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ANÁLISE E MENSURAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO: O MODELO EM USO NO BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL – BNDES Revista de Contabilidade do Mestrado em Ciências Contábeis da UERJ – v.8, n.1, 2003, p.21 Maria Elena Gava Reddo Alves Mestre em Ciências Contábeis pela FAF/UERJ Fernando Pereira Tostes Doutor em Contabilidade pela FEA/USP RESUMO Até a implantação do Plano Real, as elevadas taxas de inflação inibiam o crescimento do mercado de empréstimos. As operações de crédito que tinham componentes de risco eram, basicamente, constituídas por operações de curtíssimo prazo, cuja análise do risco, em muitos casos, resumia-se na avaliação das garantias oferecidas e no exame de referências cadastrais. As mudanças ocorridas na economia brasileira a partir de então, aliadas ao interesse em acompanhar a prática internacional, estimularam a criação e utilização de sistemas de avaliação e administração do risco de crédito. As grandes instituições financeiras passaram a desenvolver e implementar técnicas de avaliação e mensuração do risco de crédito, atribuindo “ratings”, que representam a opinião sobre a capacidade de cumprimento dos compromissos financeiros. O rating de um título é um dos fatores que se considera na formação da taxa de juros e é utilizado para avaliar empresas, países ou operações relacionadas a pagamentos futuros. Desde 1993, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BNDES desenvolveu um modelo de classificação de risco de crédito, o qual vem sendo utilizado para aferir o nível de risco das empresas, orientar suas decisões de crédito e precificar suas operações. Neste trabalho é apresentado o modelo adotado pelo BNDES, a descrição de seu processo de elaboração, os indicadores utilizados e em que medida a Ciência Contábil a contribuiu para o seu desenvolvimento. Palavras-chave: Risco de Crédito, Classificação de Risco, Central de Risco de Crédito, Matriz Quantitativa, Matriz Qualitativa, Parametrização Estatística, Escalas de Risco, Precificação de Empréstimos. ABSTRACT Prior to the implementation of the Real Plan, the high inflation rates weakened the growth of the credit market. Credit operations that carried risk components were basically made on a very short-term basis. In many cases, in order to be able to appraise this risk factor, an evaluation of guarantees had to be performed, as well as an examination of record references. The changes witnessed in the Brazilian economy since then, combined with the concern of following international practices have stimulated a more sophisticated creation and use of evaluation systems and credit risk administration. Big financial institutions started to develop and implement evaluation techniques and assessment of the credit risk attributing “ratings” that represented their opinions about the capacity of accomplishment of financial commitment. A bond´s rating is one of the factors that is considered in the formation of the interest rates and is used to evaluate companys, countries or operations related to future payments.

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ANÁLISE E MENSURAÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO: O MODELOEM USO NO BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTOECONÔMICO E SOCIAL – BNDES

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  • ANLISE E MENSURAO DO RISCO DE CRDITO: O MODELO EM USO NO BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO

    ECONMICO E SOCIAL BNDES

    Revista de Contabilidade do Mestrado em Cincias Contbeis da UERJ v.8, n.1, 2003, p.21

    Maria Elena Gava Reddo Alves Mestre em Cincias Contbeis pela FAF/UERJ

    Fernando Pereira Tostes Doutor em Contabilidade pela FEA/USP

    RESUMO

    At a implantao do Plano Real, as elevadas taxas de inflao inibiam o crescimento do mercado de emprstimos. As operaes de crdito que tinham componentes de risco eram, basicamente, constitudas por operaes de curtssimo prazo, cuja anlise do risco, em muitos casos, resumia-se na avaliao das garantias oferecidas e no exame de referncias cadastrais.

    As mudanas ocorridas na economia brasileira a partir de ento, aliadas ao interesse em acompanhar a prtica internacional, estimularam a criao e utilizao de sistemas de avaliao e administrao do risco de crdito. As grandes instituies financeiras passaram a desenvolver e implementar tcnicas de avaliao e mensurao do risco de crdito, atribuindo ratings, que representam a opinio sobre a capacidade de cumprimento dos compromissos financeiros. O rating de um ttulo um dos fatores que se considera na formao da taxa de juros e utilizado para avaliar empresas, pases ou operaes relacionadas a pagamentos futuros.

    Desde 1993, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social BNDES desenvolveu um modelo de classificao de risco de crdito, o qual vem sendo utilizado para aferir o nvel de risco das empresas, orientar suas decises de crdito e precificar suas operaes.

    Neste trabalho apresentado o modelo adotado pelo BNDES, a descrio de seu processo de elaborao, os indicadores

    utilizados e em que medida a Cincia Contbil a contribuiu para o seu desenvolvimento.

    Palavras-chave: Risco de Crdito, Classificao de Risco, Central de Risco de Crdito, Matriz Quantitativa, Matriz Qualitativa, Parametrizao Estatstica, Escalas de Risco, Precificao de Emprstimos.

    ABSTRACT

    Prior to the implementation of the Real Plan, the high inflation rates weakened the growth of the credit market. Credit operations that carried risk components were basically made on a very short-term basis. In many cases, in order to be able to appraise this risk factor, an evaluation of guarantees had to be performed, as well as an examination of record references.

    The changes witnessed in the Brazilian economy since then, combined with the concern of following international practices have stimulated a more sophisticated creation and use of evaluation systems and credit risk administration. Big financial institutions started to develop and implement evaluation techniques and assessment of the credit risk attributing ratings that represented their opinions about the capacity of accomplishment of financial commitment. A bonds rating is one of the factors that is considered in the formation of the interest rates and is used to evaluate companys, countries or operations related to future payments.

  • Maria Elena Gava Reddo Alves e Fernando Pereira Tostes

    Revista de Contabilidade do Mestrado em Cincias Contbeis da UERJ v.8, n.1, 2003, p.22

    Since 1993, the Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES, National Bank for Economical and Social Development), created a classification model, which have been used to compare the level of risk, counsel credit decisions and assign a value to operations.

    In this study the model and the credit risk measurement utilized by BNDES is presented, describing its elaboration process, the financial indicators used and measures the contribution of Accounting Sciences for its development.

    Keywords: Credit Risk, Ratings, Risk Credit Central, Matrix Quantitative, Matrix Qualitative, Statistical Parameter, Risk Scale, Pricing.

    1 INTRODUO

    Um problema bastante comum enfrentado pelas instituies financeiras a avaliar o risco de crdito com o mximo de objetividade possvel.

    Embora a anlise tradicional, baseada em ndices financeiros continue sendo utilizada para predizer situaes financeiras difceis, algumas instituies, procurando aproximar-se da prtica internacional, tm voltando suas atenes para o desenvolvimento de sofisticadas metodologias de mensurao e classificao de risco, como uma forma de graduar o potencial de perda de crdito. Essa classificao, chamada de rating, representada por um cdigo ou letra e tem por objetivo classificar o risco de instituies no cumprirem com suas obrigaes financeiras.

    Os riscos considerados de boa qualidade so chamados de investment grade (ou grau de investimento). Os investimentos especulativos, com maior possibilidade de calote, so os chamados speculative grade.

    Essa avaliao importante porque muitos investidores institucionais - fundos de penso e companhias de seguros, por exemplo -, estabelecem como regra vetar ou limitar

    investimentos abaixo de certa classificao (basicamente o investment grade), ou fixar porcentagem mnima do capital a ser alocada em ativos de baixo risco.

    Neste trabalho, apresentamos a descrio do processo de desenvolvimento do modelo de anlise e mensurao do risco de crdito desenvolvido pelo BNDES, adequado sua cultura e realidade da economia brasileira e de que forma a Contabilidade contribuiu no fornecimento de informaes para a sua elaborao.

    2 O BNDES

    O Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social BNDES, autarquia federal criado em 1952, posteriormente transformado em empresa pblica em 1971, vinculado ao Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior.

    Diretamente, ou por meio de empresas subsidirias ou agentes financeiros repassadores de recursos (bancos comerciais, cooperativos, mltiplos, de desenvolvimento, de investimento e agncias de fomento), tem como atribuio, dentre outras, financiar, a longo prazo, empreendimentos que contribuam para o desenvolvimento do pas. A parceria com outras instituies financeiras permite a disseminao do crdito, possibilitando um maior acesso aos seus recursos.

    Desde a sua fundao, vem financiando a implantao, expanso e modernizao de atividades produtivas e de infra-estrutura, comercializao de produtos e servios no Brasil e no exterior, capacitao tecnolgica, treinamento de pessoal, formao e qualificao profissional e adequao fsica dos ambientes, possibilitando a acessibilidade universal s pessoas portadoras de deficincia nas micro, pequenas e mdias empresas.

    Empresas privadas nacionais e empresas estrangeiras, instaladas, com sede e administrao no pas podem obter financiamento no BNDES.

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    Os financiamentos realizados diretamente com o BNDES so operaes de FINEM (Financiamento a Empreendimentos) cujo valor mnimo de R$ 10 milhes e os relativos a empresas localizadas nas reas de abrangncia dos Programas Regionais1 cujas solicitaes de valor inferior sejam de, no mnimo, de R$ 1 milho. As demais operaes de financiamento so realizadas somente atravs de instituies financeiras credenciadas

    Destaca-se tambm, no apoio aos investimentos sociais direcionados para a educao e sade, agricultura familiar, saneamento bsico e ambiental e transporte coletivo de massa.

    Pessoas fsicas domiciliadas e residentes no pas tambm podem ser financiadas, desde que includas em casos especficos (produtor rural, em operaes realizadas por intermdio de instituies financeiras credenciadas e programas de financiamento que se aplicam ao setor; transportador rodovirio de carga, comprovadamente autnomo, para a aquisio de chassis de caminho/carrocerias (CMT superior 4,5 t) - atravs da linha de financiamento FINAME, tambm operacionalizada somente por instituies financeiras credenciadas e micro-empreendedor, formal ou informal, atravs do Programa de Crdito Produtivo Popular). Nesse Programa, as operaes so negociadas e contratadas com instituies de micro-crdito, como Organizaes No Governamentais - ONG, Sociedades de Crdito aos Micro-empreendedores - SCM ou Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico - OSCIP que se encarregam de repassar os recursos ou

    1 Tm por objetivo elevar os nveis de investimentos nas

    reas menos desenvolvidas do pas, visando a atenuao dos desequilbrios regionais. Os empreendimentos localizados nas reas de abrangncia desses Programas, tm melhores condies financeiras do que as normalmente praticadas pelo BNDES. Alm disto, para as operaes FINEM, de valor igual ou superior a R$ 1 milho, admite-se o acesso ao crdito diretamente no BNDES. Ver www.bndes.gov.br/produtos/financiamento/regional.asp

    realizar financiamento s pessoas fsicas e pessoas jurdicas.

    3 O CRDITO NO BRASIL

    Anteriormente implantao do Plano Real, as elevadas taxas de inflao inibiam o crescimento do mercado de emprstimos. Em razo da exposio ao risco, as instituies financeiras preferiam financiar a dvida interna do pas a emprestar ao setor privado. O desempenho das instituies financeiras era resultado de operaes com ttulos pblicos, ganhos inflacionrios e operaes de crdito de curto prazo (em geral operaes de hot money emprstimos de curtssimo prazo para atender operaes tambm de curtssimo prazo, como, por exemplo, a cobertura de uma folha de pagamento no 5 dia de um determinado ms, quando a empresa espera nos prximos 5 dias a entrada de recursos suficientes para liquidar o emprstimo). Com isso, as instituies financeiras no realizavam operaes de mdio e longo prazo, o que acabou contribuindo para a perda da cultura do risco.

    Em mercados desenvolvidos comum a utilizao de sistemas de classificao de risco, atribuindo ratings, sendo este um dos fatores que se considera na formao da taxa de juros e utilizado para medir empresas, pases ou operaes que envolvam compromissos de pagamentos futuros.

    A utilizao de um cdigo ou letra para graduar a qualidade do crdito e a obrigatoriedade de classificao das carteiras de crdito exigida pelo Banco Central do Brasil, atravs da Resoluo 2.682/99, facilitou a disseminao dos ratings e certamente refletir no aumento da demanda pelas classificaes de risco.

    4 O MODELO DESENVOLVIDO PELO BNDES

    Antecipando-se tendncia, no final de 1993, o BNDES desenvolveu o Sistema de

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    Classificao de Risco (SCR), que vem sendo utilizado para orientar decises relacionadas ao processo de crdito. Envolve o acolhimento dos pleitos para anlise tcnica, fixao da taxa de risco, flexibilizao de garantias e concesso de limites de crdito, dentre outros.

    A classificao de risco realizada pela rea de Crdito, previamente anlise do projeto, a qual efetuada pela rea Operacional. Aps a aprovao do Comit de Crdito, a classificao do risco utilizada como balizadora para decises de crdito.

    5 O PROCESSO DE AVALIAO

    A avaliao do risco est relacionada disponibilidade de informaes. Como nem a legislao societria nem a fiscal exigem que as empresas de capital fechado publiquem seus demonstrativos contbeis, muitas vezes esses dados no se encontram prontamente disponveis. Na maioria dos casos, essas informaes somente so encontradas em demonstrativos auditados por empresas independentes, com a fidedignidade e transparncia que a prudncia recomenda. Nessas situaes, o BNDES exige a apresentao de Balano Patrimonial assinado pelo Gerente e pelo Contador, Parecer de Auditores Independentes, Relatrio da Diretoria e Relatrio de Controles Internos.

    O Relatrio de Controles Internos um relatrio emitido pelos auditores independentes apontando, se houver, os pontos fracos observados nos trabalhos de auditoria, as possveis conseqncias e as medidas que devem ser tomadas pela Alta Administrao para aperfeio-los.

    Em geral, os postulantes a apoio financeiro relutam em fornec-los, na medida em que evidenciam importantes informaes relacionadas aos riscos operacionais envolvidos, nas diferentes reas da empresa.

    Alm desses documentos, o BNDES ocasionalmente solicita dados adicionais, que,

    em funo de sua qualidade, pode acarretar no rebaixamento da classificao.

    6 O EMBASAMENTO

    Previamente ao desenvolvimento do modelo, os tcnicos do BNDES fizeram o levantamento da bibliografia existente e realizaram visitas a diferentes instituies no Brasil e no exterior: bancos, corretoras, agncias independentes de classificao de risco, agncias de informaes cadastrais e consultoras de sistemas e bancos de dados. Tinham como objetivo reunir conhecimento para dar incio ao desenvolvimento do modelo, composto pela avaliao cadastral, matriz de fatores de risco quantitativos e matriz qualitativa.

    Foram desenvolvidos modelos de anlise abrangente e sumria. Quando o BNDES recebe as informaes necessrias da empresa, o modelo de anlise sumria permite elaborar, em duas semanas, uma classificao de risco com alto nvel de confiabilidade. O modelo de anlise abrangente um instrumento com maior preciso e aplica-se nos casos que envolvam risco de maior valor, e exige anlises mais aprofundadas e avaliaes de carter prospectivo.

    7 AVALIAO CADASTRAL

    A avaliao cadastral diz respeito ao carter do devedor e fornece dois tipos de dados: as evidncias objetivas e as evidncias subjetivas. As objetivas so obtidas junto ao mercado (cartrios de distribuio, instituies de crdito, clientes, fornecedores e agncias de informaes cadastrais), e, quando negativas, so representadas por informaes sobre protestos de ttulos, registros de participaes em concordatas ou falncias. Nem sempre a existncia de ressalvas cadastrais se configura numa restrio ao carter, pois h circunstncias em que o devedor est

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    predisposto a honrar sua dvida, mas no tem condies de faz-lo.

    As evidncias subjetivas so obtidas atravs do relacionamento direto com o interessado, podendo configurar-se fator restritivo a percepo do analista de crdito, da existncia de forte tendncia do tomador a assumir elevados riscos ou apresentar comportamento atico.

    8 MATRIZ DE FATORES QUANTITATIVOS

    A matriz quantitativa composta por cinco indicadores econmico-financeiros extrados dos demonstrativos contbeis.

    Baseados em sua utilidade, contribuio esperada e segurana preditiva, estabeleceu-se critrios para a seleo dos indicadores, considerando o conjunto dos indicadores mais usados, segregados por suas caractersticas: os indicadores primrios foram separados dos secundrios, os estticos dos dinmicos e os genricos dos setoriais.

    Com essa classificao buscou-se atribuir maior importncia a certos ndices do que a outros e a escolha obedeceu aos seguintes critrios:

    - Os indicadores primrios ou causais (Contas a Receber/Vendas, por exemplo) seriam privilegiados na composio da matriz, por refletirem valores que influenciam na situao da empresa quando comparados aos secundrios ou de efeito (Ativo Permanente/Vendas, por exemplo).

    O objetivo verificar os fatores determinantes do desempenho da empresa.

    - Os indicadores dinmicos demonstram a situao de um determinado perodo (Rotao de Estoques expressos em dias:

    EstoquesCusto da Mercadoria Vendida/360 , por exemplo), enquanto que os indicadores

    estticos refletem uma situao pontual (Endividamento de Curto Prazo = Passivo Circulante

    Ativo Total ).

    Assim, de forma a ter maior segurana com relao s tendncias, os primeiros teriam um peso maior.

    - Entre os indicadores setoriais e genricos, estes deveriam ser privilegiados, de forma a avaliar o risco de crdito da empresa, independente do segmento em que atua. Comparando-se duas empresas, sendo uma de capital intensivo e baixa rotao do ativo imobilizado e outra intensiva em mo-de-obra e alta rotao do ativo imobilizado, verifica-se que a rotao do

    ativo operacional ( Vendas LquidasAtivo Operacional ) tipicamente setorial enquanto o indicador

    de rentabilidade do PL (Lucro LquidoPL Mdio ) um indicador genrico.

    Os indicadores foram submetidos a um tratamento estatstico (medidas de tendncia central: mdia, mediana e moda e medidas de disperso), de forma a verificar seu comportamento em termos de tendncia global, setorial e evolutiva, e selecionados os indicadores considerados mais importantes.

    Foi realizado um processo de ponderao, que resultou na atribuio de maior peso para os indicadores de elevado poder explicativo, ficando caracterizado, que a escolha dos indicadores arbitrria, configurando a subjetividade do processo. Como se pode observar e como afirma Shirata em seu trabalho Financial Ratios as Predictors of Bankruptcy in Japan: An Empirical Research, o mtodo usado para selecionar variveis no est claro. difcil obter a melhor srie de variveis numa nica tentativa usando mtodos estatsticos.

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    9 INDICADORES ESCOLHIDOS

    Os indicadores escolhidos e considerados os mais apropriados para vincular o risco de crdito s caractersticas relativas estrutura de capitais ou gerao econmico-financeira foram os seguintes:

    a) Endividamento Geral - o risco de crdito relaciona-se diretamente ao nvel de endividamento geral; quanto maior o endividamento, maior o risco;

    b) Endividamento Financeiro O risco de crdito relaciona-se ao fato desse endividamento ser ou no oneroso;

    c) Liquidez Corrente O risco de crdito est relacionado ao nvel de endividamento, mas tambm pode ser influenciado pelo perfil de vencimento. Um ndice de liquidez corrente igual ou superior unidade qualifica favoravelmente a questo do prazo de vencimento da dvida no curto prazo.

    d) Rentabilidade do Patrimnio Lquido O risco de crdito est diretamente relacionado ao fato de a empresa estar gerando lucro em suas atividades operacionais. Nveis positivos de rentabilidade indicam a existncia de custo financeiro suportvel, pois desse resultado j esto deduzidos os juros incorridos;

    e) Alavancagem Financeira no longo prazo, o risco de crdito depende de uma situao em que a rentabilidade do capital prprio seja igual ou superior rentabilidade do capital total empregado. Esse indicador resultante da comparao da rentabilidade do capital prprio com a rentabilidade do capital total. A obteno de alavancagem maior que a unidade indica que a empresa consegue aumentar o lucro atravs de uma estrutura de financiamento;

    f) Cobertura de Financiamentos o risco de crdito ser menor, na medida em que

    estiver assegurado o pagamento da dvida com recursos financeiros gerados em suas atividades operacionais. Esse indicador obtido pela comparao do prazo mdio real dos financiamentos existentes por um prazo padro. Este obtido pela diviso do saldo de financiamentos pela gerao de recursos obtidos atravs das operaes normais e recorrentes do ltimo perodo.

    Na poca de desenvolvimento do modelo, existiam dois critrios para mensurao do desempenho com base em dados contbeis: pela legislao societria (LS) e pela correo monetria integral (CMI). Como o indicador de cobertura de financiamentos somente teria utilidade quando extrado de demonstrativos elaborados com base na CMI, a partir de 1995, houve sua excluso.

    10 PARAMETRIZAO ESTATSTICA

    Para a utilizao da matriz quantitativa torna-se necessrio estabelecer parmetros de desempenho, os quais sero usados como um referencial padro para comparao com os indicadores da empresa analisada. Por exemplo, determinar que a unidade seja o ndice mnimo de Liquidez Corrente considerado aceitvel.

    A parametrizao estatstica tem por objetivo estabelecer, para um determinado conjunto de indicadores econmico-financeiros, os limites que separam as diversas faixas de desempenho da empresa, a partir de uma amostra considerada representativa de um mercado-alvo. Nesta etapa, o analista da modelagem quem define se um determinado padro considerado bom, regular ou ruim.

    A amostra foi constituda por empresas de capital aberto, em razo de seu comprometimento com o mercado em termos de transparncia e apresentao de resultados, e contar com dados j criticados e padronizados, disponibilizados em meio eletrnico.

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    O processo de parametrizao estatstica foi realizado a partir de uma base de dados considerada representativa do universo de empresas nacionais e compreendeu:

    1. Distribuio por indicador: foi tabulada a distribuio de freqncia, sendo definidos, para cada indicador os dois pontos de corte (considerando uma distribuio regular: 30-40-30), que separam a amostra em trs grupos:

    a) Grupamento A, com bons resultados (por exemplo, rentabilidade do PL acima de 10%);

    b) Grupamento B, com resultados aceitveis (por exemplo, rentabilidade do PL entre 2% e 10%);

    c) Grupamento C, com resultados ruins (por exemplo, rentabilidade do PL abaixo de 2%).

    (Grupamento A = 3 pontos, B = 2 pontos e C = 1 ponto).

    2. Distribuio global: a aplicao simultnea dos pontos de corte obtidos na fase anterior, considerando dessa vez todos os indicadores, pode acarretar uma distribuio global inadequada.

    Por exemplo, ao se determinar os dois pontos de corte, espera-se obter uma distribuio 30% bons, 40% aceitveis e 30% ruins. Entretanto, pode ocorrer uma distribuio global inadequada: 10% bons, 70% aceitveis e 20% ruins, em funo de um comportamento setorial atpico. Por exemplo, uma situao em que todas as empresas de um determinado setor tenham lucros elevados ou prejuzos. Nesse caso, no se pode seguramente afirmar que as boas empresas so todas aquelas que apresentam a rentabilidade acima de 10% ou acima de zero. Assim necessrio flexibilizar os pontos de corte originalmente adotados. Esta , talvez, a maior dificuldade em determinados casos.

    3. Comportamento setorial: O objetivo de obter a melhor distribuio global deve considerar que, em situaes de normalidade estrutural e de obteno de resultados estveis e recorrentes, as medianas de todos os setores devem estar no grupamento B. Isso demonstrar a neutralidade dos indicadores e dos parmetros sob o aspecto setorial. As medianas relativas a setores com desempenho atpicos no devero estar dentro do grupamento B.

    4. Pontos de corte absolutos: Deve ser considerada a possibilidade de definir, de forma fundamentada, alguns pontos de corte absolutos, determinando um desempenho mnimo aceitvel. Nessa etapa fica patente a parte subjetiva do processo, quando se verifica que o analista de modelagem define, por exemplo, que a unidade ser aceita como coeficiente mnimo para o indicador de liquidez.

    5. Ajuste fino: Sucessivas rodadas de ajuste devem permitir a identificao dos melhores pontos de corte e da melhor distribuio da amostra, respeitados os pontos de corte absolutos previamente estabelecidos. (Esta uma parte bastante subjetiva. Relaciona-se a determinar, por exemplo, que a Rentabilidade do PL no pode ser inferior a zero, ou que a Liquidez Corrente no pode ser inferior a um).

    11 RESULTADOS

    Os resultados da parametrizao podem ser divididos em dois tipos:

    1) No primeiro, agrupam-se os resultados que auxiliam o processo de validao dos intervalos paramtricos Isso significa demonstrar, com base em uma amostra de empresas consideradas representativas, que os parmetros

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    adotados so adequados, de forma a obter um alto nvel de aceitao por parte dos analistas;

    2) No segundo, agregam-se informaes relativas ao comportamento evolutivo dos indicadores, do ponto de vista intra-setorial e intersetorial. Havendo disponibilidade de dados de empresas de 2 setores distintos durante um determinado perodo, possvel observar o comportamento evolutivo dos indicadores, comparando-se o desempenho de cada uma das empresas com a mdia do setor (viso intra-setorial); da mesma forma permite comparar o desempenho dos mesmos indicadores de um setor com o outro setor (viso inter-setorial).

    Atravs da anlise do comportamento futuro do risco das empresas e da associao da incidncia de inadimplncia e com as perdas esperadas realizada a validao dos intervalos.

    O acompanhamento dos indicadores por perodo de quatro anos levou concluso que apenas o de rentabilidade do patrimnio lquido apresentava fortes oscilaes, em face de seu numerador o lucro lquido ser um item de natureza residual.

    12 MATRIZ QUALITATIVA

    Essa matriz complementa a matriz quantitativa e compreende a avaliao de cinco fatores bsicos relativos estratgia, estrutura e capacitao (organizao), operao, tecnologia e mercado da pleiteante, avaliados pelo analista de risco a partir das informaes relevantes disponveis.

    A utilizao exclusiva de fatores quantitativos de risco deixa lacunas importantes como:

    a) Ausncia de viso prospectiva, j que os nmeros apresentados referem-se ao desempenho passado;

    b) Insuficincia de dados, pois os relatrios econmico-financeiros apresentam dados agregados, o que impede a avaliao das verdadeiras causas do desempenho da empresa, tais como ganhos de competitividade em conseqncia de introduo de novas tecnologias e aumento de produo;

    c) a alta instabilidade decorrente da alterao do ambiente econmico brasileiro, em processo de abertura e da insero de parte de sua populao economia de mercado.

    Em vista disso, duas situaes se configuram, por vezes inter-relacionadas, e podem trazer incerteza ao analista: situao de ponto de inflexo e a situao de potencial no realizado.

    A situao de ponto de inflexo ocorre em circunstncias nas quais uma empresa sofreu transformaes to profundas, que seu desempenho no passado no representativo do futuro.

    Essa situao pode ser exemplificada por um projeto de relocalizao, onde uma empresa transfere-se e passa a integrar um distrito industrial, no qual a industrializao ordenada torna-se fator redutor de custos, aumentando a competitividade.

    Potencial no-realizado uma situao em que a empresa dispe de potencial ainda no realizado plenamente, mas h evidncias concretas da proximidade de realizao ou apropriao desses resultados. Pode ser citado como exemplo, um projeto de melhoria de processo resultante do treinamento da mo-de-obra.

    A constatao e reconhecimento dessas situaes contriburam para a adoo da matriz qualitativa. Tem por objetivo proporcionar melhor compreenso sobre a estratgia e estrutura da empresa analisada, e de permitir a

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    verificao da consistncia das informaes de natureza quantitativa e da efetiva existncia do ponto de inflexo e do potencial no-realizado.

    Essa anlise, entretanto, pode se revelar extremamente subjetiva, em virtude da deficincia ou baixa qualidade das informaes e pela falta de parmetros confiveis para qualificar sua evoluo e tendncias, como por exemplo, a disponibilidade de indicadores que permitam a comparao de variveis de indstria para indstria ou indicadores que medem a produtividade de forma quantitativa.

    Para diminuir a subjetividade, foram sistematizados a coleta e o tratamento das informaes, atravs da utilizao de check list, setorial e empresarial.

    13 UTILIZAO DE CHECK LIST

    O check list setorial constitudo por um questionrio, cujo objetivo levantar os principais dados necessrios compreenso da dinmica do setor. Elaborado com base nas cinco foras competitivas do modelo de Porter2. deve, preferencialmente, ser utilizado aps o analista ter acumulado razovel nvel de conhecimento sobre o setor a ser analisado:

    1) A existncia de barreiras de entradas de novos concorrentes;

    2) A existncia de produtos substitutivos; 3) O poder de negociao dos compradores

    (clientes); 4) O poder de negociao dos fornecedores; 5) A competio entre as empresas do setor.

    Esse modelo compreende a anlise sistemtica da inter-relao entre as seguintes variveis: evoluo da demanda, evoluo da

    2 PORTER, Michael E. Estra tgia

    Compet i t iva . Rio de Janeiro: Edi tora Campus, 1986. .

    concorrncia, evoluo de preos e custos e alterao do perfil competitivo.

    O sucesso da anlise depender do grau de transparncia e da disponibilidade de informaes setoriais. Setores organizados ou concentrados fornecem maior grau de confiabilidade, enquanto que os menos organizados tero uma abrangncia menor, alm de menos confiveis.

    O check list empresarial, por sua vez, constitudo por um questionrio, cujo objetivo avaliar a empresa analisada em seu contexto econmico especfico.

    14 INDICADORES ESCOLHIDOS

    Os analistas de modelagem do BNDES elegeram os indicadores abaixo, de forma a vincular o risco de crdito aos aspectos qualitativos da empresa. Essa escolha procurou reunir indicadores que tivessem alto poder explicativo, fossem baseados numa abordagem ampla e abrangente dos fatores de risco relevantes e complementassem os indicadores quantitativos. Foi resultado de visitas a empresas e tem forte componente da cultura setorial adquirida pelo analista atravs da experincia na avaliao de projetos similares.

    1) Estratgia empresarial - qualificao da adequao da estratgia dos empreendedores, visando atingir os nveis de competitividade em relao ao padro vigente na indstria.

    2) Estrutura e capacitao definio do nvel de qualidade dos recursos humanos da empresa e do grau de adequao de sua estrutura organizacional com relao a seus objetivos, do nvel de profissionalizao da administrao e do encaminhamento do processo sucessrio; identificao e qualificao dos controles internos existentes e verificao da evidenciao de seus relatrios;

    3) Aspectos de mercado qualificao da condio vigente nos diversos mercados

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    Revista de Contabilidade do Mestrado em Cincias Contbeis da UERJ v.8, n.1, 2003, p.30

    dos quais a empresa participa, com base na existncia de barreiras entrada de novos competidores, na possibilidade de melhor insero da empresa na cadeia produtiva e avaliao do seu posicionamento nos mercados dos quais participa e sua perspectiva;

    4) Tecnologia avaliao da tecnologia empregada em relao ao produto e no processo produtivo e de sua estratgia de domnio e atualizao tecnolgica ante o padro do setor;

    5) Gesto da produo Avaliao do desempenho da empresa com relao a parmetros vinculados produo, produtividade, qualidade e flexibilidade. Identificao do grau de modernidade introduzido por novos mtodos e processos, tanto na produo quanto nas vendas.

    15 UTILIZAO DA MATRIZ

    A utilizao da matriz qualitativa busca evidncias que permita ao analista qualificar a percepo do risco de default levantada pelo analista com base no exame da quantidade e qualidade das informaes disponveis, na verificao da consistncia entre a pontuao obtida baseada nos indicadores quantitativos e indicadores qualitativos e na constatao da existncia de ponto de inflexo e/ou da confirmao de existncia de potencial no realizado.

    A incorporao do impacto dos fatores externos relativos ao ambiente macroeconmico caracterstica desejvel na execuo desse tipo de anlise. So exemplos de fatores externos os movimentos da economia mundial, a disponibilidade e qualidade de infra-estrutura econmica de transporte, energia e telecomunicaes e adequao da infra-estrutura educacional (centros de ensino tcnico, institutos de pesquisa, entidades de normalizao e aferio de qualidade).

    Tambm relevante incorporar conhecimento sobre as prticas setoriais vigentes nos mercados (locais, regionais e globais) e realizar o levantamento de indicadores de desempenho. Ressalte-se que nesse tipo de avaliao, os indicadores tm peso diferenciado de empresa para empresa.

    16 ENCADEAMENTO

    Os indicadores quantitativos foram parametrizados estatisticamente, ponderados de forma diferenciada: maior peso para os primrios, dinmicos e genricos e menor peso para os secundrios, estticos e setoriais. No levando em conta a ponderao, a pontuao de cada indicador de trs pontos no mximo e de um ponto no mnimo. Considerando-se os 10 fatores (cinco indicadores quantitativos e cinco qualitativos), em funo dos pontos de corte, a pontuao mxima obtida de 30 pontos e a mnima de 10 pontos.

    O processo de diferenciao o intervalo de 20 pontos (mximo de 30 e mnimo de 10), onde foi realizada uma distribuio ABC, sendo esta dividida em trs partes, sinalizada com os smbolos de + (mais), flat (sem sinal) e (menos), obtendo-se, inicialmente, os nove itens de risco compreendidos entre A+ e C-. O BNDES utilizou essa tabela de nove nveis de risco at junho de 1998.

    A pontuao obtida enquadra a empresa num determinado nvel de risco, que ser ajustado pela avaliao cadastral que poder ser nulo, no caso de inexistncia de ressalvas cadastrais, resultar no rebaixamento em dois nveis, caso haja ressalvas com alguma relevncia, ou resultar no rebaixamento, para o nvel C-, existindo ressalvas relevantes.

    O processo de pontuao e classificao do risco considera o desempenho do ltimo trinio, com nfase para o ltimo exerccio fiscal encerrado, ou, pela adoo de uma regra conservadora, no balancete correspondente s atividades de um perodo igual ou superior a

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    Revista de Contabilidade do Mestrado em Cincias Contbeis da UERJ v.8, n.1, 2003, p.31

    seis meses, se apresentar resultados iguais ou piores aos constantes no ltimo balano.

    Como o modelo voltado para um horizonte de longo prazo, ocorrendo alterao no comportamento dos indicadores, torna-se necessrio seu ajuste atravs da ponderao do desempenho observado nos ltimos trs anos (ano X = peso 3, ano X-1 = peso 2 e ano X-2 = peso 1).

    17 CLASSIFICAO DO RISCO

    O processo de pontuao gradua a qualidade do crdito e classifica o risco. A partir de julho

    de 1998, o BNDES passou a utilizar uma escala de risco semelhante adotada pela Standards & Poors, constituda por vinte e dois nveis de risco em ordem decrescente de crdito, iniciando-se em triple A (excelentes condies de segurana, mesmo em pssimas condies econmicas), at o grau D, em casos onde j houve default.

    Anualmente ou semestralmente as classificaes so reavaliadas, podendo ensejar, em caso de rebaixamento, um maior provisionamento para liquidaes duvidosas.

    Escala de nveis de risco utilizada pelo BNDES

    Categoria Classificao Grau de Investimento (10 nveis) AAA, AA+, AA, AA-, A+, A, A-, BBB+, BBB e BBB- Grau Especulativo ou de alto risco (6 nveis) BB+, BB, BB-, B+, B, B- Grau inaceitvel (5 nveis) CCC+, CCC e CCC -, CC e C Default (1 nvel) D

    Fonte: BNDES

    Interpretao dos nveis de risco utilizada pelo BNDES Grau de Investimento Pontuao Interpretao

    AAA 28,001 a 30,000 Melhor qualidade de risco. AA+ 27,501 a 28,000 AA 25,501 a 27,500 Alta qualidade de risco AA- 25,001 a 25,500 A+ 24,501 a 25,000 A 24,501 a 24,500 Forte capacidade de pagamento A- 23,001 a 23,500 BBB+ 22,501 a 23,000 BBB 21,501 a 22,500 Adequada capacidade de pagamento BBB- 21,001 a 21,500

    Grau Especulativo Pontuao Interpretao BB+ 20,501 a 21,000 BB 19,501 a 20,500 Provvel capacidade de pagamento BB- 19,001 a 19,500 B+ 18,501 a 19,000 B 17,501 a 18,500 Direo para a incerteza B- 17,001 a 17,500

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    Grau de alto risco Pontuao Interpretao CCC+ 16,501 a 17,000 CCC 14,501 a 16,500 Vulnerabilidade e tendncia p/ inadimplncia CCC- 14,001 a 14,500 CC 12,001 a 14,000 C 10,000 a 12,000 D

    Casos de falncia ou inadimplncia Fonte: BNDES e adaptado de SILVA, Jos Pereira da Silva. Gesto e Anlise do Risco de Crdito. p.84.

    18 O PROCESSO DE PRECIFICAO

    O processo de precificao das operaes de crdito deve considerar quatro conjuntos de fatores ligados a custos de captao, custos operacionais, perdas esperadas por inadimplncia e lucratividade.

    Assim, a taxa de juros das operaes de crdito do BNDES tem a seguinte estrutura:

    Onde: TX = Taxa de juros final da operao de crdito a ser paga pelo tomador do recurso; C = Custo de captao; SB = Spread Bsico; SR = Spread de Risco.

    O custo de captao (C) est associado TJLP, atualmente em 11% (calculada a partir do ltimo trimestre de 1999), em funo da seguinte equao: TJLP = C = E (p) + SP, onde

    E(p) = expectativa de inflao; e SP = Spread de risco-pas do Brasil).

    A Taxa de Juros de Longo Prazo foi instituda pela Medida Provisria n 684, de 31.10.94 e convertida na lei n 10.183, de 12.02.2001, sendo definida como o custo bsico dos financiamentos concedidos pelo BNDES.

    Seu valor fixado periodicamente pelo Banco Central do Brasil, de acordo com as normas do Conselho Monetrio Nacional.

    Nos ltimos cinco anos apresentou a seguinte evoluo:

    2003 % a.a. Outubro a Dezembro 11% Julho de Setembro 12% Abril a Junho 12% Janeiro a Maro 11%

    2002 % a.a. Outubro a Dezembro 10% Julho de Setembro 10% Abril a Junho 9,5% Janeiro a Maro 10%

    2001 % a.a. Outubro a Dezembro 10% Julho de Setembro 9,5% Abril a Junho 9,25% Janeiro a Maro 9,25%

    2000 % a.a. Outubro a Dezembro 9,75% Julho de Setembro 10,25% Abril a Junho 11% Janeiro a Maro 12%

    1999 % a.a. Outubro a Dezembro 12,5% Julho de Setembro 14,05% Abril a Junho 13,48% Janeiro a Maro 12,48%

    TX = C + SB + SR

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    A taxa de Spread Bsico (SB) objetiva remunerar as despesas do BNDES e assegurar uma rentabilidade do Patrimnio Lquido.

    Desde 2002 a nova estrutura de SB passou a contemplar trs grandes blocos. O nvel de 1% a.a. reservado s micro, pequenas e mdias empresas e meio ambiente. O nvel intermedirio de 2% a.a. destina-se a financiamentos a grandes empresas em regies incentivadas. O nvel mais elevado de 3% a.a. direcionado para financiamentos a grandes empresas em regies no incentivadas e empresas de capital estrangeiro.

    A taxa mdia de 2% a.a. neutra para cobrir custos e garantir rentabilidade sobre o Patrimnio Lquido. Trabalhando com trs nveis, o BNDES necessita equilibrar a proporo entre as operaes, uma vez que o retorno obtido nas operaes de menor SB no permite cobrir os custos e remunerar os acionistas, devendo, portanto, ser compensado por retorno a ser obtido nas operaes de maior Spread Bsico.

    A taxa ou Spread de Risco se destina cobertura das perdas esperadas por inadimplncia, devendo, portanto, ser equivalente, no longo prazo, soma das provises para crditos de liquidao duvidosa, apropriadas anualmente de forma contbil. Remunera o risco de crdito nos emprstimos, de forma a suportar as perdas com as inadimplncias esperadas. calculada por nvel de risco, podendo variar de 0,1% a 4,625%, correspondentes aos nveis de risco de AAA e B-, respectivamente.

    Assim, a taxa de juros cobrada nas operaes de crdito do BNDES situa-se atualmente entre 13,1% a.a e 17,625% a.a.

    Na precificao de suas operaes de crdito, as instituies financeiras levam em conta a obteno de lucratividade que represente um taxa de retorno compatvel com os riscos assumidos e que permita, no longo prazo, cobrir seus custos operacionais, compensar as perdas esperadas, remunerar adequadamente os acionistas, alm de garantir

    o crescimento de seu patrimnio lquido. Nesse sentido, at o momento, o modelo usado vem atendendo aos objetivos do BNDES. Alm disso, possibilita aos analistas de crdito colher subsdios para o constante aperfeioamento metodolgico, de forma a harmonizar dois objetivos aparentemente antagnicos: a instrumentalizao tcnica com a experincia do analista de risco.

    19 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BERGAMINI JR., Sebastio. Classificao de Risco: o modelo em uso no BNDES. Revista do BNDES, Rio de Janeiro, v. 4, n. 8, p. 71-100. Dez., 1997.

    GIAMBIASI, Fbio, PASTORIZA, Florinda Antelo, BERGAMINI JR., Sebastio. Perspectivas para o Custo Financeiro do BNDES. Revista do BNDES, Rio de Janeiro, v.9, n. 17, p. 3-22. Jun., 2002.

    MODDYS INVESTORS SERVICE. Global Credit Research. Risco de crdito bancrio nos mercados emergentes. Copyrigth 1999 de Moodys Invertors Service, Inc. New York

    PORTER, Michael E. Estratgia Competitiva. Rio de Janeiro: Editora

    Campus, 1986.

    PRICE WATERHOUSE AUDITORES INDEPENDENTES. Os ndices de Anlise de Balanos. So Paulo, 1978

    SILVA, Jos Pereira da. Gesto e Anlise de Risco de Crdito. 3.ed. So Paulo: Atlas, 2000.

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