ARRITMIAS CARDÍACAS INTRODUÇÃO o Consequências: …o A bradicardia pode ser absoluta (FC < 60...

14
ARRITMIAS CARDÍACAS INTRODUÇÃO o Arritmias cardíacas são o resultado de uma anormalidade na geração ou condução do impulso elétrico, ou em ambas. o Consequências: diminuição do DC, IC, TEP, assistolia e FV. o Existem dois tipos de arritmias: taquiarritmias (FC > 100) e bradiarritmias (FC < 50). o Estímulos anormais gerados tanto no nodo sinusal, ou no nodo atrioventricular, constituem os distúrbios da formação do impulso. o Outra origem para a arritmia pode estar envolvida com o sistema de condução pelo qual o impulso elétrico se propaga. o Há também as arritmias causadas por reentrada cíclica, como a Síndrome de WolffParkinson-White e o Flutter Atrial. o Outra classificação: Primária: espontânea. Secundária: outros distúrbios cardíacos (IAM e Chagas). FISIOPATOLOGIA Alteração do automatismo cardíaco o Com a alteração de um ou mais fatores, surgem arritmias por alteração do automatismo cardíaco, seja por aumento do automatismo dos marca-passos subsidiários ou por surgimento de automatismos anormais. o Fatores que alteram o ritmo: tônus simpático (aumento das catecolaminas ativa receptores alfa e beta taquicardia sinusal), hipopotassemia, isquemia prolongam a despolarização. o Se há falha na ativação do NSA ou BAV o NAV assume o automatismo se também esse sistema falhar o sistema Hiss-Purkinje assume. o Se esses mecanismos são mais frequentes que os sinusais, ele podem ocorrer isolados (extrassístoles) ou repetitivos (taquicardias). o Essas alterações do automatismo podem se originar de miócitos comuns que adiquirem esse automatismo pós evento isquêmico geração do impulso se dá por despolarização parcial arritmias pós IAM ou episódios isquêmicos. Alteração de condução cardíaca

Transcript of ARRITMIAS CARDÍACAS INTRODUÇÃO o Consequências: …o A bradicardia pode ser absoluta (FC < 60...

Page 1: ARRITMIAS CARDÍACAS INTRODUÇÃO o Consequências: …o A bradicardia pode ser absoluta (FC < 60 bpm em repouso) ou relativa (FC > 60 bpm), mas inadequada à situação clínica

ARRITMIAS CARDÍACAS

❖ INTRODUÇÃO

o Arritmias cardíacas são o resultado de uma anormalidade na geração ou condução do

impulso elétrico, ou em ambas.

o Consequências: diminuição do DC, IC, TEP, assistolia e FV.

o Existem dois tipos de arritmias: taquiarritmias (FC > 100) e bradiarritmias (FC < 50).

o Estímulos anormais gerados tanto no nodo sinusal, ou no nodo atrioventricular,

constituem os distúrbios da formação do impulso.

o Outra origem para a arritmia pode estar envolvida com o sistema de condução pelo qual

o impulso elétrico se propaga.

o Há também as arritmias causadas por reentrada cíclica, como a Síndrome de

WolffParkinson-White e o Flutter Atrial.

o Outra classificação:

▪ Primária: espontânea.

▪ Secundária: outros distúrbios cardíacos (IAM e Chagas).

❖ FISIOPATOLOGIA

• Alteração do automatismo cardíaco

o Com a alteração de um ou mais fatores, surgem arritmias por alteração do automatismo

cardíaco, seja por aumento do automatismo dos marca-passos subsidiários ou por

surgimento de automatismos anormais.

o Fatores que alteram o ritmo: tônus simpático (aumento das catecolaminas → ativa

receptores alfa e beta → taquicardia sinusal), hipopotassemia, isquemia → prolongam a

despolarização.

o Se há falha na ativação do NSA ou BAV → o NAV assume o automatismo → se também

esse sistema falhar → o sistema Hiss-Purkinje assume.

o Se esses mecanismos são mais frequentes que os sinusais, ele podem ocorrer isolados

(extrassístoles) ou repetitivos (taquicardias).

o Essas alterações do automatismo podem se originar de miócitos comuns que adiquirem

esse automatismo pós evento isquêmico → geração do impulso se dá por despolarização

parcial → arritmias pós IAM ou episódios isquêmicos.

• Alteração de condução cardíaca

Page 2: ARRITMIAS CARDÍACAS INTRODUÇÃO o Consequências: …o A bradicardia pode ser absoluta (FC < 60 bpm em repouso) ou relativa (FC > 60 bpm), mas inadequada à situação clínica

o São os bloqueios → atraso ou impossibilidade de propagar o estímulo despolarizante em

alguma região do coração.

o Bloqueios de 1° grau:

▪ Atraso na transmissão, porém toda onda P leva à um QRS.

▪ Intervalo PR > 0,2s.

▪ Bloqueio alto (supra-His) → bom prognóstico.

o Bloqueio de 2° grau:

▪ Mobitz I: aumento progressivo do intervalo PR até que não ocorra a condução do QRS

(fenômeno de Wenckebach).

▪ Bloqueio alto (supra-His) → bom prognóstico.

▪ Mobitz II: ocorre uma condução do tipo “tudo ou nada” → interrupção súbita da

condução no NAV e é intercalada com conduções normais.

▪ Bloqueio baixo (infra-His) → mau prognóstico.

o Bloqueio de 3° grau/BAV total: interrupção completa da passagem do estímulo e há

dissociação entre a condução atrial e os ventrículos (assumem ritmos independentes).

▪ Bloqueio baixo (infra-His) → mau prognóstico.

• Alteração simultânea do automatismo e da condução cardíaca

o Fenômeno de reentrada: desvio de onda de ativação para ultrapassar um obstáculo

inexcitável.

o Ocorre reentrada de um impulso elétrico quando um circuito elétrico auto-sustentado

estimula uma área do miocárdio de modo repetitivo e rapidamente. Duas condições

devem estar presentes para que ocorra um circuito elétrico de reentrada: (1) bloqueio

unidirecional (a condução anterógrada é proibida, enquanto a retrógrada é permitida); e

(2) diminuição da velocidade de condução retrógrada.

Page 3: ARRITMIAS CARDÍACAS INTRODUÇÃO o Consequências: …o A bradicardia pode ser absoluta (FC < 60 bpm em repouso) ou relativa (FC > 60 bpm), mas inadequada à situação clínica

o Quando o impulso chega ao ponto a, ele pode seguir o seu percurso apenas pela via 1

(ramo à esquerda), visto que a via 2 (ramo à direita) é bloqueada unidirecionalmente na

direção anterógrada. A condução do impulso ocorre através da via 1 e segue para o ponto

b. Nessa junção, o impulso segue de modo retrógrado pela via 2 em direção ao ponto a.

o Pode ser dividida em:

▪ Micro-reentrada (ao nível da bifurcação de Purkinje): FA

▪ Macro-reentrada: flutter e síndrome de Wolff-Parkinson-White.

❖ MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

o Pode ocorrer palpitações, síncope, pré-síncope, dor precordial ou mesmo morte súbita.

o Muitas podem ser assintomática e evoluir para morte súbita.

• Palpitações

o Sensação de batimentos fortes, irregulares, aumento de FC.

Page 4: ARRITMIAS CARDÍACAS INTRODUÇÃO o Consequências: …o A bradicardia pode ser absoluta (FC < 60 bpm em repouso) ou relativa (FC > 60 bpm), mas inadequada à situação clínica

o As causas são diversas, mas comumente são devidas a batimentos ectópicos (contração

atrial ou ventricular prematura) ou a uma taquiarritmia.

o Pesquisar as características: sustentadas ou não, regulares ou não, rápidas ou não, local,

inicio e término, frequência, sintomas associados e fatores desencadeantes.

o Diferença de benigna e maligna: no exame físico, à ausculta, um ritmo de padrão

irregularmente anormal pode sugerir uma fibrilação atrial enquanto um ritmo mais

regular, mas acelerado, nos sugere uma taquiarritmia sustentada.

o Causa mais comum da palpitação são as taquiarritmias (quando cardiopatia estrutural →

taquicardia ventricular/ se não: supraventricular).

• Síncope

o Sincope: perda súbita de consciência.

o Pré-síncope: sensação de tontura.

o Indica baixo fluxo cerebral determinando a síncope ou pré-síncope depende da frequência

cardíaca, função ventricular e adaptabilidade periférica.

o Em corações normais, somente frequências cardíacas muito elevadas são capazes de

determinar hipotensão significativa.

o Em cardiopatas com depressão da função ventricular, no entanto, frequências cardíacas

menos elevadas podem levar à perda de consciência.

o Estão associadas à todos os tipos de arritmias.

BRADIARRITMIAS

❖ INTRODUÇÃO

o A bradicardia pode ser absoluta (FC < 60 bpm em repouso) ou relativa (FC > 60 bpm), mas

inadequada à situação clínica do paciente, como um paciente com choque séptico,

hipotenso e com FC = 70 bpm - nessa situação espera-se uma FC > 100 bpm.

❖ ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA

o Quanto mais distante do NSA a lesão, mais acentuada deverá ser a bradicardia, já que a

despolarização dos ventrículos ficará a cargo de células com menor automatismo.

o Os bloqueios do nó atrioventricular (BAV) podem estar no nível do NAV, os chamados

bloqueios altos (também denominados: supra-His, de baixo grau ou não avançados), ou

podem estar no feixe de His, denominados bloqueios baixos (infra-His, de alto grau ou

avançados). A diferença entre os dois níveis de bloqueio é o foco de escape que assume o

comando da despolarização cardíaca: FC maior no bloqueio supra-His e menor no bloqueio

infra-His.

o São os BAV’s.

❖ ACHADOS CLÍNICOS

o 3 formas:

▪ De acordo com cada arritmia: assintomática, tontura, sincope, confusão, atividade

motora espontânea, dispneia, dor torácica e morte súbita.

▪ Arritmia secundária: sintomas da bradicardia passa a sobrepor um quadro primário

causador dessa.

▪ Sintomas não são da bradiarritmia: detectada ao acaso, assintomática.

o EF: PA e o pulso, tanto deitado quanto em pé, pulsos, ausculta cardíaca e pulmonar, exame

neurológico sumário e busca de sinais periféricos de baixo fluxo (pele fria e úmida, livedo,

cianose).

❖ DIAGNÓSTICO E CONDUTA

o Se instabilidade:

▪ Monitorização: FC, PA, monitor cardíaco e oximetria.

Page 5: ARRITMIAS CARDÍACAS INTRODUÇÃO o Consequências: …o A bradicardia pode ser absoluta (FC < 60 bpm em repouso) ou relativa (FC > 60 bpm), mas inadequada à situação clínica

▪ Cateter de oxigênio (se houver hipoxemia).

▪ Acesso em veia calibrosa e exames gerais.

▪ Sempre que possível obter um ECG.

o Exames adicionais de acordo com o quadro clínicos: eletrólitos, função renal, perfil

toxicológico, dosagem de antiarrítmicos e digoxina, marcadores de necrose do miocárdio,

gasometria etc.

o Identificar a arritmia.

• Bradicardia sinusal

o Ritmo normal do coração, apenas FC mais baixa.

o Pode ser secundária a causas extrínsecas ao sistema de condução (hipertensão

intracraniana, reflexo vagal, medicamentos).

• Bradicardia juncional

o Ritmo identificado no NAV, sem onda P ou com onda P retrógrada pós QRS com orientação

invertida.

• BAV 1° grau

o Intervalo PR maior que 0,2s.

• BAV 2° grau

o Algumas ondas P são seguidas de QRS, enquanto outras, não. Há dois tipos de BAV de 2°

grau com gravidade e prognóstico diferentes: Mobitz I e II.

• BAV 3° grau

o Dissociação completa da despolarização atrial e ventricular.

❖ ETIOLOGIAS

o Identificação das causas.

Page 6: ARRITMIAS CARDÍACAS INTRODUÇÃO o Consequências: …o A bradicardia pode ser absoluta (FC < 60 bpm em repouso) ou relativa (FC > 60 bpm), mas inadequada à situação clínica

• Causas instrínsecas

o Hipoxemia

▪ Causa comum de bradicardia.

▪ Deve-se buscar achados sugestivos de insuficiência respiratória (uso de musculatura

acessória, taquipneia, cianose) e aferir a saturação pelo oximetro de pulso.

▪ Nesses casos, a prioridade é corrigir a hipoxemia.

o Medicamentos

• Beta bloqueadores, bloqueadores de canais de cálcio (verapamil, diltiazem),

antiarrítmicos (amiodarona, propafenona, mexiletine) antidepressivos tricíclicos.

• Intoxicação digitálica: é o clássico das bradiarritmias medicamentosas, por efeito

colinérgico → inibem bomba Na' /K'-ATPase. Portanto, os digitálicos não bloqueiam o

sistema de condução de corações denervados, como os transplantados.

• Antagonistas específicos: anticorpo monoclonal para digoxina, Ca+2 para os BCC →

reverter a bradicardia e retirar o fármaco responsável.

o Distúrbios hidroeletrolíticos

▪ Alterações eletroliticas e do equilíbrio acidobásico devem ser descartadas como causas

da bradicardia, principalmente em pacientes com disfunção renal ou em uso de fármacos

que possam levar a essas alterações.

o Reflexo vagal

▪ Benignas e revertem espontaneamente e responde bem à atropina.

o IAM

▪ Bradicardia sinusal é a mais comum.

▪ IAM de parede anterior: BAV agudo significa acometimento de área muito extensa do

miocárdio.

▪ IAM de parede inferior:

• Fase aguda: o BAV ocorre por isquemia do sistema de condução. O NAV é irrigado pela

coronária direita em 90% das vezes, e pela artéria circunflexa nos outros 10%.

• 3° dia de IAM: etiologia inflamatória, excelente prognóstico e reversão espontânea.

Page 7: ARRITMIAS CARDÍACAS INTRODUÇÃO o Consequências: …o A bradicardia pode ser absoluta (FC < 60 bpm em repouso) ou relativa (FC > 60 bpm), mas inadequada à situação clínica

o Cirurgia cardíaca e endocardite

▪ Manipulações de valva aórtica e mitral, abscesso de anel valvar podem afetar o sistema

de condução de forma temporária ou definitiva.

o Doenças do sistema de condução

▪ Congênitas (BAVT) ou adquiridas (Chagas, degeneração senil, ou doença do NSA).

▪ São irreversíveis e tem necessidade de marca-passo definitivo.

❖ TRATAMENTO NA EMERGÊNCIA

• Estáveis

o Analisar o eletro:

▪ Não tem BAV avançado: monitoramento + solicitar avaliação do cardiologista.

▪ Tem BAV avançado: cogitar internação + eletrodo MV-TV.

• Instáveis

o Definida por:

▪ Choque, hipotensão ou má perfusão periférica.

▪ Alteração do nível de consciência (ainda que transitória, como síncope ou pré-síncope).

▪ Dor precordial (angina).

▪ Dispneia (insuficiência cardíaca ou congestão pulmonar).

• Indicações de marca-passo transcutâneo (MP-TC)

o I. Doença do Nó Sinusal (DNS) sintomática*;

o II. Síndrome bradicardia-taquicardia com sintomatologia importante;

Page 8: ARRITMIAS CARDÍACAS INTRODUÇÃO o Consequências: …o A bradicardia pode ser absoluta (FC < 60 bpm em repouso) ou relativa (FC > 60 bpm), mas inadequada à situação clínica

o III. Bradicardia sintomática induzida por medicamentos;

o IV. Síndrome do seio carotídeo muito sintomático;

o V. Flutter ou fibrilação atriais com alto grau de bloqueio AV, sintomáticos;

o VI. Bloqueios atrioventriculares(BAV):

▪ 1. BAV 2º grau tipo I (Weckebach) sintomático;

▪ 2. BAV 2º grau tipo II (Mobitz) sintomático;

▪ 3. BAV 3º grau ou total, sintomático de qualquer etiologia;

o VII. Distúrbios do sistema excito-condutor pós cirurgia cardíaca: bloqueio AV 2º grau; 3º

grau e bloqueio bifascicular;

o VIII. Antes e/ou durante implante de marcapasso definitivo (principalmente

epimiocárdico), nos casos de bradiarritmias severas (corresponde ao presente caso;

o IX. Como terapêutica de suporte nos casos de bradiarritmias com ICC grave, parada

cardíaca e insuficiência circulatória, renal ou cerebral graves;

o X. Como profilaxia durante ou após grandes intervenções cirúrgicas, nos portadores de

distúrbios do sistema éxcito-condutor do coração.

TAQUIARRITMIAS

❖ INTRODUÇÃO

o São alterações de ritmo cardíaco caracterizado por frequência cardíaca acima de 100bpm.

o Variam desde uma taquicardia benigna associada à crise de ansiedade até uma taquicardia

ventricular potencialmente fatal.

o São divididas em:

▪ Taquicardia estável: o paciente não apresenta nenhum critério de gravidade.

▪ Taquicardia instável: quando um ou mais deles está presente, mas devem ser

atribuíveis ao distúrbio do ritmo. A FC menor que 150bpm não costuma levar à

instabilidade.

❖ ETIOLOGIA

o Existem 2 mecanismos principais das taquicardias:

▪ Automatismo: grupo de células que tem automatismo aumentado assumindo o comando

da despolarização cardíaca com a FC acelerada → cardioversão elétrica, drogas de curta

duração como a adenosina podem resolver.

▪ Reentrada: na presença de dupla via de condução, a via mais rápida tem período

refratário maior e a mais lenta menor. Na presença de um estimulo precoce a via rápida

pode estar em período refratário estímulo segue então pela via lenta e pode retornar

pela via rápida quando esta estiver repolarizada, e reentrar novamente pela via lenta.

Dessa forma, temos um ciclo repetitivo, e a cada ciclo pode ocorrer a estimulação do

miocárdio levando à taquicardia.

Page 9: ARRITMIAS CARDÍACAS INTRODUÇÃO o Consequências: …o A bradicardia pode ser absoluta (FC < 60 bpm em repouso) ou relativa (FC > 60 bpm), mas inadequada à situação clínica

o Taquicardia acompanhando doença de base: hemorragia digestiva, hipovolemia, sepse,

feocromocitoma, hipertireoidismo, síndrome de abstinência, síndrome do pânico, febre,

hipoxemia → corrigir fator desencadeante.

o Situações que causam arritmia e necessitam de tratamento concomitante:

hipopotassemia, hipomagnesemia, toxicidade cardíaca relacionada a medicamentos

(digoxina, tricíclicos), isquemia aguda do miocárdio, intoxicação aguda catecolaminérgica,

embolia pulmonar etc.

❖ ABORDAGEM

• Achados clínicos

o Queixas inespecíficas: tontura, mal estar.

o Queixas sugestivas de doença cardíaca: síncope, dispneia, dor torácica ou palpitações →

pacientes com cardiopatia prévia estão mais sujeitos a maior risco de complicações.

o Conduta:

▪ Avaliar critérios de gravidade, monitoriza estabilizar.

▪ Interrogatório sintomatológico.

▪ Avaliar antecedentes patológicos:

• Arritmias: se positiva, buscar todos os detalhes: qual a arritmia, quando e quantos

episódios, quais os tratamentos realizados, eventos adversos desenvolvidos, se fez

ablação da arritmia etc. Sobretudo, investigar se há antecedente de via acessória

manifesta (pré-excitação) como a síndrome de Wolff-Parkinson-White (SWPW).

• Cardiopatias: doença coronariana (sobretudo, IAM prévio), insuficiência cardíaca (IC),

doença de Chagas, valvulopatia, hipertensão arterial sistêmica, cardiomiopatias,

cardiopatia congênita etc.

• Respiratórias: doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), hipertensão pulmonar,

doença pulmonar restritiva, cirurgia torácica etc.

• Outras: doença tireoidiana, feocromocitoma ou situações de risco para distúrbio

eletrolítico (diarreia, má-absorção intestinal, nefropatias, anorexia nervosa etc.).

▪ Investigar medicação em uso.

▪ Interrogar uso de álcool e drogas (especialmente cocaína, anfetaminas).

o Quando estiverem presentes os sinais de gravidade:

▪ Sala de emergência;

▪ Monitorização do ritmo cardíaco;

▪ Oximetria (se necessário → O2 suplementar);

▪ Acesso venoso calibroso;

▪ Preparação de sedativo/analgésico;

▪ Eletrodos com monitorização cardíaca e deixar cardioversor preparado;

▪ Coletar exames laboratoriais (p. ex., hemograma, exame de coagulação, eletrólitos e

função renal).

o A presença de critério de gravidade ou instabilidade indica obrigatoriamente a

cardioversão elétrica imediata, principalmente na FA. Na taquicardia reentrante nodal

atrioventricular (AV), apesar da instabilidade, o tratamento inicial é com manobras vagais

e adenosina, antes da cardioversão.

• ECG

o QRS > 120mc (QRS alargado).

Page 10: ARRITMIAS CARDÍACAS INTRODUÇÃO o Consequências: …o A bradicardia pode ser absoluta (FC < 60 bpm em repouso) ou relativa (FC > 60 bpm), mas inadequada à situação clínica

o Avaliar a regularidade PR

▪ RP curto (RP pe menor que PR): como se a onda P viesse logo depois do QRS. As

etiologias são a taquicardia reentrante nodal AV e a taquicardia reentrante AV

ortodrômica (via acessória).

• Se o intervalo RP for < 90 ms: taquicardia reentrante nodal A V.

• Se o intervalo RP for > 90 ms: taquicardia reentrante AV ortodrômica

▪ Intervalo RP longo (ou seja, RP é maior que PR): a etiologia mais provável é a taquicardia

atrial.

o Tentar identificar a onda P (diagnóstico diferencial)

❖ TAQUICARDIAS COM QRS LONGO

Page 11: ARRITMIAS CARDÍACAS INTRODUÇÃO o Consequências: …o A bradicardia pode ser absoluta (FC < 60 bpm em repouso) ou relativa (FC > 60 bpm), mas inadequada à situação clínica

o Cerca de 80% são ventriculares, menos de 20% são supraventriculares com condução

anormal.

o No paciente estável, a adenosina pode reverter a taquicardia supra ventricular.

o Ocasionalmente é causada pelo mecanismo de reentrada AV.

o Usar critérios de Brugada para definir se é TV ou TSV.

o Ausência de ondas RS nas derivações precordiais = TV.

o Intervalo entre o início das ondas R e o nadir da onda S> 100ms = TV.

o Dissociação entre a onda P e o QRS = TV.

o Quando o QRS tem morfologia de bloqueio de ramo direito (BRD): onda monofásica ou

bifásica em V1 e onda R menor que S em V6 = TTV.

o Quando QRS tem morfologia de bloqueio de ramo esquerdo (BRE): onda S em V1

entalhada = TV.

• Taquicardia sinusal

o FC > 100bpm + ritmo sinusal.

Page 12: ARRITMIAS CARDÍACAS INTRODUÇÃO o Consequências: …o A bradicardia pode ser absoluta (FC < 60 bpm em repouso) ou relativa (FC > 60 bpm), mas inadequada à situação clínica

o Causas: infecções, febre, desidratação, anemia, IC e hipertireoidismo, medicamentoso

(sabutamol e salmeterol), cafeína e drogas estimulantes (anfetaminas e cocaína) →

corrigir causa desencadeante.

• Taquicardia atrial focal

o TSV originada em qualquer sítio, caracterizada por atividade atrial organizada, ondas P

discretas (não sinusais) e segmento isoelétrico entre as ondas P. pode ser sustentada ou

não; frequência atrial entre 100-240bpm.

o Se paciente estável: tratamento IV com diltiazem ou verapamim ou BB. Amiodarona é uma

opção no paciente com PA limítrofe ou disfunção de VE.

o Se paciente instável: cardioversão elétrica sincronizada.

• Taquicardia atrial multifocal

o TVS irregular, onda P≥ 3 diferentes morfologias e FC variável.

o Associado a doenças pulmonares, hipertensão pulmonar, DAC, doença valvar,

hipomagnesemia e terapia com teofilina → tratar a causa base.

o Magnésio IV para pacientes com magnésio sérico normal, se houver necessidade de

tratamento específico usar metoprolol ou verapamil IV.

• Taquicardia juncional

o Aumento do automatismo, podendo ser secundária à intoxicação por digitálicos.

o ECG: QRS estreito, RR irregular, P pode ser retrógrada dissociada do QRS ou encorberta

por ele.

o Responde bem aos fármacos com capacidade de bloqueio AV, como os BB, ou BCC.

• Taquicardia reentrante nodal AV

o É uma das mais frequentes encontradas em adultos jovens com doença estrutural ou

isquêmica. (>60% em mulheres).

o Mecanismo: reentrada do estímulo por dupla via. Em um batimento normal, o estímulo

desce pela via rápida e despolariza dos ventrículos, enquanto o que vem pela via lenta

encontra o feixe de His e ventrículos em período refratário. Quando ocorre um batimento

precoce (extrassístole), o estímulo pode encontrar a via rápida ainda em período refratário

e seguir pela via lenta. Ao chegarem no His, o estímulo despolariza os ventrículos e

encontra a via rápida repolarizada, voltando pata os átrios onde o ciclo de reentrada se

completa.

o FC entre 180-200bpm, RR regular, P retrograda ou não visível.

Page 13: ARRITMIAS CARDÍACAS INTRODUÇÃO o Consequências: …o A bradicardia pode ser absoluta (FC < 60 bpm em repouso) ou relativa (FC > 60 bpm), mas inadequada à situação clínica

o Conduta: Qualquer medida que resulte na alteração de condução ou dos períodos pode

interromper o circuito. → realizar manobra vagal ou administrar adenosina → se

adenosina ineficaz, pode-se usar BB, diltiazem ou verapamil IV → se ineficaz utilizar

amiodarona → se for refratário ou apresentar instabilidade realizar cardioversão elétrica.

• Taquicardia ventricular monomórfica

o É menos frequentes que as arritmias supraventriculares, mas é potencialmente mais

grave.

o Etiologias: associada a alguma doença cardíaca, intoxicação por drogas ilícitas, intoxicação

por digitálicos.

o Representa 80% das taquicardias de QRS longo, é uniforme e com morfologia estável.

o Se paciente instável: cardioversão elétrica com 100J monofásico ou bifásico → se

necessário aumentar a carga de energia progressivamente.

Page 14: ARRITMIAS CARDÍACAS INTRODUÇÃO o Consequências: …o A bradicardia pode ser absoluta (FC < 60 bpm em repouso) ou relativa (FC > 60 bpm), mas inadequada à situação clínica

o Se paciente estável: adenosina → procainamida ou flecainamida IV (se não ICC) →

amiodarona IV (no paciente com ICC, pós IAM, DAC) → BB → lidocaína → se TV complexa

ou irreversível realizar cardioversão elétrica sincronizada.

• Taquicardia ventricular polimórfica

o Pode apresentar diferentes morfologias, irregularidade RR, e um ritmo instável, podendo

evoluir com hipotensão, choque ou parada cardiorrespiratória.

o QT normal: mais frequente em SCA

o QT prolongado: torsade de pointes. Há alternância da polaridade e da amplitude do QRS,

formando traçado em fusos, como se as pontas da tira fossem torcidas.

▪ Adquirida: medicamentos (antiarrítmicos, macrolídeos, algumas quinolonas, e

metadona, alguns psicotrópicos como haloperidol, tioridazina e antipsicóticos atípicos) e

distúrbios eletrolíticos (hipopotassemia, hipomagnesemia e hipocalcemia).

▪ Forma congênita: denominada de síndrome do QT longo congênita (muito rara)

o Tratamento para QT curto:

▪ Cardioversão elétrica sem sincronizar, pois o cardioversor pode não reconhecer o

momento certo para liberar o choque pela variação dos QRSs. No paciente estável

realizar metoprolol IV em 3 doses de 5mg em intervalos de 5 minutos

▪ A intervenção coronariana percutânea deve ser realizada o mais rápido possível.

▪ Amiodarona IV é recomendada se for recorrente, sobretudo se associada a instabilidade

→ considerar a lidocaína se refratariedade;

o Tratamento para QT longo:

▪ Se paciente instável: cardioversão com 360J monofásico, sem sincronização;

▪ Magnésio IV 2g em 15min → manutenção de 20mg a 1g/h;

▪ Reposição de cálcio e potássio se necessário.

❖ REFERÊNCIAS

CARNEIRO BV, PIRES HHM, NOGUEIRA ACC, BRICK AV. Arritmias: fisiopatologia, quadro clínico

e diagnóstico. Rev Med Saude Brasilia 2012; 1(2):93‐104.

PESARO AE, FERNANDES JL, SOEIRO AM, SERRANO JR. CV. Arritmias cardíacas – principais

apresentações clínicas e mecanismos fisiopatológicos. Rev. Med (São Paulo). 2008 jan.-

mar.;87(1):16-22.