comunicado associação pescadores armação pêra
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Comunicado
Associação de pescadores de Armação de Pêra
Com a entrada de Portugal na União Europeia iniciou-se o processo de
aniquilação das pequenas comunidades de pesca artesanal que
caracterizam o nosso país.
Os pescadores de Portugal, sob o domínio de governos que sabem
“mascarar” a realidade, têm sido alvo de todo o tipo de pressões.
Foram impostas condições que têm afectado, particularmente, as
comunidades de pesca artesanal que, caracterizadas por pequenas
embarcações, muitas com apenas um pescador a bordo, têm sido alvo de
exigências que, só com muito sacrifício, têm conseguido cumprir.
Depois de nos ter sido imposto um valor mínimo de vendagem em lota
como contrapartida à continuidade do exercício da profissão; depois de
limitadas as licenças que condicionam os períodos de tempo em que
podemos ter rendimentos; depois de serem impostas limitações em
termos de mobilidade no mar (obrigatoriedade de estar sempre próximo
de outra embarcação, a menos de 250m) e todo o tipo de normas de
segurança que implicaram avultadas despesas, poucos foram os
pescadores que resistiram a todas as exigências e, por todo o país
assistimos ao abate de embarcações, diminuindo a frota nacional
consideravelmente.
Como se tudo isto não bastasse, o valor do pescado, nas lotas, de tão
irrisório, é um verdadeiro escândalo.
Depois de todos estes anos de fundos comunitários para apoiar as pescas,
pensávamos nós que era para dinamizar o sector, mas afinal concluímos
que, a cada dia que passa e a cada norma que sai, ficamos mais
empobrecidos.
Substituímos as tradicionais embarcações de madeira pelos barcos de
fibra, foram construídos apoios de pesca um pouco por todo o país (que
possivelmente serão desmontados e queimados como o foram os barcos
de madeira tradicionais) e assim apagamos, definitivamente, a memória
de uma actividade profissional secular que marcou a vida de muitos
portugueses.
São as políticas que os governos de Portugal têm deixado vingar, são as
normas que deixaram os pescadores da pesca artesanal a viver no limiar
da pobreza, com medo de exercer a única profissão que conhecem desde
tenra idade.
São tantas as exigências, tantas as normas, que, actualmente, ser
pescador é uma profissão de alto risco, não no mar, mas em Portugal.
O novo regime contributivo para a Segurança Social parece ser a última
medida governamental de abate de embarcações.
As embarcações que actualmente se encontram nas praias do país são,
seguramente, as últimas.
Os pescadores vão ao mar por necessidade, não são homens que
procuram uma vida fácil ou lucrativa, são os resistentes, os que não
querem facilidades, querem o simples direito de viver a vida que lhes foi
imposta pelas circunstâncias.
Indiferentes a esta realidade estão os nossos representantes, autárquicos
e governamentais, prova disto é este novo regime contributivo, que ditará
o nosso fim, um crime social protegido pela lei!
O que o novo regime contributivo vai provocar no seio das comunidades
de pesca, é a inédita situação de dívidas à Segurança Social por parte dos
pescadores, com a consequente perda de licenças e do direito de exercer
livremente a profissão e, quem sabe, com as embarcações penhoradas e
vendidas em hasta pública.
Se o limite de lotas que permite a renovação das licenças está nos 6000€
e, pelo regime antigo, uma embarcação com este volume de vendas
rendia ao estado 600€, com o novo regime que agora nos querem impor,
esse valor sobe para 1416€, mais do dobro. Tudo se resume a números e a
indiferença.
A Associação de Pescadores de Armação de Pêra tem muitos associados
que não têm condição económica para cumprir com o novo código
contributivo.
Temos atravessado momentos difíceis e toda a comunidade se encontra
fragilizada economicamente. São muitas as dívidas aos fornecedores de
redes, ao mecânico, ao pagamento dos serviços prestados pela
Associação.
A Associação de Pescadores de Armação de Pêra é absolutamente contra
o novo regime contributivo. Só no dia 10 de Fevereiro é que nos alertaram
para este novo regime e para a obrigatoriedade do pagamento.
Praticamente sem pescas realizadas porque o tempo não o permite e o
peixe escasseia, alguns porque são detentores de licenças que não são de
pesca durante esta época do ano, sem outra fonte de rendimento que não
seja esta, com famílias a cargo e encargos financeiros regulares, os
pescadores desta vila não têm como suportar mais este encargo, que não
depende da quantidade de pesca realizada: são obrigados a pagar mesmo
sem terem rendimento algum!
Acreditamos que temos o direito de ver esclarecida esta situação e de
serem considerados todos os factores que condicionam a actividade
profissional dos pescadores, para que seja mantido o antigo regime e seja
considerado tripulante da embarcação o pescador armador.
Reservamo-nos o direito de não aderir ao novo código contributivo por
considerarmos que esta situação impossibilitará a grande maioria dos
pescadores a exercer a sua actividade.
As contribuições dos pescadores de Armação de Pêra estão pagas até ao
momento. O ano de 2011 iniciou-se com o regime de pagamento que
melhor nos serve e assim deverá continuar.
Ao nosso governo deixamos uma simples mensagem:
Deixem-nos terminar o nosso percurso de vida com a dignidade que
merecemos!
A Associação de Pescadores de Armação de Pêra
Armação de Pêra, 15 de Fevereiro de 2011