APLICAÇÃO DE EXAME DE RESPOSTA AUDITIVA DE...
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APLICAÇÃO DE EXAME DE RESPOSTA
AUDITIVA DE ESTADO ESTÁVEL PARA
AVALIAÇÃO DA ATENUAÇÃO DE
PROTETORES AURICULARES
james luizar de queiroz (UNESP)
João Candido Fernandes (UNESP)
O objetivo desta pesquisa foi determinar os níveis de atenuação de
Dispositivos de Proteção Auditivos (DPAs), usando um teste chamado
Resposta Auditiva de Estado Estável (RAEE). O teste RAEE é um
exame eletrofisiológico que usa elétrodos paara captar a atividade
elétrica do tronco encefálico, sem depender da resposta do indivíduo,
eliminando a subjetividade, assim como aspectos ligados à atenção,
tempo de resposta, níveis de audição, etc. Neste método foram
avaliados dez indivíduos, por meio da RAEE, estimulando-se o sistema
de audição, primeiro sem protetor e, subsequentemente, com dois tipos
de protetores auditivos, a saber, um de inserção intra-auricular outro
circunauricular de uso comum no mercado. Os resultados
evidenciaram valores inferiores àqueles expressos no Certificado de
Aprovação: para o plug, uma diferença de 10,3 dB, e para a concha,
4,3 dB. Na repetição dos testes, encontrou-se uma boa repetitividade,
com diferença entre zero e 5 dB para 72,2% das frequências testadas.
Palavras-chaves: Proteção Auditiva; Atenuação do Som; Métodos de
avaliação auditiva objetivo e subjetivo; Equipamento de Proteção
Auditiva; Resposta Auditiva de Estado Estável; RAEE; Ruído
XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.
São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.
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1. Introdução
Fernandes e Queiroz (2009) fizeram referência aos efeitos do ruído no homem, destacando
que o som, entre os fenômenos físicos existentes na natureza, talvez seja o que mais
sensibiliza o homem, pois assim como uma música lenta pode relaxar ou uma música
conhecida deixar alegre ou triste, um barulho pode irritar ou impedir o sono, como por
exemplo, o gotejar de uma torneira. Com o desenvolvimento da indústria e o surgimento dos
grandes centros urbanos, o silêncio de boa parte do planeta acabou. Para Fernandes (2001), o
homem moderno teve que se acostumar com a presença desta companhia desagradável.
Assim, o uso de proteção auditiva, vem se tornando cada vez mais difundida para resguardar a
saúde auditiva de milhares de trabalhadores, pois os danos causados pelos excessos do nível
de pressão sonora (NPS) são grandemente conhecidos. Os protetores, embora bastante
conhecidos, carecem de estudos e pesquisas para determinar de maneira mais eficiente qual é
a sua real atenuação e, desta forma, viabilizar melhorias. Um protetor, por mais simples e
básico que seja, é realmente muito melhor do que a exposição direta a fontes sonoras que, sem
dúvida, ocasionam inúmeros casos de deficiência auditiva..
Em razão das inúmeras dificuldades em se estabelecer qual é o nível real de atenuação de
protetores auditivos, surgiram ao longo do tempo diversos métodos desenvolvidos para
determinar um número único que expresse a atenuação de um protetor auricular. Todo valor
encontrado, porém, é passível de discussão, uma vez que as metodologias utilizadas envolvem
aspectos subjetivos.
Buscando responder a esta questão, buscou-se desenvolver, nesta pesquisa, uma avaliação
objetiva do nível de atenuação dos protetores, independentemente da subjetividade do
indivíduo, medindo-se diretamente na região do tronco encefálico próximo ao córtex cerebral,
o ruído que chega no sistema auditivo, ou seja, medindo-se o sinal elétrico que um som
provoca, sem proteção e com proteção. Presume-se que esta seria a maneira mais direta e
objetiva de avaliar um protetor, sem interferências da percepção humana.
2. Revisão da Literatura
2.1 Fisiologia da audição
O resultado do abalo ou perturbação de um meio elástico qualquer faz vibrar as moléculas do
ar, gerando ondas pelo seu sucessivo deslocamento. Essa energia sonora penetra no sistema
auditivo (Figura 1) e, mediante um complexo sistema fisiológico, é transformada de energia
sonora em energia mecânica, desta para energia hidráulica e, por fim, em energia elétrica, a
qual, conduzida por nervos, chega ao cérebro, órgão responsável pela decodificação do som
externo em informações inteligíveis.
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① A energia sonora entra pelo conduto auditivo externo e vibra o tímpano. ② A energia sonora é amplificada pela cadeia ossicular ③ A energia mecânica vibra o líquido no interior da cóclea. ④ Parte da energia transforma-se em elétrica, no complexo sistema ciliado. ⑤ Parte da energia é compensada na escala timpânica (flexão da janela redonda) ⑥ Os sinais elétricos são conduzidos pelo nervo auditivo ao cérebro.
Figura 1 – Orelhas média e interna.
Fonte: O Corpo (1998)
A energia sonora entra pelo conduto auditivo, faz vibrar o lado externo do tímpano e, do lado
interno, esta vibração é transmitida a diminutos ossos (os menores do corpo humano),
denominados cadeia ossicular (Figura 2), que são unidos entre si por ligamentos. O primeiro,
o martelo, tem uma de suas extremidades fixada no centro do tímpano e, a outra ligada, ao
segundo ossículo, a bigorna; esta liga-se ao estribo (o terceiro ossículo), cuja extremidade,
chamada platina, acopla-se à janela oval por uma ligação flácida, o que permite um
movimento de compressão e descompressão que transmite a vibração para um líquido
chamado endolinfa, existente dentro da orelha interna.
Figuras 2 – Detalhe da orelha média e interna
Fonte: Fernandes (1996)
As áreas do tímpano e da janela oval são respectivamente, em média, 55 mm2 e 3,2 mm2.
Esta razão, 17 vezes superior, multiplicada pela força promovida pelo conjunto de alavancas
dos ossos – igual a 1,3 vezes – é capaz de gerar uma pressão, sobre o líquido, 22 vezes
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superior àquela que chega ao tímpano, a fim de movimentar a perilinfa, líquido muito mais
viscoso que o ar (GUYTON; HALL, 2002).
A cóclea (Figura 1) localiza-se no interior da orelha interna e tem um formato espiral. É um
sistema de tubos enrolados, percorrido pela perilinfa. Estes tubos são denominados escala
vestibular, escala timpânica e, entre estas, a escala média. As escalas vestibular e timpânica,
no ápice, comunicam-se por um orifício chamado helicotrema; nas bases, a janela oval
comunica-se com a escala vestibular, enquanto a janela redonda comunica-se com a escala
timpânica A escala vestibular é separada da média pela membrana vestibular ou de Reissner;
a escala média é separada da escala timpânica pela membrana basilar. Na escala média, sobre
a membrana basilar, encontra-se o órgão de Corti (Figura 3), recoberto pela membrana
tectorial. O órgão de Corti contém as células ciliadas, eletromecanicamente sensíveis; nelas
são gerados os impulsos nervosos (energia elétrica). Os impulsos são conduzidos ao córtex
cerebral através do nervo da audição, onde as informações contidas na energia sonora inicial
são decifrada (GUYTON; HALL, 2002).
Figura 3 – Órgão de Corti
Fonte: Guyton; Hall (2002)
Na membrana basilar (Figura 3) encontram-se 20 a 30 mil fibras basilares rígidas, fixas em
uma extremidade, na estrutura óssea, e livres na outra, o que permite sua movimentação. Estas
fibras, na base da cóclea (janelas oval e redonda), têm tamanho aproximado de 0,04 mm,
chegando até 0,5 mm na região apical, o helicotrema. No entanto, seu diâmetro reduz em até
100 vezes, da base (janelas oval e redonda) até o ápice (helicotrema). Desta forma, as fibras
funcionam como um diapasão, ressoando em função das vibrações externas que compõem o
som. Sabe-se que o ser humano tem a capacidade de ouvir dentro de um espectro de
frequências que vai de 20 a 20.000 Hz (GUYTON; HALL, 2002).
Em razão da altura e rigidez das fibras próximas da base, estas ressoam melhor nas
frequências altas, enquanto que, na região apical, ressoam melhor nas frequências baixas. Em
outras palavras, as frequências têm seu ponto de discriminação de acordo com o local de
estimulação máxima da fibra, que depende, por sua vez, da própria estrutura ao longo da
membrana basilar, onde as ondas de deslocamento progressivo “carregam” as frequências
(GUYTON; HALL, 2002).
No órgão de Corti (Figura 16), encontram-se as células ciliadas externas (CCE), cerca de 15 a
20 mil, e as células ciliadas internas (CCI), cerca de 3.500 (Figura 4), que são células
nervosas especializadas (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2008).
As células ciliadas fazem sinapse estimulando a rede de fibras nervosas da cóclea e conduzem
o sinal ao gânglio espiral, que envia axônios , em torno de 30.000, para o nervo coclear e daí
para o sistema nervoso central (GUYTON; HALL, 2002).
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As CCE/CCI estão presas entre a membrana basilar e apoiadas numa fina membrana,
chamada lâmina reticular. No ápice das células ciliadas, projetam-se os estereocílios, cerca de
100 microvilosidades para cada célula, acima da lâmina reticular. Estes tocam na região
gelatinosa da membrana tectorial, cheia de endolinfa. Na outra extremidade, permanece na
superfície da membrana tectória, que está na escala média; a lâmina é sustentada pelos bastões
de Corti e estes fixos às fibras basilares. Este conjunto (fibras basilares, bastões de Corti e
lâmina reticular), movimenta-se uniformemente; assim, quando vibra a membrana basilar, a
lâmina reticular sobe e desce, fazendo os estereocílios das células ciliadas tocarem na
membrana tectória, num movimento para cima e para frente, depois para baixo e para trás.
Portanto, quando vibra a membrana basilar, as células ciliadas são excitadas (GUYTON;
HALL, 2002).
Figura 4 – Detalhe das células e membranas e da transmissão do sinal elétrico para o nervo coclear
Fonte: Fernandes (1996)
No Órgão de Corti ocorre um fenômeno denominado potencial endococlear, que é a diferença
de potencial existente entre a endolinfa e a perilinfa. Ou seja, a endolinfa (na escala média),
com alta concentração de potássio (K+) e baixa concentração de sódio (Na+) e a perilinfa (nas
escalas vestibular e timpânica), com alta concentração de sódio e baixa de potássio, mantêm
uma diferença de potencial constante de 80 milivolts, ocorrência diretamente ligada à
transdução auditiva (GUYTON; HALL, 2002).
Quando, por um som, ocorre a vibração da membrana basilar, esta se movimenta e os
estereocílios, que têm uma ligação filamentosa entre si, inclinam-se para frente e para trás,
abrindo de 200 a 300 canais iônicos. Isso permite o rápido ingresso de potássio para o interior
das células ciliadas, causando uma despolarização que, por sua vez, ativa os canais de cálcio
(Ca++) e libera neurotransmissores que ativam os axônios do gânglio espiral, os quais têm
contato pós-sináptico com as células ciliadas.
Este conjunto é denominado de potencial de ação e faz a transdução do som em potencial
elétrico, levando sinal elétrico ao nervo da audição, após o gânglio espiral (GUYTON;
HALL, 2002).
2.2 Equipamentos de Proteção Individual Auditiva (EPIAs)
Os EPIas têm como objetivo final impedir que os NPS elevados cheguem ao sistema auditivo
daqueles que se encontram em atividades ruidosas. No entanto, para serem eficientes, os
protetores devem passar por rigorosos testes de qualidade que verificam a sua real atenuação
frente ao ruído e só então são aprovados, recebem um Certificado de Aprovação (CA)
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expedido pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e podem então ser comercializados
pelos fabricantes ou importadores.
Os EPIas (Figura 5) comercializados atualmente possuem modelos, formatos e materiais que
variam de fabricante para fabricante. Os modelos básicos são: o circun-auricular, batizado de
“concha” ou “fone” e o de inserção intra-auricular, comumente chamado de “plug” ou
“tampão”.
Figura 5 – Modelos de dispositivos de proteção auditiva
2.3 Determinação da atenuação
A atenuação de ruído dos EPIas é medida em ambiente acústico adequado, por laboratórios
credenciados pelo INMETRO e MTE, cujos procedimentos seguem normas nacionais ou
internacionais.
A metodologia internacional usualmente adotada é a do REAT (Real Ear Attenuation at
Threshold) baseada nas normas ISO 4869-1/90, ANSI S3.19-1974, ANSI S12.6-1984 e ANSI
S12.6-1997 A/B. Estas normas descrevem os procedimentos para avaliar a proteção alcançada
pelo protetor testado, expondo o ouvinte a um ruído de campo gerado por caixas acústicas no
interior de uma câmara específica para os testes. Este procedimento difere dos exames
audiométricos em dois aspectos: não usa fones e o som emitido é composto por bandas de
oitava ou faixas de frequências, portanto, não é um tom puro. Determina-se assim o limiar
auditivo dos ouvintes com e sem proteção auditiva e pela diferença entre as medições,
constata-se a atenuação do protetor.
Para medir a atenuação de um EPI, as normas ISO 4869, ANSI S3.19-1974, S12.6-1984 e
ANSI S12.6-1997 (A) recomendam que as avaliações sejam feitas em condições ideais, ou
seja, em laboratório, com pessoas treinadas para utilizar o equipamento e com o auxílio de um
técnico especializado que conduz os procedimentos. Essa metodologia privilegia os maiores
níveis de atenuação, porém, não encontra valores que correspondem à realidade verificada em
campo, quando os EPIs são utilizados por trabalhadores sem treinamento apropriado. Este
valor de atenuação é chamado Noise Reduction Rating (NRR).
Por tais razões, a American National Standard Institute (ANSI) S12.6 (1997) apresenta
também o método B, Ouvido Real (Colocação pelo Ouvinte), uma metodologia também
adotada no Brasil, pelo Departamento Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador
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(DNSST) da Secretaria de Inspeção do Trabalho (SIT) do Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE), por intermédio da Portaria 48 de 25/03/2003. Neste procedimento preconiza-se que o
protetor seja colocado pelo próprio testando ou ouvinte, um leigo, sem ajuda de qualquer
instrutor, após leitura do manual do fabricante. O grupo de ouvintes é trocado após poucos
testes, eliminando-se o vício. Os resultados de atenuação nas frequências testadas são então
inseridos em uma planilha cujo resultado é denominado Noise Reduction Rating – Subject Fit
(NRRsf). Desta maneira chega-se a valores de atenuação mais coerentes com a realidade.
A Figura 6 apresenta a comparação entre ambos os métodos.
Figura 6 – Comparação entre o NRR obtido em laboratório (norma ANSI S3.19-1974) e dados reais obtidos em
campo, para protetores tipo plug e concha.
Fonte: NIOSH,1996
Fica claro, portanto, que os ensaios jamais devem basear-se numa amostragem unitária ou
muito pequena, sendo razoável um número de ouvinte que dê certa confiabilidade nos
resultados ao final dos testes (GERGES, 2000).
Como se pode observar, existe um componente bastante importante – a subjetividade do
teste – que depende das condições psicoacústicas do ouvinte, da maneira como coloca o
protetor, suas condições físicas e psicomotoras no momento do teste, sua habilidade de
discriminar o som.
2.4 Resposta Auditiva de Estado Estável
A Resposta Auditiva de Estado Estável (RAEE) é um procedimento eletrofisiológico que
possibilita avaliar, ao mesmo tempo, limiares auditivos com especificidade por frequência e
por orelha, reduzindo assim o tempo do exame. Além disso, ele permite a estimulação de
níveis próximos até NPS bastante altos, aplicando-se a pacientes com perdas auditivas
profundas, tornando possível medir sua audição (DUARTE, 2007). É também uma técnica
recente, introduzida na avaliação audiológica infantil, uma vez que esses pacientes não
respondem satisfatoriamente aos exames tidos como subjetivos.
Consiste na captação da atividade elétrica, do nervo da audição e do tronco encefálico por
intermédio de 3 eletrodos colocados na mastóide e na fronte. Um som modulado nas
frequências de 500, 1000, 2000 e 4000 Hz é emitido em diversas intensidades sonoras, a fim
de, estimular o sistema auditivo. O som vai decaindo em níveis ajustados até que não haja
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mais sinal elétrico captado pelos eletrodos.
De acordo com Duarte (2007), a forma de análise é uma outra grande vantagem da RAEE,
pois, diferentemente de outros testes, em que as respostas são analisadas no domínio do tempo,
na RAEE a detecção é realizada no domínio da frequência, utilizando-se algoritmos, que são
aplicados ao sinal do registro do eletroencefalograma (EEG), para a análise da magnitude e
da fase da atividade cerebral correspondente à modulação de frequência do estímulo acústico.
Assim, a resposta é determinada por uma análise estatística, diminuindo-se a participação do
avaliador na análise da resposta.
As respostas de estado estável são conhecidas como uma medida fisiológica da sensibilidade
cerebral a um estímulo periódico e têm sido descritas para todas as modalidades sensoriais. Por
outro lado, a RAEE é obtida apresentando-se um estímulo com uma taxa de manifestação
suficientemente rápida, de modo que não há tempo para o sistema nervoso voltar à condição
inicial, gerando assim uma sobreposição de respostas. Esta resposta neural contínua é
denominada de estado estável e, caracteristicamente, segue a mesma forma de onda do
estímulo contínuo que está sendo apresentado ao indivíduo.
3. Metodologia
3.1 Materiais
Foram empregados nesta pesquisa:
um audiômetro Madsen, modelo Midimate 622, com fones supra-aurais do tipo TDH 39;
sistema MASTER (Multiple Auditory Steady-State Response), versão 2.04.i00 e marca
Bio-logic Systems Corp.;
eletrodos descartáveis Fz (eletrodo ativo), Oz (referência) e Fpz (terra)
uma cabine audiométrica grande (Figura 7);
um áudio-dosímetro (Figura 8);
um calibrador para o áudio-dosímetro;
dois protetores auditivos nacionais: Tipo plug CA n. 11512 com NRRsf 16 dB, composto
em silicone (fabricado pela Maxxi Royal Ind. e Com. de Produtos Auriculares Equip. de
Prot. Seg. Indiv. Ltda) e Tipo concha CA n. 15247 com NRRsf 21 dB, composto com duas
conchas com almofada interna, ligadas por um arco, Marca Thunder T1, fabricado pela
Bilson e comercializado no Brasil pela empresa Sperian Produtos de Segurança Ltda.
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Figuras 7 – Cabina audiométrica
Figuras 8 – Áudio-Dosímetro
3.2 Procedimentos
Participaram desta pesquisa apenas ouvintes que não tinham histórico de exposição a ruído,
bem como audição normal, verificada por exame audiométrico tonal nas frequências de 0,25,
0,5, 1, 2, 4, 6 e 8 kHz.
Os procedimentos empregados tiveram por base a audiometria de tronco cerebral, utilizada
em avaliações fonoaudiológicas, descritos a seguir:
a) os eletrodos foram instalados no sujeito, que permaneceu deitado confortavelmente sobre
uma maca e foi orientado a relaxar ou dormir, se possível, visto que o teste independe de
sua resposta. O ambiente da cabina audiométrica era escuro e isento de ruídos de fundo,
para não prejudicar o teste;
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b) um sinal sonoro de campo foi emitido de uma caixa acústica, a uma distância medida de
30 centímetros dos pavilhões auriculares direito e esquerdo do sujeito. O som de teste era
modulado, iniciava-se com uma intensidade em torno de 80 dBna (decibels Nível de
Audição) e foi decrescendo conforme o gradiente ajustado pelo operador. O primeiro teste
foi realizado sem a proteção auditiva;
c) um áudio-dosímetro foi mantido no ambiente e seu microfone alocado a 5 centímetros do
pavilhão auricular do sujeito, a fim de determinar o NPS equivalente (Leq), durante cada
teste (sem proteção, com proteção tipo plug e com proteção tipo concha);
d) após determinação do limiar de audibilidade sem o protetor, prosseguiu-se empregando o
mesmo método com os protetores.
4. Resultados
Os limiares auditivos dos sujeitos com uso de protetores auriculares tipo plug e concha e sem
o uso deles estão apresentados nas Tabelas 1 e 2. Foram realizados dez experimentos para
comprovação da metodologia, realizando-se a comparação dos limiares auditivos.
Ordem Condição
Frequências (Hz)
500 1000 2000 4000
Médias
A Sem proteção 46,5 40,0 27,5 31,5
B Com plug 64,5 55,5 52,0 58,5
C Com concha 73,0 71,0 60,0 62.5
D Atenuação com plug 18,0 15,5 24,5 27,0
E Atenuação com concha 26,5 31,0 33,5 31,0
Tabela 1 – Média dos limiares (dBNA)
Frequências (Hz) 500 1000 2000 4000
Uso de Plug
1 Desvios Padrão 12,5 11,2 12,6 12,5
2 Limiar c/proteção + desvio* 41,0 35,7 15,6 17,0
Uso de Concha
3 Desvios Padrão 9,7 16,1 10,1 6,1
4 Limiar c/proteção + desvio ** 29,7 25,1 5,1 6,6
* Diferença das linhas A e D da Tabela 1 e linha 1 da Tabela 2;
** Diferença das linhas A e E da Tabela 1 e linha 3 da Tabela 2;
Tabela 2 – Desvio padrão e média da atenuação com desvio (dBNA)
Observa-se um desvio padrão elevado, especialmente devido a um número reduzido de testes.
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Observou-se durante os testes que, com o aumento do número de amostras, o desvio padrão
diminuía rapidamente.
As linhas 2 e 4 da Tabela 2, correspondem respectivamente ao valor médio de atenuação (para
cada uma das quatro freqüências testadas) somado ao desvio padrão para cada tipo de protetor
auditivo, para proteção de uma população de 84% dos usuários.
A Figura 9 apresenta os limiares obtidos com os registros dos testes.
Figura 9 – Plotagem dos parâmetros medidos com base na média aritmética simples gerada com os resultados
obtidos durante o teste.
O cálculo do valor único da atenuação alcançada na metodologia aplicada nesta pesquisa é
apresentado na Tabela 3.
Linha Procedimento Resultado
A Soma logarítmica da linha A da Tabela 1 47,5
B Soma logarítmica da linha 2 da Tabela 2 42,1
C Soma logarítmica da linha 4 da Tabela 2 31,0
D Diferença das linhas A e B desta Tabela 5,4
E Diferença das linhas A e C desta Tabela 16,5
Tabela 3 – Cálculo da atenuação dos protetores (dBNA)
O resultado da linha D da Tabela 3, corresponde à atenuação total encontrada nesta pesquisa,
para o protetor tipo plug, ou seja, 5,4 dB. Da mesma forma, a linha E da mesma tabela,
expressa o resultado da atenuação do protetor tipo concha, sendo 16,5 dB.
Obviamente, tais valores, resultam da metodologia desenvolvida para consecução desta
pesquisa, ou seja, levantamento dos limiares eletrofisiológicos, constatados com uso da RAEE
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e, cálculos considerando-se a metodologia prescrita na ANSI 12.6.
A Tabela 4 apresenta os valores comparativos entre a atenuação fornecida pelo fabricante e os
resultados desta pesquisa para o plug.
Frequência (Hz) 125 250 500 1000 2000 3150 4000 6300 8000
Forne-
cedor
Atenuação (dB) 19,5 21,7 23,3 21,3 27,2 - 29,8 - 38,0
Desvio Padrão 5,9 6,6 7,0 3,6 5,0 - 8,4 - 7,3
Pes-
quisa
Atenuação (dB) - - 18,0 15.5 24,5 - 27,0 - -
Desvio Padrão - - 12,5 11,2 12,6 - 12,5 - -
Tabela 4 – Comparação entre as atenuações para o protetor plug
A Tabela 5 apresenta os valores comparativos entre a atenuação fornecida pelo fabricante e os
resultados desta pesquisa para a concha.
Frequência (Hz) 125 250 500 1000 2000 3150 4000 6300 8000
Forne-
cedor
Atenuação (dB) 12,3 20,4 25,9 28,3 33,3 - 32,4 - 33,6
Desvio Padrão 4,1 4,0 2,9 2,0 2,5 - 2,3 - 8,5
Pes-
quisa
Atenuação (dB) - - 26,5 31,0 33,5 - 31,0 - -
Desvio Padrão - - 9,7 16,1 10,1 - 6,1 - -
Tabela 5 - Comparação entre as atenuações para o protetor concha
Nas comparações das Tabelas 4 e 5 deve-se considerar que as frequências dos testes não
coincidem: para determinação do CA dos protetores auditivos (norma ANSI) são usadas as
frequências centrais dos terços de oitava, enquanto que no equipamento para pesquisa da
RAEE tem suas frequências padronizadas em 500, 1000, 2000 e 4000 Hz. A Tabela 6
apresenta a comparação destes dados.
Protetor NRRsf Esta pesquisa
Plug 16 5,4
Concha 21 16,5
Tabela 6 – Comparação entre a atenuação dos protetores (dB)
5. Conclusões
Tendo por base os resultados, pode-se concluir que: os valores das atenuações dos protetores,
encontram-se próximos daqueles indicados no CA, em sua devida faixa de freqüência,
restando o aumento do número de amostras (testes) para convergência do desvio padrão e a
média aritmética; a atenuação total obtida, na população estudada dentro da faixa de
frequência de 500 a 2000Hz, foi menor que aquela encontrada no CA, devido ao número de
amostras desta pesquisa ser baixo, o que resulta num desvio padrão elevado; a repetição do
teste mostrou uma boa repetitividade do método. 72,2% das 36 medições apresentaram
variação entre 0 e 5 dB; esta pesquisou apresenta uma opção para os futuros ensaios de
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protetores auditivos por meio de uma metodologia objetiva; o tempo de teste para obtenção da
atenuação do protetor pelo método da RAEE é grande, aproximadamente 2 horas.
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