Auto da Barca do Inferno_introdução

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• O Auto da Barca do Inferno terá sido representado pela primeira vez em 1516;

• É uma peça de inspiração religiosa, mas é sobretudo uma peça de crítica social;

• Gil Vicente caracterizou-a como uma peça de moralidade, ou seja, uma peça destinada a dar aos espectadores “lições” sobre o bem e o mal, as virtudes e os vícios;

• A encenação da peça é muito rudimentar, pois tem apenas como cenário um rio e duas barcas: a do Diabo, enfeitada e engalanada e a do Anjo, simples e sem ornamentos;

Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno

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ASSUNTO

O Auto da Barca do Inferno retrata o que acontece às almas após a morte.

TEMA

É uma crítica de tipos representativos das três classes sociais – Nobreza, Clero e Povo.

ESTRUTURA

Sucessão de quadros, em que as personagens desfilam e dialogam com o Diabo e com o Anjo.

Desfile de personagens que se sucedem no cais, sujeitam-se às críticas do Diabo e do Anjo e, por fim, acabam por embarcar na barca que lhes está destinada.

Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno

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Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno

RESUMO

As almas chegam junto de um rio e esperam a viagem simbólica da travessia para o Inferno ou para o Paraíso. É neste cais que o passado vívido pela personagem é analisado e julgado numa espécie de tribunal. O Anjo – representante do Bem – e o Diabo – representante do Mal – fazem o papel de acusadores de cada personagem – o réu – que se tenta defender.

Os discursos produzidos pelas personagens reconstituem toda a vida da personagem, no que ela teve de bom e/ou mau, o que justifica a sua salvação – recompensa – ou condenação – castigo.Gil Vicente, ao condená-las ou ao salvá-las aponta os erros e as virtudes da sociedade da sua época.

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Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno

PERSONAGENS-TIPO As personagens vicentinas são essencialmente personagens-tipo.

O tipo é uma figura que reúne as características típicas de uma classe social, uma profissão, uma instituição. Os traços da personagem-tipo são exagerados e nítidos, funcionando como uma espécie de caricatura.

Ao criar os seus tipos, Gil Vicente procurou criticar, não pessoas, mas defeitos de todas as classes sociais da sua época.

Por isso, sendo o Auto da Barca do Inferno uma peça de inspiração religiosa é, sobretudo, uma crítica social.

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Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno

«RIDENDO CASTIGAT MORES»

a rir se castigam os costumes

No Auto da Barca do Inferno, Gil Vicente serve-se de vários recursos para satirizar a sociedade da sua época.

lema de quase todo o teatro vicentino.

“a brincar a brincar se dizem as verdades”

Criticar, provocando o riso nos espectadores, não só era mais divertido e adequado à função lúdica que o teatro vicentino tinha como também permitia que a crítica fosse mais facilmente aceite.

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Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno

RECURSOS

A Ironia Refere uma intenção ou uma atitude oposta àquela que realmente se afirma.Uma figura de linguagem em que o sentido literal de uma palavra ou duma frase é o contrário daquele em que ela é empregue.Presente, principalmente, nas falas do Diabo.

A Caricatura Sugere a deformação ridícula de um ou de vários traços característicos duma personagem ou de uma ideia.Presente no exagero da caracterização de algumas personagens-tipo, por exemplo, do Frade.

A Sátira Processo ou técnica literária que combina o bom humor e a agudeza de espírito com uma atitude crítica em relação às actividades e às instituições humanas. Põe a nu as fraquezas e os defeitos da humanidade. Todo o auto é uma sátira à sociedade quinhentista.

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O Sarcasmo Consiste em observações escarninhas ou mordazes; é sempre pessoal, desdenhoso e proferido sempre com o intuito de magoar.Presente nas falas do Diabo que humilha as personagens, quando elas já estão completamente desesperadas, por exemplo, o Fidalgo, ao dizer-lhe que ninguém chora por ele, pelo contrário, a sua mulher e a amante estão até bastante felizes sem ele.

O Cómico

De situaçãoÉ criado por situações inesperadas e hilariantes.

• A entrada do Frade a dançar com a moça pela mão.• A lição de esgrima pelo Frade.• O encontro de Brízida Vaz com o corregedor na barca do Inferno.• O encontro do Onzeneiro com o Fidalgo, pois não esperava encontrá-lo ali.

Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno

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Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno

De linguagem O cómico resulta do uso de palavras e expressões que provocam o riso, da presença de jogos de palavras e de figuras de estilo, do recurso a diferentes registos de língua (calão, latim macarrónico, pragas) e a fórmulas tradicionais (rezas, provérbios).Este tipo de cómico está presente em quase todas as cenas, no entanto são de realçar:

• as falas do Parvo e os diálogos do Diabo com o Corregedor e o Procurador, em latim macarrónico.De carácter

O cómico decorre da maneira de ser, de agir e de se apresentar de uma personagem:

• o Parvo devido ao seu comportamento e aos seus diálogos incoerentes.• o Fidalgo, vaidoso, inconsciente da situação em que se encontra, mantém a pose de nobre.• o Frade, esgrimista, dançarino e namorado, é também um bom exemplo pela inadequação do seu comportamento.

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Gil Vicente, Auto da Barca do Inferno

Intenção e valor da obra

Mais do que um pretexto para fazer rir, é um documento histórico que permite conhecer os hábitos, defeitos e virtudes da sociedade portuguesa na época dos Descobrimentos

Obra de carácter satírico e humorístico