Bibliotecas no ensino para a e-generation: novos
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Bibliotecas no Ensino para a E-Generation: Novos Contextos e
ConceitosScholl Libraries for the E-Generation: New Contexts and Concepts
Ana Margarida Mendes Dias
ULP, Portugal
Resumo
O surgimento das TIC e a vulgarização da internet estão a provocar alterações profundas na
gestão da informação nas bibliotecas das instituições de ensino secundário e superior,
nomeadamente nas formas de disponibilização, acesso, organização e reprodução da informação
científica e técnica. A procura crescente de recursos digitais e de serviços tecnológicos a par da
exigência por parte dos utilizadores de serviços e acessos cada vez mais rápidos, características
da contemporaneidade e do mundo globalizado, requerem verbas adicionais aos orçamentos,
quase sempre exíguos, das bibliotecas universitárias e escolares. Esta comunicação visa reflectir
sobre o papel, desafios, continuidades e rupturas que se colocam a estas bibliotecas na transição
para a sociedade da informação. Procura ainda analisar questões fulcrais para o
desenvolvimento e futuro das bibliotecas tais como: “Quais as práticas informacionais dos
alunos, professores e investigadores?”; “Que perfi(s) de utilizador(es) na e-generation?”; “Que
modelos de formação de utilizadores seguir no âmbito da literacia da informação?”, “Qual o
papel das bibliotecas de instituições de ensino na formação ao longo da vida?”.
Palavras-chave: Sociedade da informação; Bibliotecas escolares; Formação de utilizadores;
Formação ao longo da vida
Abstract
The growth and development of information and communication technologies
(ICTs) and the dissemination of the Internet services has led to deep changes in school
libraries information management namely in the forms of access, organization and
reproduction of scientific and technical information. To answer with quality to the
expectations of users – digital and technological services and quicker accesses –
characteristics of the contemporaneousness and global world, requires additional
budgets to the small budget of the libraries.
1
The aim of this paper is also to answer some questions such as: Is the development
of the educational activities (teachers, students and researchers) the best practice to
improve the effective use of the library resources? Which is in fact the user(s) profil(es)
of the e-generation? How do we evaluate the impact of the library initiatives on lifelong
learners?
Key words: Information society; School libraries; Users' training; Lifelong learners
Introdução
Esta comunicação insere-se na investigação inicial produzida no âmbito da
elaboração do projecto de tese de doutoramento em Educação, área de concentração
Educação e Bibliotecas com o tema provisório “Competências e práticas informacionais
dos alunos do 12º ano de escolaridade no contexto da Sociedade da Informação e do
Conhecimento”.
Visa contextualizar a necessidade de formação de utilizadores de bibliotecas
escolares nas “formas tecnológicas de vida” (Lash, 2001, p. 105) que caracterizam a
contemporaneidade. É nesta óptica de abordagem de sociedade em rede, em que a
cultura tecnológica “é constitutivamente cultura à distância” (Lash, 2001, p. 107) e em
que “a própria velocidade e o carácter efémero da informação quase não deixam tempo
para a reflexão” (Lash, 1999, p. 14), que esta comunicação se enquadra.
1. As bibliotecas académicas, a sociedade da informação e o papel do bibliotecário
A sociedade em rede é a sociedade em que nós vivemos. Não é uma sociedade composta por cibernautas solitários e robôs em telecomunicação. Nem sequer é a terra prometida das novas tecnologias que resolvem os problemas do mundo com a sua magia. É, simplesmente, a sociedade em que estamos a entrar, desde há algum tempo […]. Mas, da mesma forma que a sociedade industrial coexistiu durante várias décadas com a sociedade agrária que a precedeu, a sociedade em rede mistura-se, nas suas formas, nas suas instituições e nas suas vivências, com os tipos de sociedade de onde surgiu.
2
Manuel Castells (2005, p. 19)
A expansão das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) e a generalização
da Internet, implicitamente referidas no excerto em epígrafe, estão a provocar alterações
substanciais no mundo das bibliotecas das instituições de ensino, nomeadamente nas
formas de disponibilização, acesso, tratamento, organização e reprodução da informação
científica e técnica.
Para J. Afonso Furtado (2007)
encontramo-nos hoje perante uma crescente diversidade de situações de leitura e de experiências da textualidade. O impresso e o livro rivalizam com o ecrã e o livro electrónico”. No entanto, “têm-se assinalado diferenças importantes entre ler em papel e ler num ecrã de computador: velocidade de leitura, pausas, duração das sequências de concentração, saltos, releitura (p. 96).
Na verdade, a leitura em suporte electrónico, mesmo sem entrar em realidades como
a do hipertexto, e a leitura em suporte papel, ainda que os conteúdos sejam os mesmos,
não é idêntica. Esta questão, apesar de remeter para outros campos, nomeadamente os
da sociologia da leitura e da semiótica, problemática que extravasa o âmbito deste
artigo, coloca importantes desafios aos bibliotecários, nomeadamente ao nível da gestão
das colecções. As bibliotecas académicas do século XXI têm que disponibilizar e
organizar diferentes formatos e suportes de informação.
À antiga ‘ordem’ do livro que modelou os conceitos, os modos de funcionamento e os tipos de serviços tradicionais junta-se, agora, uma nova ordem digital que convoca novas formas e processos de acesso à informação e à recepção do conhecimento, transformando a biblioteca num lugar híbrido, onde os livros impressos convivem com os livros digitais (Ventura, 2002: p. 6)
Que recursos adquirir então para responder eficientemente às expectativas e
necessidades dos utilizadores, sobretudo em contexto de recessão económica?
Uma das soluções encontradas para ultrapassar constrangimentos económicos que
afectam a dinâmica das bibliotecas, promover o desenvolvimento sustentado das
colecções, “colmatar falhas diagnosticadas pelos utilizadores, introduzir melhorias
nomeadamente ao nível do acesso à informação e atendimento mais personalizado,
3
reajustando e melhorando a sua prestação de serviços” (Lage, 2006) foi a formação de
redes de bibliotecas. Em Portugal, um bom exemplo desta prática é o desempenho que
tem vindo a ser seguido, desde a sua constituição em 1990, pelos Serviços de
Documentação e Publicações - Biblioteca Central (SDP-BC) do Instituto Politécnico do
Porto (IPP), que há anos desenvolve uma efectiva política de “partilha de custos e de
recursos” entre as bibliotecas e unidades de documentação da Rede de Bibliotecas do
IPP.
Outra das práticas resultantes da necessidade de redução de custos é a negociação
entre instituições de ensino superior e de I&D para compra de licenças conjuntas de
acesso às principais revistas científicas e académicas.
A exigência de serviços e acessos cada vez mais rápidos é uma das características da
contemporaneidade. Para certos autores é
plausível que a leitura, como aliás outras práticas culturais, esteja a inscrever-se no registo de aceleração da temporalidade a que Manuel Castells chama o tempo atemporal, em que valores como a simultaneidade, a sensação do imediato, a mistura de tempos no mesmo canal de comunicação, cria uma espécie de colagem temporal, em que os géneros se entrelaçam e o tempo se torna síncrono num horizonte plano, sem princípio, sem fim, sem sequência. Na verdade, a temporalidade dos novos media, ao contrário do caso da leitura de livros, é baseada numa paroxística aceleração da velocidade. (Furtado, 2007: p. 96).
Nancy Young e Marilyn von Seggun (2001) na investigação que realizaram junto
dos estudantes da Universidade de Idaho sobre práticas informacionais e critérios
utilizados para avaliar fontes de informação, concluíram que os alunos estão
essencialmente interessados em poupar tempo nas suas pesquisas e que são mais
sensíveis à rapidez e facilidade de acesso do que ao rigor dos conteúdos. A usabilidade
(1) e acessibilidade das pesquisas são determinantes para a selecção dos documentos e
adquirem maior importância do que a pertinência dos conteúdos.
A indústria da informação, conhecedora deste facto, e tendo verificado que muitas
bases de dados de prestigiadas editoras internacionais têm baixos índices de consulta
por parte da comunidade científica e académica a que se destinam, devido à dificuldade
inicial das suas expressões de pesquisa, para além das barreiras linguísticas,
4
simplificaram as suas interfaces, promoveram formação e disponibilizaram online
tutoriais e manuais/guias do utilizador, criando assim um lucrativo nicho de negócio.
Os bibliotecários, conscientes também destas novas realidades, sentiram a
necessidade de formarem os seus utilizadores para divulgar e rentabilizar estes
importantes recursos de elevado grau de pertinência para a produção científica e
académica das suas instituições. Assim, a promoção da inclusão digital e da info-
literacia dos utilizadores, mesmo nos meios académicos mais familiarizados na consulta
de bases de dados electrónicas, tornou-se uma das rotinas destes profissionais.
Actualmente a tendência centra-se no investimento em portais de pesquisa federada para
melhorar a navegabilidade e usabilidade e, portanto, aumentar os índices de impacto da
informação.
2 - Actuais Práticas Informacionais dos Alunos: Dados, Controvérsias e
Problemáticas
Um dos dilemas com que hoje os bibliotecários se deparam está directamente
relacionado com as potencialidades/características intrínsecas dos motores de pesquisa e
de outros softwares que se limitam a facilitar o acesso directo e individual dos
utilizadores a uma infinidade de fontes de informação na rede. É o próprio utilizador,
autonomamente, que selecciona o que quer consultar. Todavia, este espaço de liberdade,
à partida atractivo e promissor, é gerador de bastantes equívocos porque, muito
frequentemente, os utilizadores, sobretudo os mais novos, confundem as suas
necessidades de informação com os seus desejos de informação, não sabendo
concretamente o que necessitam, aceitando a primeira referência que encontram, ou a
que lhes é mais familiar, como a mais relevante e útil para as suas investigações. Outros,
sobretudo os mais velhos, querem tudo compilando informação inútil (quer em
qualidade quer em tempo útil disponível para consulta), numa clara atitude de
“infoxicação” (Paula, 2005, p. 372).
A “googlização” da pesquisa, e particularmente o uso recorrente da Wikipedia,
advém, em primeiro lugar, da arquitectura deste software. O termo wiki, do havaiano,
significa, etimologicamente, rápido, e é utilizado para designar softwares colaborativos,
que permitem o hipertexto e a inclusão de documentos em múltiplos suportes,
5
permitindo que os artigos possam ser editados, complementados e corrigidos pelos
próprios utilizadores que navegam no sistema. Tornados assim de ampla cobertura e
rápida actualização, os artigos têm, na sua generalidade, grande número de links para
outros sites. Como um dos principais factores do algoritmo de pesquisa do Google é o
número de links ligados a uma determinada página Web, a Wikipedia ocupa, muito
repetidamente, o primeiro lugar nas pesquisas por palavra-chave. Outra das razões, e
não menos importante, deve-se ao facto de esta Enciclopédia colaborativa on-line poder
ser consultada de forma muito simples e intuitiva, sendo a informação disponibilizada
de forma lógica, em sucessivos interfaces de elevado nível ergonómico e
funcionalidade.
No relatório efectuado pelo Pew Internet&American Life Project (2007) constatou-
se que a Wikipedia ocupa nos EUA o primeiro lugar (24,33%) nas pesquisas em sites
educativos e de referência e que é particularmente acedida por pessoas com nível de
escolaridade médio (36%) e superior (50%). Verificou-se ainda que 71% dos inquiridos
valorizavam a usabilidade na escolha de um software educativo enquanto que apenas
13% apontava a precisão da informação como factor importante na selecção de fontes
de informação electrónicas.
A grande popularidade da Wikipedia como recurso informacional privilegiado,
designadamente nas bibliotecas escolares, deve-se, sobretudo, à facilidade de consulta e
conjugação de vários tipos de informação: informação textual com a alfanumérica,
gráfica e multimédia, características que se sobrepõem à pertinência de conteúdo em
matéria de preferências dos jovens utilizadores. E é precisamente também uma
potencial falta de rigor e precisão que leva a que muitos educadores, professores e
responsáveis por bibliotecas escolares condenem, alguns de forma bastante radical, a
consulta da Wikipedia pelos estudantes.
Um caso paradigmático foi protagonizado por Linda O’Connor, bibliotecária escolar
da Great Meadows Middle School (New Jersey), que em Novembro de 2007 liderou a
campanha “Just say no to Wikipedia”com a mesma veemência com que Nancy Reagan
condenou o uso das drogas (2). Afixou cartazes nos computadores da biblioteca e dos
laboratórios de informática, bloqueou o acesso ao site da Wikipedia em toda a Warren
Hills Regional School District e promoveu acções de sensibilização para a utilização,
por parte dos estudantes, de outro tipo de fontes de informação, nomeadamente livros e
6
revistas especializadas. Fundamentou este procedimento com o facto de não considerar
esta enciclopédia uma fonte de informação credível devido aos erros que continha e
também por ser um dos primeiros sítios que aparece quando se efectua uma pesquisa
simples, o que torna bastante redutor o trabalho de pesquisa por parte dos alunos na
biblioteca, e distorce o carácter formativo das mesmas. Outras razões apontadas foram
as do fácil plágio dos documentos electrónicos e o incentivo à prática do copy/paste na
realização dos trabalhos escolares.
Esta campanha, fortemente mediatizada, desencadeou grande polémica. Muitos
professores, mas sobretudo bibliotecários, questionaram estas medidas, sobretudo na
blogosfera (3), apontando para a crescente importância da formação dos utilizadores a
partir do ensino básico e acentuando o papel educativo das bibliotecas, principalmente
em ambiente digital. Defendiam as pesquisas na Wikipedia, como uma primeira
abordagem aos temas, sobretudo para os de maior actualidade.
Tal controvérsia é actual mas também recorrente. Rui Bebiano (2007), com base na
sua experiência de docente universitário, abordou criticamente no suplemento Digital do
Público (4) alguns dos comportamentos preocupantes observados nos alunos quanto à
utilização da Wikipedia e que devem ser alvo de reflexão por parte dos professores e
bibliotecários. Referiu que um número crescente de estudantes utiliza a Wikipedia como
fonte única de conhecimento; que a maioria não se apercebe que muitos dos artigos
podem ser incompletos, falaciosos e erróneos; e que habitualmente, por dificuldades
linguísticas, apenas utilizam a versão portuguesa que edita artigos mais incompletos que
a versão inglesa. Contudo, incentiva os alunos a consultarem a Wikipedia como ponto
de partida para o estudo, por se tratar “de um processo acessível, barato e que pode abrir
inúmeras pistas em hipertexto a aprofundar posteriormente (os links oferecidos, por
exemplo, são muitas vezes bastante mais interessantes e úteis do que o são as próprias
entradas)”. Paralelamente, apela aos bons hábitos de investigação, condenando o plágio,
e considerando “desta forma evitar que este instrumento se transforme num factor de
desastre, valorizando-o ao mesmo tempo, como ele efectivamente merece. Ignorar o
assunto, ou fazer de contas que ele é irrelevante, é que me parece perigoso”. Esta
posição, bastante pragmática, abre pistas para possíveis campos de formação de
utilizadores em ambiente digital.
7
Em 2003 a Conférence des Recteurs et des Principaux des Universités du Québec
(CREUQ) mandou realizar um “Estudo sobre os conhecimentos em pesquisa
documental dos estudantes que entram no 1º ciclo das universidades do Quebec”
(Mittermeyer, 2003). Responderam aos inquéritos 57% dos alunos, tendo-se verificado
que a maioria utilizava regularmente a Internet como fonte de consulta. Contudo, nos
comentários aos inquéritos, muitos dos estudantes reconheciam a sua falta de
conhecimentos em matéria de pesquisa documental. “Désolée, mais je m’y connais pas
beaucoup en recherche documentaire. Lorsque j’entreprends une recherche, je tape
quelques mots sur un moteur de recherche Internet ou encore, à la bibliothèque et je
m’arrange avec ce qui sort. Disons qu’il s’agit d’une entreprise hasardeuse” referiu um
dos estudantes.
Este estudo reforçou a convicção percepcionada de que um baixo nível de literacia
informacional tem um impacto negativo, não negligenciável, no sucesso académico e na
aprendizagem ao longo da vida que se repercute na qualidade científica e no
desempenho dos estudantes. Concluiu ainda que os principais efeitos prejudiciais se
centravam nos seguintes aspectos: a dificuldade em recuperar informação pertinente
devido à utilização de conceitos desadequados ao contexto de pesquisa; o fraco
conhecimento do vocabulário controlado; as deficientes estratégias de pesquisa; a
incapacidade de interpretar correctamente referências bibliográficas; a adopção de
estratégias baseadas na “tentativa / erro” que conduzem a uma enorme taxa de ruído, à
ineficácia e dispêndio de tempo (e muito frequentemente de dinheiro) na consulta de
documentos não relevantes. Outro aspecto focado foi o potencial (ab)uso de plágio por
parte dos alunos quer por ignorância das regras de referenciação, em particular das que
se referem aos documentos electrónicos, sobretudo por dificuldades na distinção entre
documentos consultados e citados.
3 - Perfil de Utilizadores da E-Generation em Bibliotecas Escolares Portuguesas
Os alunos que se encontram a frequentar o ensino básico e secundário já nasceram
na sociedade da informação. Pertencem à designada e-generation que apresenta uma
grande familiaridade na utilização das TIC e uma maior ciberexperiência que a maioria
dos seus pais e professores. Em Portugal há também a considerar que uma grande parte
8
dos estudantes não tem ainda acesso à rede em suas casas. Então, a escola,
particularmente através da biblioteca, assume uma importância estratégica decisiva na
democratização do acesso à internet, na promoção da info-literacia dos jovens, na
familiarização com as TIC e na sensibilização para a utilização adequada da internet
evitando-se assim alguns riscos como os sites não seguros (para já não referir os muitos
que veiculam conteúdos inadequados). Efectivamente, um dos serviços mais procurados
nas bibliotecas escolares é o da pesquisa da informação na internet para a realização de
trabalhos escolares.
Um inquérito realizado em 2006 pelo CIES-ISCTE (Cardoso, 2007) corrobora
resultados de estudos e comportamentos observados, sobre o perfil dos nossos alunos do
ensino básico e secundário, no que concerne à utilização das TIC: 69,1% dos inquiridos
aprenderam sozinhos e intuitivamente a utilizar a internet; cerca de 16,2% referem a
ajuda dos professores da escola. É interessante verificar que uma grande parte dos
estudantes inquiridos acha que tem ou um nível médio (46,9%) ou um nível avançado
(30,9%) de utilização da internet. No que respeita à utilização das TIC para fins
educativos constata-se que uma grande maioria de alunos (86,5%) utiliza a internet para
procurar informação relacionada com os estudos e procura informação em páginas
WEB para estudar ou fazer trabalhos. Também se verifica que alguns professores
utilizam a internet para explicar a matéria ou incentivam a sua utilização para estudar
ou, por exemplo, fazer exercícios no âmbito das suas disciplinas. Este estudo aponta
ainda a multitarefa como uma característica dos adolescentes que realizam,
simultaneamente, várias actividades, mesmo quando estudam, como, por exemplo, ouvir
música, consultar o computador e comer.
Mas, apesar dos jovens de hoje viverem num contexto mediático em constante
evolução e mudança, os estudos recentemente encomendados pelo Plano Nacional de
Leitura, no contexto do projecto A leitura em Portugal, realizados em 2006 e publicados
em 2007 (5), apontam para que os jovens têm hábitos de leitura, mais as raparigas que
os rapazes, registando-se uma coexistência entre as diferentes actividades. A internet,
para além de servir para comunicar com os amigos (neste caso como substituto do
telemóvel) é essencialmente utilizada para a pesquisa de informação como
complemento das fontes de informação tradicionais, e para actividades lúdicas (jogos).
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Não há indicadores de que os novos tipos de literacia estejam a sobrepor-se à tradicional
leitura de livros e revistas em suporte papel.
Conclusão
Para os bibliotecários fica a questão: satisfazer as necessidades dos seus leitores de
forma pedagógica – e neste caso, com que ferramentas e estratégias educativas, como? –
ou limitarem-se a realizar passivamente os desejos dos seus utilizadores? Quais são,
concretamente, as competências dos alunos em matéria de literacia informacional?
Quais são as variáveis envolvidas? Portugal apresenta índices e hábitos de consulta on-
line semelhantes aos outros países europeus?
Retomando Lash (1999, p. 19), “na ordem da informação, a desigualdade define-se
cada vez menos pelas relações de produção […] a exploração é menos central que a
exclusão. E a exclusão é, antes de mais, algo que se define em conjugação com os
fluxos de informação e de comunicação”.
Nesta óptica cabe aos bibliotecários e aos professores promover a literacia digital e
serviços educativos que desenvolvam nos alunos “mapas cognitivos”, numa perspectiva
de ecologia informacional, que lhes permitam evoluir de forma integrada e autónoma,
quer como pessoas quer como estudantes, numa postura crítica e reflexiva.
E terminamos com uma citação de António Dias de Figueiredo (2007), na
introdução ao livro Sociedade da Informação: o percurso português, editado dez anos
após lançamento do Livro Verde para a Sociedade da Informação: “só quem constrói
conhecimento, pela educação e pela aprendizagem, fica habilitado a traçar os seus
próprios destinos. Pelo contrário, quem se priva de conhecimento é arrastado para
situações de limitação e de dependência. No passado, o analfabetismo era a situação
mais grave de privação; hoje, a privação estende-se a quem não souber integrar as
tecnologias no seu dia-a-dia”.
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Notas
(1) - O índice de usabilidade classifica a facilidade com que os utilizadores conseguem
utilizar um sistema para atingir um determinado objectivo. As normas internacionais
que regulam esta temática são a a ISO 9241-11:1998, ISO 13407:1999 e ISO/TR
18529:2000.
(2) - “Just say no!”
(3) - Entre outros consultar: <http://www.dangerouslyirrelevant.org/2007/11/just-say-
no-to.html>
http://seattletimes.nwsource.com/html/living/2004025648_wikipedia21.html>; <
http://aterceiranoite.wordpress.com/2007/06/17/wikipedia-modo-de-usar/ >.
(4) - O jornal Público de 27 de Janeiro de 2008 também publicou artigos de reflexão
sobre esta temática.
(5) - O presente projecto insere-se nos estudos sociológicos do Plano Nacional da
Leitura, coordenados por João Trocado da Mata (Gabinete de Estatística e Planeamento
da Educação – GEPE) e é uma encomenda do Instituto Superior de Ciências do
Trabalho e da Empresa (ISCTE) ao Observatório das Actividades Culturais.
Referências Bibliográficas
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Figueiredo, A. D. (2007). A dimensão crítica da sociedade da informação em Portugal. In J. D. Coelho (Org.). Sociedade da informação: o percurso português: análise e perspectivas (pp. 140-147). Lisboa: Sílabo.
Furtado, J. A. (2007). O papel e o pixel: do impresso ao digital: continuidades e transformações. Lisboa: Ariadne.
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Paula, I. (2005). Hacia una perspectiva humana y humanista de la relación virtual biblioteca-usuario. In IFLA. The virtual customer: a new paradigm for improving customer relations in libraries and information services (p. 372). Munchen: Saur.
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Young, N. & Seggun, M. (2001).General information seeking in changing times: A focus group study. Reference & User Services Quarterly, 41(2), 159-169.
Nota sobre a autora
Coordenadora da Biblioteca da Escola Secundária de Vila Verde, encontra-se a
frequentar o Doutoramento em Educação na Universidade Lusófona do Porto.
Desenvolve investigação na área da literacia da informação e sobre o impacto das
bibliotecas no processo de ensino-aprendizagem.
Mail de contacto: [email protected]
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