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    A Noiva do PrncipeHelp from the heartBarbara Cartland

    A luz do luar invadia timidamente o quarto de Florella quando um rudo despertou-a. Um homem desconhecido aproximou-se de sua cama sussurrando o nome de outra mulher.Florella queria gritar, expuls-lo dali, mas no conseguia se mexer...Depois daquela noite sua reputao jamais seria a mesma. Ela duvidava que o prncipe Janos Kovc ainda a aceitasse como esposa...

    Ttulo original:"Help from the heart" Copyright Cartland Promotions 1984Traduo: Rachel SchwartzCopyright para lngua portuguesa: 1985Abril S.A. Cultural - So PauloEsta obra foi composta na Linoart Ltda.,impressa na Editora Parma Ltda.

    CAPITULO I

    1870Terminado o jantar, as damas passaram a um suntuoso salo, de cuja decorao sobressaam candelabros de cristal finssimo e flores exticas.

    Seguindo a ltima tendncia da moda, ditada por Frederick Worth, trajavam vestidos com saias de anquinhas, corpetes justos e decotes ousados.

    No fosse pelo anfitrio, o prncipe Jnos Kovc, um observador desavisado ficarsurpreso por ver tantas mulheres lindas reunidas em um nico lugar.

    Tudo no castelo de Alchester exalava uma atmosfera de esplendor e riqueza.

    Apenas os convidados mais idosos, ali presentes para passarem o fim de semana, lembravam-se das condies precrias em que o castelo se encontrava quando o duque de Alchester o vendera ao prncipe. um consolo saber comentou uma senhora viva, ostentando nos dedos uma verda

    eira fortuna em brilhantes que, com a venda do castelo, os Alchester conseguiramno apenas pagar suas dvidas, como tambm recuperar-se economicamente, a ponto de hoje viverem com relativo conforto. Lembra-se, minha querida, de como o castelo tornava-se insuportavelmentefrio durante o inverno? reforou sua vizinha de sof. O telhado vazava, as paredes os tetos ficavam midos... Tambm, pudera! Fazia uns cinqenta anos que no passava ponenhuma reforma! E a comida ento? Era intragvel...

    A viva riu de modo cmplice. Muito diferente da desta noite, no ?

    Fez-se silncio, enquanto ambas pensavam no magnfico jantar que fora servidoe na excelente qualidade dos vinhos.

    Era inevitvel, afinal, que fossem tecidos os maiores elogios ao prncipe.Seu reino, no leste da Hungria, compreendia milhares de acres de terra, e

    ele viera Inglaterra com a finalidade de caar.No entanto, empolgara-se com a prtica do esporte nos condados e montara uma cocheira reunindo excelentes cavalos de corrida, os quais j comeavam a ganhar todos os clssicos.

    Sem dvida, qualquer outro homem nessas condies, despertaria a inveja e o diode seus concorrentes.

    O prncipe, porm, gozava de grande popularidade e era respeitado no Jockey Club, do qual se tornara scio. E, em pouco tempo, fora aclamado como verdadeiro esportista por todos que gozavam de sua generosidade e hospitalidade.

    Os convites para suas festas eram concorridssimos e tornara-se famosa sua

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    habilidade de reunir, num nico evento, uma profuso de beldades. Mas, apesar do fascnio e do interesse que Jnos Kovc despertava nas mulheres em geral, mesmo os mais renomados mexeriqueiros das altas rodas nada encontravam para falar a seu respeito, dada a elegncia e a discrio de sua conduta.

    Em compensao, no se podia dizer o mesmo de seus convidados...Nesse momento, quando lady Esme Mcldrum atravessou o salo para se admirar

    num dos espelhos de moldura de ouro, os olhos escuros da marquesa de Claydon seguiram-na, faiscando de dio.

    Cabelos aloirados, olhos cor-de-mel, pele rosada, lady Esme possua, sem dvida alguma, o padro de beleza aceito sem restries pelos artistas do momento.

    Alm disso, caminhava com desenvoltura e graa, revelando maneiras dignas deuma deusa.

    Casara-se aos dezoito anos com sir Richard Meldrum, por quem se apaixonara perdidamente.

    Os pais esperavam que fizesse um casamento melhor, mas acabaram contentando-se com a escolha da filha uma vez que sir Richard era tido como um dos mais promissores embaixadores na Europa.

    Depois de oito anos de casada com um homem cada vez mais envolvido em suas obrigaes, lady Esme estava, no momento, procura de distrao.

    Fora assim uma sorte que o conde de Sherburn percebesse seus atrativos nomomento exato em que ela conclura ser ele, sem exceo, o homem mais atraente que havia conhecido desde que se apaixonara pelo marido.

    De fato, Osmond Sherburn era rico, bonito, ligeiramente enfadado com o prprio sucesso e extremamente arredio, em se tratando de casamento, para a decepo das

    mes ambiciosas, as quais tinham certeza de que suas queridas filhas valorizariamas jias dos Sherburn e se revelariam anfitris perfeitas para seus castelos ancestrais.

    Ciente disso, Osmond Sherburn dedicava sua ateno apenas a mulheres casadascom maridos complacentes. Muitos gostariam de rebelar-se, mas a amizade do condecom o prncipe de Gales e sua posio privilegiada na sociedade os levavam a refletirmelhor e a concluir que seria um erro lastimvel desafi-lo para um duelo.

    Assim, o conde divertia-se como queria, e poucas mulheres recusavam o queele desejava.

    Seu mais recente affaire de coeur, breve, mas agradvel, havia sido com a marquesa de Claydon. Quando a relao comeara a esfriar, e ele procurava um meio de selivrar dos ataques possessivos da marquesa, lady Esme entrara em cena.

    Dizer que ele estava "cego de paixo" seria um exagero, pois o conde sempre

    mantinha os ps bem firmes no cho.E, mesmo em seus casos de amor mais ardentes e tempestuosos, fazia questode conservar um certo distanciamento, demonstrando que jamais se deixaria conduzir pelas loucuras do corao.

    Desse modo, as mulheres que se apaixonavam por ele tinham conscincia de que jamais conseguiriam mant-lo completamente cativo. No compreendo por que perdi Osmond choramingara nos ombros da marquesa, uma linda mulher, pouco antes de o conde e Kathie Claydon se envolverem. Talvez voc tenha sido submissa demais, querida replicara Kathie, consolando-a. Ningum consegue agir de outra maneira com Osmond justificara-se a jovem senhora. Ele dominador ao extremo...

    Nessa ocasio, a marquesa convencera-se de que o conde merecia uma lio, encon

    trando algum que o desafiasse.Decidida a faz-lo, passara a olh-lo de maneira diferente.A princpio, sua atitude provocante, misteriosa e convidativa ao mesmo temp

    o, o deixara intrigado. Mas, logo, Sherburn compreendeu-lhe a inteno e revidou comardor e possessividade.

    Tornaram-se amantes, e em pouco tempo a marquesa se deu conta de que suafora de vontade no existia mais, tornando-lhe impossvel desacatar o conde como planejara. Pelo contrrio, ficara inteiramente submissa e dcil aos seus desejos.

    Apesar de experiente na arte do amor, ao sentir que o conde comeava a se afastar-, ela ficara desvairada, compreendendo que nunca amara algum to intensament

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    e.Seu casamento fora arrumado pelos pais e, embora houvesse se encantado co

    m a idia de tornar-se marquesa de Claydon, Kathie no encontrara nenhum prazer na intimidade conjugai.

    Depois de dar dois filhos e uma filha ao marido, tivera o primeiro amantee descobrira a paixo, o que a fizera lamentar o tempo perdido.

    Contudo, ainda no se apaixonara de fato por ningum at conhecer o conde e precisava de um grande autocontrole para no se ajoelhar aos ps dele, suplicando-lhe que no a abandonasse.

    Para piorar, ter sido destituda por lady Esme, tornava sua derrota ainda mais amarga do que se fosse uma desconhecida. Afinal, pertenciam ao mesmo crculo ese viam quase que diariamente.

    Devido liberdade com que vinha agindo nos ltimos anos, o prncipe de Gales dera incio a um novo tipo de conduta.

    Casado desde 1863 com a belssima Alexandra da Dinamarca, j no vero de 1868,quando nascera sua terceira filha, a princesa Vitria, possua tantos casos amorososque era impossvel disfar-los ou ignor-los.

    Dois anos antes, eles tinham viajado a So Petersburgo para o casamento deDagmar, irm da princesa Alexandra, e fervilharam os rumores sobre seus romances com as mais atraentes mulheres da capital russa.

    Alguns meses depois, em visita a Paris, intensificaram-se os comentrios sobre seus casos.

    A primeira das muitas atrizes de sua vida chamava- se Schneider. Depois dela, sucederam-se inmeras mulheres, desde jovens, conhecidas em bailes de debutan

    tes, at senhoras casadas, pertencentes ao beau monde.Se o caminho da vida prazerosa fora fcil para o herdeiro do trono agradaraainda mais aos demais homens que, at ento, haviam levado uma vida bastante circunspecta.

    Na verdade, antes da morte do prncipe consorte, todos viviam preocupados em evitar que o menor sinal de escndalo pudesse lhes valer uma repreenso da corte,ou mesmo o ostracismo.

    No entanto, tudo havia mudado: as barreiras da fidelidade tinham sido transpostas, e os casos amorosos do prncipe de Gales eram aceitos abertamente pela nobreza, com exceo de algumas poucas famlias mais conservadoras, como a do marqus deSalisbury.

    Ainda assim, ficava difcil para a marquesa de Claydon aceitar que o condede Sherburn estivesse saturado dela.

    Tentara iludir a si mesma, dizendo que se tratava de uma indiferena passageira, e ele logo voltaria para seus braos.Porm, os intervalos entre suas visitas, tornavam-se cada vez maiores, e as

    explicaes, alegando negcios urgentes, no a convenciam em absoluto.Ao perceber que esses "negcios" resumiam-se a lady Esme Meldrum, a marques

    a experimentou um cime e uma raiva quase incontrolveis.Nunca odiara tanto algum em sua vida como aquela mulher.Deprimida, passava horas diante do espelho, perguntando-se por que no cons

    eguira prender o conde com sua to comentada beleza morena, que na opinio de vrias pessoas, era superior de sua rival.

    Finalmente, conformara-se com a perda e no encontrava o conde h um ms, evitando freqentar os lugares onde o sabia presente.

    Por isso, sentira um verdadeiro choque ao v-lo entrar no salo do castelo de

    Alchester antes do jantar. E, para seu desgosto, ainda agora o corao parecia querer saltar-lhe pela boca.Fora enrgica consigo mesma durante as ltimas semanas. Seu orgulho insistira

    em que no se humilhasse como as outras haviam feito ao perd-lo, e ela resolvera fingir, mesmo que ningum acreditasse que a iniciativa de terminar o caso lhe pertencera.

    A marquesa talvez tivesse muitos defeitos, mas no era o tipo de mulher quese deixava abater pela adversidade, e, caso perdesse o que julgava ser o mais importante na vida, no choraria e nem se desesperaria.

    Decidida, iria lutar at o fim pelo que desejava e, caso no conseguisse reco

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    nquistar o conde, arrumaria um jeito de faz-lo arrepender-se da maneira como a tratara.

    Cedo ou tarde, tambm se vingaria de lady Esme Meldrum, que sofreria tantoquanto ela sofria agora.

    Provavelmente os antepassados italianos da marquesa clamavam por uma vendetta.

    Enquanto as outras mulheres abandonadas pelo conde punham-se a chorar e notomavam atitude alguma, ela tudo faria para ser diferente.

    "Vou puni-lo, nem que seja a ltima coisa que faa no mundo", garantira a simesma.

    Passava noites a fio, acordada, pensando e repensando nos dissabores e infelicidades que lhe causaria at que Sherburn voltasse rastejando para ela.

    Imersa nesses pensamentos, estremeceu ao v-lo entrar no salo e cumprimentaro prncipe, recordando-se de que nenhum outro homem a beijara com tanta paixo.

    Desprezava a si mesma por saber que, naquele momento, se o conde lhe estendesse os braos, iria voando aninhar-se neles.

    Entretanto, quando ele se aproximou dela, disse-lhe com a maior naturalidade: Boa noite, Osmond! Que bom encontr-lo novamente. No preciso dizer que voc est mais linda do que nunca!

    Embora o cumprimento soasse sincero, a expresso dos olhos dele apenas confirmava que a marquesa j no lhe despertava nenhum interesse.

    Odiando-o por essa indiferena, Kathie esforou-se para controlar a voz ao dizer-lhe:

    George est ansioso para rev-lo. Esta a sobrinha dele, filha do pobre Peterque veio morar conosco.Com um gesto, indicou a jovem a seu lado, acrescentando:

    Florella, este o conde de Sherburn. Possui os melhores cavalos de corridada Inglaterra e um esportista renomado.

    A descrio soou quase como um insulto, e o conde, achando graa do sarcasmo, limitou-se a inclinar a cabea para a moa e dirigiu-se a lady Esme, que o fitava dooutro lado do salo.

    A forma eloqente com que ela o cumprimentou e a expresso apaixonada do conde fizeram com que a marquesa sentisse mpetos de esgan-los.

    Parada ao lado da tia, Florella perguntava-se pela razo de ela parecer to zangada.

    Na vida extica que levara com o pai, a jovem aprendera a julgar as pessoas

    no somente pelo que falavam ou faziam, como tambm pelas vibraes que delas emanavamAssim que chegara casa dos tios, uma semana antes, compreendera perfeitamente que a marquesa no ficara nada satisfeita com sua presena naquela casa.

    E, embora no tivesse presenciado as discusses a seu respeito, logo que chegara da Itlia, onde o pai morrera vtima de uma epidemia de tifo, Florella sentira que, no que dizia respeito tia, no era nada bem- vinda.

    De fato, ao receber a notcia, Kathie perguntara incrdula: Est me dizendo, George, que a filha de seu irmo, que eu nem sequer conheo, ir viver conosco e deverei apresent-la corte e prepar-la como debutante? No h mais nada que possamos fazer, Kathie replicara o marido, secamente. ora que Peter morreu, sou o tutor da jovem que, como j completou dezenove anos, deveria ter debutado h um ano. O que no podia acontecer enquanto perambu- lava pelo mundo na companhia do

    seu irmo excntrico! Ora, Kathie, Peter gostava da vida que levava, e o problema no era nosso.Porm, ele morreu e temos a obrigao de orientar corretamente sua filha. Na certa, ela possui outros parentes que ficariam satisfeitos por cuidardela em troca de uma boa quantia. Nenhum deles goza de uma posio igual nossa e sinto-me na obrigao de cuidla at que se case.

    Fez-se um breve silncio, antes de a marquesa exclamar: Em outras palavras, quer me obrigar a encontrar um marido para ela! Por que no? Voc conhece uma poro de possveis candidatos. Rapazes que vive

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    volta, bebendo do meu vinho e abusando de minha hospitalidade. Naturalmente, deve existir entre eles algum adequado para se casar com minha sobrinha. Sem dote? perguntara a marquesa com ar de desprezo. Imagino como seja depois da vida que levou com o pai! Florella uma jovem muito bonita. Sei que voc poder orient-la e ensinar-lhudo o que uma dama precisa conhecer.

    Como a esposa no respondesse, ele sorriu e acrescentou num tom conciliatrio: Oua, Kathie, no faz tanto tempo que voc foi jovem... No podemos deixar a morando num cortio em Npoles, sem ningum que cuide dela, a no ser o velho criado queviajou com Peter durante todos esses anos. Espero que no v querer traz-lo para c tambm protestou a marquesa, contr No, no... um bom homem, e o mnimo que posso fazer dar-lhe um chal no cuma penso. E a menina? Chegar dentro de trs semanas. Providenciei para que a acompanhassem da Franat aqui. Achei justo dar-lhe um tempo para se refazer da morte do pai.

    meno da palavra morte, um brilho estranho iluminou o olhar da marquesa. Se Florella est de luto, no podemos de forma alguma freqentar festas, pois ingum gostaria de receber um corvo em casa. No precisa se preocupar com isso. Peter nunca foi do tipo convencional e deixou um recado em seu testamento, dizendo que no queria nenhuma pompa no enterro, nem que ningum vestisse preto ou guardasse luto por sua causa.

    O marqus fez uma pausa e acrescentou:

    Quer saber o que meu irmo me escreveu? Est bem! Diga. "Tive uma vida boa e aproveitei cada segundo dela.

    "Se algum sentir minha falta espero que beba uma taa de champanhe em minhamemria, desejando-me sorte onde quer que eu esteja".

    Ignorando a emoo que transparecia na voz do marido, Kathie deu de ombros, resmungando: o tipo de tolice que s seu irmo escreveria, mas creio que facilita a tarefque voc me pede em relao filha dele. Entretanto, George, no pense que ser fcilim, porque no ser! O que pretende insinuar, Kathie? Que no gosta nada da idia de servir de cicerone a uma debutante? Ento aconselho-a a tratar de cas-la rpido. Assim Florella deixar de ser responsabilidade nossa. Ah, sim! Destinarei a ela uma boa quantia anu

    al para facilitar as coisas, e voc poder gastar o que quiser para vesti-la adequadamente. Quanta generosidade, George! Eu gostava de Peter... Talvez no acredite, mas sempre o invejei.

    Sem tecer nenhum outro comentrio, o marqus sara da sala, deixando a esposa atnita.

    Como era possvel que George, possuindo ttulos de nobreza, fortuna, posio na orte e na sociedade, invejasse o irmo?

    Embora no tivesse visto Peter Claye muitas vezes, a marquesa sempre o considerara um tipo esquisito e, como no conseguisse entend-lo, no o apreciava.

    Peter era o terceiro filho do marqus predecessor, no tendo, portanto, nenhuma chance de vir a suced-lo.

    Na poca que George se casara e tivera o primeiro filho, ele j levava uma vi

    da completamente diferente da do resto da famlia.Com o pequeno capital de que dispunha, pois, tradicionalmente, o ttulo e aherana destinavam-se ao primognito, saiu em viagem pelo mundo afora, ansioso porexplor-lo.

    A pequena penso que os procuradores da famlia lhe enviavam a cada seis meses era suficiente para realizar as viagens desejadas e lhe permitira at casar-se eser extremamente feliz com uma mulher que apreciava esse tipo de vida nmade.

    Florella, sua nica filha, antes mesmo de saber andar, viajara pelo deserto, no lombo de um camelo.

    Posteriormente, escalara encostas de montanhas, navegara por mares exticos

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    , visitando lugares onde os ingleses eram uma raridade, sendo encarados com curiosidade pelos nativos.

    Por isso, a filha crescera valorizando o mesmo tipo de vida e de experincia que os pais.

    Esporadicamente, meio obrigado pela esposa, Peter Claye sentava-se e elaborava longos relatrios sobre as viagens, os costumes e as coisas diferentes que haviam visto, enviando-os a seguir para a Sociedade Geogrfica Real.

    Apesar de falar constantemente em escrever um livro, ele sempre esteve muito ocupado aproveitando a vida para ter tempo de coloc-la no papel.

    Nunca se preocupou com o futuro, e sua filosofia poderia resumir-se em: "Aproveite hoje, pois talvez no haja o amanh".

    Assim, quando o "amanh" chegou, surpreendeu-o completamente sem dinheiro,precisando alojar-se nos cortios de Npoles, at decidir para onde ir.

    Embora tivessem sido avisados dos vrios casos de tifo na cidade, Peter Claye limitara-se a sorrir, brincando: Sou indestrutvel! Uma semana depois, estava morto...

    Jackson, seu criado, fora quem tivera a iniciativa de escrever ao marqus,colocando-o a par da situao.

    Quando Florella descobriu o que ele fizera zangou-se com o pobre homem, alegando que o tio no demonstrara a menor preocupao com eles em todos aqueles anos. Agora que sir Peter morreu, Srta. Florella, ele precisa se preocupar, pois seu tutor.

    A jovem o olhou, aflita. O que est dizendo? No preciso que ningum cuide de mim!

    Oua, Srta. Florella, agora que o patro no est mais com a gente, temos de fr o que certo... Sei que sua me aprovaria minha atitude, se fosse viva.Duas semanas depois, em resposta carta de Jackson, o marqus chegava a Npole

    s.Como se parecesse muito com Peter Claye e se mostrasse inesperadamente hu

    mano e compreensivo, ao v- lo, Florella chorara pela primeira vez desde o falecimento do pai. Sinto tanta falta dele, tio George. Sem papai, nada ser igual... Sei disso, querida. De agora em diante, voc ter de aprender um outro tipo de vida. Vou lev-la para a Inglaterra comigo. Ah, no! O que houve? No gosta da idia? Confesso que essa perspectiva me assusta, tio George. Papai costumava com

    entar que o senhor e tia Kathie so importantes, e inmeras vezes li notcias sobre osenhor e ela nos jornais. A verdade, Florella, que meu irmo sempre pairou acima das coisas mundanas.Embora eu jamais pudesse levar a mesma vida que ele, sinto-me orgulhoso dele, pois tambm acho que a sociedade uma piada.

    Fez-se um silncio tenso que logo foi quebrado pela voz hesitante da jovem: Por favor, tio George... Ser que eu no poderia ficar com Jackson?

    O marqus tomou as mos da sobrinha entre as suas. Oua, querida, Jackson um homem muito bom, mas est ficando idoso, enquanto oc tem toda uma vida pela frente. J passou da hora de debutar e tornar- se uma dama da sociedade, procurando uma vida melhor...

    Sem encontrar palavras para rebater esse argumento, assentiu com um gestode cabea, lembrando-se das ponderaes da me:

    Quando Florella completar dezoito anos, voltaremos Inglaterra, querido. nosso dever dar a ela uma oportunidade de conhecer um outro tipo de realidade.Na ocasio, Florella imaginara que o pai fosse achar a idia absurda, mas ele

    simplesmente replicara: Jura que consegue nos imaginar em pleno palcio de Buckingham, com Florellausando aquelas ridculas penas brancas na cabea e quase tropeando na barra do vestido? Claro que sim! retrucara a me, com firmeza.

    Depois de uma breve pausa, Peter Claye concordara, com a maior naturalidade:

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    Bem, se preciso enfrentar esse desconforto, pelo menos estarei acompanhando as duas mulheres mais lindas que j entraram na sala do trono!

    Apesar de o assunto ter cado no esquecimento durante longos anos, as palavras do tio haviam feito aflorar mente da jovem esse plano antigo de seus pais, obrigando-a a ceder vontade do marqus.

    Atencioso, George tomara todas as providncias a fim de que ela e Jackson seguissem para Londres, to logo houvesse terminado o perodo de quarentena imposto pelas autoridades inglesas aos que vivessem em Npoles durante a epidemia.

    Assim, trs semanas mais tarde, Florella encontrava- se em Park Lane, sentindo-se indesejada pela tia.

    No entanto, empenhada em que a sobrinha se casasse o mais breve possvel, Kathie desdobrava-se em atenes.

    Levara-a as melhores lojas de moda, comprando-lhe vestidos que Florella jamais sonhara possuir.

    O mais sofisticado coiffeur de Londres incumbira-se de cortar-lhe e pentear-lhe os cabelos, e tudo que a jovem trouxera consigo da Itlia fora queimado oujogado fora.

    "No sou mais eu mesma", lamentava-se Florella cada vez que se mirava no espelho.

    A tia havia tambm contratado um professor de dana e de boas maneiras, que diariamente lhe ensinava como entrar num salo, usar o leque, fazer mesura, cumprimentar e at sentar-se, sem deixar o tornozelo mostra.

    Devido educao cosmopolita, que lhe valera o aprendizado de muitas lnguas e ias danas dos pases que visitara, Florella encantara o professor com sua graa e fac

    ilidade de assimilao.Em seu primeiro baile, ela se sentia como se tivesse se transformado de uma pedra bruta em uma gema lapidada, embora soubesse que continuava a mesma em essncia.

    Ao conhecer os amigos da tia, logo conclura que o melhor a fazer seria manter-se calada, pois percebera que no estavam absolutamente interessados nela.

    Alm disso, intura que os sentimentos da tia em relao a ela tambm no haviamdo e procurava manter-se o mais discreta e afastada possvel.

    O marqus, em compensao, mostrava-se sempre bom e extremamente gentil, o quea fizera acostumar-se a encontr-lo no estdio, onde conversavam a respeito das aventuras de Peter Claye, como sua tentativa de encontrar o curso do Nilo, ou seu contato com as tribos supostamente hostis do Sudo. Algumas vezes comentara ela, sorrindo minha me tinha a sensao de que no

    im havia chegado. Mas papai era muito astuto e, como falava a lngua deles, conseguia contornar a situao. Eu me pergunto de quem ele herdou esse dom. Nunca consegui pronunciar direito nem o francs!

    Florella rira, divertida. Papai se fazia entender onde quer que estivssemos, e minha me tambm possua ilidade para vrios idiomas. Naturalmente, mas ela era estrangeira...

    A inteno do tio no fora de ser indelicado, mas ficara claro que consideravao fato uma desvantagem, opinio evidentemente compartilhada pela marquesa, que deixara claro que, para Florella poder brilhar na sociedade, a nacionalidade de suame deveria ser esquecida. Estrangeiros, a menos que sejam franceses ou da realeza, nunca so bem acei

    tos dissera-lhe, em tom macio. bvio que reis e prncipes so um caso a parte, mapretendemos lhe arrumar um marido ingls, temos de esquecer que, infelizmente, no inteiramente inglesa.

    De nada adiantaria discutir, por isso Florella limitara-se a responder, com humildade: Sim, tia Kathie. No precisamos entrar em detalhes. E, embora voc no tenha dinheiro, tiraremoo melhor partido do fato de ser uma Claye, uma das famlias mais aristocrticas dopas. Sim, tia Kathie concordara mais uma vez, procurando esquecer o desprezo q

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    ue o pai sentia pelos esnobes.Habituados com mulheres sofisticadas, os amigos da marquesa surpreenderam

    -se ao v-la com algum to jovem no castelo do prncipe Jnos, que tinha, como regra, vidar somente amigos na sua faixa de idade.

    A bem da verdade, as mulheres eram sempre um pouco mais jovens, porm, invariavelmente, casadas.

    A nica exceo nas festas do prncipe era uma senhora mais velha que fazia o pael de anfitri, no lugar de sua esposa.

    A esposa do prncipe constitua uma verdadeiro mistrio, e ele nunca falava a seu respeito, levando todos a concluir que ela preferia morar na Hungria, emboraas pessoas que tinham visitado aquele pas no houvessem conseguido informao alguma aseu respeito.

    Lady Roehampton, a anfitri atual, senhora de inteligncia viva e brilhante,ao ser informada que o marqus e a marquesa iriam trazer a sobrinha para passar ofim de semana, exclamara horrorizada: Uma jovem? Caro Jnos, por que consentiu? Ela vai se sentir um peixe fora d'gua! Sei disso, mas foi impossvel dizer no ao George, quando me perguntou se poderia traz-la. Afinal, foi ele quem me indicou para o White's Club e me apresentouno Jockey Club. Portanto, tenho um dbito de gratido com ele, compreende? Claro que compreendo, mas trazer uma jovem! O que vamos fazer com ela? Pelo que George me contou, ela acaba de chegar do exterior e no conhece quase nada da Inglaterra, por isso vamos esquec-la e deixar que observe tudo admirada.

    Lady Roehampton colocou a mo sobre o brao do prncipe. Voc tem razo, Jnos, no poderia recusar o pedido de George. Aposto, porm, athie est furiosa por carregar a sobrinha a tiracolo. Lamento pela moa observou o prncipe. Creio que sabe que Kathie perdeu Osmond comentou a senhora, sempre bem informada sobre tudo o que acontecia na sociedade. Quer dizer que seu romance terminou? Exatamente. Faz umas trs semanas... Por ocasio de sua viagem a Paris. Peloque ouvi, Osmond est agora epris com Esme Meldrum. Deus do Cu! exclamou o prncipe. Todos viro passar o fim de semana aquique no me contou isso antes?

    Lady Roehampton estendeu as mos num gesto eloqente. Por que se preocupar? Mais cedo ou mais tarde, eles tero de se encontrar,

    alm do que ser um timo tema de conversa para os demais!O prncipe soltou um suspiro profundo. Espero que esteja certa, mas sinto vontade de pedir a Esme Meldrum e Richard que venham numa outra vez. Creio que seria muito indelicado e poderia ofend-los ponderou lady Roehampton. Franzindo a testa, numa expresso sria, ela prosseguiu: o comentrio do momento. Era inevitvel, portanto, que ela atrasse Osmond csua beleza irresistvel. Irresistvel mesmo! concordou o prncipe.

    Lady Roehampton lanou-lhe um olhar sagaz. No me diga que voc... No, no! protestou o prncipe, interrompendo as conjecturas da amiga. Issmplicaria ainda mais as coisas.

    Com um sorriso nos lbios, ele se afastou, e lady Roehampton ficou pensandose alguma mulher chegaria a conquistar o corao de Jnos Kovc.Apesar de conhec-lo bem, continuava a ach-lo enigmtico e imprevisvel.

    CAPITULO II

    Assim que os homens se juntaram s damas no salo, o conde de Sherburn aproximou-se de Esme Meldrum, sem fazer o menor esforo para agir com discrio.

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    Postada prxima a uma janela, ela, aparentemente, apreciava os ltimos raiosde sol.

    Ao contrrio da maioria dos anfitries, o prncipe no permitia que as cortinas o castelo fossem cerradas enquanto a noite no casse por completo.

    A luz das velas dos candelabros refletiu-se, momentaneamente, nos diamantes do colar que Esme usava. Seu brilho, porm, no foi to luminoso quanto o do olharque ela dirigiu ao conde.

    Por um instante, Osmond ficou a contempl-la, sem proferir palavra alguma.Depois, disse baixinho, de maneira insinuante: Embora voc esteja observando o pr-do-sol, sabe muito bem que, para ns, aps o preldio do alvorecer. Est certo de que isso mesmo o que deseja? Como julgo a pergunta desnecessria, s a responderei mais tarde replicou o onde, hesitando um pouco antes de perguntar: Em que quarto est hospedada?

    O olhar de Esme revelou ao conde que o desejo dele era totalmente correspondido.

    Ocorreu-lhe .ento que constitua um verdadeiro presente dos deuses Richard Meldrum chegar apenas no dia seguinte.

    Antes que ela pudesse responder, o conde apressou-se a dizer: Como o castelo muito grande, acho que seria bom seguirmos o exemplo do prncipe de Gales.

    Os dois riram.Ambos sabiam que, quando o prncipe cortejava uma mulher, em casa alheia, s

    empre lhe recomendava que colocasse uma rosa porta do quarto, pelo lado de fora,

    para poder identific-lo. uma boa idia concordou Esme. Embora tudo indique que estejamos no mesmodar, com tantos quartos, voc poderia facilmente se perder.

    Planejado o encontro noturno, ocorreu ao conde que seria prudente afastar-se dali, indo discutir com os homens sobre o jogo, ou agraciando outras mulheres com sua ateno.

    Porm, habituado a satisfazer todos os seus caprichos, decidiu que apenas uma pessoa lhe interessava ali, e no saiu do lugar.

    Depois de acomodar vrios hspedes s mesas de jogo, numa sala contgua, o prncJnos percorreu os olhos pelo salo verificando se no deixara ningum de fora. Seu olar deteve-se ento na marquesa de Claydon, parada prxima lareira, cuja fisionomia estava carregada de raiva.

    Dirigiu-se at ela, mas a marquesa nem sequer notou- lhe a aproximao, pois su

    a ateno estava toda voltada para as duas pessoas que conversavam junto janela.Compreendendo o motivo de sua perturbao e, com seu charme e tato caractersticos, o prncipe tomou-lhe as mos e falou: No preciso lhe dizer, Kathie, que voc a mulher mais linda aqui presente. Cda vez que a vejo, acho-a mais encantadora.

    A marquesa arregalou os olhos, surpresa.O prncipe sempre fora corts e delicado com ela, alm de inclu-la, ao lado do

    arido, entre seus convidados habituais.No entanto, Jnos jamais procurara encontr-la a ss e, como fosse quase inaces

    svel, Kathie nem sonhara com a possibilidade de t-lo como amante.No que a idia a desagradasse. Pelo contrrio, qualquer mulher se sentiria env

    aidecida por conquistar o corao do atraente prncipe hngaro.Mas essa era a primeira vez que lhe passava pela cabea que, se Jnos realmen

    te a quisesse, no poderia haver melhor substituto para o conde.De plpebras semicerradas, Kathie dirigiu-lhe o olhar enigmtico que, no passado, arrebatara muitos coraes. Querido Jnos, voc sempre to gentil! Gostaria de acreditar que est sendo ro. Como pode duvidar? protestou ele. Sabe, Kathie, acabo de comprar um quadro, o qual creio que lhe agradar... Parece-se com voc.

    Sem esperar resposta conduziu-a pelo salo at uma ampla sala de estar, ondemostrou-lhe a pintura.

    Tratava-se do retrato de uma mulher desconhecida, datado do incio do sculo

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    dezoito.Possua uma beleza indiscutvel e, sem dvida, no s os traos, como os cabelos

    olhos escuros assemelhavam-se aos da marquesa.Enquanto o contemplava, Kathie sentia o olhar fixo do prncipe s suas costas

    , observando-a. Obrigada por comparar-me a ela, Jnos. Sinto- me deveras lisonjeada. Ora, voc sabe que sempre a mulher mais linda de toda festa a que comparece. Ainda outra noite, em Marlborough House, ningum chegava a seus ps. Alis, essa opinio compartilhada pelo prprio prncipe Albert. Sabe que me deixa embaraada? Pois gosto de v-la assim. Seus olhos tornam-se mais brilhantes... Infelizmente, preciso ver meus outros convidados. De qualquer modo, Kathie, ainda dispomos de todo o fim de semana pela frente...

    Ato contnuo, ele tomou-lhe a mo e, virando-a, beijou-lhe a palma, num gestoencantador e, sempre, de grande efeito.

    A marquesa susteve a respirao e, ao caminharem de mos dadas at a porta, sua titude descontrada e feliz era bem diferente da de quando haviam deixado o salo.

    Gentil, ele a levou sala de jogos, onde vrios amigos o aguardavam mesa debacar, e, fazendo-a sentar-se sua direita, disse-lhe: Sinto que me dar sorte, por isso ser minha parceira.

    A marquesa ficou exultante, pois isso significava que, se perdesse, ele cobriria os prejuzos e, se ganhasse, os lucros seriam dela.

    Por mais dinheiro que se possusse no mundo social, nunca se era rico a ponto de recusar oferta to generosa. E a marquesa j sonhava, naquele momento, em comp

    rar uma estola de pele que o marido se recusava a dar-lhe, alegando que era muito cara.Devido riqueza do prncipe Jnos e da maioria de seus convidados, as apostas

    nas mesas de bacar eram altssimas.Como bom anfitrio, ele encaminhava aqueles que no podiam perder muito s mesa

    s de bridge.Entretida com a inesperada rajada de sorte, a marquesa s voltou a pensar n

    o conde e em lady Esme duas horas mais tarde, quando uma pilha de moedas de ouroamontoava-se sua frente.

    No entanto, ao perder a ltima rodada, ocorreu-lhe que talvez a sorte tivesse mudado e achou mais .prudente parar.

    Como se adivinhasse seus pensamentos o prncipe convidou: Que tal tomarmos uma taa de champanhe antes da prxima rodada?

    tima sugesto! replicou a marquesa.Assim que os dois levantaram-se, fez-se ouvir o protesto de um dos convidados: No pretende nos deixar, no Kovc? Claro que no. Vamos apenas esticar um pouco as pernas e beber alguma coisapara matarmos a sede. Por favor, no demore. Estou ansioso pela revanche.

    No momento em que entraram no salo, o prncipe notou que, na outra extremidade, acomodados no sof, o conde de Sherburn e lady Esme conversavam intimamente.

    Para surpresa da marquesa, tambm encontravam-se no salo o marido dela e Florella, cuja conversa parecia bastante animada.

    Surpreendendo uma risada espontnea da sobrinha, mas, na realidade, furiosapor perceber como o conde se interessava por sua rival, Kathie no perdeu a oport

    unidade de extravasar sua ira sobre Florella. Esperei que a essas alturas voc tivesse tido o bom senso de estar na cama,sem aborrecer seu pobre tio, que, tenho certeza, sente-se ansioso para jogar, como sempre faz! Engana-se, querida retrucou o marqus, antes que a sobrinha comeasse a se dfender. Nossa conversa est muito interessante e fazia tempo que no me distraa tant. Fico satisfeita em saber respondeu a marquesa, automaticamente, sem prestar ateno no que o marido lhe dizia, e obviamente preocupada em observar, com o canto dos olhos, o conde, do outro lado da sala.

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    Depois de servir duas taas de champanhe, em uma mesa lateral, o prncipe seaproximou e ofereceu uma taa marquesa, perguntando: E voc, George? Gostaria de um drinque? No se preocupe. Foi excelente o vinho servido durante o jantar e no pretendo beber mais nada. Espero que tenham gostado.

    Percebendo que Florella estava em p ao lado do tio, aguardando para lhe dar boa-noite, a marquesa virou- lhe as costas de propsito. Obrigada, tio George disse a jovem, constrangida. O senhor tem sido muitobom e no sei como expressar o quanto apreciei esta noite.

    Beijando o tio no rosto e dizendo um rpido "boa- noite", ela atravessou osalo, visivelmente desejosa de fugir s crticas da marquesa.

    Enquanto isso, Kathie mais uma vez pensava que quanto antes conseguisse faz-la casar tanto melhor. Foi ento que uma idia surgiu-lhe mente...

    Uma vez no hall, Florella no se apressou a ir para o quarto e subiu lentamente as escadas, admirando os requintes da construo do castelo.

    No dia seguinte, pediria que algum a acompanhasse numa visita a todos os cmodos do castelo, especialmente galeria, onde se encontravam as pinturas.

    A me de Florella nutrira um grande interesse pelas artes e sempre a levavaaos museus das cidades onde estavam.

    Da mesma maneira, ensinara filha a apreciar as terras estranhas por ondepassavam. Existe beleza em todo lugar, querida dissera- lhe certa vez. E vantagem e algum sensvel poder ret-la para sempre na mente.

    Caminhando agora por um longo corredor, sobriamente decorado com peas magnficas, Florella disse a si mesma que aquela viso seria sua para sempre. Na prxima vez que estiver dormindo numa tenda, no deserto, ou confinada numa cabine de navio, terei do que me lembrar murmurou, baixinho.

    Com um aperto no corao, lembrou-se ento de que no mais faria viagens a terradesconhecidas, nem haveria novas descobertas, nem aventuras.

    Simplesmente teria de se conformar quele tipo de vida que levava com os tios, por mais maante e incompreensvel que ele lhe parecesse.

    "Comem e falam, falam e comem, dia aps dia. No para menos que os homens setornam obesos e as mulheres aborrecidas", pensou.

    Extremamente inteligente, apesar de ignorar os mecanismos da vida social,Florella percebia todo veneno contido nos comentrios que a marquesa tecia com asamigas e com o marido sobre as outras mulheres.

    Chegara at a notar que a tia alterava o tom de voz quando se dirigia aos homens atraentes e bem apessoados que freqentavam sua casa.Florella, a quem no prestavam a menor ateno, no conseguia captar o significa

    o das piadas que faziam e suas insinuaes passavam-lhe despercebidas.Tinha conscincia, porm, do vazio de suas observaes e lamentava no contar ma

    com o pai para conversar sobre assuntos variados, que iam desde o planejamento de uma expedio a territrios que poucos europeus ousavam visitar at os costumes dos brberes, ou o significado de Meca para os muulmanos.

    "Ah, paizinho, por que me deixou?", lastimou do fundo do corao.Chegando, finalmente, ao quarto, encontrou uma criada sua espera para aju

    d-la a despir-se.No gozava do mesmo tipo de luxo na casa do tio, por isso apressou-se a diz

    er:

    Desculpe-me, devia ter-lhe avisado que no esperasse por mim. minha obrigao, senhorita - respondeu a moa. No fica muito cansada? s vezes, tenho a oportunidade de me deitar um pouco tarde, senhorita. E apenas nos fins de semana, quando o castelo est cheio, trabalhamos at esta hora. Ah, bom! Sinto muito pela demora. Demora? A senhorita recolheu-se cedo. Garanto que os demais convidados s subiro altas horas da madrugada.

    Indignada, Florella precisou reprimir a vontade de declarar sua revolta diante daquela exigncia cruel, sobretudo para as criadas idosas, como a que atendi

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    a sua tia.Entretanto, limitou-se a suspirar, convencida de que no cabia a ela critic

    ar o que quer que fosse.Enquanto a criada dependurava o vestido no guarda- roupa, Florella verifi

    cou se a porta de comunicao entre os quartos estava devidamente fechada, pois no queria dar motivos menor reclamao por parte da tia, caso fizesse qualquer barulho aolevantar-se na manh seguinte. Vejo que ficar no quarto vizinho ao nosso comentara a marquesa ao chegarem. Foi muita considerao de lady Roehampton. Geralmente, as moas ocupam quartos menoes, em outra ala do castelo.

    Evidentemente, essa observao servira apenas para demonstrar a Florella quesua presena ali era uma exceo e causava transtorno. Alis, no que diz respeito ao prncipe Jnos acrescentara Kathie no me leque alguma vez j tenha convidado algum jovem como voc.

    Sem saber o que responder, Florella mantivera-se calada. Espero que d valor sorte que teve finalizara a outra, num tom spero. Sou-lhe muito grata, tia Kathie. E deve ser mesmo! S em roupas gastei uma fortuna para traz-la aqui! Deus sabe o que seu tio vai dizer quando vir as contas...

    Na primeira vez que ouvira esse comentrio, Florella ficara preocupada e tratara de provocar um encontro a ss com o tio. Nem sei como lhe agradecer por sua generosidade, tio George. Achei lindosos vestidos que me deu, mas no precisava de tantos.

    O marqus sorrira, abraando-a pelo ombro.

    Voc muito bonita, minha querida, e importante para uma mulher apresentar-e bem vestida. Mas vestir bem, custa caro, tio! Fique tranqila que no vai me levar falncia! Saiba que sentirei um prazer nso em conduzi-la ao altar para se casar com algum importante...

    Sabendo que "importante" significava algum do mesmo nvel social deles, Florella teve mpetos de replicar que preferia mil vezes casar-se com um estrangeiro,ou um aventureiro, embora soubesse que a tia ficaria horrorizada, se a ouvisse.

    Desde sua chegada a Londres, Kathie repetia, diariamente, que a vida excntrica de seu pai beirava os limites do escandaloso e que Florella precisava agradecer aos cus pela chance de entrar para a sociedade.

    Revoltada, a jovem tinha mpetos de protestar, dizendo que passava horas acordada durante as noites, detestando a maciez da cama e sofrendo por estar confi

    nada entre quatro paredes, quando desejava apenas a beleza de um cu.repleto de estrelas."Tia Kathie jamais compreenderia", pensava amargurada, sabendo de antemo q

    ue no adiantaria comentar com quem quer que fosse sua tristeza.Aproximando-se da janela, ela abriu as pesadas cortinas de brocado, empur

    rou as venezianas e deixou que o ar da noite entrasse, frio e refrescante, depois do calor abafado das salas do andar de baixo.

    Debruando-se janela, ps-se a admirar as estrelas, embora lamentasse que no ossem tantas, nem to brilhantes quanto as que povoavam o cu, no Oriente.

    A luz da Lua refletia-se no lago em frente da casa, permitindo que se percebessem os contornos dos carvalhos seculares do parque.

    "Se papai estivesse aqui, no mnimo iria rir dos hspedes do castelo, mas no deixaria de pesquisar sobre sua histria, nem de apreciar seus tesouros!"

    O pensamento a deprimiu, pois no dava para rir da nova vida que levava comos tios." apenas uma fase difcil", procurou consolar-se, "como escalar uma montanha

    com sapatos folgados, ou dormir naqueles pequenos casebres da ndia que tinham cobras entre as vigas."

    Lembrava-se com clareza de uma ocasio, na Turquia, quando os trs tinham sido surpreendidos por uma tempestade terrvel.

    Abrigaram-se numa caverna, onde havia um forte cheiro de animais selvagens, e logo comearam a sentir coceiras, provocadas por picadas de insetos.

    O pai praguejara irritado, enquanto se coava, e, quando a me o censurou, el

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    e se justificara rindo: Uns bons palavrezinhos nunca fazem mal a ningum. S espero que estas pulgas ntendam ingls!

    Todos riram e, a partir de ento, levaram a situao na brincadeira."O jeito rir de tudo o que acontece comigo", disse Florella a si mesma, a

    ntes de deitar-se.Florella sonhava com o pai quando foi acordada pelo rudo de uma porta se a

    brindo.Para sua surpresa, deu-se conta de que havia algum dentro de seu quarto, e

    mbora a luz que penetrasse pela janela no fosse suficiente para reconhecer quem era.

    Ainda sonolenta, no sentiu medo algum. Porm, ao ver a figura alta do homemque atravessava o quarto em direo sua cama, uma exclamao de susto escapou-lhe dosos: Quem voc? O que faz aqui?

    Embora em voz baixa, ele perguntou claramente: Esme? voc?

    Florella ia abrir a boca para gritar quando a porta de comunicao foi escancarada e a tia entrou no quarto, carregando um candelabro de prata, com velas acesas.

    Apesar do inusitado da situao, Florella notou como ela estava bonita e imponente, num nglig de cetim e renda.

    Agora, Florella podia ver que o homem que a assustara era o conde de Sherburn, que parecia petrificado de espanto.

    Os olhos da marquesa e do conde se encontraram, e ela quebrou o silncio, com voz spera: Francamente, Osmond, como pde ser ultrajante a ponto de seduzir algum jovemcomo Florella?

    Mudo de espanto, o conde permaneceu um longo tempo em silncio, sem conseguir responder. Naturalmente, entrei em quarto errado! exclamou ele, por fim. No espera que eu acredite nisso!

    Falava de maneira zombeteira, e seu sorriso traa um qu de triunfo, quando ela chamou: George, venha at aqui! No lhe falei que havia algum no quarto de Florella?

    Ao ouvir essas palavras, o conde pareceu recobrar-se e, em passos largos,caminhou at o centro do quarto, parando em frente marquesa.

    Embora falasse muito baixo, Florella pde ouvi-lo perfeitamente. Kathie, sabe muito bem qual a verdade. Use o bom senso e reconhea que seria um grande erro fazer cena! No sei de coisa alguma! retrucou ela, num sussurro.

    Percebendo que o marido entrara no quarto e estava s suas costas, acrescentou alto: No imagino nada mais abominvel do que encontr-lo aqui, Osmond! O que significa isso? O que aconteceu? indagou o marqus, atnito. Tem todo o direito de saber, George replicou a marquesa. Ouvi um barulhoe, quando vim verificar, encontrei Osmond beira da cama de Florella!

    O marqus ficou lvido. O que pretendia, Sherburn? Nunca havia visto esta jovem antes...

    A marquesa soltou uma gargalhada desagradvel.

    Como podemos saber, George? Talvez se encontrassem em Londres! Quem sabeOsmond ficou paternalista e resolveu gostar de crianas? Bem, a questo o que pensafazer a respeito? O que quer insinuar?

    De repente, o marqus deu-se conta de que esperavam um atitude sua e exigiu: Suponho, Sherburn, que nos deva desculpas. J expliquei justificou-se o conde que me enganei e entrei no quarto errad. Espero que acredite em mim, George, mesmo que sua esposa no o faa. Naturalmente, se... comeava o marqus, quando Kathie o interrompeu, furiosa

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    Meu caro George, nestas circunstncias, a nica coisa que nosso bom amigo, oconde de Sherburn deve fazer agir com honra. No pode permitir que a reputao de suasobrinha seja jogada na lama, sem a devida reparao. Bom Deus, no est insinuando que... comeou o marqus, vacilante. No. Eu afirmo que o mnimo que Osmond pode fazer, nas circunstncias, propoasamento a Florella!

    Um silncio profundo invadiu o quarto. O conde, como se tivessem lhe ditadouma sentena de morte, no ousava sequer respirar.

    No se contendo, Florella sentou-se na cama, protestando : No, no, claro que no! Foi um engano, tia Kathie. lgico que foi um engano

    Lembrava-se de ter visto o conde conversando com lady Meldrum e achara que os dois formavam um lindo par.

    Embora no pudesse ouvir o que diziam, percebera que flertavam, pela maneira como se olhavam e sorriam um para o outro.

    Sentira vontade de observ-los abertamente, mas contivera-se com medo de embara-los.

    No tinha dvidas, portanto, de que o conde, desejoso de estar a ss com lady Esme, tentara ir ao quarto dela, onde provavelmente a amante o aguardava. Por azar, errara de porta e entrara no seu.

    Com os olhos faiscando de raiva, a marquesa voltou- se para ela. Fique quieta! Sem dvida, voc to culpada quanto ele por esse comportamentodecoroso! Duvido que um homem viesse ao seu quarto, sem que voc o encorajasse!

    Surpresa pelo inesperado ataque da tia, Florella olhou-a, boquiaberta.Procurava arrumar um meio de expressar sua inocncia, quando o marqus interv

    eio: Creio, Sherburn, que deve assumir a responsabilidade por sua atitude. Afinal, no posso permitir que a reputao de minha sobrinha seja abalada por um escndalo

    Novamente fez-se silncio, e Florella olhou apreensiva para o conde. Nuncaantes vira algum parecer to abatido. Muito bem, voc venceu! exclamou o rapaz, encarando a marquesa. Vou me casr com sua sobrinha e espero que ela goste de ser minha esposa!

    As palavras dele pareceram ecoar pelo quarto durante os instantes que seseguiram.

    To logo terminou de falar, Osmond atravessou o quarto e abriu a porta, batendo-a com fora atrs de si, ao sair.

    Esforando-se para recobrar o autocontrole, Florella balbuciou: Por favor, tio George, tudo no passou de um engano...

    Sei disso, querida. Mas sua tia tem razo. Voc no pode correr o risco de tersua reputao difamada, antes mesmo de debutar.Dito isso, encaminhou-se ao prprio quarto, sob o olhar desesperado da sobr

    inha, que chorava, pedindo: Espere, tio George... Por favor, espere...

    Assim que ele se retirou, Kathie encarou-a, irritada. Fique quieta e no banque a tola! Arranjei-lhe um marido que todas as jovens pedem de joelhos... Talvez Osmond faa de sua vida um inferno, mas a transformarna condessa de Sherburn!

    Em seguida, voltou-se bruscamente e retirou-se, levando o candelabro consigo.

    Florella soltou um gemido profundo.Recusava-se a acreditar que aquilo estivesse acontecendo e sentia-se envo

    lvida num pesadelo.Sabia que era absolutamente impossvel casar-se com um homem que acabara deconhecer e que, acima de tudo, estava apaixonado por outra mulher...

    "No posso... no posso! Paizinho, por favor, me ajude!", rezava, aos prantos.

    Pulando da cama, caminhou at a janela e ps-se a observar as estrelas.Ao chegar em seu quarto, o conde tambm tinha a sensao de estar vivendo um pe

    sadelo.Sabia muito bem o que havia acontecido.Depois que todos se deitaram, Kathie devia ter ido verificar se havia uma

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    rosa do lado de fora do quarto de Esme.Ironicamente, o conde lembrava-se de uma ocasio em que ambos haviam rido m

    uito ao descobrirem que o prncipe fizera combinao semelhante com sua favorita.Era bvio que Kathie imaginara que ele usaria do mesmo expediente para iden

    tificar o quarto de Esme.A vingana, porm, parecia-lhe cruel demais para o crime que cometera.Seus casos amorosos geralmente no duravam muito, e Osmond se habituara a t

    er nas ex-amantes verdadeiras inimigas, pois nunca conseguira manter um relacionamento amistoso depois de um rompimento.

    Ao contrrio, o prncipe de Gales podia contar com a lealdade das mulheres que saam de sua vida. E, por mais cenas que elas fizessem, jamais o teriam colocadoem semelhante enrascada.

    A vingana da marquesa fora total e definitiva, deixando-o sem opo de safar-se daquela situao humilhante.

    O conde no tinha inteno de, nos prximos anos, casar-se com quem quer que fose, menos ainda com uma quase adolescente que, na certa, iria mat-lo de tdio logo aps o primeiro ms de casamento.

    Alm disso, ressentia-se com o fato de ser pressionado para o casamento, ou, pior ainda, ter cado numa armadilha to torpe.

    "No me caso! Juro que no cederei a essa chantagem!"Com esse pensamento fixo, passou horas deitado no escuro tentando encontr

    ar uma frmula de escapar.A marquesa tinha todos os trunfos nas mos, da a importncia de agir o mais rp

    do possvel.

    Sem dvida, a primeira coisa que Kathie faria no dia seguinte seria informar lady Roehampton e o prprio prncipe, que ele propusera casamento a Florella.Para resguardar a jovem, certamente no desvendaria as circunstncias. Mas, s

    e a conhecia bem, insinuaria que vinham se encontrando em Londres, desde que a sobrinha chegara de Npoles.

    Diria ainda que ele aproveitara a ocasio em que todos estavam reunidos nocastelo para comunicar aos tios sua inteno.

    Muitos convidados desconfiariam da verdade, depois de observarem seu comportamento com Esme Meldrum, mas se convenceriam de que algum to arredio ao casamento finalmente teria sido enlaado. O que posso fazer? perguntou-se o conde, em voz alta.

    Talvez viajar para o exterior... No! Isso no resolveria nada, pois lhe eraimpossvel permanecer indefinidamente ausente de sua terra.

    Apelar para Florella tambm resultaria intil. Afinal, a jovem no desacatariaas imposies dos tios, e Kathie devia sentir-se radiante por se livrar da sobrinhaindesejada.

    Conhecedor da psicologia feminina, assim que ouvira os comentrios de que George Claydon iria hospedar uma sobrinha em casa, Osmond imaginara que a marquesa odiaria a idia. Detesto as jovens! dissera ela, uma vez em que estavam juntos. No compreedo como depois se transformam em mulheres vivas e interessantes! Voc nunca foi jovem, Kathie? zombara ele. Nunca! Nasci madura, inteligente e com um conhecimento de bruxaria do qual voc mesmo j se queixou! verdade! Voc me enfeitiou desde o primeiro momento em que a vi.

    Naquela ocasio, quando Kathie o enlaara pelo pescoo e encostara o corpo no d

    ele, o conde convencera-se mais uma vez de que jamais resistiria aos encantos daquela mulher.Devia saber que as bruxas podem representar um perigo e no perdoam uma pro

    vocao...Embora a marquesa fosse, indiscutivelmente, uma das mulheres mais belas q

    ue conhecera, seus cabelos e olhos negros deviam ter lhe servido de advertncia deque podia ser extremamente perigosa e vingativa.

    Tarde demais!Cara na armadilha que ela lhe preparara e, por mais que lutasse, no consegu

    iria escapar.

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    CAPITULO III

    Habitualmente, o prncipe levantava-se por volta das seis horas e saa para uma cavalgada.

    Nessa manh, assim que abriu os olhos, percebeu pela luz escassa que entrava pela fresta da janela, que ainda no eram cinco horas.

    Deitara-se preocupado, na vspera, intuindo que algo de errado se passava no castelo e, embora no pudesse ter certeza, sua percepo, herdada com o sangue hngar, avisara-o de que se relacionava marquesa e lady Esme.

    Sem esperar pelo valete, ele se levantou, trocou de roupa e desceu.Os serviais, que davam incio arrumao do pavimento inferior do castelo, lan

    -lhe olhares indaga- dores, como se compreendessem que algo estranho o afligia.Com passadas firmes, o prncipe caminhou resoluto para a cocheira, decidido

    a cavalgar um animal indcil.Em intervalos regulares, o prncipe trazia da Hungria cavalos semitreinados

    , os quais acabava por domar, despertando a admirao de amigos e empregados.Depois de comprar o castelo, mandara reformar a cocheira totalmente.O arquiteto, dono de uma habilidade mpar, no apenas respeitara as linhas ar

    quitetnicas originais, que combinavam com as do castelo, como reconstrura os compa

    rtimentos de modo a proporcionar maior conforto aos animais.Como ainda era cedo, havia s um cavalario de planto. O homem olhou surpresopara o prncipe e correu para avisar o tratador dos cavalos.

    Satisfeito com o perfeito funcionamento do estbulo, Jnos notou que o cavaloque chegara na semana anterior e no se conformava de estar preso, parecia calmoe um pouco mais dcil.

    Pretendendo desanuviar os prprios pensamentos, resolveu, num mpeto, montaro animal rebelde, cujo nome era Aspd.

    Entretanto, o sbito aparecimento do tratador de cavalos ps fim aos seus planos. . Bom dia, Alteza! cumprimentou ele, ofegante. No esperava que viesse to c! Sei disso, Barton, mas a manh est agradvel e preciso de um pouco de exercc

    O rapaz no se surpreendeu, pois era do conhecimento de todos os criados que, por mais tarde que fosse deitar-se, o prncipe sempre se levantava cedo, disposto como se tivesse dormido oito horas. Pensei em montar Aspd hoje, Barton. Ele parece bastante dcil... Sem dvida, Alteza. Nunca vi animal de melhor qualidade. Depois que milordeo treinar, ser um cavalo soberbo! Sou da mesma opinio, Barton.

    O prncipe colocou-se de lado para que o criado pudesse abrir o porto da baia, mas Barton pareceu hesitar. O que h, Barton? Acabam de me contar, milorde, que uma de suas convidadas veio aqui um pouco mais cedo e, como apenas Job estivesse em servio, permitiu que sasse com Gyorgy.

    Com Gyorgy!? Exato, alteza. claro que se eu me encontrasse presente, jamais o permitiria. No resta dvida de que

    Gyorgy um cavalo excelente, mas nada adequado para uma dama.O prncipe sabia disso melhor do que ningum, pois Gyorgy fora o ltimo cavalo

    que amansara. Apesar disso, o animal continuava rebelde e, s vezes, tornava- se impossvel control-lo. Ser que no h algum engano, Barton? Por acaso, Job comentou quem era a dama ue pediu para mont-lo? No sabe o nome dela, Alteza, mas disse que, alm de bonita, bastante jovem.

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    . Sele Jska enquanto vou me informar com Job sobre a direo que a moa tomou.

    Jska era o cavalo mais veloz da cocheira e seria bastante til naquela situaoCarregando um balde de gua no ptio, Job assustou- se quando o prncipe foi ao

    seu encontro.Olhou para o amo apreensivo, sabendo, pelo que Barton havia lhe dito, que

    no procedera bem. Tem idia, Job perguntou o prncipe, com calma de que direo tomou a Srta, a moa que est montando Gyorgy?

    Job pousou o balde no cho e apontou para a extremidade oposta do parque. Eu a vi quando se foi, Alteza. Gyorgy pulava muito e fiquei com medo de que pudesse derrub-la, mas a senhorita parecia hbil ao extremo. Espero que os anjos digam amm!

    Nesse instante, Barton aproximou-se, trazendo Jska. O prncipe imediatamentesaltou para a sela do garanho negro, tomando-lhe as rdeas e galopando na direo queo criado lhe indicara.

    Censurava a pretenso daquela que se sentira capaz de montar um cavalo quelhe dera tanto trabalho para amansar.

    Alm de ser difcil control-lo, Gyorgy estancava subitamente se qualquer coisao assustasse.

    Por isso, o prncipe imaginava encontrar a Srta Claye, cujo primeiro nome noconseguia lembrar-se estendida, inconsciente, no cho.

    Com certeza, aps lev-la para casa, precisaria pedi aos criados que sassem pocura do animal.

    Nunca lhe passara pela cabea que algum fosse cavalgar to cedo, num horrio emque Barton ainda no estivesse na cocheira para evitar a escolha inadequada de umanimal.

    Job era inexperiente e, em vez de acordar Barton, para saber como proceder no caso, limitara-se a ceder insistncia da moa.

    Estranhamente, o prncipe no conseguia lembrar-se do rosto dela, mas tinha antida impresso de que no fazia o tipo da "amazona".

    Portanto, s lhe restava torcer para que no quebrasse o pescoo ao ser atiradaao cho.

    Caso contrrio, ele teria a desagradvel incumbncia de desculpar-se com o marqus, pois, embora no fosse culpado, um de seus cavalos seria o responsvel pelo acidente.

    Aps atravessar o parque, o prncipe permitiu que Jska galopasse a toda veloci

    dade, pela plancie que se estendia sua frente.Sua inteno era alcanar, o mais rpido possvel, o topo de uma colina, da qualtinha uma ampla viso do vale, por onde corria um riacho.

    Ansioso, o prncipe chegou ao lugar desejado, convencido de que avistaria ocorpo da jovem cado perto dali e, pouco mais adiante, o cavalo correndo a esmo.

    Mas, para sua surpresa, no havia nenhum sinal deles.Aguando o olhar, perscrutou vrios pontos do vale. De sbito, divisou a jovem

    ainda montada, cavalgando beira do riacho.Estranhou que ela parecesse procurar um lugar para atravessar o rio, cois

    a que tornava-se praticamente impossvel desde que as chuvas do ms anterior haviamdobrado de volume o leito das guas, normalmente raso.

    Dando de ombros, concluiu que, quanto mais depressa a alcanasse tanto melhor, pois as conseqncias de uma queda, agora, seriam ainda piores.

    Depois de descer a colina, fustigou Jska e, em apenas alguns minutos, aproximou-se de Florella.Florella, por sua vez, ponderando que Londres situava-se ao norte do loca

    l onde se encontrava, insistia em cruzar o riacho a fim de tomar a direo sul.Embora no conhecesse o interior da Inglaterra, nem soubesse quais eram os

    limites da propriedade do prncipe, observara que as terras na outra margem pareciam mais selvagens e pouco cultivadas.

    Obcecada pela idia de fugir dali, agradecia sorte por ter arranjado um cavalo capaz de transport-la durante o dia inteiro e s esperava encontrar um trecho do riacho que ele pudesse atravessar sem dificuldade. Porm, no exato momento em qu

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    e ela puxou as rdeas, para que o animal tomasse a direo do rio, ao voltar a cabea pra trs, viu um homem que se aproximava com rapidez.

    Pressentindo que corria perigo, desistiu de cruzar o rio e obrigou o cavalo a retomar o percurso que seguiam antes, esporeando-o.

    Gyorgy empinou-se, levantou as patas traseiras e deu pinotes, na tentativa de derrub-la da sela, mas foi em vo.

    Florella no se deixou intimidar e tornou a espore-lo at que o cavalo cedeu,saindo num galope desenfreado.

    O prncipe observou a cena com a respirao suspensa. Melhor do que ningum calclava o risco que sua jovem convidada estava correndo e, ao v-la resistindo bravamente rebeldia do animal, achou que era um verdadeiro milagre.

    Sem que o prncipe precisasse usar suas esporas ou chicote, Jska tambm saiu numa carreira desabalada.

    Embora sentisse sua aproximao, Florella no conseguia acreditar que algum animal pudesse ultrapassar o que ela montava.

    Desesperada, perceber que o cavaleiro que a seguia aproximava-se cada vezmais at que, finalmente, compreendeu que no poderia escapar.

    Assim que o cavalo emparelhou com o seu, ela reconheceu o homem que a seguia.

    Com alvio, nem considerou a hiptese de que o prncipe pudesse ter sido mandado pela tia para lev-la de volta.

    Reconhecendo que no tinha sentido continuar naquela cavalgada louca, foi diminuindo a velocidade.

    Logo, fez com que Gyorgy trotasse e depois cavalgasse em ritmo normal.

    O prncipe fitou-a sorrindo e perguntou num tom desconcertante: Por Deus do cu, onde aprendeu a montar dessa maneira?O inesperado da pergunta fez com que Florella risse.

    Gyorgy fantstico! Vi o nome dele na baia e conclu que procedia da Hungria. verdade. Mas estou interessado em saber, Srta. Claye, onde pretende lev-lo.

    Apesar da vontade de responder que no ia a nenhum lugar em particular, percebeu que o prncipe olhava para a pequena trouxa pendurado do outro lado da sela.

    Embaraada, relutou alguns instantes. Se est fugindo, como desconfio, creio que tenho o direito de lhe perguntarpara onde leva meu cavalo!

    Florella corou e retrucou em voz baixa: Peo-lhe desculpas por roub-lo, mas juro que iria devolv-lo assim que fosse

    ossvel. Podemos falar a respeito? Embora no possa obrig-la a confiar em mim, acho que deveramos conversar.

    No havia nenhuma nota de censura ou repreenso no tom do prncipe. Pelo contrro, sua voz revelava uma bondade e uma solidariedade to grandes, que Florella apressou-se em dizer: Seria melhor, Alteza, que fingisse no ter me encontrado... J imaginou como seria frustrante para mim? Ficaria pensando no que aconteceu senhorita e a Gyorgy e me sentiria culpado de no t-la ajudado a resolver seus problemas!

    Um brilho momentneo iluminou o olhar da jovem. Ser que poderia mesmo me ajudar? Digamos que tentaria ao mximo fazer o que fosse melhor para a senhorita.

    Florella soltou um suspiro de alvio antes de responder: Tive medo de que se zangasse comigo porque tirei Gyorgy, mas achei que nenhum outro cavalo seria to veloz quanto ele me pareceu. Por isso o escolheu? No resisti beleza dele e imaginei que nenhum outro conseguiria super-lo. Oua, Srta. Claye, precisamos conversar. Aceita tomar o desjejum comigo emuma de minhas fazendas, no muito distante daqui?

    Florella hesitou.Compreendendo que a jovem temia ser envolvida num engodo, ele se apressou

    em tranqiliz-la.

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    Fao a sugesto sem segundas intenes. Como lhe prometi, quero ajud-la no qupossvel e peo- lhe que confie em mim. Eu... Confio declarou, meio vacilante. Obrigado. Vamos, a fazenda fica logo ali.

    O prncipe apontou um ponto a distncia onde se destacavam alguns montes de feno, atrs dos quais podia-se ver a fumaa saindo de uma chamin.

    Em seguida, ps-se a caminho, sendo seguido por Gyorgy.Enquanto cavalgavam, ele pensava que jamais conhecera outra mulher que mo

    ntasse to bem, nem que, de uma maneira quase mgica, conseguisse controlar um cavalo selvagem como Gyorgy.

    Ao chegarem fazenda, o animal estranhou a proximidade de outras pessoas eprotestou, dando coices e pinotes.

    Sem perder o controle da situao, Florella conservou-se na sela, acalmando oanimal com palavras carinhosas, ditas num tom afetuoso. Vamos l! Agora voc ir descansar um pouco, para poder me levar at onde querr.

    Percebendo que no conseguiria derrub-la, o cavalo tornou-se dcil.O prncipe no teceu comentrio algum e conduziu Florella casa da fazenda, ond

    uma senhora de meia- idade, robusta e de faces rosadas, os aguardava porta. Bom dia, Alteza. Que bom v-lo de novo! Estava mesmo desejando que no demorasse para aparecer por aqui.

    A Sra. Hickson fez uma pequena mesura para. Florella e, falando pelos cotovelos, encaminhou-os a uma sala confortvel, onde havia uma mesa recoberta por uma toalha branca de rendas.

    Chegou na hora certa, Alteza. Meu marido matou um porco, e h uma semana temos um presunto curado que ir agrad-lo. Que timo! Vivo repetindo que ningum prepara um presunto curado como a senhora.

    Com um sorriso de prazer, a Sra.. Hickson saiu apressada da sala. O prncipe notou, ento, que Florella, nas pontas dos ps, mirava-se no espelho para tirar ochapu.

    Pela primeira vez, o prncipe observou-a com cuidado, surpreendendo-se diante de sua beleza e graa. Na verdade, nunca vira uma jovem to atraente.

    Admirado, contemplou-lhe os cabelos com reflexos dourados, presos num chignon, de onde alguns pequenos cachos escapavam, como se possussem vida prpria.

    Seus olhos, grandes e amendoados, tinham uma tonalidade diferente de verde, destacando-se no rostinho delicado, e algo de enigmtico, dava um toque entre s

    edutor e misterioso s suas feies.Esboando um sorriso tmido, Florella aproximou-se e sentou-se mesa, dizendo: Admito que estou faminta...

    Acomodando-se sua frente, o prncipe comentou: Temos muito a conversar, mas creio que tudo se tornar mais simples se me disser como se chama. Florella... Bonito nome! Onde aprendeu a cavalgar to bem, Florella?

    Ele fez uma pequena pausa e acrescentou, justificando sua pergunta: Quando sa sua procura, esperei encontr-la inconsciente, e Gyorgy desaparecdo. Monto desde muito pequena, mas confesso que, dos muitos cavalos que j cavalguei, Gyorgy o melhor!

    Aps um breve silncio, ela acrescentou, num impulso: Garanto que o mandaria de volta ao senhor. Antes, explique-me a razo de sua fuga.

    Parecendo procurar as palavras, o prncipe continuou: Ser que sou um anfitrio to mau assim, e voc no via a hora de escapar do co?

    Surpresa com seu tom brincalho, Florella desviou o olhar para a janela, ehavia uma ponta de desespero em sua voz ao declarar: Preciso fugir! Por qu?

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    Prefiro no lhe contar. Pois eu prefiro ouvir de voc o que h de errado, do que ouvir de seus tios quando retornar ao castelo. No acredito que lhe contem a verdade. Ento por que voc no o faz?

    Ciente de que havia algo de muito errado, ele se debruou sobre a mesa, falando num tom persuasivo: Confie em mim, Florella. Juro que manterei sigilo sobre o que me contar enada farei para mago-la ou complicar-lhe as coisas.

    Vagarosamente, Florella voltou a cabea e levantou os olhos, com uma expresso que denunciava o debate ntimo que se travava em seu ser: devia ou no confiar nele?

    Os dois trocaram um longo olhar. Ento, como se parecesse satisfeita com oque lera nos olhos do prncipe, Florella comeou: No h nada que eu possa fazer, depois do que houve ontem noite, a no ser fr e me esconder. Pode me contar o que aconteceu?

    Florella respirou fundo, angustiada. O conde de Sherburn entrou no meu quarto, por engano... Ele pensou que fosse o quarto de... Lady Esme Meldrum.

    O prncipe enrijeceu o corpo, achando difcil acreditar no que ouvia.Entretanto, quando Florella prosseguiu seu relato, ele entendeu.

    Acordei assustada com um homem em meu quarto e, antes que pudesse dizer qualquer coisa, tia Kathie entrou.

    Atnito, o prncipe deduziu que aquela fora a vingana que Kathie Claydon tramara contra Esme Meldrum e Osmond.Na vspera, ao surpreender o olhar de dio da marquesa em direo rival, ele t

    ara, instintivamente, evitar um escndalo, bajulando-a e levando-a para conhecer oquadro que havia comprado.

    Agora, apesar do relato incompleto de Florella, podia perfeitamente adivinhar como Kathie induzira o conde a confundir o quarto da sobrinha pelo ocupadopor lady Esme. Como posso me casar com um homem com quem nunca falei? Entende por que preciso... Fugir? Posso entender como se sente assentiu o prncipe, comovido. Mesmo? Claro que entendo! Mas para onde pretendia ir?

    Cheguei Inglaterra h apenas duas semanas. Pensei em procurar um lugar parame esconder de tia Kathie at que tudo estivesse esquecido. Dispe de algum dinheiro? Pouco... Mais ou menos umas cinco libras. Acha que conseguiria sobreviver com isso? Pretendia arrumar alguma coisa para fazer. O qu, por exemplo? Embora talvez ningum me empregue sem referncias, sei cozinhar e falo vrios diomas, inclusive rabe.

    O prncipe ficou abismado. Como conseguiu aprender? Viajei por diversos pases com meu pai. Por favor, fale-me de voc. Sinto-me curioso para saber quem so seus pais...

    Meu pai morreu de tifo, em Npoles, no final de fevereiro.A expresso do prncipe demonstrava surpresa e, notando que ele estranhava que no estivesse de luto, Florella apressou-se a explicar: Papai pediu que ningum usasse luto por ele porque no... acreditava na morte.

    Depois de uma pausa, ela prosseguiu: No Oriente, onde passamos a maior parte da vida, todos acreditam na reencarnao. Meu pai, por exemplo, achava que como ele e mame se amavam demais, os dois se reencontrariam numa outra vida... Dizia que o amor era indestrutvel...

    O prncipe impressionou-se com a simplicidade com que a jovem dizia coisas

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    que fariam qualquer mulher parecer afetada. Ento, depois que seu pai faleceu, voc resolveu voltar Inglaterra. Devo confessar que eu no escreveria a tio Geor- ge, mas nosso criado tomoua iniciativa. Jackson vivia conosco desde que eu era criana e achou que essa seria a atitude mais acertada a tomar. Bastante sensato da parte dele! Ah, no! Nunca desejei conhecer a vida que papai tanto desprezava... Ele sempre repetia que a sociedade era ftil e composta por pessoas que apenas competiampor ttulos e poder, perdendo tempo e energia em jogos, queixas e mexericos.

    Florella falou de maneira to espontnea que o prncipe no pde deixar de rir. Creio que seu pai estava certo. Por outro lado, no h muitas alternativas para jovens como voc. No tenho o menor desejo de me tornar uma "senhorita" protestou ela, quasezangada. Gostaria de continuar fazendo as coisas que fazia com meu pai, apenas nosei como... Que tipo de coisas fazia com seu pai?

    Ela lhe dirigiu um sorriso maroto, como se o prevenisse de que ficaria surpreso ao saber. Para comear, nasci numa tenda beduna. Tentamos descobrir o curso do rio Nilo, escalamos as encostas mais baixas do Himalaia, visitamos Sarawak e jantamos,na frica, com uma tribo cujo prato favorito era cristo assado!

    Diante da expresso incrdula dele, a jovem riu de modo cristalino. A pergunta foi sua acusou, brincando. Mas no obrigado a acreditar em mi.

    Eu saberia se fosse mentira. Por que diz isso? Tenho uma espcie de instinto para essas coisas e, embora possa lhe parecerinacreditvel, sei que me conta a verdade. Ento, deve compreender por que no desejo passar minha vida com pessoas preocupadas somente em falar mal dos amigos ausentes. Acho que uma observao um tanto cruel. Alm disso, detesto passar dias inteiros provando roupas, ou sentada em salas quentes e excessivamente perfumadas.

    Depois de uma breve pausa, ela perguntou: Tem idia de quanto, pessoas como meus tios, comem diariamente? Garanto quedaria para alimentar centenas de crianas famintas, na ndia.

    Florella falou de maneira to apaixonada, que o prncipe no pde deixar de inte

    vir. Entendo que se sinta meio chocada, mas nem todos so maus no beau monde.Com uma expresso de dvida, ela encolheu os ombros.

    Desejo fugir desde que cheguei Inglaterra, mas agora isso tornou-se uma necessidade... Espero que entenda. No acha que o casamento com o conde de Sherburn lhe daria uma posio invejvna sociedade? Mesmo assim, a resposta "no". Como poderei me casar com um homem que no am? Alm do mais, o conde est apaixonado por outra mulher!

    O prncipe no argumentou nada, e ela acrescentou: A simples idia de casar porque tia Kathie deseja se ver livre de mim repulsiva e degradante. No, no desejo de forma alguma qualquer posio na sociedade, muitomenos e de mera marionete, da qual basta puxar as cordas para que faa a coisa cer

    ta! Quero ser livre... quero ser eu mesma! Tem certeza de que isso impossvel no ambiente em que seus tios vivem?O prncipe estava preparado para receber um olhar agressivo, mas, para sua

    surpresa, depois de refletir um momento, Florella respondeu: Essa era o tipo de questo que meu pai e eu costumvamos discutir. Creio queuma pessoa pode ser ela mesma, em qualquer parte do mundo, desde que no seja impelida a fazer coisas que no considere certas. Hum! Muito interessante... Papai dizia que a vida uma busca do desenvolvimento do eu. Como para minha me e ele, a felicidade foi uma bno, eles pouco se importavam com os desconfortos

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    ue precisavam enfrentar. Pelo contrrio, riam deles, e cada dia significava uma nova descoberta. Afinal, o que esperavam encontrar? Creio que a essncia de suas almas.

    Mais uma vez, ela falara com naturalidade, e o prncipe novamente estranhara que algum pudesse fazer tais declaraes, sem mostrar-se embaraado.

    Mas, antes que pudesse tecer algum comentrio, a porta se abriu e a Sra. Hickson entrou, trazendo uma bandeja repleta de quitutes.

    Depois de se servirem, Florella comentou: Papai sempre elogiou as delcias do desjejum ingls, com ovos e bacon. a prieira vez que os provo assim frescos, e agora entendo a que ele se referia.

    Tirando mais uma fatia de po recm-sado do forno, ela espalhou sobre ele manteiga fresca, produzida na prpria fazenda. Creio, Florella, que devemos voltar questo principal, ou seja, seu comportamento. Mas j concordou que o melhor que tenho a fazer fugir... Disse-lhe apenas que entendo seus motivos para desejar faz-lo. No vai me impedir, vai? Suponho que seria meu dever.

    Preocupada, Florella pousou a fatia de po no pires. Depois de me trazer para c e eu ter confiado no senhor, no tem o direito deme trair. Oua, espero que continue confiando em mim. Mas entenda que seu plano impossvel.

    Nesse caso, o tornarei possvel. Peo-lhe apenas que no interfira. No pretendo interferir, mas posso avaliar melhor do que voc as dificuldadesque encontrar. Superei dificuldades antes... Sozinha?

    Diante dessa pergunta, Florella calou-se, e o prncipe prosseguiu: H incontveis perigos para uma mulher sozinha, no campo. Para comear, Gyorgy rovavelmente lhe seria roubado e, sem dinheiro nem transporte, voc jamais encontraria qualquer acomodao. Por que devo acreditar nisso? atacou ela, num tom hostil. Porque, na Inglaterra, essa a realidade. Ento quanto antes eu deixar este pas, tanto melhor! Talvez o melhor seja mudar-me para o exterior.

    Tenho uma sugesto mais simples afirmou o prncipe. Reconheo que no podecom a ajuda de seus parentes paternos, mas ser que tem algum parente de sua me nopas?

    Fez-se silncio por alguns instantes. Minha me no era inglesa! Ento eu estava certo! Senti que existia alguma coisa de diferente em voc. Agora sei o que e, a menos que eu esteja muito enganado, suponho que sua me fossehngara. O que o faz pensar assim? Ningum monta um cavalo to bem quanto voc a no ser que tenha sangue hngaroveias. Alm disso, alguma coisa em seu rosto me deixava intrigado, mas agora sei oque . Tem razo, minha me era hngara. Mas tia Kathie recomendou que eu no contass

    sso a ningum, pois nenhum homem iria querer se casar comigo!Sem se conter, o prncipe jogou a cabea para trs, explodindo numa gargalhada. Nunca ouvi nada mais ridculo! Imagino que saiba que tambm sou hngaro? Sim, claro! Por que no me falou sobre sua me? Achei que no teria nenhum interesse... Pelo contrrio! Qual era o nome de solteira dela? Rkzi. No deve ter ouvido falar deles. A famlia provm do leste da Hungria. Pois sei tudo sobre eles. uma famlia hngara famosa e, por coincidncia, suterras so vizinhas s minhas.

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    Mame fugiu com meu pai, e desconfio que eu no seria bem-vinda na famlia... No acredito. De qualquer maneira, levaria muito tempo para que pudssemos sondar como se sentem a respeito, da minha sugesto ser um pouco diferente. Qual sua sugesto?

    Pela expresso de seus olhos, o prncipe compreendeu que a jovem receava queele fosse lhe criar dificuldades, impedindo-a de fugir.

    Estranhamente, tinha a impresso de quase ler seus pensamento, o que o fezintuir que, na primeira oportunidade, ela iria sair dali, tiraria Gyorgy da cocheira e fugiria.

    Disse ento de maneira calma e persuasiva: Ns dois temos sangue hngaro nas veias, Florella. Se eu j estava disposto a jud-la antes, agora considero isso uma questo de honra. Vai mesmo me... Ajudar?

    Apesar de ainda no se sentir inteiramente segura, um brilho de esperana lheiluminava o olhar. Compreendo que, diante de seus sentimentos, impossvel casar-se com o condede Sherburn. Por mais vantajosa que fosse essa unio, voc seria infeliz e, para mim, o que conta so seus sentimentos. Se pretende falar com tia Kathie, previno-o de antemo que no vai adiantar!Ela quer essa unio para se livrar de mim e, embora eu possa estar enganada, tivea impresso de que, por algum motivo que ignoro, minha tia queria punir o conde, obrigando-o a casar-se comigo. Algum comentou algo a esse respeito? No, tirei essas concluses por conta prpria. No sei explicar, mas tenho cer

    a de que minha tia estava brava com o conde e no somente por encontr-lo em meu quarto.Admirado de sua sagacidade, o prncipe teve a confirmao de que Florella era h

    gara. Afinal, essa percepo aguada s existia na Hungria. Entretanto, limitou-se a dier: Minha sugesto bastante segura e confortvel. Convido-a a esconder-se numa csa que possuo a dez quilmetros daqui. Em uma casa? repetiu Florella, pensativa. Uma parente minha mora l esclareceu o prncipe. Como parcialmente paralleva uma vida calma nessa casa que comprei para ela h cinco anos, quando veio para a Inglaterra. Ela hngara? Sim... Como lhe disse, parente minha.

    Eu no iria incomod-la? Ao contrrio, creio que ela ficaria encantada com sua companhia. No fala ingls muito bem e, na realidade, no conhece nada sobre a vida social deste pas. Por outro lado, uma mulher lcida e inteligente.

    Florella fitou-o, perplexa. Est mesmo me oferecendo sua casa e no contar aos meus tios onde me encontro Dou-lhe minha palavra de que no revelarei a ningum seu paradeiro, nem nossoencontro de hoje. Quando descobrirem que voc desapareceu do castelo, prometo queme mostrarei surpreso! E o cavalario? Vai dizer a todos que levei Gyorgy. Deixe-o comigo tranqilizou-a o prncipe. Pensarei numa explicao coerentando que Gyorgy foi encontrado, vagando pelo campo, e deixei-o sob os cuidados de um amigo.

    Ele sorriu e acrescentou: Imagino que gostar de mont-lo, enquanto estiver em Ledbury Manor.Num gesto espontneo, Florella bateu palmas.

    Como bom e compreensivo! No sei nem como lhe agradecer... Quando um hngaro pede ajuda a outro hngaro, no h como negar. Obrigada... Muito obrigada!

    O prncipe consultou o relgio que trazia no bolso do colete, espantando-se. tarde! Como levaremos algum tempo para chegar a Ledbury Manor, melhor nospormos a caminho agora. Preciso voltar ao castelo a tempo do caf da manh e de controlar a situao quando seu desaparecimento for anunciado.

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    Havia uma pontinha de malcia no olhar de Florella ao ironizar: Sei de uma pessoa que ficar encantada com meu desaparecimento e vai at desejar que eu esteja morta: o conde de Sherburn!

    O prncipe riu, divertido. No ouso contradiz-la. H anos que Osmond Sherburn se vangloria, jurando que unca se casar. Alegria de uns, tristeza de outros. Tia Kathie, em compensao, ficar furiosa Bem, minha prima cuidar de voc. A propsito o nome dela princesa Maria Db

    CAPTULO IV

    Florella e o prncipe cavalgavam h algum tempo quando ele lhe disse: Creio que seria bom arranjarmos uma nova identidade para voc. Concordo. Isso evitaria suspeitas ... Talvez o melhor seja dizer que filha de um amigo hngaro e vai hospedar-secomigo. Parece-me bastante plausvel. Sugiro que adote o nome de solteira da sua me. Se no me engano, ela tinha um ttulo, no ? Era condessa ... Mas nunca usou o ttulo.

    Agora vai lhe ser til, condessa Florella Rkzi. Tudo que quero escapar da sociedade e, no entanto, me vejo rodeada de brilhos! Na atual circunstancia, precisa aceitar tais frivolidades! Imagino que fale hngaro com fluncia, para que ningum questione sua nacionalidade? No me insulte! brincou Florella. Mame conversava em hngaro comigo, sempree estvamos a ss. Perdoe-me se fui indelicado. Desculpou-se o prncipe, com humildade. Oh, no! Acho que vai rir de mim, mas possuo to pus coisas que considero miinteligncia muito preciosa.

    A observao era to original que o prncipe riu, descontrado. No duvidava queria um pouco de calor e felicidade existncia montona da prima, e isso o alegrava. Bem, vamos combinar tudo direitinho, para evitar contradies.

    Atenta, Florella o ouviu. Para todos os efeitos, voc deixou a Hungria mais ou menos h um ms atrs. Pozar, quando chegaram a Trieste, seu pai morreu subitamente.

    Entendendo que ele procurava manter-se o mais prximo possvel da verdade, Florella assentiu com um gesto de cabea. Veio ento para a Inglaterra sozinha continuou o prncipe. Como est de luquis permanecer em Londres, e preferiu a quietude do campo, recorrendo a mim. A histria no poderia ser mais convincente aprovou Florella. Quando chegarmos, quero que escreva um bilhete a seu tio. Um bilhete? estranhou Florella, o medo reaparecendo em seus olhos. Exato! Comunique-lhe que fugiu para ficar com amigos. Diga que est completamente segura e que ele no precisa preocupar-se.

    Como Florella no fizesse nenhum comentrio, ele acrescentou:

    Caso no o faa e simplesmente desaparea, muito provvel que seu tio ponha ia ou detetives sua procura.Soltando uma exclamao de horror, ela disse:

    Ai, espero que isso no acontea! Por isso importante que escreva o bilhete, ocultando, naturalmente, seu novo endereo. Creio que perspicaz de sua parte concordou Florella, depois de refletir melhor. Oh, nem sei como lhe agradecer!

    Aos poucos, a jovem criava um enorme sentimento de gratido por aquele homem que, quase sem conhec-la, dispusera-se a ajud-la, entendendo que no poderia volta

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    r e se casar com um completo estranho como o conde.Querendo ganhar tempo, o prncipe esporeou seu cavalo, emparelhando-o com G

    yorgy.Lado a lado atravessaram uma ponte a todo galope, e Florella pde confirmar

    sua impresso inicial de que a regio do outro lado do rio de fato era mais selvagem e quase desabitada, restringindo-se a uns poucos casebres, perdidos na distncia.

    Depois de cavalgarem durante algum tempo, atravs de uma terra completamente inspita, o prncipe anunciou: Eis Little Ledbury!

    Por um momento, Florella avistou somente rvores, mas logo alguns telhadossurgiram entre elas, anunciando uma aldeia minscula, cujas casas, pintadas de branco e preto, com telhados de colmo, mais pareciam estampas de contos de fadas.

    Cada quintal dispunha de um pequeno jardim repleto de flores coloridas, e, com exceo de uma loja, cuja vitrine dava para o prado da aldeia, e de uma igrejinha de pedra cinzentas, pouco mais havia ali.

    Adivinhando-lhe a curiosidade, Jnos Kovc explicou: Esta aldeia foi fundada no sculo dezessete. Quando a comprei, mandei restaur-la conservando as linhas originais e creio que hoje ela um dos melhores exemplos desse perodo, na Inglaterra. Meu Deus, uma maravilha! Nunca vi lugar to pitoresco. Tambm gosto daqui..Veja, estamos chegando a Ledbury Manor.

    Um muro de pedras, onde se destacava um grande porto de ferro batido, cercava a propriedade bem cultivada, e, porta da manso de fachada branca, refulgia um

    a placa de bronze homenageando o primeiro proprietrio, com data de 1623.Pombas em profuso amontoavam-se sobre o telhado ou revoavam pelo ptio, emprestando-lhe uma atmosfera de sonho.

    Ao v-las, Florella no conteve a admirao: Quantas pombas! Ah, as servidoras de Afrodite!

    Ignorando-lhe a euforia, ele se manteve impassvel e comeou a apear do cavalo.

    Nesse momento, dois criados apareceram, cumprimentando-os respeitosamente.

    Quando foram levar os animais para a cocheira localizada atrs das rvores, Gyorgy mostrou-se indcil. Acho melhor eu ir ajud-lo murmurou Florella, observando os esforos do criao para acalmar o animal.

    No se preocupe! Thomas bastante experiente, caso contrrio eu no o empregacomo responsvel pelos estbulos.Deduzindo que havia muitos cavalos ali, Florella achou estranho, uma vez

    que a prima dele era parcialmente invlida.Entretanto, estava preocupada demais com seus prprios problemas para fazer

    perguntas. Alm disso, no queria correr o risco de parecer indiscreta e curiosa perante o prncipe. Creio que gostaria de recompor-se antes de ser levada at minha prima. E, usando de sinceridade, eu preferia falar com Maria antes de apresent-la a voc. Claro!

    Virando-se para o mordomo que fora receb-los, J- nos Kovc pediu: Newman, por favor, diga sua mulher que atenda minha hspede. Depois que a senhorita estiver pronta, pea-lhe que a acompanhe at a sala de estar, onde estarei

    com Sua Alteza. Pois no, Alteza.Minutos mais tarde, uma senhora de meia-idade os aguardava no topo da esc

    ada, recebendo Florella com uma mesura. Seja bem-vinda, madame. Vou acompanh-la aos seus aposentos.

    Ato contnuo, rumou para um amplo corredor ladeado de portas. Abriu uma delas e fez sinal para que a jovem entrasse no quarto alegre, confortvel, decorado com cortinas de chintz florido.

    Encantada, a jovem notou que as janelas abriam-se para um jardim bem cuidado s margens de um pequeno riacho de guas cristalinas.

  • 7/28/2019 a_noiva_do_prncipe.txt

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    Oh, que quarto delicioso! elogiou Florella. Espero que sinta-se vontade... Sem dvida. Ser que eu poderia tirar o casaco de meu traje de montaria? Claro, madame. Faz calor, e Sua Alteza compreender que mais agradvel ficaapenas de blusa. Alm disso, sua roupa muito elegante.

    De fato, o bonito traje de montaria, em tons de branco e azul, tinha um caimento perfeito, valorizando-lhe o corpo e o tom de pele. E, quando a marquesao comprara, a balconista garantira que havia acabado de chegar de Paris.

    Apreensiva, Florella percebeu que, como sua nica preocupao fora escapar o mais depressa possvel do castelo, no trouxera, dentro da trouxa que atara sela, nadaalm de um vestido simples.

    Discretamente, no fez comentrio algum. Precisava primeiro saber se a primado prncipe consentiria em hosped-la.

    Lavou as mos e o rosto, enquanto a Sra. Newman lhe ajeitava os cabelos, oque a fez sentir-se melhor.

    Ao descer as escadas e vendo que Newman a aguardava, uma verdadeira sensaode pnico apossou-se dela.

    "E se os planos do prncipe no derem certo?"Afirmando a si mesma que Jnos Kovc era uma pesssoa extremamente bondosa e q

    ue a