Na primeira e ltima sentena no se retiram palavras (TAYLOR, 1953;BORMUTH, 1968).
Gabriel (2005, p.183-184) salienta a importncia de distinguir o teste Clozede
um exerccio de completar frases, uma vez que no clozeo sujeito que estiver sendo
testado parte do contexto e de seu conhecimento prvio para criar suposies. J
em um exerccio de completar lacunas o que se quer verificar algum conhecimento
especfico. E complementa: uma unidade Cloze definida como qualquer
ocorrncia de uma tentativa bem sucedida de reproduzir acuradamente uma parte
44
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
44/179
Bormuth (1967) comparou os resultados do teste Cloze e de um teste demltipla escolha e concluiu que um sujeito que respondeu corretamente 38% dos
itens no teste Clozeobtm 75% no teste de mltipla escolha. A Tabela 1 a seguir
demonstra a equivalncia entre os percentuais dos escores nos testes acima citados
e serve como um parmetro para apreciao dos resultados dos escores atingidos.
Tabela 1 - Equivalncia entre os percentuais dos escores no teste Cloze e no
teste de mltipla escolha
Escores do teste Cloze Escores do teste de mltipla escolha
19% 50%
23% 55%
27% 60%
31% 65%
35% 70%
38% 75%
42% 80%
46% 85%
50% 90%
53% 95%
57% 100%
Fonte: Bormuth (1967, p.296)
A anlise comparativa entre os percentuais da tabela de Bormuth (1967), emrelao aos testes Cloze e de mltipla escolha, facilita dimensionar valores de
escores, uma vez que o teste de mltipla escolha um dos mais utilizados.
45
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
45/179
1.4.3 Teste de conscincia lingstica
Com o advento das cincias cognitivas, a conscincia passou a ser foco de
estudos em vrias reas do conhecimento, deixando de ser uma questo somente
filosfica. Raymundo (2005) explica que possvel, atravs da cincia, entender
aspectos da mente humana como a conscincia que, por sua vez, no uma
entidade em si, mas um processo. A autora salienta que as buscas sobre ofuncionamento do crebro humano, no que diz respeito aprendizagem da
linguagem, o problema difcil do fenmeno, so ainda recentes. No entanto, a
pesquisadora se sentiu amparada para analisar o fenmeno da conscincia com
base em pesquisas que tratam do problema fcil do fenmeno, isto , o
comportamento lingstico de aprendizes em lngua estrangeira.
Partindo dessa perspectiva e da relevncia que a anlise do nvel de
conscincia lingstica tem nesta pesquisa, o teste elaborado e validado por
Raymundo (2005) em sua tese de doutorado como Instrumento Final, Anexo D,
mostrou-se o mais adequado.
O teste contempla quatro tarefas distintas que correspondem a quatro
questes diferentes. O participante julga as frases considerando-as corretas ou no.
A seguir, deve identificar o erro. A terceira tarefa requer que o aluno faa a
construo da frase corretamente e, finalmente, justifique o porqu da sua correo.
Cada tarefa corresponde a uma etapa de experincia consciente a partir da
percepo do erro. A primeira etapa parte do nvel de pr-conscincia, em que o
46
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
46/179
O nvel inconsciente no compe a experincia consciente em si e est
relacionado ao julgamento errado da frase, ou seja, o aprendiz no conseguedistinguir quando h erro ou no.
O teste est dividido em duas partes. A primeira composta dos itens 1a at
8d e corresponde aos erros interlinguais. A segunda composta dos itens 9a a 16d
e corresponde aos erros intralinguais. Os erros interlinguais e intralinguais so tiposde erros que ocorrem no processo de aquisio de uma segunda lngua. Os erros
interlinguais so os erros que se originam da transferncia lingstica, em que o
aprendiz tem dificuldade de distinguir as nuanas que diferenciam uma lngua da
outra em termos lingsticos, realizando traduo literal, palavra por palavra, e com
isso tende a transferir a forma, o significado e a distribuio de forma e significadode sua lngua materna para a lngua estrangeira (RAYMUNDO, 2005).
Por exemplo, em portugus, no tempo presente dizemos: ela no gosta de
chocolate (a forma negativa sofre apenas o acrscimo do no antes do verbo) e ela
gosta de chocolate? (a forma interrogativa altera a entonao, na fala, e o sinal deinterrogao indica essa alterao na escrita). As mesmas frases em ingls, com
erro interlingual, seriam ditas: She not likes chocolate e She likes chocolate?,em vez
de She doesnt like chocolate,e Does she like chocolate?
Os erros interlinguais ocorrem quando o aprendiz j tem conhecimento na
lngua estrangeira, mas demonstra dificuldades para incorporar formas da lngua
estrangeira influenciado pela lngua materna. Em portugus no se utiliza o tempo
composto eu tenho estudado ingls por seis meses. Dizemos eu estudei ingls por
47
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
47/179
J os erros intralinguais dizem respeito aos erros que ocorrem dentro da
prpria lngua estrangeira em estudo e resultam dos aspectos gerais do aprendizadode regras e da competncia do aprendiz em um determinado momento da aquisio,
sem uma influncia evidente da lngua materna. Esses ocorrem porque o aprendiz
se apia nas normas mais utilizadas e nas formas da lngua em estudo a que ele
mais recorre para estabelecer a comunicao. Esses erros no sofrem influncia da
traduo e derivam de uma produo interna da prpria lngua (RAYMUNDO, 2005).No caso da pergunta Did you worked yesterday?, temos duas marcaes de
passado: did e worked. Em ingls essa redundncia incorreta, sendo que o
tempo passado deve ser marcado apenas no auxiliar. Portanto um aspecto interno
da lngua que se leva em considerao. Outro exemplo de erro intralingual o uso
dopresent perfectem relao ao passado simples, quando usar I have travellede Itravelled.
Assim, exposta a tessitura do teste de Raymundo (2005), pode-se ratificar sua
relao direta a um dos aspectos mais relevantes deste estudo, uma vez que esse
analisa erros interlinguais e intralinguais em quatro nveis: pr-consciente 1 e 2,
consciente e plenamente consciente, e fornece parmetros consistentes para avaliar
a conscincia lingstica em L2. Outro importante instrumento para coleta e anlise
de dados relacionados aos processos de compreenso da leitura, de carter
qualitativo, so os protocolos verbais. Esses vm a seguir e representam, dentre
todos, o instrumento de maior relevncia para respaldar a investigao desta
pesquisa.
1.4.4 Protocolos verbais
48
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
48/179
processos mentais. Essas introspeces foram criticadas pelos behavioristas, que
entendiam que os dados no eram confiveis por no poderem ser reproduzidos.
Com a expanso da psicologia cognitiva nos anos 60, os protocolos verbais
comearam a assumir um valor cientfico em pesquisas. Em 1984, Ericsson e Simon
publicaram Protocol analysis: verbal reports as data. Nessa obra, os autores
propem a teoria do mtodo de pensar em voz alta e fornecem um suporte empricoimportante para tal (ABOLROUS, 2001).
Ericsson e Simon, citados por Abolrous (2001), desenvolveram protocolos
puros de pensar em voz alta baseados nos fundamentos da memria de curto e
longo prazo que descrevem como teoria do processamento de informao. Nessaperspectiva, criaram um modelo de verbalizaes que inclui trs nveis: (1) as
verbalizaes em nvel 1 so consideradas por eles as mais confiveis, pois no
sofrem transformaes antes de serem verbalizadas durante a tarefa e tem
referncia direta com a memria de curto prazo; (2) as verbalizaes em nvel 2
sofrem modificaes antes da verbalizao, ou seja, envolvem descrio ou
explicao do contedo pensado, que o nico processo cognitivo mediador entre a
memria de curto prazo e a verbalizao; (3) as verbalizaes em nvel 3 requerem
um processamento cognitivo alm do que requerido para o desempenho da tarefa
ou verbalizao. Nesse ponto, os sujeitos explicam seus pensamentos ou processos
de pensamento e podem ser solicitados a interpretar a informao ou retir-la da
memria de longo prazo. De acordo com Ericsson e Simon, a interferncia ou
interao do pesquisador com o sujeito, atravs de sugestes do tipo keep talking
(continue a falar), deve ser evitada, pois poderiam gerar influncia nos dados.
49
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
49/179
processo(s). Assim, a leitura passa a ser uma atividade que leva em considerao o
processo de interao na construo de sentidos e abandona a simples atividade dedecodificao. possvel detectar o papel do leitor como sujeito ativo.
Os relatos verbais, segundo Cohen (1989, p.4), podem ser subdivididos em
trs categorias: a do auto-relato, auto-observao e auto-revelao. A categoria do
auto-relato pode ser descrita como o momento em que o sujeito expe seucomportamento atravs do que sabe e apela para o seu senso comum. Pode ser
uma situao individual ou em grupo com o pesquisador. A auto-observao refere-
se situao comportamental em que a lngua est sendo examinada. Pode situar-
se no momento da ocorrncia ou ainda quando a informao est na memria de
curto prazo. A auto-observao pode ser introspectiva, retrospectiva ou protelada etem a ver com o tempo da fala e a execuo da tarefa. Pode ser simultnea, vinte
segundos depois da execuo ou horas ou dias aps a realizao da tarefa. Por fim,
a auto-realizao est relacionada ao think aloud (pense em voz alta), pois a
verbalizao imediata da atividade que est sendo executada. Diferencia-se das
demais, porque h menos formalidade e grau de interveno do pesquisador e a
realizao somente oral.
A principal vantagem dos protocolos verbais est focalizada no fato de que
eles analisam o processo em si, o momento da construo de significados da leitura,
permitindo uma interpretao de dados mais eficaz e que comprove como e por que
se chegou ao resultado.
Pode-se dizer, ento, que os protocolos verbais auxiliam na realizao de
50
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
50/179
1.5 Sntese
Dentre os principais pontos apresentados neste captulo, viu-se que a
aquisio de uma segunda lngua pode ocorrer em pelo menos trs diferentes
situaes: a aquisio da primeira e da segunda lngua na infncia de forma
simultnea; a aquisio da segunda lngua e de quaisquer outras, espontaneamente
e num ambiente autntico de aprendizagem na idade adulta; e a mais relevante paraeste estudo, o aprendizado de segunda lngua (neste caso, o ingls) de forma
sistemtica, em geral, em um ambiente escolar.
De acordo com a literatura apresentada ao longo das pginas deste
referencial terico, pode-se afirmar que dentre os fatores que interferem no sucessoda ASL, esto a transferncia lingstica, o conhecimento lingstico e a conscincia
lingstica e metalingstica. Como se d essa interferncia e qual o seu alcance so
algumas das questes deste estudo.
Na seo dedicada leitura, procurou-se retomar conceituaes sobre a
mesma e apresentar modelos tericos de processamento do texto. A compreenso
leitora em L1 foi apresentada como integrante do conhecimento prvio ativado ao
longo da leitura em L2. Nesta pesquisa, um dos objetivos entender o quanto um
leitor competente em L1 pode se beneficiar dessa competncia no momento em que
busca a compreenso leitora em L2. Um dos conhecimentos que pode estar sendo
ativado na leitura em L2 o uso de estratgias de leitura, com nfase em estratgias
cognitivas e metacognitivas e nos modos do processo de informao indutivo
(bottom up) e dedutivo (top down), pois deles dependem a produo dos dados e a
51
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
51/179
2 PESQUISA EMPRICA
A partir do que foi exposto no referencial terico, apresenta-se, neste captulo,
a pesquisa emprica: seus objetivos, as questes norteadoras, a metodologia de
coleta de dados, apresentao dos resultados e discusso.
A pesquisa foi aprovada pelo Comit de tica em Pesquisa (CEP) da
Universidade de Santa Cruz do Sul UNISC RS, em 10 de agosto de 2006.
Segundo o CEP, esta pesquisa cumpriu com a observncia dos aspectos ticos
conforme o direcionamento da Comisso Nacional de tica na Pesquisa CONEP,
em acordo com a resoluo nacional n 196/96, que define as diretrizes para a
conduo de pesquisas com seres humanos.
2.1 Objetivos
O objetivo geral da pesquisa foi averiguar em que medida a competncia em
leitura em L1 e a conscincia lingstica em L2 afetam a compreenso leitora em L2.
Esse objetivo levou aos seguintes objetivos especficos:
- Investigar se os sujeitos refletem conscientemente sobre a estrutura da
lngua na leitura em L2;
- Observar se o nvel de conscincia lingstica em L2 interfere positivamente
na compreenso leitora em L2;
52
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
52/179
2.2 Questes norteadoras
Visando alcanar os objetivos acima propostos, foram elaboradas as
seguintes questes norteadoras:
- Leitores proficientes em L2 refletem conscientemente sobre a estrutura
lingstica durante a leitura em L2?
- O nvel de conscincia lingstica em L2 beneficia a compreenso leitora em
L2?
- O uso de estratgias de leitura contribui para a compreenso leitora em L2?
- Ser um leitor competente em L1 elemento facilitador da leitura em L2?
2.3 Metodologia de produo e de anlise dos dados
Esta seo apresenta informaes a respeito dos sujeitos que participaram da
pesquisa, os instrumentos utilizados para a coleta de dados, bem como as tarefas e
procedimentos realizados nessa coleta.
2.3.1 Sujeitos
Os sujeitos desta pesquisa so adultos, alunos da Difference Language
School uma escola particular de ingls e portugus para estrangeiros situada em
53
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
53/179
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, aprovado pelo Comit de
tica em Pesquisa da Universidade de Santa Cruz do Sul (Anexo G).
2.3.2 Instrumentos de produo de dados
Os instrumentos utilizados para levantamento de dados, pertinentes ao objeto
de estudo, esto descritos a seguir, levando ao entendimento do processo pelo quala pesquisa foi conduzida para a obteno dos resultados.
2.3.2.1 Instrumento 1 Perfil leitor e conhecimento lingstico em L1 e L2
O instrumento 1 um formulrio dividido em trs partes. Na primeira parte, o
participante fornece seus dados pessoais, o nvel de conhecimento em ingls,
seguindo sua prpria avaliao independentemente do teste de nivelamento que foi
aplicado posteriormente. Na segunda parte, os participantes prestam informaes
sobre seus hbitos de leitura em portugus no que diz respeito freqncia com
que lem e tipo de leitura. A terceira parte do formulrio indaga os participantes
quanto ao seu conhecimento lingstico em portugus e em que elementos
fundamentam suas respostas. Esse instrumento se encontra no Anexo A e servir
como base de informao na caracterizao dos participantes no que se refere a
dados relativos ao seu perfil leitor e conhecimento lingstico em portugus.
O instrumento 1 foi entregue aos participantes para ser respondido em casa,
uma vez que no requeria acompanhamento da pesquisadora para ser preenchido.
De acordo com o relato dos participantes, foi necessrio em torno de quinze minutos
54
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
54/179
A subseo que segue apresenta o teste de nvel de conhecimento lingstico
em L2 que foi realizado para verificao do nvel de cada participante, fatordeterminante para sua continuidade na pesquisa, uma vez que era desejada relativa
homogeneidade no grupo de sujeitos quanto ao domnio da L2.
2.3.2.2 Instrumento 2 Nvel de conhecimento lingstico em ingls
O teste utilizado para avaliar o nvel de conhecimento lingstico em ingls
como L2 foi o Reward Placement Test obtido atravs do site:
http://www.onestopenglish.com/ MacMillan Publishers Ltd. 2003 (Anexo B).
Esse instrumento foi aplicado durante uma sesso individual, em sala de aula
e na presena da pesquisadora. Foi solicitado aos participantes que assinalassem a
alternativa que julgassem correta e preenchessem as lacunas no cabealho de cada
questo. A tarefa levou em mdia 70 minutos para que fosse realizada. Mesmo com
a solicitao do preenchimento das lacunas, no incio do teste, houve um
participante que no o fez, somente assinalando a alternativa que julgou correta.
Dessa forma, esse participante levou apenas 40 minutos para a realizao da tarefa.
Outro participante preencheu os espaos utilizando as letras das alternativas em vez
de escrever a resposta correspondente letra da alternativa. importante ressaltar
que nenhum sujeito foi pressionado pela pesquisadora em relao ao tempo para a
realizao do teste.
O Reward Placement Testfoi avaliado individualmente. Cada questo contm
quatro alternativas (a, b, c, d), e somente uma alternativa considerada correta. O
55
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
55/179
2.3.2.3 Instrumento 3 Procedimento Cloze
Para avaliao da compreenso leitora em L1, foi utilizado o artigo Os
cauboizinhos, de autoria de Cludia Laitano, publicado no Jornal Zero Hora, p.3, em
11 de fevereiro de 2006 (Anexo C). O texto foi adaptado, segundo as orientaes de
Taylor (1953), para aplicao do Procedimento Cloze. Conforme j detalhado no
referencial terico, o texto apresenta lacunas a cada 5 palavras, sem apagamentos
na primeira sentena e na ltima.
O texto lacunado foi entregue aos sujeitos para que fosse preenchido em
casa e devolvido em uma semana. Optou-se pela realizao dessa tarefa em casa
devido ao gerenciamento do tempo presencial necessrio para a realizao da
coleta de dados atravs dos outros instrumentos da pesquisa que sero descritos na
seqncia. Foi solicitado aos sujeitos que fizessem o teste num momento em que
no houvesse problemas de restrio de tempo, necessidade de atender a
telefonemas ou outras possveis situaes que os perturbassem durante a
realizao da tarefa, proporcionando a fluncia esperada para que o procedimento
Clozetivesse resultados fidedignos.
De acordo com o relato dos sujeitos, a realizao da tarefa levou, em mdia,
90 minutos para os participantes que encontraram dificuldade no preenchimento e,
para os outros, 30 a 40 minutos.
O texto foi corrigido, considerando como escore total 81 palavras apagadas
que correspondem a 100%. Para que a palavra preenchida fosse considerada
56
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
56/179
pesquisa foi definida pelo teste elaborado e validado por Raymundo (2005) em sua
tese de doutorado como Instrumento Final (Anexo D).
O teste composto de dezesseis itens e esses consistem de pequenos
dilogos em ingls. Cada item possui um quadro com quatro questes a serem
respondidas. As frases a serem analisadas dentro dos dilogos esto sublinhadas.
Na realizao desse teste, o participante deve analisar a frase sublinhada e julgar se
ela est certa ou errada, levando em considerao sua estrutura. Quando o
participante a considerar errada, deve responder s demais questes (onde est o
erro?, qual a forma correta?, por que esta a forma correta?). A ltima questo, que
requer uma explicao, pode ser respondida em portugus. Para cada uma dessas
questes o participante tambm deve marcar a alternativa que expressa o seu grau
de convico em relao s suas prprias respostas (no estou certo, estou quase
certo, estou totalmente certo). Ao considerar a questo certa, o participante elimina a
necessidade de responder s demais (onde est o erro?, qual a forma correta?,
por que esta a forma correta?).
O teste est dividido em duas partes. A primeira composta de 8 questes
relacionadas a erros interlinguais (itens 1a a 8d) e 8 questes relacionadas a erros
intralinguais (itens 9a a 16d), conforme exposto na seo 1.4.3.
As alternativas com o grau de convico not sure (no estou certo), almost
sure (estou quase certo), totally sure (estou totalmente certo), tratam da classificao
dos sujeitos quanto ao tipo de usurio, se timo, superusurio ou subusurio e diz
respeito ao uso consciente do sistema aprendido e adquirido, sabendo julgar
57
-
7/25/2019 consciencia linguistica e leitura.pdf
57/179
Esse teste foi realizado com a presena da pesquisadora na sesso, no
ambiente da escola e alguns participantes comentaram que enfrentaram dificuldadeem justificar a quarta questo. A tarefa foi realizada em cinqenta minutos (50 min),
em mdia.
A correo do instrumento 4 teste de conscincia lingstica levou em
considerao as quatro proposies: julgamento da frase, identificao do erro,
correo das frases e explicao da forma correta. Para cada resposta, acertos
receberam escore 1 e erros, 0. O erro de todas as respostas representaria escore 0;
o acerto da primeira resposta representaria escore 1; o acerto das duas primeiras
respostas, escore 2; o acerto das