APRENDIZAGEM POR PROJETOS: … · programa 5S em uma disciplina do curso de graduação da UFSM....

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APRENDIZAGEM POR PROJETOS: IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA 5S EM UM CURSO DE GRADUAÇÃO Fernanda Becker (UFSM ) [email protected] Guilherme de Oliveira da Silva (UFSM ) [email protected] Patrick Gabbi (UFSM ) [email protected] marcelo hoss (UFSM ) [email protected] Esse trabalho visou avaliar a proposição de uma metodologia pedagógica de aprendizagem por projetos através da implantação do programa 5S em uma disciplina do curso de graduação da UFSM. Para tanto, a ferramenta foi aplicada por discentes eem três empresas de pequeno porte na cidade de Santa Maria, RS. Posteriormente, o conhecimento gerado no projeto, bem como as experiências particulares de cada aplicação, foi relatado pelos discentes, a fim de contrastar a aprendizagem com metodologias tradicionais de ensino, como aulas expositivas, simulações e dinâmicas em grupo. Dessa forma, ficou clara a relevância do ensino de forma projetual, evidenciando sua efetividade para o suprimento da demanda da sociedade por profissionais aptos e sensíveis a lidar com diagnóstico e resolução de situações problema. Palavras-chaves: Aprendizagem, projetos, 5S XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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APRENDIZAGEM POR PROJETOS:

IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA 5S

EM UM CURSO DE GRADUAÇÃO

Fernanda Becker (UFSM )

[email protected]

Guilherme de Oliveira da Silva (UFSM )

[email protected]

Patrick Gabbi (UFSM )

[email protected]

marcelo hoss (UFSM )

[email protected]

Esse trabalho visou avaliar a proposição de uma metodologia

pedagógica de aprendizagem por projetos através da implantação do

programa 5S em uma disciplina do curso de graduação da UFSM.

Para tanto, a ferramenta foi aplicada por discentes eem três empresas

de pequeno porte na cidade de Santa Maria, RS. Posteriormente, o

conhecimento gerado no projeto, bem como as experiências

particulares de cada aplicação, foi relatado pelos discentes, a fim de

contrastar a aprendizagem com metodologias tradicionais de ensino,

como aulas expositivas, simulações e dinâmicas em grupo. Dessa

forma, ficou clara a relevância do ensino de forma projetual,

evidenciando sua efetividade para o suprimento da demanda da

sociedade por profissionais aptos e sensíveis a lidar com diagnóstico e

resolução de situações problema.

Palavras-chaves: Aprendizagem, projetos, 5S

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1. Introdução

De acordo com Delors (1998) (apud GADOTTI, 2000) ao longo da vida um dos

quatro pilares da aprendizagem refere-se a aprender a fazer: é indissociável do aprender a

conhecer. O caráter cognitivo do fazer ganhou destaque devido à substituição de algumas

atividades humanas, o que implicou diretamente no aprender a fazer deixar de ser puramente

instrumental. Nesse contexto, a pura qualificação profissional passa a ter menos validade do

que a competência pessoal, a qual torna a pessoa mais preparada e apta à novas situações de

emprego e trabalho em equipe.

Atualmente, a maior parte da formação do engenheiro de produção está baseada no

método expositivo como prática de ensino, independentemente do resultado de aprendizagem

desejado. Embora este método produza resultados satisfatórios nos casos em que a

aprendizagem por associação é predominante, apresenta pouca eficácia quando é necessária

uma aprendizagem construtivista, como no caso da aprendizagem conceitual (POZO, 2002).

Segundo Gilberto (2008), a Psicologia e a Neurologia desmentem o fato de que a mente

humana funciona basicamente por processamento linear da informação. Encontra-se, neste

ponto, um dos problemas na abordagem usada, ainda hoje, nos cursos de Engenharia. Esta

supõe que a formação dos processos mentais dá-se basicamente pela assimilação do

conhecimento de forma linear, desconsiderando outros elementos do processo de percepção e

conhecimento, como o desenvolvimento e a formação das atitudes, das habilidades e das

competências.

Conforme Resolução do MEC (CNE/2002), referente às Diretrizes Curriculares

Nacionais para cursos de Engenharia, tem-se que: deverão ser estimuladas atividades

complementares, tais como trabalhos de iniciação científica, projetos multidisciplinares,

visitas teóricas, trabalhos em equipe, desenvolvimento de protótipos, monitorias, participação

em empresas juniores e outras atividades empreendedoras.

Partindo da contextualização e das exigências vigentes nas diretrizes curriculares

existentes no país, adotou-se o sentido de uma construção de conhecimento alternativa,

através de uma aprendizagem por projetos em um curso de graduação de Engenharia de

Produção através da implantação da metodologia 5S.

2. Revisão teórica

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Conforme Schimitz (1993), a aprendizagem requer a mescla de várias técnicas de

ensino ou, então, uma alternância dessas, tendo em vista que não existe uma técnica única e

efetiva para tornar todas as situações de aprendizagem válidas. Se apenas um método

pedagógico for usado pelo professor, o aprendizado dos alunos será limitado ou restrito em

algum aspecto, seja ele reflexivo, prático ou informativo. A prática mais corriqueira dos

professores são as aulas expositivas, que são definidas pela transmissão oral do conhecimento

de forma logicamente estruturada, com continuidade e dispêndio mínimo de tempo. Este

método possui seu lado positivo, que permite transmitir experiências que não se encontram

nas formas convencionais de comunicação, além de possibilitar a síntese de temas extensos e

difíceis que, de outra forma, seriam de abordagem custosa e problemática. Entretanto, a aula

expositiva também possui o lado negativo, que pode ser interpretado como limitações que

podem prejudicar a fixação do aprendizado. Como o professor centraliza toda a explicação do

conteúdo, a absorção de conhecimento fica dependente da motivação proporcionada por ele.

Assim, na aula expositiva o desinteresse pelo conteúdo se instala mais rápido nos alunos do

que em outros métodos de ensino (NÉRICI, 1981; RONCA; ESCOBAR, 1984); (apud

BRAGHIROLLI; HOSS, 2009).

Metodologias de ensino alternativas surgem nesse contexto para prender a atenção e

manter a motivação dos aprendizes. Esses métodos alternativos também podem ser

trabalhados juntamente com as aulas expositivas, melhorando assim a absorção do conteúdo.

Entre as abordagens de ensino alternativas, se destacam as dinâmicas de grupo, o método por

simulação e as discussões coletivas. Segundo Antunes (1970), pode-se definir dinâmica de

grupo como a interação entre dois ou mais alunos visando trabalhar em cima de aspectos da

vida coletiva. A simulação busca a representação de um determinado fenômeno, na qual os

participantes assumem papéis que são representativos do mundo real e tomam decisões de

acordo com os papéis assumidos. (RONCA; ESCOBAR, 1984). No caso das discussões em

grupo, Nérici (1981) afirma que é a reunião de pessoas com o objetivo de refletir

simultaneamente e de forma cooperativa, a fim de entenderem um fato, tirarem conclusões ou

chegarem a soluções. Esta técnica proporciona vários benefícios, tais como a estimular o

aluno a ouvir para melhor compreender, a ser tolerante com pontos de vista diferentes e, a ser

objetivo e coerente na exposição das ideias, além de propiciar desinibição de todo o grupo

envolvido na atividade. Na sociedade contemporânea, porém, as instituições de ensino

enfrentam novos desafios num tempo de incertezas com novos saberes sobre o aprender e

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sobre os sujeitos pedagógicos (HERNÁNDEZ, 2004) (apud VIEIRA). Sem uma ação sobre o

objeto, o aluno perde a possibilidade de tomar consciência através das suas próprias ações e,

assim, deixa de ampliar sua capacidade de compreensão (PIAGET, 1978) (apud ALMEIDA,

1999). Além disso, as práticas pedagógicas derivadas da aplicação clássica, bem como as

práticas alternativas, representam uma oportunidade de melhoria na estruturação dos métodos

de ensino, visto que não são adequadas ao perfil do estudante hoje egresso da educação

básica, nem ao perfil que se espera do profissional da área de engenharia.

Partindo dessas premissas, a metodologia que melhor se enquadra nas necessidades

contemporâneas das instituições de ensino e do mercado é a aprendizagem por projetos. De

acordo com Almeida (1999), o desenvolvimento de projetos nesse contexto é uma ferramenta

pedagógica que possibilita uma assimilação mais sistemática e objetiva do conteúdo proposto.

Além de envolver todos os recursos do ambiente de aprendizagem, aperfeiçoa

especificamente algumas habilidades dos aprendizes para a detecção e solução de problemas,

proporcionando assim, um maior desenvolvimento da autonomia profissional e acadêmica do

aluno, bem como a construção de conhecimentos de distintas áreas do saber.

Com esse comportamento, a aprendizagem por projetos dá a possibilidade de atender

às demandas da sociedade, considerando as expectativas, potencialidades e necessidades dos

alunos para a escola. Esse processo de aprendizagem cria um cooperativismo muito grande

entre as partes envolvidas: alunos, professores e sociedade. Outra vantagem, conforme

Almeida (1999) é o desenvolvimento da habilidade de aprender a aprender, de forma que cada

um possa reconstruir o conhecimento, integrando conteúdos e habilidades segundo o seu

universo de conceitos, estratégias, crenças e valores; e, ainda, a incorporação das novas

tecnologias não apenas para expandir o acesso à informação atualizada, mas principalmente

para promover uma nova cultura do aprendizado por meio da criação de ambientes que

privilegiem a construção do conhecimento e a comunicação.

Ambientando essa prática metodológica de alto grau de relevância nos tempos

contemporâneos, tem-se o programa 5S como exemplo de conteúdo facilmente aplicável, para

o qual a metodologia de aprendizagem por projetos é a que mais gera resultados benéficos. O

5S se baseia em sensos de julgamento a respeito de utilização, organização, limpeza, saúde e

autodisciplina. Enquanto o senso de utilização, de acordo com Lapa (2005) tem como

propósito identificar materiais, equipamentos, ferramentas, informações, classificando-os

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como necessários ou desnecessários, descartando esses itens ou dando uma devida destinação,

o senso de ordenação facilita a utilização, reduzindo o tempo de busca de itens. Sendo assim,

a ordenação segue atrás da seleção de itens desnecessários (SILVA, 1996). O senso de

limpeza traz implícita a ideia de que o mais importante não é o ato de limpar, mas sim o ato

de “não sujar”. O quarto senso, de limpeza, possibilita criar uma condição favorável para

garantir que o ambiente de trabalho não se torne agressivo e fique livre de poluentes,

mantendo boas condições sanitárias nas áreas comuns (LAPA, 2005). Por fim, o senso de

autodisciplina procura a manutenção da nova rotina de uso do espaço físico.

Embora essa prática de qualidade já seja, há muito, difundida tanto no meio científico

acadêmico, quanto nos congressos e eventos da área, o enfoque dado são sempre os benefícios

que a mesma traz às empresas e organizações, e não o aprendizado sobre a ferramenta que o

projeto prático traz às pessoas que o aplicam, o que pode ser notado, inclusive, nos artigos

submetidos ao Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Um exemplo é o artigo de

Silva (2003) sobre implantação do programa 5S em uma empresa de transformação,

enfocando os benefícios conquistados na gerência de melhorias. Outro caso é a implantação

no setor de armazenagem de uma empresa de pequeno porte do sul de Santa Catarina, por

Canto et al. (2006), cujo artigo posiciona o 5S como um passo da empresa em direção à

qualidade total. Por fim, outro aspecto abordado são as dificuldades e importâncias da

implantação do programa em uma empresa de grande porte de fios e cabos elétricos, por

Costa et al. (2005), atentando para os resultados trazidos pelo programa em relação aos itens:

qualidade, ambiente interativo de trabalho, colaboração e flexibilidade para aceitação de

novas posturas no trabalho.

3. Metodologia

A partir da fundamentação teórica de um projeto anteriormente descrita, a implantação

do programa 5S aplicado em uma situação real pelos alunos em uma disciplina do curso de

graduação de engenharia de produção como forma de aprendizagem teve os seguintes

objetivos:

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Quadro 1 – Objetivos conceituais do método de aprendizagem por projetos

Competências Identificar e investigar questões complexas em situações práticas, analisar

criticamente os fenômenos observados como ocorrem na realidade, propor

alternativas para resolver as questões, concatenar o conhecimento teórico adquirido

com situações reais.

Habilidades Preparar material para uma apresentação oral e para um relatório técnico, apresentar

resultados do estudo, extrair e utilizar informações fornecidas por documentos e

pessoas.

Atitudes Adotar uma postura de um futuro profissional qualificado e dinâmico, que consegue

lidar com situações complexas vivenciadas pelas empresas, adotar uma postura

crítica em relação ao trabalho desenvolvido e outra positiva e construtiva em

relação aos questionamentos dos colegas e do professor.

Além disso, a metodologia seguiu um cronograma de atividades, exposto pelo

professor aos alunos no início da disciplina. Este previa, primeiramente, aulas expositivas a

respeito do programa 5S, nas quais o significado dos cinco sensos, seu histórico e seus

benefícios foram apresentados por meio de slides. Após exposição a respeito da ferramenta,

os alunos foram divididos em equipes de cinco integrantes e tiveram dez dias para entrar em

contato com empresas dispostas a receber o projeto, expor o mesmo e “negociá-lo” com os

proprietários. No tempo subsequente, as equipes já estavam com seus projetos em andamento

e, então, fizeram-se pertinentes duas aulas de acompanhamento e discussões, para que o

professor pudesse orientá-los. Ao decorrer desse período, os membros das equipes fizeram

visitas às empresas (quantidade necessária de acordo com a realidade de cada organização).

O tempo total disponibilizado para a realização do projeto foi de aproximadamente 12

semanas, desde a exposição do conteúdo até a data término para implantação do 5S nas

empresas. Ao final dessas semanas, os alunos tiveram de elaborar uma apresentação das

atividades desenvolvidas, resultados obtidos e aprendizagem gerada. Conforme orientação

recebida, as apresentações deveriam conter a seguinte estrutura: Introdução (apresentação do

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tema, dos objetivos do projeto e tópicos discutidos); Referencial teórico (apresentação da

teoria sobre os 5 sensos buscando fontes como livros e/ou artigos); Descrição da aplicação

prática realizada (descrição do local, relato do desenvolvimento do trabalho e os resultados

alcançados); Conclusões sobre a atividade (particularidades do desenvolvimento do projeto e

desafios enfrentados, comentários sobre a atividade proposta, criticas, adequação aos prazos,

sugestões de melhoria); Referências (obras consultadas).

Assim, as equipes apresentaram seus projetos aos colegas e professores durante dois

dias em sala de aula, com recursos audiovisuais e tempo disponível de 15 minutos para cada

apresentação.

4. Resultados

A aprendizagem por projetos proposta visou a geração de conhecimento do programa

5S através da implantação baseada em modelos pré-estabelecidos dessa ferramenta. Foram

feitas visitas às empresas parceiras, divididas nas etapas de: oferta do projeto, diagnóstico,

sensibilização dos colaboradores, descarte e organização, padronização e auditorias. Na

primeira visita, cada uma das três equipes expôs os objetivos do projeto aos proprietários das

respectivas empresas. Durante o diagnóstico, os participantes tiveram contato com a realidade

das empresas, podendo identificar quais suas necessidades e como as mesmas poderiam ser

sanadas ao longo do projeto. Na etapa de sensibilização, fizeram-se apresentações do

programa 5S aos funcionários, visando esclarecer o significado de cada senso, salientar seus

benefícios e motivá-los a colaborar com a implantação, fazendo dos 5S um hábito. Além

disso, fez-se um brainstorming com os colaboradores a respeito dos problemas enfrentados

nas empresas. Na etapa seguinte, os três ambientes passaram pelos sensos de utilização,

organização e limpeza. No quinto passo, as equipes criaram placas de identificação,

adequadas às particularidades de cada empresa, a fim de otimizar o trabalho dos

colaboradores, e de conscientização, a fim de manter o programa nas empresas. Por fim,

foram realizadas auditorias, através de folhas de verificação que avaliavam a manutenção de

cada um dos sensos. Os resultados do trabalho realizado foram, em muito, benéficos para as

empresas; contudo, foram ainda mais enriquecedores para os alunos participantes das equipes.

Selecionaram-se três projetos, dentre os apresentados, implantados em empresas de

pequeno porte da cidade de Santa Maria: um restaurante, um ateliê e uma farmácia. As

experiências adquiridas, dificuldades enfrentadas e aprendizados gerados em cada um dos

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projetos estão descritas a seguir. Cabe ressaltar que os três primeiros autores deste artigo

participaram respectivamente nos casos apresentados abaixo.

4.1 Caso 1: Restaurante

A empresa escolhida pela equipe 1 foi um restaurante de pequeno porte em Santa

Maria, localizado no centro da cidade e com pequeno número de colaboradores. No primeiro

contato de negociação, o programa 5S e seus benefícios adequados ao setor alimentício, foram

expostos à proprietária, que o aceitou rapidamente, frente às grandes necessidades do local. O

diagnóstico feito pela equipe gerou dois focos de atenção: o desperdício de materiais e

precária organização dos depósitos de utensílios, e a grande rotatividade dos suprimentos no

ambiente ligado à cozinha. Dessa forma, as ações do programa visaram organizar os depósitos

segundo a variedade e frequência de utilização de seus instrumentos, além de facilitar o

trabalho na área de alimentos. Esses objetivos foram alcançados durante a implantação,

seguindo as etapas descritas anteriormente durante oito visitas à empresa.

As dificuldades encontradas, nesse caso, se referiam ao espaço físico do restaurante e

à alta rotatividade dos suprimentos. Uma vez que o ambiente contava com dois andares, o

transporte de materiais e alimentos dos depósitos superiores para a área inferior gerava

esforços desnecessários aos colaboradores. Isso foi sanado através da realocação de

prateleiras, de acordo com a necessidade de uso de cada tipo de suprimento; ou seja, os

mantimentos necessários a uma semana de trabalho foram alocados de maneira a diminuir o

deslocamento dos funcionários. Representando o principal efeito dentre os planos de ação

gerados pela equipe e otimizando o trabalho e o tempo dos colaboradores, esta ideia partiu de

um brainstorming com os mesmos. Dessa forma, os alunos perceberam a importância da

integração entre os membros da organização, visto que um rearranjo simples no layout

possibilitou notável melhoria na satisfação dos funcionários.

Além disso, a aplicação prática dos sensos trouxe aos alunos o domínio do

conhecimento sobre a metodologia 5S, permitindo-lhes noções da adaptabilidade do programa

à realidade particular de cada empresa, bem como lhes desenvolvendo habilidades

fundamentais de um engenheiro de produção, como a identificação e solução de problemas,

através do contato com o dia a dia de uma organização.

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Figura 1 – Realidade do depósito do restaurante antes do programa 5S

Figura 2 – Resultado da aplicação dos sensos no depósito do restaurante

4.2 Caso 2: Ateliê

No Ateliê de artes plásticas de pequeno porte a ferramenta de 5S foi desenvolvida pela

equipe 2 seguindo a metodologia apresentada em sala de aula, partindo, assim, da negociação

juntamente ao proprietário do local. Após o acerto, foi elaborado um plano de ações a serem

realizadas e, então, foi iniciado o desdobramento do projeto em si. Tomando como ponto

inicial e fundamental o aperfeiçoamento do ambiente físico do Ateliê, o projeto contou, além

da visita inicial, com mais quatro visitas de implantação do programa, além da visita de

acompanhamento e auditoria.

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A inserção e manutenção dos cinco sensos foram realizadas pela equipe de forma

conjunta com o proprietário do local bem como seus funcionários, a fim de atingir resultados

satisfatórios e, principalmente, dentro do esperado pelos mesmos. A principal meta

estabelecida pelo grupo juntamente com o dono do Ateliê foi a melhora do espaço físico do

local. No entanto, verificou-se certa dificuldade em alocar os produtos, itens e objetos

existentes na loja tornando, assim, este ponto como crítico e principal a ser trabalhado.

Através de uma análise detalhada do recinto e dos utensílios a serem realocados, evidenciou-

se a existência de materiais em excesso e de pouco espaço.

A solução foi criar novas maneiras de armazenar tais materiais de forma que se

tornasse possível acumular mais objetos onde antes se acumulava menos, porém com mais

organização e praticidade. Outro obstáculo enfrentado a ser citado foi a manutenção do

programa como um todo dentro do Ateliê, devido a este tratar-se não apenas de uma loja, mas

também de um local onde eram realizadas aulas práticas sobre artes em geral em horários

alternativos ao horário comercial, trazendo, assim, uma certa rotatividade diária de pessoas

diferentes as quais não tinham consciência sobre a ferramenta nem sua implementação. Como

lado benéfico do projeto, pode-se citar, além do contato realizado no mercado empresarial, o

enriquecimento do conhecimento da ferramenta 5S que a prática trouxe à equipe, focado em

estudo e rearranjo de layout.

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Figura 3 – Ilustração de uma das áreas do ateliê antes do programa 5S

Figura 4 – Resultado da aplicação dos 5 sensos no ateliê

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4.3 Caso 3: Farmácia

O grande desafio da aplicação do método dos cincos sensos nesse caso, foram as

particularidades do ramo farmacêutico, como por exemplo, algumas normas de vigilância

sanitária e estocagem de medicamentos. O corpo de colaboradores da empresa não era

grande, se tratava de uma empresa de pequeno porte, isso facilitou a abordagem inicial de

oferta do projeto ao gestor bem como a sensibilização dos membros da farmácia. A parte

operacional do projeto foi totalmente dentro do esperado pelo plano de ação, foram

encontrados muitos materiais desnecessários no ambiente de trabalho e pouca conscientização

por parte dos funcionários em relação ao bem estar laboral.

A ação chave da equipe 3 foi a realização de um brainstorming com todos os

envolvidos na aplicação do programa, tendo como objetivo encontrar alguma ferramenta de

identificação dos medicamentos no estoque, os quais deviam ser separados por composição

química, laboratório de origem, rotatividade no mercado e ainda atender as especificações da

vigilância sanitária em relação a distância entre prateleiras e umidade. Foram desenvolvidas

etiquetas móveis que atendiam a todas as necessidades verificadas.

O que se tornou evidente para os alunos foi o feedback instantâneo e positivo que veio

do gestor da farmácia. A relação direta com desafios cotidianos encontrados nas empresas e o

networking desenvolvido a partir da prática de aprendizagem por projetos aplicados às

empresas desenvolveu claramente a sensibilidade dos graduandos para o mercado de trabalho.

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Figura 5 – Controle de medicamentos em estoque antes da aplicação dos 5 sensos

Figura 6 – Controle de medicamentos em estoque depois da aplicação dos 5S

5. Conclusão

Atualmente, a maior parte da formação do engenheiro de produção está baseada no

método expositivo como prática de ensino, independentemente dos objetivos de

aprendizagem. Embora este método produza resultados satisfatórios nos casos em que a

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aprendizagem por associação é predominante, apresenta pouca eficácia quando é necessária

uma aprendizagem construtivista, como no caso da aprendizagem conceitual (POZO, 2002).

O trabalho desenvolvido visou uma análise sobre a validade da metodologia de

aprendizagem através de projetos, como forma alternativa de ensino, tendo esta sido realizada

através da implementação do programa 5S. Este método (o qual destoa da forma tradicional

de aula expositiva) trouxe a ratificação de que propostas inovadoras de educação deste tipo

proporcionam uma instrução mais ampla e próspera aos alunos, tendo estes uma experiência

elucidada pelos conceitos repassados em aula e pelas práticas e desafios que atividades como

essas características proporcionam.

A evidência da primazia de técnicas docentes como a aprendizagem por projetos pode

ser justificada, também, pelo lado prático que a ferramenta 5S requisita de quem a executa. O

procedimento de aplicação de tal método exige uma postura ativa no ambiente escolhido para

a realização do mesmo, o que, necessariamente, induz o estudante a deixar uma tradicional

zona de conforto ambientada em sala de aula e buscar uma visão mais ampla de cognição.

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