Almanaque Chuva de Versos n. 389

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Victor Hugo Desejo

Desejo primeiro que você ame,

E que amando, também seja amado. E que se não for, seja breve em esquecer.

E que esquecendo, não guarde mágoa. Desejo, pois, que não seja assim,

Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos, Que mesmo maus e inconseqüentes,

Sejam corajosos e fiéis, E que pelo menos num deles

Você possa confiar sem duvidar. E porque a vida é assim,

Desejo ainda que você tenha inimigos. Nem muitos, nem poucos,

Mas na medida exata para que, algumas vezes, Você se interpele a respeito De suas próprias certezas.

E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo, Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,

Mas não insubstituível. E que nos maus momentos,

Quando não restar mais nada, Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,

Não com os que erram pouco, porque isso é fácil, Mas com os que erram muito e irremediavelmente,

E que fazendo bom uso dessa tolerância, Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,

Não amadureça depressa demais, E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer E que sendo velho, não se dedique ao desespero. Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste, Não o ano todo, mas apenas um dia.

Mas que nesse dia descubra Que o riso diário é bom,

O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra, Com o máximo de urgência,

Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos, Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,

Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro Erguer triunfante o seu canto matinal

Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

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Desejo também que você plante uma semente,

Por mais minúscula que seja, E acompanhe o seu crescimento, Para que você saiba de quantas Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,

Porque é preciso ser prático. E que pelo menos uma vez por ano

Coloque um pouco dele Na sua frente e diga "Isso é meu",

Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra, Por ele e por você,

Mas que se morrer, você possa chorar Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,

Tenha uma boa mulher, E que sendo mulher,

Tenha um bom homem E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,

E quando estiverem exaustos e sorridentes, Ainda haja amor para recomeçar.

E se tudo isso acontecer, Não tenho mais nada a te desejar ".

_________________ Victor-Marie Hugo (Besançon/França, 1802 — 1885, Paris, França) foi um novelista, poeta, dramaturgo, ensaísta, artista, estadista e ativista pelos direitos humanos francês de grande atuação política em seu país. É autor de Os Miseráveis. Notre-Dame de Paris, Os Trabalhadores do Mar, entre diversas outras obras clássicas de fama e renome mundial.

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Uma Trova de Maringá/PR

Alberto Paco

Sempre alivio a tristeza que invade meu coração, dedilhando, com firmeza, as cordas de um violão!

Uma Trova de São Paulo/SP

Domitilla Borges Beltrame

Roçando meu coração e já prevendo o meu fim,

um plangente violão, nas cordas, chora por mim!

Um Poema de Montes Claros/MG

Wanderlino Arruda

Bons dias bem vividos

Doce lembrança, saudades,

adoráveis sentimentos, claros montes, luz, muita luz,

intensa luz.

Meio-dia, limite, alegria muita.

Na distância, um logo além, no depois, um antes: auroras, felicidade.

Tardes de intensa alegria, noites-verão, dias-inverno,

Ingênuas manhãs, ingênuas,

bem ingênuas, mais que a madrugada, de sonhos nos sonhos,

deleite. Simbiose, crepúsculos,

tons vermelhos, rosa-amarelo, ouro no azul,

lilases e sombras douradas maravilhas...

prata.Antes do depois, ainda, fios de claridade,

fontes, conforto-luz, pura alegria,

sorrisos, bons dias bem vividos!

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Uma Trova Humorística do Rio de Janeiro/RJ

José Maria Machado de Araújo

Pediu veneno a cliente... E o vendedor, distraído,

perguntou-lhe gentilmente: - É para rato, ou marido?...

Uma Trova de Fortaleza/CE

José Pereira de Albuquerque

Ontem, moço e sem cansaços, fui feliz em minha lida;

hoje, velho, arrasto os passos pelas esquinas da vida...

Um Poema de Montes Claros/MG

Wanderlino Arruda

Saudade

Da amizade, Do amor,

é a presença do ausente,

é dor gostosa, dor alegre, que vai direitinho ao coração.

Sentir saudade é querer bem perto

O bem-querer. É pensar em ir, querer voltar.

É buscar ver o que não alcança a vista. Sentir saudade é mergulhar no infinito,

e penetrar na solidão, buscando a companhia,

imaginando sorrisos, colorindo sonhos.

Saudade é transfusão de sentimentos, convite de reconforto,

carinho infinito, infinita ternura. Saudade é alegria que fere,

tristeza que alivia.

Uma Quadra Popular

Autor Anônimo

Duas correntes pesadas eu arrasto sem poder.

Uma é a do meu capricho, outra é a do meu dever.

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Uma Trova Hispânica da República Dominicana

Claudio Garibaldy Martínez

Honestidad fiel valor que este mundo necesita, para que aflore el amor

en cada alma que palpita.

Um Poema de Montes Claros/MG

Wanderlino Arruda

Felicidade

Felicidade não tem peso, nem tem medida,

não pode ser comprada, não se empresta, não se toma emprestada, não resiste a cálculos, porque não material,

nos padrões materiais do nosso mundo. Só pode ser legítima.

Felicidade falsa não é felicidade, é ilusão. Mas, se eu soubesse fazer contas na medida do

bem, diria que a felicidade pode ter tamanho,

pode ser grande, pequena, cabendo nas conchas da mão,

ou ser do tamanhão do mundo.

Felicidade é sabedoria, esperança, vontade de ir, vontade de ficar,

presente, passado, futuro. Felicidade é confiança:

fé e crença, trabalho e ação.

Não se pode ter pressa de ser feliz, porque a felicidade vem devagarinho,

como quem não quer nada. Ser feliz não depende de dinheiro,

não depende de saúde, nem de poder.

Felicidade não é fruto da ostentação, nem do luxo.

Felicidade é desprendimento, não é ambição.

Só é feliz quem sabe suportar, perder, sofrer e perdoar.

Só é feliz quem sabe, sobretudo, amar.

Trovadores que deixaram Saudades

Durval Mendonça Rio de Janeiro/RJ (1906 – 2001)

Este amor, grande e profundo,

feito de paz e verdade, dá-me, segundo a segundo,

um sabor de eternidade.

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Uma Trova de Fortaleza/CE

Francisco José Pessoa

Quem não quer vencer a estrada como faz o peregrino,

dobra sempre a esquina errada na contramão do destino.

Um Poema de Montes Claros/MG

Wanderlino Arruda

Sonhos de sonhos

Passo a passo, passam os passos

de sonhos bem sonhados em múltiplas sinergias.

Alma com sol e lua, estrelas incontadas,

terra e céu, saudades.

Aqui encanta o canto com mil matizes.

A sensibilidade vive e vibra

por luminosas dimensões. O bem-querer cavalga em cintilantes brisas

de vento-luz. Felicidade sim.

É acordado o amanhecer: agora ilumina a sedução e poetiza vívidas vidas,

vidas revividas. Múltiplas vidas.

Uma Trova de Caicó/RN

Mara Melinni de Araújo Garcia

Vida: caminho que alcança na esquina a sua metade;

de um lado, vive a esperança, do outro, dorme a saudade.

Um Haicai de Mairiporã/SP

Shinobu Saiki

Quantos bons sonhos comigo partilhaste,

velho cobertor!

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Um Poema de Montes Claros/MG

Wanderlino Arruda

Ternura e vibração

Tua beleza, o teu saber,

o encanto da tua alegria, A meiguice e a suavidade dos gestos,

O brilho do teu olhar, Tua voz doce e gostosa,

A riqueza de tuas palavras, Tudo em ti, minha querida,

É motivo de muito amor, Um inesquecível realizar de sonhos.

Um minuto de tua presença Vale um milhão de séculos.

Tua luz ilumina um infinito inteiro. É ternura,

É intensa vibração para um renascer de felicidade.

Uma Trova de Natal/RN

Jair Maciel de Figueiredo

Numa esquina do passado, no meu reino adolescente,

selei, num beijo roubado, o grande amor do presente.

Uma Trova Humorística de Nova Friburgo/RJ

Sérgio Bernardo

Sob a lona, a quem entrava, dizia a esperta vidente:

- Vamos ao "passe"!... e passava a mão no bolso da gente!

Um Poema de Montes Claros/MG

Wanderlino Arruda

Sereno em tempo futuro

A floresta água desenha planícies, e redesenha horizontes para sonhos tranquilos

em deslumbramento-vida. O sereno vive em tempo futuro

de enternecimento-ouro. Ondas puras, oceano verde, líquidas montanhas, céus, sólidas linhas, matizes...

A claridade é muita: o amor é eternidade,

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amor puro, amor-sonho: puro amor!

Uma Trova de Belém/PA

Nazareno Tourinho

Veja como é pequenina a minha felicidade,

quando passo pela esquina da avenida da saudade.

Uma Trova Humorística do Rio de Janeiro/RJ

P. de Petrus

“Arapuca” foi aquela ao casar-me - que desgraça! Ganhei a noiva banguela,

o sogro e a sogra, de graça.

Um Poema de Montes Claros/MG

Wanderlino Arruda

Olhar-magia

A beleza de teus olhos eu julgo, eu analiso:

são brilhos de um céu em cor de mil momentos.Teu olhar tem majestade

em claro-verde de penumbra luz, carinho e tarde em viagem mito

de encantamento.

Teus olhos, um esplendor, cativam minh'alma

e o meu querer.Teus olhos mostram, teus olhos vibram

sonho e transcendência linda, em direção Sul, ou Leste-oeste, ou ao Infinito.

Nunca vou deixar dizê-los

charme e bem-parecer, encantamento:

a Natureza os fez, mas o enlevo-imã,

luzir fascínio, emoção e música só eu sei sentir.Teus olhos,

Um espelhar divino, uma luz crescente,

sol marcante para os meus.

Aí teu fôlego e coração:

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significado de amor. Aí, minha querida,

em guerra e viver-estímulo reconheço te fazer feliz !

Um Haicai de São José dos Pinhais/PR

Sérgio Francisco Pichorim

O trem vai sumindo entre túneis e montanhas.

Ouço os tucanos.

Uma Trova de Magé/RJ

Maria Madalena Ferreira

A solidão é tão crua que, em tua ausência, meu bem,

a minha vida é uma rua onde não passa ninguém!...

Um Poema de Montes Claros/MG

Wanderlino Arruda

Vivências de infinitude

Encontros de sonho e ternura,

sim, há encontros curtos e fortuitos, mas sempre sonhos,

sempre ternura. Não se sabe onde começam,

quando acabam pois inimagináveis e ideais. multidão de tempos vividos,

semelhança mais: identidade, azul e lilás dos céus,

tardes de mil pensamentos e encantada alegria. A linha do horizonte

nítida como um fio de luz, inexiste tênue e mágica,

separando tons sobre tons cada vez mais puros.

Ouço esplendentes matizes com cheio de amor-menino

sazonado e ingênuo: veludo-seda, mangaba-mel doce e suavemente amargo.

O destino viaja sensível com um tilintar de auroras

ou de dourados crepúsculos. Gostoso sentir vivências,

imagens lúdicas, lúcidas de amor.

Amor!

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Recordando Velhas Canções

Noite dos mascarados (marcha, 1967)

Chico Buarque

Quem é você?

Adivinha se gosta de mim Hoje os dois mascarados

Procuram os seus namorados Perguntando assim

Quem é você, diga logo

Que eu quero saber o seu jogo Que eu quero morrer no seu bloco Que eu quero me arder no seu fogo

Eu sou seresteiro, poeta e cantor

O meu tempo inteiro só zombo do amor Eu tenho um pandeiro,

Só quero um violão Eu nado em dinheiro Não tenho um tostão Fui porta-estandarte Não sei mais dançar Eu modéstia à parte,

nasci pra sambar Eu sou tão menina Meu tempo passou

Eu sou colombina Eu sou pierrot

Mas é carnaval

Não me diga mais quem é você Amanhã tudo volta ao normal

Deixa a festa acabar Deixa o barco correr

Deixa o dia raiar Que hoje eu sou da maneira que você me quer

O que você pedir eu lhe dou Seja você quem for

Seja o que Deus quiser

Uma Trova de Belo Horizonte/MG

Relva do Egipto R. Silveira

Pelas ruas... por atalhos, se esgueira a lua e seduz...

tece em pratas, em retalhos, cortinas de sombra e luz!

Um Poema de Montes Claros/MG

Wanderlino Arruda

Teu beijo

Teu beijo é doce,

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charmoso, gostoso,

ternamente cheio de amor. Inesquecível, eu sei!

Dele tenho lembrança, dele tenho saudade, dele tenho o sabor

para todos os minutos e horas da vida, em toda a eternidade,

no tempo e no contratempo. Teu beijo

é terno e eterno, sincero, suave, leal, doce,

charmoso, gostoso,

um beijo de amor!

Um Haicai de Manaus/AM

Rosa Clement

inicio das férias-- o silencio logo acampa

nas salas de aulas

Uma Trova de Santos/SP

Américo Degl'Leposti

Esta saudade anciã não é troféu nem castigo;

é somente um talismã que trago sempre comigo.

Um Poema de Montes Claros/MG

Wanderlino Arruda

Chuva-luz para a mulher-sereia

Por que olhar para cima? Por que semimergulho no mar?

Braços querem abraços, mãos dançam música sincera

em apertos do coração. A luz redesenha chuvas e marcas de seios,

louros cabelos, pele de pêssego: mulher-sereia,

mulher inteira, mulher sim, mais do que mulher...

E porque sensível e linda, enigmas suspiram no vento sul

nos mais róseos acalantos.

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Hinos de Cidades Brasileiras

Goioerê/PR

De uma imensa e bravia floresta certo dia o coração se abriu

junto às águas que a ti o nome emprestam uma linda cidade surgiu

Goioerê tens o nome das águas dos regatos tão puros das matas da riqueza da terra encontrada

paraíso de Deus tu retratas.

Com trabalho teus homens valentes engrandecem a nossa nação

teus anseios tão nobres e ardentes é que fazem a nossa união Goioerê nossa terra bendita deste céu tão claro e azul

tens na terra a cruz do trabalho tens no céu o Cruzeiro do Sul.

Goioerê na pujança da terra tens afoita a glória por vir

tens na força que teu solo encerra um futuro brilhante a sorrir

Paraná oh celeiro gigante do Brasil, uma terra tão querida

Goioerê é semente plantada

que nasceu e cresceu para a vida.

Uma Trova de Natal/RN

Joamir Medeiros

Relembrando a mocidade, te vejo em cada momento,

no feitiço da saudade que adorna meu pensamento.

Um Poema de Montes Claros/MG

Wanderlino Arruda

Sonho terno e eterno

O sonho não deve acabar, não deve !

Que seja bom e eterno, sempre presente,

sempre ! Lindo,

expressivo como o olhar da mulher linda.

Sonho alegre e colorido muito mais do que feliz !

tão belo tão terno

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como o sorriso que encanta os mais belos momentos

do meu viver !

Chuveirão Biográfico do Poeta

Wanderlino Arruda, mineiro de São João do Paraíso, nasceu em 3 de setembro de 1934. Casado com a artista plástica Olímpia Rego Arruda.

Cursou Contabilidade, Letras e Direito, pós-graduação em Linguística, Semântica e Literatura Brasileira, especialização em Comunicação Social e Metodologia de Ensino Superior.

Educador na Universidade Corporativa Banco do Brasil, professor aposentado da UNIMONTES.

Membro da Academia de Letras Municipalista de Letras de Minas Gerais (Belo Horizonte); Academia de Letras dos Funcionários do Banco do Brasil (RJ); Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco; Comissão Interpaíses Brasil, Portugal e Países de Língua Oficial Portuguesa (São Paulo); Conselho Editorial da Unimontes; Sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais.

Jornalista, pintor, cronista e poeta, publicou Tempos de Montes Claros, Jornal de Domingo, O dia em que Chiquinho sumiu, Feeling-Poems, Emoções, Short Stories, Emociones, Construtores de Montes Claros e os e-books Poemas de Puro Amor e Poemas e Crônicas.

Prêmio nacional de pintura, participa de várias antologias literárias, regionais e nacionais. Tem vários blogs e é webmaster de vários sites regionais e nacionais. Primeiro presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, Diretor Cultural do Automóvel Clube

de Montes Claros, Vice-presidente da Câmara de Comércio Luso-brasileira em Minas Gerais, e Consultor da Fundação Rotária Brasileira. Presidente do Sindicato dos Bancários, do Esperanto-Klubo, da Academia Montesclarense de Letras e da Câmara Municipal. Delegado do Grau 33 da Maçonaria, Secretário de Cultura e diretor do Patrimônio Histórico. Sócio-fundador do Rotary Clube de Montes Claros-Norte, é sócio-honorário de R.Clubes de Belo Horizonte e de vários outros do Norte de Minas. Governador e Diretor do Elos Internacional, Governador 94/95 do Distrito 4760 do Rotary, tem diversos destaques: Academia Rotária; Companheiro Paul Harris, Benfeitor da Fundação Rotária, Mérito Distrital, Mérito da Fundação Rotária, Reconhecimento Presidencial, Troféu Internacional Paulo Viriato.

Fundador de vinte e dois Rotary Clubes.

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As distâncias infinitas são retalhos de lembranças de palavras lindas... ditas, no curso das esperanças!

As tristezas recolhidas

de um amor pobre, distante, são próprias de certas vidas querendo viver o instante!

Ás vezes sorrio a esmo

quando tenho uma desdita. Se tristezas tenho mesmo, ninguém nelas... acredita!...

A vida e as contradições

às vezes nos surpreendem... São tantas as emoções

que nem bem elas se entendem!

Encontrei uma saudade quietinha... bem atrevida

no meu peito... que maldade... Tirei-a da minha vida!...

Foi ideia inconsequente do pobre coração meu,

dar entrada em minha mente de um amor que se perdeu!

Más notícias vêm depressa, essa verdade é concreta.

Caminha... não tenhas pressa, crê em Deus... Segue essa meta!

Minhas lágrimas caindo tiraram do livro a cor.

Saudades foram abrindo caminhos pra minha dor!

Na vida, tenho certeza,

sigo um lema. Penso assim: - Carrego a maior riqueza

nesse Deus... que habita em mim!

O bom da vida é esperar pelo certo ou duvidoso...

O mundo... sempre a girar... O destino é... misterioso!…

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O coração nos prepara tão incertas brincadeiras..,

Que às vezes... nem bem repara, mas deixam, marcas inteiras!

O mal que em vida consumo é trazer na minha mente a saudade... como rumo…

De um amor que a gente sente!

O mal que em vida fazemos reverte cedo, ou mais tarde.

Nas leis... não há mais ou menos, a justiça é cega...! Arde…!

O segredo do progresso de um País em ascensão, tem como base o sucesso de uma boa educação…

Palavras elaboradas

num pensamento eloquente convencem... pois são bem dadas…

– Mas enganam... tanta gente!

Pedaços lindos de sonhos! Tentei juntá-los... em vão. Esfacelados, tristonhos, permanecem... pelo chão!

Pelos olhos, vi na hora

que entre as jovens, a do centro era a mais feia por fora.

mas... com beleza... por dentro!

Penduradas vão as vidas nas rotas certas do tempo,

mas são incertas as idas da vida... num contratempo!...

Pra frente, o rio, à vontade. segue o curso... contumaz...

Igual à felicidade, não volta nunca pra traz!…

Pranteio o tempo insolente que por mim, tão lisonjeiro, passou... deixando na mente um amor tão passageiro!...

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Sonho mais quando acordado que às vezes... me ponho a rir... Se sonhar quero, ao teu lado,

basta apenas... não dormir!

Velho... jovem... toda a idade tem a vida mais nuances...

Cursando a Universidade maiores serão as chances!...

Vou desfrutando a paisagem

que me dá a própria vida! Ela sempre tem mensagem

apontando uma saída!… _______________

Zilda Cormack, natural do Estado do Rio de Janeiro. Médica, formada pela UERJ em 1954. Tem cursos de Especialização em Psiquiatria do Ministério da Saúde, é membro efetivo da Associação Brasileira de Psiquiatria e da Associação Psiquiátra do Rio de Janeiro, Exerce essa atividade profissional desde 1955, tendo ocupado vários cargos de chefia no Hospital Psiquiátrico de Niterói, tais como diretora da Divisão Médica e diretora substituta por quatro anos no mesmo hospital. Desde jovem dedica-se à música e à poesia. Tem algumas músicas gravadas de sua autoria(letra e música). Foi finalista do 1 Festival Internacional da Canção e Fluminense da Canção. Compositora de vários hinos c canções já bem divulgadas em todo o Brasil, fez parte de alguns corais do Rio de Janeiro e do Conservatório Brasileiro de Música.

Conquistou vários prêmios de poesia, o que lhe valeu acesso à Associação Brasileira de Médicos Escritores como membro titular cadeira número 19. Detentora de vários prêmios em concursos de trovas, candidatou-se e foi aprovada para ocupar cadeira n. 33 da Academia Brasileira de Trova do Rio de Janeiro, Ocupou o cargo de Secretária Geral da Academia Brasileira de Médicos Escritores desde novembro de 1995.

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J.B. Xavier Cunhaporã - Uma história de amor

V

LÁGRIMAS DE AMOR

Tempos após esse grave incidente, Em bela manhã, tórrida, quente,

O oyakã visitou o infeliz condenado. “Salve, charrua, saudável e forte!

Enfim já estás preparado p’rá morte. Teu fim amanhã já está decretado.

A selva inteira verá que estrangeiros,

Velozes nos pampas, em potros ligeiros, Cá dentro, na mata, são fracos e lentos.

Teu povo um dia ouvirá a história Do Grande Tupi e de sua vitória

Levada ao longe, nas asas do vento.

Que armas quereis para te defender? Sob qual delas todas tu queres morrer?” - Bradou Ygarussú , num acesso de ira.

“Sem armas, sem nada!” - bradou o charrua. “Lutemos à morte só com a mão nua!”

Pasmou a aldeia com o que ele pedira.

E o som doentio de atroz gargalhada Lançou toda a tribo em louca risada, Imitando o cacique, o Grande Oyakã .

Afastou-se o gigante em passos ligeiros. Ao longe voltou-se e falou aos gerreiros:

“Será na clareira, à tarde. Amanhã.”

* * *

“Tupã vos proteja E o braço te guie,”

Disse Cunhaporã .

“Eu vim para isso !

Yara alertou que podia ocorrer. Que sou sem meu sonho?

Talvez assim seja, E nesta peleja

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Eu deva morrer!”

“Silêncio Nhuamã ! Não manche a estirpe

Do povo charrua! Que faço se morres?

Se a vida inteira Eu sempre fui tua! “

“Ah! meu amor, sublime e terno. Por que me transportas assim

Ao inferno? Não tenha piedade

De mim, condenado, Que paga por tanto ter te amado...

Não, meu amor, pobre criança,

Não preciso de esperança Para enfrentar a Morte. Nada há de tão terrível. Ygarussú e bem forte,

Mas aprendi há muito tempo Que não existe o invencível.

Morrer?

Talvez aconteça. Talvez eu desapareça

Nestas ermas cercanias. Talvez, então, noutras eras De novo nos encontremos,

E meu coração, que te encerra Talvez permita que de novo nos amemos...

Mas talvez também eu vença! Somos guerreiros apenas. Ele crê, e em sua crença

Deixa as demais tão pequenas, Que talvez resida aí

Toda a sua insegurança. Já venci mais de uma luta Em que o erro do inimigo Foi excesso de confiança.

Portanto não digas nada

Que não sejam as palavras De teu próprio coração.

Nada digas, se não forem As próprias palavras tuas.

E assim viverás sempre No coração dos charruas.”

“Tolo que és ! Não permita

Que outro assassínio atroz Entre nós Se repita!

De mortes estamos fartos! Queremos a paz verdadeira,

Por teto o céu estrelado, Por lar a floresta inteira!

Não permita haver mais sangue

Nem a força do terror. Lute e vença, Nhuamã .

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Vença a luta de amanhã, Vença, em nome do amor...!”

continua… VI – A Luta

Profa. Ana Suzuki Aula sobre Haicai

AULA 2 - O HAICAI E A ESTAÇÃO DO ANO Um haicai pode ser de primavera, verão, outono ou inverno. Ex:

No lago sem dono, assobia, arrepiado, o vento do outono.

Neste caso, a estação do ano está explícita. Entretanto, podemos deixar a estação do ano subentendida, usando para isto um "kigô", isto é, um termo próprio da estação. Ex:

Menino de rua pisa na flor que murchou.

É Dia das Mães. O Dia das Mães ocorre em maio, no outono, portanto este é um haicai outonal (mesmo que esteja fazendo um frio ou um calor de matar). No Japão, as

estações do ano são bem definidas e determinam o modo de viver da população, enquanto que no Brasil nossa vida gira mais em torno de eventos, como Natal, festa junina, Semana Santa, Páscoa, Carnaval, etc. Portanto, podemos utilizar estes eventos para indicar a estação. Como achar facilmente um kigô outonal? Em seus livros, bons autores têm explorado: orvalho, libélula, crisântemo, grilo, flor-de-maio, estrela cadente, vento de outono, crepúsculo outonal, nuvens de outono, folha de outono, paineira, caqui, tempo de colheita, neblina, manacá, quaresmeiras, Páscoa, Semana Santa, etc. Exemplo:

As flores-de-maio Nos jardins da vizinhança

Perfumando a vida. Por favor, repitam comigo: O haicai denota uma estação do ano, de modo explícito ou indireto. O termo que designa a estação do ano chama-se kigô. O haicai

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denota uma estação do ano, de modo explícito ou indireto. O termo que designa a estação do ano chama-se kigô. O haicai denota uma estação do ano, de modo

explícito ou indireto. O termo que designa a estação do ano chama-se kigô. continua… Aula 3 – O Haicai e a métrica

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Folclore Indígena Brasileiro

Origem do Fogo

LENDA KAINGANG No inicio do mundo, a única fonte de calor era o sol. Os homens não podiam defender-se do frio e os alimentos eram comidos crus. Só Minarã, um estranho índio, conhecia os segredos do fogo e os guardava só para si. A cabana de Minarã, onde o fogo era guardado sempre aceso, era vigiada por sua filha Iaravi. Para descobrir o segredo do fogo, o guerreiro Fiietó transformou-se numa gralha branca e voou até a cabana de Minarã. Iaravi estava no rio banhando-se. A gralha caiu na água e deixou a correnteza levá-la para perto da jovem. Iaravi pegou a gralha, levou-a para dentro da cabana e colocou ao lado do fogo para que secasse. Quando as penas secaram, a gralha roubou um carvão em brasa e fugiu. Minarã perseguiu Fiietó mas não o encontrou pois ele se escondera numa caverna. Quando saiu do esconderijo, ainda como gralha, Fiietó voou até um pinheiro e, com a brasa, incendiou um ramo de sapé.

Depois, voou na direção de sua aldeia, levando o ramo no bico. Como o ramo era pesado e o vento soprava aumentando sua chama, era difícil transportá-lo. Fieetó, então, decidiu arrastá-lo pelo mato e acabou provocando um grande incêndio. A floresta ardeu em chamas durante muitos dias. Vendo o incêndio, índios de todas as tribos foram buscar brasas e tições e levaram para suas casas que, desde então, passaram a ter suas próprias fogueiras sempre acesas. LENDA TAULIPANG Palenosamó era uma velha feiticeira que não gostava dos outros índios, por isso, vivia sozinha no fundo da floresta, numa clareira, longe da tribo. Naquele tempo, os homens ainda não conheciam o fogo. Os seus beijus eram secos ao sol e tinham um gosto meio ruim. Palenosamó também só podia comer as coisas cruas.

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Certo dia, ela saiu de casa para apanhar alguns ramos. Juntou a lenha e arrumou-a como para uma fogueira, cuspiu em cima e a madeira pegou fogo. “Ah! Disse ela, esfregando as mãos. Agora vou ter comida quente.” Preparou um moquém (grelha de varas), fez beijus, caxiri e regalou-se. Estava contente da vida. Numa tarde, quando o sol tostava a terra e todos repousavam debaixo das cabanas, uma jovem índia entrou na floresta. Foi andando até dar com a casa da feiticeira. Subiu numa árvore e ficou a olhar. Tudo estava silencioso. O vento tinha parado. Nenhuma folha se mexia. Daí a pouco, apareceu a velha no terreiro. Pegou um pouco de lenha, juntou-a e fez fogo outra vez. A moça ficou muito espantada. Desceu da árvore, afastou-se devagar para não ser percebida, e, quando já estava a uma boa distância, deitou a correr o mais que podia. Chegou na taba quase sem fôlego. Contou aos companheiros o que vira; como a velha índia fizera fogo. Ao receber a notícia, os homens ficaram satisfeitíssimos. “Vamos para lá! Precisamos de fogo também.” Foram. A moça, na frente, ia-lhes mostrando o caminho. Finalmente, chegaram. Falaram a Palenosamó: “Sabemos que tens fogo. Dá-nos!” A feiticeira ria-se, negando-se a atendê-los. “Se não nos dás o fogo, nós te obrigaremos!” Gritaram os índios. Agarrando-a, prenderam-na consigo, voltando a tribo. No meio da taba, amarram-na num poste. Juntaram, em torno dela, bastante lenha. Em seguida, apertaram o ventre da velha feiticeira, até que não agüentou mais e cuspiu sobre a madeira. O fogo

apareceu, vivo e forte. Queimou a terra, em baixo, transformando-a numa pedra – “wato”. Essa pedra, quando é batida em outra igual, solta faíscas. Desse modo, os índios aprenderam a fazer fogueiras e não tiveram mais de comer os alimentos crus. LENDA XAVANTE A onça originalmente tinha o fogo. Um dia o neto e o cunhado foram procurar filhote de arara. O neto subiu numa escada e jogou uma pedra no cunhado. O cunhado ficou bravo e deixou o neto lá em cima, no penhasco. A onça chegou e fez o garoto descer e levou ele para sua toca. Na toca a onça assou carne de queixada para o neto e o neto viu o fogo pela primeira vez. Depois, o neto foi embora da toca da onça levando um pouco de carvão, como prova do fogo. Na comunidade, contou que a onça era a dona do fogo. A comunidade toda combinou de roubar o fogo da onça. Assim, vários Xavantes se transformaram em animais para poder roubar o fogo. A primeira que roubou da onça foi a anta, que passou para o cervo, que passou para o veado campeiro, que passou para o veado mateiro que passou para a seriema, que passou para a capivara. A capivara deu um pulo na água, mas antes, um passarinho passou e pegou o fogo levando este para a aldeia. Tendo fogo e mais caça para comer, começou a se desenvolver o povo Xavante nascendo mais crianças e ficando mais fortes.

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LENDA KUIKÚRU Os índios kuikúru não tinham fogo. Kanassa, um herói demiurgo, resolveu procurar. Levava na mão fechada um vaga-lume. Cansado da caminhada, resolveu dormir. Abriu a mão, tirou o vaga-lume e pôs no chão. Como estava com frio, se acocorou para se aquentar à luz do vaga-lume. Quando Kanassa e a saracura chegaram ao outro lado da lagoa, ele desenhou no barro uma arraia, mas com o escuro não viu o próprio desenho e foi ferrado. Kanassa pediu, então, o fogo à saracura, para poder enxergar. Esta lhe disse que só o ugúvu-cuengo (urubu-rei) é que tinha fogo. “Como é esse ugúvu-cuengo?” “É um tipo de uruágui (urubu comum), muito grande, com duas cabeças e difícil de ser encontrado. Fica em lugar bem alto e só desce para comer.” “Como é que a gente faz para segurar ele?” “O único jeito é matar um veado grande, esconder-se embaixo da unha dele até ele apodrecer. E, quando o urubu-rei chegar, segurar a perna dele e só soltar quando ele der o fogo.” Kanassa desenhou um veado morto, escondeu-se na unha da carniça, e ficou esperando o dono do fogo se aproximar. Quando este começou a comer a carne podre, agarrou-o pelo pé. O urubu-rei só ficou um pouquinho zangado, chamou um passarinho preto e mandou buscar o fogo lá do céu. O passarinho trouxe uma brasa, assoprou e acendeu o fogo. Kanassa, na mesma hora soltou o urubu-rei. Quando o fogo já estava aceso e quente, vieram os sapos, sopraram água nele e fugiram para a água. Mas o fogo não chegou a

apagar e, o urubu-rei, então, disse: “Kanassa, quando o fogo apagar, quebra uma flecha em pedaços, racha no meio, amarra bem uma sobre a outra e firma bem no chão. Feito isso, procura uma varinha de urucum e com ela, apoiando uma das pontas nos pedaços da flecha, tira com força até o fogo surgir. E, procura um cipó da beira da água, abre e deixa secar. É muito bom para ajudar a acender fogo.” Para levar o fogo para o outro lado do rio, Kanassa chamou as cobras. Só uma, muito ligeira, conseguiu chegar até o outro lado: a itóto. Kanassa também atravessou a água e lá no outro lado deu bebida, mingau e beiju para itóto – a cobra que conduziu o fogo. LENDA PARINTINTINS Os parintintins, que também se chamavam kagwahiva, nunca tinham visto fogo. Para obter comida quente, armavam um moquém (grelha de varas) com caça e deixavam-no ao sol. Pediram então ao semideus Bahira, que lhes desse um pedaço do sol. Prometendo atendê-los, Bahira entrou na floresta e fez um “onimbó-é”, um ardil para enganar os outros. Deitou-se, fingindo-se morto. Vendo-o, a mosca varejeira voou em sua direção; cheirou-o e partiu a toda pressa em busca do urubu-rei, exatamente como o *tuixauá desejava. Esse pássaro era, naquele tempo, o dono do fogo. Veio depressa, pensando em regalar o estômago com o índio. Pegou-o e pôs fogo embaixo. Tão contente estava que Bahira aproveitou-se do seu descuido para roubar o fogo e fugir.

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Percebendo o que acontecera, o urubu-rei reuniu sua gente e saiu em perseguição ao índio. Este, ouvindo o barulho dos perseguidores, ocultou-se num tronco oco, os urubus entraram atrás dele. Bahira escapou pelo outro lado e tornou a esconder-se, agora numa moita de taquara. Respirou fundo… Tinha conseguido. Chegando à beira de um rio, chamou a cobra e pôs-lhe fogo nas costas, para que ela o levasse a sua gente, que estava na outra margem. Inteiramente queimada, a cobra morreu. Chamou o camarão e, tomando o fogo, fez a mesma coisa. O camarão, ficou muito vermelho e também morreu. Colocou ainda o fogo nas costas do caranguejo e o infeliz teve a sorte dos seus companheiros. Bahira já estava começando a

ficar preocupado. Tentou uma vez mais com a saracura, e a pobre ave ficou como os outros. Quando Bahira já não sabia o que fazer, apareceu o sapo cururu, que tem o costume de engolir brasas, julgando que são vagalumes. Engoliu o fogo e carregou-o até onde estavam os parintintins. Em seguida, o “Tuixauá-Bahira” quis pular para junto dos seus amigos. Achando o rio muito largo, gritou-lhe e ele imediatamente ficou estreito. Saltou-o e foi-se com os índios da sua tribo. Como recompensa ao sapo cururu por ter levado o fogo, Bahira nomeou-o pajé dos parintintins. Fonte:http://www.lendorelendogabi.com/

As Aventuras de Pedro Malasartes

Ai, que dor de dente

Cansado de andar, Pedro Malasartes chegou a uma

grande cidade. Já haviam se passado dois dias desde que se banqueteara com os cegos e seu estômago dava horas.

Para piorar ainda mais sua situação, estava com uma dor de dentes que mal podia suportar.

Mas não tinha dinheiro nem para pagar o dentista – que naquele tempo era o barbeiro – nem para comer. Gastara as últimas moedas no caminho, comprando um burrico para uma pobre velha que também ia para a cidade mas mal podia andar.

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Ia mergulhado em tristes pensamentos quando passou na porta de uma padaria. Acabava de sair uma fornada e o cheiro de pão enchia o ar.

Pedro Malasartes olhou para dentro e viu toda espécie de pães e bolos.

Ficou com água na boca. O dono da padaria estava na porta, com seu

avental branco, e parecia ter o rei na barriga. Em tom de mofa, vendo a cara de Pedro Malasartes, perguntou-lhe:

– Quantos pães e doces seriam necessários para matar a sua fome, hein?

Nosso herói respondeu sem hesitar: – Puxa, aposto que comeria uns cem… – Ora, ora! – exclamou o padeiro, que adorava fazer

apostas. – Que posso lhe fazer se não conseguir comer mesmo cem pães e doces?

– Amigo padeiro, já deve ter percebido que não tenho comigo um só tostão. Mas para lhe mostrar que sou mesmo capaz de fazer o que estou dizendo, pode mandar me arrancar um dente de quatro raízes se não comer cem pães e doces!

Arrancar dente sempre foi coisa de meter medo. Divertido com a aposta, o dono da padaria mandou Pedro Malasartes entrar e serviu-lhe os mais finos

produtos do seu estabelecimento. Pãezinhos de queijo e broas, bolos, doces, marias-moles e tudo o mais.

Nosso herói estava mesmo com uma fome de lobo e conseguiu comer, sem maior esforço, uns quatro pães, duas ou três broas, algumas roscas e quatro ou cinco doces.

Dando-se por satisfeito, virou-se para o padeiro: – É… Não é que não consigo nem olhar mais para

pães e doces? Prontamente o outro o agarrou pelo braço e levou-o

ao barbeiro: – Amigo barbeiro, trate de arrancar por minha

conta um dente de quatro raízes desse malandro! – Este aqui, este aqui -apontou Pedro Malasartes,

mais que depressa, rindo por dentro. O barbeiro arrancou-lhe o dente dolorido em três

tempos. Não doeu tanto assim, mas Malasartes fez muitas caretas.

– Está vendo só no que dá fazer apostas? -disse o padeiro, com ar triunfante. – Devia ter visto logo que não poderia comer tanto assim.

– Pois agora é que vou comer muito mais! -retrucou Pedro Malasartes.

E foi-se embora assobiando, com a barriga cheia e livre do dente que tanto o incomodava, sem gastar um tostão…

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Isabel Furini

Porque lemos literatura?

Lemos porque queremos entender a realidade de outro ponto de vista ou porque precisamos fugir dela por um momento para voltar mais lúcidos. Lemos livros de ficção porque queremos saber como os outros vivem, enfrentam os problemas, como vencem ou como sucumbem. Lemos porque queremos ver refletido nosso eu no mundo dos personagens. A força do teatro é o arroubamento emocional, a participação grupal – que alimente, além do instinto estético, o instinto gregário do ser humano. Os espectadores estão na mesma sala assistindo à peça. Ao contrário do teatro, a leitura é atividade solitária. Podemos falar sobre um livro com um amigo, familiar ou colega de trabalho. Mas lemos e nos emocionamos sozinhos. Contudo, um bom livro nos ajuda a suportar melhor a solidão. Por isso, os livros foram chamados de “bons amigos”. Estão sempre esperando os leitores. No teatro, os personagens estão diante do espectador, podemos olhar os personagens. A leitura, ao contrário, coloca em jogo a imaginação do leitor. No teatro as reações de qualquer pessoa da plateia podem ser observadas pelos outros.

A leitura dá lugar a expressões – como rir, chorar ― que muitas vezes, a pessoa oculta em público. Tanto a leitura de obras ficcionais quanto o teatro têm função catártica, mas as estradas são diferentes. No final de uma peça, o público aplaude. Ao terminamos de ler um livro também podemos sentir desejos de aplaudir ou de criticar. Mas aplaudimos ou criticamos mentalmente. Também podemos escrever nossas impressões ou procurar outras pessoas para fazer comentários ou trocar opiniões. Por isso é tão importante a criação de clubes de leitura. O ser humano é gregário e precisa de outros para dialogar e crescer. Podemos entender que o esforço do escritor é ciclópeo. Ele precisa encontrar caminhos para chegar à mente do leitor e despertar o interesse. O importante é cultivar o hábito da leitura seja como fonte de informações, como caminho de autoconhecimento ou simples entretenimento. Em síntese, lemos literatura para interpretar o mundo, para esquadrinhar a alma humana, para conhecer, para compreender, para sair do dia a dia rotineiro. Ítalo Calvino, Julio Cortázar e outros aconselham ler os clássicos.

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Os clássicos passam valores enquanto desenvolvem histórias.O escritor Jorge Luiz Borges dizia que ler deve ser um ato prazeroso. Ler é vital para nosso desenvolvimento como seres humanos. Por que escrevemos? A criação literária é como a frágua de Vulcano. Escrever nunca é morno. Escrever é angústia, raiva, incêndio, esperança, fingimento e desespero. É criar castelos de areia com palavras e temer a ventania. Escrever é emoção primitiva, instinto de autoexpressão. É gritar, usando corretamente a linguagem. É, então, grito medido, sofisticado – chamo isso de fingimento – pois é grito visceral, mas contido. Educado para expressar-se através de figuras estilísticas, discursos e silêncios, focos narrativos e personagens. Escrever é colocar rédea nos cavalos da emoção. Civilizar a cólera. Contê-la para não expor em demasia esse eu paradoxal que deseja expressar-se e ora aparece, ora volta-se sobre si mesmo. Escrever é, às vezes, um ato de coragem e outras, um ato de estupidez. Mas sempre uma busca de catarse. O texto é o produto do transbordar de um eu – Netuno, escondido nas águas do inconsciente. E é esse eu desconhecido que brinca com as palavras... deleita-se com as próprias histórias e incentiva o leitor a navegar no tempestuoso mar da literatura.

Como escrever um poema Poema nasce da alma (se você não acredita em alma, pense que o poema nasce em algum lugar desconhecido do hemisfério cerebral direito – o da criatividade). Como mensagem, todo poema tem seu valor. Agora, se vamos falar tecnicamente, o discurso muda. Você pode se perguntar o que faz um poema ser amado e outro ser desprezado. Bem, não existe uma regra nem um critério universal. A Poesia não é ciência, não é objetiva. Ela atinge diretamente nossa subjetividade. Uns gostam de rima, outros não. Alguns adoram sonetos, outros detestam. Há os fanáticos do Haikai e os que acham chato tanta economia de versos (o haikai é formado de 17 sons, distribuídos em três versos de 5, 7 e 5 respectivamente). Uma das características da poesia contemporânea é a quebra de paradigmas. O poeta precisa inovar. A imagem também adquire um lugar predominante na literatura contemporânea. A poesia não pode fugir disso.Uma obra de ficção precisa de descrições detalhadas e ponto de vista original, a poesia precisa de imagens, só que devem ser rápidas e de impacto. A figura de estilo chamada enumeração também dá força ao poema. Apresenta sucessivamente vários elementos ou justapõe palavras. Também é valorizada

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a enumeração caótica com elementos que parecem dispostos ao acaso como nos poemas de Ruy Belo:

"Cão que matinalmente farejava a calçada as ervas os calhaus os seixos e os

paralelepípedos os restos de comida os restos de manhã

a chuva antes caída..."

Agora, poesia é criatividade, por isso ninguém pode dar parâmetros fixos. Então, vamos escrever ao som de nossa alma. Uns amarão e outros vão odiar. Esse é preço da ousadia.

Fonte: http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=1917

________________

Isabel Florinda Furini, educadora e escritora, de nacionalidade argentina, radicada em Curitiba/PR. escreve poemas desde criança, já foi premiada em alguns concursos. Publicou 15 livros, entre eles a Coleção "A Corujinha e os Filósofos" da Editora Bolsa Nacional do Livro, em 2006. Em 2007 redigiu a obra SENAC PARANÁ, 60 ANOS e publicou "O Livro do Escritor", da editora Instituto Memória, Curitiba, 2009. Ministra palestras e oficinas direcionadas a novos escritores.

Estante de Livros

Milton Hatoum Relato de um Certo Oriente

A obra de estreia do escritor amazonense Milton Hatoum, Relato de um certo Oriente, nasceu em 1989, quando o autor apresentou à então editora da Companhia das Letras, Maria Emília Bender, o manuscrito de seu livro. Aprovado por Luiz Schwarcz, proprietário da Cia das Letras, o romance foi

finalmente publicado, depois de um longo percurso de escrita, iniciado em 1982, na capital francesa.

Busca mostrar as dificuldades presentes na convivência diária de familiares e amigos entre si, com seus diferentes segredos e comportamentos, faz deste um grande enredo.

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O romance mostra que o refúgio da memória é a interioridade do indivíduo, reduzido e isolado na sua própria história, quase que incomunicável com outro mundo que não seja o dele.

A memória, a identidade e a reconstituição de lembranças são os temas principais deste romance. A personagem protagonista consegue, por meio da rememoração de seu passado e com a ajuda das lembranças de outros, enriquecer sua vida, dar sentido e valor à sua origem.

A (re)construção do passado é interessante, pois a narradora utiliza de diferentes recursos para reanimá-lo, seja por um odor, seja por uma voz, seja por um lugar. Esses e outros recursos são utilizados como meios de recuperar a memória perdida.

O enredo do romance é uma tessitura de retalhos narrativos que se alinham em oito capítulos. São várias histórias que se entrelaçam e se completam, lembrando assim o estilo da narrativa oral. Estas várias narrações, que em muito lembram a estrutura das Mil e Uma Noites, se desenrolam em um cenário que lembra constantemente as estruturas de passagem que compõem a existência humana.

A trama se passa numa cidade marcada pelo hibridismo cultural e atravessada pelas ideias de fronteira e trânsito: Manaus, uma capital que se separa da floresta pelas águas fluviais e se situa num estado que faz divisa com três outros países. Ela também é a cidade natal do escritor. No livro também estão presentes a diversidade de costumes, línguas, e a

convivência entre indivíduos de diferentes nacionalidades.

Nesta busca incansável da personagem principal por sua identidade e suas origens, em uma Manaus que é mais margem do que propriamente uma metrópole, apesar de ser a capital amazonense, o leitor vai desvelando junto com a protagonista um passado repleto de segredos e revelações inimagináveis, relembrando e descobrindo histórias do seu passado e da família que a criou.

Retornando a Manaus, após estar internada em uma clínica de repouso em São Paulo, a narradora chega na noite que precede o dia da morte de Emilie, sua mãe adotiva.

Inicia-se, então, o trabalho de recuperar Emelie através da memória, não apenas a sua, mas também a de outros personagens que entrelaçaram seu percurso de forma significativa ao daquela família: o filho mais velho, o único a aprender o árabe e que também irá se distanciar de todos, ao mudar-se para o sul; o alemão Dorner, amigo da família e fotógrafo; o marido de Emelie, recuperado, mesmo depois de morto, através da memória de Dorner, e Hindié Conceição, amiga sempre presente, a partilhar com a conterrânea a solidão da velhice. Muitas vozes a compor um mosaico, nem sempre ordenado, nem sempre claro naquilo que revela, mas sobretudo rico em pequenos detalhes de extrema significação.

No intuito de enviar uma carta ao irmão, que se encontra em Barcelona, a fim de lhe revelar a morte de Emilie, escreve um relato com depoimento de membros

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da família e de amigos, conforme o irmão lhe pedira na última correspondência que lhe enviara. Esses testemunhos proporcionam uma verdadeira viagem à memória, com regresso à infância e aos fatos marcantes da vida familiar.

No primeiro capítulo, a narradora descreve uma parte da casa na qual acabara de acordar, em Manaus. A descrição das duas salas contíguas é repleta de marcas identificatórias do Oriente, indicando uma representação estilizada desse local: tapete de Isfahan, elefante indiano e reproduções de ideogramas chineses são alguns dos objetos de consumo dos ocidentais, tomados como símbolos, que estão presentes nos cômodos.

No romance as histórias falam das possibilidades e das dificuldades do trabalho com a memória, das tensões e da convivência de culturas, religiões, línguas, lugares, sentimentos e sentidos diferentes das personagens em relação ao mundo. A casa de Emilie, matriarca da família na narrativa do Relato, é um microcosmo onde estas tensões aparecem e são vividas cotidianamente.

O que mantêm a tensão no romance é a narrativa centrada em incidentes – o atropelamento de Soraya Ângela, o afogamento de Emir.

A obra, em sua estrutura e estratégia de composição, parece oscilar entre a narração – em que a figura do narrador é extremamente importante e o relato é feito principalmente com base nas tradições orais, como uma tentativa de rememorar as experiências coletivas do passado – e o romance, que surgiria como um gênero literário devido as transformações da sociedade capitalista, que destrói cada vez mais a possibilidade de que a experiência comum viva e se revele no relato dos narradores.

Este mosaico narrativo é também influenciado por outro retrato memorialístico, tecido pelo francês Marcel Proust no seu clássico Em Busca do Tempo Perdido. Para Hatoum a memória é uma peça fundamental, sem a qual não se tece a verdadeira literatura. E esta obra é, sem dúvida, uma das maiores apologias ao seu poder.

Fontes: http://www.passeiweb.com/estudos/livros/relato_de_um_certo_oriente Ana Lucia Santana. http://www.infoescola.com/livros/relato-de-um-certo-oriente/

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Nota sobre o Almanaque

Este Almanaque é distribuído por e-mail e colocado nos blogs http://www.singrandohorizontes.blogspot.com.br e http://universosdeversos.blogspot.com.br Os textos foram obtidos na internet, em jornais, revistas e livros, ou mesmo colaboração do poeta. As imagens são montagens, cujas imagens principais foram obtidas na internet e geralmente sem autoria, caso contrário, constará no pé da figura o autor. Este Almanaque tem a intencionalidade de divulgar os valores literários de ontem e de hoje, sejam de renome ou não, respeitando os direitos autorais. Seus textos por normas não são preconceituosos, racistas, que ataquem diretamente os meios religiosos, nações ou mesmo pessoas ou órgãos específicos. Este almanaque não pode ser comercializado em hipótese alguma, sem a

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