Artigo ConVivencia - Revista Senhor e Sem Hora - JAN-12

1
O turismo, mercado em franca expansão, tem sido uma das alternativas utilizadas pelos idosos para se manterem ativos. Ao viajar, eles aproveitam o tem- po livre para conhecer novos lugares, pessoas, cultu- ras, fazer compras, além de se divertir e fazer novas amizades. Vale ressaltar a carência de roteiros de via- gens focados e profissionais treinados e preparados para atender ao turista idoso, lacuna que o programa Convivência pretende preencher com a comercializa- ção de roteiros temáticos para os idosos, onde o en- foque inicial será a dança. A temática dança, aliada a viagens, corresponde a 80% da expectativa de um programa de viagem, segundo os entrevistados em nossas pesquisas de sustentabilidade e viabilidade dos produtos Convivência. Por outro lado, o trade turístico (leia-se: bares, restaurantes, hotéis, pousadas, parques temáticos, empresas de transportes e demais atividades co- merciais periféricas ligadas direta ou indiretamente à atividade turística) vê na população idosa um consu- midor potencial para os períodos de baixa ocupação, diminuindo a sazonalidade, transformando empregos temporários em empregos fixos, contribuindo para a justa distribuição das divisas de nosso país. Mas será que estamos preparados para aten- der aos desejos e às necessidades dessa população? Os produtos e serviços oferecidos correspondem às ex- pectativas desse novo perfil de idoso? Esses e outros tantos questionamentos se fazem necessários. Aten- der às demandas turísticas do público idoso exige do trade a oferta de produtos e serviços diferenciados. Mas só isto não basta, há que se pensar em investir num turismo baseado nos conceitos de desenho uni- versal, que promova os princípios da acessibilidade, visando ao bem–estar e à segurança do idoso com vistas à fidelização desse cliente que costuma viajar em grupos e em qualquer época do ano. A acessibilidade no turismo com ênfase no idoso será tema para amplos debates e discussões durante a Conferência Internacional sobre o Idoso, que estaremos realizando na cidade de Gramado, de 10 a 13 de junho de 2012 (www.brasilidoso.com. br), onde a Profª. Dra. Maria Luisa Trindade Bestetti*, arquiteta e professora no curso de Gerontologia da Universidade de São Paulo (USP), irá proferir a pa- lestra – Hospedando o Idoso: projeto arquitetônico. Em visita recente à Tribeca – congressos, feiras, via- gens e incentivo, o momento foi de troca de ideias e ampliação de informações sobre o tema e, a seguir, apresentamos alguns questionamentos feitos por nós para a Dra. Maria Luisa Trindade Bestetti. Cavichion: Em linhas gerais, como podemos visualizar a aplicação concreta dos conceitos de de- senho universal e acessibilidade no setor do turismo? Dra. Maria Luisa: O Desenho Universal define conforto e segurança para todos, incluindo idosos, crianças menores de 6 anos, gestantes, obesos e pessoas com deficiência, entre outras com necessi- dades especiais. (...) Onde houver calçadas seguras, sinalização eficiente e mobiliário adequado, certa- mente estará um turista satisfeito. Cavichion: No Brasil, é a Lei 10.098/2000 que estabelece critérios básicos para a promoção da aces- sibilidade, e as normas gerais estão contidas na NBR 9050. Em sua opinião, esse material de referência é conhecido e observado pelo mercado do turismo? Dra. Maria Luisa: A lei foi um passo importan- te e foi necessário um tempo para sua assimilação. IDOSO: gerando empregos e distribuição de renda por meio do turismo acessível Houve maior compreensão dos benefícios da aces- sibilidade e a obrigatoriedade de se criarem novas estruturas sob o conceito do Desenho Universal, com vistas à inclusão social e profissional. Portanto, esta é uma transformação que passa pelas barreiras físi- cas e, também, pelas atitudinais, pois o preconceito também pode ser um obstáculo significativo. Acessi- bilidade previne riscos e, portanto, pode prolongar o envelhecimento saudável e ativo. A NBR 9050 esta- belece parâmetros mínimos e referências para o de- senvolvimento de projetos de adequação em espa- ços físicos, atendendo às condições brasileiras. Sua importância reside na normatização dos dados, pos- sibilitando uma melhor compreensão dos requisitos necessários para atendimento desta demanda. Cavichion: Em nossas conversas, você citou o empreendedorismo em gerontologia. Como isso pode ser visto no segmento turístico? Pode nos citar um exemplo? Dra. Maria Luisa: (...) No curso de Geronto- logia da Universidade de São Paulo, onde formamos pesquisadores, produtores de serviços e gestores, enfatizamos a importância de que a escolha, seja qual for, deve considerar a criatividade e as habili- dades de cada novo profissional. A formação abran- gente do gerontólogo permite que seja um consultor para planos de ação relativos ao envelhecimento e à velhice. No segmento turístico, podemos considerar a preparação da equipe receptiva através de treina- mento, a proposição de programas de entretenimen- to com alternativas e constantes revisões e a adequa- ção de atividades intergeracionais. Cavichion: Para o empresário que está pen- sando em investir no turista idoso, por onde começar? De que forma a discussão desse tema na Conferência Internacional sobre o Idoso poderá contribuir para a qualificação do segmento e beneficiar o turista idoso? Dra. Maria Luisa: Destacaria a obtenção de assessoria com profissionais profundamente envol- vidos com as questões da velhice, especialmente porque ainda precisamos avançar mais na desmisti- ficação dos preconceitos existentes. Também ratifico que, apesar da lei, o mais importante é compreen- der que pequenos investimentos podem garantir boa imagem, melhores serviços e menores prejuízos com incidentes indesejáveis. Além disso, uma ambiência colaborativa e positiva melhora o encontro entre fun- cionários e clientes que participam da experiência turística. Durante a Conferência abordaremos ques- tões práticas, pois não bastam barras de apoio no banheiro e uso de pisos antiderrapantes. Pequenos cuidados com o mobiliário garantem maior prazer na permanência, além da segurança. Cores são esti- mulantes, mas podem se tornar desorientadoras se utilizadas em excesso. Desenhos em pisos ou falta de contraste em degraus podem provocar acidentes. Enfim, o idoso está cada dia mais exigente, já que a autonomia que a boa saúde lhe confere permite que escolha os serviços que melhor atendam às suas ne- cessidades e desejos, o que justifica o investimento para recebê-lo com diferenciais marcantes. Por Maurício Cavichion Diretor da Tribeca - congressos, feiras, viagens e incentivo. Presidente executivo do Convivência - Conferência Internacional sobre o Idoso e Feira de Produtos, Serviço, Tecnologias e Bem-estar. *Profa. Dra. Maria Luisa Trindade Bestetti: possui graduação em Arqui- tetura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1982), mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela USP (2002) e doutorado em Arquitetura e Urbanismo também pela USP (2006). Complementou a formação cursando MBA em Gestão de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas (2008). Atualmente, é professora doutora no Curso de Ge- rontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo - EACH USP. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Projeto Arquitetônico, atuando principalmente nos seguintes temas: ambiência, acessibilidade, gerontologia ambiental, Gestão de Projetos e Design Thinking. Com tantas mudanças no perfil do consumidor idoso, o diretor da Tribeca - Congressos, feiras, viagens e incentivo, Maurício Cavichion, conversa com a Dra. Maria Luisa Trindade Bestetti, professora de gerontologia da USP, em sua visita a Porto Alegre. 16 | Senhor & Sem Hora | Nº 27 www.senhoresemhora.com.br

description

Artigo ConVivencia - Revista Senhor e Sem Hora - JAN-12

Transcript of Artigo ConVivencia - Revista Senhor e Sem Hora - JAN-12

Page 1: Artigo ConVivencia - Revista Senhor e Sem Hora - JAN-12

O turismo, mercado em franca expansão, tem sido uma das alternativas utilizadas pelos idosos para se manterem ativos. Ao viajar, eles aproveitam o tem-po livre para conhecer novos lugares, pessoas, cultu-ras, fazer compras, além de se divertir e fazer novas amizades. Vale ressaltar a carência de roteiros de via-gens focados e profissionais treinados e preparados para atender ao turista idoso, lacuna que o programa Convivência pretende preencher com a comercializa-ção de roteiros temáticos para os idosos, onde o en-foque inicial será a dança. A temática dança, aliada a viagens, corresponde a 80% da expectativa de um programa de viagem, segundo os entrevistados em nossas pesquisas de sustentabilidade e viabilidade dos produtos Convivência. Por outro lado, o trade turístico (leia-se: bares, restaurantes, hotéis, pousadas, parques temáticos, empresas de transportes e demais atividades co-merciais periféricas ligadas direta ou indiretamente à atividade turística) vê na população idosa um consu-midor potencial para os períodos de baixa ocupação, diminuindo a sazonalidade, transformando empregos temporários em empregos fixos, contribuindo para a justa distribuição das divisas de nosso país. Mas será que estamos preparados para aten-der aos desejos e às necessidades dessa população? Os produtos e serviços oferecidos correspondem às ex-pectativas desse novo perfil de idoso? Esses e outros tantos questionamentos se fazem necessários. Aten-der às demandas turísticas do público idoso exige do trade a oferta de produtos e serviços diferenciados. Mas só isto não basta, há que se pensar em investir num turismo baseado nos conceitos de desenho uni-versal, que promova os princípios da acessibilidade,

visando ao bem–estar e à segurança do idoso com vistas à fidelização desse cliente que costuma viajar em grupos e em qualquer época do ano. A acessibilidade no turismo com ênfase no idoso será tema para amplos debates e discussões durante a Conferência Internacional sobre o Idoso, que estaremos realizando na cidade de Gramado, de 10 a 13 de junho de 2012 (www.brasilidoso.com.br), onde a Profª. Dra. Maria Luisa Trindade Bestetti*, arquiteta e professora no curso de Gerontologia da Universidade de São Paulo (USP), irá proferir a pa-lestra – Hospedando o Idoso: projeto arquitetônico. Em visita recente à Tribeca – congressos, feiras, via-gens e incentivo, o momento foi de troca de ideias e ampliação de informações sobre o tema e, a seguir, apresentamos alguns questionamentos feitos por nós para a Dra. Maria Luisa Trindade Bestetti. Cavichion: Em linhas gerais, como podemos visualizar a aplicação concreta dos conceitos de de-senho universal e acessibilidade no setor do turismo? Dra. Maria Luisa: O Desenho Universal define conforto e segurança para todos, incluindo idosos, crianças menores de 6 anos, gestantes, obesos e pessoas com deficiência, entre outras com necessi-dades especiais. (...) Onde houver calçadas seguras, sinalização eficiente e mobiliário adequado, certa-mente estará um turista satisfeito. Cavichion: No Brasil, é a Lei 10.098/2000 que estabelece critérios básicos para a promoção da aces-sibilidade, e as normas gerais estão contidas na NBR 9050. Em sua opinião, esse material de referência é conhecido e observado pelo mercado do turismo? Dra. Maria Luisa: A lei foi um passo importan-te e foi necessário um tempo para sua assimilação.

IDOSO: gerando empregos e distribuição de renda por meio do turismo acessível

Houve maior compreensão dos benefícios da aces-sibilidade e a obrigatoriedade de se criarem novas estruturas sob o conceito do Desenho Universal, com vistas à inclusão social e profissional. Portanto, esta é uma transformação que passa pelas barreiras físi-cas e, também, pelas atitudinais, pois o preconceito também pode ser um obstáculo significativo. Acessi-bilidade previne riscos e, portanto, pode prolongar o envelhecimento saudável e ativo. A NBR 9050 esta-belece parâmetros mínimos e referências para o de-senvolvimento de projetos de adequação em espa-ços físicos, atendendo às condições brasileiras. Sua importância reside na normatização dos dados, pos-sibilitando uma melhor compreensão dos requisitos necessários para atendimento desta demanda. Cavichion: Em nossas conversas, você citou o empreendedorismo em gerontologia. Como isso pode ser visto no segmento turístico? Pode nos citar um exemplo? Dra. Maria Luisa: (...) No curso de Geronto-logia da Universidade de São Paulo, onde formamos pesquisadores, produtores de serviços e gestores, enfatizamos a importância de que a escolha, seja qual for, deve considerar a criatividade e as habili-dades de cada novo profissional. A formação abran-gente do gerontólogo permite que seja um consultor para planos de ação relativos ao envelhecimento e à velhice. No segmento turístico, podemos considerar a preparação da equipe receptiva através de treina-mento, a proposição de programas de entretenimen-to com alternativas e constantes revisões e a adequa-ção de atividades intergeracionais. Cavichion: Para o empresário que está pen-sando em investir no turista idoso, por onde começar? De que forma a discussão desse tema na Conferência Internacional sobre o Idoso poderá contribuir para a qualificação do segmento e beneficiar o turista idoso? Dra. Maria Luisa: Destacaria a obtenção de assessoria com profissionais profundamente envol-vidos com as questões da velhice, especialmente

porque ainda precisamos avançar mais na desmisti-ficação dos preconceitos existentes. Também ratifico que, apesar da lei, o mais importante é compreen-der que pequenos investimentos podem garantir boa imagem, melhores serviços e menores prejuízos com incidentes indesejáveis. Além disso, uma ambiência colaborativa e positiva melhora o encontro entre fun-cionários e clientes que participam da experiência turística. Durante a Conferência abordaremos ques-tões práticas, pois não bastam barras de apoio no banheiro e uso de pisos antiderrapantes. Pequenos cuidados com o mobiliário garantem maior prazer na permanência, além da segurança. Cores são esti-mulantes, mas podem se tornar desorientadoras se utilizadas em excesso. Desenhos em pisos ou falta de contraste em degraus podem provocar acidentes. Enfim, o idoso está cada dia mais exigente, já que a autonomia que a boa saúde lhe confere permite que escolha os serviços que melhor atendam às suas ne-cessidades e desejos, o que justifica o investimento para recebê-lo com diferenciais marcantes.

Por Maurício CavichionDiretor da Tribeca - congressos, feiras, viagens e incentivo.

Presidente executivo do Convivência - Conferência Internacional sobre o Idoso e Feira de Produtos, Serviço, Tecnologias e Bem-estar.

*Profa. Dra. Maria Luisa Trindade Bestetti: possui graduação em Arqui-tetura pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1982), mestrado em Arquitetura e Urbanismo pela USP (2002) e doutorado em Arquitetura e Urbanismo também pela USP (2006). Complementou a formação cursando

MBA em Gestão de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas (2008). Atualmente, é professora doutora no Curso de Ge-rontologia da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo - EACH USP. Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Projeto Arquitetônico, atuando principalmente nos seguintes temas: ambiência, acessibilidade, gerontologia ambiental, Gestão de Projetos e Design Thinking.

Com tantas mudanças no perfil do consumidor idoso, o diretor da Tribeca - Congressos, feiras, viagens e incentivo, Maurício Cavichion, conversa com a Dra. Maria Luisa Trindade Bestetti, professora de gerontologia da USP, em sua visita a Porto Alegre.

16 | Senhor & Sem Hora | Nº 27 www.senhoresemhora.com.br