Com o Patrocínio de - Associação Portuguesa de Urologia · 2 3 Associação Europeia de Urologia...

10

Transcript of Com o Patrocínio de - Associação Portuguesa de Urologia · 2 3 Associação Europeia de Urologia...

Page 1: Com o Patrocínio de - Associação Portuguesa de Urologia · 2 3 Associação Europeia de Urologia (EAU) classifica-as em função da localização (uretrite, cistite, pielonefrite

Uma Publicação da:

Com o Patrocínio de:

Associação

Portuguesa

de Urologia

Page 2: Com o Patrocínio de - Associação Portuguesa de Urologia · 2 3 Associação Europeia de Urologia (EAU) classifica-as em função da localização (uretrite, cistite, pielonefrite

Associação

Portuguesa

de Urologia

IntroduçãoA infeção do trato urinário (ITU) é uma

das infeções bacterianas mais frequen-

tes, com elevados custos para a socieda-

de. Um estudo europeu refere que uma

em cada cinco mulheres adultas tem pelo

menos um episódio de ITU ao longo da

vida (1).

Nos Estados Unidos daAmérica (EUA)

a sua incidência está melhor documen-

tada. A ITU motiva mais de 7 milhões de

visitas médicas anuais (2) e é responsá-

vel por 15% dos antibióticos prescritos em

ambulatório (3). Estima-se que mais de

metade das mulheres tenha pelo menos

uma ITU ao longo da vida e um terço das

mulheres sofra o primeiro episódio até

aos 24 anos de idade (4).

Se, por um lado, o risco de progressão

da cistite para pielonefrite é negligenciá-

vel, por outro lado, o potencial de recor-

rência é elevado. Um estudo de 1990 em

Prevenção das InfeçõesUrinárias Recorrentes

Sérgio Pereira

jovens universitárias demonstrou, aos

seis meses, 27% de recorrência e 3% de

segundas recorrências (5). Um estudo

mais recente, com mulheres saudáveis

entre os 18 e os 39 anos, verificou que

aos seis meses o risco de recorrência

depois de uma primeira ITU é de 24% (6).

Estima-se que nos EUA os custos

anuais relacionados com ITU rondem os

1600 milhões de dólares (4).

Por todos estes fatores, é fundamental

que os episódios de ITU sejam correta-

mente diagnosticados, tratados e preve-

nidos, tendo em atenção o correto uso

dos antibióticos, de modo a não potenciar

o aumento das resistências.

A classificação das ITU tem vindo a

ser alterada e não é ainda consensual. A

Cistitenão Complicada

Assistente Hospitalar – CHLN – Hospital de Santa Maria Especialista de Urologia–

Page 3: Com o Patrocínio de - Associação Portuguesa de Urologia · 2 3 Associação Europeia de Urologia (EAU) classifica-as em função da localização (uretrite, cistite, pielonefrite

2 3

Associação Europeia de Urologia (EAU)

classifica-as em função da localização

(uretrite, cistite, pielonefrite e sépsis), da

gravidade, dos fatores de risco do hospe-

deiro e se é complicada ou não (7).As ITU

não complicadas são aquelas que ocor-

rem em doentes saudáveis e na ausência

de anomalias estruturais ou funcionais do

aparelho urinário (8). Todas as outras são

consideradas complicadas – tabela 1 (9).

A cistite não complicada é a ITU mais

frequente. O correto diagnóstico e trata-

mento desta entidade constituem passos

fundamentais na prevenção das ITU re-

correntes.

A cistite não complicada consiste por-

tanto na infeção da mucosa vesical em

indivíduos sem comorbilidades ou ano-

malias estruturais ou funcionais do apare-

lho urinário.A infeção resulta da interação

entre o agente infecioso e o hospedeiro.

Depende do volume do inóculo, de fato-

res de virulência da bactéria (adesinas

bacterianas como os Pili tipo 1 ou Pili P,

que facilitam a aderência ao urotélio) e da

falência dos mecanismos de defesa (co-

mo o normal fluxo urinário, a esfoliação

contínua do urotélio e a habitual flora do

intróito vaginal). Salientam-se também al-

terações fenotípicas que facilitam a ade-

rência de determinadas bactérias ao uro-

télio ou ao epitélio vaginal (8).

Os microrganismos podem chegar ao

aparelho urinário por via hematogénea ou

linfática, mas a via habitual é a ascenden-

te, com origem no reservatório intestinal.

Assim se explica que os agentes mais fre-

quentes sejam Enterobacteriaceae como

a Escherichia coli (70% a 90%), Proteus

mirabilis ou Klesiela spp (10). Outros

agentes gram-positivos como Stafilococ-

cus saprofiticus e Enterococcus faecalis

são responsáveis pelas restantes infe-

ções (1). Existem determinados fatores

que facilitam a chegada destes agentes à

bexiga, como as alterações do trânsito in-

testinal ou da flora vaginal, a atividade

sexual ou o uso de espermicidas.

A cistite apresenta-se habitualmente

com disúria, aumento da frequência e ur-

gência urinária. Também podem estar

presentes dor supra-púbica, hematúria

ou urina com cheiro fétido. A probabili-

dade destes sintomas corresponderem a

cistite é de 50% se isolados e 90% se em

combinação (11).

O único exame complementar reco-

mendado é a tira-teste. A urocultura deve

ser reservada para doentes com pielone-

frite não complicada, infeção recorrente

ou com sintomatologia atípica. Estes últi-

mos, assim como aqueles que não res-

pondem à terapêutica adequada, devem

ser apropriadamente estudados com exa-

mes de imagem ou funcionais (7).

Atualmente, os esquemas terapêuti-

cos recomentados são os seguintes –

tabela 2 (7; 12):

A avaliação analítica depois de cum-

prido o ciclo de antibioterapia com suces-

so não é necessária (7; 8).

A ITU recorrente não complicada defi-

ne-se pela existência de pelo menos três

episódios em 12 meses (9).

Infeção UrináriaRecorrente

COMPLICAÇÃO EXEMPLOS

Anomalia anatómica Cistocele, divertículo, fístula

Iatrogenia Algaliação, infeção nosocomial, cirurgia

Disfunção miccional Doença neurológica, disfunção do pavimento pélvico,

resíduo pós-miccional aumentado, incontinência

Obstrução urinária Hipertrofia benigna da próstata, estenose uretral,

estenose da junção pielo-ureteral

Outras Gravidez, litíase, imunossupressão

Tabela 1 – fatores que definem uma ITU como complicada.

ANTIBIÓTICO POSOLOGIA DURAÇÃO

1ª linha

Fosfomicina 3 g toma única 1 dia

Nitrofurantoína 100 mg 12/12 h 5-7 dias

Cotrimoxazol * 960 mg 12/12h 3 dias

Alternativas

Ciprofloxacina 250 mg 12/12h 3 dias

Levofloxacina 250 mg 24/24 h 3 dias

Norfloxacina 400 mg 12/12 h 3 dias

Ofloxacina 200 mg 12/12 h 3 dias

Tabela 2 – recomendações internacionais para o tratamento da cistite. * A utilização de

cotrimoxazol implica o conhecimento de taxas de resistências da E.coli inferiores a 20%

Page 4: Com o Patrocínio de - Associação Portuguesa de Urologia · 2 3 Associação Europeia de Urologia (EAU) classifica-as em função da localização (uretrite, cistite, pielonefrite

2 3

Associação Europeia de Urologia (EAU)

classifica-as em função da localização

(uretrite, cistite, pielonefrite e sépsis), da

gravidade, dos fatores de risco do hospe-

deiro e se é complicada ou não (7).As ITU

não complicadas são aquelas que ocor-

rem em doentes saudáveis e na ausência

de anomalias estruturais ou funcionais do

aparelho urinário (8). Todas as outras são

consideradas complicadas – tabela 1 (9).

A cistite não complicada é a ITU mais

frequente. O correto diagnóstico e trata-

mento desta entidade constituem passos

fundamentais na prevenção das ITU re-

correntes.

A cistite não complicada consiste por-

tanto na infeção da mucosa vesical em

indivíduos sem comorbilidades ou ano-

malias estruturais ou funcionais do apare-

lho urinário.A infeção resulta da interação

entre o agente infecioso e o hospedeiro.

Depende do volume do inóculo, de fato-

res de virulência da bactéria (adesinas

bacterianas como os Pili tipo 1 ou Pili P,

que facilitam a aderência ao urotélio) e da

falência dos mecanismos de defesa (co-

mo o normal fluxo urinário, a esfoliação

contínua do urotélio e a habitual flora do

intróito vaginal). Salientam-se também al-

terações fenotípicas que facilitam a ade-

rência de determinadas bactérias ao uro-

télio ou ao epitélio vaginal (8).

Os microrganismos podem chegar ao

aparelho urinário por via hematogénea ou

linfática, mas a via habitual é a ascenden-

te, com origem no reservatório intestinal.

Assim se explica que os agentes mais fre-

quentes sejam Enterobacteriaceae como

a Escherichia coli (70% a 90%), Proteus

mirabilis ou Klesiela spp (10). Outros

agentes gram-positivos como Stafilococ-

cus saprofiticus e Enterococcus faecalis

são responsáveis pelas restantes infe-

ções (1). Existem determinados fatores

que facilitam a chegada destes agentes à

bexiga, como as alterações do trânsito in-

testinal ou da flora vaginal, a atividade

sexual ou o uso de espermicidas.

A cistite apresenta-se habitualmente

com disúria, aumento da frequência e ur-

gência urinária. Também podem estar

presentes dor supra-púbica, hematúria

ou urina com cheiro fétido. A probabili-

dade destes sintomas corresponderem a

cistite é de 50% se isolados e 90% se em

combinação (11).

O único exame complementar reco-

mendado é a tira-teste. A urocultura deve

ser reservada para doentes com pielone-

frite não complicada, infeção recorrente

ou com sintomatologia atípica. Estes últi-

mos, assim como aqueles que não res-

pondem à terapêutica adequada, devem

ser apropriadamente estudados com exa-

mes de imagem ou funcionais (7).

Atualmente, os esquemas terapêuti-

cos recomentados são os seguintes –

tabela 2 (7; 12):

A avaliação analítica depois de cum-

prido o ciclo de antibioterapia com suces-

so não é necessária (7; 8).

A ITU recorrente não complicada defi-

ne-se pela existência de pelo menos três

episódios em 12 meses (9).

Infeção UrináriaRecorrente

COMPLICAÇÃO EXEMPLOS

Anomalia anatómica Cistocele, divertículo, fístula

Iatrogenia Algaliação, infeção nosocomial, cirurgia

Disfunção miccional Doença neurológica, disfunção do pavimento pélvico,

resíduo pós-miccional aumentado, incontinência

Obstrução urinária Hipertrofia benigna da próstata, estenose uretral,

estenose da junção pielo-ureteral

Outras Gravidez, litíase, imunossupressão

Tabela 1 – fatores que definem uma ITU como complicada.

ANTIBIÓTICO POSOLOGIA DURAÇÃO

1ª linha

Fosfomicina 3 g toma única 1 dia

Nitrofurantoína 100 mg 12/12 h 5-7 dias

Cotrimoxazol * 960 mg 12/12h 3 dias

Alternativas

Ciprofloxacina 250 mg 12/12h 3 dias

Levofloxacina 250 mg 24/24 h 3 dias

Norfloxacina 400 mg 12/12 h 3 dias

Ofloxacina 200 mg 12/12 h 3 dias

Tabela 2 – recomendações internacionais para o tratamento da cistite. * A utilização de

cotrimoxazol implica o conhecimento de taxas de resistências da E.coli inferiores a 20%

Page 5: Com o Patrocínio de - Associação Portuguesa de Urologia · 2 3 Associação Europeia de Urologia (EAU) classifica-as em função da localização (uretrite, cistite, pielonefrite

4

Esta pode ser originada pela reemer-

gência de bactérias de um determinado

locus no aparelho urinário (infeção per-

sistente) ou por nova colonização do apa-

relho urinário (reinfeção) (8).

Na persistência bacteriana, o micror-

ganismo isolado é habitualmente sempre

o mesmo e as infeções são separadas

por um curto hiato temporal (9).

A infeção persistente relaciona-se com

anomalias do aparelho urinário que são

habitualmente corrigíveis – tabela 3 (13).

O estudo morfológico e/ou funcional é

de extrema importância, de modo a iden-

tificar e corrigir a anomalia que perpetua a

infeção.

A reinfeção acontece habitualmente

em intervalos superiores a duas semanas

Infeção Persistente

Reinfeção

e o microrganismo isolado é habitual-

mente diferente. Pode ser a mesma espé-

cie, mas com intervalo entre episódios

superior a 2 semanas, com um exame

cultural negativo entre eles ou de estirpe

diferente (9).

Estas doentes não têm, frequente-

mente, qualquer anomalia corrigível do

aparelho urinário, pelo que necessitam de

outra abordagem.

Embora sem nível de evidência e com

poucos estudos clínicos válidos, existem

algumas medidas gerais que são habi-

tualmente recomendadas: hidratação; hi-

giene adequada (mas não excessiva, de

modo a não alterar a flora vaginal); mic-

ção pós-coito; evicção de espermicidas;

entre outros (14).

A profilaxia antibiótica está recomen-

dada se existirem dois ou mais episódios

MEDIDAS GERAIS:

PROFILAXIA ANTIBIÓTICA:

de ITU em seis meses ou três ou mais

episódios em 12 meses (7; 8; 15).

Deve ser utilizada apenas depois da

falência das medidas gerais e, em opção,

da imunoprofilaxia e/ou arando vermelho

(9). Deve ser iniciada apenas depois de

erradicada a infeção e a escolha do anti-

biótico deve ser realizada caso a caso e

tendo em atenção o padrão de sensibili-

dades do microrganismo isolado (7). A

Tabela 4 lista as várias opções.

Existem três esquemas possíveis.

A profilaxia contínua é realizada com

uma toma diária (ao deitar) ou a intervalos

regulares. Está indicada para a maioria

das doentes com indicação para profila-

xia antibiótica. Implica uma monitoriza-

ção regular (mensal a trimestral) com uro-

cultura, pois a recidiva pode ser assinto-

mática (8; 15). A duração habitual do

primeiro ciclo de profilaxia contínua é de

seis meses. Após o seu término, quase

um terço dos doentes apresentará uma

remissão prolongada. Mas a maioria vai

retomar a frequência habitual de ITU,

pelo que a profilaxia deverá ser retomada

(15; 16).

A profilaxia pós-coito, que apresenta

taxas de sucesso equivalentes à profila-

xia contínua, deve ser reservada para os

casos em que existe uma relação causa-

-efeito entre a atividade sexual e os epi-

sódios de ITU (17). A mulher deve ser ins-

truída a fazer a toma da dose recomen-

dada até duas horas após o coito e não

ultrapassar uma toma diária, indepen-

dentemente da frequência da atividade

sexual (9).

A terapêutica autoinstituída deve ser

reservada para mulheres diferenciadas,

capazes de reconhecer a sintomatologia

e interpretar uma tira-teste. A estas mu-

Corpo estranho Cálculos de infecção

Necrose papilar Rim atrófico infetado

Quisto renal infetado Duplicação ureteral com meato ectópico

Prostatite crónica bacteriana Divertículo da uretra

Glândula peri-uretral infetada Quisto do úraco infetado

Abcesso perivesical Fístula urinária

Tabela 3 – anomalias do aparelho urinário responsáveis por persistência bacteriana

CONTÍNUA PÓS-COITO

Cotrimoxazol 40/200 mg diário ou 3x/semana Cotrimoxazol 80/400 mg

Nitrofurantoína 50 ou 100 mg diário Nitrofurantoína 50 ou 100 mg

Cefaclor 250 mg diário Ciprofloxacina 250 mg

Norfloxacina 200 mg diário Norfloxacina 200 mg

Ciprofloxacina 250 mg diário Ofloxacina 100 mg

Fosfomicina 3g a cada 10 dias

Tabela 4 – profilaxia antibiótica recomendada pela EAU adaptada ao prontuário

nacional. Pode ser necessária a divisão dos comprimidos

5

Page 6: Com o Patrocínio de - Associação Portuguesa de Urologia · 2 3 Associação Europeia de Urologia (EAU) classifica-as em função da localização (uretrite, cistite, pielonefrite

4

Esta pode ser originada pela reemer-

gência de bactérias de um determinado

locus no aparelho urinário (infeção per-

sistente) ou por nova colonização do apa-

relho urinário (reinfeção) (8).

Na persistência bacteriana, o micror-

ganismo isolado é habitualmente sempre

o mesmo e as infeções são separadas

por um curto hiato temporal (9).

A infeção persistente relaciona-se com

anomalias do aparelho urinário que são

habitualmente corrigíveis – tabela 3 (13).

O estudo morfológico e/ou funcional é

de extrema importância, de modo a iden-

tificar e corrigir a anomalia que perpetua a

infeção.

A reinfeção acontece habitualmente

em intervalos superiores a duas semanas

Infeção Persistente

Reinfeção

e o microrganismo isolado é habitual-

mente diferente. Pode ser a mesma espé-

cie, mas com intervalo entre episódios

superior a 2 semanas, com um exame

cultural negativo entre eles ou de estirpe

diferente (9).

Estas doentes não têm, frequente-

mente, qualquer anomalia corrigível do

aparelho urinário, pelo que necessitam de

outra abordagem.

Embora sem nível de evidência e com

poucos estudos clínicos válidos, existem

algumas medidas gerais que são habi-

tualmente recomendadas: hidratação; hi-

giene adequada (mas não excessiva, de

modo a não alterar a flora vaginal); mic-

ção pós-coito; evicção de espermicidas;

entre outros (14).

A profilaxia antibiótica está recomen-

dada se existirem dois ou mais episódios

MEDIDAS GERAIS:

PROFILAXIA ANTIBIÓTICA:

de ITU em seis meses ou três ou mais

episódios em 12 meses (7; 8; 15).

Deve ser utilizada apenas depois da

falência das medidas gerais e, em opção,

da imunoprofilaxia e/ou arando vermelho

(9). Deve ser iniciada apenas depois de

erradicada a infeção e a escolha do anti-

biótico deve ser realizada caso a caso e

tendo em atenção o padrão de sensibili-

dades do microrganismo isolado (7). A

Tabela 4 lista as várias opções.

Existem três esquemas possíveis.

A profilaxia contínua é realizada com

uma toma diária (ao deitar) ou a intervalos

regulares. Está indicada para a maioria

das doentes com indicação para profila-

xia antibiótica. Implica uma monitoriza-

ção regular (mensal a trimestral) com uro-

cultura, pois a recidiva pode ser assinto-

mática (8; 15). A duração habitual do

primeiro ciclo de profilaxia contínua é de

seis meses. Após o seu término, quase

um terço dos doentes apresentará uma

remissão prolongada. Mas a maioria vai

retomar a frequência habitual de ITU,

pelo que a profilaxia deverá ser retomada

(15; 16).

A profilaxia pós-coito, que apresenta

taxas de sucesso equivalentes à profila-

xia contínua, deve ser reservada para os

casos em que existe uma relação causa-

-efeito entre a atividade sexual e os epi-

sódios de ITU (17). A mulher deve ser ins-

truída a fazer a toma da dose recomen-

dada até duas horas após o coito e não

ultrapassar uma toma diária, indepen-

dentemente da frequência da atividade

sexual (9).

A terapêutica autoinstituída deve ser

reservada para mulheres diferenciadas,

capazes de reconhecer a sintomatologia

e interpretar uma tira-teste. A estas mu-

Corpo estranho Cálculos de infecção

Necrose papilar Rim atrófico infetado

Quisto renal infetado Duplicação ureteral com meato ectópico

Prostatite crónica bacteriana Divertículo da uretra

Glândula peri-uretral infetada Quisto do úraco infetado

Abcesso perivesical Fístula urinária

Tabela 3 – anomalias do aparelho urinário responsáveis por persistência bacteriana

CONTÍNUA PÓS-COITO

Cotrimoxazol 40/200 mg diário ou 3x/semana Cotrimoxazol 80/400 mg

Nitrofurantoína 50 ou 100 mg diário Nitrofurantoína 50 ou 100 mg

Cefaclor 250 mg diário Ciprofloxacina 250 mg

Norfloxacina 200 mg diário Norfloxacina 200 mg

Ciprofloxacina 250 mg diário Ofloxacina 100 mg

Fosfomicina 3g a cada 10 dias

Tabela 4 – profilaxia antibiótica recomendada pela EAU adaptada ao prontuário

nacional. Pode ser necessária a divisão dos comprimidos

5

Page 7: Com o Patrocínio de - Associação Portuguesa de Urologia · 2 3 Associação Europeia de Urologia (EAU) classifica-as em função da localização (uretrite, cistite, pielonefrite

lheres deve ser fornecido um ciclo com-

pleto de antibioterapia, preferencial-

mente um ciclo de três dias de quinolona.

Não há necessidade de realizar urocul-

tura, mas devem estar avisadas para

consultar um médico se a sintomatologia

não resolver em 48 horas.

O único imunoestimulante oral sufi-

cientemente documentado e recomenda-

do pelas guidelines da EAU é o extrato de

Escherichia coli (OM-89) – Uro-Vaxom®

(7).

A utilização deste lisado bacteriano

reduz a taxa de recidivas infeciosas em

39% (18; 19).

Esta abordagem tem a mais-valia de

não alterar a flora intestinal, a flora vagi-

nal nem as taxas de resistência aos anti-

bióticos.

O arando vermelho tem sido utilizado

na prática, mas os estudos clínicos são

contraditórios (20; 21; 22).Apesar da con-

trovérsia, está recomendada a ingestão

dária de 36 mg de proantocianidina tipo A

– o principio ativo, que impede a ligação

da E.coli ao urotélio (7; 23).

A utilização oral ou vaginal de pro-

bióticos como forma de regularizar a flo-

ra vaginal, e deste modo competir com

os uropatogénios, tem sido estudada

mas os resultados ainda não estão vali-

IMUNOPROFILAXIA:

OUTROS:

dados (24). É aceitável a utilização das

duas estirpes mais estudadas: Lactoba-

cillis rhamnosus GR-1 e L. reuteri RC-14

(7).

A utilização de estrogénios por via va-

ginal tem sido advogada para mulheres

pós-menopausa, pois restitui as caracte-

rísticas da vagina, permitindo a recoloni-

zação desta por lactobacilos (25; 26).

1. Naber KG, Schito G, Botto H, Palou J,

Mazzei T. Surveillance study in Europe

and Brazil on clinical aspects and Anti-

microbial Resistance Epidemiology in

Females with Cystitis (ARESC): implica-

tions for empiric therapy. Eur Urol. 2008

Nov;54(5):1164-75.

2. Foxman B. Epidemiology of urinary tract

infections: incidence, morbidity, and eco-

nomic costs. Am J Med. 2002 Jul 8;113

Suppl 1A:5S-13S.

3. Mazzulli T. Resistance trends in urinary

tract pathogens and impact on manage-

ment. J Urol. 2002 Oct;168(4 Pt 2):1720-

-2.

4. Foxman B, Barlow R, D'Arcy H, Gillespie

B, Sobel JD. Urinary tract infection: self-

-reported incidence and associated costs.

Ann Epidemiol. 2000 Nov;10(8):509-15.

5. Foxman B. Recurring urinary tract infec-

tion: incidence and risk factors. Am J Pu-

blic Health. 1990 Mar;80(3):331-3.

6. Foxman B, Gillespie B, Koopman J,

Zhang L, Palin K, Tallman P, Marsh JV,

Spear S, Sobel JD, Marty MJ, Marrs CF.

Risk factors for second urinary tract infec-

Bibliografia

tion among college women. Am J Epide-

miol. 2000 Jun 15;151(12):1194-205.

7. Grabe M, Bjerklund-Johansen TE, Botto

H, Wult B, Çek M, Naber KG, Pickard RS,

Tenke P, Wagenlehner. Guidelines on

Urological Infections. European Asso-

ciation of Urology, 2012. 8. Schaeffer AJ,

Schaeffer EM. Chapter

8. Infections of the Urinary Tract. Wein, Ka-

voussi, Novick, Partin, Peters: Campbell-

Walsh Urology, 9th ed., Saunders. 2007.

9. Dason S, Dason JT, KapoorA. Guidelines

for the diagnosis and management of

recurrent urinary tract infection in women.

Can Urol Assoc J. 2011 October; 5(5):

316–322.

10. Echols RM, Tosiello RL, Haverstock DC,

Tice AD. Demographic, clinical, and

treatment parameters influencing the

outcome of acute cystitis. Clin Infect Dis.

1999 Jul;29(1):113-9.

11. Bent S, Saint S. The optimal use of diag-

nostic testing in women with acute un-

complicated cystitis. Am J Med. 2002 Jul

8;113 Suppl 1A:20S-28S.

12. Gupta K, Hooton TM, Naber KG, Wullt B,

Colgan R, Miller LG, Moran GJ, Nicolle

LE, Raz R, SchaefferAJ, Soper DE. Inter-

national clinical practice guidelines for

the treatment of acute uncomplicated

cystitis and pyelonephritis in women: A

2010 update by the Infectious Diseases

Society of America and the European

Society for Microbiology and Infectious

Diseases. Clin Infect Dis. 2011 Mar 1;52

(5):e103-20.

13. Stamey TA. Pathogenesis and Treatment

of Urinary Tract Infections. Williams &

Wilkins, 1980.

14. Brusch JL, Bronze MA. Prevention of

Urinary Tract Infection. Medscape refe-

rence. [Online] http://emedicine.medsca

pe.com/article/2040239-overview.

15. Enzler MJ, Berbari E, Osmon DR. Anti-

microbial prophylaxis in adults. Mayo Clin

Proc. 2011 Jul;86(7):686-701.

16. Kraft JK, Stamey TA. The natural history

of symptomatic recurrent bacteriuria in

women. Medicine (Baltimore). 1977 Jan;

56(1):55-60.

17. Stapleton A, Latham RH, Johnson C,

Stamm WE. Postcoital antimicrobial pro-

phylaxis for recurrent urinary tract infec-

tion. A randomized, double-blind, pla-

cebo-controlled trial. JAMA. 1990 Aug 8;

264(6):703-6.

18. Bauer HW, Alloussi S, Egger G, Blümlein

HM, Cozma G, Schulman CC e Group,

Multicenter UTI Study. A long-term, multi-

center, double-blind study of an Esche-

richia coli extract (OM-89) in female

patients with recurrent urinary tract

infections. Eur Urol. 2005 Apr;47(4):542-

-8.

19. Naber KG, Cho YH, Matsumoto T,

Schaeffer AJ. Immunoactive prophylaxis

of recurrent urinary tract infections: a me-

ta-analysis. Int J Antimicrob Agents. 2009

Feb;33(2):111-9.

20. Kontiokari T, Sundqvist K, Nuutinen M,

Pokka T, Koskela M, Uhari M. Rando-

mised trial of cranberry-lingonberry jui-

ce and Lactobacillus GG drink for the

prevention of urinary tract infections in

women. BMJ. 2001 Jun 30;322(7302):

1571.

21. Barbosa-Cesnik C, Brown MB, Buxton M,

Zhang L, DeBusscher J, Foxman B. Cran-

6 7

Page 8: Com o Patrocínio de - Associação Portuguesa de Urologia · 2 3 Associação Europeia de Urologia (EAU) classifica-as em função da localização (uretrite, cistite, pielonefrite

lheres deve ser fornecido um ciclo com-

pleto de antibioterapia, preferencial-

mente um ciclo de três dias de quinolona.

Não há necessidade de realizar urocul-

tura, mas devem estar avisadas para

consultar um médico se a sintomatologia

não resolver em 48 horas.

O único imunoestimulante oral sufi-

cientemente documentado e recomenda-

do pelas guidelines da EAU é o extrato de

Escherichia coli (OM-89) – Uro-Vaxom®

(7).

A utilização deste lisado bacteriano

reduz a taxa de recidivas infeciosas em

39% (18; 19).

Esta abordagem tem a mais-valia de

não alterar a flora intestinal, a flora vagi-

nal nem as taxas de resistência aos anti-

bióticos.

O arando vermelho tem sido utilizado

na prática, mas os estudos clínicos são

contraditórios (20; 21; 22).Apesar da con-

trovérsia, está recomendada a ingestão

dária de 36 mg de proantocianidina tipo A

– o principio ativo, que impede a ligação

da E.coli ao urotélio (7; 23).

A utilização oral ou vaginal de pro-

bióticos como forma de regularizar a flo-

ra vaginal, e deste modo competir com

os uropatogénios, tem sido estudada

mas os resultados ainda não estão vali-

IMUNOPROFILAXIA:

OUTROS:

dados (24). É aceitável a utilização das

duas estirpes mais estudadas: Lactoba-

cillis rhamnosus GR-1 e L. reuteri RC-14

(7).

A utilização de estrogénios por via va-

ginal tem sido advogada para mulheres

pós-menopausa, pois restitui as caracte-

rísticas da vagina, permitindo a recoloni-

zação desta por lactobacilos (25; 26).

1. Naber KG, Schito G, Botto H, Palou J,

Mazzei T. Surveillance study in Europe

and Brazil on clinical aspects and Anti-

microbial Resistance Epidemiology in

Females with Cystitis (ARESC): implica-

tions for empiric therapy. Eur Urol. 2008

Nov;54(5):1164-75.

2. Foxman B. Epidemiology of urinary tract

infections: incidence, morbidity, and eco-

nomic costs. Am J Med. 2002 Jul 8;113

Suppl 1A:5S-13S.

3. Mazzulli T. Resistance trends in urinary

tract pathogens and impact on manage-

ment. J Urol. 2002 Oct;168(4 Pt 2):1720-

-2.

4. Foxman B, Barlow R, D'Arcy H, Gillespie

B, Sobel JD. Urinary tract infection: self-

-reported incidence and associated costs.

Ann Epidemiol. 2000 Nov;10(8):509-15.

5. Foxman B. Recurring urinary tract infec-

tion: incidence and risk factors. Am J Pu-

blic Health. 1990 Mar;80(3):331-3.

6. Foxman B, Gillespie B, Koopman J,

Zhang L, Palin K, Tallman P, Marsh JV,

Spear S, Sobel JD, Marty MJ, Marrs CF.

Risk factors for second urinary tract infec-

Bibliografia

tion among college women. Am J Epide-

miol. 2000 Jun 15;151(12):1194-205.

7. Grabe M, Bjerklund-Johansen TE, Botto

H, Wult B, Çek M, Naber KG, Pickard RS,

Tenke P, Wagenlehner. Guidelines on

Urological Infections. European Asso-

ciation of Urology, 2012. 8. Schaeffer AJ,

Schaeffer EM. Chapter

8. Infections of the Urinary Tract. Wein, Ka-

voussi, Novick, Partin, Peters: Campbell-

Walsh Urology, 9th ed., Saunders. 2007.

9. Dason S, Dason JT, KapoorA. Guidelines

for the diagnosis and management of

recurrent urinary tract infection in women.

Can Urol Assoc J. 2011 October; 5(5):

316–322.

10. Echols RM, Tosiello RL, Haverstock DC,

Tice AD. Demographic, clinical, and

treatment parameters influencing the

outcome of acute cystitis. Clin Infect Dis.

1999 Jul;29(1):113-9.

11. Bent S, Saint S. The optimal use of diag-

nostic testing in women with acute un-

complicated cystitis. Am J Med. 2002 Jul

8;113 Suppl 1A:20S-28S.

12. Gupta K, Hooton TM, Naber KG, Wullt B,

Colgan R, Miller LG, Moran GJ, Nicolle

LE, Raz R, SchaefferAJ, Soper DE. Inter-

national clinical practice guidelines for

the treatment of acute uncomplicated

cystitis and pyelonephritis in women: A

2010 update by the Infectious Diseases

Society of America and the European

Society for Microbiology and Infectious

Diseases. Clin Infect Dis. 2011 Mar 1;52

(5):e103-20.

13. Stamey TA. Pathogenesis and Treatment

of Urinary Tract Infections. Williams &

Wilkins, 1980.

14. Brusch JL, Bronze MA. Prevention of

Urinary Tract Infection. Medscape refe-

rence. [Online] http://emedicine.medsca

pe.com/article/2040239-overview.

15. Enzler MJ, Berbari E, Osmon DR. Anti-

microbial prophylaxis in adults. Mayo Clin

Proc. 2011 Jul;86(7):686-701.

16. Kraft JK, Stamey TA. The natural history

of symptomatic recurrent bacteriuria in

women. Medicine (Baltimore). 1977 Jan;

56(1):55-60.

17. Stapleton A, Latham RH, Johnson C,

Stamm WE. Postcoital antimicrobial pro-

phylaxis for recurrent urinary tract infec-

tion. A randomized, double-blind, pla-

cebo-controlled trial. JAMA. 1990 Aug 8;

264(6):703-6.

18. Bauer HW, Alloussi S, Egger G, Blümlein

HM, Cozma G, Schulman CC e Group,

Multicenter UTI Study. A long-term, multi-

center, double-blind study of an Esche-

richia coli extract (OM-89) in female

patients with recurrent urinary tract

infections. Eur Urol. 2005 Apr;47(4):542-

-8.

19. Naber KG, Cho YH, Matsumoto T,

Schaeffer AJ. Immunoactive prophylaxis

of recurrent urinary tract infections: a me-

ta-analysis. Int J Antimicrob Agents. 2009

Feb;33(2):111-9.

20. Kontiokari T, Sundqvist K, Nuutinen M,

Pokka T, Koskela M, Uhari M. Rando-

mised trial of cranberry-lingonberry jui-

ce and Lactobacillus GG drink for the

prevention of urinary tract infections in

women. BMJ. 2001 Jun 30;322(7302):

1571.

21. Barbosa-Cesnik C, Brown MB, Buxton M,

Zhang L, DeBusscher J, Foxman B. Cran-

6 7

Page 9: Com o Patrocínio de - Associação Portuguesa de Urologia · 2 3 Associação Europeia de Urologia (EAU) classifica-as em função da localização (uretrite, cistite, pielonefrite

berry juice fails to prevent recurrent urina-

ry tract infection: results from a randomi-

zed placebo-controlled trial. Clin Infect

Dis. 2011 Jan 1;52(1):23-30.

22. Geerlings SE. Should we prevent or even

treat urinary tract infections with cranber-

ries? Future Microbiol. 2011;6(12): 1385-

-1386.

23. Jepson RG, Craig JC. Cranberries for pre-

venting urinary tract infections. Cochrane

DatabaseSyst Rev. 2008 Jan 23;(1).

24. Anukam KC, Osazuwa E, Osemene GI,

Ehigiagbe F, Bruce AW, Reid G. Clinical

study comparing probiotic Lactobacillus

GR-1 and RC-14 with metronidazole va-

ginal gel to treat symptomatic bacterial

vaginosis. Microbes Infect. 2006 Oct;8

(12-13):2772-6.

25. Raz R, Stamm WE. A controlled trial of

intravaginal estriol in postmenopausal

women with recurrent urinary tract in-

fections. N Engl J Med. 1993 Sep 9;329

(11):753-6.

26. Perrotta C,Aznar M, Mejia R,Albert X, Ng

CW. Oestrogens for preventing recurrent

urinary tract infection in postmenopausal

women. Cochrane Database Syst Rev.

2008Apr 16;(2).

Rua Nova do Almada, 95 - 3º A -- 1200-288 LISBOA -- Portugal

Tel. (351) 213 243 590 -- Fax (351) 213 243 599

E-mail: [email protected] -- Internet: www.apurologia.pt

Associação

Portuguesa

de Urologia

Urologia na Medinina Familiar-- Prevenção das Infeções Urinárias Recorrentes

Data:(Tema 6)

Julho 2012

Conselho Directivo

Tomé Lopes

Arnaldo Figueiredo

Abranches Monteiro

Carlos Silva

Miguel Ramos; Paulo Temido; João Varregoso

Presidente:

Vice-Presidente:

Secretário Geral:

Tesoureiro:

Vogais:

Produção:Patrocínio: OM PharmaDesign:

Associação Portuguesa de Urologia

João Pita Groz – Tel. 217 935 521 – E-mail: [email protected]

8

Page 10: Com o Patrocínio de - Associação Portuguesa de Urologia · 2 3 Associação Europeia de Urologia (EAU) classifica-as em função da localização (uretrite, cistite, pielonefrite

Uma Publicação da:

Com o Patrocínio de:

Associação

Portuguesa

de Urologia