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    REICHOW, Jeverson. Conscincia e transdisciplinaridade. In: SIMPSIONACIONAL SOBRE CONSCINCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador:Fundao Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.

    CONSCINCIA E TRANSDISCIPLINARIDADEJeverson Rogrio Costa Reichow1

    ResumoEste artigo tem como objetivo estabelecer relaes entre a viso deConscincia da Psicologia Transpessoal e a Transdisciplinaridade a partirde conceitos e pesquisas importantes relacionadas aos dois temas.Primeiramente so apresentados os conceitos relativos Conscincia, tais

    como Estados Ampliados de Conscincia, Conscincia de Unidade eConscincia, Crebro e Realidade. Num segundo momento sodesenvolvidos alguns conceitos relacionados com a Transdisciplinaridade,a saber, o conceito de Nveis de Realidade, de Lgica do Terceiro Includoe o conceito de Complexidade. Enquanto os conceitos so desenvolvidosso estabelecidas algumas relaes entre os dois temas. Por ltimo serapresentada a concluso, ressaltando o nvel de complementaridade queos dois temas possuem entre si e a importncia de se aprofundar essasrelaes.Palavras-chave: Conscincia, Transdisciplinaridade, Psicologia

    Transpessoal.

    INTRODUO

    O objetivo deste artigo estabelecer relaes entre a viso da Conscincia

    oriunda da perspectiva da Psicologia Transpessoal e a Transdisciplinaridade. Para

    tanto, sero desenvolvidos e relacionados conceitos e algumas pesquisas referentes

    aos dois temas citados buscando pontos de convergncia, demonstrando que as

    experincias de ampliao da conscincia levam a uma nova percepo da

    realidade e tambm a uma compreenso do sentido de totalidade que vai aoencontro da viso transdisciplinar.

    Primeiramente sero apresentados conceitos relacionados Conscincia e,

    em segundo lugar conceitos relacionados Transdisciplinaridade. Durante a

    apresentao dos conceitos sero estabelecidas relaes entre os dois temas. Por

    ltimo ser apresentada a concluso.

    1 Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC, Mestre em Educao Universidade Federaldo Rio Grande do Sul UFRGS; Psiclogo graduado pela Universidade Catlica de Pelotas UCPEL; Coordenador do Curso de Psicologia da [email protected]

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    2REICHOW, Jeverson. Conscincia e transdisciplinaridade. In: SIMPSIONACIONAL SOBRE CONSCINCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador:Fundao Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.

    Entre os conceitos importantes relacionados com a Conscincia, a partir da

    perspectiva da Psicologia Transpessoal est o conceito de Estados Ampliados de

    Conscincia, o conceito de Conscincia de Unidade e de Conscincia, Crebro e

    Realidade. E, entre os conceitos relacionados com a Transdisciplinaridade temos o

    conceito de Nveis de Realidade, de Lgica do Terceiro Includo e o conceito de

    Complexidade.

    Como mencionado anteriormente, a viso da Conscincia apresentada neste

    artigo decorrente da Psicologia Transpessoal, a qual tem como objeto de estudo

    os Estados de Conscincia. Segundo Weil (1999, p. 9), a Psicologia Transpessoal

    um ramo da Psicologia especializada no estudo dos estados de conscincia; ela lida

    mais especialmente com a experincia csmica ou os estados ditos superiores ou

    ampliados da conscincia.

    A Psicologia Transpessoal influenciada por diferentes ramos da psicologia

    ocidental, diferentes mtodos orientais ou disciplinas da conscincia e por outras

    cincias como a Fsica, a Sociologia, a Antropologia, a Hipnologia, a Psiquiatria, a

    Neurologia e, mais recentemente, das Neurocincias. A seguir sero apresentados

    alguns destes conceitos.

    ESTADOS AMPLIADOS DE CONSCINCIA

    O conceito de Estados Ampliados de Conscincia apresentado por vrios

    autores. Krippner (1997) faz uma relao dos diferentes estados alterados de

    conscincia. Para este trabalho ser adotado o conceito de Estados Ampliados deConscincia para diferenciar de estados alterados de conscincia, uma vez que,

    todo o Estado Ampliado de Conscincia tambm um estado alterado, mas nem

    todo o estado alterado de conscincia necessariamente um estado ampliado.Tart

    (1995, p.227) define um Estado Ampliado de Conscincia como uma alterao

    qualitativa no padro de funcionamento mental na qual a pessoa que o experimenta

    sente que a sua conscincia funciona de maneira radicalmente distinta do seu modo

    comum de operao.

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    3REICHOW, Jeverson. Conscincia e transdisciplinaridade. In: SIMPSIONACIONAL SOBRE CONSCINCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador:Fundao Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.

    As pesquisas da Psicologia Transpessoal mostraram que, alm do estado de

    conscincia de viglia, o ser humano capaz de experimentar outros estados de

    conscincia durante os quais sua percepo da realidade transforma-se muito em

    relao aquilo que entendemos como real. Dentre essas transformaes, algumas

    so muito importantes para este trabalho, a saber, o desaparecimento das fronteiras

    entre sujeito-objeto ou entre o eu que vive e a experincia vivida, a construo de

    novos significados do real a partir destas vivncias e o conhecimento descontnuo,

    isto , que transcende meios fsicos de propagao e o prprio tempo. Outro

    aspecto fundamental dessas experincias a tomada de conscincia de si como um

    ser multidimensional, um ser fsico, energtico, emocional, mental e espiritual.

    Durante as experincias em estados ampliados de conscincia a pessoa se percebe

    com um ser total em que corpo, energia, emoes, mente e esprito so aspectos

    diferentes deste ser que , em essncia, um ser espiritual. E, mais ainda, este ser

    total se percebe profundamente conectado com a natureza, com o planeta e com o

    cosmos conforme Walsh (1995).

    Quando so superadas as limitaes da percepo humana a realidade

    parece completamente diferente da realidade cotidiana. De maneira geral, segundoWalsh (1995, p. 253), as seguintes caractersticas definem a realidade do universo

    descrita pelas disciplinas da conscincia, pela fsica quntica e por algumas reas

    das neurocincias:

    no-dualista, em oposio a dicotmico;um todo unitivo, em oposio a partes no relacionadas entre si;interligado, em oposio a formado por componentes estanques eseparados;antes dinmico e em contnuo movimento ou fluxo, em oposio a esttico;impermanente e efmero, em oposio a duradouro e permanente;vazio (constitudo em larga medida pelo espao vazio no-slido) em vez deslido;acausal(mas no anticausal), isto , transcende os modelos tradicionais decausalidade, visto que todo componente entra na determinao de todos oseventos (onideterminismo);sem base exterior e autoconsciente, na medida em que, como todos oscomponentes e mecanismos so interligados e interdependentes, nenhum, em ltima anlise, mais fundamental do que os outros. Por conseguinte,no se pode explicar o universo em termos de um nmero limitado demecanismos fundamentais;estatstico e probabilstico em lugar de certo;paradoxal, e no, em ltima anlise, compreensvel, codificvel e exprimvelem termos intelectuais;ligado inextricavelmente com o observador.

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    4REICHOW, Jeverson. Conscincia e transdisciplinaridade. In: SIMPSIONACIONAL SOBRE CONSCINCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador:Fundao Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.

    De acordo com a psicologia budista existem diferentes nveis de Conscincia

    ou da Mente. Os nveis mais elevados permitem funes mentais abstratas e os

    nveis mais densos levam a impulsos instintivos e a funes da memria. Para

    Humphrey (1989, p. 22):

    A psicologia budista tambm nos oferece um modelo alternativo da mente eda matria. Segundo ela, o prprio universo nada mais do queconscincia, dividida em nove planos: os seis primeiros so a conscinciaessencial da viso, da audio, do olfato, do paladar, do tato e dopensamento. Esses seis planos compreendem, juntos a conscinciaindividual, que nasce e morre. Os stimo, oitavo e nono planos no seacabam com a morte. O stimo plano a conscincia da autopercepo. O

    oitavo plano, a conscincia alaya relativa, que recebe todos os dadossensoriais reunidos nos seis primeiros planos. Eles so aqui coligidos eregistrados com absoluta preciso. Essas impresses ocasionam a prximaao, colocando em movimento um constante ciclo de atividades. O nonoplano, a conscincia alaya absoluta, a pura autoconscincia sem forma daNatureza-Verdade.

    Em sua dissertao de mestrado, Reichow (2002), faz importantes relaes

    entre os Estados Ampliados de Conscincia e o acesso informao, sugerindo que

    possvel atingir outros Nveis de Realidade a partir de experincias induzidas de

    ampliao de conscincia.Como se pode perceber, diferentes disciplinas do conhecimento humano

    construram vises bastante semelhantes sobre os diferentes estados de

    conscincia que podem ser experienciados. Entre esses estados est o Estado de

    Conscincia de Unidade.

    CONSCINCIA DE UNIDADE

    O conceito de Conscincia de Unidade encontrado em diferentes correntes

    de pensamento, no s cientfico como tambm filosfico e em diversas tradies

    sapienciais da humanidade. Saldanha (1999, p. 42) refere-se Unidade como a

    propriedade de no estar dividido. Quando abordamos a unidade csmica, referimo-

    nos ao fim da dualidade, das polaridades. o todo, o absoluto, a plena luz. Nesse

    nvel, inexiste tempo e espao. um eterno agora, um eterno ser-nico, indivisvel.

    Weil (1999) salienta que a Unidade uma das caractersticas da Conscincia

    Csmica. Entende-se por Conscincia Csmica um estado de conscincia no qual o

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    5REICHOW, Jeverson. Conscincia e transdisciplinaridade. In: SIMPSIONACIONAL SOBRE CONSCINCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador:Fundao Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.

    ser humano percebe a si e a realidade de uma maneira bem diferente da percepo

    comum, se sentido conectado com a totalidade do Universo. Segundo Weil (1999, p.

    10), as principais caractersticas da experincia csmica so:

    Unidade: o desaparecimento da percepo dual Eu-Mundo.Inefabilidade: a experincia no pode ser descrita com a semntica usual.Carter notico: um senso absoluto de que o que vivido real, s vezesmuito mais real do que a vivncia quotidiana comum.Transcendncia do espao-tempo: as pessoas entram numa outradimenso; o tempo no existe mais e o espao tridimensional desaparece.Sentido de sagrado: o senso de que algo grande, respeitvel e sagrado estacontecendo.Desaparecimento do medo da morte: a vida percebida como eterna,

    mesmo se a existncia fsica transitria.Mudana do sistema de valores e de comportamento: muitas pessoasmudam os seus valores no sentido dos valores B de Maslow (Beleza,Verdade, Bondade, etc.). H uma subestimao progressiva dos valoresditos materiais e do apego ao dinheiro. O Ser substitui o Ter.

    O conceito de Unidade fundamental dentro do estudo da Conscincia

    porque resgata a unidade fundamental de todas as coisas, a qual foi perdida com a

    fragmentao do conhecimento decorrente da aplicao do paradigma cartesiano na

    cincia moderna.

    CONSCINCIA, CREBRO E REALIDADE

    As descobertas da fsica quntica, atravs de experimentos que comprovaram

    a dualidade onda-partcula, desvendaram dimenses da realidade at ento

    desconhecidas para a cincia. No entanto, estes mesmos experimentos revelaram

    algo mais intrigante, que a conscincia do observador interfere no objeto observado.

    Dito de outra maneira, a conscincia influncia na manifestao da partcula

    subatmica a qual, dependendo de como realizado o experimento, manifesta-se

    como matria (partcula) ou como energia (onda). Os fsicos como Goswami (1998)

    e Wolf (2003) constataram a nvel microcsmico que a conscincia do pesquisador

    interfere no resultado da pesquisa. Morin (1996, p. 185), Tambm confirma esse fato

    na seguinte passagem:

    [...] o problema do observador no est limitado s cincias antropossociais;a partir de agora o problema relativo s cincias fsicas; assim, oobservador altera a observao microfsica (Heinsenberg); [...] enfim, acosmologia reintroduz o homem, ao menos, no princpio chamado de

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    antrpico- no de entropia, mas de antropo segundo o qual a teoria daformao do universo precisa explicar a possibilidade da conscinciahumana e, obviamente, da vida (Brandon Carter).

    Para Morin, nas cincias antropossociais, o observador influencia o objeto

    observado mesmo no nvel macrocsmico, mas os experimentos de Jahn e Dunne

    (1987), realizados na Universidade de Princeton no PEAR (Princeton Engineering

    Anomalies Research), sugerem a influncia da conscincia do sujeito (operador) em

    experimentos envolvendo mquinas mecnicas e geradores de nmeros binrios

    (zeros e uns).

    Em outro experimento realizado em Washington D. C. entre sete de junho e

    trinta de julho de 1993 o mesmo fenmeno de interferncia atingiu dimenses ainda

    mis amplas. Este experimento reuniu um grupo de aproximadamente 4000

    participantes no Programa de Meditao Transcendental do Yogue Maharishi

    Mahesh. A hiptese levantada era a de que, de acordo com Hagelin (1993), os

    nveis de crimes violentos no distrito de Columbia cairiam substancialmente durante

    o perodo mencionado acima, como conseqncia do efeito do grupo de aumentar a

    coerncia e diminuir o stress na conscincia coletiva dos habitantes do distrito. Os

    resultados do experimento mostraram uma reduo dos nveis dos crimes violentos

    prxima a 25%.

    Outras pesquisas envolvendo Estados Ampliados de Conscincia esto

    sendo realizadas Richard Davidson e sua equipe na Universidade de Wisconsin.

    Davidson est pesquisando os efeitos da meditao sobre os estados emocionais

    negativos e constatando que meditadores freqentes tm menos emoes negativas

    como raiva, dio, clera e inveja.Alm disso, tambm est ficando evidenciado que

    a meditao altera a neuroplasticidade cerebral, alterando as redes de conexes

    sinpticas. De acordo com Davidson (2003), os resultados demonstram que um

    pequeno treino em meditao produz efeitos demonstrveis no crebro e na funo

    imunolgica. Estes resultados sugerem que a meditao pode modificar o crebro e

    a funo imunolgica de maneiras positivas e pontuam a necessidade de se fazer

    pesquisa adicional. Em outro estudo recente, Cayuon (2005) conclui em suas

    observaes clnicas, que o treinamento em meditao promove o aumento da

    habilidade perceptual pela plasticidade do crebro na regio pr-frontal e parietal,tendo como resultado graus maiores de auto-compreenso e de auto-controle.

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    7REICHOW, Jeverson. Conscincia e transdisciplinaridade. In: SIMPSIONACIONAL SOBRE CONSCINCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador:Fundao Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.

    Percebe-se assim que as experincias em Estados Ampliados de Conscincia

    apontam para uma viso de realidade que comea a ser repetidamente comprovada

    dentro e fora dos laboratrios, ficando evidenciado que preciso rever o conceito de

    realidade.

    NVEIS DE REALIDADE

    O conceito de Nveis de Realidade est intimamente associado revoluo

    quntica na fsica. De acordo com Nicolescu (1999, p. 31):

    Deve-se entender por nvel de Realidade um conjunto de sistemasinvariantes sob a ao de um nmero de leis gerais: por exemplo, asentidades qunticas submetidas s leis qunticas, as quais estoradicalmente separadas das leis do mundo macrofsico.

    Assim, as leis que empregamos para descrever o Nvel da Realidade

    macrofsica no podem ser utilizadas para descrever a realidade microfsica ou

    subatmica. Da mesma maneira, as leis que utilizamos para descrever comofunciona nossa conscincia e percepo da realidade quando estamos em estado

    de conscincia de viglia no podem ser utilizadas para descrever a realidade

    percebida durante Estados Ampliados de Conscincia, pois, como vimos, a

    percepo do que real durante esses estados completamente diferente daquilo

    que estamos acostumados a perceber como real. Weil, DAmbrosio e Crema (1993)

    dizem ainda que a vivncia do real uma funo do estado de conscincia

    VR=(f)EC. Para Walsh (1995, p. 249),

    Essa viso pode ser alcanada por meio de todas as modalidadesepistemolgicas de aquisio de conhecimento: a percepo sensria, aanlise conceitual intelectiva ou a contemplao(...).Mas pouco importa oseu modo de obteno; o aperfeioamento da sensibilidade num grausuficiente revela uma ordem de realidade diferente daquela que nos familiar. Alm disso, as propriedades assim reveladas sero essencialmentemais fundamentais e verdicas do que costuma acontecer e vo apresentarum maior grau de semelhana interdisciplinar. Por isso, medida que sedesenvolvem e se tornam mais sensveis as disciplinas empricas, pode-seesperar que revelem fenmenos e propriedades que assinalam osfundamentos comuns e os paralelos entre disciplinas e entre nveis.

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    8REICHOW, Jeverson. Conscincia e transdisciplinaridade. In: SIMPSIONACIONAL SOBRE CONSCINCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador:Fundao Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.

    Numa viso de mundo materialista, as experincias subjetivas foram e ainda

    so, muitas vezes, associadas com fantasias e/ou patologias. A realidade interior de

    um indivduo tambm vista como um mero epifenmeno do crebro. No entanto, a

    prpria fsica nos mostra que energia e matria so, em essncia, a mesma energia

    ondulando em freqncias diferentes. Podemos pensar ento que nossos

    pensamentos ou imagens mentais so energia mental atuando sobre ou junto com

    os impulsos eltricos de nosso crebro. Percebe-se assim que, mesmo numa

    realidade dita subjetiva, existe uma relao entre energia e matria.

    Outro aspecto importante da realidade subjetiva que, como mencionado

    anteriormente nas caractersticas da conscincia csmica, as experincias

    vivenciadas naquele nvel de realidade ou de conscincia tm um profundo carter

    notico, isto , so sentidas como absolutamente reais pelo sujeito.

    LGICA DO TERCEIRO INCLUDO

    A Lgica do Terceiro Includo, de Lupasco, refere-se tambm aos nveis de

    Realidade. Nicolescu (1999, p. 32-33) diz que:

    Para se chegar a uma imagem clara do sentido do terceiro includo,representamos os trs termos da nova lgica A, no-A e T e seusdinamismos associados por um tringulo onde um dos ngulos situa-se aum nvel de Realidade e os dois outros a um outro nvel de Realidade. Sepermanecermos num nico nvel de Realidade, toda manifestao aparececomo uma luta entre dois elementos contraditrios (por exemplo: onda A ecorpsculo no-A). O terceiro dinamismo, o do estado T, exerce-se num

    outro nvel de Realidade, onde aquilo que parece desunido (onda oucorpsculo) est de fato unido (quantum), e aquilo que parece contraditrio percebido como no-contraditrio.

    Esse estado T de terceiro includo, um terceiro unificador que, de acordo

    com Nicolescu (2001) une A e no-A, e no pode ser compreendido sem a noo de

    nveis de Realidade. A Figura 1 exemplifica esse conceito.

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    Figura - 1

    Em se tratando da Conscincia humana, certos tipos de experincias que so

    consideradas impossveis no estado de conscincia de viglia, tornam-se

    plenamente possveis em Estados Ampliados de Conscincia. A psicopatologia

    clssica sempre considerou estes estados como patolgicos por considerar a

    existncia de apenas um estado de conscincia como normal ou saudvel e

    qualquer outra experincia da conscincia era vista como patolgica. Mais

    recentemente, pesquisas como nos exemplos mencionados anteriormente,

    comeam a desvendar outros Nveis de Realidade acessados durante experinciasem Estados Ampliados de Conscincia. Como exemplo disso, temos o xamanismo

    em suas diferentes manifestaes no mundo inteiro, como bem mostra Eliade

    (2002).

    COMPLEXIDADE

    De acordo com Silva (2005), a Complexidade vem sendo proposta por

    Nicolescu como um dos pilares da Transdisciplinaridade. A apropriao deste

    conceito neste trabalho importante sob o ponto de vista da multidimensionalidade

    do conhecimento. Para Morin (1996, p. 176-177):

    Num sentido, o pensamento complexo tenta dar conta daquilo que os tiposde pensamento mutilante se desfaz, excluindo o que eu chamo desimplificadores e por isso ele luta, no contra a incompletude, mas contra a

    mutilao. Por exemplo, se tentarmos pensar no fato de que somos seresao mesmo tempo fsicos, biolgicos, sociais, culturais, psquicos eespirituais, evidente que a complexidade aquilo que tenta conceber aarticulao, a identidade e a diferena de todos estes aspectos, enquanto o

    T

    ANo-A

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    pensamento simplificante separa esses diferentes aspectos, ou unifica-ospor uma reduo mutilante. Portanto, nesse sentido, evidente que aambio da complexidade prestar contas das articulaes despedaadas

    pelos cortes entre disciplinas, entre categorias cognitivas e entre tipos deconhecimentos. De fato, a aspirao complexidade tende para oconhecimento multidimensional.

    Por essa passagem de Morin fica clara a importncia de uma viso de

    Complexidade que percebe a multidimensionalidade humana e da realidade por

    meio de um olhar transdisciplinar. O termo Complexidade refere-se neste sentido a

    uma viso sistmica da realidade e da Conscincia.

    A viso da Conscincia humana decorrente da Psicologia Transpessoal ,

    neste sentido, complexa, pois, na vivncia transpessoal a autopercepo e a

    autoconscincia se ampliam, abrangendo outras dimenses do humano, pouco

    conhecidas e valorizadas. Durante a experincia transpessoal da conscincia da

    Unidade, o ser se percebe inteiro, sem divises entre sensaes, sentimentos,

    pensamentos e intuies. Essa viso inteira e integrada, juntamente com o

    desaparecimento da separatividade entre eu e o mundo, bem como a

    transcendncia do espao-tempo linear, leva a um novo tipo de conhecimento dos

    Nveis de Realidade. Tambm DAmbrsio (1998, p. 21) traz essa viso ampliada aoreferir-se a autopercepo de um indivduo como:

    uma realidade individual, nas dimenses sensorial, intuitiva, emocional,racional;

    uma realidade social, que o reconhecimento da essencialidade dooutro;

    uma realidade planetria, o que mostra sua dependncia do patrimnionatural e cultural e sua responsabilidade na sua preservao;

    uma realidade csmica, levando-o a transcender espao e tempo e aprpria existncia, buscando explicaes e historicidade.

    Este ser que se percebe inteiro tambm percebe o mundo de uma maneira

    completamente diferente, sentindo-se sujeito que cria a sua prpria realidade -

    colapso quntico (GOSWAMI, 1999) e, sendo assim, assumindo novos valores e

    responsabilidades frente a sua prpria existncia, sociedade onde vive, ao planeta

    e ao Cosmos. Perceber-se e perceber o mundo dessa maneira inteira, leva criao

    de novos significados a partir das vivncias em Estados Ampliados de Conscincia.

    A fsica j demonstrou que matria e energia tm a mesma essncia (E=mc2) e que

    matria energia em forma densa. Goswami (1999), com sua teoria da Criatividade

    Quntica, demonstra que toda a manifestao (atualizao na linguagem quntica)

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    se d do nvel mais sutil para o nvel mais denso. Nossa realidade mental, intuitiva e

    emocional (sentimentos), mais sutil do que o nvel fsico, mas a partir destes

    nveis sutis que criamos nosso mundo fsico. As experincias em Estados Ampliados

    de Conscincia revelam a teia invisvel que une todos esses nveis e torna possvel

    sua interao, isto , revela a Complexidade do Real.

    A apreenso da realidade muito mais do que um ato do pensar. Assim, o

    ato cognitivo envolve o ser inteiro, em suas mltiplas dimenses. Capra (1997)

    salienta a cognio inclui a linguagem, o pensamento e todos os outros atributos da

    Conscincia humana.

    Isso tudo nos remete a idia de rede, trazida pela viso sistmica. Capra

    (1997, p. 48) faz importantes colocaes a respeito dessa nova viso do

    conhecimento e da realidade nos seguintes trechos:

    No novo pensamento sistmico, a metfora do conhecimento como umedifcio est sendo substituda pela da rede. Quando percebemos arealidade como uma rede de relaes, nossas descries tambm formamuma rede interconectada de concepes e de modelos, na qual no hfundamentos. (...) os fenmenos descritos pela fsica no so maisfundamentais do que aqueles descritos, por exemplo, pela biologia ou pela

    psicologia. Eles pertencem a diferentes nveis sistmicos, mas nenhumdesses nveis mais fundamental que os outros. (...) Outra implicaoimportante da viso da realidade como uma rede inseparvel de relaesrefere-se concepo tradicional de objetividade cientfica. No paradigmacientfico cartesiano, acredita-se que as descries so objetivas isto ,independentes do observador humano e do processo de conhecimento. Onovo paradigma implica que a epistemologia a compreenso do processode conhecimento precisa ser explicitamente includa na descrio dosfenmenos naturais.

    Novamente percebe-se que o ato de observar, como mencionado

    anteriormente, interfere na percepo do objeto observado. Alguns fsicos, como

    Goswami (1998), afirmam que no h fenmeno se no h um observador.

    CONCLUSO

    A Conscincia humana deve ser estudada de maneira transdisciplinar, indo

    alm das disciplinas do conhecimento, mas tambm integrando conhecimentos dedisciplinas como a psicologia e, particularmente, a Psicologia Transpessoal, as

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    12REICHOW, Jeverson. Conscincia e transdisciplinaridade. In: SIMPSIONACIONAL SOBRE CONSCINCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador:Fundao Ocidemnte, 2006. 1 CD-ROM.

    neurocincias, a fsica quntica, e das grandes tradies sapienciais, como o

    budismo, o hindusmo, o taosmo, o zen e o xamanismo. Cada uma das vises tem

    uma importante contribuio ao estudo da conscincia. Alm disso, a

    Transdisciplinaridade pode contribuir com importantes fundamentos tericos para o

    estudo da Conscincia. Por outro lado, as experincias da Conscincia

    proporcionam o experienciar de diferentes Nveis de Realidade, como os descritos

    na cosmoviso xamnica, ou nos diferentes modelos de cartografias da Conscincia

    descritos a partir das pesquisas da Psicologia Transpessoal.

    A cincia ocidental construiu seu conhecimento a partir do estado de

    conscincia de viglia, no qual a realidade percebida como fragmentada e, por

    isso, criou tantas disciplinas e reas, perdendo muitas vezes a viso do Todo. O

    aporte Transdisciplinar da Conscincia possibilita perceber que existem diferentes

    Nveis de Conscincia. Ao contrrio da viso disciplinar que classifica e cria

    categorias que, no caso da Conscincia, separam o que normal daquilo que

    patolgico. Essa uma viso ainda bastante comum em algumas correntes

    psicolgicas.

    Desta maneira, a viso Transdisciplinar tem muito a contribuir para o estudoda conscincia e este, por sua vez tem muito a acrescentar Transdisciplinaridade.

    So reas de estudo que detm entre si alto nvel de complementaridade. Nestes

    tempos em que tanto se fala em mudana de paradigma cientfico, o

    aprofundamento destas relaes pode ser profundamente fecundo para a Cincia.

    Para finalizar, importante lembrar que o conhecimento nunca est dado nem

    acabado e manter a abertura para o novo e no esquecer que a cincia deve estar a

    servio do bem coletivo.

    Referncias

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