Análise Qualitativa Da Síndrome de Burnout

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ANÁLISE QUALITATIVA DA SÍNDROME DE BURNOUT NOS ENFERMEIROS DE SETORES ONCOLÓGICOS Mayara Torquato da Silva 1 Fernanda Gomes de Magalhães 2 Interfaces Científicas - Saúde e Ambiente • Aracaju • V.2 • N.2 • p. 37 - 46 • Fev. 2014 ISSN IMPRESSO 2316-3313 ISSN ELETRÔNICO 2316-3798 RESUMO A Síndrome de Burnout é uma forma de resposta ao estresse laboral crônico, sendo esta uma condição na qual o trabalhador se desgasta, e desiste, na medida em que perde a satisfação e sentido pelo trabalho. O presente estudo teve como objetivo analisar alguns artigos científicos que abordam a presença da Sín- drome de Burnout nos enfermeiros que trabalham no setor de oncologia. Trata-se de uma pesquisa de revisão de literatura integrativa realizada com arti- gos indexados em sites de cunho científico por meio dos descritores: Síndrome de Burnout, enfermeiros, oncologia. Por meio deste estudo constatou-se que o ambiente hospitalar e o setor de oncologia são locais geradores de grandes cargas de estresse, e fatores predisponentes aos profissionais, principalmente os enfermeiros que estão em contato maior com o paciente a desenvolverem a Síndrome de Burnout. Conclui-se que existe a necessidade de maiores pes- quisas sobre a síndrome, principalmente no setor oncológico, ressalta as condições de trabalho destes profissionais e um foco à saúde física e mental dos trabalhadores. PALAVRAS CHAVES Síndrome de Burnout. Enfermeiros. Oncologia. SAÚDE E AMBIENTE

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ANÁLISE QUALITATIVA DA SÍNDROME DE BURNOUT

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  • ANLISE QUALITATIVA DA SNDROME DE BURNOUT NOS ENFERMEIROS DE SETORES ONCOLGICOS

    Mayara Torquato da Silva 1 Fernanda Gomes de Magalhes2

    Interfaces Cientficas - Sade e Ambiente Aracaju V.2 N.2 p. 37 - 46 Fev. 2014

    ISSN IMPRESSO 2316-3313

    ISSN ELETRNICO 2316-3798

    RESUMO

    A Sndrome de Burnout uma forma de resposta ao estresse laboral crnico, sendo esta uma condio na qual o trabalhador se desgasta, e desiste, na medida em que perde a satisfao e sentido pelo trabalho. O presente estudo teve como objetivo analisar alguns artigos cientficos que abordam a presena da Sn-drome de Burnout nos enfermeiros que trabalham no setor de oncologia. Trata-se de uma pesquisa de reviso de literatura integrativa realizada com arti-gos indexados em sites de cunho cientfico por meio dos descritores: Sndrome de Burnout, enfermeiros, oncologia. Por meio deste estudo constatou-se que o ambiente hospitalar e o setor de oncologia so locais

    geradores de grandes cargas de estresse, e fatores predisponentes aos profissionais, principalmente os enfermeiros que esto em contato maior com o paciente a desenvolverem a Sndrome de Burnout. Conclui-se que existe a necessidade de maiores pes-quisas sobre a sndrome, principalmente no setor oncolgico, ressalta as condies de trabalho destes profissionais e um foco sade fsica e mental dos trabalhadores.

    PALAVRAS CHAVES

    Sndrome de Burnout. Enfermeiros. Oncologia.

    SADE E AMBIENTE

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    ABSTRACT

    The burnout syndrome is a form of response to chronic job stress, which is a condition in which the worker wears and gives up, in that it loses meaning and sa-tisfaction at work. This article aims to analyze scienti-fic articles that addresses the presence of burnout in nurses working in an oncology ward. This is a survey conducted by indexed articles on sites through scien-tific nature of descriptors: Burnout Syndrome, nurses, oncology. Through this study it was found that the hospital and the oncology sector are generating he-avy burden and factors that predisposing the profes-sionals, especially nurses who are in greater contact with the patient to develop a burnout syndrome. We conclude that there is a need for further research on the syndrome, especially in oncology sector, highli-ghting the working conditions of these professionals and a focusing the physical and mental health of the workers.

    KEYWORDS

    Burnout. Nurses. Oncology.

    RESUMEN

    El sndrome de desgaste es una forma de respuesta a la tensin de trabajo crnica, que es una condicin en la que el trabajador lleva y abandona, en que pierde significado y la satisfaccin en el trabajo. El presente estudio tuvo como objetivo analizar los artculos cien-tficos que se ocupan de la presencia del sndrome de burnout en enfermeras que trabajan en una sala de oncologa. Esta es una encuesta de la revisin bi-bliogrfica realizada con artculos integradoras sitios a travs de la naturaleza cientfica de los descripto-res indexados: Sndrome de Burnout, enfermeras, oncologa. A travs de ste estudio se encontr que el hospital y los sitios del sector de oncologa estn generando grandes cargas de estrs y los factores que predisponen a los profesionales, especialmente de enfermeras que estn en mayor contacto con el paciente para desarrollar un sndrome de burnout. Llegamos a la conclusin de que hay una necesidad de ms investigacin sobre el sndrome, sobre todo en el sector de la oncologa, dice que las condiciones de trabajo de estos profesionales y un enfoque en los tra-bajadores de la salud fsica y mental.

    PALABRAS CLAVES

    Burnout. Enfermeras. Oncologa.

    1 INTRODUO

    A enfermagem considerada a arte do cuidar, uma vez que os enfermeiros so profissionais que permanecem maior tempo junto ao paciente, dentro dos diversos con-textos do cuidar, prestando-lhe o cuidado integral. Contu-do, o ambiente hospitalar, talvez traga consigo impactos sade do trabalhador, manifestando-se tanto na esfera fsica, como na psquica. Alm disso, o contato prximo com o paciente pode gerar conflitos emocionais, possi-bilitando ao profissional de enfermagem um sofrimento psquico (et al., 2012).

    O exerccio profissional no mbito hospitalar marcado por mltiplas exigncias: lidar com dor, sofrimento, morte e perdas, a que se somam as condies desfavorveis de trabalho e a baixa re-munerao, fatores que, em conjunto, propiciam a emergncia de estresse e burnout, termo criado para descrever o desgaste fsico e psquico de pro-fissionais que lidam no exerccio de suas funes, com altos nveis de envolvimento emocional. O se-tor de oncologia porta uma particularidade, que

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    so as representaes do cncer, fortemente asso-ciadas ideia de morte (AVELLAR; IGLESIAS; VAL-VERDE, 2007).

    Estar/assistir a um indivduo com cncer, embora recompensador, tanto pelos benefcios que podemos propiciar ao paciente como pelos que ele pode ofere-cer ao profissional, como indivduos e cuidadores, faz refletir sobre valores, projetos de vida, medos, sonhos, atitudes e consequncias do que j se fez ou poderia ter sido feito, enfim, abre a porta para um turbilho de emoes que nem sempre deseja-se viver em determi-nados momentos da vida (CAMPOS, 2005).

    A Sndrome de Burnout uma forma de resposta ao estresse laboral crnico, sendo esta uma condio na qual o trabalhador se desgasta, e desiste, na me-dida em que perde a satisfao e sentido pelo traba-lho (MATUBARO et al., 2010). J de acordo com Codo e Menezes (2002) definida como uma condio na qual o trabalhador perde o sentido da sua relao com o trabalho, de forma que as coisas j no importam mais e qualquer esforo lhe parece ser intil. Tambm apontam que a sndrome entendida como um con-ceito multidimensional que envolve trs componen-tes: (1) exausto emocional, (2) despersonalizao e (3) falta de envolvimento pessoal no trabalho.

    Esta sndrome manifesta-se por meio de quatro classes sintomatolgicas, sendo: fsica, quando o

    trabalhador apresenta fadiga constante, distrbio do sono, falta de apetite e dores musculares; psquica observada pela falta de ateno, alteraes da mem-ria, ansiedade e frustrao; comportamental, identifi-cada quando o indivduo apresenta-se negligente no trabalho, com irritabilidade ocasional ou instantnea, incapacidade para concentrar-se, aumento das rela-es conflitivas com os colegas, longas pausas para o descanso, cumprimento irregular do horrio de tra-balho; e defensiva, quando o trabalhador tem tendn-cia ao isolamento, sentimento de onipotncia, empo-brecimento da qualidade do trabalho e atitude cnica (JODAS; HADDAD, 2008).

    A motivao desta pesquisa ocorreu devido ao grande desgaste fsico e emocional dos enfermeiros que trabalham no setor oncolgico, presenciado no decorrer dos estgios da graduao e ps-graduao da enfermagem.

    Por ser pouco conhecida pelos profissionais de sade, h necessidade de maiores estudos sobre a Sndrome de Burnout, visto que quando os traba-lhadores desconhecem as manifestaes e causas desse fenmeno, no buscam formas efetivas de preveno ou interveno. Desta Maneira, o pre-sente estudo teve como objetivo analisar por meio da reviso de literatura a presena da Sndrome de Burnout em profissionais de sade no setor de on-cologia.

    2 MTODO

    O presente estudo definido como descritivo, de natureza qualitativa em uma pesquisa integrativa. A abordagem qualitativa uma pesquisa que recupera o conhecimento cientfico acumulado sobre o pro-blema, proporciona maior familiaridade, feita por le-vantamento bibliogrfico ou entrevista, descritiva e as informaes obtidas no podem ser quantificveis (RODRIGUES, 2007).

    Para o estudo de reviso integrativa buscaram-se artigos, livros e revistas cientficas acerca da Sndro-me de Burnout em enfermeiros do setor oncolgico, operacionalizado mediante busca eletrnica de ar-tigos indexados nas seguintes bibliotecas virtuais: SCIELO Scientific Electronic Library Online (http://www.scielo.org) e LILACS Literatura Latino Ame-ricana e do Caribe em Cincias da Sade (http://li-

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    lacs.bvsalud.org/), BVS- Biblioteca Virtual em Sade (http://bases.biereme.br).

    Primeiramente as obras foram pesquisadas, armaze-nadas e em seguida, realizada a pr-seleo com critrio de incluso artigos que continham os descritores: Sndro-me de Burnout (SB), Enfermeiros e Oncologia, e com per-odo de publicao entre o ano de 1996 a 2013, disponveis

    na base de dados em lngua portuguesa. Foram excludos os trabalhos que no apresentavam relao com o objeto de estudo, que no estavam disponveis on-line, e que no estiveram dentro do perodo de tempo delimitado.

    Na coleta de dados foram localizados 22 artigos para discusso. O material selecionado foi organizado na tabela a seguir (tabela 1).

    TABELA 1 Relao quantitativa de obras sobre a temtica, levantadas em ambiente virtual em 2013

    TIPO MATERIALFONTE

    PESQUISADA ANOQUANTIDADE DE ARTIGOS

    TIPO ESTUDO TOTAL

    Artigos Scielo :10Site Unifra: 01Site Ufpa: 01Site Aprendizagem Significativa: 01Revista eficaz: 01BVS: 01Revista Proteo: 01

    2002:2005:2007: 2008:2009:2010:2011:2012:

    0202020103020102

    RB: 06PC: 08MTO: 02

    16

    Manuais e Outros Site MS: 01Site UCG: 01

    20012010

    0101

    PC: 01RB: 01

    02

    Teses BVS: 01Site Repositrio Aberto: 01Site UNIRIO: 01

    2005:20102007

    010101

    PC: 02MTO: 01

    03

    Legenda: RB: Reviso Bibliogrfica PC: Pesquisa de CampoMTO: Misto (possuem os dois tipos de estudo)MS: Ministrio da SadeUCG: Universidade Catlica de GoisUNIFRA: Centro Universitrio FranciscanoUFPA: Universidade Federal do ParUNIRIO: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

    Aps a anlise da literatura foram selecionadas, na base de dados e leitura sistemtica, duas categorias. A primeira relacionada a aspectos histrico e social da

    Sndrome de Burnout e a segunda referente ao estres-se, esgotamento profissional e ambiente de trabalho na Enfermagem Oncolgica, que sero explicadas a seguir.

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    3 RESULTADOS E DISCUSSES

    3.1 ASPECTOS HISTRICO E SOCIAL DA SNDROME DE BURNOUT

    O termo burnout consiste em uma conjuno entre burn e out, ambas as palavras da lngua inglesa, onde a primeira significa arder, queimar, enquanto a segunda se refere a fora, para fora (MICHAELIS, 1989). Portanto, o significado literal para burnout em portugus queimar para fora. Porm, sua traduo mais bem expressada pela palavra esgotamento.

    O primeiro autor a descrever e conceituar a Sn-drome de Burnout foi Freudenberger, em 1974. Con-tudo, foram Maslach & Jackson que, ainda no final da dcada de 1970 e incio dos anos 1980, elaboraram tanto um modelo terico quanto um inventrio para a mensurao da sndrome (SOUZA; SILVA, 2002).

    Inicialmente foi diagnosticado em indivduos que pertencem s chamadas profisses de ajuda (helping professions). Advogados, professores, assistentes so-ciais, dentistas, enfermeiros e mdicos so exemplos desse tipo de profisses, que se caracterizam por constantes relaes interpessoais, bem como pela necessidade do profissional em promover avanos de ordem biolgica, psicolgica, social, intelectual e/ou financeira em seu cliente/paciente/aluno (PIRES; BRANDO; MACHADO, 2005).

    O estudo da literatura internacional indica que no existe uma definio nica sobre Burnout, mas consenso at os estudos hoje desenvolvidos que seria uma resposta ao stress laboral crnico, no devendo, contudo ser confundido com stress. O primeiro envolve atitudes e condutas negativas com relao aos usurios, clientes, organizao e trabalho; assim, uma experincia subjetiva, en-volvendo atitudes e sentimentos que vm acarretar problemas de ordem prtica e emocional ao traba-lhador e organizao. O conceito de stress, por outro lado, no envolve tais atitudes e condutas,

    um esgotamento pessoal com interferncia na vida do indivduo e no necessariamente na sua relao com o trabalho (CODO; MENEZES, 2002).

    A Sndrome de Burnout (SB) constitui-se de trs dimenses: Exausto Emocional, Despersonalizao e Baixa Realizao Profissional. A Exausto Emocio-nal se caracteriza por uma falta ou carncia de ener-gia, entusiasmo e um sentimento de esgotamento de recursos. A Despersonalizao caracteriza-se por tra-tar os clientes, colegas e a organizao de forma dis-tante e impessoal. A Baixa Realizao Profissional a tendncia do trabalhador em se autoavaliar de forma negativa. As pessoas se sentem infelizes e insatisfei-tas com seu desenvolvimento profissional e experi-mentam um declnio no sentimento de competncia e xito no trabalho (CARLOTTO, 2011 apud MASLACH; SCHAUFELI; LEITER, 2001).

    A SB vem sendo considerada problema de sade pblica, devido a suas implicaes para a sade f-sica e mental do trabalhador, com evidente compro-metimento de sua qualidade de vida no ambiente de trabalho, e ainda constitui um dos grandes proble-mas psicossociais da atualidade, e reflete o modo de vida capitalista, baseado na lgica dos meios de produo e do consumo desenfreado (SILVA, DIAS, TEIXEIRA, 2012).

    Ainda que o termo Burnout no esteja to disseminado e popularizado quanto o Estresse, ele precisa ser considerado como um problema internacional, no sendo um privilgio de uma especfica realidade social, educacional ou cultural. uma sndrome que vem acometendo os trabalhadores desde o final do sculo passado e continua neste novo milnio. preciso compreender que as transformaes no mundo do trabalho implicaram, tambm, mudanas nas relaes sociais e de traba-lho, afetando o bem-estar fsico e mental dos traba-lhadores e dos grupos sociais dos quais eles fazem parte (MUROFUSE; ABRANCHES; NAPOLEO, 2005).

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    CAMPOS (2005) Define que a Sndrome est inserida na Lista de Doenas Relacionadas ao Trabalho com a denominao de Sensao de Es-tar Acabado Sndrome de Burnout ou Sndrome do Esgotamento Profissional CID- 10, Z73.0. A lista organizada segundo grupos de patologias ou processos mrbidos da Classificao Interna-cional das Doenas e consta da dcima reviso, aprovada pela Portaria/MS no 1.339/1999. As doenas so organizadas em um sistema de du-pla entrada, por doena ou por agente etiolgico ou por fator de risco de natureza ocupacional. A Sndrome de Burnout est inserida no Grupo V, nos Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionado ao Trabalho.

    Esta doena j reconhecida como doena rela-cionada ao trabalho, sendo contemplada na Lista B do Regulamento da Previdncia, estabelecido pelo Ministrio da Previdncia e Assistncia Social do Bra-sil (Ministrio da Sade, 2001).

    Em uma pesquisa realizada pela International Stress Management Association do Brasil (ISMA--BR) com mil profissionais de So Paulo e Porto Alegre, com idades entre 25 a 60 anos, revela que no Brasil o problema atinge 30% da Populao Economicamente Ativa (PEA). Os dados mostram ainda que, dos 30% dos entrevistados que sofrem de Burnout, 94% se sentem incapacitados para trabalhar; 89% praticam presentesmo o que significa que esto presentes no trabalho, mas no conseguem realizar as tarefas propostas e 47% sofrem de depresso. O estudo fez ainda um comparativo do desempenho profissional de um portador de Burnout com o dos demais trabalha-dores: em mdia, de menos cinco horas. Entre os sintomas de Burnout que mais incomodam, 93% alegam a exausto; 86%, a irritabilidade; 82% a falta de concentrao; e 74% enfatizam a dificul-dade de relacionamento no ambiente profissional (O GLOBO ONLINE, 2010).

    3.2 ESTRESSE, ESGOTAMENTO PROFISSIONAL E AMBIENTE DE TRABALHO NA ENFERMAGEM ONCOLGICA

    A enfermagem responsvel pelo maior contin-gente da fora de trabalho dos estabelecimentos hos-pitalares, com responsabilidade pela assistncia nas 24 horas, configurando-se como o conjunto de traba-lhadores que mais sofre com as inadequadas condi-es de trabalho e com a insalubridade do ambiente (COSTA; VIEIRA; SENA, 2009).

    O ambiente hospitalar funciona como gerador de estresse tanto aos pacientes e seus familiares, devido enfermidade e situao de internao, quanto aos profissionais que ali atuam, com isso o profissional suscetvel ao fenmeno do estresse ocupacional (SIL-VA; DIAS; TEIXEIRA, 2012).

    Assim este ambiente o local em que o enfermeiro fica exposto a riscos biolgicos e qumicos, sofre forte carga emocional e fsica, atua em horrios atpicos, com longas jornadas de trabalho, insuficincia de funcionrios, carncia de materiais e equipamentos, baixos salrios, sem autonomia e motivao (CINTRA et al., 2009). Com isso Nogueira (2007) em sua pes-quisa sobre causas de afastamentos do trabalho por adoecimento do profissional de enfermagem do am-bulatrio de uma instituio oncolgica em um hospi-tal do Rio de Janeiro, afirma que o ambiente de traba-lho do enfermeiro oncologista o hospital, com isso importante notar que a dinmica organizacional do trabalho em hospitais gera grande tenso ocupacio-nal, sendo necessrio monitorar periodicamente a sade mental e fsica desses trabalhadores (MATU-BARO et al., 2010).

    No entanto, no podemos deixar de apontar as dificuldades dos profissionais da rea hospitalar na lida diria com o sofrimento humano. Acredita-se que estas dificuldades se superlatizam quando transpor-tadas para os servios de atendimento a pacientes crticos ou com doena crnico-degenerativa que os

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    obrigam a longos perodos de internao ou a vrios retornos ao hospital como o caso dos pacientes on-colgicos (FERREIRA, 1996).

    O setor oncolgico, de fato, um local carregado de fatores desencadeantes de estresse e outras alte-raes emocionais (VIANA, 2010). A rotina neste setor descrita como acelerada, com mltiplas demandas, resultantes de um ambiente de trabalho tido como desgastante e muito estressante. Aps algum tempo o trabalhador j no se reconhece como era ante-riormente ao ingresso no setor oncolgico, como se surgisse um sentimento de despersonalizao, resul-tante de sua insatisfao com a funo que exerce e com o lugar em que est inserido (AVELAR; IGLESIAS; VALVERDE, 2007).

    A Enfermagem foi classificada pela Health Edu-cation Authority como a quarta profisso mais es-tressante. Alm disso, encontra dificuldades em delimitar os diferentes papis da profisso e, conse-quentemente, a falta de reconhecimento ntido entre o pblico, elevando a despersonalizao do trabalha-dor em relao profisso (JODAS; HADDAD, 2009).

    A profisso de enfermagem e seus trabalhadores so caracterizados por terem, em sua essncia, o cuidado; tendo um contato direto com pacientes e familiares, ou seja, lidam, constantemente, com pessoas com as mais diversas concepes e cultura. Esse tipo de relao con-tribui fortemente para a gnese do estresse laboral. A sndrome surge nos profissionais de enfermagem de todo o mundo, em diferentes contextos de trabalho, le-vando-os a desenvolverem sentimentos de frustrao, frieza e indiferena em relao s necessidades e ao sofrimento dos doentes (SILVA; DIAS; TEIXEIRA, 2012).

    Para Carlotto (2011, apud Gil-Monte 2002) re-lata que apesar de um aumento no nmero de pro-fissionais homens nas equipes de enfermagem, a profisso, ainda, tradicionalmente vinculada ao gnero feminino em virtude das suas caractersticas de cuidado. Entretanto na pesquisa feita pelo autor

    mencionado acima, com tcnicos de enfermagem em trs hospitais de Porto Alegre. Observou-se que com relao s variveis sociodemogrficas, que mulheres apresentaram maior exausto emocional, desperso-nalizao e menor realizao profissional, sintomas que so observados na Sndrome de Burnout. Con-tudo na reviso bibliogrfica feita por Viana (2010) constatou-se que a maioria dos profissionais atuantes no setor oncolgico formada por mulheres e que no escolheram atuar nesse setor, elevando assim fatores contribuintes para o sofrimento emocional, e conse-quentemente apresenta fator de risco para o apareci-mento desta Sndrome.

    Os profissionais de sade, em particular, os en-fermeiros esto predispostos a desenvolver Burnout pelas caractersticas do seu trabalho: trabalham dire-tamente e intensamente com pessoas em sofrimen-to. Dentre os profissionais de sade so os que mais tempo passam com os pacientes nas unidades de internamento ou de tratamento em ambulatrio. Em particular, os enfermeiros que trabalham nos setores da oncologia, muitas das vezes, se sentem esgotados pelo fato de darem muito de si aos seus doentes e em compensao, pelas caractersticas da doena, rece-berem muito pouco (CUMBE, 2010).

    O exerccio da enfermagem em oncologia requer atividades de controle e exerccio mental maiores que em outras reas, uma vez que implica lidar com doen-a grave, cuidar de pacientes fora de possibilidades teraputicas e terminais, a necessidade de cuidados intensivos e, tambm, prolongados e a elevada pro-ximidade com a famlia, com vivncia de situaes emocionais desgastantes para o profissional. Esses fatores considerados estressantes pelos enfermeiros, que atuam em oncologia devem ser considerados po-tenciais desencadeadores da sndrome de Burnout (RODRIGUES; CHAVES, 2008).

    Para os profissionais da enfermagem atuante no setor oncolgico, o cuidar transpe a teraputica, causando assim um esforo subumano por parte do

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    cuidador, que lida com seus limites emocionais em seu cotidiano. Inmeros so os fatores que levam a equipe de enfermagem a desenvolver o estresse no setor em que atua, como o desgaste emocional devido o sofrimento psquico adquirido com fatores de oni-potncia frente morte, o sofrimento dos familiares e pacientes e o estigma do cncer, so fatores que le-vam o cuidador a desenvolver no somente o estresse ocupacional, mas tambm vrias outras patologias que colocam em risco a sade fsica e mental desse cuidador (VIANA, 2010).

    Em sua pesquisa bibliogrfica o mesmo autor afirma que so poucos profissionais que escolhem atuar em setores crticos, a oncologia conside-rada crtica por ser um setor que lida diariamente com o sofrimento de pacientes sem probabilidade teraputica, e com sobrecarga emocional, mas este fato deve ser levado em considerao quan-do o cuidador designado para atuar neste setor, caso contrrio ser um estressor com grande po-tencial na vida do individuo.

    Uma pesquisa feita por Avellar; Iglesias; Valverde (2007) com profissionais de enfermagem que tra-

    balham em uma unidade oncolgica retrataram os sentimentos relatados por estes, onde vivenciaram momentos de tristeza, vivncias de mal-estar, senti-mento de impotncia e depresso.

    No entanto, mais do que relatar sentimentos, o que ocorreu com frequncia foi a tentativa de fa-zer com os sentimentos citados acima no apare-cessem na vida profissional destes trabalhadores. O envolvimento com o paciente percebido como algo desgastante, especialmente nos casos em que a possibilidade de cura remota; traduz-se em sen-timentos de impotncia, frustrao, tristeza e cha-teao. A estratgia de no se apegar ao paciente leva a um conflito, em decorrncia de, muitas ve-zes, no se obter xito nesta tarefa.

    Em um estudo realizado por Ramalho; Martins (2007) com diversos profissionais (dois mdicos, um secretrio, um psiclogo, um farmacutico, um en-fermeiro e trs auxiliares de enfermagem) que atuam numa clnica de oncologia peditrica, apontou como fontes de estresse as dificuldades da organizao do trabalho, bem como as caractersticas da doena, seu tratamento e a morte de crianas.

    4 CONCLUSO

    Diante do estudo bibliogrfico realizado, obser-vou-se que a Sndrome de Burnout pouco conhecida pelos profissionais de sade, e existem na literatura poucos artigos sobre esta patologia, principalmente quando foca na profisso de enfermagem, e na rea de oncologia, e ainda verificaram estudos recentes sobre este tema, sendo a maioria com publicaes dos ltimos 15 anos.

    Sugere que sejam realizadas pesquisas poste-riores com foco na rea de oncologia, j que Via-na (2010) afirma que o setor oncolgico, de fato, um local carregado de fatores desencadeantes de

    estresse e outras alteraes emocionais, conside-rando assim um ambiente favorvel para o apareci-mento de Burnout.

    Outra varivel encontrada nos estudos foi que os indivduos de profisses de ajuda, como o caso da enfermagem que esto em contato direto com o paciente, so especialmente suscetveis a altas ta-xas de Burnout, principalmente aqueles que traba-lham em instituies hospitalares, Afinal, a sade laboral dos profissionais de sade pode repercutir tanto na qualidade da ateno prestada como no seu grau de formao.

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    Por isso propem-se estudos futuros com o profis-sional Enfermeiro e que as instituies estejam mais preocupadas com a qualidade de vida, o bem-estar e a sade fsica e mental de seus colaboradores devido

    ao fato de que o Burnout produz srias repercusses, tanto no mbito laboral como pessoal, proporcionan-do a estes suportes, fsico e psicolgico, para prevenir o desenvolvimento desta patologia.

    REFERNCIAS

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    Recebido em: 2 de Agosto de 2013Avaliado em: 20 de Agosto de 2013Aceito em: 28 de Novembro de 2013

    1 Possui graduao em Enfermagem pela Universidade Tiradentes (2011). Est cursando Ps Graduao em Enfermagem Oncolgica pela Universida-de Tiradentes. Atua como Enfermeira no Centro de Ateno Psicossocial- CAPS I- No municpio de Neoplis-Se. [email protected]

    2 Bacharel em Enfermagem com ttulo de Licenciatura em Enfermagem pela Universidade Federal Fluminense (UFF);Especialista em Enfermagem Cardiolgica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Mestran-da em Sade e Ambiente pela Universidade Tiradentes. Colaboradora da Sociedade de Terapia Intensiva de Sergipe (SOTISE).Responsvel pelo pro-jeto de extenso X Piolho. [email protected]