CFL 506 - PROTEÇÃO FLORESTAL
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MINISTRIO DA EDUCAO E CULTURA
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CINCIAS RURAIS
DEPARTAMENTO DE CINCIAS FLORESTAIS
CADERNO DIDTICO:
CFL 506 - PROTEO FLORESTAL
Elaborado por:
Prof. Dr. Mauro Valdir Schumacher
Eng. Ftal. M.Sc. Doutorando Eleandro Jos Brun
Eng. Ftal. M.Sc. Doutoranda Francine Neves Calil
Santa Maria 2005
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SUMRIO
1. APRESENTAO ...........................................................................................................5
2. INTRODUO PROTEO FLORESTAL................................................................6 2.1. OBJETIVOS E IMPORTNCIA DA DISCIPLINA.......................................................................6 2.2. RELAO COM OUTRAS REAS DO CONHECIMENTO..........................................................6
2.2.1. Legislao Florestal .................................................................................................6 2.2.2. Meteorologia ............................................................................................................7 2.2.3. Zoologia....................................................................................................................7 2.2.4. Entomologia .............................................................................................................7 2.2.5. Fitopatologia ............................................................................................................8 2.2.6. Manejo Florestal ......................................................................................................8 2.2.7. Topografia ................................................................................................................8 2.2.8. Outros de menor importncia ..................................................................................8
2.3. CLASSIFICAO DOS AGENTES CAUSADORES DE DANOS FLORESTA ...............................9 2.3.1. O homem como fonte de danos floresta...............................................................10
3. INCNDIOS FLORESTAIS .............................................................................................12 3.1. CAUSAS DOS INCNDIOS FLORESTAIS .............................................................................12
3.1.1. Raios .......................................................................................................................12 3.1.2. Incendirios ............................................................................................................12 3.1.3. Queimas para limpeza............................................................................................14 3.1.4. Fumantes ................................................................................................................16 3.1.5. Fogos campestres ...................................................................................................16 3.1.6. Operaes florestais ...............................................................................................17 3.1.7. Estradas de ferro ....................................................................................................17 3.1.8. Diversos ..................................................................................................................17
3.2. CLASSIFICAO DOS INCNDIOS FLORESTAIS .................................................................18 3.2.1. Incndios subterrneos...........................................................................................18 3.2.2. Incndios de Superfcie...........................................................................................18 3.2.3. Incndios de Copa ..................................................................................................19
3.3. DANOS CAUSADOS ..........................................................................................................22 3.3.1. Danos diretos..........................................................................................................22 3.3.2. Danos indiretos ......................................................................................................23
3.4. PRINCPIO DE COMBUSTO..............................................................................................23 3.4.1. Materiais combustveis ...........................................................................................28
3.5. PROPAGAO DE INCNDIOS...........................................................................................29 3.6. COMPORTAMENTO DO FOGO ...........................................................................................31 3.7. EFEITOS DOS INCNDIOS FLORESTAIS..............................................................................32
3.7.1. Efeitos benficos do fogo........................................................................................32 3.7.1.1. Combate a incndios........................................................................................32 3.7.1.2. Destruio de animais nocivos, insetos e enfermidades..................................33 3.7.1.3. Favorece a germinao de sementes e regenerao de espcies florestais......33 3.7.1.4. Limpeza do terreno..........................................................................................34 3.7.1.5. Reduo do material combustvel....................................................................34 3.7.1.6. Melhora atributos do solo ................................................................................32
3.7.2. Efeitos malficos do fogo........................................................................................32 3.7.2.1. Danos ao solo ..................................................................................................32
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3.7.2.2. Capacidade produtiva da floresta ....................................................................34 3.7.2.3. Aspecto recreativo da floresta .........................................................................34 3.7.2.4. Fauna silvestre .................................................................................................35 3.7.2.5. Vegetao ........................................................................................................36 3.7.2.6. Carter protetor da floresta ..............................................................................37 3.7.2.7. Ar Atmosfrico ................................................................................................38 3.7.2.8. Propriedades diversas ......................................................................................40 3.7.2.9. Vida humana....................................................................................................40
3.8. NDICE DE PERIGO DE INCNDIOS ....................................................................................40 3.8.1. ndice de perigo de fogo ou ndice de Angstrn.....................................................40 3.8.2. ndice de inflamabilidade ou ndice de Nesterov ...................................................41 3.8.3. Frmula de Monte Alegre.......................................................................................42
4. PLANEJAMENTO, PREVENO DE INCNDIOS FLORESTAIS E REALIZAO DE QUEIMAS CONTROLADAS ............................................................43
4.1. QUEIMADAS CONTROLADAS OU PRESCRITAS .................................................................45 4.2. PLANO DE QUEIMA..........................................................................................................50 4.3. EXTINO DOS INCNDIOS FLORESTAIS ..........................................................................51
4.3.1. Planejamento das Atividades de Campo ................................................................51 4.3.2. Normas Gerais de Segurana.................................................................................52
4.3.2.1. Segurana no Transporte para o Local do Incndio ........................................52 4.3.2.2. Deslocamento da Equipe Rumo ao Incndio...................................................53 4.3.2.3. Segurana em Combate no Campo..................................................................53 4.3.2.4. Organizao do Pessoal em Combate..............................................................54 4.3.2.5. Funo do Chefe da Brigada ...........................................................................54 4.3.2.6. Responsabilidades do Chefe da Brigada .........................................................55 4.3.2.7. Primeiros Socorros ..........................................................................................55 4.3.2.8. Uso de Ferramentas .........................................................................................57 4.3.2.9. Manuteno das Ferramentas ..........................................................................58
4.4. CONSIDERAES FINAIS..................................................................................................58 5.1 INTRODUO.........................................................ERRO! MARCADOR NO DEFINIDO.
Parmetros do Fogo......................................................................................................61 Nveis de queima ..........................................................................................................61
TESTEMUNHA......................................................................................................................65 Parmetros do Fogo......................................................................................................66 Nveis de queima ..........................................................................................................66 Eryngium spp................................................................................................................67 Pteridium aquilinum .....................................................................................................67
Solanum erianthum...........................................................................................................67 Solanaceae ....................................................................................................................67 Eugenia uniflora ...........................................................................................................67 Rutaceae .......................................................................................................................67 Coentrilho .....................................................................................................................67 Rutaceae .......................................................................................................................67
CONCLUSES....................................................................................................................68
6. AGENTES ATMOSFRICOS E SEUS EFEITOS SOBRE A FLORESTA................70 5.1. GEADA............................................................................................................................70
5.1.1. Medidas de controle ...............................................................................................71 5.2. VENTO ............................................................................................................................73
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5.2.1. Efeitos sobre o solo ................................................................................................73 5.2.2. Efeitos sobre a atmosfera da floresta.....................................................................74 5.2.3. Danos fisiolgicos s arvores ................................................................................74 5.2.4. Danos mecnicos s rvores ..................................................................................74 5.2.5. Mtodos de proteo contra o vento ......................................................................75 5.2.6. Controle da eroso elica ......................................................................................76
5.3. CALOR ............................................................................................................................77 5.3.1. Medidas de controle contra o calor .......................................................................77
5.4. EROSO ..........................................................................................................................77 5.4.1. Processos de eroso ...............................................................................................78
5.4.1.1. Eroso geolgica ou natural ............................................................................78 5.4.1.2. Eroso acelerada..............................................................................................78
5.4.2. Formas de eroso ...................................................................................................78 5.4.2.1. Eroso Laminar ou entre Sulcos......................................................................78 5.4.2.2. Eroso em Sulcos ............................................................................................78 5.4.2.3. Eroso em Voorocas ......................................................................................79
5.4.3. Fases da eroso hdrica .........................................................................................80 5.4.3.1. Desagregao...................................................................................................80 5.4.3.2. Transporte........................................................................................................80 5.4.3.3. Deposio ........................................................................................................80
5.4.4. Fatores que afetam a eroso hdrica do solo.........................................................80 5.4.4.1. Chuva...............................................................................................................80 5.4.4.2. Solo..................................................................................................................80 5.4.4.3 Topografia ........................................................................................................81 5.4.4.4. Uso e manejo do solo.......................................................................................81 5.4.4.5. Prticas conservacionistas ...............................................................................82
5.4.5. Eroso elica..........................................................................................................82 5.4.5.1. Desagregao do solo ......................................................................................82 5.4.5.2. Transporte........................................................................................................83 5.4.5.3. Deposio ........................................................................................................83 5.4.5.4. Formas de Eroso Elica .................................................................................83 5.4.5.5. Fatores que afetam a Eroso Elica.................................................................83
5.4.6. Controle da Eroso ................................................................................................84 5.5. SECA...............................................................................................................................85
5.5.1. Medida de controle da seca....................................................................................85
7. DANOS CAUSADOS POR ANIMAIS NA FLORESTA................................................87 7.1. ANIMAIS DOMSTICOS ....................................................................................................87 7.2. ANIMAIS SELVAGENS......................................................................................................87
7. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ...................................................................................89
8. ANEXOS .............................................................................................................................91
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1. APRESENTAO
A Disciplina de Proteo Florestal parte integrante do conjunto de disciplinas obrigatrias do
currculo atual do Curso de Graduao em Engenharia Florestal da UFSM, assim como nos demais
cursos pelo Brasil e mundo.
Devido ao fato de a mesma ser ministrada durante o ltimo ano do curso, a mesma agrega
contedos que fazem com que o aluno, no desenvolver dos temas, busque conhecimentos j adquiridos
em outras disciplinas do currculo, fazendo com que o tema Proteo Florestal se torne amplo e
multidisciplinar.
Este fato tambm faz com a responsabilidade sobre quem ministra a disciplina seja grande,
pois a partir do trmino da mesma, o aluno est quase a ponto de sair para o mercado de trabalho,
formado e plenamente disposto a pr em prtica os seus conhecimentos.
Desta forma, a elaborao deste caderno didtico procura suprir uma necessidade de
informao escrita (bibliografias) a respeito do tema em nosso Curso e ser uma boa fonte de consulta
ao profissional, principalmente o recm formado.
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2. INTRODUO PROTEO FLORESTAL
2.1. Objetivos e importncia da disciplina
A Proteo Florestal o ramo da silvicultura que objetiva proteger a floresta de seus inimigos,
atravs do controle, preveno e manejo de seus agentes.
A importncia da proteo se faz sentir em todas as etapas do ciclo da vida de uma rvore ou
de uma floresta. Alguns autores chegam mesmo a afirmar que a proteo florestal representa 90% da
silvicultura. Analisando esta afirmao, conclui-se que no h tanto exagero como pode parecer
primeira vista. Efetivamente, antes mesmo de lanarmos ao solo a semente ou plantio de mudas, de
qualquer essncia florestal, j teremos tomado medidas preventivas de proteo para que esta semente
ou muda possa germinar e crescer num ambiente livre de qualquer praga ou enfermidade. Um exemplo
tpico desta afirmao a imunizao do solo de canteiros antes da semeadura de Pinus e
Cuninghamia, a fim de evitar o ataque de fungos causadores do tombamento (Damping-off). Ainda
quando as plantas encontram-se em fase de viveiro, estamos periodicamente aplicando medidas de
proteo, ora erradicando ervas daninhas, ora combatendo insetos, ora protegendo contra geadas,
enfim, sempre protegendo cuidadosamente a futura rvore. Ao levar-nos a muda para o terreno
definitivo, este j dever estar livre de pragas (especialmente formigas), para garantir um ambiente em
que a planta possa desenvolver-se normalmente. E desta maneira, durante todo o perodo de vida da
rvore a proteo estar sempre presente visando evitar ou eliminar os danos que podero advir do
ataque de fungos, insetos, animais, incndios, etc.
2.2. Relao com outras reas do conhecimento
Apesar de sua ntima ligao com a silvicultura, a Proteo Florestal exige, para seu perfeito
entendimento e efetiva aplicao, conhecimentos bsicos de outros ramos da cincia florestal, os quais
sero discorridos abaixo.
2.2.1. Legislao Florestal Para se formular um plano de proteo, adotar medidas preventivas ou proteger eficazmente o
patrimnio florestal necessrio, antes de tudo, conhecer toda a legislao florestal vigente para que
no se tome medida arbitrria que possam vir de encontro s leis atuais. (Ver os entraves das leis, no
que se refere ao manejo de florestas nativas).
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2.2.2. Meteorologia A probabilidade ou freqncia de ocorrncia de incndios florestais est ligada s condies
meteorolgicas locais, entre elas temperatura, umidade relativa do ar e a velocidade e direo do
vento. Portanto, o conhecimento e a interpretao dos dados meteorolgicos de fundamental
importncia, principalmente na preveno dos incndios florestais.
A temperatura do ar e do material combustvel afeta direta e indiretamente a possibilidade de
ocorrncia e principalmente o potencial de propagao de incndios. Os dados de temperatura,
necessrios para clculos de ndices de perigo de incndios, podem ser obtidos em estaes
meteorolgicas, em condies mais prximas possveis dos povoamentos em que se quer realizar a
avaliao de risco.
A Umidade relativa do ar um dos principais meios de se medir a umidade atmosfrica, sendo
amplamente usada nos estudos relacionados a incndios florestais. Ela se caracteriza pela relao entre
a quantidade de vapor dgua presente em um certo volume de ar (presso real de vapor dgua) e a
quantidade que este mesmo volume conteria se estivesse saturado.
O vento se caracteriza pelo movimento de ar das reas de alta presso para as reas de baixa
presso. Alm das caractersticas de circulao geral dos ventos no sentido plos-equador deve-se
considerar outros efeitos como movimento de rotao da terra, frico, topografia e massas de gua.
Em funo destes efeitos existem muitos outros movimentos locais que tornam bastante complexa a
distribuio dos ventos na superfcie terrestre.
2.2.3. Zoologia Conhecimentos bsicos sobre hbitos e costumes dos animais domsticos e selvagens so de
grande importncia para se prevenir os danos que eles podem causar s florestas. Principalmente nas
ltimas dcadas, com a destruio de muitos habitats naturais de espcies da fauna, em funo da
expanso de fronteiras agrcolas, estes se tornaram nocivos a plantaes florestais, principalmente em
funo da carncia alimentar da decorrente.
2.2.4. Entomologia Para se tomar as medidas necessrias preveno dos danos causados pelos insetos ou para
combat-los eficazmente, so necessrios conhecimentos de entomologia, uma vez que as pragas
florestais apresentam comportamentos distintos e so necessrios conhecimentos de sua biologia
visando definir a melhor forma de atuao na preveno e controle dos mesmos.
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2.2.5. Fitopatologia Dentre os organismos deste Reino Vegetal, uma variada gama de espcies de fungos so
grandes inimigos das florestas e por isso necessrio conhecer suas formas de ataque e propagao.
medida que estes organismos apresentam condies bem tpicas de desenvolvimento, muitas vezes o
controle e preveno pode ser realizado com o uso de tcnicas adequadas de manejo, no sendo
necessria aplicao de fungicidas, muitas vezes danosos sade humana e ao meio ambiente.
2.2.6. Manejo Florestal Uma floresta bem manejada possibilita uma proteo bem mais eficiente contra todos os
efeitos daninhos. A formulao de um plano de proteo florestal, para uma floresta especfica ou para
toda uma empresa florestal, facilitada quando existe um bom plano de manejo implantado na mesma.
Logo o conhecimento do manejo e ordenamento necessrio proteo florestal.
2.2.7. Topografia Principalmente na proteo contra incndios, a topografia do terreno exerce grande influncia,
tornando-se, pois, necessrio o seu conhecimento. Estudos j realizados comprovam que, em situaes
de aclive, para florestas de eucalipto, a velocidade de propagao de um incndio florestal dobra em
um aclive de 10 e quatro vezes maior em aclive de 20.
2.2.8. Outros de menor importncia Existem outros ramos da cincia que possuem menor importncia no contexto da proteo
florestal como o caso da edafologia, ecologia, economia, etc.
Alm de exigir conhecimentos bsicos dos assuntos enumerados, a proteo florestal sofre
influncias tambm de diversos outros fatores ligados cincia florestal. Assim que em florestas
implantadas, a escolha da espcie adequada s condies locais de grande importncia na futura
proteo das mesmas. Certamente, uma espcie bem adaptada ser sempre mais resistente, pelo seu
melhor desenvolvimento e maior ndice de sanidade ao ataque dos agentes daninhos que uma essncia
j debilitada pela m aclimatao. Como exemplo desta afirmao podemos citar o plantio do hbrido
de Eucalyptus urograndis, por exemplo, em um local que periodicamente atingido por geadas. Sendo
esta espcie bastante sensvel a este fenmeno, periodicamente as rvores so queimadas por ela (as
rvores podem ficar completamente secas dependendo da intensidade da geada) e, portanto, mais
sujeitas destruio pelo fogo (o Eucalyptus sp. em condies normais bastante resistente ao fogo),
ou a um ataque de insetos e fungos, que encontrando a rvore j enfraquecida podero assumir carter
letal.
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As condies locais ou regionais so tambm de grande importncia para se implantar
mtodos de proteo. Logicamente, regies de climas, solos e por conseqncia vegetao diferente,
exigiro tcnicas preventivas e adaptadas s condies especficas de cada regio.
2.3. Classificao dos agentes causadores de danos floresta
A floresta est sempre sujeita a diversas espcies de danos, provocados por vrios agentes
daninhos. Esses efeitos variam, em ordem de importncia, em cada regio e permitem tambm
diferentes classificaes dependendo do ponto de vista dos autores. Adotamos uma classificao que,
para nossas condies, nos parece a mais lgica:
1- Incndios florestais;
2- Plantas (incluindo fungos, ervas daninhas e parasitas);
3- Insetos;
4- Animais domsticos e selvagens; e,
5- Agentes atmosfricos.
Os incndios de um modo geral ocupam o primeiro lugar dentre os agentes destruidores da
floresta. Por este motivo, a proteo florestal geralmente concentra as maiores atenes para o
problema do fogo. Esta ateno especial plenamente justificvel, uma vez que os incndios
geralmente causam a total destruio da floresta, alm de ser uma ameaa constante s construes,
aos animais domsticos e prpria vida humana. No entanto, apesar da importncia que devemos dar
ao problema do fogo, no podemos negligenciar os outros ramos da proteo.
Em certas regies, os danos causados por insetos e fungos podem causar mais danos que o
fogo. Muitas vezes no se nota isto a primeira vista, porque o trabalho destes agentes daninhos
geralmente muito vagaroso, menos alarmante e menos perceptvel. No entanto, a atividade desses
agentes constante e no existem florestas completamente livres deles.
No Rio Grande do sul pode-se citar o surgimento da vespa da madeira (Sirex noctilio) que
danifica as caractersticas fsicas da madeira de espcies do gnero Pinus, especialmente Pinus taeda e
elliottii, podendo levar a morte das rvores.
Os animais domsticos e selvagens so agentes que podem s vezes, dependendo do local,
assumir carter bastante prejudicial, principalmente no incio da instalao de povoamentos.
A extenso dos danos causados as florestas pelos efeitos atmosfricos, embora evidentes, so
sempre mais difceis de se estimar que os causados por outros efeitos. Os efeitos do calor, frio, seca,
gua, vento e outros agentes atmosfricos so to imprescindveis que uma exata estimativa dos danos
impraticvel. Sem dvida, a soma total das injrias causadas pelos diversos agentes atmosfricos
pode exceder, em certas pocas, aquelas causadas por outros inimigos. Alm disso, os agentes
atmosfricos podem causar condies favorveis ao ataque de outros agentes tais como insetos e
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fungos. No se pode esquecer que os agentes atmosfricos esto sempre, indiretamente ligados aos
danos causados pelo fogo floresta. O grande incndio ocorrido no Paran em 1963 foi um exemplo
tpico.
As fortes geadas e o grande perodo de seca propiciaram as condies ideais para a propagao
do fogo. No h duvida de que, sem condies climticas favorveis, no ocorrem incndios.
importante salientar que qualquer um desses efeitos citados pode, em certas ocasies e em
certos locais, assumir propores de verdadeiras catstrofes. Assim sendo, a proteo florestal, deve
ser prevista para todos os agentes daninhos a fim de podermos, a qualquer momento, organizar e
aplicar as medidas de controle necessrio.
2.3.1. O homem como fonte de danos floresta Aps analisarmos as cinco principais classes de agentes daninhos torna-se necessrio
estabelecer os meios pelos quais o homem pode danificar a floresta. O homem pela ao, uma fonte
primria de danos para a floresta. Direta ou indiretamente, como conseqncia de suas atividades, a
influncia do homem notada em cada uma das classes de agentes daninhos.
A maior parte dos incndios florestais, que tantos prejuzos causam s florestas de
responsabilidade humana.
Pode-se dizer que o homem o principal causador dos incndios florestais, afinal de contas a
maioria deles so iniciados em decorrncia de algum tipo de atividade humana.
Nos pases americanos, a maioria dos incndios causada direta ou indiretamente pelo
homem. Geralmente esses incndios so provocados por descuido ou negligncias, porm algumas
vezes podem ser intencionais. A educao do homem no sentido de corrigir os descuidos, reprimir os
propsitos intencionais e principalmente dar ao homem a viso correta das necessidades de se proteger
a floresta, deve ser uma preocupao constante e prioritria nos planos de proteo florestal.
O homem tem responsabilidade, quer direta ou indiretamente no estabelecimento de vrias
enfermidades e pragas nas florestas. Atravs dos incndios e dos aproveitamentos irracionais o homem
est debilitando as rvores, diminuindo consideravelmente sua resistncia e com isto, expondo a
floresta ao ataque de fungos ou insetos. Desta maneira ele est indiretamente contribuindo para o
estabelecimento de doenas e ataque de insetos s florestas. De outra forma, ao importar ou transportar
materiais florestais, tais como sementes, madeiras, flores, e outros, de outras regies ou outros pases
sem tomar os devidos cuidados, isto , sem observar as medidas preventivas que o caso requer
(quarentena, imunizao, etc.) o homem est contribuindo diretamente para a introduo de outras
pragas ou doenas. Convm relembrar, como exemplo desta situao, a destruio das plantaes de
Pinus radiata que comearam a ser instaladas no Brasil, vinham apresentando um timo crescimento,
quando por negligncia ou falta de medidas preventivas na importao de materiais, introduziu-se
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tambm o fungo Diplodia pinea, que dizimou todos os plantios de Pinus radiata existentes na poca.
E uma praga desta natureza dificilmente, ou talvez nunca, poder ser definitivamente dizimada.
Com relao ao ataque de animais domsticos e selvagens, o homem exerce tambm grande
influncia. Os animais domsticos (bovinos, eqinos, caprinos, etc.) so introduzidos pelo homem na
floresta e geralmente causam grandes prejuzos mesma, seja diretamente atravs de danos fsicos, ou
indiretamente atravs dos efeitos sobre o solo. A maioria das injrias causada por animais selvagens
tambm de responsabilidade humana, por modificar o equilbrio biolgico da floresta, diminuindo ou
destruindo, dentre outras coisas, a fonte alimentar dos animais, e estes na luta pela sobrevivncia
passam a causar srios danos floresta.
Os agentes daninhos que esto fora da responsabilidade humana so os atmosfricos. Apesar
disso, os efeitos provocados pelos agentes atmosfricos podem ser maximizados ou minimizados
atravs de um mau ou bom manejo. Uma floresta mal manejada pode facilitar a eroso do solo ou
ainda expor as rvores ao mecnica do vento, provocando srios prejuzos.
Em vista disto evidente que o homem, embora indiretamente, pode contribuir para o
agravamento de danos produzidos por certos agentes atmosfricos.
Diante de todos estes fatos, conclumos que a ao do homem influi diretamente no sucesso ou
fracasso de qualquer empreendimento florestal. O homem sem duvida o maior e mais importante
causador de danos floresta, e paradoxalmente, tambm o nico responsvel pela sua proteo.
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3. INCNDIOS FLORESTAIS
3.1. Causas dos incndios Florestais
O conhecimento das causas dos incndios florestais de extrema importncia, principalmente
levando-se em considerao que o ponto de partida para a elaborao dos planos de preveno saber
quem (ou o que) iniciou o fogo. Tal aspecto j foi brevemente exemplificado no captulo anterior (Ver:
Perfil de um incendirio) e sero agora mais detalhadamente abordados os principais fatores de causa
de um incndio florestal.
As causas dos incndios florestais so numerosas e de carter muito varivel. Torna-se
necessrio, para efeitos estatsticos, ento estabelecer um padro destas causas, para ser usado em todo
o pas. Uma classificao a ser adotada em todo o Brasil, por ser completa a descrita abaixo.
3.1.1. Raios So incndios causados direta ou indiretamente, por descargas eltricas. So os nicos que no
constituem responsabilidade humana e, por isto mesmo, sua preveno praticamente impossvel. Em
certas regies (noroeste dos EUA) esta causa pode adquirir grande ao destrutiva. No Brasil no so
muito comuns em virtude das tempestades serem acompanhadas de precipitao. Porm j ocorreram,
focos iniciais de incndios por raios, focos estes que foram prontamente debelados, pois foram
descobertos no dia seguinte tempestade e no haviam se propagado ainda, em virtude da umidade do
material florestal.
3.1.2. Incendirios Neste grupo esto includos os incndios provocados intencionalmente, por pessoas, em
propriedade alheia.
Pode-se distinguir dois tipos de incendirios: aquele que age por vingana e o que age
inconscientemente, por um desequilbrio mental qualquer, tornando-se um "piromanaco".
Pesquisa que est sendo realizada em Portugal j aponta algumas caractersticas especiais de
pessoas piromanacas. Tais dados, segundo a psicloga Cristina Soeiro, divulgada na Revista Proteo
Civil (2002), serviro de base para o delineamento de aes pblicas de educao e tambm punio
para estas pessoas.
Em Portugal existem muitos incndios florestais e alguns urbanos, onde as causas podem ser
diversas, mas o mais difcil de definir o perfil dos indivduos que cometem este crime.
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Cristina Soeiro, psicloga do Instituto Superior de Polcia Judiciria e Cincias Criminais
revelou ao Servio Nacional de Proteo Civil que o instituto est realizando uma pesquisa de
caracterizao scio-psicolgica do incendirio portugus.
Adiantando alguns dados, que viro a ser aprimorados na seqncia do estudo, a psicloga deu
alguns traos gerais que caracterizam o perfil destes indivduos e salientou que a maioria dos
incendirios assume o crime devido pena que sofreu, mas muitos no indicam as motivaes.
Segundo a pesquisa, a piromania (ato de um indivduo cometer o crime de incendirio por
prazer) faz parte da tipologia de incendirios pouco usuais no pas. Os traos gerais das condies
sociais e psicolgicas de um presumvel incendirio so listadas abaixo:
a) Incendirio rural
A idade varia entre os 18 e 80 anos;
Tem comportamento no violento;
As causas tm mais a ver com vinganas de partilhas e divises de terras;
Apresentam dificuldades de aprendizagem que pode depender do contexto onde
estiveram inseridos;
Indivduo com problemas psiquitricos associados a problemas psicolgicos;
Tem uma profisso no qualificada, mas esto j h vrios anos com o mesmo
emprego;
Persiste uma instabilidade familiar;
Solteiro;
Consumidor de lcool;
Os crimes so perpetrados contra o patrimnio (propriedades);
O crime feito longe do local de trabalho;
De um modo geral, atua individualmente, exceo dos jovens, que atuam em grupo.
b) Incendirio urbano
A idade varia entre os 18 e 80 anos;
Tem comportamento mais violento e agressivo;
Tem uma ficha criminal considervel;
O crime na sua maior parte serve para ocultar provas e como forma de expresso;
Sofre de problemas psicolgicos mais graves;
Tem um emprego mais qualificado, mas instvel;
Persiste uma instabilidade familiar;
Solteiro;
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Consumidor de lcool e drogas;
Os crimes so contra o patrimnio (propriedades) e pessoas;
O crime feito no local de trabalho e noutros pontos.
Apesar de nenhum trabalho semelhante ser conhecido no Brasil, o exemplo de Portugal serve
para que seja demonstrada a importncia que dada ao tema naquele pas. Alerta tambm para que um
trabalho neste nvel, se aqui fosse realizado, certamente traria resultados interessantes a serem
aplicados na educao de todas as pessoas. Este aspecto deve ser parte integrante de um plano de
preveno de incndios para uma empresa, bacia hidrogrfica ou regio inteira.
3.1.3. Queimas para limpeza Compreende os incndios florestais originados de fogo usados na limpeza do terreno, para
qualquer propsito (agricultura, pastagem, reflorestamentos) que por negligncia ou descuido tenham
escapado ao controle a atingindo reas florestais. Nos pases tropicais, de uma maneira geral, est a
principal causa dos incndios florestais. O grande incndio que assolou o Paran em 1963 originou-se
principalmente da prtica de se queimar reas a fim de prepar-las para o cultivo agrcola. Como na
poca do ano, devido s fortes geadas, propicia propagao do fogo e no foram tomados os
cuidados necessrios, o fogo escapou ao controle dos agricultores e se expandiu de maneira
catastrfica. Esta prtica de se preparar terreno para agricultura atravs de fogo ainda muito usada
atualmente, justamente na poca mais perigosa do ano (agosto e setembro, para esta regio),
ameaando constantemente as reas florestais de novas catstrofes.
Na Amaznia, de acordo com o Instituto de Pesquisas Ambientais da Amaznia IPAM
(2003), a pecuria e a agricultura de corte e queima so dependentes do fogo como instrumento de
manejo. No entanto, este mesmo fogo freqentemente foge ao controle e atinge reas no destinadas
queima. Neste cenrio, os produtores acabam sendo desmotivados a fazer investimentos em sistemas
agro-florestais, em culturas permanentes e at em cercas, devido ao alto risco de perderem tudo com
um fogo acidental. A expanso da rede rodoviria favorece a pecuria extensiva e a agricultura de
subsistncia, que por sua vez levam a maior incidncia de fogo acidental, reforando a permanncia
das atividades extensivas de pecuria e agricultura de subsistncia. Este primeiro ciclo vicioso pode
acelerar o desmatamento em grande escala, conforme est ilustrado na Figura 1.
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Figura 1: Ciclo vicioso entre sistemas de produo extensivos, fogo acidental e perdas em sistemas intensivos. O
fogo usado na abertura e manejo de pastagens e na agricultura de corte e queima geralmente foge ao controle,
queimando culturas perenes, sistemas agro-florestais e florestas manejadas para produo madeireira. Estas
perdas estimulam produtores a continuarem optando por sistemas de produo extensivos, mantendo sua
dependncia do fogo (Fonte: IPAM, 2003).
Seguindo-se a isso, o uso da queima, seja ela acidental ou provocada intencionalmente, para a
formao de pastagens para pecuria extensiva, acarreta outros problemas com o passar dos anos.
Casos muito tpicos tm acontecido no estado de Roraima, onde os agricultores queimam a floresta
para a instalao de pastagens. Aps alguns anos de pastejo, j comeam a aparecer manchas, em meio
s gramneas, de solo descoberto, o qual dar incio, na poca das chuvas, a processos erosivos (Figura
2).
Tendo em vista que a pecuria no norte do pas uma atividade que merece maiores cuidados,
uma vez que a lotao de animais por rea deve ser pequena, visando a no degradao do solo
(altamente intemperizado, frgil, onde a degradao j iniciou quando da passagem do fogo), a
situao descrita mais freqente em pequenas e mdias propriedades, onde o proprietrio, visando
obter lucros capazes de manter a sua famlia atravs da pecuria, no tendo rea disponvel para tanto,
acaba por colocar muitos animais por hectare, em sua propriedade, dando inicio ao processo de
degradao.
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Figura 2: Pastagem com, no mximo 5 anos de implantao, em processo de degradao do solo
(observar manchas brancas, solo exposto). Se o proprietrio continuar com a mesma lotao de
animais e no realizar nenhuma recuperao da rea, o processo iniciado com o fogo terminar pela
degradao total da rea. (Foto: Eleandro Jos Brun, Caroebe-RR, 2001).
3.1.4. Fumantes Neste item esto includos os incndios originados por fsforos e pontas de cigarros acesas,
que so atiradas displicentemente por fumantes descuidados. Esta a uma das maiores causas de
incndios florestais nos Estados Unidos, Canad, Europa, Austrlia e Unio Sovitica. Provavelmente
esta seja a causa onde mais se evidencia a falta de cuidado do homem na proteo das florestas contra
incndios.
No Brasil, principalmente na poca mais seca do ano para as regies Centro-Oeste, Sudeste,
Norte e Nordeste, intensificam-se os focos de incndios provenientes de pessoas descuidadas que
jogam cigarros ou fsforos acesos no cho. Casos tpicos ocorrem nas margens de rodovias, onde o
motorista, ao jogar uma bituca de cigarro acesa pela janela de seu carro, poder estar dando incio a
um grande incndio, onde o fogo comea no capim a margem da rodovia e posteriormente se espalha,
podendo queimar florestas e residncias.
3.1.5. Fogos campestres Nesta classe esto includos os incndios florestais originados de fogueiras feitas por pessoas
que estejam acampadas, caando ou pescando na floresta ou proximidades.
No se incluem aqui os trabalhadores florestais que estejam em atividade, pois so
considerados em um grupo separado. Os parques florestais abertos recreao esto sempre sujeitos a
este tipo de incndio, devido ao descuido e irresponsabilidade de certas pessoas que os visitam.
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3.1.6. Operaes florestais Inclui-se neste grupo os incndios causados por trabalhadores florestais, quando em atividade
na floresta. Para melhor definir esta causa sero citados dois exemplos hipotticos:
1. O primeiro foi um incndio que se originou da fogueira que um operrio florestal fez para aquecer
sua comida e no apagou com o devido cuidado.
2. Em outra ocasio, um trabalhador florestal ao derrubar uma rvore, ativou um formigueiro que se
encontrava prximo base da rvore, e as formigas (muito agressivas) no permitiam que ele se
aproximasse da rvore derrubada para continuar seu trabalho. Ele ento ateou fogo ao formigueiro
para matar as formigas e, descuidadamente, permitiu que o fogo se expandisse dando origem ao
incndio.
3.1.7. Estradas de ferro Sob esta classificao esto includos os incndios que direta ou indiretamente so causados
pelas atividades em estradas de ferro. Como causa direta podemos definir as fagulhas desprendidas das
locomotivas, que encontrando a vegetao seca, podem causar incndios. Com o uso de mquina
diesel-eltrica, este perigo tem diminudo sensivelmente. Como causa indireta pode-se citar os
materiais acesos (fsforos, estopas encharcadas de leo) atirados por passageiro e maquinistas.
As propriedades florestais que so cortadas por estrada de ferro necessitam de uma vigilncia
constante ao longo do seu percurso, para se evitar possveis incndios.
3.1.8. Diversos Nesta classe so includos os incndios que no podem, satisfatoriamente, serem classificados
em nenhum dos outros grupos analisados. So causas pouco freqentes, que ocorrem esporadicamente
e por esta razo no justificam uma classificao especial. Um exemplo tpico de classificao neste
grupo seria os incndios causados pelos bales de festas juninas.
O conhecimento das causas dos incndios bsico para a elaborao de planos de preveno.
Ainda hoje o Brasil no possui uma estatstica confivel que permita o conhecimento das principais
causas dos incndios nas diversas regies do pas. de extrema importncia, portanto, que os rgos
competentes e mesmo as empresas verticalizadas que fazem reflorestamento, mantenham um banco de
dados das ocorrncias e causas dos incndios florestais, para que sejam tomadas medidas concretas de
proteo atravs da elaborao de planos de preveno.
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3.2. Classificao dos incndios florestais
Incndio florestal o termo utilizado para definir um fogo incontrolado que se propaga
livremente e consome os diversos tipos de material combustvel existentes em uma floresta. Apesar de
no ser muito apropriado, o termo incndio florestal muitas vezes generalizado para definir incndios
em outros tipos de vegetao tais como: capoeiras, campos e pradarias (Soares & Batista, 2002).
A classificao mais adequada para definir os tipos de incndios se baseia no grau de
envolvimento de cada estrato do combustvel florestal, desde o solo mineral at o topo das rvores, no
processo da combusto. Neste caso, os incndios so classificados em subterrneos, superficiais e de
copa (Figura 3).
3.2.1. Incndios subterrneos So geralmente ocasionados pelo fogo que queima sob a superfcie do solo (incndio
superficial), face grande acumulao de matria orgnica, hmus ou turfa em determinados tipos de
florestas. Os tipos de solos em que se produzem estes incndios se caracterizem por seu grande
contedo de umidade, os quais, em determinadas circunstncias, quando secam, ardem facilmente,
dando origem s vezes a srios incndios.
O fogo avana, nessas ocasies, com elevada temperatura, tornando difcil o combate do
mesmo. Algumas vezes um incndio subterrneo se transforma em superficial.
Devido ao seu lento avano, este tipo de incndio causa grandes danos s razes e a fauna de
solo, causando a morte dos mesmos e a conseqente morte da rvore. A fertilidade do solo fica
comprometida, assim como o solo fica mais sujeito a processos erosivos. A dificuldade de extino
determina que muitas vezes um incndio desta classe dure o suficiente para afetar uma rea to
extensa como a abarcada por um incndio superficial.
3.2.2. Incndios de Superfcie So os que se desenvolvem na superfcie do piso da floresta, queimando os restos vegetais no
decompostos tais como folhas, galhos, gramneas, enfim todo o material combustvel at cerca de 1,80
metro de altura. Esses materiais so geralmente bastante inflamveis, principalmente durante a estao
seca, e por esta razo os incndios florestais superficiais so caracterizados por uma propagao
relativamente rpida, abundncia de chamas, muito calor, mas no sendo muito difcil de combater.
Estes incndios so os mais comuns de todos os tipos, podendo ocorrer em todas as regies
onde ocorra vegetao. tambm a forma pela qual comeam quase todos os incndios, isto ,
praticamente todos os incndios iniciam como fogos superficiais.
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Havendo condies favorveis, tais como tipo de vegetao, material combustvel, intensidade
de fogo, condies atmosfricas, os incndios superficiais podem dar origem tanto a incndios de copa
como subterrneos, quer as condies favoream a um ou outro tipo.
Em condies normais, nas plantaes de Eucalyptus sp. geralmente desenvolvem-se
incndios superficiais devido s caractersticas do material combustvel existente no sub-bosque e das
prprias rvores, onde difcil o fogo subir at as copas. Isto no significa que as copas no possam
queimar, pois um fogo intenso poder sec-las atravs do calor irradiado e num segundo estgio
destru-las totalmente. Em condies normais, pode-se citar os incndios que se desenvolvem em
plantaes de Eucalyptus sp. como exemplo de incndios superficiais.
A maneira de queimar, a forma final da rea incendiada, a rapidez de propagao e a
intensidade do fogo dependem de:
Caractersticas e quantidade de material inflamvel;
Topografia;
Condies atmosfricas.
3.2.3. Incndios de Copa So considerados incndios de copas os que queimam combustveis acima de 1,80 metro de
altura. A folhagem totalmente destruda e as rvores geralmente morrem. Com exceo de casos
excepcionais, como raios, por exemplo, todos os incndios de copas originam-se de incndios
superficiais.
Estes incndios propagam-se rapidamente, liberando grande quantidade de calor e so sempre
seguidos por um incndio superficial. Isto porque os incndios de copa deixam cair fagulhas e outros
materiais acesos que iro gradativamente queimando arbustos e materiais combustveis da superfcie
do solo.
As condies fundamentais para que haja ocorrncia de incndios de copa so folhagem
combustvel e presena de vento para transportar o calor de copa em copa.
Em todos os incndios de copas o fator que influi na sua propagao o vento, de tal maneira
que quando este inexiste, dificilmente o fogo atinge e se expande pela copa das rvores. Normalmente
o fogo avana 3 a 4 km/h, dependendo das espcies que caracterizam o bosque incendiado. As
conferas e outras espcies resinosas queimam mais rapidamente do que as folhosas. Em condies
favorveis a velocidade de avano do fogo pode atingir at 15 km/h.
Portanto este tipo de incndio desenvolve-se especialmente em povoamentos de conferas,
embora existam tambm algumas espcies de folhosas com folhagem inflamvel e por esta razo
tambm sujeita aos incndios de copas.
Pelas caractersticas do material combustvel e pelas prprias caractersticas dos incndios de
copa, so os mais difceis de serem combatidos. Em povoamentos de Araucaria angustifolia e Pinus
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sp., existindo condies favorveis, especialmente idade, densidade e condies atmosfricas,
geralmente ocorrem incndios de copas.
Figura 3: Tipos de incndios florestais (A: subterrneo; B: superficial; C: de copa). Fonte: Soares
(1985).
importante mencionar ainda que os trs tipos de incndios descritos podem e acontecem
simultaneamente ou nas diversas combinaes possveis, dependendo das condies existentes.
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Figura 4: Incndio de superfcie (fogo superficial). Fonte: UOV (2004).
Figura 5: Incndio de copa. Fonte: UFRRJ (2005).
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Existe outro meio de se classificar os incndios, tendo relao com a rea queimada. O
Servio Florestal dos Estados Unidos adota uma classificao, mas esta no se adapta muito bem s
condies brasileiras, pelas caractersticas diferentes de vegetao, clima, sistema mtrico e
principalmente de meios de proteo, ocasionando uma grande diferena de tamanho e outras
particularidades entre os incndios nos EUA e no Brasil. SOARES (1985) sugere, atravs da
observao prtica das caractersticas dos incndios no Brasil, especialmente no Paran, uma
classificao um pouco diferente a ser adotada (Tabela 1).
Tabela 1: Classificao dos Incndios Florestais segundo a rea queimada.
rea queimada (ha) Classes
EUA Brasil
A < 0,1 < 1
B 0,1 4 1 10
C 4 40 10 100
D 40 120 100 1000
E > 120 >1000
3.3. Danos causados
Existe uma relao entre fogo e silvicultura que de vital importncia para o Engenheiro
Florestal. A silvicultura comercial est diretamente dirigida produo de fibra de madeira e a criao
e manuteno de uma cobertura verde. Basicamente, a silvicultura consiste em manejar a fotossntese,
processo qumico do qual toda a vida depende e atravs do qual o dixido de carbono, gua e energia
solar so combinados para produzir celulose e outros carboidratos. O processo lento e contnuo.
O fogo, por sua vez, rapidamente reverte o processo e libera, sobre forma de calor, a energia
armazenada pela fotossntese. O fogo, portanto o processo inverso da fotossntese, ou seja, um
processo de decomposio.
fotossntese CO2 + H2O + Energia Solar (C6H10O5) + O2
Combusto (C6H10O5) + O2 + T0C Ignio CO2 + H2O + Calor
3.3.1. Danos diretos
Os danos diretos so aqueles visveis e de fcil avaliao, como por exemplo, a
quantidade de madeira queimada, as construes destrudas, etc, em um incndio florestal.
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3.3.2. Danos indiretos So aqueles danos que s sero visveis com o decorrer do tempo, como por exemplo, o
assoreamento dos rios, inundaes, eroso, perdas no turismo e aspecto recreativo, etc.
Os incndios florestais podem causar diversos tipos de danos s florestas, dependendo das
condies existentes, principalmente tipos de florestas, combustvel e clima. Estes danos vo ser
descritos no item 2.6.2, onde sero abordados os efeitos malficos do fogo.
3.4. Princpio de combusto
Para se entender como o fogo queima e os meios de manej-lo eficazmente, necessrio
primeiro entender o fenmeno do fogo. O que o fogo? Por que e como ele queima? Por que existem
chamas?
Fogo, de um modo geral, o termo aplicado ao fenmeno fsico resultante da rpida
combinao entre o oxignio e uma substncia qualquer (resduo florestal, serapilheira, por exemplo),
com produo de calor, luz e geralmente chama. Fogo ou processo de combusto , portanto uma
reao de oxidao muito rpida, assemelhando-se formao de ferrugem em um pedao de ferro ou
a decomposio de madeira, apenas muito rpida. O fogo pode ser considerado um rpido agente de
decomposio. Isto pode ser evidenciado ao comparar as equaes generalizadas da fotossntese e da
combusto.
Basicamente a combusto de material florestal pode ser expresso pela equao:
4 (C6H9O4) + 25O2 [0,322 M H2O + 94 N2] 18 H2O + 24 CO2 + [0,322 M H2O + 94 N2] + 4.700
cal/g
Os componentes entre colchetes, apesar de estarem presentes no momento da combusto, no
participam da mesma. O nmero 0,322 resulta do produto: [0,01 (porcentagem) x 4 (molculas de
madeira) x 145 (peso molecular da madeira)] /18(peso molecular da gua). O nmero 94
corresponde ao produto: 3,76 (proporo de Nitrognio em relao ao Oxignio da atmosfera) x 25
(molculas de Oxignio da equao).
Analisando-se a reao de combusto do material florestal, percebe-se que ela move os trs
elementos bsicos: COMBUSTVEL para queimar, OXIGNIO para manter as chamas e CALOR
para iniciar e continuar o processo de queima. Esta inter-relao entre os trs elementos, necessrio
para a ocorrncia de qualquer incndio florestal, denominada TRINGULO DO FOGO (Figura
6). A ausncia de qualquer um dos trs componentes do tringulo do fogo torna impossvel a
combusto.
A influncia do oxignio na combusto pode ser evidenciada atravs de uma simples
experincia. Acende-se uma vela e coloca-se sobre ela uma campnula de vidro. A chama comear a
diminuir a intensidade, at se extinguir completamente. Eliminando o oxignio quebra-se o tringulo
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do fogo e a combusto contida. O ar atmosfrico contm cerca de 21% de oxignio, e experincias
demonstram que se reduzindo esta concentrao para 15% no h condies para a combusto ser
realizada.
Figura 6: Tringulo do fogo. Fonte: (UOV, 2004).
Um exemplo que demonstra a importncia da temperatura o seguinte: pega-se uma folha de
papel previamente umedecida e tenta-se queim-la com um fsforo aceso. Isto no ser possvel, pois
a temperatura produzida pelo fsforo ser parcialmente consumida na secagem do papel e no ser
suficiente para elevar a temperatura deste at o ponto de ignio. No lugar do fsforo se for usado uma
tocha, o calor desprendido por esta secar imediatamente o papel e provocar sua combusto. A
temperatura de ignio da maioria dos materiais florestais est entre 260-4000C.
Quanto ao combustvel, visvel sua funo limitante, pois se no houver nada para queimar,
logicamente no haver incndio. O material combustvel em uma floresta talvez o nico elemento
do tringulo do fogo que pode ser controlado ou manejado pelo homem no caso de programas de
preveno de incndios.
Quando o calor aplicado a uma substncia lquida ou slida, as molculas se movem mais
rapidamente dentro destas substncias. Quanto mais calor aplicado, algumas dessas molculas se
desprendem para formar vapor ou gs. Caso exista calor suficiente, esse vapor converte-se em chamas.
A combusto do material florestal compreende basicamente trs fases: pr-aquecimento,
destilao e incandescncia. Quando uma substncia, lquida ou slida, submetida ao do calor,
suas molculas se movem mais rapidamente, o que resulta num aumento da temperatura da substncia.
Aumentando-se a quantidade de calor, algumas destas molculas se desprendem para formar vapor ou
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gs. Existindo calor suficiente, este vapor, desde que seja inflamvel, se converter em chamas,
iniciando o processo de combusto.
Na primeira fase, pr-aquecimento, o material seco, aquecido e parcialmente destilado,
porm ainda no existem chamas. O calor elimina a umidade existente no material e continua
aquecendo o combustvel at a temperatura de ignio, aproximadamente entre 260 e 400C para a
maioria do material florestal. A temperatura de ignio ser alcanada rpida ou lentamente,
dependendo do tipo de combustvel, seu contedo de umidade e seu estgio de maturao (se est
verde ou em dormncia, no caso de vegetao viva). Os componentes volteis se movem para a
superfcie do combustvel e so expelidos para o ar circundante. Inicialmente esses volteis contm
grandes quantidades de vapor dgua e alguns compostos orgnicos no combustveis. Nos
combustveis florestais, quando a temperatura aumenta, a hemicelulose, seguida da celulose e da
lignina, comeam a se decompor e liberam um fluxo de produtos orgnicos combustveis (pirolisados)
(Figuras 7 e 8). Devido esses gases estarem aquecidos, elevam-se misturando-se com o oxignio do ar
e incendeiam-se produzindo a segunda fase.
Figura 7: Esquema demonstrando a primeira fase da combusto (Fonte: UOV, 2004)
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Figura 8: Na primeira fase da combusto no existe fogo, o combustvel comea a esquentar e,
normalmente libera gua. (Fonte: UOV, 2004).
Na fase seguinte, de destilao ou gasosa, os gases destilados da madeira incendeiam-se e
entram em combusto, produzindo chamas e altas temperaturas que podem atingir 1250C ou um
pouco mais. Nesse estgio do processo de combusto os gases esto queimando, mas o combustvel
propriamente dito ainda no est incandescente. Olhando-se atentamente para um pedao de madeira
que est queimando, por exemplo, um fsforo aceso, observa-se que as chamas no esto ligadas
diretamente superfcie da madeira, mas separadas dela por uma fina camada de vapor ou gs. Isto
ocorre porque combustveis slidos no queimam diretamente, necessitando primeiro serem
decompostos ou pirolisados, pela ao do calor, em vrios gases, uns inflamveis e outros no. Os
gases inflamveis no possuem suficiente quantidade de oxignio para queimar quando liberados da
madeira, precisando primeiro se misturar com o ar em redor para formar uma mistura inflamvel. Se a
pirlise lenta, pouco gs destilado, e as chamas so curtas e intermitentes. Mas quando grandes
quantidades de combustvel esto queimando rapidamente, como em um incndio florestal, o volume
de gases grande e alguns deles necessitam se expandir, afastando-se a considerveis distncias do
combustvel antes que a mistura se torne inflamvel. Nesse caso, longas e compactas chamas so
formadas (Figura 9).
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Figura 9: Esquema demonstrando a segunda fase da combusto (Fonte: UOV, 2004).
Na ltima fase, a incandescncia, o combustvel consumido, havendo formao de cinzas. O
calor intenso, porm praticamente no existe chama nem fumaa. Nessa fase o combustvel (carvo)
consumido, restando apenas cinzas. A quantidade de calor liberada nessa fase depende do tipo de
combustvel, mas de um modo geral, pode-se dizer que 30 a 40% do calor de combusto da madeira
est no seu contedo de carbono (Figura 10). A composio do carvo residual que liberado aps a
fase de destilao varia de acordo com a temperatura em que ocorreu a destilao dos hidrocarbonos.
Se ela ocorreu no limite inferior de temperatura, 260 a 300C, o carvo retm considervel quantidade
de alcatro e o contedo de carbono pode ser apenas 60%. Mas a temperaturas normais de um
incndio florestal, 800C ou mais, a porcentagem de carbono chega a 96%.
Figura 10: Terceira fase da combusto (permanncia somente de brasas) (Fonte: UOV,
2004).
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Embora haja certa superposio entre elas, as trs fases da combusto podem ser perfeitamente
observadas em um incndio florestal. A primeira a zona na qual folhas e gramneas se enrolam e se
crestam, medida que so pr-aquecidas pelo calor das chamas que se aproximam. Em seguida vem a
zona de combusto dos gases, onde se destacam as chamas. Aps a passagem das chamas vem a
terceira e menos distinta das zonas, a do consumo do carvo.
Uma aplicao prtica da teoria das fases da combusto a produo de carvo vegetal. Para
produzir o carvo provoca-se a combusto de uma pilha de madeira, em ambiente semifechado,
interrompendo-se o processo (atravs da eliminao do oxignio) ao final da segunda fase, isto ,
impedindo-se que o carvo resultante da fase de destilao seja consumido.
Em um incndio florestal, podem ser identificadas as trs fases simultneas (Figura 11).
Figura 11: Trs fases simultneas em um incndio florestal (Fonte: UOV, 2004).
3.4.1. Materiais combustveis Os materiais combustveis podem, de acordo com suas dimenses e grau de inflamabilidade,
serem classificados em combustveis perigosos, semiperigosos ou de combusto lenta e combustveis
verdes.
Os combustveis perigosos so representados por materiais que, em condies naturais,
apresentam fcil e rpida combusto. Nesta categoria incluem-se cascas, ramos, galhos finos, folhas,
pastos, musgos, liquens, etc, quando secos. So materiais que propiciam o incio do fogo, e
dependendo da magnitude e abundncia, com uma combusto rpida, produzindo grandes chamas e
muito calor, podem fazer com que os combustveis semiperigosos e verdes sequem, tornando-se
perigosos.
Os combustveis semiperigosos ou de combusto lenta incluem o hmus, geralmente mido,
os ramos semi-secos, troncos cados, etc. refere-se aos materiais lenhosos que em razo de sua
estrutura, disposio, teor de gua, no sejam capazes de queimar rapidamente. Levando em conta que
o incio do fogo nestes materiais seja mais difcil que nos materiais perigosos, estes so importantes no
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avano dos fogos lentos e para conservar latente a combusto, incidindo na propagao do fogo, uma
vez que estes materiais, como, por exemplo, um tronco, poder ficar por muitos dias queimando.
Os combustveis verdes se referem vegetao integrada por rvores, arbustos, ervas, etc, em
estado vivo. Considerando que estes materiais verdes contem um grande teor de gua, pode-se
considerar que os mesmos so no inflamveis, porm isso no impede que possam entrar em
combusto, aps um processo de perda de umidade, o qual poder ocorrer enquanto o fogo queima o
material perigoso e libera calor para aquecer e secar o mesmo.
A Figura 12 exemplifica a classificao dos materiais combustveis acima descrita.
Figura 12: Queima de materiais perigosos (A), semiperigosos ou de combusto lenta (B) e verdes (C).
3.5. Propagao de incndios
Uma fonte de calor suficientemente forte uma condio necessria para que a combusto
ocorra e se mantenha. Depois de iniciado o fogo, o calor deve ser transferido para outros combustveis
a fim de que o incndio possa avanar ou se propagar. Essa transferncia de calor feita atravs de
radiao, conveco e conduo.
A radiao a transferncia do calor atravs do espao, em qualquer direo, velocidade da
luz. Uma pessoa sentada ao lado de uma fogueira estar sendo aquecida pelo calor radiado da fonte
sob forma de ondas. O aquecimento da terra durante o dia conseqncia da radiao de calor pelo
sol. A radiao de calor ocorre como uma lei natural muito importante em manejo de incndios. A
parte mais significativa desta lei se refere ao efeito da distncia sobre a quantidade de calor transferida
e diz que a transferncia de calor por radiao varia inversamente com o quadrado da distncia fonte:
E1/E2 = d22/d12
Onde: E1 e E2 = Energia recebida nos pontos 1 e 2.
d1 e d2 = Distncia dos postos 1 e 2 fonte.
C
A
B
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Por exemplo, imaginando-se trs pessoas sentadas nas proximidades de uma fogueira, a mais
prxima pode estar se sentindo confortvel a uma distncia de 2 m do fogo. A segunda, estando a 4 m
do fogo (o dobro de distncia) somente receber a mesma quantidade de calor se o fogo for 4 vezes
mais quente. A terceira pessoa est a 6 m de distncia, ou seja, 3 vezes mais longe que a primeira,
porm somente receber a mesma quantidade de calor se o fogo for 9 vezes mais insuportvel pessoa
prxima ao fogo. A radiao muito importante em todos os incndios, mas o principal mtodo de
transferncia de calor em grandes incndios florestais.
A conveco o movimento circular ascendente devido ao aquecimento de massas de ar. Por
exemplo, em uma sala aquecida por um fogo, o ar em contato com o mesmo absorve calor por
conduo. O ar aquecido se expande tornando-se mais seco e mais leve que o ar frio ao redor. Sendo
mais leve, esse ar tende a subir deixando espao para a entrada de ar frio que tambm se aquecer,
dando assim incio a um movimento constante.
Seguindo este princpio de conveco, o fogo pode criar condies de turbulncia aspirando
oxignio dos lados e lanando para cima o ar aquecido. Este processo o responsvel pelo barulho que
se houve em grandes incndios que se movem rapidamente. Fagulhas podem ser levadas a grandes
distncias pelo movimento de conveco em incndios de grande porte, dificultando bastante o
controle dos mesmos.
A conduo a transferncia de calor por contato direto com a fonte de calor. Por ser a
madeira um mal condutor de calor, a transferncia por conduo tem pouca importncia em incndios
florestais. O aquecimento de massas de ar atravs de conduo que apresenta um pouco mais de
importncia no controle de incndios.
Um incndio florestal apresenta vrias formas de propagao. O incndio superficial comea
sempre atravs de um pequeno foco (fsforo aceso, fagulhas, toco de cigarro, pequena fogueira) e
inicialmente se propaga de forma circular.
Algumas vezes o incndio chega floresta j com grandes dimenses, quando proveniente de
uma queima em rea agrcola nas proximidades da floresta, por exemplo. A propagao inicial do
fogo, em forma circular, continuaria sempre assim se no ocorresse influncia de vrios fatores que
controlam e definem a forma e intensidade de propagao do incndio.
O vento o primeiro fator a manifestar sua influncia, transformando a forma de propagao
inicial que era circular em uma forma elptica, desde que haja condies favorveis, tambm em
material combustvel. Da em diante o incndio toma uma forma definida, compreendendo as
seguintes partes: cabea ou frente, flancos e base ou parte posterior. A Figura 13 ilustra a explanao.
A cabea ou frente do incndio a parte que avana mais rapidamente e segue a direo do
vento. A base ou parte posterior a que avana lentamente contra o vento e, s vezes, se extingue por
si s. Os flancos do incndio ligam a frente base. Com a mudana do vento ou em condies
topogrficas favorveis, os flancos podem se desenvolver em outras frentes de incndios. Em muitos
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casos os flancos avanam com relativa lentido, e nestes casos, os flancos constituem-se no melhor
ponto para se iniciar o combate ao fogo.
Apesar do vento ser talvez o elemento de maior importncia na forma e direo de propagao
dos incndios, no se pode esquecer tambm da influncia do material combustvel e topografia. Em
terrenos com declividade acentuada o fogo tende a se propagar montanha acima, tomando uma forma
triangular.
Figura 13: Formas em que se desenvolve um incndio florestal. Fonte: Cianciulli (1981).
Os incndios superficiais propagam-se lentamente e so independentes da direo ou
velocidade do vento. Os incndios de copas avanam rapidamente, com grande poder de destruio,
lanando fagulhas ou outros materiais acesos que podero se converter em novos focos de incndio.
3.6. Comportamento do fogo
importante observar, especialmente no planejamento do combate, a variao do
comportamento do fogo (propagao) durante as 24 horas do dia. Fatores como intensidade do fogo e
ONDE: 1- Ponto de ignio 2- Zona queimada 3- Zona incendiando-se 4- Novos focos originados por
chispas ou fagulhas 5- Cabea do fogo 6- Flancos
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velocidade de propagao, ambos reagem s variaes diurnas. De um modo geral o fogo alcana a
mxima intensidade nas horas mais quentes do dia, entre as 14:00 horas e 16:00 horas. A partir da
comea a declinar at passar por um mnimo, geralmente entre 3:00 e 5:00 horas da manh (Figura
14). Apesar de fatores e condies especiais poderem, s vezes, modificar o comportamento do fogo,
essas consideraes relativas ao do fogo ao longo do dia so de grande importncia na luta contra
os incndios. A maioria dos incndios florestal mais fcil de se combater durante as ltimas horas da
tarde, noite e de madrugada.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24H
Tem
per
Figura 14: Variao da propagao do fogo durante o dia (Fonte: Soares, 1985).
3.7. Efeitos dos incndios florestais
Os incndios florestais constituem, sem dvida alguma, a principal fonte de injria s
florestas. Sob certos aspectos e em circunstncias especiais os incndios podem tambm representar
alguns benefcios para a floresta. Porm, existe tamanha disparidade entre a importncia dos danos
causados e os benefcios proporcionados.
3.7.1. Efeitos benficos do fogo Sob o ponto de vista silvicultural o fogo pode, em determinadas ocasies e condies, resultar
em alguns benefcios para a floresta. Porm o uso do fogo deve ser feito sempre com cuidado, de
forma prudente e controlada, para que no fuja do controle e no cause nenhum dano. De um modo
geral, so estes os benefcios que podem ser obtidos de um fogo bem dirigido e controlado.
3.7.1.1. Combate a incndios Podemos usar o fogo no combate a incndios florestais na forma de contra-fogo, aumentando
a rea de aceiro, transformando-se numa excelente arma para deter o avano de um incndio. Este tipo
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de controle se d, basicamente, pela eliminao do material combustvel que estaria ao alcance das
chamas em determinado ponto, para o qual a direo de propagao do fogo (devido a vento,
topografia, etc) aponta. Sua eficincia depende, portanto, da topografia, direo dos ventos, quantidade
e qualidade do material combustvel.
3.7.1.2. Destruio de animais nocivos, insetos e enfermidades O fogo pode matar alguns animais nocivos ou destruir seus abrigos, principalmente formigas,
cupins e pequenos roedores que danificam sementes ou causam anelamento na casca e cmbio.
Insetos, como o serrador da accia-negra (Oncideres sp.) (Figura 15) e muitos fungos so combatidos
com sucesso fazendo a queima dos galhos secos das plantas afetadas.
Figura 15: Aspecto de galhos cortados pelo serrador da accia-negra. A queima deste material elimina
as larvas da praga que esto alojadas em galerias, nestes galhos.
3.7.1.3. Favorece a germinao de sementes e regenerao de espcies florestais Algumas espcies florestais precisam de calor do fogo para o aumento do seu poder
germinativo. Um exemplo disto a bracatinga (Mimosa scabrella), que pela passagem do fogo, suas
sementes sofrem a quebra da dormncia e chegam a germinar 2 milhes de plantas por hectare
(AFUBRA, 1990). Tambm os ecossistemas de cerrado dependem do fogo para sua sustentabilidade.
Florestas de Pinus nos EUA e Eucalyptus regnans na Austrlia dependem do fogo, as ltimas para que
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seja eliminada a grande camada de serapilheira que se forma sobre o solo em florestas centenrias da
espcie, a qual impede que a semente chegue at o solo, em local suficientemente mido, e germine.
3.7.1.4. Limpeza do terreno Fogo rpido ou leve pode ser usado em controle de capins, gramas, ervas daninhas, etc,
trazendo benefcios imediatos pela eliminao de espcies competidoras com a cultura objetivo. O
fogo bem controlado pode ser tecnicamente aplicvel, tendo um baixo custo no processo de limpeza de
terreno, em prticas silviculturais e de agricultura (Figura 16).
Figura 16: Dois casos tpicos de uso do fogo visando limpeza do terreno para plantio agrcola. Em
(A), a vegetao cortada para fins agrcolas ser posteriormente queimada para facilitar o trabalho de
plantio. Em (B), em rea j cultivada, o fogo usado para eliminao da vegetao espontnea, antes
do novo plantio.
3.7.1.5. Reduo do material combustvel As florestas tendem a acumular sobre o solo e no sub-bosque uma grande quantidade de
material combustvel. Utiliza-se como tcnica na preveno da propagao do fogo a reduo desse
material vegetal.
O fogo controlado sem dvida um timo auxiliar para se reduzir o material combustvel de
uma floresta, evitando e prevenindo maiores danos que por certo aconteceriam, no caso de um
incndio acidental. Tambm quando existem reas de campo nas proximidades da floresta, a queima
A B
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controlada desta rea (durante o inverno, quando as gramneas esto completamente secas) uma
excelente tcnica preventiva, protegendo efetivamente a floresta no caso de incndio (Figura 17).
Figura 17: Aplicao de fogo controlado em vegetao nativa.
3.7.1.6. Melhora atributos do solo Dentro de certas condies, e em alguns casos especiais, o fogo controlado pode melhorar as
condies fsicas do solo, ao queimar os depsitos de hmus, proporcionado melhor aerao e
aquecimento do solo. Com isto estimula tambm a atividade microbiana, favorecendo a nitrificao. O
fogo faz com que a ciclagem de nutrientes seja acelerada, deixando os nutrientes disponveis na forma
de cinzas, que pela incorporao da mesma, alm do fornecimento de nutrientes, contribui tambm na
eliminao da acidez do solo.
3.7.2. Efeitos malficos do fogo Os incndios florestais constituem uma permanente fonte de danos s florestas de todo o
mundo. Anualmente milhares de hectares de florestas so queimados, com prejuzos incalculveis. De
um modo geral, os danos causados as florestas podem ser classificados.
3.7.2.1. Danos ao solo Os incndios florestais geralmente causam grandes danos ao solo, principalmente nas suas
caractersticas fsicas. A destruio da cobertura orgnica do solo, expondo-o diretamente as
intempries, provoca grandes modificaes em suas propriedades fsicas, particularmente, porosidade
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e permeabilidade. Os solos argilosos tornam-se duros, dificultando a penetrao da gua, que escorre
sobre a superfcie, em forma de enxurrada, provocando eroso e a degradao deste valioso recurso.
Os solos arenosos tornam-se extremamente friveis, perdem o poder de reteno de gua e so
facilmente erosionveis pela gua das chuvas e at mesmo, sob certas condies, pelo vento.
Os danos tambm se estendem qumica e a microbiologia do solo, uma vez que boa parte dos
nutrientes contidos nos restos vegetais volatilizada pelo fogo, que tambm destri grande parte dos
organismos. A Figura 18 apresenta uma seqncia de eventos relativos aos incndios florestais que
acabam por causar eroso e degradar o solo, se nenhum cuidado for tomado para que isso seja evitado.
Figura 18: Exemplo de uma seqncia de eventos relacionada ao cultivo incorreto do solo, que vem a
ocasionar a degradao do solo pela eroso hdrica. Em (A), queimada de floresta para cultivo a qual,
sofre preparo intensivo (B), deixando o solo sujeito ao da chuva, o que vem a ocasionar uma
seqncia de processos erosivos (C e D).
Devemos ressaltar que os danos ao solo so particularmente mais severos de acordo com a
intensidade e freqncia dos incndios. Incndios extremamente severos causam a completa destruio
de toda a cobertura vegetal expondo totalmente o solo.
Se o incndio ocorre com freqncia em determinada rea, mesmo no sendo muito intenso,
ele no permitir o acmulo de matria orgnica (sendo periodicamente destruda), expondo, portanto,
o solo permanentemente a ao dos agentes causadores de eroso.
A C
B D
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Paralelamente a estes danos citados, o incndio atua tambm sobre a microbiologia do solo
afetando-a seriamente.
O fogo afeta as propriedades qumicas e fsicas dos solos. Com a passagem do fogo ocorre a
eliminao da cobertura orgnica do solo, deixando-o completamente exposto ao de intempries,
tornando-se susceptvel a eroso.
3.7.2.2. Capacidade produtiva da floresta O fogo interfere tanto na qualidade quanto na quantidade da produo madeireira das florestas.
Os danos capacidade produtiva das florestas podem ser caracterizados por trs partes principais:
O fogo pode mudar completamente o tipo de floresta, causando geralmente o
enfraquecimento da mesma, pois quase sempre as madeiras valiosas so as mais atacadas e de difcil
regenerao. O fogo, de uma maneira geral, favorece a vegetao herbcea e as matas secundrias. Um
exemplo tpico dessa afirmao ocorre no Paran, onde aps o incndio das valiosas florestas de
Araucria, sempre associada peroba, pau marfim, imbuia, cedro, etc., h a invaso de espcies
pioneiras, tais como o capixingui, a bracatinga, etc., essncias tpicas de matas secundrias e de baixo
valor econmico.
Reduo da densidade da floresta, sendo que a maioria dos incndios no chega a destruir
todo o povoamento, porm provocam um raleamento da floresta, prejudicando a produo qualitativa e
quantitativa da floresta.
Alterao do princpio da sustentabilidade, por forar o corte de rvores ainda imaturas,
diminuindo o rendimento da floresta. Principio da sustentabilidade o termo utilizado para definir um
rendimento anual sustentado em longo prazo. Para melhor evidenciar o fato, citamos o caso de uma
empresa madeireira com auto-suficincia em matria prima. Pelo planejamento feito, estima-se a
quantidade de madeira necessria anualmente para o suprimento da empresa, sendo que a ocorrncia
de um incndio altera todo o cronograma, por forar o corte de reas que ainda no estejam em
condies ideais (imaturas), para que no acorra perda de madeiras, podendo causar falta de madeira
em anos futuros.
3.7.2.3. Aspecto recreativo da floresta Em muitos pases, as florestas so utilizadas como um local de recreao, onde as populaes
urbanas vo passar os fins de semana ou feriados, fugindo da vida agitada das cidades. As florestas
usadas para esta finalidade apresentam um bonito aspecto paisagstico e um incndio tornar este
aspecto sombrio e desolador. A floresta perde ento o seu aspecto recreativo.
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3.7.2.4. Fauna silvestre Os incndios podem causar danos diretos ou indiretos a fauna das florestas.
Os efeitos diretos nos animais dependem de sua mobilidade e na ocorrncia de abrigos
protegidos. Os efeitos adversos so maiores nos animais jovens e ovos e provm principalmente do
calor, fumaa com gases txicos e falta de oxignio.
O fogo pode matar os animais e aves silvestres indiretamente, destruindo seus ninhos, abrigos
(habitats naturais) e fontes de comida. A intensidade e tipo de dano dependem das caractersticas e
pocas do incndio. Geralmente, incndios ocorridos na primavera so particularmente mais danosos
pela destruio de ninhos e animais novos.
Outras grandes vtimas so os predadores de topo de cadeia e animais territoriais. Os danos
diretos ocorrem atravs da morte de animais que no conseguem escapar do fogo.
A adaptao de espcies envolve aumento do tamanho, aumento da capacidade de colonizao
e da reproduo/colonizao de reas novas.
De acordo com o estudo de Vieira Jnior (1994), sobre o efeito do fogo no comportamento e
estrutura da avifauna de cerrado, aps a queimada, a espcie Neothraupis fasciata forrageou quase que
exclusivamente no cho e a espcie Suiriri suiriri diminuiu a freqncia com que forrageava no estrato
arbreo e aumentou a freqncia no estrato herbceo. Estas mudanas podem representar um aumento
da disponibilidade de insetos no solo aps a queimada devido destruio da cobertura da vegetao.
O nmero de espcies e indivduos em reas de campos limpos apresentou variaes sazonais,
sendo mais baixo nos meses secos em relao aos meses chuvosos. Depois da queima, o nmero de
espcies nas parcelas queimadas e no queimadas no foi significativamente diferente, entretanto, foi
detectada uma variao na composio de espcies da avifauna e na abundncia relativa das espcies
residentes. O nmero de indivduos pertencentes s cinco principais guildas1 trficas consideradas em
conjunto foi diferente nas parcelas no queimadas no primeiro ano de estudo durante todo o perodo,
este padro pode representar o impacto em longo prazo do fogo sobre a avifauna, devido s parcelas
experimentais possurem diferentes histricos de queima. A variao do nmero de indivduos nas
parcelas queimadas e no queimadas foi diferente somente nos perodos que se seguiram queima,
este padro pode representar o impacto em curto prazo do fogo sobre a avifauna.
Vrias espcies de aves, como Polyborus plancus, Falco femoralis, Xolmis cinerea e
Charistospiza eucosma foram mais comuns nas parcelas recentemente queimadas. Outras espcies
tiveram suas populaes reduzidas depois do fogo (Vieira Jnior, 1994).
1. Guildas so grupos de animais ou de plantas, sem obrigatoriedade de parentesco taxonmico, com papis ecolgicos similares dentro de uma comunidade.
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3.7.2.5. Vegetao O dano de um incndio vegetao depende da intensidade do fogo, tempo de durao,
espcie e idade das rvores. Geralmente rvores de mdio e grande porte no so mortas pelo fogo,
porm mudas e plantas de pequeno porte sofrem danos letais na maioria dos casos, principalmente se o
solo e o combustvel estiverem secos. As rvores jovens so mais sensveis, pelo aquecimento ser
diretamente proporcional ao contedo de umidade da casca e inversamente proporcional a espessura
da casca.
So os incndios de copa que causam os maiores danos vegetao. Estes incndios se
originam do crescimento de incndios superficiais, durante condies climticas adversas, em reas de
alta concentrao de combustvel e devido a suas altas intensidades podem destruir florestas de rvores
adultas e, inclusive, resistentes ao fogo.
O fogo quando no causa a morte das rvores, causa debilidade das mesmas, pelas cicatrizes
que deixa (Figura 19). Em ambos os casos favorecem o ataque de insetos e pragas que, encontrando as
rvores sem capacidade de reao, facilmente se instalaro e se multiplicaro, causando grande
destruio madeira remanescente do incndio. Por esta razo, sempre que ocorrer um incndio de
grandes propores devemos ficar alertas a fim de evitarmos a propagao de insetos e pragas que por
ventura venham a se instalar aps o fogo.
Figura 19: Exemplo de mltiplas cicatrizes provocadas por incndios florestais no tronco de uma
rvore.
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O que efetivamente danifica ou mata uma rvore durante um incndio a elevao da
temperatura das clulas vivas a um nvel letal (temperatura letal), em locais crticos da mesma, tais
como a base do tronco e a folhagem. A morte do cmbio na base do tronco, quando submetido a altas
temperaturas, uma das principais causas da mortalidade das rvores em incndios florestais. As
temperaturas letais dos tecidos vivos das rvores tm sido estudadas por vrios pesquisadores. Na
maioria das vezes, os resultados desses estudos podem ser representados atravs de uma curva
semilogartmica do seguinte tipo:
T = a - b . l n . t sendo:
T = temperatura letal; a e b = constantes; l n = logaritmo natural; t = tempo de exposio
A equao indica que a temperatura letal inversamente proporcional ao logaritmo do tempo
de exposio quela temperatura. Ambos, portanto, temperatura e tempo de exposio, so
importantes. Isto significa que para ser morta pelo fogo uma rvore deve ter seus tecidos vivos
submetidos determinada temperatura durante certo tempo. Quanto maior a temperatura, menor o
tempo de exposio necessrio para provocar a morte dos tecidos.
A tolerncia ao calor de quatro espcies florestais (Pinus elliottii, Pinus palustris, Pinus rigida
e Pinus taeda), foi determinada submetendo-se suas folhagens a diferentes temperaturas e tempos de
exposio atravs do mtodo de banho-maria. Os resultados mostraram no haver diferena
significativa entre as espcies. A 54C a morte da folhagem ocorreu aps cerca de 6 minutos de
exposio; a 60C, aps meio minuto; e a 64C quase instantaneamente (Nelson, 1952).
Com relao ao cmbio, trabalhos realizados por Kayll (1963) demonstram que temperaturas
de 60C durante 2 a 4 minutos ou 65C em menos de 2 minutos, so letais. Isto indica que os tecidos
vivos, de diferentes espcies, apresentam praticamente o mesmo nvel de resistncia ao calor.
Entretanto, para chegar ao cmbio o calor tem que atravessar a casca da rvore. Por isto, a quantidade
de calor que chega ao cmbio inversamente proporcional espessura e diretamente proporcional ao
contedo de umidade da casca.
3.7.2.6. Carter protetor da floresta A floresta constitui um agente protetor de grande importncia. Ao ser destruda ou danificada
pelo fogo, fatalmente esta capacidade protetora ser prejudicada, com maior ou menor intensidade,
dependendo da severidade e freqncia dos incndios.
A floresta exerce proteo bsica contra deslizamentos, avalanches, invaso de dunas e eroso.
A floresta atua tambm como reguladora do regime hidrolgico. O solo florestal, coberto pela
serapilheira, facilita a infiltrao da gua das chuvas. O fogo destruindo esta proteo, a gua das
chuvas vai escorrer pela superfcie, causando inundaes, deslizamentos, eroso, etc.
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3.7.2.7. Ar Atmosfrico A combusto completa do combustvel florestal libera calor, gua (vapor) e dixido de
carbono (CO2). A gua no poluidora do ar e o CO2, produzido livremente atravs da decomposio
natural de substncias orgnicas, tambm no considerado, pelo menos at o mom