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A Voz do Corao A Call of Love Barbara Cartland

Um encontro inesperado. A descoberta do amor! pedido do primeiro-ministro, lorde Kenington parte para a ndia. Sua misso des cobrir o que acontece na fronteira Noroeste e se o objetivo dos russos invadir a ndia. No navio em que viaja lorde Kenington conhece Aisha Warde, que tambm est indo a Calcut para encontrar-se com o pai. Como Aisha viaja sozinha, lorde Kenington faz-lhe companhia e assim impede que um passageiro atrevido a importune. O que e le no imagina que, muito em breve, desejar com todas as suas foras ter Aisha em seu s braos! Digitalizao: Rosana Gomes Reviso: Cassia

Querida leitora, A primavera est quase chegando... Sinceramente, eu adoro a primavera. a estao do ano em que me sinto renovada, quando tenho vontade de organizar gaveta, limpa r jardim, enfim, pr a vida em ordem. Gosto tambm de observar os pssaros pousando nas flores, sugando seu nctar... M as gosto principalmente de ler um bom romance da Nova Cultural, claro! Janice Florido Editora chefe Algumas datas da vida de Barbara Cartland: 1901 - Nascimento 1923 - Publica seu primeiro livro 1927 - Casa-se com Alexandre McCorquodale 1933 - O primeiro casamento desfeito 1936 - Casa-se em segundas npcias com Hugh McCorquodale, primo de seu primei ro marido 1963 - Publica seu centsimo livro 1976 - Sua filha Raine casa-se com o Conde Spencer, pai da princesa Diana 1981 - A princesa Diana, enteada de sua filha, casa-se com Charles, prncipeherdeiro da Inglaterra 1983 - Entra no livro de recordes Quinness 1991 - Recebe o ttulo de "Dame" do Imprio Britnico Copyright 1994 by Barbara Cartland Ttulo original: A Call of Love Traduo: Erclia Magalhes Costa

Capa: Murilo Martins e Inez Martins EDITORA NOVA CULTURAL uma diviso do Crculo do Livro Ltda. Alameda Ministro Rocha Azevedo, 346 - 9a andar CEP 01410-901 - So Paulo - SP - Brasil Copyright para lngua portuguesa: CIRCULO DO LIVRO LTDA

NOTA DA AUTORA O que escrevi neste livro sobre o Grande Jogo verdadeiro. Os membros secretos dessa extraordinria organizao andavam por desfiladeiros ins pitos e desertos escaldantes, arriscando a vida para descobrir o que os russos p retendiam um espalharem pela sia Central. As duas superpotncias da poca estavam frente a frente desde a Cucaso coberto d e neve, a Oeste, at o Tibete e a China, ao Leste. Uma guerra subjacente j havia comeado entre a Rssia e a Gr- Bretanha quando a n dia e a Rssia achavam-se separadas por apenas duas mil milhas. Essa distncia, fina lmente, encolheu-se para menos de vinte milhas. Os homens que tomavam parte nessa guerra corriam srios riscos e muitos deles perderam a vida. Todavia, os jovens oficiais e soldados escolhidos para tomar parte no Grand e Jogo, vibravam e sentiam um grande entusiasmo com o qual s haviam sonhado. Era a chance de fugir da monotonia da vida nas tropas, alem de ser um modo rpido de conseguir uma promoo. Depois de ter viajado por toda a ndia, cenrio das atividades do Grande Jogo, Peter Hopkirk escreveu The Great Game, o livro mais interessante sobre a organiz ao secreta britnica. O livro narra verdadeira historia desse empolgante "Jogo" e o modo extraord inrio como as misses eram realizadas. O autor escreve de modo to vivido que torna a leitura muito agradvel. Para mim esse foi um dos livros mais fascinantes que j li.

CAPTULO I

1880 Lorde Kenington acordou com um sobressalto. Olhou para o relgio do seu lado e viu que j era um novo dia. Embarcara to cansado no vapor da companhia P.&O. Com destino ndia que, mal te rminara o jantar trazido cabine pelo valete, fora para a cama, adormecendo imedi atamente, sem sequer pensar nos problemas ou nas decises que teria de tomar. O dia anterior fora extenuante. Ele havia estado com o primeiro-ministro, n uma reunio que se prolongara por horas, e deixara a Downing Street com a misso de embarcar para a ndia a fim de descobrir e relatar ao Sr. Disraeli o que acontecia na fronteira Noroeste daquele pas. A rainha Vitria, pessoalmente, pedira lorde Kenington um relatrio muito mais minucioso do que aqueles que lhe eram mandados oficialmente. A ndia, no momento, era extremamente importante para a Inglaterra. Havia uma inequvoca ameaa de invaso da fronteira por parte da Rssia. Os cossacos, montados em seus cavalos magnficos, avanavam pelo sul da sia, e a proximavam-se perigosamente do que era considerada a mais preciosa "Jia da Coroa Britnica". Lorde Kenington tocou chamando Newman, seu valete, que ocupava a cabine viz inha. Ento se levantou e comeou a trocar-se em silncio. Sabendo que o patro no gostava de conversa pela manh, Newman entregou-lhe as r oupas uma a uma, ele sempre calado, ajudou-o a arrumar o lao da gravata. Tendo decidido tomar o caf da manh no salo, lorde Kenington deixou a cabine. F oi primeiro para o convs para respirar o ar fresco. O vapor quase terminara a tra vessia do canal da Mancha e em breve alcanaria a baa de Biscaia, onde o mar era in variavelmente encapelado, mesmo que o sol brilhasse. Sendo bom marinheiro, lorde Kenington no se aborrecia quando o mar estava re volto. Pelo contrrio, tinha prazer de observar a fria dos elementos, as ondas se a rremetendo violentas contra o casco do navio. Andando pelo convs ele lamentou que durante a viagem fizesse to pouco exerccio . Em Londres costumava cavalgar todas as manhs na Rotten Row. Quando estava campo , alm dos passeios a cavalo, tambm praticava saltos. S depois de exercitar-se duran te duas horas que comeava a trabalhar. Aos vinte e oito anos, lorde Kenington poderia gozar a vida divertir-se e c om as beldades de Mayfair, como faziam seus amigos e o prncipe de Gales. Entretan to, ele no achava interessante perseguir aquelas ladies sofisticadas que tinham b eleza, mas, em geral, um crebro vazio. Assim, ainda que parecesse absurdo, lorde Kenington preferia o trabalho ao jogo das conquistas amorosas. Tal qualidade muito agradava ao primeiro-ministro e ao ministro das relaes ex teriores, os quais consultavam lorde Kenington com freqncia e no raro encarregavamno de misses delicadas e sigilosas em vrios pases da Europa. Dotado de crebro brilhante e ar de autoridade, lorde Kenington sara a seus an cestrais. Todos eles desempenharam papel importante na poltica do pas. Desde muito jovem ele sempre gostara, da companhia e da conversa de homens bem mais velhos do que ele, com quem muito aprendia. Em Eton e na universidade ele fora, em todos os anos, o primeiro da classe. Alguns colegas chegaram a lhe dizer, queixosos: Voc muito inteligente, Charles, e nos faz sentir tolos e humilhados. Mas os colegas e amigos jamais se indispunham com Charles. Pelo contrrio, go stavam dele por ser extremamente simptico e generoso. Charles os convidava para c aar na propriedade do pai, no campo, e para participar de stee-plechases, um dos grandes acontecimentos da primavera.

Depois de ter herdado o ttulo, Charles passara a administrar as propriedades deixadas pelo pai, mas sua presena no era imprescindvel em nenhuma delas, pois tud o era muito organizado e seus empregados mereciam total confiana. Sendo assim, sobrava ao novo lorde Kenington muito tempo para dedicar-se po ltica. Invariavelmente ele se envolvia em todas as crises, quer ocorressem em Lond res, Paris ou Tombucto. Lady Kenington, me de Charles morava na casa ancestral da famlia, uma das mai s belas da Inglaterra. Ao saber que o filho estava de partida para a ndia, queixa ra-se: No sei por que o primeiro-ministro e o ministro do exterior recorrem a voc pa ra ajud-los, Charles, se pode contar com o vice-rei e os diplomatas. Sempre h conf litos na ndia e receio pela sua vida, meu filho. Merecer a confiana de Disraeli e do ministro das relaes exteriores uma honra, mame tornara lorde Kenington. A bem da verdade, devo dizer que eu ficaria magoad o e surpreso se eles no quisessem ouvir a minha opinio. Pelo menos voc descansar na viagem de ida e de volta, cada uma com dezessete dias de durao, meu querido. Por que acha que preciso de descanso, mame? Indagara lorde Kenington. Est que rendo dizer que no estou bem de sade? No isso, filho. Vejo que voc trabalha demais e passa muito tempo em reunies ou viajando. J est na hora de pensar em ter a sua famlia e dedicar-se apenas a ela e s suas propriedades observara lady Kenington. Oh, no, mame! Lorde Kenington levantara as mos. Estou cansado de ouvi-la dizer que devo me casar e acomodar-me. A senhora sabe melhor do que ningum que amo ave nturas. Se eu ficar s na Inglaterra, seja no campo ou em Londres, eu acabarei mor rendo de tdio. Gosto de viajar pelo mundo e estando casado isso no seria possvel. Lady Kenington sorrira, mas havia ansiedade em seu olhar. Como todas as mes ela se preocupava com o filho nico que, a seu ver, desperdiava a juventude. Charle s se desgastava ao tomar sobre si responsabilidades que seriam do governo. Um homem to bonito e to jovem como ele, ela pensava, no devia ficar trancado e m reunies com o primeiro-ministro, nos ministrios ou mesmo no seu escritrio, em vez de divertir-se. Charles, porm, sentia que era seu dever contribuir da maneira que fosse possv el para a maior glria do Imprio Britnico que se expandia cada vez mais. Otimista como sempre, Charles Kenington embarcara para a ndia disposto a res olver todos os problemas que o aguardavam. Porm considerou bem-vindos os dias de descanso que teria obrigatoriamente du rante a longa viagem. Tambm se alegrou porque no lhe faltaria tempo para ler. A leitura era um de seus passatempos prediletos. A me costumava dizer que el e devorava livros. De fato, seu secretrio tinha ordem de adquirir tudo o que de m elhor fosse publicado Em sua bagagem, alem das roupas, estavam uma pilha de volumes, quase todos os lanamentos recentes que ele pretendia ler antes de chegar a Calcut Depois da terceira volta no convs lorde Kenington foi para o salo tomar o caf da manh. Queria ver como eram os passageiros da primeira classe. Apesar de ter sido convidado pelo comandante para sentar-se sua mesa, lorde Kenington agradecera a deferncia alegando que estaria muito ocupado a bordo e ra ramente faria as refeies no salo. Fora-lhe ento reservada uma mesa de canto; dali ele podia observar todos os que estivessem no salo. Sentando-se mesa lorde Kenington, constatou como j esperav a que os companheiros de viagem fossem, em sua maioria, casais de meia-idade, of iciais que retornavam ndia depois de um perodo de licena ou subalternos eufricos, en viados para o Oriente pela primeira vez. Ele no deixou de notar que as senhoras conversavam alto, e vestiam-se com ex agero. Os indianos em geral viajavam na segunda e terceira classes, em cabines peq uenas e mal ventiladas. Impressionados com a aparncia e o ttulo de lorde Kenington, os criados de bor

do dispensaram-lhe toda ateno, certos de que receberia do aristocrata ingls uma gor jeta muito generosa. Lorde Kenington no se demorou mesa, mesmo porque os pratos servidos no eram m ais do que comveis e o caf razovel. Mal ele levantou-se um dos criados adiantou-se, apressado, para abrir-lhe a porta. A inteno de lorde Kenington era ir at a cabine, pegar um livro e ento voltar ao convs para ler um pouco. Mas ao passar pela biblioteca decidiu verificar se enco ntraria ali algo do seu interesse. Seria melhor fazer isso antes que outros passageiros tomassem os livros emp restados. Uma vez na biblioteca, na verdade uma pequena cabine, ele viu que as e stantes estavam repletas e os volumes, da mesma forma que o navio, era novo. Ao correr os olhos pelas lombadas verificou que quase todos os livros eram romances. O que ele procurava era algum volume sobre a ndia que ainda no tivesse l ido. Estava absorto lendo os ttulos nas lombadas quando uma voz o surpreendeu. Por favor... Posso falar... Com o senhor? Virando-se, lorde Kenington viu uma jovem do seu lado. Era linda e sua expresso e seu modo de falar indicavam que ela estava amedro ntada. Sim, claro ele respondeu. O que posso fazer por voc? Quero que aquele homem... Veja-me conversando com o senhor. Ele me assusta. .. Mas talvez v embora... Se me vir na companhia de um cavalheiro importante... C omo o senhor. A voz da moa tremia um pouco. Que homem? Por que ele a assusta? Indagou lorde Kenington, olhando ao redor sem ver ningum. Ele estava atrs de mim... Ainda h pouco. Desde que o embarquei vem... Importu nando-me. Ontem noite tive muito medo. Quando vi o senhor sozinho no salo... Deci di pedir a sua ajuda. As palavras pareciam cair dos lbios da moa. Este lugar muito pequeno e se conversarmos aqui algum poder entrar e nos ouvi r. Vamos para o convs lorde Kenington convidou-a. L ningum nos perturbar e voc p r-me falar sobre esse homem. muita amabilidade sua milorde. J li seu respeito nos jornais e sei que... Ni ngum se atrever a aborrecer um cavalheiro to distinto e importante. Lorde Kenington sorriu. Eu queria que isso fosse verdade. Vamos ver se encontramos um lugar onde no nos perturbem. No convs eles se sentaram ao abrigo do vento. Pela primeira vez lorde Kening ton observou a moa com ateno e viu que ela era, sem dvida, uma lady e tinha uma bele za extraordinria. No era possvel que estivesse viajando sozinha. Com quem voc est viajando? Perguntou. Naturalmente voc tem uma chaperon. A moa respirou profundo antes de responder: Estava tudo arranjado para eu viajar na companhia do deo de Worcester e da e sposa, que iam para a ndia. Porm ele ficou doente e o casal cancelou a viagem. No aconselhvel fazer uma viagem como esta, sozinha lorde Kenington observou. Sim, concordo com o senhor. Mas eu estava ansiosa para ir ao encontro de me u pai e decidi no esperar pelo restabelecimento do deo. Alm disso, achei que ningum sequer notaria a minha presena a moa justificou-se. Assim falando ela olhou ao redor, como se receasse que o seu perseguidor es tivesse por perto, observando-a. Continue pediu lorde Kenington. O que aconteceu ento? Ontem noite o comandante convidou-me para sentar-se sua mesa, mas eu no quis ser um estorvo. Tambm no gostei de ver que havia muitos homens com ele. Agradecilhe pelo gentil convite e preferi sentar-me sozinha a uma mesa. Ento o homem de quem eu lhe falei, milorde, tambm convidado do comandante, sentou-se minha frente e comeou a conversar. Achei-o muito atrevido e permaneci a maior parte do tempo calada. Terminado o jantar ele insistiu em me levar at o convs e... Quis tomar... Liberdades... a m oa parou de falar, evidentemente constrangida.

Voc est querendo dizer que ele tentou beij-la concluiu lorde Kenington delicad amente. Sim... Tentou... a moa assentiu. Mas corri para a minha cabine. Tive o cuida do de trancar a porta a chave. Era o melhor que voc tinha a fazer lorde Kenington aprovou. Infelizmente esse homem desagradvel descobriu onde eu dormia e bateu na port a. Como no respondi... Ele continuou batendo. Fez tanto barulho que alguns pass ageiros reclamaram. E voc acha que eu posso proteg-la, por isso veio me procurar lorde Kenington deduziu. Acredito que se o senhor conversar comigo... Ocasionalmente... Aquele homem atrevido no me molestar. Com certeza ele no ir indispor-se com um aristocrata impor tante como o senhor. No esteja to certa contraps lorde Kenington. Em outro tom acrescentou: Bem, vo c j sabe que sou eu. Gostaria que me dissesse seu nome. Oh, peo-lhe desculpas por no ter-me apresentado assim que o procurei para ped ir-lhe ajuda. Sou Aisha Warde, filha do major Harold Warde. Meu pai est servindo na ndia no momento. O nome no era estranho lorde Kenington. Ele achou que algum o havia mencionad o ou ele j havia lido a respeito do major Warde. Como no tinha certeza, preferiu m anter-se calado. J viajei bastante, mas esta a primeira vez que vou para a ndia Aisha estava d izendo. No vejo a hora de conhecer aquele pas e de estar com papai, claro. Seu entusiasmo natural, Aisha. Quanto a esse homem que a vem molestando, vo c sabe quem ele? Sei que se chama Arthur Watkins e posso afirmar que no um gentleman. Pelo menos no se comporta como tal replicou lorde Kenington. Vou cuidar para que esse Arthur Watkins no a aborrea mais. Far isso por mim? Muito obrigada Aisha agradeceu, aliviada. muito gentil de sua parte. Continuo achando que arriscado voc viajar sem uma chaperon lorde Kenington i nsistiu. Vou falar com o comissrio para saber se possvel voc mudar de cabine. Depoi s verificarei se h algum a bordo que aceite fazer-lhe um pouco de companhia e conc orde em t-la mesa para as refeies. Fique tranqila, pois ningum mais bater sua por modo to inconveniente. ... Assustador. Tive muito medo de que a porta... Se abrisse Aisha murmurou. Como este navio novo, eu acredito que as fechaduras sejam perfeitamente seg uras. Uma vez que a porta esteja trancada a chave, voc no precisa temer intrusos, e stejam eles sua procura ou atrs do seu dinheiro. O modo de lorde Kenington falar fez com que Aisha sorrisse. Ele achou ainda mais encantadora. muita amabilidade sua ter tanto trabalho por minha causa ela disse. Lamento estar sendo uma amolao para o senhor. Voc no nada disso redargiu lorde Kenington, cortesmente. Estou viajando sozin o e, ainda h pouco, no salo, olhei para os passageiros e disse a mim mesmo que no t inha vontade de conversar com nenhum deles. verdade? Aisha riu. Pois ontem, ao jantar, eu pensei a mesma coisa. Ento aqu ele homem horrvel veio at a minha mesa e no tive como mand-lo embora. Voc deveria ter sentado mesa do comandante observou lorde Kenington em tom d e censura. Na mesa dele tambm havia alguns homens com quem no me simpatizei e que viajav am sozinhos. Preferi evit-los exps Aisha. Vou falar com o comissrio de bordo lorde Kenington repetiu. Quer acompanharme ou me espera aqui? Voltarei em poucos minutos. Prefiro esper-lo... Mas voc... Voltar mesmo? A voz de Aisha soou trmula novamen te. Voltarei claro lorde Kenington prometeu. Fique tranqila.

O escritrio do comissrio de bordo era bem perto e lorde Kenington foi gentilm ente recebido. Estive falando com uma jovem lady, a Srta. Warde, que se queixou de estar s endo importunada por um dos passageiros ele exps. Importunada, milorde? Como? Indagou o comissrio em tom incisivo. Um passageiro de nome Arthur Watkins a vem aborrecendo, aproveitando-se do fato de ela estar viajando sozinha. Arthur Watkins? Tem certeza de que esse o nome, milorde? Plena certeza. Peo-lhe, senhor, que o advirta por molestar uma jovem. Na ver dade, estou admirado de saber que um homem como esse, que nem por sombra um cava lheiro, esteja viajando na primeira classe lorde Kenington falou em tom autoritri o. O comissrio ficou em silncio e parecia muito contrariado. O que foi? Lorde Kenington quis saber. Certamente o senhor ir falar com esse homem. O grande problema exatamente esse, milorde. No posso chamar-lhe a ateno respo deu o comissrio, nada vontade. Por que no? Porque o Sr. Watkins um dos nossos maiores acionistas, milorde. Recebi orde ns de trat-lo com a maior deferncia e fazer tudo para que ele tenha todo o confort o possvel. Ser que estamos falando do mesmo homem? Lorde Kenington duvidou. S h um Arthur Watkins a bordo, milorde, ele ocupa a nossa melhor cabine afirm ou o comissrio. Na verdade o Sr. Watkins fez questo de ficar tambm com a cabine viz inha sua. Para us-la como sala, de modo a poder receber nela, com privacidade, pessoas do seu interesse. Lorde Kenington comprimiu os lbios. Teve certeza de a inteno do Sr. Watkins er a convidar Aisha para ir sua cabine. Em voz alta disse: Compreendo a sua dificuldade. Ao mesmo tempo, a jovem lady recorreu a mim p ara ajud-la. Ela viaja sem uma chaperon e ela est assustada com o modo como o Sr. Watkins vem se comportando. O comissrio passou a mo pela cabea, evidentemente aflito. No sei o que fazer. Mesmo que eu mude a Srta. Warde de cabine, o Sr. Watkins descobrir para onde ela foi transferida. Ele tem todo o direito de consultar a l ista de passageiros e saber onde cada um dorme. Nesse caso, verifique se h uma cabine desocupada perto da minha. Se houver, transfira a Srta. Warde para l dessa forma eu poderei olhar por essa jovem que me pediu ajuda. Depois de consultar o registro de passageiros o comissrio informou: H uma cabine vaga, vizinha da sua, mas est reservada para um passageiro que e mbarcar em Gibraltar. Nesse caso talvez seja possvel uma troca. A Srta. Warde se mudar para essa ca bine vaga e o passageiro de Gibraltar ocupar a dela lorde Kenington sugeriu. Se estivesse falando com outra pessoa, o comissrio iria argumentar que a cab ine vaga era melhor, e mais ampla do que a ocupada pela Srta. Warde. Entretanto, diante do ar de autoridade de lorde Kenington e de sua importncia, ele aceitou a sugesto que lhe foi apresentada. Muito bem, milorde. Direi ao camareiro de bordo para transferir a bagagem d a Srta. Warde para a cabine vaga. Mas necessrio que ela pague a diferena de preo, p ois passar a ocupar uma de nossas melhores cabines. Obrigado. Quanto a isso no h problema. Vou avisar a Srta. Warde sobre a mudana . Lorde Kenington deixou o escritrio imediatamente, sem ter idia de que o comis srio, voltando-se para seu assistente, desabafou: O mnimo que posso dizer que acabo de arranjar uma boa encrenca. Se o Sr. Wat kins ficar sabendo que interferi no que ele considera a sua diverso predileta, fa r o maior barulho e eu serei despedido. Watkins pode ter muito dinheiro, mas que um cara desagradvel, isso nem se di

scute comentou o assistente, abaixando a voz. De volta ao convs, lorde Kenington foi ao encontro de Aisha. Ao v-lo ela ficou de p e perguntou ansiosa: Voc conseguiu que eu me mude para outra cabine? Est tudo arranjado para voc ocupar a cabine que fica direita da minha. Oh, que tima notcia! Aisha alegrou-se. Nem sei como lhe agradecer. Mas... Ser que o senhor Watkins no descobrir para onde fui transferida? No se preocupe com isso. Como voc ficar perto de mim, ningum a aborrecer. Saberei lidar com qualquer homem que se comporte de maneira inconveniente. A propsito, fiquei sabendo que Arthur Watkins um dos maiores acionistas da compan hia P.&O. Oh, no! Aisha exclamou, atemorizada. Nesse caso ele se julga dono do navio e me impedir de mudar-me para perto de voc. Por mais rico que Watkins seja, posso garantir que ele no vai querer indispo r-se comigo lorde Kenington falou com firmeza. Tem razo. Por um momento esqueci que voc muito importante. Seu nome est nos j rnais dia aps dia e eu sempre me perguntava como seria esse famoso lorde Keningto n. E como eu sou? Ele inquiriu com um sorriso. o cavalheiro mais amvel e solidrio que j conheci Aisha falou com sinceridade. Talvez voc me considere petulante por t-lo procurado para pedir ajuda. Mas eu soube intuitivamente que podia confiar em voc. Papai sempre me disse para eu no t er medo de fazer o que julgava certo. Vejo que seu pai lhe deu um bom conselho disse lorde Kenington, rindo. Espero que papai esteja bem. Havia uma sombra no olhar de Aisha. Ele sempre me preocupa, pois est constantemente envolvido em misses perigosas. Subitamente lorde Kenington lembrou-se de que o primeiro-ministro lhe falar a sobre o major Warde, um dos principais agentes do Grande Jogo, a organizao secre ta mais extraordinria criada recentemente. As autoridades da ndia estavam muito pr eocupadas com a infiltrao dos russos na sia. Os cossacos atacavam de surpresa as ci dades e povoaes e vinham avanando consideravelmente nos ltimos trs anos. No momento eles se achavam a uma distncia desconfortvel e perigosamente peque na das fronteiras com a ndia. Ocupavam toda a rea que se estendia das montanhas ne vadas do Cucaso, a Oeste, at os grandes desertos e cordilheiras da sia Central. A conquista dos russos tivera incio nos primeiros anos do sculo XIX, quando s uas tropas foram avanando pelo Cucaso, ento habitado por tribos ferozes, muulmanas e crists, na direo do norte da Prsia. A princpio esse avano no impressionou a Gr-Bretanha. Os postos britnicos da fron teira ficavam muito distantes para preocupar Sua Majestade. S quando informaes secretas chegaram a Londres, o governo britnico ficou alarma do. No s na Inglaterra, mas tambm na ndia as autoridades compreenderam que os russo s vinham tentando tirar da Gr-Bretanha o pas que era considerado a maior "Jia da Co roa". Era esse o motivo de lorde Kenington estar fazendo a presente viagem. Quero que voc descubra quais so os planos dos russos, se as suas tropas so num erosas e fortes o bastante para vencer os obstculos do caminho e para nos fazer r ecuar, caso cheguem fronteira da ndia dissera o primeiro-ministro lorde Kenington . O Sr. Disraeli tinha conhecimento de que a maioria dos que trabalhavam com ele considerava suas preocupaes absurdas. Quase todos acreditavam que seria impossv el a Rssia resistir ao poderio do Exrcito britnico num confronto corpo a corpo. Mas o primeiro-ministro no era to otimista e, quando lorde Kenington aceitara a misso, recomendara-lhe com insistncia: Quero saber a verdade, toda a verdade e confio na sua capacidade, intelignci a e perspiccia. H pessoas aqui que s acreditaro que o pior pode acontecer quando j fo r tarde demais. Havia na voz dele uma nota severa. Lorde Kenington sabia que o primeiro-min istro estava tendo problemas com seus assessores e vrios ministros. Muitos achavam que o Sr. Disraeli gastava dinheiro demais e outros o criti

cavam por mandar grande nmero de bons homens para a ndia. Tudo o que lorde Kenington pudera fazer para animar o primeiro-ministro for a prometer-lhe descobrir a verdade, como lhe fora pedido. Para ajud-lo na sua misso lorde Kenington trouxera consigo vrios livros sobre a ndia. Precisava adquirir mais conhecimentos sobre o pas. O que ele no esperava nessa viagem era ter de desviar a ateno do seu trabalho para ajudar uma linda moa assustada. Ao mesmo tempo, ele no poderia dizer-lhe para cuidar dos prprios problemas, pois no tinha a menor inteno de envolver-se neles. Ele sabia que os temores de Aisha tinham fundamento. Com a sua experincia no ignorava que tipos como Arthur Watkins sentiam uma atrao irresistvel por moas lindas que viajavam sozinhas. "No creio que seja o bastante transferir Aisha para a cabine vizinha", lorde Kenington considerou. "Suponho que seja melhor eu tomar conta dela." Sentando-se do lado de Aisha ele viu a expresso de profundo agradecimento em seus olhos e convenceu-se de que no teria escolha. Seria desumano no proteger uma garota to doce e assustada. Daqui a pouco um dos camareiros ir trazer a sua bagagem para a cabine pegada minha disse. Se Watkins voltar a bater em sua porta eu o ouvirei e lhe direi pa ra comportar-se, coisa que o comissrio no pode fazer. Mais uma vez, muito obrigada! Aisha tornou a agradecer. Assim que o vi eu s oube que poderia contar com voc. Estou tranqila, pois tenho certeza de que o Sr. W atkins no voltar a me aborrecer... Quando nos vir juntos. No creio que haja necessidade de procurarmos algum casal para cuidar de voc. As refeies voc poder sentar-se mesa do comandante ou minha. claro que prefiro ficar com voc Aisha escolheu sem hesitar. O Sr. Watkins s enta-se tambm mesa do comandante e quando me vir far tudo para sentar-se do meu l ado. Ontem noite ele ficou me olhando de um modo horrvel. Watkins no a aborrecer mais prometeu lorde Kenington. Agora vou fazer um pouc o de exerccio. Quer dar umas voltas comigo pelo convs? Ser bom exercitar as pernas. Se voc no achar que estou abusando de sua bondade e pacincia, terei grande pra zer de acompanh-lo. Prometo no conversar, caso voc prefira o silncio. Vamos nos concentrar no exerccio. Conversaremos mais vontade durante as refe ies. Lorde Kenington ficou de p e deu a mo para ajudar Aisha a levantar-se. Por enqu anto o convs est relativamente vazio e o mar calmo. No vai demorar muito teremos on das altssimas que invadiro o convs, deixando-o escorregadio. o que costuma acontecer na baa de Biscaia, no? Sim, em geral h tempestade nessa baa. Mas no Mediterrneo o mar normalmente cal mo. No vejo hora de entrarmos no Mediterrneo. Para mim o mais belo que existe. Tambm estou ansiosa para conhecer a ndia sobre a qual s tenho lido. Voc gosta de ler? Muito. Antes de embarcar li o que pude sobre a ndia e trouxe comigo dois liv ros nos quais, espero, encontrarei descries e informaes interessantes. Eu tambm trouxe vrios livros para ler na viagem. Esto a seu dispor lorde Kenin gton ofereceu. Se voc me emprest-los prometo ser muito cuidadosa com eles disse Aisha, eufric a. Moro no campo e no fcil conseguir todos os livros que quero. O deo ia trazer c onsigo uma pequena biblioteca e, sabendo que eu leio muito, ps os livros minha di sposio. Infelizmente, como j lhe falei, ele e a esposa tiveram de cancelar a viagem. H pessoas que se contentam com o que vem e ouvem, mas voc como eu, e gostamos de pesquisar e ler. Isso muito bom apreciou lorde Kenington. Passou pela mente dele que Aisha era diferente das outras moas da sua idade que s gostavam de leitura leve e de saber do que era publicado nas colunas sociai s. No mesmo instante lhe ocorreu que se o major Warde fosse quem ele estava pe nsando, tambm era um homem extraordinrio que vinha prestando grandes servios Gr-Bret anha.

Certamente iria conhec-lo pessoalmente quando chegasse ndia. L ele iria ter uma reunio com o vice-rei e os responsveis por manter o Grande Jogo atuante. Tudo o que ele sabia era que a organizao era coordenada por oficiais do Exrcito e alguns indianos que no desejavam ser esmagados pelos russos. Lorde Kenington pensou tambm que a amizade com Aisha iria ajud-lo a ganhar a confiana e a gratido do pai. E, se ele no estava enganado, o major Warde era uma pea muito importante do Grande Jogo. Depois de terem passado a tarde lendo confortavelmente no convs, Aisha e lor de Kenington foram trocar-se para o jantar. Tendo ficado pronta antes da hora marcada por lorde Kenington para se encon trarem e descerem para o salo, Aisha foi at a biblioteca devolver um livro que hav ia tomado emprestado logo que embarcara. No se interessara por ele por ser muito mal escrito. Apenas as ilustraes a agradaram. Mal colocou o livro de volta estante, viu Arthur Watkins parado porta da bi blioteca! Arthur Watkins era um homem feio, com mais de quarenta anos, de cabelos ral os e grisalhos nas tmporas, rosto marcado pelas rugas e com sinais de devassido. Entretanto, ele parecia ter autoconfiana e emanava dele um ar de superiorida de, sem dvida por ser muito rico. Tinha grande atrao por jovens bonitas e tudo fazi a para conquist-la. Quando conseguia que uma delas lhe dessa ateno, gastava com ela uma verdadeira fortuna. Assim que vira Aisha embarcando, logo frente dele, Watkins encantara-se com a sua beleza. O fato de ela estar sozinha e viajando na primeira classe viera de encontro a seus planos de conquista. Intimamente antecipou que a viagem seria muito mais agradvel do que imaginav a. De modo algum esperava fracassar no seu papel de sedutor. Tenacidade, pacincia e perseverana no lhe faltavam. Fora graas a tais qualidades que ele chegara poucos anos a uma posio privilegiada e a juntar invejvel fortuna. "Sou inteligente, astuto e persistente e homem algum ou mulher consegue lev ar vantagem sobre mim", Arthur Watkins costumava dizer a si mesmo. Quanto a Aisha, ele estava mais do que certo de que a teria conquistado ant es de chegarem a Calcut. Na primeira oportunidade, depois de o navio ter deixado o porto, ele falara com ela e fora tratado cortesmente. Quando a vira sozinha mesa do jantar, Watkins sentara-se sua frente, certo de que ela se sentiria honrada, de merecer as atenes de um homem to rico e bem vest ido. Terminado o jantar, ele a convidara para ir at o convs. O fato de Aisha ter c oncordado em ir ver a lua refletindo-se no mar, deixara-o convencido de que a ga rota sucumbiria ao seu charme. Sem dvida, a lua estava linda, a orquestra tocava no salo, tornando a noite mg ica e romntica. Mas assim que percebera que Watkins ia abra-la, Aisha acordara para a realidade e dera um grito de protesto. No tenha medo Arthur Watkins dissera com naturalidade. Voc uma garota bonita e podemos nos divertir muito durante a viagem. Inclinando-se, ele tentara beij-la, mas ela sara correndo, sem lhe dar tempo de agarr-la. Uma vez em sua cabine, Aisha trancara a porta a chave e sentara-se no belic he, sentindo o corao em disparada. Estava morrendo de medo. Tarde demais reconhece ra que no devia ter ido ao convs com um estranho. "Como pude ser to boba?", repreendera-se. At o momento ela jamais viajara sozinha; estava sempre na companhia dos pais , ou s da me, de um parente ou ainda de uma governanta. O pior era que ainda teriam dezessete dias de viagem. Como fugir daquele ho mem desagradvel e atrevido? Aisha comeara a se despir quando ouvira uma batida porta. Prudentemente, per guntara: Quem ? Sou eu. No tenha medo, linda e jovem lady. Era a voz de Arthur Watkins. No lh e farei mal algum. Prometo no aborrec-la, no precisa fugir de mim.

Aterrorizada, Aisha ficara em silncio. No ouvindo resposta, Watkins passara a falar mais alto e a bater na porta. Fale comigo! Saia da! Ficara repetindo. As pancadas na porta foram to altas que as pessoas das cabines vizinhas recl amaram. Chegaram at a sair para o corredor para ver quem os perturbava daquela forma . Essa reao, felizmente, fizera com que Arthur Watkins se afastasse resmungando . Aisha ouvira uma das camareiras falarem severamente com o Sr. Watkins: H passageiros querendo dormir, sir. Eu s queria dizer boa noite a uma lady. Se ela abrisse a porta e me ouvisse eu ficaria to quieto quanto um ratinho Arthur Watkins respondera. Se a lady no respondeu porque j est dormindo rebatera a camareira. Ora, minha garota, por esta noite passa, mas teremos muitas outras noites p ela frente respondera Watkins. No pense que me far desfeita semelhante pela segunda vez. Tudo ficara em silncio. Aisha ouvira passos se afastando e, ainda trmula de m edo, acabara de trocar-se, fizera uma orao de agradecimento e deitara-se. Ficara muito tempo acordada, pensando no que fazer caso Arthur Watkins insi stisse em persegui-la durante a viagem, "Amanh encontrarei algum que possa me ajudar", dissera a si mesma. Como se em resposta s suas preces, na manh seguinte encontrara lorde Keningto n. J vira seu retrato em jornais e lera muito sobre ele, tanto nas notcias do Parl amento como nas colunas de esportes. No ano anterior um de seus cavalos havia sido o vencedor da corrida Derby, e outro ganhara a Taa de Ouro, em Ascot. "Este, sim, um gentleman", ela dissera a si mesma ao v-lo na biblioteca, dis pondo-se a pedir-lhe ajuda. CAPTULO II Na manh seguinte tanto Aisha como lorde Kenington tomaram o caf da manh nas re spectivas cabines e s se encontraram pouco antes do almoo, quando foram juntos par a o salo. Aisha estava encantada com a nova cabine por ser muito mais ampla e confortv el do que a que havia ocupado anteriormente. As duas vigias permitiam-lhe ter mais claridade tanto durante o dia como no ite. Ao sentar-se mesa com lorde Kenington, agradeceu-lhe entusiasticamente: Muitssimo obrigada! Voc tem sido maravilhoso! As palavras so pobres para expre ssar a minha gratido. claro que papai pagar de bom grado a diferena de preo dessa no va cabine. Prefiro falar sobre seu pai a discutir quanto a mais custar nova cabine torn ou lorde Kenington. Se no estou enganado o major Warde est realizando um trabalho muito importante na ndia. Aisha ficou em silncio; apenas olhou para lorde Kenington de modo indagador. Ele esclareceu: Estou Indo para a ndia com a misso de descobrir se os russos representam mesm o uma ameaa ao Imprio Britnico. Acredito que seu pai esteja par da situao atual na ia e quero que voc me ajude; preciso entrar em contato com o major. Os olhos de Aisha se iluminaram. esse o motivo de voc estar indo para a ndia! Bem, nesse caso, o ajudarei. Con fio em voc e vou revelar-lhe o que sei... Embora no seja muita coisa. Toda informao me ser muito til. Diga-me onde poderei encontrar seu pai e o que ele est fazendo no momento. Seria melhor conversarmos no convs sugeriu Aisha, abaixando a voz. Mesmo que

aqui no salo ningum nos possa ouvir, papai me disse que h espies por toda parte e e les sabem ler os lbios das pessoas. Lorde Kenington ficou imediatamente interessado. Disse a si mesmo que era m uita sorte ter conhecido a filha do major Warde. Ao mesmo tempo, receou que ela nada lhe revelasse que j no fosse do seu conhecimento. Eles continuaram a comer. Lorde Kenington saboreou o vinho especial que con seguira e Aisha apreciou sua limonada. Durante a refeio ela percebera que, da mesa do comandante, Arthur Watkins aco mpanhara todos os seus movimentos. Mesmo sem olhar na direo da mesa que ficava a p ouca distncia, ela sentia aquele olhar persistente fixo nela. Isso tambm no passou despercebido lorde Kenington que a aconselhou: Faa de conta que Watkins no existe. Tire-o da mente. Dessa forma voc no se des astar nem ficar apreensiva. Voc tem razo Aisha concordou. o que tento fazer. No est sendo muito fcil sinto os olhos dele fixos em mim e tenho vontade de virar-me para verificar se no apenas impresso minha. Compreendo. Lorde Kenington sorriu para ela. Isso por vezes acontece comigo . Mas quando no gosto de uma pessoa, para mim ela deixa de existir. como se es tivesse morta. Bem que eu queria tirar esse homem horrvel da mente murmurou Aisha, estremec endo. Pelo menos se convena de que ele nada tem a ver com voc e que no mais a molest ar tornou lorde Kenington. Tentarei. Aisha deu um sorriso. Mas falar bem mais fcil do que fazer. Ansiosos para sair do salo antes dos outros passageiros, Aisha e lorde Kenin gton terminaram o almoo, dispensaram o caf e foram para o convs. Sentaram-se ao abrigo do vento e do sol, onde ningum poderia ouvi-los nem os perturbaria. Sei que seu pai poder me ajudar. Estou muito interessado em ouvi-la falar so bre ele disse lorde Kenington. Papai se sentir lisonjeado quando souber desse seu interesse. Naturalmente, ele far o possvel para ajud-lo. Mas eu sei bem pouco sobre seu trabalho na ndia. Com o j lhe disse, tudo mantido em segredo. S lhe posso adiantar que papai corre grand es riscos, o que me deixa constantemente preocupada. Grandes riscos? Aisha olhou ao redor e revelou, abaixando ainda mais a voz: Ele faz parte do Grande Jogo. J ouviu falar nessa organizao? Claro que sim lorde Kenington respondeu. Dela s participam homens de grande coragem e capacidade. S mesmo uma organizao como essa poder descobrir o que est acont ecendo do outro lado da fronteira e se um ataque dos russos to iminente quanto se supe. Segundo papai, eles so muito perigosos e j esto bem prximos das fronteiras com a ndia. Como papai sabe falar urdu, tem sido muito til organizao, pois se disfara de indiano e vive entre os nativos. Voc quer dizer que o major convive com os indianos das tribos da regio Noroes te? lorde Kenington surpreendeu-se. Aisha assentiu com a cabea e acrescentou: Ele se disfara de homem santo ou de indiano, habitante de outra regio. At hoje papai nunca foi descoberto. Lorde Kenington sabia que se descobrissem a verdadeira identidade do major, certamente o matariam. Para no deixar Aisha nervosa ou infeliz, ele perguntou: Como seu pai aprendeu a falar urdu to bem a ponto de no suspeitarem de que el e no um indiano? O fato de ele saber esse idioma o ajuda muito em seu trabalho. Meu av era juiz na ndia e papai passou ali a sua infncia e adolescncia Aisha re spondeu. No colgio onde estudou havia ingleses e indianos. Como seus melhores co legas e amigos eram indianos, papai aprendeu naturalmente a falar seu idioma. O que agora lhe est sendo muito til, pois ele se faz passar por indiano sem l evantar suspeitas rematou lorde Kenington. Suas misses so muito arriscadas. No ano passado ele esteve do outro lado da f

ronteira Noroeste e me confessou que viveu sob constante tenso. E agora, onde o major se encontra? Lorde Kenington quis saber. Papai j foi informado que eu chegarei a Calcut neste navio e estar minha esper a no cais. A notcia alegrou lorde Kenington. Por meio do major Warde ele saberia, logo ao chegar, quais eram os homens do servio secreto com quem deveria entrar em cont ato. A melhor coisa que me aconteceu nesta viagem foi voc ter vindo pedir-me para ajud-la e proteg-la ele disse em voz alta. Eu, sim, me considero uma pessoa de sorte por t-lo encontrado. Esta noite do rmi tranqilamente sabendo que voc estava na cabine vizinha. Suas preocupaes terminaram lorde Kenington frisou. Voc est sob as minhas asas, por assim dizer, e o Sr. Watkins bastante sensato para no se arriscar a ofender-m e. Que homem horrvel! Tenho certeza de que papai saber como lidar com ele. Ambos conversaram por mais algum tempo, depois foram andar pelo convs. Quando chegarmos ao Mediterrneo poder jogar tnis de bordo sugeriu lorde Kening ton. Voc sabe como esse jogo? No s conheo o jogo, como sou boa jogadora Aisha respondeu orgulhosa. Aprendi a jogar tnis de bordo num cruzeiro que fiz s ilhas Canrias. Venci vrias partidas, mes mo contra homens. Nesse caso ser um desafio jogar com voc. E os desafios me estimulam. Lorde Ke nington riu. Pode ter certeza de que no me derrotar. Pelo seu modo de falar posso deduzir que voc nunca aceita ficar em posio de in ferioridade Aisha observou, rindo tambm. Acertei? Acertou. Para ser sincero, sempre quis ser o melhor em tudo que me dispus a fazer lorde Kenington admitiu. Em Eton eu era o primeiro da classe e me destac ava nos esportes. Os colegas me consideravam arrogante. Hoje eles diriam a mesma coisa a seu respeito. De fato voc parece ser superi or a todos os que o cercam. essa a impresso que as pessoas tm de mim? Lorde Kenington indagou, parecendo surpreso. Aisha acenou com a cabea afirmativamente e acrescentou: Em minha opinio voc tambm inspira medo e respeito tanto para os amigos como pa ra inimigos. Notando a expresso de pasmo de lorde Kenington, Aisha desculpou-se depressa: Perdoe-me. Eu no devia ter dito isso. Estou falando com voc como se estivesse conversando com papai. Ele sempre me aconselhou a falar a verdade corajosamente e a expressar sem medo a minha opinio. Lorde Kenington no conteve o riso. No a primeira vez que voc me fala sobre os conselhos de seu pai, alis, muito b ons. Mas eu no quero intimidar as pessoas, especialmente na ndia. Ao dizer isso ele estava pensando que as pessoas comuns jamais falavam fran ca e abertamente com homens que consideravam importantes. At o momento ele se orgulhara de saber ser muito simptico e at cativante quand o conversava com as pessoas para obter informaes. Mas agora, depois do que Aisha d issera, decidiu que teria de questionar seu comportamento. Como se soubesse no que ele estava pensando, Aisha tentou emendar: No d ateno s minhas palavras. Expressei-me mal. Na verdade voc um homem de personalidade e se sobressai mesmo entre uma multido. Imagino que inmeras mulheres j lhe disseram que voc tambm muito bonito. Se eu responder isso voc, provavelmente, me acusar de ser convencido disse lo rde Kenington, rindo. Por que eu o acusaria? Voc mesmo um belo homem e deve estar feliz e orgulhos o por isso. Aisha falou com naturalidade. Para lorde Kenington o tipo de conversa que estava tendo com Aisha era algo indito. Ela lhe falava como se fosse um dos amigos dele ou uma mulher mais velha , no uma garota. E, sem dvida, era muito franca.

Era muito bom para ele saber o que as pessoas pensavam a seu respeito, prin cipalmente agora, quando pretendia extrair informaes de tanta gente. Se as pessoas tivessem medo dele, jamais seriam espontneas. Imagino que cada pessoa tem uma opinio diferente a nosso respeito Aisha obse rvou como se estivesse dando continuidade a seu pensamento. Eu, por exemplo, me surpreendo com o que dizem sobre mim. Uns me acham inteligente e amadurecida pa ra a idade, enquanto outros, ao contrrio, porque sou jovem, me consideram tola e crianola. Se quer ouvir a minha opinio, acho voc inteligente, amadurecida e culta decla rou lorde Kenington. Obrigada, sir! claro que recebo de bom grado todos os elogios que me fazem! O tom de Aisha era zombeteiro. Pode acreditar que falei com sinceridade lorde Kenington redargiu. Tenho fi cado surpreso com seus argumentos e sei que voc gosta muito de ler. A propsito, o livro que voc me emprestou absolutamente fascinante! Aisha excl amou. Espero ler todos os outros livros da biblioteca que voc trouxe a bordo. Por falta de espao, tive de limitar o que voc chama de "biblioteca". Portanto , no devore os livros e sim os leia devagar para ter sempre algo novo para ler lo rde Kenington aconselhou-a. No sei ler devagar quando o assunto me prende muito a ateno. Tenho vontade de chegar logo ao fim para ver o que acontece. Isso natural. Mas aprendi que, lendo mais devagar, meu pobre crebro capta me lhor a mensagem escrita. Seu pobre crebro? Aisha riu. No creio que voc precise se preocupar com seu cre ro. Com sua inteligncia voc desempenhar sua misso na ndia com brilhantismo. S com a minha inteligncia, no contraps lorde Kenington. Vou precisar da ajuda de seu pai e de outros homens que trabalham na mesma organizao. Conheo alguns desses homens; eles j estiveram em casa. Mas papai s permitia qu e eu falasse com eles algumas poucas palavras cordiais. Posso imaginar por qu. O major no queria ver a filha envolvida nos assuntos d o Grande Jogo, pois seria perigoso tanto para voc como para eles. Isso mesmo. Mas grande a minha ansiedade para saber o que est acontecendo e se aqueles que fazem parte do Grande Jogo esto sendo bem sucedidos. Esto certamente lorde Kenington falou confiante. O dia pareceu passar rapidamente. No fim da tarde lorde Kenington e Aisha s e separaram e foram ler um pouco nas respectivas cabines. Aisha no se cansava de agradecer a Deus por ter conhecido lorde Kenington. S entia-se segura sabendo que ele estava ali bem perto para socorr-la se fosse nece ssrio. Quando se trocou para o jantar escolheu um dos seus vestidos mais bonitos, pensando em agradar seu importante protetor. Quanto mais ficava com lorde Kenin gton, mais o admirava e mais apreciava a sua companhia. Gostava tanto de convers ar com ele que no cabia em si de alegria por ver que ele no tinha interesse por ne nhum outro passageiro e lhe dava toda ateno. Nessa noite, ao jantar, lorde Kenington divertiu-a falando abre as capitais que visitara poucos meses atrs e sobre as diferenas que havia notado nas pessoas de cada pas. Os alemes so agressivos disse , enquanto no ha quem supere os franceses em enca nto pessoal e alegria de viver. Voc j esteve no Japo? Sempre tive vontade de conhecer esse pas e tambm a China. O Japo lindo e o povo muito inteligente e ativo. Fiquei impressionado com a riqueza dos templos e dos mosteiros. O que achou das mulheres? As gueixas so mesmo bonitas e femininas como dizem ? Lorde Kenington sorriu antes de responder: As mulheres japonesas so submissas e extremamente dominadas. Quanto s gueixas , sua funo alegrar e fascinar os homens. Elas tm muito talento e habilidade para is so. Enquanto a mulher japonesa se esfora para agradar um homem, a inglesa espera que o homem a agrade e se curve diante dela. Apesar de o tom de lorde Kenington ser brincalho, Aisha ficou sria e observou

:

No acho que as mulheres inglesas so como voc descreveu. Eu tambm no gostaria de ser como as japonesas. Voc perfeita e no deve mudar em nada acudiu lorde Kenington. A si mesmo ele dizia que Aisha era nica. Alm de inteligente ela era to espontne a e simples. Ainda era cedo quando se separaram. Obrigada pelo dia to agradvel ela agradeceu ao dizer boa noite. Amanh chegaremos a Gibraltar e poderemos fazer um passeio. Talvez voc goste d e ver os macacos que so uma grande atrao do lugar. E h as lojas, s quais nenhuma mulh er resiste lorde Kenington exps. Se houver tempo s para fazer uma coisa, prefiro ver os macacos Aisha escolhe u. Dirigindo lorde Kenington um sorriso encantador, acrescentou: Mas, se for p ossvel, tambm quero ir ver as lojas. Haver tempo para as duas coisas. Boa noite, Aisha, durma bem. Trate de no can sar os olhos lendo at tarde. O conselho tambm serve para voc. Boa noite. Em sua cabine lorde Kenington sentou-se mesa para fazer algumas anotaes. Esta va pensando que ao chegar a Calcut conheceria o major Warde pessoalmente e conseg uiria informaes importantes. Na cabine vizinha Aisha olhou-se ao espelho da penteadeira antes de tirar o vestido e, com certo desapontamento, lembrou que se havia esmerado tanto e lord e Kenington no a elogiara. "O que ser que ele pensa a meu respeito, como mulher?", questionou-se. "Bem, o importante que ele tem sido muito amvel e do seu lado sinto-me protegida. Devo ter cuidado para no agarrar-me a ele a ponto de eu ser considerada um peso." At o momento lorde Kenington parecia ter apreciado sua companhia, Aisha cont inuou refletindo. A conversa que haviam mantido fora muito interessantes e o Sr. Watkins se mantivera a distncia, ainda que a olhasse daquele modo desagradvel que a fazia estremecer. Devagar, ela tirou o vestido, colocou-o no cabide forrado que deixara sobre a cadeira e atravessou a cabine para pendur-lo no compartimento com cortina que havia a um canto, reservado para os trajes longos, casacos e sobretudos. As roupas para o dia eram guardadas no armrio que ficava do lado da penteade ira. Ao afastar a cortina para colocar o cabide no varo, Aisha deu um grito de ho rror e ficou semi paralisada. A frente dos vestidos estava o Sr. Watkins! Saindo do seu esconderijo ele a segurou pelo brao e com a outra mo tapou-lhe a boca para impedi-la de gritar novamente. Com certeza voc pensou que estava livre de mim, linda lady, mas eu no desisto facilmente ele disse, exalando um hlito forte de vinho. Desde que fora repelido por Aisha Warde, Arthur Watkins dissera a si mesmo que iria conquist-la, pois jamais recebera um "no" de uma mulher. O fato de ela ter fugido dele, amedrontada, e passado a evit-lo, longe de fa z-lo pensar em desistir da conquista, estimulara-o. Ele iria encontrar um meio de ficar a ss com ela novamente. Para Arthur Watkins ter Aisha Warde nos braos representava um desafio e em t oda a sua vida atarefada e bem sucedida ele jamais havia ignorado ou deixara de aceitar um desafio. Na sociedade freqentada por Arthur Watkins o dinheiro era mais importante do que a linhagem ou a educao. Por ser muito rico ele se acostumara a ver seus desej os satisfeitos num estalar de dedos. Bastava demonstrar interesse por uma mulher para t-la nos braos. Na verdade, Watkins comeava a achar aborrecida essa vida de contnuo sucesso e a facilidade com que via concretizados os seus desejos. Ele alcanara uma posio em que no era mais necessrio lutar para conseguir o que queria. Portanto, prometera a si mesmo que venceria a resistncia da linda jovem ingl esa e a conquista, para ele, teria mais sabor. Pouco lhe importava que ela tivesse procurado a companhia de lorde Keningto n. Estava-se viajando sozinha, sem uma respeitvel chaperon, Aisha no devia ser imp

ortante socialmente. Na opinio de Arthur Watkins o interesse de lorde Kenington pela garota s iria durar, quando muito, enquanto eles estivessem no navio. Watkins sabia que muitas mulheres viajavam sozinhas, a bordo de um vapor co mo aquele, justamente porque esse era um modo de conhecer homens dispostos a gas tar com elas bastante dinheiro, de modo a deix-las, ao final da viagem, em melhor situao financeira do que quando haviam embarcado. O que ele no poderia afirmar era se Aisha pertenceria a esse tipo de mulher. Por outro lado, no lhe passara pela mente que a Srta. Warde era uma lady por nas cimento e, portanto, algum que evitava, por todos os meios, um homem como ele. "Ela est se fazendo de difcil", Watkins dissera a si mesmo inmeras vezes. "Mas conheo esse jogo e no desistirei facilmente." Sua esperana era que lorde Kenington, sendo um homem to importante, logo se c ansasse da garota e a dispensasse. Ento seria a vez dele, Watkins, t-la para si. O Sr. Watkins reconheceu que fora um erro ter avanado to depressa assim que c onhecera a garota. Devia ter percebido que ela era jovem e inexperiente e a agre ssividade dele deixara assustada. Ao mesmo tempo, ele estava quase convencido de que a fuga de Aisha fora ape nas um lance para deix-lo ainda mais interessado nela. Naqueles dois dias ele ficara extremamente entediado. Observara os passagei ros da segunda classe e no vira ningum interessante. As mulheres mais jovens estav am com os maridos e os filhos. Na primeira classe viajavam muitos oficiais, casa is idosos ou de meia idade. O tdio fizera com que Watkins decidisse procurar Aisha novamente. Iria prome ter-lhe ser muito mais generoso do que lorde Kenington. Deixaria claro que ela t eria a seus ps tudo com que sonhasse. Durante o jantar ele observara Aisha e Kenington e vendo que conversavam an imadamente, achou que seria impossvel interromp-los. Ao deixar o salo, lembrou-se de que Aisha fora transferida para uma das cabi nes mais caras do navio e a diferena de preo ainda no fora paga, ele certificara-se . Isso fez imaginar que era a sua chance. Com certeza ao fim da viagem ela no teria como pagar a diferena de preo e ele desde j se disporiam fazer isso. Watkins andou um pouco pelo convs e foi para o lado do navio onde ficava a c abine de Aisha. Viu a porta entreaberta e soube que a camareira estava preparand o o beliche para a noite. Quando a mulher afastou-se, deixando a porta s no trinco, com certeza para b uscar gua fresca, ele entrou na cabine e escondeu-se atrs da cortina que fechava o espao para roupas, uma espcie de closet. Do seu esconderijo Watkins ouviu a camareira voltar e colocar alguma coisa sobre a mesa-de-cabeceira. Em seguida ela apagou a luz e deixou a cabine, tranca ndo a porta. "Agora s esperar que Aisha entre na cabine", pensou o Sr. Watkins, sorrindo, j antecipando o seu prazer. O que ele no fazia idia era que a cabine de lorde Kenington ficava vizinha que le onde ele se achava. Arthur Watkins no teve de esperar muito tempo. Aisha entrou na cabine, girou a chave na fechadura e foi para diante do espelho. Por um vo da cortina ele viu-a tirar o delicado colar de prolas que usava e d espir-se, ficando ela s de angua de cor pinho. Estava to linda que Watkins sentiu c orao batendo mais forte e a respirao acelerada. Quando Aisha atravessou a cabine ele logo percebeu o que ela ia fazer e agu ardou... Os novos gritos de Aisha foram abafados. Desesperada, ela lutou para libert ar-se da mo que lhe prendia o pulso como se fosse de ao. Fique quietinha e me oua pediu Arthur Watkins em voz baixa. No pde continuar falando. Aisha chutava-o e debatia-se, desesperada, animada por uma fora que nunca imaginara possuir. Em sua cabine lorde Kenington sentia-se com tima disposio e com a mente ativa.

Reconheceu que a me estava certa ao lhe dizer que o descanso da viagem lhe f aria bem. Tirou o casaco e s ento lembrou que no avisara o valete que nessa noite ele es tava dispensado. Toda a noite Newman ajudava-o a despir-se e deixava suas roupas passadas pa ra o prximo dia. Antes de sentar-se para escrever um pouco, como pretendia lorde Kenington o uviu uma batida porta. Era um dos camareiros trazendo-lhe gua mineral. Atrasei-me, milorde, porque no bar no havia gua da marca que Vossa Senhoria h avia pedido e tive de ir at o depsito o homem desculpou-se. Lamento ter-lhe dado tanto trabalho, mas prefiro essa marca a qualquer outr a disse lorde Kenington. De fato, a melhor o camareiro concordou. Em seguida alarmou-se. O que foi isso? Um grito? Um grito? Lorde Kenington repetiu. No ouvi nada. Estou aqui perto da porta e posso garantir que algum gritou na cabine vizinh a. Ser que a lady com quem Vossa Senhoria sentou-se mesa do jantar est com algum p roblema? Lorde Kenington no esperou mais nada. Voc tem uma chave-mestra; depressa, abra a cabine vizinha para mim ordenou. O camareiro saiu para o corredor e prontamente abriu a cabine de Aisha. Encontraram-na lutando para livrar-se de Arthur Watkins que a segurava pelo pulso e tapava-lhe a boca com a outra mo. Com duas largas passadas lorde Kenington alcanou Watkins e deu-lhe um murro no queixo, deixando-o prostrado no cho, aturdido, sem ter plena conscincia do que estava acontecendo. Sem lhe dar tempo de dizer uma palavra, lorde Kenington arrastou-o para o c orredor, colocou-o de p e desferiu-lhe outro murro, arremessando-o novamente ao c ho, quase inconsciente. Voltando-se para o camareiro, que assistia cena boquiaberta, lorde Keningto n ordenou-lhe: Leve esse suno para bem longe. Se eu peg-lo aqui novamente eu atira-o no mar. Repita a esse miservel o que eu disse. Sim, milorde assentiu o homem, um tanto nervoso. Lorde Kenington ficou parado, seus olhos dardejantes pousados em Arthur Wat kins que lutava para sentar-se, tendo um fio de sangue a lhe escorrer pelo canto da boca. Voltando para a cabine ele fechou-a e foi para junto de Aisha que, muito pli da, mantinha as mos cruzadas sobre o peito, por lembrar-se de que usava apenas o corpinho e angua, ambos de seda. Tive tanto... Medo. Graas a Deus... Voc... Apareceu, ela murmurou. Prometo-lhe que isso no se repetir lorde Kenington falou suavemente para acal m-la. uma vergonha pura uma companhia de navegao importante como esta ter um acioni sta que se comporte de maneira to infame. Eu tentei gritar... Mas... Ele tapou a minha boca. Fiquei apavorada... Porq ue voc... No tinha idia do que estava... Acontecendo. Posso imaginar o que voc sofreu. Sente-se enquanto eu vou pegar um pouco de g ua. Depois se troque, deite-se e esquea o que aconteceu. Voc tem certeza... De que ele... No voltar? Plena certeza. Por mais insensato que Watkins seja no se arriscar a aborrec-la novamente. Por sorte, tive lies de boxe na universidade, o que me valeu esta noit e como em outras ocasies. Enquanto falava, lorde Kenington despejou um pouco de gua num copo e deu-o p ara Aisha beber. Notando que as mos dela estavam trmulas aconselhou-a: Segure o copo com as duas mos. Depois de tomar gua a cor pareceu-lhe voltar ao rosto. Lorde Kenington no pde deixar de ach-la adorvel com o colo, os ombros e os braos nus.

Quando eu sair deite-se. Se precisar de mim, bata na parede. Nem pense mais no Sr. Watkins lorde Kenington aconselhou-a. Ele no a aborrecer mais. Creio que v oc nem o ver amanh. Com certeza ele perdeu um ou dois dentes. O ltimo soco que lhe d ei no foi brincadeira. No se preocupe comigo... Estarei bem. Obrigada mais uma vez... Por tudo Aish a murmurou. Durma tranqilamente. Mas tranque a porta a chave assim que eu sair. At agora no entendi como o Sr. Watkins... Entrou nesta cabine disse Aisha, pe nsativa. melhor nem tentar entender. Fique tranqila porque esta noite voc est em comple ta segurana. Vou tomar providncias para que sejam assim todas as noites. Eu mesmo virei sua cabine e a revistarei antes de voc se deitar. Isso lhe dar certeza de qu e no h nenhum Sr. Watkins escondido. J estou... Mais calma. Pode sair despreocupado... Vou trancar a porta. Boa noite. Lembre-se: bata nesta parede se precisar de mim. Ele indicou a parede que separava as duas cabines. Assim que lorde Kenington saiu, Aisha levantou-se e trancou a porta, dando duas voltas na chave. Voltou para a cama e ficou sentada, sentindo-se fraca. "Como possvel que isto me tenha acontecido?", questionou-se. Levantando-se, trocou-se e entrou sob as cobertas. O medo havia passado. Ag ora se sentia dominada por uma emoo nova. Lorde Kenington no lhe saa da mente. Ele e ra maravilhoso! "Obrigado, meu Deus, por ter permitido que ele me salvasse", agradeceu do f undo do corao. Adormeceu com um sorriso nos lbios. CAPTULO III Era bem cedo quando o navio atracou no porto de Gibraltar. Aisha vibrou ao ver os macacos de plo marrom-alaranjado e cara rosada, em ba ndos, correndo sobre os rochedos. Lorde Kenington contou-lhe que se acreditava que os macacos eram um smbolo d o domnio britnico e este terminaria quando os macacos de Gibraltar no fossem mais e ncontrados na regio. Na cidade as lojas ofereciam todo tipo de artigos do Extremo Oriente. Depoi s de lorde Kenington muito insistir, Aisha concordou que ele lhe desse de presen te lindo um xale chins ricamente bordado. Vi na China garotos de quatro anos bordando xales como este disse lorde Ken ington. E uma crueldade explorar o trabalho de crianas to pequenas Aisha observou. Ma s no posso recusar um presente to lindo. Muito obrigada. No podemos nos demorar ele lembrou-a depois de terem ido outra loja. O coman dante pretende chegar a Calcut no dia e horrio previstos. E chegar, sem dvida. Esse navio o mais rpido no qual j viajei. A companhia orgulha-se de t-lo adquirido. o mais novo da frota da P.&O. info rmou lorde Kenington. Como o tempo da viagem para a ndia e o Extremo Oriente atua lmente menor, o preo da passagem tornou-se mais acessvel, o que tem atrado mais pas sageiros para o Oriente, inclusive turistas. Por certo. A abertura do canal de Suez reduziu bem o tempo da viagem Aisha concordou. Se tivssemos de seguir pela costa da frica e contornar o cabo da Boa Esperana, levaramos seis semanas para chegar ndia completou lorde Kenington. No convs, Aisha admirava o Mediterrneo, intensamente branco como o manto da V irgem Maria. As ondas quebravam-se e iam de encontro proa do navio. Vendo-a to en tretida e feliz, lorde Kenington deixou para jogar tnis de bordo mais tarde. Pouco antes do ch, embora relutante, Aisha concordou em jogar duas partidas. Na primeira lorde Kenington foi o vencedor e ela ganhou segunda.

Estou vendo que preciso tomar mais cuidado disse ele rindo. Sempre me cons iderei um campeo de tnis de bordo e agora perdi para voc. E eu me sinto orgulhosa por derrot-lo. Quando eu estiver com papai vou me va ngloriar de ter vencido um campeo. O riso que brincava nos lbios de Aisha desapare ceu quando ela acrescentou pensativa, como se falasse consigo mesma: O que papai estar fazendo no momento? Eu tambm gostaria de saber, mas como isso no possvel, vamos para o salo tomar c h lorde Kenington convidou-a pensando em distra-la. Reconhecia, no entanto, que a preocupao de Aisha tinha razo de ser. As misses d os membros do Grande Jogo eram sempre to importantes quanto perigosas. Os russos avanavam continuamente e estendiam suas fronteiras de modo alarman te. Segundo lorde Kenington fora informado, o Imprio do czar expandia-se, em mdia. .. Cento e cinco milhas quadradas por dia! Ele achara difcil acreditar que esse nmero fosse verdadeiro e sua misso era ve rificar se tal expanso, de fato, ocorria e se constitua perigo iminente para a Gr-B retanha. Era muito importante ele descobrir se os domnios dos khans e as cidades e po voaes da velha Rota da Seda j haviam sido todas tomadas pelos velozes cavaleiros co ssacos. Embora isso lhe parecesse improvvel, os relatrios recebidos em Londres, proce dentes da ndia, eram cada vez mais preocupantes. Na noite anterior, ao deitar-se, lorde Kenington havia pensado mais uma vez que ter conhecido Aisha era uma das melhores coisas que j lhe acontecera. Graas a ela o contato com o major Warde seria muito fcil e este poderia lhe p restar grande ajuda, fornecendo-lhe informaes valiosas. O que lorde Kenington no qu eria, porm, era envolver Aisha em suas investigaes. Todas as histrias que haviam chegado aos ouvidos de lorde Kenington, sobre o s participantes do Grande Jogo, eram to fantsticas e alarmantes que ele duvidava d e sua autenticidade. Seu ceticismo o levava a crer que os jovens oficiais e subalternos que acei tavam participar da organizao secreta, pensando em livrar-se da monotonia da vida na guarnio e, mais ainda, atrados pela possibilidade de serem promovidos. Certament e exageravam no s ao cumprir suas tarefas, como ao relatar o que acontecia na ndia. O Sr. Disraeli tinha razo de, apesar de preocupado, no mostrar-se excessivame nte nervoso devido ao avano dos russos. Assim, ele havia preferido mandar algum no ligado diretamente ao governo, tampouco um militar, descobrir, no local, o que a contecia realmente. Lorde Kenington tinha consigo um papel com os nmeros de seis participantes d o Grande Jogo. Eram homens mais velhos e com muita experincia com quem ele devia entrar em contato para saber a verdade sobre a situao na fronteira. Na organizao, por medida de segurana, cada agente era conhecido por um nmero. No ser fcil descobrir o que se passa. Os que participam do Grande Jogo mantm se gredo sobre suas atividades e s do informaes queles diretamente ligados defesa da ndi dissera o primeiro-ministro lorde Kenington. Mas voc jamais falhou no passado e no falhar desta vez. Os liberais, como voc sabe, acham que me preocupo sem razo e q ue as notcias que nos chegam so exageradas, s para nos assustar. Eu, pessoalmente, pressinto que a situao , de fato, muito sria. Lorde Kenington tranqilizara a Sr. Disraeli e prometera desempenhar sua tare fa da melhor maneira possvel. Sei que o estou mandando para uma misso difcil e que pode provar-se intil acre scentara o primeiro-ministro, Entretanto, Charles eu confio mais em sua opinio do que na de qualquer outro. Os elogios no surpreenderam lorde Kenington. Ele sabia que o primeiro-minist ro preferia lisonjear os que trabalhavam para ele a dar-lhes ordens. O Sr. Disraeli prosseguira: Esses seis homens cujos nmeros esto anotados no papel que lhe dei so extremame nte confiveis e esto na ndia h muito tempo. Provavelmente voc conhecer outros, mas p de crer que no obter deles informao alguma. Por qu? Indagara lorde Kenington. Pela simples razo, caro Charles, que eles sabem que as pessoas falam demais.

O segredo o grande sucesso da organizao. J aconteceu de um rapaz, recm-chegado da ia, mencionar em uma festa, depois de ter bebido alm da conta, o nome de um parti cipante do Grande Jogo. Dois meses depois este ltimo desapareceu. O senhor quer dizer que ele foi assassinado? O primeiro-ministro respondeu com um gesto com as mos. Ningum sabe o que lhe aconteceu, mas acreditamos que ele tenha sido eliminad o pelos russos. Voc no ignora que h espies russos por toda parte. Ao despedir-se do primeiro-ministro lorde Kenington prometera-lhe que jamai s poria a vida de um homem em risco, falando descuidadamente de assunto to sigilo so e importante. O momento no era muito propcio para lorde Kenington deixar Londres, pois esta vam no auge da temporada. Por causa da viagem ele teria de cancelar inmeros compr omissos, inclusive recepes na Marlborough House. Antes de partir ele estivera com o prncipe de Gales e dissera que iria para a ndia. Naturalmente deixara de mencionar qual o motivo da viagem, porm Sua Alteza R eal observara sem o menor prembulo: claro que voc pretende descobrir como est a fora blica da Rssia, at onde os ru s j avanaram e se precisamos de mais tropas na ndia. Conhecendo bem o prncipe de Gales, lorde Kenington j esperava tal observao. Ele no ignorava que, embora a rainha Vitria exclusse o filho de qualquer coisa que tiv esse a ver com assuntos do governo, o prncipe demonstrava o maior interesse por t udo o que acontecia no Imprio. Sim, Alteza eu espero ter a chance de falar com homens experientes que part icipam do Grande Jogo e fazer as minhas prprias investigaes respondera lorde Kening ton. At o momento os russos tm avanado muito rapidamente salientara o prncipe de Gal es. Isso nos faz concluir que se eles j esto to perto da ndia, tomaro com facilidade essa a minha opinio, Alteza tornara lorde Kenington. Porm, um grande nmero e pessoas no poder ignora o perigo e quando perceberem o que est realmente aconte cendo, talvez seja tarde demais. Voc est absolutamente certo, Charles. O primeiro-ministro escolheu muito bem; voc a pessoa indicada para esta misso. Ningum melhor do que voc para descobrir a ve rdade. O prncipe de Gales fizera uma pausa antes de acrescentar: Espero que voc me diga, ao voltar, o que descobriu. Chegava a ser pattico, lorde Kenington pensara ver o prncipe de Gales, herdei ro do trono, to distante dos assuntos do Imprio. Ele no tinha permisso de saber o qu e se passava no governo e jamais era convidado pela me a fazer parte das reunies c om representantes de outras naes. Quando eu voltar, direi a Vossa Alteza Real tudo o que descobri prometera l orde Kenington, sabendo pela expresso do prncipe quanto ele estava preocupado e co mo a informao era importante para ele. Lorde Kenington sentia pena de Sua Alteza Real por no merecer a confiana da me . Compreendia tambm que o fato de o prncipe ser obrigado a manter-se longe dos assuntos do governo, levava-o conquista das beldades que o recebiam de braos aber tos. Tambm era do conhecimento de lorde Kenington que a rainha Vitria o repreender ia se viesse saber que ele prometera passar informaes ao prncipe de Gales. Aps o ch lorde Kenington e Aisha falaram sobre assuntos diversos, especialmen te sobre os lugares que ele havia visitado. Voc j esteve mesmo no Tibete? Aisha perguntou. J li muito sobre esse pas e ado aria conhec-lo. Se voc tiver oportunidade de ir ao Tibete, visite um dos mosteiros lorde Ken ington aconselhou-a. Ficar fascinada. Falei com o Dalai Lama e os demais Lamas do s grandes mosteiros que visitei. Mas vi muita pobreza por onde andei. A regio era rida, o povo sujo e, em geral, hostil. Nos mosteiros, acredito voc aprendeu muito sobre o cu e o inferno Aisha infer iu.

No respondeu lorde Kenington, rindo. Mas fiquei impressionado com alma que tm os libolanos e com a sua capacidade de prever com antecedncia o que vai acontec er. Como eles podem prever? Segundo eles todos nos podemos fazer o mesmo, desde que exercitemos nossa mente. Temos o que os egpcios chamavam de "terceiro olho" e por meio dele podemos p rever o que e bom e importante para a nossa vida e o que devemos evitar. Bem, no duvido que a nossa mente, de fato, poderosa e precisa ser exercitada . J pratiquei telepatia com meu pai e obtive bons resultados. Telepatia? O assunto fascinante, mas acredito que a telepatia ou outros po deres da mente sejam dons que apenas poucos privilegiados possuem. Nunca me pass ou pela cabea que eu pudesse ser um deles replicou lorde Kenington. Os ocidentais, em geral, so cticos. Mas para quem vive no mundo da poltica, co mo voc, seria muito vantajoso saber o que seus oponentes pensam ou o que esto plan ejando Aisha apontou. Duvido que mesmo com muito treino eu seja capaz de desenvolver essa capacid ade. Vamos fazer uma experincia Aisha props. Feche os olhos e pense em alguma cois a. Tentarei adivinhar em que voc est pensando. Embora achasse tolice o que Aisha lhe propunha, lorde Kenington atendeu-a. Pelo menos se tratava de uma experincia diferente de tudo o que ele j fizera antes . Fechou os olhos e concentrou-se no cavalo que vinha sendo treinado para ser o vencedor do Grande Prmio Nacional, no ano seguinte. Ambos ficaram em silncio durante alguns minutos. Por fim Aisha exps: Ele no vencer a corrida no ano que vem; talvez s daqui a dois anos. Lorde Kenington abriu os olhos e perguntou surpreso: De que voc est falando? Refiro-me a um dos seus cavalos. Voc estava pensando em um puro-sangue no qu al tem grandes esperanas. Na corrida do ano que vem ele chegar a segundo ou tercei ro lugar. Ser vencedor em outra ocasio. Que extraordinrio! Alm de adivinhar no que eu estava pensando, voc acaba de pr ever o futuro! Como isso possvel? Lorde Kenington no escondeu a sua perplexidade. Aprendi nos livros e com indianos que nos visitavam que nossos poderes extr a-sensoriais podem ser desenvolvidos com exerccios, concentrao e meditao. J pratiquei telepatia com meu pai, mas nunca com outra pessoa, a no ser agora, com voc. De modo extraordinrio! Lorde Kenington repetiu. Eu gostaria de ter esse dom. Como eu disse, preciso praticar. Para voc ser muito til, principalmente nesta sua misso, quando ter de descobrir o que est acontecendo na fronteira. Estou confiante na ajuda de seu pai. Meu pai no a nica pessoa envolvida. Se voc comear a exercitar-se, conseguir, telepatia, saber que outras pessoas podero ajud-lo. Ento, bastar entrar em contato com elas Aisha salientou. No acredito que seja to simples como voc diz rebateu lorde Kenington. Se, de f ato, nossos pensamentos podem ser lidos com facilidade, correrei o risco de enc ontrar muitos que saber em que estarei pensando. Lembre-se de que no Oriente isso no s possvel, como mais comum do que se pens a. Portanto, voc dever ter cuidado Aisha aconselhou-o. Durante o jantar e depois, no convs, eles conversaram sobre assuntos diverso s. pedido de Aisha, lorde Kenington falou sobre os tipos exuberantes e estranh os que ele havia encontrado em suas viagens. Os que mais a impressionaram foram os danarinos do Vilo que executavam a "dana do diabo". Com o uso de umas caras esses danarinos personificavam o esprito do ma l. Os ritos de exorcismo, bem como para curar doentes ou... Como para afastar da s pessoas a m sorte. hora de dormir lorde Kenington revistou a cabine de Aisha como prometera fa

zer. Estava tudo em ordem, mesmo assim ele tranqilizou-a: Durma sossegada. Estarei atento, caso precise de mim. Como no vimos sinal da quele homem desagradvel at agora, posso afirmar que ele est trancado em sua cabine cuidando dos ferimentos. Aqueles socos devem t-lo machucado bastante Aisha deduziu. O pobre estava sa ngrando. No tenha pena dele. O miservel merecia at mais. Tranque a porta e durma. Uma vez em sua cabine lorde Kenington deitou-se pensando que jamais passara momentos to agradveis com uma mulher com a qual no estava envolvido sentimentalmen te. O que ela dissera sobre telepatia e a demonstrao que fizera o deixaram impres sionado. Como resultado disso ele decidiu exercitar-se, pois concordava com Aisha qu e seria de grande valia nas misses que realizava para o primeiro-ministro e o min istro das relaes exteriores. "Aisha uma jovem extraordinria", lorde Kenington pensou. Ao mesmo tempo se q uestionou se conseguiria aprender a utilizar a telepatia. No dia seguinte lorde Kenington e Aisha passaram juntos quase o tempo todo, conversando, andando pelo convs ou jogando tnis de bordo. Voc acredita no poder da orao? Ela perguntou quando ambos sentaram-se no convs, aps o almoo. Claro que sim. Infelizmente os homens, em sua maioria, vivem to presos a val ores materiais que esquecem o extraordinrio poder da orao. Para mim a orao a ponte q e nos liga a Deus ou a um Poder Maior. E o que me diz da reencarnao? Voc acredita que quando morremos renascemos em outro corpo? Como quase trs quartos do mundo acreditam na reencarnao, decidi estudar o assu nto e conclu que h muita lgica na lei da reencarnao, pela qual ns, em vidas sucessivas , vamos evoluindo no plano intelectual, moral e espiritual, enquanto espiamos os erros de vidas passadas. isso tambm que eu penso Aisha concordou. Quando considero, por exemplo, o ta lento que meu pai tem para idiomas e a facilidade com que aprendeu urdu e dialet os de certas tribos da ndia, sou levada a acreditar que ele tenha sido indiano em outra vida. E quanto a voc? No fao idia do que eu possa ter sido em vidas passadas. No entanto, por vezes, sei exatamente o que vai acontecer. como se eu j tivesse vivido a mesma experinci a em outra vida. No sei se voc entende o que estou dizendo. Entendo claro. E posso afirmar que voc j passou por muitas encarnaes. S isso lica que uma pessoa jovem possua esses olhos ajuizados demais, o amadurecimento que voc tem, bem como uma inteligncia to viva. Certamente voc adquiriu muitos conhec imentos em outras vidas e trouxe consigo, ao renascer, mais virtudes e uma intuio bem desenvolvida. Aisha ficou pensativa; depois disse com modstia: Talvez voc esteja certo. S acho que est sendo muito lisonjeiro ao mencionar as minhas qualidades. Naqueles poucos dias de viagem lorde Kenington surpreendia-se cada vez mais com Aisha. Ele jamais conhecera nenhuma mulher, mesmo sendo religiosa, que tivesse arg umentos para discutir sobre assuntos como a vida aps a vida e reencarnao. Vamos parar em Roma? Aisha perguntou quando eles se aproximavam da Itlia, No, infelizmente respondeu lorde Kenington. Ns no passaremos, eu teria prazer de lev-la baslica de So Pedro. Nossa prxima parada ser Npoles e da em adiante nave os a todo vapor, diretamente para o canal de Suez. Estou ansiosa para atravessar o canal novamente. Nas ultimas vezes em que f iz a travessia tive a impresso de que navio navegava na areia. exatamente a impresso que se tem, pois o nvel do mar mais alto que do canal e mais baixo do que o da terra arenosa o ladeia. Para mim, chegar ao canal de Sue z motivo de alegria porque metade do percurso j foi vencida. No entanto, esta via gem est sendo to agradvel que no vejo os dias passarem. Nunca encontrei uma mulher q

ue gostasse de falar sobre os assuntos que temos abordado muito menos uma garota como voc que no deve ter vinte anos. Vou fazer dezenove, mas meu esprito pode ser muito mais velho. Se est lembrad o, j falamos sobre isso Aisha observou. Os homens em geral acham que as mulheres so tolas e se julgam superiores a elas. Mas isso no verdade. Nunca duvidei da sua inteligncia e seus argumentos no so o de uma pessoa tola lorde Kenington protestou. Voc est sendo condescendente comigo porque lhe agrada ter com quem conversar e discutir. No entanto no fundo, voc se julga superior a todas as mulheres que j c onheceu. Reconheo que os homens demonstram ser mais "espertos" do que as mulheres ao organizar a sociedade ou o grupo em que vivem. Em tal sociedade ou grupo a funo do homem sair para buscar o sustento, enquanto a da mulher ficar em casa, cuidar d os filhos e tornar o ambiente do lar feliz e agradvel para receber o marido quand o ele voltar. Concordo com cada palavra do que voc disse! Lorde Kenington exclamou. S podia concordar! Aisha riu. No mundo sob o domnio dos homens as mulheres oc upam sempre o segundo lugar. Os gregos j diziam: "Aos homens a poltica, s mulheres a casa". Voc preferiria ter nascido homem? Posso apostar que voc est certo de que eu vou dizer "sim", mas a minha respos ta "no" Aisha replicou. No?! Por que a surpresa? Estou muito feliz como sou. S no concordo com o tratament o dado mulher, sobretudo no Oriente, onde ela muito inferiorizada. No Ocidente a mulher vem tendo sucesso ao reivindicar seus direitos, mas no Oriente isso no acontecer to cedo, murmurou lorde Kenington. Infelizmente, no Aisha reconheceu com um suspiro. Quando eles chegaram a Npoles o comandante avisou ningum poderia desembarcar, pois a parada naquele porto seria bem curta, apenas para o embarque de alguns p assageiros. Ah, que desapontamento! Aisha lamentou. Eu queria tanto de conhecer Pompia. J li tudo o que encontrei sobre essa cidade. difcil acreditar que sendo to nova voc j tenha lido livros sobre tantos pases! dmirou-se lorde Kenington. Pelo seu modo de falar e seu tom, voc parece estar rindo de mim ou me consid erando presunosa Aisha murmurou queixosa. Fique sabendo que leio com muita freqncia e tenho boa memria, por isso no esqueo o que li. Nesse caso quero que, mais tarde, voc me fale sobre deuses e deusas da Grcia. Agora vamos at o convs ver os novos passageiros embarcando. Quem sabe venha algum interessante entre eles. Enquanto eles caminhavam passou pela mente de Aisha que talvez lorde Kening ton j estivesse aborrecido com a sua companhia e desejasse ver alguma pessoa conh ecida, como se tal pensamento tivesse algum poder mgico, uma mulher de meia-idad e, muito elegante, materializou-se diante deles assim que chegaram ao convs. Charles! A senhora exclamou. Nunca imaginei que pudesse encontr-lo aqui. Estou igualmente surpreso, Mavis. Lorde Kenington apertou a mo do cavalheiro que acompanhava a senhora. Pensei que voc e Harry estivessem em Londres. Tive de vir para a Itlia e Mavis me acompanhou Harry esclareceu. Eu estava entediada em Londres tornou Mavis. Estamos indo para Calcut. Que coincidncia! Eu tambm. Lorde Kenington voltou-se para Aisha e apresentou -a ao casal: Esta a Srta. Aisha Warde. Aisha estendeu a mo e lorde Kenington terminou: Estes so o conde e a condessa de Dartwood. Notando que a condessa olhava para Aisha de modo curioso, lorde Kenington p erguntou-lhe para desviar-lhe a ateno: Por que vocs esto indos para a ndia no meio da temporada? Recebemos uma carta do coronel que comanda o regimento de nosso filho convi dando-nos para fazer-lhe uma visita e estar com o rapaz respondeu a condessa. Viemos Itlia para ver mame que se mudou para c e decidimos continuar a viagem

antes de voltarmos para casa completou o conde. Ser um grande prazer ter a companhia de ambos disse lorde Kenington, gentil. Com exceo da Srta. Warde no h outros conhecidos a bordo. Para ns tambm maravilhoso t-lo encontrado, caro Charles disse a condessa. Tenho muitas coisas para lhe dizer que iro diverti-lo. Vamos Mavis o conde convidou a esposa. Convm verificarmos onde fica a nossa cabine. Dois criados, obviamente o valete do conde e a criada pessoal da condessa a cabavam de se aproximar com a bagagem de mo. Assim que o casal se afastou e se dirigiu para o escritrio do comissrio de bo rdo, lorde Kenington segredou a Aisha: Agora estamos numa situao difcil. Ela fitou-o, surpresa. Por qu? Antes de responder lorde Kenington segurou-a pelo brao e levou-a para o outr o lado do convs. Ali havia cadeiras vazias e ambos se sentaram. O que h de errado? Aisha insistiu. Como estamos juntos e voc no tem uma chaperon, o conde e a condessa iro imagin ar que combinamos fazer essa viagem porque temos um... Envolvimento. Isso arruin aria a sua reputao. Por um momento Aisha ficou em silncio, atnita e ruborizada. Ento perguntou, af lita: O que podemos fazer? Ainda no sei. Mavis e o marido so os maiores bisbilhoteiros que conheo. No Whi te's Club referem-se ao conde como o "lngua de palmo". Ele sempre tem o que dizer de tudo e de todos. Compreendo. A nica coisa que me ocorre desembarcar e esperar pelo prximo navi o Aisha sugeriu. claro que voc no pode fazer isso rebateu lorde Kenington. Fique calma. Encontraremos uma soluo. No estou preocupada com o que eles pensem ou digam a meu respeito. Como o ca sal seu amigo, no quero que pensem mal de voc. De mim? Oh, no! a sua reputao que est em jogo, Aisha enfatizou lorde Kenin Bem, talvez eu esteja fazendo uma tempestade num copo d'gua. Ao mesmo tempo, no q uero que falem de voc. Sei do que so capazes as pessoas maldosas da alta sociedade . Pelo modo de lorde Kenington falar, Aisha deduziu que ele j havia sofrido co m a maledicncia das pessoas que o encontravam. O fato, por ser muito bonito e riqussimo e amigo do prncipe de Gales, Charles era alvo de comentrios maldosos daqueles que freqentavam o beau monde. Bastava ele danar duas vezes com a mesma mulher para os mexeriqueiros espalh arem que ambos estavam tendo um romance. Ele olhou para Aisha e ao notar sua expresso consternada, sentiu um desejo imenso de proteg-la. Ela era to inocente e pura e no conhecia o mundo no qual ele v ivia. O mundo onde quase todos eram como o conde e a condessa de Dartwood. O que temos a fazer, Aisha, pr a cabea para pensar. E descobrirmos um meio de impedir que esses meus amigos faam comentrios sobre ns. Voc no conhece a sociedade l ondrina e no tem idia de como as menores coisas podem ser passadas de boca em boca , em geral com exageros, at se tornar algo muito srio. difcil acreditar que isso acontea. A expresso de Aisha descontraiu-se e ela ri u. Acontece. Pode ter certeza disso lorde Kenington falou com firmeza. Seria u ma falta de considerao para com voc e seu pai se eu no a livrasse da maledicncia do c onde e da condessa. Vou concentrar-me. Quem sabe algumas coisas me ocorreram disse Aisha. Ambos ficaram em silncio, refletindo. Lorde Kenington lembrou-se de que conh ecera a condessa e o marido cerca de cinco anos atrs. Ela devia ter trinta e trs a nos e era muito atraente. Ambos se encontravam em festas e em reunies sociais e Mavis flertava com ele

. Num dos bailes oferecidos pelo conde e a condessa na manso Dartwood, na Berkele y Square, lorde Kenington danou com Mavis e antes de terminar a msica, ela convido u-o para ir ver as plantas que cultivava numa estufa. Ali ambos se beijaram. Lorde Kenington arrependeu-se de ter sido to impulsivo e decidiu no ficar mai s ss com Mavis. O que menos queria era ter um romance com a esposa de um amigo, p ois j nascera uma amizade entre o conde e ele. O conde o convidara algumas vezes para pescar salmo e caar galo silvestre na sua fazenda, na Esccia. Felizmente Mavis compreendera a atitude de Charles e a amizade dos trs conti nuara firme at o momento. A nica coisa que aborrecia lorde Kenington era o fato de o casal ser to falador. No White's Club, muitos dos scios levantavam-se do lugar onde se achavam cas o o conde de Dartwood se sentasse do seu lado. "Por que justamente eles, entre tantos conhecidos, haveria de embarcar nest e navio?", lorde Kenington se questionou. A viagem na companhia de Aisha estava sendo to agradvel que ele no queria ter de separar-se dela. Alguma coisa precisaria ser feita, pois no lhe passara desper cebido o modo malvolo como Mavis Dartwood havia olhado para Aisha. Voc j demonstrou que inteligente e perspicaz. Agora tente encontrar um meio d e eu convencer meus amigos de que a conheo h muito tempo e apenas a estou protegen do nesta viagem pediu lorde Kenington. Acho melhor eu desembarcar e aguardar o prximo navio Aisha repetiu. Ainda a tempo de eu arrumar minha bagagem. Nada disso. Est muito enganada se pensa que vou permitir que voc faa uma loucu ra dessas. Se for essa a soluo eu prefiro que Mavis e o marido falem vontade. Para o inferno com eles. Nem em sonhos a deixarei sozinha na Itlia, quem sa be a merc de algum outro homem atrevido como Watkins lorde Kenington declarou com veemncia. Percebendo que tais palavras fizeram Aisha encolher-se ele acrescentou mais suavemente: Fique tranqila, encontraremos uma sada. No mesmo instante eles perceberam que a escada do costado era erguida e o navio comeava a afastar-se do porto. Tenho notado que duas senhoras esto sempre sozinhas a mesa das refeies. Ambas parecem amveis; posso perguntar-lhes se permitiriam que eu me sentasse com elas A isha murmurou. Lorde Kenington considerou a sugesto por um momento, depois desconsiderou a idia. No enganaremos a condessa. Mavis intrometida e ela acabara descobrindo que t emos estado juntos o tempo todo e de mais a mais, gosto muito da sua companhia, adoro ficar conversando com voc. Tive uma idia, Aisha exclamou: Tive uma idia! No sei se voc ir aprov-la. Me fale que idia e essa. Voc tem primos ou outros parentes de uns vinte e poucos anos? Tenho vrios. Posso mencionar os nomes de pelo menos doze primos. Por qu? Ento oua: podemos dizer que estou noiva de um dos seus primos e voc, gentilme nte, se ofereceu para levar-me ao encontro dele. uma histria bem plausvel lorde Kenington falou devagar, depois de ter ficado um instante pensativo. Nada h de errado em um cavalheiro acompanhar a noiva do pr imo. Podemos dizer que uma sua parenta iria fazer a viagem conosco e ficou doent e no ltimo instante. Na verdade, tenho um primo que oficial da Marinha e no momen to est na frica. Sei que h navios de guerra navegando na direo da ndia como uma advertncia para o s russos. Portanto, meu primo, para todos os efeitos, est num desses navios. A histria soar mais autntica se mencionarmos que meu pai est trabalhando na ndia e no pde ir buscar-me em Londres complementou Aisha. Voc to inteligente que me faz sentir cada vez mais insignificante. Receio ter desaparecido quando chegarmos ndia brincou lorde Kenington. Aisha riu e replicou:

Lembre-se de que, como meu acompanhante, no pode desaparecer antes de entreg ar-me em segurana a meu noivo. CAPTULO TV

Tendo sido repassada toda a histria criada por eles, lorde Kenington desceu mais cedo para o salo. Queria falar com os amigos antes de Aisha tambm descer para o jantar. Terei o maior prazer que vocs sentem-se minha mesa lorde Kenington convidou o casal. A no ser, claro, que prefiram a companhia do comandante e seus convidado s. Ora, Charles, ns queremos ficar com voc declarou Mavis. Abaixando a voz lorde Kenington confidenciou: Tenho um segredo para lhes contar. S lhes peo que no o revelem a ningum at cheg rmos a Calcut. Nos olhos da condessa era evidente a curiosidade. Um segredo? O que ? A linda garota que lhes apresentei a noiva de meu primo Jack. Noiva de seu primo?! Exatamente. O noivado ainda segredo, uma vez que a Srta. Warde est indo para a ndia encontrar-se com o pai, em Calcut, e, posteriormente, com Jack. Ento o noiv ado ser oficializado. Oh, sim. Agora compreendo murmurou a condessa em outro tom de voz. Quando v oc nos apresentou aquela linda jovem me perguntei por que ambos estariam juntos. Prometi a meu primo e ao major, pai da Srta. Warde acompanh-la at a ndia. Uma parenta de Aisha deveria viajar conosco, mas ficou doente. Conto com a discrio de vocs. No digam nada sobre o assunto nem cumprimentem a Srta. Warde pelo noivado, u ma vez que este ainda no oficial reiterou lorde Kenington. claro que manteremos segredo, fique tranqilo asseverou o conde. Esse seu pri mo no poderia ter escolhido uma esposa mais encantadora. A propsito, onde est o noi vo no momento? Quando recebi notcias de Jack pela ltima vez seu navio seguia da frica para a n dia. Ele espera chegar a Calcut no mesmo dia que ns ou pouco depois. Ento poderemos festejar informou lorde Kenington, satisfeito. O conde e a condessa riram e demonstraram no duvidar de nada, mesmo porque a mbos consideravam o amigo respeitador das convenes sociais. Quando Aisha desceu e reuniu-se a eles, o casal Dartwood tratou-a com a mai or gentileza e no fez a menor insinuao sobre ela estar noiva. Aps o jantar os cavalheiros foram dar uma volta pelo convs e, vendo-se a s com Aisha, a condessa perguntou-lhe: Voc conhece lorde Kenington h muito tempo? Aisha meneou a cabea. No, mas a minha famlia conhece a dele h muitos anos. Oh, sim, compreendo. Ento esta a primeira vez que voc e Charles ficam sozinho s. Achando que devia concordar, Aisha acenou com a cabea afirmativamente. O que voc pensa a respeito de C