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INTRODUÇÃO Avaliação da função respiratória e qualidade do ar em estabelecimentos de diversão noturna Vanessa Rodrigues (1) , Jorge Conde (1) , Ana Ferreira (2) , João Paulo Figueiredo (3) (1) Departamento de Fisiologia Clínica (2) Departamento de Saúde Ambiental (3) Departamento de Ciências Complementares Nos ambientes de diversão noturna, são encontrados diversos agentes agressores, nomeadamente dióxido de carbono (CO 2 ), partículas (PM 2,5 e PM 10 ), compostos orgânicos voláteis (COV’s) e formaldeído (tem origem em vários materiais como verniz, madeira, tintas, carpetes). A inalação de altas concentrações de formaldeído pode causar: laringite, bronquite e broncopneumonia. Um agressor muito presente é o monóxido de carbono (CO), que se revela potencialmente agressor, pela sua afinidade com a hemoglobina, superior à do oxigénio, diminuindo consequentemente, o aporte de oxigénio na corrente sanguínea. A principal via de exposição humana é a inalatória. Os vapores são irritantes para o nariz, garganta e olhos, mesmo em baixas concentrações. A exposição a concentrações excessivas pode causar dispneia, salivação excessiva, espasmos musculares, etc. O fumo do tabaco é um agente agressor encontrado nestes espaços e, apesar de se desenvolver progressivamente medidas de correção, este continua a estar presente. O consumo de tabaco está associado à principal causa, actualmente, prevenível de mortalidade, com extrema importância principalmente em países em desenvolvimento. Na sua última publicação, sobre tabagismo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) esclareceu que, entre as oito principais causas de morte que ocorrem no mundo, seis estão relacionadas com o consumo e exposição ao tabaco, entre elas as doenças inflamatórias e infecciosas do trato respiratório. METODOLOGIA A investigação decorreu num estabelecimento de diversão noturna em Coimbra, onde todos os intervenientes estavam em movimento. O espaço mede 50m 2 de área, possui sistema de exaustão e insuflação, em média, aquando da recolha da amostra, o bar estava a ser frequentado por 80 pessoas, sendo que, pelo menos metade, eram fumadores. Realizou-se um estudo observacional de coorte prospetivo onde foram selecionados 40 indivíduos dos quais 20 fumadores e 20 não fumadores. Considerou-se não fumador, quem nunca fumou. O tabagismo passivo, é hoje, o principal poluente no interior de sítios de diversão noturna. Calcula-se que seja a terceira causa evitável, de morte, depois do tabaco ativo e do álcool. Vários estudos foram realizados com o intuito de analisar os efeitos do fumo na saúde humana. Concluíram que, este originava consequências graves tanto em não fumadores como em fumadores. Mannino et al, reportou, a partir de um estudo feito nos Estados Unidos, que os fumadores estão sujeitos a um agravamento significativo dos problemas respiratórios e cardiovasculares. A diferença dos problemas associados entre os fumadores activos e passivos não é significativa, o que nos remete logo para a criação de uma solução. Em congruência com outros estudos, os níveis de PM 2,5 em estabelecimentos onde existe exposição ao fumo, aumentam exponencialmente. Assim sendo, constata-se que este é, efetivamente, uma das maiores fontes de contaminação interior de locais públicos. Realizou-se uma espirometria basal, obtendo-se a Capacidade Vital, VEMS (Volume expirado no 1º segundo) relação VEMS/CV, DEMA (Débito Expiratório Máximo Absoluto) e DEM 25-75 (Débito Expiratório Médio). Realizou-se igualmente a medição do nível de CO expirado no gás alveolar (%COHb e %COppm) antes e após a exposição aos poluentes. Para tal, todos os indivíduos permaneceram três horas (obrigatórias e pré-definidas) no estabelecimento de diversão noturna. Foram também recolhidos, dados sobre os parâmetros ambientais que se encontravam presentes no ar. Mediram-se as partículas no ar (PM 2,5 , PM 10 , o Formaldeído o CO e CO 2 em três horas distintas (verificando as eventuais variações ao longo da noite). Na análise dos resultados utilizamos o IBM SPSS Statistics versão 23 para Windows. Na aplicação de testes de hipóteses, aplicaram-se modelos para amostras emparelhadas: o t-Student e T de Wilcoxon para a variação do nível do CO; t-Student para amostras independentes para avaliar as diferenças dos parâmetros respiratórios entre o grupo de fumadores e o de não fumadores. Para a inferência estatística tivemos em conta um nível de confiança de 95% para um erro aleatório inferior ou igual a 5%.

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INTRODUÇÃO

Avaliação da função respiratória e qualidade do ar em estabelecimentos de diversão noturna

Vanessa Rodrigues(1), Jorge Conde(1), Ana Ferreira(2), João Paulo Figueiredo(3) (1)Departamento de Fisiologia Clínica (2)Departamento de Saúde Ambiental (3)Departamento de Ciências Complementares

Nos ambientes de diversão noturna, são encontrados diversos agentes agressores, nomeadamente dióxido de carbono (CO2), partículas (PM2,5 e PM10), compostos orgânicos voláteis (COV’s) e formaldeído (tem origem em vários materiais como verniz, madeira, tintas, carpetes). A inalação de altas concentrações de formaldeído pode causar: laringite, bronquite e broncopneumonia. Um agressor muito presente é o monóxido de carbono (CO), que se revela potencialmente agressor, pela sua afinidade com a hemoglobina, superior à do oxigénio, diminuindo consequentemente, o aporte de oxigénio na corrente sanguínea. A principal via de exposição humana é a inalatória. Os vapores são irritantes para o nariz, garganta e olhos, mesmo em baixas concentrações. A exposição a concentrações excessivas pode causar dispneia, salivação excessiva, espasmos musculares, etc. O fumo do tabaco é um agente agressor encontrado nestes espaços e, apesar de se desenvolver progressivamente medidas de correção, este continua a estar presente. O consumo de tabaco está associado à principal causa, actualmente, prevenível de mortalidade, com extrema importância principalmente em países em desenvolvimento. Na sua última publicação, sobre tabagismo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) esclareceu que, entre as oito principais causas de morte que ocorrem no mundo, seis estão relacionadas com o consumo e exposição ao tabaco, entre elas as doenças inflamatórias e infecciosas do trato respiratório.

METODOLOGIA A investigação decorreu num estabelecimento de diversão noturna em Coimbra, onde todos os intervenientes estavam em movimento. O espaço mede 50m2 de área, possui sistema de exaustão e insuflação, em média, aquando da recolha da amostra, o bar estava a ser frequentado por 80 pessoas, sendo que, pelo menos metade, eram fumadores. Realizou-se um estudo observacional de coorte prospetivo onde foram selecionados 40 indivíduos dos quais 20 fumadores e 20 não fumadores. Considerou-se não fumador, quem nunca fumou.

O tabagismo passivo, é hoje, o principal poluente no interior de sítios de diversão noturna. Calcula-se que seja a terceira causa evitável, de morte, depois do tabaco ativo e do álcool. Vários estudos foram realizados com o intuito de analisar os efeitos do fumo na saúde humana. Concluíram que, este originava consequências graves tanto em não fumadores como em fumadores. Mannino et al, reportou, a partir de um estudo feito nos Estados Unidos, que os fumadores estão sujeitos a um agravamento significativo dos problemas respiratórios e cardiovasculares. A diferença dos problemas associados entre os fumadores activos e passivos não é significativa, o que nos remete logo para a criação de uma solução. Em congruência com outros estudos, os níveis de PM2,5 em estabelecimentos onde existe exposição ao fumo, aumentam exponencialmente. Assim sendo, constata-se que este é, efetivamente, uma das maiores fontes de contaminação interior de locais públicos.

Realizou-se uma espirometria basal, obtendo-se a Capacidade Vital, VEMS (Volume expirado no 1º segundo) relação VEMS/CV, DEMA (Débito Expiratório Máximo Absoluto) e DEM 25-75 (Débito Expiratório Médio). Realizou-se igualmente a medição do nível de CO expirado no gás alveolar (%COHb e %COppm) antes e após a exposição aos poluentes. Para tal, todos os indivíduos permaneceram três horas (obrigatórias e pré-definidas) no estabelecimento de diversão noturna. Foram também recolhidos, dados sobre os parâmetros ambientais que se encontravam presentes no ar. Mediram-se as partículas no ar (PM2,5, PM10, o Formaldeído o CO e CO2 em três horas distintas (verificando as eventuais variações ao longo da noite). Na análise dos resultados utilizamos o IBM SPSS Statistics versão 23 para Windows. Na aplicação de testes de hipóteses, aplicaram-se modelos para amostras emparelhadas: o t-Student e T de Wilcoxon para a variação do nível do CO; t-Student para amostras independentes para avaliar as diferenças dos parâmetros respiratórios entre o grupo de fumadores e o de não fumadores. Para a inferência estatística tivemos em conta um nível de confiança de 95% para um erro aleatório inferior ou igual a 5%.

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RESULTADOS

Avaliação da função respiratória e qualidade do ar em estabelecimentos de diversão noturna

Vanessa Rodrigues, Jorge Conde, Ana Ferreira, João Paulo Figueiredo

O estudo incluiu 40 indivíduos, dos quais 22 (55%) do género masculino e 18 (45%) do género feminino. A média total de idades foi 25,03 ± 4,59 (mínimo – 19 e máximo – 35). Já a média dos dados antropométricos, altura e peso, foi 174,25 cm e 70,15 kg, respetivamente.

Tabela 1 Tendo em conta o limiar de proteção e margem de tolerância para os poluentes físico-químicos, verificámos que o estabelecimento de diversão nocturna, apresentou valores normais tendo em conta a legislação portuguesa., Os valores do formaldeído revelaram-se um pouco aumentados.

Média dos parâmetros ambientais recolhidos no estabelecimento em estudo, tendo em conta a legislação

Tabela 2 A média de todos os parâmetros analisados na espirometria, estavam dentro dos valores da normalidade. Os não fumadores tendem a ter valores mais satisfatórios que os fumadores. As diferenças espirométricas entre fumadores e não fumadores reve laram-se es ta t is t i camente significativas (p<0,05). Porém, clinicamente não relevantes. Os não fumadores revelaram, em média v a l o r e s d e C V, V E M S e I T m e l h o r e s comparativamente ao grupo de fumadores.

Quadro síntese dos valores médios obtidos na espirometria nos dois grupos constituintes na amostra

Gráfico 1 Os fumadores evidenciavam um valor médio já elevado no começo da noite. A média desse valor foi 16,50 ± 12,103 (CO ppm). Este grupo, aumentou ainda mais o nível de CO, para uma média de 26,30 ± 14,514 (CO ppm). Padrão semelhante ocorreu no grupo de não fumadores 2,40 ± 1,903 (CO ppm) no início da noite e no final da noite 5,85 ± 4,416 (CO ppm). Os fumadores, todos eles, aumentaram o nível de CO. No grupo de não fumadores, 80% aumentaram os valores de CO.

Estimativas médias de CO ± Desvio Padrão nos dois grupos da amostra

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DISCUSSÃO / CONCLUSÃO

Avaliação da função respiratória e qualidade do ar em estabelecimentos de diversão noturna

Vanessa Rodrigues, Jorge Conde, Ana Ferreira, João Paulo Figueiredo

A poluição do ar interior é um tema que deve ser abordado e estudado continuamente, para que se apliquem normas de correção, a fim de prevenir doenças e problemas de saúde. O fumo do tabaco, liberta muitas substâncias nocivas, tendo sido estudado neste estudo o impacto do CO. O monóxido de carbono revelou afectar não fumadores em percentagem superior à dos fumadores. No global não encontramos alterações no ambiente que se situem para lá do limiar da normalidade de forma significativa. Destaque-se que os participantes na amostra tinham todos função respiratória normal. Apesar de o ambiente não revelar grande impacto, da poluição que lhe está associada, é assinalável a repercussão do fumo passivo com os fumadores a aumentarem o CO expirado para mais do dobro do valor que revelavam à entrada do espaço onde se realizou a experiência. Concluímos pois que, as medidas já previstas de eliminação do fumo de tabaco nos espaços de diversão noturna, não só se justifica como é indispensável do ponto de vista da saúde pública e ambiental.

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Os autores declaram a inexistência de conflito de interesses