Assistência farmacêutica integradaao processo de cuidado em saude
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8/14/2019 Assistncia farmacutica integradaao processo de cuidado em saude
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Cassyano Janurio CorrerDepartamento de Farmcia, Faculdade de Farmcia, UniversidadeFederal do Paran, , , Brasil
Michel Fleith OtukiDepartamento de Cincias Farmacuticas, Faculdade de Farmcia,Universidade Estadual de Ponta Grossa, Paran, Brasil
Curitiba Paran
Assistncia farmacutica integrada ao processo decuidado em sade: gesto clnica do medicamentoPharmaceutical services integrated into the healthcare process: clinical management of medicines
Servcios farmacuticos integrados al proceso de cuidado en salud: gestin clnica del medicamento
Correspondncia / Correspondence / Correspondencia:Cassyano Janurio CorrerUniversidade Federal do Paran, Departamento de Farmcia,
Av Pref. Lothrio Meissner, 632 Jardim Botnico,CEP: 80.210-170 Curitiba-Paran-BrasilE-mail: [email protected]
RESUMO
Reviso narrativa sobre a assistncia farmacutica integrada ao processo de cuidado na ateno primria sade.Utilizou-se a reviso da literatura para busca de evidncias nacionais e estrangeiras, bem como do conhecimento
emprico adquirido pelos autores ao longo do processo ensino-aprendizagem e de pesquisa e extenso na rea, para aestruturao de um modelo lgico-conceitual que incorpore a gesto clnica do medicamento quelas relacionadas gesto tcnica da assistncia farmacutica. Infere-se que a eficiente gesto tcnica da assistncia farmacutica e aeficiente gesto clnica do medicamento contribuem para a promoo do uso racional de medicamentos,proporcionando melhorias na Ateno Primria Sade e de todo o Sistema nico de Sade SUS.
:Ateno Sade; Assistncia Farmacutica; Uso Racional de Medicamentos.Palavras-chave
Orenzio SolerPrograma Farmcia Social, Departamento de Medicamentos, Faculdadede Farmcia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,Brasil
http://revista.iec.pa.gov.br 41Rev Pan-Amaz Saude 2011; 2(3):41-49
INTRODUO
O resultado de um tratamento farmacolgico estligado interrelao de diversos eventos, atores econdies, de forma complexa e nem sempre previsvel. A
farmacoterapia obtm sucesso quando resultados como apreveno de doenas, o controle, a cura, a normalizaode parmetros laboratoriais e/ou alvio de sintomas so
1alcanados conforme esperado .
A farmacoterapia ocorre de forma adequada quando:I) o utente obtm acesso e utiliza os medicamentosconforme suas necessidades de sade corretamenteidentificadas; II) quando compreende e capaz de cumpriro regime teraputico estabelecido e concorda e adere aotratamento em uma postura ativa; III) quando omedicamento efetivo no alcance dos objetivosteraputicos estabelecidos; IV) quando problemas de
sade no so gerados ou agravados pelo uso de2,3medicamentos . Falhas nessas condies essenciaislevam ao sofrimento humano, incapacidade, reduo naqualidade de vida e morte. A promoo do uso racional demedicamentos torna-se, assim, uma prementenecessidade para assegurar o mximo de benefcios,
4minimizando os riscos na sua utilizao .
Como marcos referenciais no campo da promoo douso racional de medicamentos no Brasil, podem-se citar a
Poltica Nacional de Medicamentos (PNM), sancionada em5outubro de 1998 (Portaria GM n. 3.916/1998) um
instrumento norteador de todas as aes no campo dapoltica de medicamentos no pas e a Poltica Nacional de
Assistncia Farmacutica (PNAF), aprovada pelo Conselho6Nacional de Sade (Resoluo n.338/2004) , quecontribuem para a construo de um novo capital social(valores morais, princpios ticos e recursos cognitivos)para o campo da Assistncia Farmacutica (AF).
A AF constitui um dos sistemas de apoio das redes deateno sade, juntamente com o sistema de apoiodiagnstico e teraputico e os sistemas de informao emsade, com foco na garantia do acesso e do uso racional
7de medicamentos . Compreendem-se como componentesda AF a gesto tcnica da assistncia farmacutica e agesto clnica do medicamento.
A gesto tcnica da assistncia farmacutica secaracteriza como um conjunto de atividadesfarmacuticas interdependentes e focadas na qualidade,no acesso e no uso racional de medicamentos, ou seja, naproduo, seleo, programao, aquisio,distribuio, armazenamento e dispensao dos
8,9medicamentos .
A gesto clnica do medicamento est relacionada coma ateno sade e os resultados teraputicos efetivamenteobtidos, tendo como foco principal o utente. Configura-secomo uma atividade assistencial fundamentada noprocesso de cuidado. O medicamento deve estar disponvelno momento certo, em timas condies de uso e deve serfornecido juntamente com informaes que possibilitem
10sua correta utilizao pelo utente .
Infelizmente, apesar da evidente importncia dos marcos5,6referenciais inerentes ao atual modelo de AF, ainda
RTIGO DE REVISO | REVIEW RTICLE | RTCULO DE REVISINdoi: 10.5123/S2176-62232011000300006
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centrado nas atividades logsticas, as atuais polticas tm semostrado ineficientes na obteno de resultados satisfatriosquanto ao uso racional de medicamentos e desarticulados
3do universo do processo de cuidado em sade .
O medicamento no deve ser o foco central e nem asaes logsticas devem ocupar o nico esforo daorganizao da AF pelo Sistema nico de Sade (SUS).
Preconiza-se que a AF h que ser compreendida comouma atividade clnica, com foco central de ao no utente,estruturando-se em aes tcnico-assistenciais e aes
10,11tcnico-gerenciais .
As aes tcnico-gerenciais so estruturadas para darconta da logstica do ciclo do medicamento, enquanto asaes tcnico-assistenciais tm como foco central de aoo utente e como ator principal o farmacutico, que,ressignificando seu ser, seu saber e o seu fazer reelaborasuas estratgias e mtodos de trabalho.
As aes tcnico-assistenciais incluem aes dedispensao especializada, acompanhamento da adeso
ao tratamento, conciliao de medicamentos, gesto decaso, atendimento demanda espontnea e participao
10,11em grupos operativo-educativos . Essas aesintegradas equipe multiprofissional podem contribuirdecisivamente para a melhoria da qualidade da ateno sade, centradas em uma prxis resultante de intervenesplanejadas, estruturadas, articuladas, monitoradas e
10,11avaliadas . Em adio, utiliza-se de recursos cognitivospara assistir o utente em suas necessidades de tratamento ecuidado, e para acompanhar e avaliar a ao,interferncia e resultado do uso de medicamentos e outrasintervenes teraputicas.
Com essa abordagem, nas bases de dados do PubMedCentral (PMC), da Biblioteca Virtual em Sade (BVS), daLiteratura Latino-Americana e do Caribe em Cincias daSade (LILACS), do ndice Bibliogrfico Espanhol deCincias de Sade (IBECS), da Biblioteca Cochrane e daScientific Electronic Library Online (SciELO), forampesquisadas evidncias nacionais e estrangeiras sobre asnecessidades sociais que a AF visa atender e aproblemtica que envolve os resultados negativos dateraputica advindos do uso inadequado demedicamentos. Outrossim, esta reviso narrativa visaapresentar um modelo lgico-conceitual da AF integradaao processo de cuidado em sade por meio da gesto
tcnica da assistncia farmacutica e da gesto clnica domedicamento a partir do conhecimento empricoadquirido pelos autores ao longo do processo ensino-aprendizagem e de pesquisa e extenso na rea.
USO INADEQUADO DE MEDICAMENTOS
Os autores, fundamentados em suas experincias,inferem que os problemas relacionados com a estrutura e aorganizao, processos de gesto e gerenciais,comprometem a acessibilidade e o acesso aosmedicamentos. Um significativo percentual de utentes notem acesso aos medicamentos com a qualidadeassegurada e na quantidade necessria para a efetividadedo seu tratamento.
Por outro lado, o capital social (valores morais,princpios ticos e recursos cognitivos) e a alta prevalnciade doenas crnicas da sociedade contempornea levam
tambm ao acesso indiscriminado aos medicamentos,12promovendo a polimedicao . Assim sendo, h
premente necessidade de medicamentos que os atuaisservios de sade tm dificuldade em atender, levando apopulao a conviver com distintos padres de problemasrelacionados aos medicamentos, prprios tanto de pasesdesenvolvidos como daqueles em desenvolvimento:
consumo excessivo de medicamentos por automedicaoinduzida pela mdia, uso de produtos ineficazes ou demedicamentos suprfluos, mal indicados, subutilizados,sobrepos i o de mesmos pr inc p ios a t i voscomercializados com nomes de fantasia diferentes,sobreposio de princpios ativos que atuam pelo mesmomecanismo de ao, bem como o uso inadequado demedicamentos inefetivos para o controle de doenas.
As questes atualmente mais relevantes e prevalentesquando se trata do uso inadequado de medicamentosincluem polifarmcia, erros de medicao, noseguimento de diretrizes clnicas, discrepnciasteraputicas na transio do utente entre nveisassistenciais, baixa efetividade dos tratamentos,ocorrncia de eventos adversos, automedicaoirresponsvel e baixa adeso aos tratamentos. Em todo omundo, crescem as evidncias do impacto dessesproblemas sobre a populao e sobre os sistemas desade, assim como novas tecnologias so incorporadas afim de promover o uso racional dos medicamentos emelhorar seus resultados teraputicos.
Compreende-se como polifarmcia ou polimedicaoou hiperfarmacoterapia o uso de ml t iplos
12,13frmacos/medicamentos . A probabilidade de reaesadversas estimada de 6% quando se administram dois
frmacos/medicamentos concomitantes e de 50% quandoutilizados cinco frmacos/medicamentos ao mesmo13tempo . H uma relao linear entre a quantidade de
medicamentos e o risco de eventos adversos.14,15Em inquritos sobre farmcia domiciliar no Brasil e
16na Espanha , encontram-se, em mdia, 3,8 a 5,1medicamentos por domiclio, muitos deles desprovidos deprescrio, utilizados inclusive por crianas eadolescentes. Boa parte desses medicamentos armazenada de forma inadequada, apresenta desvios dequalidade e descartada de forma prejudicial ao meio
14,15ambiente . H, tambm, um importante desperdcio de
medicamentos guardados e no utilizados. Dentre asprincipais causas de devoluo de medicamentos emfarmcias, uma o vencimento do prazo de validade(28%) e outra, a melhora espontnea do problema desade que originou a prescrio, com a subsequente
16interrupo do tratamento (25%) .
A proporo de utentes ambulatoriais que sofremeventos adversos a medicamentos (EAM) estimada em25% (IC95% 20-29) e a ocorrncia de 27 eventos paracada 100 utentes. Considera-se que ao menos 40% desseseventos sejam tratveis ou passveis de preveno. Esseseventos tratveis so atribudos falha do mdico emresponder aos sintomas do utente relacionados commedicamentos (63%) e falha do utente em informar esses
17sintomas ao mdico (37%) .
A prevalncia de internaes hospitalares relacionadasa medicamentos, segundo reviso sistemtica, de 4,3%
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que, para cada dlar gasto com medicamentos, sejamconsumidos U$1,33 no tratamento de problemas
37relacionados farmacoterapia .
Todos esses problemas no podem ser enfrentadospartindo apenas da procura espontnea e voluntria dosutentes. Tradicionalmente, os mdicos tendem a dedicarmaior parte do tempo (limitado) das consultas,
particularmente nas unidades pblicas de sade, aodiagnstico e seleo do tratamento para a queixaprincipal, sem espao para a avaliao e discusso amplada teraputica e da experincia dos utentes com osmedicamentos e muitas vezes minimizam a importncia
38das estratgias no farmacolgicas . Da mesma forma, adispensao normalmente caracteriza-se como umaatividade centrada no medicamento, cuja via decomunicao com o utente unilateral. Alm disso, no secumpre na dispensao com as etapas que caracterizam oprocesso de cuidado, configurando-se como um serviomuito mais vinculado distribuio do que assistnciaao utente. Assim sendo, a AF deve desenvolver um novoenfoque sobre o medicamento e a teraputica, buscandose aproximar mais das reais necessidades vividas pelapopulao durante o uso dos medicamentos.
As necessidades da populao vo alm da questo doacesso e da qualidade dos produtos farmacuticos,requerendo aes articuladas ao processo de ateno sade que possam garantir a continuidade do cuidado,bem como a preveno e resoluo de problemas ligados farmacoterapia. Uma nova AF integrada de formasingular ao processo de cuidado em sade se faznecessria, a fim de dar resposta nova situaofarmacoepidemiolgica que ora se apresenta.
O uso racional de medicamentos, para serefetivamente assegurado, implicar custos e a
apropriao de diversos conhecimentos e mudanas de4conduta de diversos agentes ligados AF . A ampliao do
acesso e a contnua incorporao de novos medicamentose novas tecnologias faro do financiamento da AF algoinsustentvel se no houver aumento da efetividade. preciso eficincia para obter melhores resultados com osrecursos j disponveis e empregados.
A fim de funcionar efetivamente como sistema de apoioao processo de cuidado, a AF deve ampliar seu escopo,por meio da incorporao de tecnologias de gesto clnicado medicamento, associadas s tecnologias j existentesde gesto tcnica da AF.
O processo de utilizao de medicamentos nosservios de sade ocorre por meio de etapas bemdefinidas e integradas ao processo do cuidado. O
primeiro momento da abordagem clnica consiste nacoleta e organizao de dados e informaes sobre outente. Em seguida, um diagnstico formulado, sendoeste o produto do raciocnio clnico empregado peloprofissional, geralmente o mdico. Na terceira etapa doprocesso definido um plano teraputico, idealmente emconjunto com o utente, traduzido na prescrio de um oumais medicamentos e de medidas teraputicas nofarmacolgicas. A dispensao e orientao consistem naltima etapa realizada antes da administrao ouutilizao do medicamento pelo utente.
A figura 1 (modelo lgico-conceitual da AF integradaao processo de cuidado em sade) traz as etapas desteprocesso, bem como as aes da gesto tcnica da AF e agesto clnica do medicamento.
MODELO LGICO-CONCEITUAL DA ASSISTNCIAFARMACUTICA INTEGRADA AO PROCESSO DECUIDADO EM SADE
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Antes do uso de medicamentos
Durante o uso de medicamentos
Seleo
Programao
Utente
Estado de Sade
Avaliao
Diagnstico
Dispensao
Orientao
Compreenso doutenteeadeso teraputica
Gesto Tcnicada AssistnciaFarmacutica
Efetividade e Seguranada teraputica
Problemas
GestoClnica doMedicamento
Resoluo Referncia Indicaes clnicas eobjetivos teraputicos
Cadeia de abastecimento
farmacutico / Produo
Nvel assistencial
Continuidade do cuidadoAvaliaes peridicas
Distribuio
Armazenamento
Aquisio
PrescrioPlano Teraputico
Problema de sade no tratadoFalha no acesso ao medicamentoMedicao no necessriaDesvio de qualidade do medicamentoBaixa adeso ao tratamentoInterao medicamentosaDuplicidade teraputicaDiscrepncias na medicaoFalta de efetividade teraputicaReao adversa ou toxicidadeErro de medicao
ContraindicaesOutros...
Figura 1 Modelo lgico-conceitual da assistncia farmacutica integrada ao processo decuidado em sade
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As aes ligadas gesto tcnica da AF (aesgerenciais) do suporte prescrio e dispensao dosmedicamentos, no se envolvendo diretamente com acontinuidade do cuidado e a avaliao dos resultadosteraputicos dos utentes. Essas aes, ainda que devam seretroalimentar e reavaliar a partir de dados sobre aefetividade dos servios, farmacovigilncia e estudos de
utilizao de medicamentos, caracterizam-se pelaausncia de enfoque clnico.
A gesto clnica do medicamento (aes assistenciais),por outro lado, visa garantir que os cuidados envolvendo ouso do medicamento no se encerrem no ato da entregados produtos. Consiste em um conjunto de aesassistenciais, vinculadas AF, que visa garantir o usoadequado dos medicamentos e a obteno de resultados
10,11teraputicos positivos .
A gesto clnica do medicamento se caracteriza pelaproviso de servios clnicos centrados no utente, de alta
complexidade e baixa densidade tecnolgica. Estesservios podem ser providos de forma individual e coletivajuntamente com a entrega de medicamentos, ainda que
10,11sejam independentes desta .
As tecnologias que compem a gesto clnica domedicamento integram-se ao processo de ateno sade, tendo como objetivos principais: I) a avaliao doacesso dos utentes a tratamentos adequados para seusproblemas de sade, II) o empoderamento dos utentes e oautocuidado apoiado no que tange teraputica, III) aconcordncia e adeso ao tratamento, IV) a reduo dodesperdcio e o alcance de tratamentos mais custo-
efetivos, V) a identificao, a preveno e o manejo deerros de medicao, interaes medicamentosas, reaesadversas e riscos associados aos medicamentos, VI) oaumento da efetividade teraputica, VII) a destinaoadequada dos medicamentos e demais resduos de sade
10,11ligados teraputica . Essas aes devem estarintegradas s rotinas dos servios de sade e ao trabalhoda equipe de sade como um todo.
As aes de sade includas na gesto clnica domedicamento devem permear toda a rede de ateno sade, estendendo a funo da AF para alm do sistemade apoio material e da acessibilidade aos medicamentos.Estes servios so orientados para a reviso peridica dasindicaes clnicas e objetivos teraputicos de cada utente,para o suporte ao autocuidado e para a automedicaoresponsvel, a promoo de uma maior compreenso eresponsabilizao do utente para com a adeso aotratamento e para a verificao sistemtica da efetividade
10,11e segurana do uso de medicamentos .
As tecnologias de gesto clnica do medicamentopodem ser incorporadas a vrios locais de prtica,pblicos ou privados, envolvendo, portanto, umacarteira de servios distribudos pelos diferentes pontos
da rede de ateno sade. Na ateno primria sade, os servios voltados gesto clnica domedicamento devem estar integrados estratgia doPrograma Sade da Famlia (PSF), num contexto ideal de
clnica ampliada, pronturio familiar e projetosteraputicos singulares, em conformidade com ascarac te r s t i cas fa rmacoep idemio lg i cas das
10,11populaes .
Os servios devem ser individualizados e especficospara um utente e devem acontecer em interao direta
com este, em atendimentos presenciais ou remotos. Sopossveis, tambm, aes coletivas voltadas para gruposoperat i vo-educat i vos ou consul tas co le t i vasmultiprofissionais. As tecnologias de gesto clnica domedicamento devem ser incorporadas essencialmentecom base em evidncias e claramente identificadasquanto a sua estrutura, organizao, processo eresultados pretendidos. Os resultados devem seravaliados, por meio de indicadores, tanto do ponto devista das mudanas produzidas no processo de uso demedicamentos (outputs) como nos desfechos em sade
10,11,38(outcomes) .
Da mesma forma que as demais atividades da AF, agesto clnica do medicamento consiste em um conjuntode tecnologias que se beneficiam do trabalhomultiprofissional. Os servios farmacuticos clnicosdevem se alinhar a essas iniciativas e o sistema como umtodo deve incluir suporte ao estabelecimento emanuteno da relao entre o farmacutico, os demaismembros da equipe de sade e o utente, bem como gesto da AF num sentido amplo.
FARMCIA SOCIAL, SERVIOS FARMACUTICOS,FARMCIA CLNICA, ATENO FARMACUTICA E AGESTO CLNICA DOS MEDICAMENTOS
Compreende-se a farmcia social como um campo queabrange competncias e contedos necessrios para umanova prxis na qual o farmacutico parte integrante eessencial da equipe multidisciplinar de sade, estandocapacitado a compreender o processo sade-doena e a
39,40intervir sobre o mesmo . Ela engloba os campos da sadecoletiva e da sade pblica relacionadas aos medicamentose as aes, atividades e tarefas dos farmacuticos em suasrelaes interpessoais e multiprofissionais: Histria daFarmcia, Antropologia Farmacutica, SociologiaFarmacutica, Farmacoepidemiologia, Farmacovigilncia,
Farmacoeconomia, Informao sobre Medicamentos, UsoRacional de Medicamentos, Polticas e Sistemas de Sade ede Assistncia Farmacutica, Regulao e RegulamentaoProfissional, Sanitria, tica e Biotica, e Gesto de ServiosFarmacuticos [gesto tcnica da assistncia farmacutica egesto clnica do medicamento] centrada no manejofarmacolgico e no farmacolgico dos medicamentos ena sustentabilidade do setor sade, bem como, nacompreenso e na avaliao do impacto dos produtos eservios farmacuticos na sade individual e coletiva.
A farmcia social identificada como um elementotransformador, capaz de trazer importante contribuio
para a almejada mudana de paradigma da formao eda atividade profissionais, uma vez que promove aidentificao do farmacutico como partcipe das aes de
39,40sade e a compreenso do seu papel social .
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No campo da farmcia social, a assistncia ao utenteh que ser percebida como uma prxis farmacutica quepermite a integrao do farmacutico equipemultidisciplinar, assumindo a responsabilidade pelasnecessidades dos utentes relacionadas aos medicamentose tornando-se responsvel pela promoo do usoracional de medicamentos no mbito das equipes locais
de sade.Os servios farmacuticos clnicos ou campos para o
cuidado farmacutico (ateno farmacutica) so asaes, atividades e tarefas relacionadas com ateno sade prestada pelo farmacutico ao utente. Estes serviosdevem estar integrados aos servios de sade, sendoprovidos em espaos especficos destinados para esse fim.Estes espaos de clnica farmacutica so os locais fsicosonde o servio provido ao utente e pode estar emhospitais, ambulatrios, unidades bsicas de sade,
10,11domiclio do utente e farmcias comunitrias .
Ainda que existam diferentes escolas e mtodos deensino e prtica de ateno farmacutica ou gesto clnicado medicamento espalhados pelo mundo, precisoavanar na compreenso de que o processo de cuidado
40,41farmacutico um s . Assim sendo, o processo decuidado farmacutico estruturado em etapas bemdefinidas, em um mtodo clnico universal, semelhanadas outras profisses da sade. Esse mtodo consisteessencialmente em: I) acolher, reunir e organizar a histriaclnica e de medicao do utente; II) avaliar suasnecessidades teraputicas e problemas relacionados farmacoterapia; III) estabelecer um plano de cuidado em
conjunto com o utente; IV) monitorar a evoluo do utente41,42de forma planejada e proativa .
Como uma prtica profissional de ateno sade, ocuidado farmacutico deve incluir aes de sade voltadaspara a promoo, a proteo e a recuperao da sade,de forma harmnica com a equipe de sade local e osistema de sade como um todo. Segundo
43,44recomendaes nacionais e internacionais , ainda,ateno farmacutica se volta para o individuo e para acoletividade.
Compreende-se como farmcia clnica o grupo das
atividades executadas pelo farmacutico direcionadas aoutente e/ou a equipe multidisciplinar de sade, visandoassegurar a efetividade e a eficincia do uso de
45medicamentos . Essas atividades so utilizadas emservios farmacuticos dentro do ambiente hospitalar(farmcia hospitalar), podendo, contudo, ser executadosem qualquer situao em que haja usurios expostos aorisco do uso de medicamentos.
A ateno farmacutica (pharmaceutical care) umconceito norte-americano para um modelo de prticafarmacutica. Sob uma viso tico-filosfica, ela emergedo acordo entre utente e profissional, em que eles
compartilham a responsabilidade de cuidar do processode uso dos medicamentos, desenvolvida no atual contextode polticas de sade norte-americanas, voltados para oprocesso de regulao para o acesso aos medicamentos e
produo de resultados definidos que melhorem a46,47,48qualidade do uso dos medicamentos . Compreende o
utente como centro das suas aes e se desenvolve numaviso clnica, humanista e de responsabilizao.
No Brasil, compreendem-se os servios farmacuticosclnicos como aqueles direcionados gesto clnica do
medicamento, orientados para diferentes pblicos earticulados a um sistema de informao integrado aosdemais pontos de ateno sade, em especial ateno
10,11primria sade . As farmcias comunitrias pblicas,em especial, tm como caracterstica essencial o potencialde agregar praticamente todas as aes de gesto tcnicada AF e a gesto clnica do medicamento, funcionando,assim, como espao onde se promove apoio aos demaispontos da rede de ateno sade e como um ponto deateno sade especializado nas aes que envolvem ateraputica com medicamentos.
A ateno farmacutica pode ser considerada comoum elo entre a farmcia clnica e a farmcia social e comoa filosofia na qual a farmcia clnica est fundamentada,nos aspectos morais e ticos que envolvem o
48relacionamento entre farmacutico e o utente .
No contexto do SUS, os conceitos de atenofarmacutica e gesto clnica do medicamento possuem omesmo enfoque filosfico, distinguindo-se quanto aoprocesso de regulao do acesso, o qual universal nasfarmcias comunitrias brasileiras. A atenofarmacutica e a gesto clnica do medicamento exigem,portanto, uma prtica profissional clnica, com um
processo de cuidado definido, que se alinha aos objetivosda AF integrada, promovendo o uso racional demedicamentos e obtendo resultados teraputicosdefinidos. Entre as premissas bsicas desse modelo lgico-
10,11conceitual destacam-se :
O cuidado farmacutico tem carter clnico e deveatender a padres de qualidade pr-estabelecidos,nos moldes da gesto da clnica e da acreditaoem sade;
O cuidado farmacutico deve ocorrer por meio dainterao direta profissional-utente;
O farmacutico deve assumir compromissosanitrio por uma populao definida, buscandoatender de forma individualizada as necessidadesrelacionadas aos medicamentos de cada utente sobseus cuidados;
Ainda que o atendimento individualizado sejaprefervel, aes voltadas a grupos de utentes,particularmente no que tange educao emsade, devem ser consideradas parte inerente prtica, como ocorre com outras profisses da
sade; Os servios farmacuticos clnicos devem estar
integrados cultura e ao contexto institucional oucomunitrio em que esto inseridos;
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Os servios devem ser estruturados, organizados,oferecidos e geridos com base no diagnsticofarmacoepidemiolgico e nas necessidades desade de uma determinada populao;
O farmacutico deve orientar sua prtica porprincpios bioticos consistentes, pelos direitos doutente e pelos direitos do consumidor, tanto em suarelao com o utente como com outrosprofissionais de sade.
Este tipo de cuidado farmacutico h que estar alinhados caractersticas das condies agudas e crnicas, aopapel tradicional da farmcia no fornecimento demedicamentos e s tecnologias da gesto da clnica:diretrizes clnicas (protocolos clnicos), a gesto da
7,10,11condio de sade e a gesto de caso . A populaodeve ser assistida por aes de complexidade compatvelcom sua estratificao de risco, tanto no que diz respeito aoprocesso sade-doena, como com relao ao risco de
morbimortalidade relacionada aos medicamentos.
SERVIOS FARMACUTICOS CLNICOS NO BRASIL:DESAFIOS PARA O FUTURO
No atual contexto do SUS h que ressignificar o ser(objetivo) farmacutico, o saber (propsito) farmacutico eo fazer (finalidade) farmacutico, direcionados para amelhoria da qualidade de vida (individual e coletiva) dasociedade.
H, ainda, que superar lacunas quanto s tecnologiase ferramentas relacionadas ao cuidado farmacutico,como: (I) a estruturao e organizao da oferta deservios aos utentes por territrios; (II) a estratificao dosutentes por risco e/ou gravidade; (III) os modelosorganizacionais de gesto clnica do medicamentoembasados em evidncias cientficas e validados para arealidade brasileira; (IV) os indicadores de qualidademensurveis que possam ser aplicados para a avaliao eacreditao desses servios quanto eficcia domedicamento, efetividade do tratamento e eficincia
dos recursos empreendidos.
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Pharmaceutical services integrated into the healthcare process: clinical management ofmedicines
ABSTRACT
This is a narrative review on pharmaceutical services integrated into the primary healthcare process. A literature review wasperformed to collect national and international evidence and has been combined with the empirical knowledge gained bythe authors during the teaching-learning process and research on this area of study to structure a logical, conceptual modelthat integrates clinical management of medicines with the technical management of pharmaceutical services. It is inferredthat an efficient technical management of pharmaceutical services and an efficient clinical management of medicines help
promote rational drug use and improve primary healthcare as well as Brazil's Unified Health System (Sistema nico deSade SUS) as a whole.
Keywords: Health Care (Public Health); Pharmaceutical Services; Rational use of Drugs.
Servcios farmacuticos integrados al proceso de cuidado en salud: gestin clnica demedicamentoRESUMEN
Revisin narrativa sobre los servcios farmacuticos integrados al proceso de cuidado en la atencin primaria a la salud. Seutiliz la revisin de la literatura para la bsqueda de evidencias nacionales y extranjeras, bien como del conocimientoemprico adquirido por los autores durante el proceso enseanza-aprendizaje y de investigacin y extensin en el rea,
para la estructura de un modelo lgico conceptual que incorpore la gestin clnica del medicamento a aquellasrelacionadas a la gestin tcnica de los servcios farmacuticos. Se infiere que la eficiente gestin tcnica de los servciosfarmacuticos y la eficiente gestin clnica del medicamento contribuyen a la promocin del uso racional demedicamentos, proporcionando mejoras en la Atencin Primaria a la Salud y de todo el Sistema nico de Salud SUS.
Palabras clave:Atencin a la Salud; Asistencia Farmacutica; Uso Racional de Medicamentos.
REFERNCIAS
1 Aquino DS. Por que o uso racional de medicamentosdeve ser uma prioridade? Cienc Saude Coletiva.2008;13 Suppl:S733-6.
2 Ebbesen J, Buajordet I, Erikssen J, Brrs O, Hilberg T,Svaar H, et al. Drug-related deaths in a department ofinternal medicine. Arch Intern Med. 2001 Oct;161(19):2317-23.
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Recebido em / Received / Recibido en: 31/7/2011Aceito em / Accepted / Aceito en: 19/11/2011