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A F CRIST

Carlos Martins Nabeto

A F CRIST- Coletnea de Sentenas Patrsticas -

Volume 2 Deus Pai, Filho e Esprito Santo

1 Edio 2007-3-

Carlos Martins Nabeto

Direitos Autorais do Autor NABETO, Carlos Martins. 1969A F Crist: Coletnea de Sentenas Patrsticas. Volume 2: Deus Pai, Filho e Esprito Santo. So Vicente: 2007. (1 edio, 108 pginas) Bibliografia. Registrado na Fundao Biblioteca 361.898, Livro 669, fls. 58. Nacional sob o n

1. Catolicismo; 2. Patrstica; 3. Patrologia; 4. Literatura crist primitiva I. Ttulo CDD 281.1 ndices para Catlogo Sistemtico: 1. Literatura crist primitiva 281.1 2. Padres da Igreja: literatura crist primitiva 281.1 3. Escritores eclesisticos: literatura crist primitiva 281.1 4. Patrstica 281.1 5. Patrologia 281.1

Capa: Slvio L. Medeiros [email protected]+NIHIL OBSTAT pe. Caetano Rizzi - Vigrio Judicial Santos, 21/12/04 na festa de So Pedro Canzio +IMPRIMATUR Conforme o cnon 827, 3, do Cdigo de Direito Cannico, autorizo a publicao desta obra. +d. Jacyr F. Braido Bispo Diocesano de Santos 01 de janeiro de 2005 2005-2007. Todos os direitos reservados. Proibida a reproduo total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especialmente por sistemas grficos, microfilmticos, fotogrficos, reprogrficos, fonogrficos, videogrficos, Internet e e-books ou outros, sem prvia autorizao, por escrito, da editora. Vedada a memorizao e/ou recuperao total ou parcial em qualquer sistema de processamento de dados e a incluso de qualquer parte da obra em qualquer programa jusciberntico. Essas proibies aplicam-se tambm s caractersticas grficas da obra e sua editorao. A violao dos direitos autorais punvel como crime (art. 184 e pargrafos, do Cdigo Penal, cf. Lei n 6.895, de 17.12.1980), com pena de priso e multa, conjuntamente com busca e apreenso e indenizaes diversas (artigos 102, 103 pargrafo nico, 104, 105, 106 e 107 itens 1, 2 e 3, da Lei n 9.610, de 19.06,1998 [Lei dos Direitos Autorais]). O autor concede licena especial para este e-book ser armazenado e distribudo pela Internet, apenas pelos sites http://www.veritatis.com.br e http://cocp.nabeto.ihshost.com.

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Todo aquele que der testemunho de Mim diante dos homens, tambm Eu darei testemunho dele diante de meu Pai que est nos cus (Mat. 10,32).

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Srie Citaes PatrsticasVolume 1 - A Palavra de Deus / A Profisso de F Volume 2 - Deus Pai, Filho e Esprito Santo Volume 3 - Maria, os Santos e os Anjos Volume 4 - A Igreja de Cristo Volume 5 - Os 7 Sacramentos / A Criao Volume 6 - Escatologia e Questes Diversas

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DEDICATRIA minha esposa, Ana Paula, e filhos, Lucas e Victor. Aos meus pais, Modesto e Joaquina. Aos irmos de Apostolado e a todos os meus leitores em geral

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SOBRE O AUTORCarlos Martins Nabeto, casado e pai de dois filhos, nasceu em So Vicente-SP, vindo de uma famlia de classe mdia: o pai comerciante e a me dona de casa. Formado e ps-graduado em Cincia da Computao pela Universidade Santa Ceclia dos Bandeirantes (Uniceb); formado em Direito pela Universidade Catlica de Santos (UniSantos) e ps-graduado em Direito Processual Matrimonial Cannico pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Trabalha como Analista de Sistemas, Professor Universitrio e Advogado. Desde 1988 dedica-se ao estudo da F Crist, tendo retornado conscientemente ao seio da Igreja Catlica em 1991. Fundador, em 1997, do premiado site Agnus Dei, pioneiro na defesa da f catlica na Internet. Em 2002, juntamente com Alessandro Ricardo Lima, fundou o apostolado catlico Veritatis Splendor (http://www.veritatis.com.br) - considerado hoje um dos maiores sites catlicos em lngua portuguesa onde desde ento, alm de suas atribuies familiares e seculares, dedicase publicao e traduo de artigos referentes ao Cristianismo Primitivo e defesa da F Catlica nas questes mais difceis. Em 2007, fundou ainda o site COCP-Central de Obras do Cristianismo Primitivo (http://cocp.nabeto.ihshost.com), visando centralizar e disponibilizar ao grande pblico a ntegra de escritos do Perodo Patrstico.

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NDICE

INTRODUO GERALDEPSITO DA F: A TRADIO ESCRITA E A TRADIO ORAL O PERODO PATRSTICO OCASIO DA PRESENTE OBRA

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1. A SANTSSIMA TRINDADEA) EXISTNCIA B) UNIDADE DAS PESSOAS DIVINAS C) DISTINO DAS PESSOAS DIVINAS

2.DEUS PAIA) DEUS B) MONOTESMO C) O NOME DE DEUS D) DEUS TODO-PODEROSO E) DEUS JUSTO, SBIO E ONISCIENTE F) DEUS SE RELACIONA COM O HOMEM G) A GRAA DIVINA H) DEUS DEVE SER AMADO

3. JESUS CRISTOA) SEU NOME B) A ENCARNAO C) VERDADEIRAMENTE HOMEM E DEUS D) FILHO NICO DE DEUS E) SUA PRIMEIRA VINDA F) HOMEM SEM PECADO G) NOVO ADO H) VERBO DO PAI I) AMAVA PERFEITAMENTE SUA ME J) NO TEVE IRMOS CONSANGNEOS K) MORREU VERDADEIRAMENTE L) DESCEU AOS INFERNOS M) RESSUSCITOU DOS MORTOS N) REDENTOR DO GNERO HUMANO O) SEU SANGUE VALIOSSSIMO P) SUA VONTADE E CONHECIMENTO Q) TODO HOMEM DEVE CONFESS-LO R) ULTRAJADO POR JUDAICOS E PAGOS

4. O ESPRITO SANTOA) TERCEIRA PESSOA DA SANTSSIMA TRINDADE B) AO VIVIFICANTE C) PROCEDE DO PAI E DO FILHO

ANEXO - RELAO DE PADRES E ESCRITORES DO PERODO PATRSTICO

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NDICE ONOMSTICO

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BIBLIOGRAFIA E SITES CONSULTADOSLIVROS (FONTES DE CITAES) SITES CONSULTADOS PARA SABER MAIS...

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OBSERVAOEsta compilao, devidamente registrada perante as autoridades civis e eclesisticas, o resultado de mais de cinco anos de pesquisas e muitas horas de trabalho para sua organizao e editorao final. No obstante a isto, o Autor disponibiliza GRATUITAMENTE a presente obra na Internet, favorecendo a edificao da f e o fomento da literatura crist primitiva. Por esse motivo, se este livro foi de alguma forma til para voc, considere contribuir com QUALQUER VALOR que o seu corao ordenar, efetivando depsito bancrio na seguinte conta-corrente: Banco 033 Santander/Banespa Agncia 0123 Conta n 01.029678-5 Sua doao favorecer novas pesquisas para a ampliao deste volume, bem como incentivar novos projetos do Autor.

IMPORTANTE! ATENO!Esta obra (e futuras atualizaes) somente poder ser encontrada e distribuda pelos seguintes sites: APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR (http://www.veritatis.com.br) COCP-CENTRAL DE OBRAS DO CRISTIANISMO PRIMITIVO (http://cocp.nabeto.ihshost.com) terminantemente proibida a distribuio desta obra por outros sites e comunidades da Internet, ou por outros meios, inclusive impressos, ainda que gratuitamente ou sob qualquer alegao, nos termos legais (cf. notcia de copyright pg. 4). Somente os sites acima indicados garantem a integridade e o contedo da presente obra. Em caso de dvida, acesse um desses sites para obter gratuitamente uma cpia original desta obra.

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PREFCIO Na Antiguidade onde prevalecia uma religiosidade politesta, de deuses nacionais, visveis, mutveis e circunscritos a locais sagrados, um povo especialmente se destaca por sua confisso de F bastante incomum. A F de Israel no foi resultado de especulaes filosficas e nem de buscas pelo divino. Sua F nasce de sua experincia com Deus, o Deus real que Se revela e age na histria dos homens. Os relatos de Israel sobre seu Deus no vinham de fbulas, mas de sua prpria histria como povo e nao. Isto , a histria da F no era diversa da histria civil, sua identidade como povo deriva de sua identidade com Deus. A fora da realidade histria da ao de Deus no meio do povo, far Israel confessar "o Senhor o verdadeiro Deus" (cf. Js 22,34), Senhor de todas as naes (cf. 1Cr 14,17; Tb 8,19; Jt 3,13; Sl 71,11), imutvel (cf. Sb 7,27) e presente em toda a terra (cf. 2Cr 16,9; Sl 18,5). O aceite desta verdade implicar na dura misso de ser testemunha do Deus nico para todos os povos (cf. Dt 4,35), a fim de que todas as naes pags conheam que vs sois o nico Deus de toda a terra (cf. Tb 8,9). Porm, a revelao de Deus sobre Si mesmo encontrou sua plenitude na F Crist, com o advento do messinico de Nosso Senhor Jesus Cristo. Afastada a ameaa do politesmo, Cristo pde ento revelar que o Deus nico tambm Trino (cf. Mt 28,19). Com efeito, este caminho j vinha sendo preparado desde o Antigo Testamento. Israel invocava seu Deus por Elohim, palavra que possui conotao de plural, cujo singular El. Curiosamente, no relato da criao Deus utiliza o plural faamos para referir-Se sua ao criadora (cf. Gn 1,26). Isaas v os anjos do Cu glorificarem a Deus de forma trade: "Santo, Santo, Santo o Senhor Deus do universo! A terra inteira proclama a sua glria!" (Is 6,3). O mesmo Profeta anunciou que o Messias que Deus enviar tambm Deus (cf. Is 9,5-6; 7,14). A Igreja primitiva que adotou para si a confisso de F de Israel, tambm teve que lidar com uma outra realidade histrica. A confisso da Igreja na Trindade Santa, assim- 13 -

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como a confisso de F de Israel, no nasceu de uma especulao sobre Deus ou de reflexes filosficas, mas tambm da experincia histrica e real com o Deus Verdadeiro. Jesus que confessou Sua F no Deus Pai de Israel (cf. Mt 3,9; 4,10; 27,46), declarou ele mesmo ser Deus igual ao Pai (cf. Jo 14,7-11). Tambm revelou a existncia do Esprito Santo, referindo-se a Ele como outro Parclito (cf. Jo 14,16), isto , ao lado do Pai, alm dele mesmo, havia ainda um outro que o Esprito da Verdade (cf. Jo 14,17) ou Esprito Santo (cf. Jo 14,26). Assim como outrora fora com Israel, a confisso de F da Igreja em Deus consiste no compromisso de ser testemunha Dele diante de todas as naes da terra. O mesmo Deus que atravs dos profetas Se revelou Uno, por meio de Cristo e dos apstolos tambm anuncia que Trino. Porm, aqui h um detalhe muito interessante. desta ltima forma que Deus deseja ser conhecido por todos. A grande diferena entre o testemunho de Israel e o da Igreja, que este ltimo missionrio. Israel no tinha o dever de levar a F no Deus Uno s naes da terra, enquanto que a F no Deus Uno e Trino deveria ser levada pela Igreja. Com efeito, este foi mandato de Cristo Igreja: Ide, pois, e ensinai a todas as naes; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Esprito Santo (Mt 28,19). A iniciativa de Carlos Martins Nabeto - grande apologista e estudioso das fontes primitivas da F - em colocar disposio do pblico de lngua portuguesa as citaes dos Pais da Igreja, merece todos os nossos agradecimentos e aplausos. Com toda certeza esta obra um verdadeiro presente, pois permite conhecer a confisso de F da Igreja Antiga, mostrando sua perene fidelidade revelao de Deus sobre de Si prprio. Fao votos para que as sementes que aqui so lanadas encontrem terreno frtil em muitos coraes e dem muitos frutos, "cem por um, sessenta por um, trinta por um" (cf. Mt 13,8). Braslia-DF, 25 de julho de 2007. Prof. Alessandro Lima.

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INTRODUO GERAL Os melhores intrpretes das Sagradas Escrituras so os Padres da Igreja (Joo Paulo II) Ingressamos, h alguns anos, no Terceiro Milnio da Era Crist mas, desde que o Senhor Jesus ascendeu aos cus (Mc. 16,19), centenas de milhes de pessoas tm se sensibilizado por sua palavra, por sua atitude, por seu amor... fato que aps a sua ressurreio, coube sempre Igreja o mnus de proclamar o Evangelho por todo o mundo (Mt. 28,19), contando, para isso, com o infalvel auxlio do Esprito Santo (Jo. 15,26; 16,13; At. 2). Peregrina neste mundo, a Igreja no raras vezes tem se defrontado com obstculos que tentam minar a f e a unidade dos fiis. Um dos ataques mais comuns contra a Igreja aquele que a acusa de "deturpar a Palavra de Deus", visto que a Bblia seria "silente" em tal ou qual ponto da doutrina ou disciplina... Surge da, ento, a dvida: ser que a Igreja Catlica atual pode ser identificada com aquela Igreja qual Cristo empregou o pronome possessivo "minha" (cf. Mt. 16,18)? A resposta encontra-se claramente no Depsito da F confiado Igreja... DEPSITO DA F: A TRADIO ESCRITA E A TRADIO ORAL Sabe-se, inquestionavelmente, que Jesus passou todo o seu ministrio pblico ensinando as coisas de Deus Pai por viva voz, mediante a pregao oral, com exceo de uma nica vez, quando escreveu, com o dedo, na terra (cf. Jo. 8,6); infelizmente, nessa oportunidade nica, nenhum dos evangelistas documentou o que ele teria escrito no cho. Igualmente, constata-se na Bblia que Jesus jamais ordenou aos seus discpulos para que colocassem por escrito os seus ensinamentos, mas os convocou para que, assim como ele, pregassem o Evangelho a toda criatura (cf. Mc. 16,15), afirmando, ainda, que aqueles que ouvissem seus discpulos estariam ouvindo a Ele mesmo (cf. Lc. 10,16). Por isso, os primeiros escritos do Novo Testamento - as epstolas de So Paulo - comearam a surgir 20 anos aps a ressurreio do- 15 -

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Senhor (os primeiros evangelhos, no entanto, somente passaram a aparecer depois de 40 anos!). Percebe-se, assim, que os discpulos de Jesus obedeceram fielmente a sua ordem, primeiramente pregando e formando as primeiras comunidades, para s depois escrever e, mesmo assim, apenas quando necessrio. Com efeito, o prprio So Paulo deduz a existncia de duas formas de Tradio: a oral (formada pela pregao de viva voz) e a escrita (composta pelo Antigo Testamento e os novos documentos cristos produzidos segundo a necessidade), como lemos em 2Tes. 2,15. Em momento algum a Tradio escrita, consignada na Bblia, rejeita a Tradio oral (cf. 2Tim. 1,13, 2Tes. 3,6), at porque reconhece-se explicitamente que nem todos os ensinamentos e feitos de Jesus poderiam caber dentro dos limites de qualquer livro (cf. Jo. 20,30; 21,25) e que somente a Igreja "a coluna e o fundamento da Verdade" (1Tim. 3,15), j que ela obviamente detm, por Pedro, as chaves do Reino (cf. Mt. 16,19), podendo ligar e desligar as coisas no cu (Mt. 18,18), bem como conta com a assistncia do Esprito Santo (cf. At. 2,4). Da a autoridade da Igreja para proclamar o Reino de Deus (v.tb. Mt. 18,17) e, inclusive, para estabelecer o verdadeiro cnon bblico. Com efeito, quem estabeleceu o cnon do Antigo (com 46 livros) e do Novo Testamento (com 27 livros) para os cristos foi a Igreja, no sc. IV, baseando-se na Tradio Oral dos primeiros cristos. Por isso, quem nega o valor da Tradio Oral no pode nem acatar os livros da Bblia, vez que esta, por si s, no relaciona os livros que devem ser aceitos como legtimos. Por outro lado, boa parte daquilo que recebemos pela Tradio oral foi coletada e citada por muitos cristos primitivos, cuja f crist autntica no lhes pode ser negada ou reduzida, em seus respectivos escritos, que demonstram posies no contrrias Bblia ou complementares a esta. A autoridade de cada escritor, porm, est firmada sobre a sua erudio, santidade e ordem hierrquica. Da ser inegvel a importncia do perodo Patrstico para a Igreja crist, pois foi durante os primeiros sculos da Era Crist que no apenas a Igreja como a prpria doutrina crist se "desenvolveram", ou seja, foram melhor explicadas, compreendidas e aceitas por toda a Cristandade.

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O PERODO PATRSTICO Geralmente compreende-se o Perodo Patrstico entre o final do sculo I (com a morte do ltimo Apstolo, isto , So Joo) e o sculo VIII, inclusive. Durante todo esse perodo, muitas perseguies e heresias surgiram e ameaaram os fundamentos do Cristianismo, mas graas aos esforos empreendidos por diversos cristos - de homens e mulheres rudes e figuras annimas a grandes bispos e telogos, versados nas Sagradas Letras (tradio escrita) e nas Tradies Apostlicas (tradio oral) -, a f crist no apenas triunfou sobre os seus perseguidores e detratores como tambm afastou de vez o perigo de se ver contaminada pelo veneno mortal das heresias. Podemos, pois, classificar esses ilustres cristos da seguinte maneira: a) Padres da Igreja: So aqueles homens e mulheres de Deus que, segundo os estudiosos da Patrstica, renem as seguintes caractersticas: 1) Doutrina Ortodoxa: no significa iseno total de erros, mas a fiel comunho de doutrina com a Igreja universal; 2) Santidade de Vida: na forma como se cultuavam os santos na Antigidade crist; 3) Aprovao Eclesistica: deduzida das deliberaes e declaraes eclesisticas; e 4) Antigidade: dentro do perodo acima considerado (sc. I-VIII d.C.) b) Escritores Eclesisticos: Cabe a todos os demais escritores-telogos da Antigidade Crist, mesmo os que no refletem "doutrina ortodoxa" e "santidade de vida". Isto posto, nota-se que o ensino unnime dos Padres considerado pela Igreja como regra infalvel de uma verdade de f, j que, isoladamente, nenhum Padre da Igreja pode ser tido por infalvel, exceto quando foi Papa ensinando ex cathedra, ou quando certa passagem de seu escrito foi aprovado por um Conclio Ecumnico. OCASIO DA PRESENTE OBRA Conhecer os textos produzidos pelos primeiros cristos alm de nos ajudar a compreender melhor a nossa f, tambm nos mostra que, hoje, muitas seitas voltam a pregar doutrinas j condenadas nos primrdios do Cristianismo. E se foram

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reprovadas porque no refletiam - e no refletem! - a verdadeira f transmitida por Cristo sua Igreja. Exatamente por isso, no de se estranhar que muitas pessoas tenham retornado Igreja de Cristo aps estudar seriamente os textos produzidos no Perodo Patrstico. Porm, embora j fosse possvel encontrar em lngua portuguesa algumas obras retratando personagens e ensinos ou at mesmo reproduzindo na ntegra escritos desse Perodo (v. Bibliografia, no final da presente obra), inexistia - at ento em nosso mercado editorial, uma obra que reproduzisse somente as passagens mais importantes de toda essa vasta produo literria, segundo uma abrangente ordem de matrias e submatrias afins. justamente esse espao que pretendemos preencher, "facilitando a vida", em especial, dos estudantes de Teologia, seminaristas, clrigos e catequistas... Visando tambm demonstrar que a doutrina da Igreja permaneceu inalterada nestes dois mil anos de Cristianismo, apresentamos cada matria e/ou submatria citando ainda o(s) versculo(s) bblico(s) correspondente(s), ainda que no exaustivamente, bem como reproduzimos o ensino oficial da Igreja, quer citando o Catecismo da Igreja Catlica, quer quando isto no for possvel - reproduzindo um texto retirado de alguma obra de prestgio em nosso mercado editorial. Apresentando, pois, mais de 1.600 citaes dos primeiros padres e escritores da Igreja primitiva, pretendemos, por fim, tornar realidade, da forma mais simples possvel, o desejo explicitamente manifestado pelos padres do Conclio Vaticano II (p.ex., decr. Presbyterorum Ordinis, n 19). "Retornando" s fontes patrsticas, certamente estaremos adequando o nosso pensamento sobre as coisas de Deus com o ensinamento da Igreja dos primeiros tempos, solidificando a nossa f de hoje e de sempre, j que o consenso unnime dos Padres da Igreja continua sendo considerado argumento decisivo em qualquer controvrsia teolgica. Carlos Martins Nabeto Aos 13 dias de Janeiro de 2005, Festa de Santo Hilrio de Poitiers (+367), bispo e doutor da Igreja.

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DEUS

Jesus revela o rosto de Deus Pai, misericordioso e compassivo (Tg 5, 11), e, com o envio do Esprito Santo, torna patente o mistrio de amor da Trindade. o Esprito de Cristo que atua na Igreja e na histria: preciso permanecer escuta d'Ele para reconhecer os sinais dos novos tempos e fazer com que a expectativa do regresso do Senhor glorioso se torne cada vez mais ardente no corao dos fiis. Por isso, o Ano Santo dever ser um nico e incessante cntico de louvor Trindade, Deus Altssimo. Podem ajudar-nos estas palavras poticas de So Gregrio de Nazianzo, o Telogo: Glria a Deus Pai e ao Filho, / Rei do universo. / Glria ao Esprito, digno de louvor e todo santo. / A Trindade um s Deus / que tudo criou e cumulou: / o cu de seres celestes, e a terra de terrestres. / O mar, os rios e as fontes, / Ele encheu-os de seres aquticos, / tudo vivificando com o seu Esprito, / para que toda a criatura / entoe hinos ao seu sbio Criador, / causa nica do viver e da durao dos seus dias. / Mais do que qualquer outra, / louve-O sempre a criatura racional / como grande Rei e Pai bom Possa este hino Trindade, pela encarnao do Filho, ser elevado conjuntamente por todos aqueles que, tendo recebido o mesmo batismo, partilham a mesma f no Senhor Jesus. O carter ecumnico do Jubileu seja um sinal concreto do caminho que, sobretudo nestes ltimos decnios, esto a realizar os fiis das diversas Igrejas e Comunidades eclesiais. a escuta do Esprito que nos deve tornar, a todos, capazes de chegar a manifestar visivelmente, na plena comunho, a graa da filiao divina inaugurada pelo batismo: todos somos filhos de um nico Pai. O Apstolo no cessa de repetir, tambm hoje para ns, esta empenhativa exortao: H um s corpo e um s Esprito, como existe uma s esperana no chamamento que recebestes. H um nico Senhor, uma nica f, um nico batismo. H um s Deus e Pai de todos, que est acima de todos, atua por meio de todos e Se encontra em todos (Ef. 4,4-6). Parafraseando Santo Ireneu, no podemos permitir-nos de dar ao mundo a imagem de terra rida, depois de termos recebido a Palavra de Deus como chuva descida do cu; nem nunca poderemos pretender tornarmo-nos um nico po, se impedirmos farinha de ser amalgamada pela gua que sobre ns foi derramada. (Bula Incarnationis Mysterium nn 3-4)

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1. A Santssima Trindade O mistrio da Santssima Trindade o mistrio central da f e da vida crist. o mistrio de Deus em Si mesmo. , portanto, a fonte de todos os outros mistrios da f, a luz que os ilumina. o ensinamento mais fundamental e essencial na hierarquia das verdades de f. Toda a histria da salvao no seno a histria da via e dos meios pelos quais o Deus verdadeiro e nico, Pai, Filho e Esprito Santo, se revela, reconcilia consigo e une a Si os homens que se afastam do pecado (CIC 234).

a) Existncia Porquanto por Cristo Jesus que uns e outros temos acesso ao Pai mediante um mesmo Esprito (Ef. 2,18). No decurso dos primeiros sculos, a Igreja procurou formular mais explicitamente a sua f trinitria, tanto para aprofundar a sua prpria compreenso da f, quanto para defende-la contra erros que a estavam deformando. Isso foi obra dos Conclios antigos, ajudados pelo trabalho teolgicos dos Padres da Igreja e apoiados pelo senso da f do povo cristo (CIC 250). Didaqu "No que diz respeito ao Batismo, batizai em nome do Pai e do Filho e do Esprito Santo em gua corrente. Se no houver gua corrente, batizai em outra gua; se no puder batizar em gua fria, fazei com gua quente. Na falta de uma ou outra, derramai trs vezes gua sobre a cabea, em nome do Pai e do Filho e do Esprito Santo" (7,1-3). Papa Clemente I de Roma "Um Deus, um Cristo, um Esprito de graa" (1 Carta aos Corntios 46,6). "Como Deus vive, assim vive o Senhor e o Esprito Santo" (1 Carta aos Corntios 58,2). Incio de Antioquia "Vs sois as pedras do templo do Pai, elevado para o alto pelo guindaste de Jesus Cristo, que a sua cruz, com o

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Esprito Santo como corda" (Epstola aos Efsios 9,1). "Procurai manter-vos firmes nos ensinamentos do Senhor e dos apstolos, para que prospere tudo o que fizerdes na carne e no esprito, na f e no amor, no Filho, no Pai e no Esprito, no princpio e no fim, unidos ao vosso dignssimo bispo e preciosa coroa espiritual formada pelos vossos presbteros e diconos segundo Deus. Sejam submissos ao bispo e tambm uns aos outros, assim como Jesus Cristo se submeteu, na carne, ao Pai, e os apstolos se submeteram a Cristo, ao Pai e ao Esprito, a fim de que haja unio, tanto fsica como espiritual" (Epstola aos Magnsios 13,1-2). Policarpo de Esmirna "Eu te louvo, Deus da Verdade, te bendigo, te glorifico por teu Filho Jesus Cristo, nosso eterno e Sumo Sacerdote no cu; por Ele, com Ele e o Esprito Santo, glria seja dada a ti, agora e nos sculos futuros! Amm" (Martrio de Policarpo 14,1-3). Justino Mrtir "Que no somos ateus, quem estiver em so juzo no o dir, pois cultuamos o Criador deste universo, do qual dizemos, conforme nos ensinaram, que no tem necessidade de sangue, libaes ou incenso (...) Em seguida, demonstramos que, com razo, honramos tambm Jesus Cristo, que foi nosso Mestre nessas coisas e para isso nasceu, o mesmo que foi crucificado sob Pncio Pilatos, procurador na Judia no tempo de Tibrio Csar. Aprendemos que ele o Filho do prprio Deus verdadeiro, e o colocamos em segundo lugar, assim como o Esprito proftico, que pomos no terceiro. De fato, tacham-nos de loucos, dizendo que damos o segundo lugar a um homem crucificado, depois do Deus imutvel, aquele que existe desde sempre e criou o universo. que ignoram o mistrio que existe nisso e, por isso, vos exortamos que presteis ateno quando o expomos" (Apologia 1,13,1.3-6). "Os que so batizados por ns so levados para um lugar onde haja gua e so regenerados da mesma forma como ns o fomos. em nome do Pai de todos e Senhor Deus, e de Nosso Senhor Jesus Cristo, e do Esprito Santo que recebem a loo na gua. Este rito foi-nos entregue pelos apstolos" (Apologia 1,61).

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Atengoras de Atenas "De fato, reconhecemos tambm um Filho de Deus. E que ningum considere ridculo que, para mim, Deus tenha um Filho. Com efeito, ns no pensamos sobre Deus, e tambm Pai, e sobre seu Filho como fantasiavam vossos poetas, mostrando-nos deuses que no so em nada melhores do que os homens, mas que o Filho de Deus o Verbo do Pai em idia e operao, pois conforme a ele e por seu intermdio tudo foi feito, sendo o Pai e o Filho um s. Estando o Filho no Pai e o Pai no Filho por unidade e poder do Esprito, o Filho de Deus inteligncia e Verbo do Pai. Se, por causa da eminncia de vossa inteligncia, vos ocorre perguntar o que quer dizer 'Filho', eu o direi livremente: o Filho o primeiro broto do Pai, no como feito, pois desde o princpio Deus, que inteligncia eterna, tinha o Verbo em si mesmo; sendo eternamente racional, mas como procedendo de Deus, quando todas as coisas materiais eram natureza informe e terra inerte e estavam misturadas as coisas mais pesadas com as mais leves, para ser sobre elas idia e operao" (Splica pelos Cristos, 10,2-4). "Como no se admiraria algum de ouvir chamar ateus aos que admitem um Deus Pai, um Deus Filho e o Esprito Santo, ensinando que o seu poder nico e que sua distino apenas distino de ordens?" (Splica pelos Cristos 10). Tefilo de Antioquia "Igualmente os trs dias que precedem a criao dos luzeiros so smbolo da Trindade: de Deus [=Pai], de seu Verbo [=Filho] e de sua Sabedoria [=Esprito Santo]" (A Autlico 1,2,14). Ireneu de Lio "Com efeito, a Igreja espalhada pelo mundo inteiro at os confins da terra recebeu dos apstolos e seus discpulos a f em um s Deus, Pai onipotente, que fez o cu e a terra, o mar e tudo quanto nele existe; em um s Jesus Cristo, Filho de Deus, encarnado para nossa salvao; e no Esprito Santo que, pelos profetas, anunciou a economia de Deus" (Contra as Heresias 1,10,1). "J temos mostrado que o Verbo, isto , o Filho esteve sempre com o Pai. Mas tambm a Sabedoria, o Esprito

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estava igualmente junto dele antes de toda a criao" (Contra as Heresias 4,20,4). "O Pai aprova e decide; o Filho executa e modela; o Esprito fomenta e acrescenta; e o homem avana pouco a pouco at chegar perfeio" (Contra as Heresias 4,32,3). "O Esprito nos mostra o Verbo (...), que por sua vez nos conduz e nos leva ao Pai" (Demonstrao do Ensino Apostlico 7). Clemente de Alexandria "Que estupendo mistrio! H um nico Pai do universo; um nico Logos do universo e tambm um nico Esprito Santo, idntico em todo lugar. H tambm uma nica virgem que se tornou Me e me agrada cham-la de Igreja" (Paed. 1,6). Tertuliano de Cartago "[Praxas] acredita que s se pode crer em um nico Deus se se identificar a Ele o Pai, o Filho e o Esprito Santo (...) Que seja guardado o mistrio da economia que dispe a unidade em Trindade, manifestando os trs: o Pai, o Filho e o Esprito Santo! Trs - digo eu - no pela natureza, mas pela condio; no pela substncia, mas por seu carter prprio; no pelo poder, mas por sua manifestao. Eles so, pois, de uma nica substncia, de uma nica natureza, de um poder nico, porque existe um nico Deus e em virtude dele que essas condies, esses caracteres e essas manifestaes so atribudas ao nome do Pai e do Filho e dop Esprito Santo" (Contra Praxas 2,3). "Como a mesma regra de f nos faz passar do politesmo do mundo pago ao nico e verdadeiro Deus, todos os simples, para no dizer os ineptos e os ignorantes, que constituem sempre a maioria entre os fiis, consideram que a regra de f nos faz passar do politesmo do sculo ao Deus vivo e verdadeiro, e no compreendem que necessitam crer sem dvidas no Deus nico, mas com a sua economia (=de se revelar em Trs Pessoas). Eles se espantam, crendo que a economia introduza o nmero, que a Trindade ameace a unidade, enquanto, ao contrrio, a unidade, fazendo sair de si mesma a Trindade no anulada por ela, mas organizada. Eles continuam repetindo que ns pregamos dois ou trs deuses e que eles adoram o Deus nico, como se no constitusse uma heresia o monotesmo

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irracionalmente restrito e no fosse uma verdade a Trindade racionalmente difundida (...) Ns afirmamos uma monarquia - dizem - porque eles se exprimem assim, mesmo aqueles que falam latim; e repetem esta palavra com tanta fora, que se creria que compreendem a monarquia to bem quanto a enunciam (...) Pelo simples fato de se referir a uma nica pessoa, a monarquia no obriga aquele que a possui a no ter tambm um filho ou a no gerar um filho ou a no exercer o seu imprio monrquico por meio daqueles que desejar (...) Deves pensar que se tem o fim da monarquia somente quando se sobrepe uma outra dominao, dotada de condies prprias e de natureza prpria, inimiga portanto, e quando se introduz outra divindade contra o Criador ou mais divindades (...) Nada tirado da matriz da qual extrai suas propriedades. Assim, a Trindade, atravs de uma srie de degraus cruzados e interligados, descende do Pai e no se ope monarquia, mas protege a natureza da economia" (Contra Praxas 3,1-2.6; 8,7). "Para tornar confiante a nossa esperana, basta o nmero dos Nomes divinos (...) porque sob o Trplice Nome se fundamenta a afirmao da f e a garantia da salvao" (Do Batismo 6,1-2). "De nada na Trindade se deve dizer que maior ou menor, uma vez que a fonte nica da divindade mantm todas as coisas por sua Palavra ou razo, e que ela santifica pelo Esprito (sopro) de sua boca tudo o que merece santificao (...) Mas existe tambm, alm dessa ao, uma ao prpria de Deus Pai, aquela pela qual ele concedeu o ser a todos, segundo sua natureza especfica; existe tambm um ministrio prprio do Senhor Jesus Cristo, a respeito daqueles aos quais ele confere, segundo sua natureza especfica, a razo; por esse meio, alm de ser, ele lhes concedeu o ser em conformidade com o bem. Por fim, existe tambm a graa do Esprito Santo, concedida aos que so dignos dela; administrada por Cristo e operada pelo Pai, segundo o mrito dos que dela se tornam capazes. O apstolo Paulo mostra isso claramente, explicando que a ao da Trindade nica e idntica, quando diz: 'H diversidade de dons, mas o Esprito o mesmo; diversidade de ministrios, mas o Senhor o mesmo; diversos modos de ao, mas o mesmo Deus que realiza tudo em todos' (1Cor 12,4-6). Esta frase indica muito claramente que no

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h nenhuma diferena na Trindade; mas o que dom do Esprito Santo administrado pelo Filho e operado por Deus Pai" (Dos Princpios 1,3,7). Orgenes de Alexandria "Ao Pai universal por Jesus Cristo no Esprito Santo" (Da Orao 33). Hilrio de Poitiers "Quanto a mim, tenho conscincia de que a tarefa principal de minha vida a Vs, Deus Pai todo-poderoso, que ela deve ser consagrada, assim como todas as minhas palavras e todos os meus pensamentos. A maior recompensa que me pode dar justamente o uso da linguagem que me concedestes vos servir, proclamando o que sois, isto , o Pai, e o Pai de um Deus Filho nico; demonstrar essa verdade diante do mundo que a ignora ou dos hereges que a negam. isso, pelo menos, o que declaro ser meu nico objetivo. Quanto ao resto, devo implorar a graa de vosso auxlio e de vossa misericrdia; agora, que estirei para vs as velas de nossa f e de nossa confisso, dignai-vos, pelo sopro do vosso Esprito, infl-las, dar impulso e ardor pregao que assumimos. Sim, fiel Aquele que nos garantiu esta promessa: 'Pedi e vos ser dado; buscai e achareis; batei e vos ser aberto' (Lc. 11,9). De nossa parte, ns vos pedimos aquilo de que desprovida a nossa pobreza, e nos esforaremos no zelo incansvel para examinar as palavras de vossos profetas e de vossos Apstolos; bateremos em todas as portas que guardam a entrada ao entendimento do mistrio; mas a vs que cabe dar, quando pedimos; estar presente, quando vos procuramos; e abrir, quando batemos (...) Concedei-nos, pois, a graa de dar s palavras o seu verdadeiro sentido, a luz que possibilita a compreenso, a nobreza de estilo e uma f exata. Fazei com que sejamos capazes de formullo, isto , de vos celebrar, luz dos profetas e dos Apstolos, e contra as negociaes dos hereges, vs, Deus nico, Pai, assim como nosso Senhor, Jesus Cristo" (Da Trindade 1,37). Atansio de Alexandria "Da mesma forma que os arianos, negando o Filho, negam o Pai, esses tambm, desacreditando o Esprito Santo, desacreditam o Filho. So duas faces que se repartem na insurreio contra a verdade, para desembocarem na- 25 -

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mesma blasfmia contra a Trindade, atacando uns o Filho, outros o Esprito" (Carta a Serapio). "H, portanto, uma Trindade santa e perfeita, reconhecida como Deus no Pai e no Filho e no Esprito Santo. Ela no contm nada de estranho, nada que lhe seja acrescentado do exterior: no constituda de criador e de criado, mas absolutamente inteira virtude criadora e produtora. semelhante a ela mesma, indivisvel por sua natureza e nica em sua eficincia. De fato, o Pai faz todas as coisas pelo Verbo no Esprito e assim que a unidade da Trindade Santa salvaguardada; assim como na Igreja anunciado um [s] Deus, [que est] acima de todos e [age] por todos e [est] em todos. 'Acima de todos' como Pai, como princpio e fonte; 'por todos' pelo Verbo; 'em todos' no Esprito Santo. A Trindade existe, no limitada a um nome e aparncia de uma palavra, mas [como] Trindade em verdade e realidade. Porque assim como o Pai o Existente, assim seu Verbo o Existente e Deus acima de tudo, e o Esprito Santo no desprovido de existncia, mas e subsiste verdadeiramente. A Igreja Catlica no pensa outra coisa, para evitar cair na condio dos que so atualmente judeus, maneira de Caifs e de Sablio; ela no imagina nada mais, para no degringolar no politesmo dos gentios. Que seja exatamente essa a f da Igreja, que [os adversrios] aprendam pelo modo com que o Senhor, quando enviou os Apstolos, ordenou-lhes que dessem esse fundamento Igreja, dizendo: 'Ide e ensinai todas as naes, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Esprito Santo'. Os Apstolos, por sua vez, tendo partido, ensinaram assim, e tal a pregao [divulgada] em toda a Igreja que est sob o cu" (Carta a Serapio 1,28). Baslio Magno de Cesaria "Que calnia poderia ser mais deplorvel e mais capaz de agitar as massas como a que se desencadearia se alguns dentre ns dissessem abertamente que existe apenas uma hipstase para o Pai, o Filho e o Esprito Santo. Mesmo que ensinassem com toda clareza a diferena de Pessoas, resultaria que tal doutrina j fora ensinada primeiramente por Sablio. Com efeito, este dizia: 'Deus um pela hipstase, mas representado pela Escritura sob pessoas diferentes, conforme o carter particular da necessidade que se encontra a cada momento (...)'. Se necessrio exprimirmos brevemente nosso sentimento, diramos que a- 26 -

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relao que existe entre o comum e o particular a mesma entre a substncia e a hipstase. Cada um de ns participa do ser pelo princpio comum da substncia, e isso ou aquilo por suas caractersticas prprias. Do mesmo modo, aqui o princpio da substncia comum, como a bondade, a divindade e todos os outros atributos que se possa imaginar, mas a hipstase considerada no carter prprio da paternidade ou da filiao ou do poder santificante (...) para que conjuntamente o princpio da consubstancialidade seja conservado na unidade da divindade, e que o conhecimento que a piedade fornece do Pai, do Filho e do Esprito Santo seja anunciado na hipstase perfeita e completa de cada um dos que so nomeados" (Epstola 214,3.4). "O nome dado a cada uma (=das Pessoas da Santssima Trindade) indica um atributo que lhe prprio (...) O Pai existe em seu carter prprio de Pai; o Filho, em seu carter prprio de Filho; e o Esprito Santo, em seu carter pessoal. Mas nem o Esprito Santo fala por si mesmo (Jo. 16,13), nem o Filho faz algo por si mesmo (Jo. 8,28); o Pai enviou o Filho (Jo. 17,21) e o Filho enviou o Esprito Santo (J. 16,7)" (Da Profisso de F). "O caminho que leva ao conhecimento de Deus a partir do Esprito nico, por meio do Filho nico, at o nico Pai. Ao contrrio, a bondade divina recircula do Pai, pelo Filho, ao Esprito" (Do Esprito Santo 18). Gregrio de Nanzianzo "O Antigo Testamento revela-nos claramente o Pai, enquanto que o Filho ficou esquecido, na penumbra. O Novo Testamento revelou-nos claramente o Filho, e somente indiretamente nos fez entender a divindade do Esprito Santo. Mas agora, o Esprito Santo habita em nosso meio e d-nos uma demonstrao mais evidente do que Ele . No teria sido prudente proclamar abertamente a divindade do Filho antes que fosse reconhecida a divindade do Pai, ou impor a funo do Esprito Santo - se lcito expressar-me numa forma to ousada - quando ainda a divindade do Filho no era ainda reconhecida (...) Era melhor que, por adies parciais e por ascenses de glria em glria, brilhasse progressivamente o esplendor da Trindade" (Discurso Teolgico 5,5,26). "[A graa do Reino a] unio de toda a Santssima Trindade- 27 -

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com o esprito pleno" (Or. 16,9). "Entre os Trs tudo idntico, exceto a relao de origem" (Or. 34). "Antes de todas as coisas, conservai-me este bom depsito, pelo qual vivo e combato, com o qual quero morrer, que me faz suportar todos os males e desprezar todos os prazeres: refiro-me profisso de f no Pai, no Filho e no Esprito Santo. Eu vo-la confio hoje. por ela que daqui a pouco vou mergulhar-vos na gua e vos tirar dela. Eu vo-la dou como companheira e dona de vossa vida. Dou-vos uma s Divindade e Poder, que existe una nos Trs e que contm os Trs de uma maneira distinta. Divindade sem diferena de substncia ou de natureza, sem grau superior que eleve ou grau inferior que rebaixe (...) A infinita co-naturalidade de Trs Infinitos, cada Um considerado em si mesmo Deus todo inteiro (...) Deus os Trs considerados juntos. Nem comecei a pensar na Unidade e a Trindade me banha no seu esplendor; nem comecei a pensar na Trindade e a Unidade toma conta de mim" (Or. 40,41). " Trindade santa! Somente o que diz respeito a vs desperta em mim interesse". Smbolo Atanasiano "A f catlica esta: que adoremos o nico Deus na Trindade e a Trindade na Unidade, no confundindo as Pessoas, nem separando a substncia, pois uma a Pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Esprito Santo; mas uma s a Divindade do Pai, do Filho e do Esprito Santo, igual a glria, co-eterna a majestade". Conclio Ecumnico de Constantinopla II "Cremos no Esprito Santo, Senhor e fonte da vida, que procede do Pai, com o Pai e o Filho adorado e glorificado, o qual falou pelos profetas". Joo Crisstomo " Filho nico e Verbo de Deus: sendo imortal, vos dignaste, pela nossa salvao, encarnar-vos da Santa Me de Deus e sempre virgem Maria, vs que sem mudana vos tornaste homem e foste crucificado, Cristo Deus, que pela vossa morte esmagaste a morte; sois Um na Trindade, glorificado com o Pai e o Esprito Santo. Salvai-nos!" (O Monoghenis).

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Agostinho de Hipona "Enquanto na imagem da Trindade a memria, o conhecimento e o amor pertencem a um s homem, na excelsa Trindade no apenas pertencem a um s Deus mas so um s Deus, permanecendo, embora distintas, Pessoas, e no uma s" (Da Trindade). "Os gregos usam tambm a palavra 'hypostasis', mas ignoro que diferena estabeleam entre 'ousa' e 'hypostasis', e a maior parte dps que entre ns tratam dessas coisas costumam dizer, em grego, 'mian ousan, treis hypostaseis'; em latim, 'unam essentiam, tres substantias'. Mas como entre ns a linguagem falada fez que a palavra 'essncia' signifique a mesma coisa que a palavra 'substncia', no ousamos dizer 'uma essncia, trs substncias', mas 'uma essncia ou substncia e trs pessoas'. Muitos latinos que trataram dessas questes e merecem crdito empregaram essa frmula, no encontrando uma expresso mais apropriada para exprimir com palavras o que concebiam sem palavras. Com efeito, como o Pai no o Filho, o Filho, o Pai e o Esprito Santo, que tambm chamado 'dom de Deus', no nem o Pai, nem o Filho; so trs evidentemente, por isso a Escritura diz no plural: 'Eu e o Pai somos um' (Jo 10,30). No diz: ' um', como pretendem os sabelianos, mas 'somos um'. Todavia, se se pergunta sobre o que so esses Trs, devemos reconhecer a insuficincia extrema da linguagem humana. Sem dvida, se responde 'trs pessoas', contudo, mais para no permanecer sem dizer nada do que para exprimir aquela realidade" (Da Trindade 5,8,10). "Se a caridade de Deus (...) faz de muitas almas uma s alma, e de muitos coraes um s corao, com quanto maior razo o Pai, o Filho e o Esprito Santo so um s Deus, uma s luz, um s princpio!" (Comentrio ao Evangelho de Joo 39,5). Cesrio de Arles "A f de todos os cristos consiste na Trindade" (Do Smbolo). Mximo Confessor "Mesmo se a Divindade, que est para alm de tudo, for celebrada por ns como Trindade e como Unidade, ela no nem o trs e nem o um que conhecemos como nmeros".

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Anastcio do Sinai "Disse Deus, o Criador Trino: 'Faamos o homem nossa imagem'. E essa imagem j , de antemo, o Filho encarnado" (In. Hex. 6). *** b) Unidade das Pessoas Divinas Eu e o Pai somos um (Jo. 10,30). A Trindade una. No professamos trs deuses, mas um s Deus em trs Pessoas: a Trindade consubstancial. As Pessoas divinas no dividem entre Si a nica Divindade, mas cada uma delas Deus por inteiro: o Pai aquilo que o Filho; o Filho aquilo que o Pai; o Esprito Santo aquilo que so o Pai e o Filho, isto , um s Deus quanto natureza. Cada uma dessas trs Pessoas esta realidade, isto , a substncia, a essncia ou a natureza divina (CIC 253). Pseudo-Clemente "Se colocamos Jesus Cristo abaixo de Deus, no podemos esperar muito dele" (Carta aos Corntios 2,1,1-2). Alexandre de Alexandria "Quem ouviu, alguma vez, semelhantes coisas? (=sobre a doutrina de rio) Quem, agora que as ouve, no tapar os ouvidos para impedir que essas ignbeis palavras cheguem at eles? Quem, ouvindo Joo dizer: 'No princpio era o Verbo' (Jo 1,1), no condenar os que dizem: 'Houve um tempo em que ele no era'? Quem, ainda, ouvindo estas palavras do Evangelho: 'Filho nico de Deus' (Jo 1,18) e 'Tudo foi feito por meio dele' (Jo 1,3), no detestar os que afirmam que o Filho uma das criaturas? Como pode ele ser igual ao que foi feito por ele? Como pode ser Filho nico aquele que elencamos com todas as coisas, na categoria destas? Como viria ele do nada, ao passo que o Pai diz: 'De meu seio, antes da aurora, eu te gerei?' (Sl 109,3)? Como seria ele, em sua substncia, diferente do Pai, ele que a imagem perfeita e o esplendor do Pai (2Cor 4,4; Hb 1,3) e que diz: 'Quem me v, v o Pai' (Jo 14,9)? Se o Filho o Verbo e a Sabedoria do Pai, como teria havido um tempo em que ele no existia? como se dissessem que houve um tempo em que Deus no tinha Palavra nem Sabedoria. Como est sujeito transformao e alterao aquele que- 30 -

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diz de si mesmo: 'Eu estou no Pai e o Pai est em mim' (Jo 10,38) e 'Eu e o Pai somos um' (Jo 10,30), e que disse pelo profeta: 'Vede-me; eu sou e no mudo' (Ml 3,6)? Mesmo que se pense que essa palavra pode ser dita pelo prprio Pai, seria agora, no entanto, mais oportuno, julg-la dita por Cristo, porque, tornado homem, ele no muda, mas, como diz o Apstolo, "Jesus Cristo o mesmo, ontem, hoje e pela eternidade' (Hb 13,8). Quem os leva a dizer que por ns que ele foi feito, enquanto So Paulo diz: 'Para ele e por ele todas as coisas existem' (Hb 2,10)? Quanto sua afirmao blasfema de que o Filho no conhece perfeitamente o Pai, no seria de causar surpresa, pois, uma vez que eles decidiram a combater Cristo, desprezam tambm as palavras do prprio Senhor que diz: 'Como o Pai me conhece, eu tambm conheo o Pai' (Jo 10,15)" (Epstola). Conclio Ecumnico de Nicia I "Cremos... em um s Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, nascido do Pai como Unignito, isto , da substncia do Pai, Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, no feito, consubstancial com o Pai, por quem foi feito tudo que h no cu e na terra (...) Cremos no Esprito Santo, Senhor e fonte de vida, que procede do Pai, com o Pai e o Filho adorado e glorificado, o qual falou pelos Profetas" (Smbolo de Nicia). Gregrio de Nanzianzo "Antes de todas as coisas, conservai-me este bom depsito, pelo qual vivo e combato, com o qual quero morrer, que me faz suportar todos os males e desprezar todos os prazeres: refiro-me profisso de f no Pai, no Filho e no Esprito Santo. Eu vo-la confio hoje. por ela que, daqui a pouco, vou mergulhar-vos na gua e vos tirar dela. Eu vo-la dou como companheira e dona de toda a nossa vida. Dou-vos uma s Divindade e Poder, que existe Una nos Trs e que contm os Trs de uma maneira distinta. Divindade sem diferena de substncia ou natureza, sem grau superior que eleve ou grau inferior que rebaixe (...) A infinita conaturalidade de trs infinitos. Cada um considerado em si mesmo Deus todo inteiro (...) Deus os Trs considerados juntos. Nem comecei a pensar na Unidade e a Trindade me banha no seu esplendor. Nem comecei a pensar na Trindade e a Unidade toma conta de mim" (Or. 40,41).

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Conclio Regional de Toledo XI "O Pai aquilo que o Filho; o Filho aquilo que o Pai; o Esprito Santo aquilo que so o Pai e o Filho, isto , um s Deus quanto natureza". *** c) Distino das Pessoas Divinas Mas quando se manifestou a bondade de Deus nosso Salvador e o seu amor pelos homens (...), salvou-nos mediante o batismo de regenerao e de renovao do Esprito Santo, que Ele difundiu sobre ns abundantemente por Jesus Cristo, nosso Salvador (Tit. 3,4-6). As Pessoas divinas so realmente distintas entre Si. Deus nico, mas no solitrio. Pai, Filho e Esprito Santo no so simplesmente nomes que designam modalidades do Ser divino, pois so realmente distintos entre Si: Aquele que o Pai no o Filho e Aquele que o Filho no o Pai, nem o Esprito Santo Aquele que o Pai ou o Filho. So distintos entre Si pelas suas relaes de origem: o Pai que gera, o Filho que gerado e o Esprito Santo que procede. A Unidade divina Trina (CIC 254). Epstola de Barnab "E mais, meus irmos: se o Senhor [Jesus] suportou sofrer por ns, embora fosse o Senhor do mundo inteiro, a quem Deus disse desde a criao do mundo: 'faamos o homem nossa imagem e semelhana', como pode ele suportar sofrer pela mo dos homens?" (5,5). Incio de Antioquia "Por isso vos peo que estejais dispostos a fazer todas as coisas na concrdia de Deus, sob a presidncia do bispo, que ocupa o lugar de Deus, dos presbteros, que representam o colgio dos apstolos, e dos diconos, que so muito caros para mim, aos quais foi confiado o servio de Jesus Cristo, que antes dos sculos estava junto do Pai e por fim se manifestou. (...) Correi todos juntos como ao nico templo de Deus, ao redor do nico altar, em torno do nico Jesus Cristo, que saiu do nico Pai e que era nico em si e para ele voltou. (...) Existe um s Deus, que se manifestou por meio de Jesus Cristo seu Filho, que o seu Verbo sado do silncio, e que em todas as coisas se tornou- 32 -

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agradvel quele que o tinha enviado" (Epstola aos Magnsios 6,1; 7,2; 8,2). Justino Mrtir "Amigos, foi do mesmo modo que a Palavra de Deus se expressou pela boca de Moiss ao indicar-nos que o Deus que se manifestou a ns falou a mesma coisa na criao do homem, dizendo estas palavras: 'Faamos o homem nossa imagem e semelhana'. (...) Citar-vos-ei agora outras palavras do mesmo Moiss. Atravs delas, sem nenhuma discusso possvel, temos de reconhecer que Deus conversou com algum que era numericamente distinto e igualmente racional (...) Mas esse gerado, emitido realmente pelo Pai, estava com ele antes de todas as criaturas e com ele o Pai conversa, como nos manifestou a palavra por meio de Salomo" (Dilogo com Trifo 62,12.4). Policarpo de Esmirna "Por isso e por todas as outras coisas, eu te louvo, te bendigo, te glorifico, pelo eterno e celestial sacerdote Jesus Cristo, teu Filho amado, pelo qual seja dada glria a ti, com Ele e o Esprito, agora e pelos sculos futuros. Amm" (Martrio de Policarpo 14,3). Atengoras de Atenas "Admitimos um s Deus (...) Deus Pai e Deus Filho e Deus Esprito Santo, que mostram sua potncia na unidade e sua distino na ordem" (Splica pelos Cristos 10). Epstola a Diogneto "[O Pai] enviou o Verbo como graa, para que se manifestasse ao mundo. (...) Desde o princpio, ele apareceu como novo e era antigo, e agora sempre se torna novo nos coraes dos fiis. Ele desde sempre, e hoje reconhecido como Filho" (11,3-4). Ireneu de Lio "quele que ungiu, quele que foi ungido e prpria uno com que foi ungido: quem ungiu foi o Pai, quem foi ungido foi o Filho e o foi no Esprito, que a uno" (Contra as Heresias 1). "[O Filho e o Esprito Santo so] ministros de inefvel riqueza (...), so a uma vez progenitura e mos [do Pai] (...), aos quais servem, submissos, todos os anjos" (Contra- 33 -

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as Heresias 4,7,4). "Portanto, no foram os anjos que nos plasmaram - os anjos no poderiam fazer uma imagem de Deus - nem outro qualquer que no fosse o Deus verdadeiro, nem uma Potncia que estivesse afastada do Pai de todas as coisas. Nem Deus precisava deles para fazer o que em si mesmo j tinha decretado fazer, como se ele no tivesse suas prprias mos! Desde sempre, de fato, ele tem junto de si o Verbo e a Sabedoria, o Filho e o Esprito. por meio deles e neles que fez todas as coisas, soberanamente e com toda a liberdade, e a eles que se dirige quando diz: 'Faamos o homem nossa imagem e semelhana'" (Contra as Heresias 4,20,1). Atansio de Alexandria "Se o Verbo no consubstancial com o Pai, no nos diviniza e no nos redime. (...) Se o Esprito nos d a participao divina, no Criatura, mas Deus" (Carta a Serapio 1). Gregrio de Nanzianzo "O que ento a processo? Diga-me o que a ingenerabilidade do Pai e eu explicar-lhe-ei a fisiologia da gerao do Filho e a processo do Esprito; e ns ambos seremos arrebatados por nos intrometer no mistrio de Deus" (Or. 31,8). Conclio Regional de Roma "Anatematizamos todos aqueles que seguem o erro de Sablio, os quais dizem que o Pai e o Filho so a mesma Pessoa" (Cnon 2). Smbolo Atanasiano "A f catlica esta: que adoremos o nico Deus na Trindade e a Trindade na Unidade, no confundindo as Pessoas, nem separando a substncia, pois uma a pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Esprito Santo, mas uma s a divindade do Pai, do Filho e do Esprito Santo; igual a glria, co-eterna a majestade". Agostinho de Hipona "Embora no seja a mesma coisa ser Pai e ser Filho, todavia a substncia no diferente, porque esses eptetos no pertencem ordem da substncia, mas da relao; relao que no acidental porque no mutvel" (Da Trindade- 34 -

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5,5,6). "Enquanto na imagem da Trindade a memria, o conhecimento e o amor pertencem a um s homem, na excelsa Trindade no apenas pertencem a um s Deus, permanecendo embora distintas Pessoas e no uma s". Conclio Ecumnico de Constantinopla II "Um Deus e Pai do qual so todas as coisas; um Senhor Jesus Cristo para quem so todas as coisas; um Esprito Santo em quem so todas as coisas". Conclio Regional de Toledo XI "O Esprito Santo, que a Terceira Pessoa da Trindade, Deus, uno e igual ao Pai e ao Filho, da mesma substncia e tambm da mesma natureza (...) Contudo, no se diz que Ele somente o Esprito do Pai, mas ao mesmo tempo o Esprito do Pai e do Filho". "Nos nomes relativos das Pessoas, o Pai referido ao Filho, o Filho ao Pai e o Esprito Santo aos dois. Quando se fala destas Trs Pessoas considerando as relaes, cr-se, todavia, em uma s natureza ou substncia". "Aquele que o Pai no o Filho e aquele que o Filho no o Pai. Nem o Esprito Santo aquele que o Pai ou o Filho". Pseudo-Cirilo "Na inefvel Trindade h uma nica bondade, uma nica 'ousia', um nico poder, uma nica vontade, uma energia, uma autoridade. Uma e nica, no trs semelhantes umas a outras e sim um nico e idntico movimento das trs hipstases, porque cada uma delas goza de uma unidade com as outras, no menos que aquela que tem consigo mesma. O Pai, o Filho e o Esprito Santo so, sob todos os aspectos, uma entidade nica, exceto no que se refere no-gerao, gerao e processo [respectivamente]" (Da Santssima Trindade 10).

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2.Deus Pai Jesus revelou que Deus Pai num sentido inaudito: no o somente enquanto Criador, mas eternamente Pai em relao ao seu Filho nico, que reciprocamente s Filho em relao a seu Pai: Ningum conhece o Filho seno o Pai e ningum conhece o Pai seno o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar (Mat. 11,27) (CIC 240). a) Deus H um s Deus e Pai de todos, que est acima de todos, e atua por todas as coisas e reside em todos ns (Ef. 4,6). Mediante a razo natural, o homem pode conhecer a Deus com certeza a partir de suas obras. Mas exige uma outra ordem de conhecimento, que o homem de modo algum pode atingir pelas suas prprias foras, a da Revelao divina. Por uma deciso totalmente livre, Deus se revela e se doa ao homem. F-lo revelando seu mistrio, seu projeto benevolente, que concebeu desde toda a eternidade em Cristo em prol de todos os homens. Revela plenamente seu projeto enviando seu Filho bem-amado, nosso Senhor Jesus Cristo, e o Esprito Santo (CIC 50). Tefilo de Antioquia "Se me dizes: 'Mostra-me o teu Deus', tambm eu poderia responder-te: 'Mostra-me o teu homem e eu te mostrarei o meu Deus' (...) Deus visto por aqueles que o podem ver, ou seja, por aqueles que tm os olhos da alma bem abertos (...) Deus s se torna manifesto ao olhar da mente e no ao de qualquer mente; ao da que no est embrutecida pelos vcios e paixes" (A Autlico 1,2). Mincio Flix "[Deus] no s est perto de ns como tambm dentro de ns (...) No s vivemos sob seu olhar como tambm em seu seio" (Epstola a Otvio 32). Ireneu de Lio "Por si mesmo, o homem jamais poder ver a Deus, mas se Deus quiser, pode ser visto pelos homens, pelos que Ele quer, quando quer e como quer. Deus pode tudo! Foi visto

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outrora segundo o modo proftico, por interveno do Esprito; visto depois segundo a graa da adoo, por mediao do Filho; e ser visto mais tarde, no Reino dos cus, segundo a paternidade, se o Esprito prepara o homem para o Filho de Deus, se o Filho o conduz ao Pai e se o Pai lhe d a incorruptibilidade e a vida eterna, que resultam da viso de Deus para os que o vem" (Contra as Heresias 4,20,5). "Em relao com Deus, nada est vazio, tudo sinal dele" (Contra as Heresias 4,21). Gregrio de Nissa "A verdadeira viso de Deus consiste nisto: que aquele que levanta os olhos a Deus nunca deixa de desej-lo (...) porque seu Ser inacessvel" (Da Vida de Moiss 2,233235). Joo Crisstomo "[Deus ] inefvel, imcompreensvel, invisvel, inatingvel" (Anfora). Agostinho de Hipona "Tu (Deus) s nunca novo e nunca velho (...) sempre agindo e sempre em repouso; sempre recolhendo e nunca necessitado (...); sempre procurando e nunca carente de nada (...); amas e no sentes paixo; tens cimes e ests confiante; tu te arrependes e no sentes dor; tu te iras e ests tranqilo" (Confisses 1,4,4). "[Deus ] maior do que o que h de maior em e mais ntimo do que h de mais ntimo em mim" (Confisses 3,6,11). "A Verdade a primeira e soberana essncia, a fonte de onde procede tudo o que , enquanto tem o ser, porque tudo o que como tal, bom (...) A soberana Essncia faz ser tudo quanto existe" (Confisses 7,11,21.22). "Acreditas saber o que Deus? Acreditas saber como Deus? No nada do que imaginas, nada do que envolve o teu pensamento" (Contra Adimanto 2). "A Deus devemos conceber como um Ser bom sem qualidades, grande sem quantidades, criador sem indigncias, presente sem ubicao, que abarca sem cercear todas as coisas; onipresente sem lugar, eterno sem tempo, imutvel e autor de todas as mudanas, sem um tomo de passividade. Quem assim discorrer sobre Deus, apesar de- 37 -

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no chegar a conhecer o que , evitar, no entanto, com piedosa inteligncia e enquanto possvel, pensar Dele o que no " (Da Trindade 5,1,2s). "A excelncia sobreeminente da Divindade transcende a capacidade da linguagem habitual" (Da Trindade 7,4,7). "Portanto, procuremos [a Deus] como se tivssemos de encontrar e encontremos com o af de continuar procurando" (Da Trindade 9,1,1). "No considere ter encontrado nada aquele que tenha podido encontrar quo incompreensvel o que buscava" (Da Trindade 15,2,2). "Se no for bastante, leia com ateno meu livro intitulado 'De vera religione' e ver que no a razo que obriga a afirmao de Deus, nem o raciocnio que deduz a necessidade de Deus existir, assim como seria imprprio dizer que 7 e 3 podem perfazer dez, porque 7 e 3 no podem perfazer 10, mas so 10. Do mesmo modo, Deus no pode ser sbio, mas sbio" (Epstola 162,2). "Se compreendes o que se pretende dizer, no Deus. O que chegastes a entender coisa bem alheia a Deus (...) Se o compreendes, no Ele; e se Ele, no o compreendes" (Sermo 52,16). "Deus, o Infinito, Todo-poderoso e Imenso, grande demais para ser colocado dentro das estreitas medidas da inteligncia humana. mais fcil meter a gua do mar numa pocinha cavada na areia da praia do que colocar Deus no intelecto humano". Joo Cassiano " um olhar sobre Deus to somente um grande fogo de amor. A alma nele se dissolve e se abisma na santa dileo, e se entretm com Deus como com seu prprio Pai, bem familiarmente, com ternura de piedade toda particular" (Coll. 9,18). Conclio Regional de Toledo VI "[O Pai ] a fonte e a origem de toda a Divindade". *** b) Monotesmo Vede que sou eu s o verdadeiro Deus e que no h

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outro deus fora de Mim (Deut. 32,39). Jesus mesmo confirma que Deus o nico Senhor e que preciso am-Lo de todo o corao, com toda a alma, com todo o esprito e com todas as foras (Mc. 12,29-30). Ao mesmo tempo, d a entender que Ele mesmo o Senhor (Mc. 12,3537). Confessar que Jesus Senhor o especfico da f crist. Isto no contraria f em Deus nico. Crer no Esprito Santo que Senhor e d a Vida no introduz nenhuma diviso no Deus nico: cremos firmemente e afirmamos simplesmente que h um s verdadeiro Deus eterno e imutvel, incompreensvel, todo-poderoso e inefvel, Pai, Filho e Esprito Santo: trs Pessoas, mas uma Essncia, uma Substncia ou Natureza absolutamente simples (CIC 202). Papa Clemente I de Roma "Que lhes parece, irmos? No sabia Moiss de antemo que isso iria suceder? Sabia-o sem dvida. Mas para que no se desse a revolta em Israel, agiu assim, e fosse glorificado o nome do Deus verdadeiro e nico. A Ele a glria pelos sculos dos sculos. Amm" (1 Carta aos Corntios 43,8). "Que todos os povos conheam que Tu s o nico Deus e que Jesus Cristo o teu Filho e ns somos teu povo e as ovelhas do teu rebanho!" (1 Carta aos Corntios 59). Incio de Antioquia "Existe portanto um Deus e Pai, e no dois ou trs. O nico que , no havendo outros alm Dele, o nico e verdadeiro [Deus]. Diz a Escritura: 'O Senhor, teu Deus, o nico Senhor' (cf. Dt 6,4) (...) E existe tambm um Filho, Verbo de Deus (...) E existe tambm um Parclito(...)" (Epstola aos Filadelfienses [vs.longa] 2). "De fato, os santos profetas viveram segundo Jesus Cristo. Por essa razo foram perseguidos, pois eram inspirados pela graa dele, a fim de que os incrdulos ficassem plenamente convencidos de que existe um s Deus, que se manifestou atravs de Jesus Cristo seu Filho, que o seu Verbo sado do silncio, e que em todas as coisas se tornou agradvel quele que o tinha enviado" (Epstola aos Magnsios 8,1). Justino Mrtir "No haver e nem houve outro Deus desde a eternidade,

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alm daquele que criou e ordenou este universo. Tambm no cremos que o nosso Deus seja diferente do vosso, mas o mesmo que tirou vossos antepassados da terra do Egito, 'com mo poderosa e brao excelso'. Tambm no depositamos a nossa confiana em qualquer outro, dado que no existe, mas no mesmo que vs a depositais, no Deus de Abrao, de Isaac e de Jac" (Dilogo com Trifo 11,1). Ireneu de Lio "Sem falar, portanto, da Escritura, que no afirma outra coisa (=o Monotesmo), o testemunho dos nossos adversrios basta. Pois, por este meio, todos os homens esto, enfim, de acordo sobre este ponto: os antigos, primeiro, que conservaram esta crena pela tradio originria do primeiro homem e celebravam em seus hinos um s Deus, Criador do cu e da terra; seus descendentes, a quem os profetas de Deus lembravam a mesma verdade; os gentios que o aprenderam do universo, porque a criatura anuncia seu Criador e a ordem do mundo que a estabeleceu. Enfim, a Igreja, espalhada pelo mundo inteiro recebeu dos apstolos esta mesma tradio. Sendo, pois, certo, pelo testemunho que lhe rendem todos os homens, que Deus , no h nenhuma dvida que aquele que nossos adversrios inventaram tanto sem prova como sem testemunho. Simo, o mago, foi o primeiro a dizer que era deus supremo. Seus sucessores no fizeram seno se contradizer nas impiedades que dirigiram contra o Criador, mostrando-se, assim, piores que os prprios pagos. Pois se estes ltimos adoram as criaturas, falsos deuses em lugar do prprio Criador, ao menos atribuem o primeiro lugar da divindade ao Deus Criador do universo, enquanto os mpios que combatemos no passam de uma espcie de aborto". "Com efeito, a Igreja espalhada pelo mundo inteiro at os confins da terra recebeu dos apstolos e seus discpulos a f em um s Deus, Pai onipotente, que fez o cu e a terra, o mar e tudo quanto nele existe; em um s Jesus Cristo, Filho de Deus, encarnado para nossa salvao; e no Esprito Santo que, pelos profetas, anunciou a economia de Deus" (Contra as Heresias 1,10,1). "Nada h acima nem depois dele; foi ele que criou todas as coisas, no sendo movido por algo ou por algum, mas por sua prpria e espontnea vontade, por ser o nico Deus, o

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nico Senhor, o nico Criador, o nico Pai, o nico a conter tudo e a dar existncia a tudo" (Contra as Heresias 2,1,1). "Mas (...) se o Criador, livremente e de sua iniciativa, fez e ordenou todas as coisas e se a sua vontade a nica matria donde tirou todas elas, ento aquele que fez todas as coisas o Deus nico, o nico Onipotente, o nico Pai, que criou e fez todas as coisas, as visveis e invisveis, as sensveis e as inteligveis, as celestes e as terrestres. Com o Verbo de seu poder tudo comps e tudo ordenou por meio da sua Sabedoria; ele que tudo contm e que nada o pode conter. Ele o Artfice, o Inventor, o Fundador, o Criador, o Senhor de todas as coisas e no existe outro fora e alm dele. Ele fez todas as coisas por si mesmo, isto , pelo seu Verbo e Sabedoria" (Contra as Heresias 2,30,9). Tertuliano de Cartago " preciso necessariamente que o Ser supremo seja nico, isto , sem igual (...) Se Deus no for nico, no Deus" (Marc. 1,3). Conclio Ecumnico de Nicia I "Cremos em um s Deus, Pai todo-poderoso, Criador do cu e da terra, e de todas as coisas visveis e invisveis" (Smbolo de Nicia). *** c) O nome de Deus Deus disse a Moiss: Eu sou aquele que sou E disse: Assim dirs aos filhos de Israel: Aquele que envioume a vs (x. 3,14). Ao revelar seu nome misterioso de Yahweh, Eu Sou Aquele que ou Eu Sou Aquele que Sou ou tambm Eu Sou Quem Sou, Deus declara quem Ele e com que nome se deve cham-Lo. Este nome divino misterioso como Deus mistrio. Ele ao mesmo tempo um nome revelado e como que a recusa de um nome, e por isso mesmo que exprime, da melhor forna, a realidade de Deus como Ele , infinitamente acima de tudo o que podemos compreender ou dizer: Ele o Deus escondido (Is. 45,15), seu nome inefvel e Ele o Deus que se faz prximo dos homens (CIC 206).

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Tertuliano de Cartago "A expresso 'Deus Pai' nunca fora revelada a ningum. Quando o prprio Moiss perguntou a Deus quem Ele era, ouviu um outro nome. A ns este nome foi revelado no Filho, pois este Nome novo implica o nome novo de Pai" (Or. 3). Annimo (sc. IV) " Tu, alm de tudo, no isto o que se pode cantar a teu respeito? Que hino te dir, que linguagem? Tu tens todos os nomes! Mas como te nomearei, Tu, o nico que no se pode nomear?". Agostinho de Hipona "Quando quis manifestar-se como Criador criatura, como Deus ao homem, como Imortal ao mortal, como Eterno ao temporal, disse Ele: 'Eu sou o que sou'. Tu dirias: 'Eu: quem sou eu?'. Gaio! Outro diria: Lcio! (...) Que diria cada um seno o prprio nome? (...) Era tambm o que se esperava de Deus. Por isto, quando se lhe perguntou: 'Como te chamas? Que direi aos que me perguntarem sobre quem me enviou? Eu sou! - este ento o teu nome? tudo o que te chamas? Mas seria o Ser teu nome, se no fossem nada, comparadas a ti, todas as outras coisas? Este , pois, o teu nome (...) Quem me enviou foi Aquele que !' Considere-se este '', realmente grandioso. Que Deus seno Aquele que ? E o que o que ? O eterno, porque na verdade o que sempre uma coisa e outra, no , no permanece" (Comentrio ao Salmo 121). "O nome de Deus grande l onde for pronunciado com o respeito devido sua grandeza e sua majestade. O nome de Deus santo l onde for proferido com venerao e com temor de ofend-lo" (Serm. Dom. 2,45,19). *** d) Deus Todo-Poderoso Mas a Deus tudo possvel (Mat. 19,26). As Sagradas Escrituras professam reiteradas vezes o poder universal de Deus. Ele chamado o Poderoso de Jac (Gn. 49,24; Is. 1,24 etc.), o Senhor dos exrcitos, o Forte, o Valente (Sal. 24,8-10). Se Deus todo-poderoso no cu e na terra (Sal. 135,6), porque os fez. Por isso, nada Lhe impossvel e Ele dispe vontade da sua obra; Ele o Senhor- 42 -

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do universo, cuja ordem estabeleceu, ordem esta que Lhe permanece inteiramente submissa e disponvel; Ele o Senhor da histria: Ele governa os coraes e os acontecimentos vontade. Teu grande poder est sempre a Teu servio e quem pode resistir fora do Teu brao? (Sab. 11,21) (CIC 269). Agostinho de Hipona "Senhor: d o que ordenas e ordena o que quiseres" (Confisses 10,40). "Sendo Deus onipotente, no pde dar mais; sendo sapientssimo, no soube dar mais; e sendo riqussimo, no teve mais o que dar (=o seu prprio Filho)". Ildelfonso de Toledo "Se negas Virgem sua maternidade ou sua virgindade, injurias grandemente a Deus: negas que Ele possa fazer a Sua vontade, que Ele possa manter virgem a quem encontrou virgem. Mas, ento, a divindade do Onipotente antes trouxe detrimento do que benefcio a Maria: enfeiou-a Aquele que a enchera de beleza ao cri-la. Cesse o pensamento que assim julga; cale-se a boca que assim fala; no ressoe tal voz!" (Sobre a Virgindade Perptua de Maria). *** e) Deus justo, sbio e onisciente O Senhor conhece todas as obras do homem (Eclo. 15,20b). A onipotncia divina de modo algum arbitrria. Em Deus o poder e a essncia, a vontade e a inteligncia, a sabedoria e a justia so uma s e mesma coisa, de sorte que nada pode entrar no poder divino, que no possa estar na vontade justa de Deus ou na sua inteligncia sbia (CIC 271). Hiplito de Roma "A seguir, um dos bispos presentes, instado por todos, impondo a mo sobre o que ordenado bispo, reze dizendo: 'Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericrdias e Deus de toda a consolao, que habitas as alturas e baixas o olhar para o que humilde; tu, que

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conheces todas as coisas antes de nascerem..." (Tradio Apostlica 2,3). *** f) Deus se relaciona com o Homem Porque Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu o seu Filho Unignito, para que todo o que cr nEle no perea, mas tenha a vida eterna (Jo. 3,16). Depois da Queda, o homem no foi abandonado por Deus. Ao contrrio, Deus o chama e Lhe anuncia de modo misterioso a vitria sobre o mal e o soerguimento da Queda. Esta passagem do Gnesis foi chamada de Proto-Evangelho, por ser o primeiro anncio do Messias redentor, a do combate entre a serpente e a Mulher, e a vitria final de um descendente desta ltima (CIC 410). Ireneu de Lio "Se a grandeza divina imperscrutvel, tambm sua bondade inefvel. Graas a ela, Deus se faz ver e concede a vida aos que o vem. Seria impossvel viver sem a vida, mas no h vida seno pela participao de Deus, participao que consiste em v-lo e gozar de sua bondade (...) A glria de Deus o homem vivo e a vida do homem a viso de Deus" (Contra as Heresias 4,20,7). "O Pai aprova e decide; o Filho executa e modela; o Esprito fomenta e acrescenta; e o homem avana pouco a pouco at chegar perfeio" (Contra as Heresias 4,32,3). Orgenes de Alexandria "Mas se algum imagina que nestas coisas h mais superstio que maldade entre a multido dos que crem em nossa doutrina e acusa nossa religio de fazer supersticiosos, responder-lhe-emos o que respondeu um legislador (=Slon) a quem lhe perguntava se dera a seus concidados as melhores leis: 'No as melhores em absoluto, mas as melhores de que eram capazes'. Assim poderia dizer o Pai da doutrina crist: 'Eu dei as melhores leis e ensinei a melhor doutrina de que eram capazes para a correo dos costumes, ameaando com castigos que no so falsos, com penas infligidas aos pecadores, penas verdadeiras e necessrias que tendem a corrigir os maus, ainda que no compreendam inteiramente a vontade- 44 -

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daquele que os castiga e o efeito das penas. Porque tudo isto dito para proveito, tanto segundo a verdade, quanto veladamente de maneira til'" (Contra Celso 3,79). Ambrsio de Milo "A Ele (Deus) falamos quando oramos e a Ele ouvimos quando lemos as Palavras Divinas" (De Oficiis 1,20,88). Joo Crisstomo "Quem , pois, o ser que vai vir existncia cercado de tal considerao? um homem, grande e admirvel figura viva, mais precioso aos olhos de Deus do que a Criao inteira. o homem! para ele que existem o cu, a terra, o mar e toda a Criao; e salvao dele que Deus atribuiu tanta importncia que nem sequer poupou seu Filho nico em seu favor. Pois Deus no se cansou de tudo empreender para fazer o homem subir at Ele e faz-lo sentar sua direita" (Sermo sobre o Gnesis 2,1). Agostinho de Hipona "Vs sois grande, Senhor, e altamente digno de louvor: grande o vosso poder e a vossa sabedoria no tem medida. E o homem - pequena parcela da vossa Criao pretende louvar-Vos; precisamente o homem que, revestido da sua condio mortal, traz em si o testemunho de seu pecado e de que resistis aos soberbos. A despeito de tudo, o homem - pequena parcela da vossa Criao - quer louvarVos. Vs mesmo o incitais a isto, fazendo com que ele encontre suas delcias no vosso louvor, porque nos fizestes para vs e o nosso corao no descansa enquanto no repousar em vs" (Confisses 1,1,1). "Essa Luz (=Deus) est acima de mim, porque ela me fez, e eu, abaixo, porque fui feito por ela. Quem conhece a verdade, conhece esta Luz; e quem a conhece, conhece a eternidade" (Confisses 7,10,16). "O Filho enviado a cada um quando se torna por ele conhecido e experimentado" (Da Trindade 4,20,28). "[Deus] comeu da nossa mesa para convidar-nos Sua, Ceia eterna" (Sermo sobre a Ressurreio). "O objetivo essencial da vinda de Cristo foi revelar e fazer experimentar aos homens at que ponto Deus os ama". "Aquele que te criou sem ti, no te salvar sem ti".

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Papa Celestino I de Roma "To grande a bondade de Deus para com os homens, que desejou que sejam nossos mritos os seus prprios dons" (Indculo sobre a Graa de Deus). Cirilo de Alexandria " recebendo a impresso do Esprito Santo que ns somos recriados imagem de Deus (...) Ele se une ao corao dos que O recebem, como - digamos - o carimbo cera. Em virtude de uma verdadeira unio consigo e da semelhana assim induzida, faz Ele reviver os traos da imagem de Deus em ns". *** g) A graa divina Deus resiste aos soberbos e d a sua graa aos humildes (Tg. 4,6b). Nossa justificao vem da graa de Deus. A graa o favor, o socorro gratuito que Deus nos d para responder ao seu convite: tornar-nos filhos de Deus, filhos adotivos, participantes da natureza divina, da vida eterna (CIC 1996). Joo Crisstomo "Considerai como Jesus Cristo nos ensina a ser humildes, ao fazer-nos ver que nossa virtude no depende s de nosso trabalho, mas da graa de Deus" (Homilia sobre o Evangelho de Mateus 19,5). Agostinho de Hipona "A graa nos doa no somente a vontade de fazer bem, mas tambm o poder de agir bem, no por meio de nossas prprias foras, mas mediante o socorro do Libertador" (Comentrio Epstola aos Romanos 13). "Eu julgava que a continncia dependia de minhas prprias foras (...), foras que eu no conhecia em mim. E eu era to insensato que no sabia que ningum pode ser continente se Vs [Senhor] no lho concedeis. E sem dvida mo tereis concedido, se com meus gemidos interiores vos ferisse os ouvidos e, com firme f, depusesse em Vs os meus cuidados" (Confisses 66,11.20).

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"Sem dvida, operamos tambm ns, mas o fazemos cooperando com Deus que opera predispondo-nos com a sua misericrdia. E o faz para nos curar e nos acompanhar para que, uma vez santos, nos revigoremos; predispe-nos para que sejamos chamados e acompanha-nos para que sejamos glorificados; predispe-nos para que vivamos segundo a piedade e segue-nos para que com Ele vivamos para todo o sempre, pois sem Ele nada podemos fazer" (Da Natureza e da Graa 31). "[A graa] pois comea com a Sua interveno (=de Deus), fazendo com que ns queiramos e acaba cooperando com as moes da nossa vontade convertida" (Da Graa 17). "Deus opera, portanto, sem ns, a fim de que possamos desejar [o amor]. Mas quando desejamos [o amor] e o queremos a fim de que possamos agir, Deus co-opera conosco" (Da Graa e Livre-Arbtrio 33). "A graa veio primeiro; agora se entrega aquilo que devido (...) Os mritos so dons de Deus" (Sermo 298,4.5). Cirilo de Alexandria "Nos nos tornamos pela graa aquilo que Deus por natureza" (De Trin. Dial.). *** h) Deus deve ser amado Amars ao Senhor teu Deus de todo o teu corao, de toda a tua alma e com toda a tua fora (Deut. 6,5). Quando Lhe feita a pergunta: Qual o maior mandamento da Lei? (Mat. 22,36), Jesus responde: Amars ao Senhor teu Deus de todo o teu corao, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Esse o maior e o primeiro mandamento... Jesus resumiu os deveres do homem para com Deus, com essas palavras (...). Essas palavras so um eco do apelo solene: Escuta, Israel: o Senhor nosso Deus o nico (Deut. 6,4-5). Deus amou primeiro. [Por isso,] o amor do Deus nico lembrado na primeira das Dez Palavras [, isto , o Declogo] (CIC 2055, 2083). Pseudo-Clemente "Cristo fez em relao a ns uma grande obra de

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misericrdia: no oferecemos sacrifcios aos deuses mortos (...) mas conhecemos o Pai da Verdade" (2 Carta aos Corntios 3). Agostinho de Hipona "Para que o homem aprenda a amar a si mesmo, propese-lhe um fim a que refira tudo quanto faz para ser feliz. Quem ama a si mesmo outra coisa no quer seno ser feliz. Esse fim a unio com Deus. A quem sabe amar a si mesmo, quando se lhe manda amar o prximo como a si mesmo, que outra coisa se lhe manda seno, quando estiver ao seu alcance, encarecer a outrem o amor a Deus? Esse o culto a Deus, essa a verdadeira religio, essa a reta piedade, essa a servido devida apenas a Deus" (A Cidade de Deus 10,3). "Tarde te amei, beleza to antiga e to nova! Tarde demais eu te amei! Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora!" (Confisses 10,27,38).

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3. Jesus Cristo Na histria da Salvao, Deus no se contentou em libertar Israel da casa da escravido (Deut. 5,6), fazendo-o sair do Egito. Salva-o tambm do seu pecado. Por ser o pecado sempre uma ofensa feita a Deus, s Ele pode perdoa-lo. Por isso, Israel, tomando conscincia cada vez mais clara da universalidade do pecado, no poder mais procurar a salvao a no ser na invocao do nome do Deus Redentor (CIC 431). a) Seu nome E Jac gerou Jos, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado Cristo (Mat. 1,16). Jesus quer dizer, em hebraico, Deus salva. No momento da Anunciao, o anjo Gabriel d-lhe como nome prprio o nome de Jesus, que exprime ao mesmo tempo sua identidade e misso. Uma vez que s Deus pode perdoar os pecados (Mc. 2,7), Ele que, em Jesus, seu Filho eterno feito homem, salvar o Seu povo dos pecados (Mat. 1,21). Em Jesus, portanto, Deus recapitula toda a Sua histria de salvao em favor dos homens; Cristo vem da traduo grega do termo hebraico Messias, que quer dizer Ungido. S se torna o nome prprio de Jesus porque este leva perfeio a misso divina que significa. Com efeito, em Israel eram ungido em nome de Deus os que lhe eram consagrados para uma misso vinda dele. Era o caso dos reis, dos sacerdotes e, em raros casos, dos profetas. Esse devia ser, por excelncia, o caso do Messias que Deus enviaria para instaurar definitivamente seu Reino. O Messias devia ser ungido pelo Esprito Santo ao mesmo tempo como rei e sacerdote, mas tambm como profeta. Jesus realizou a esperana messinica de Israel na sua trplice funo de sacerdote, profeta e rei (CIC 430, 436). Ireneu de Lio ", alis, o que indica o seu prprio nome, pois no nome de Cristo est subentendido Aquele que ungiu, Aquele que foi ungido e a prpria uno com que Ele foi ungido. Aquele que ungiu o Pai; Aquele que foi ungido o Filho; e o foi no Esprito, que a uno" (Contra as Heresias 3,18,3). ***

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b) A Encarnao E o Verbo se fez carne e habitou entre ns. E ns vimos a sua glria (Jo. 1,14a). A f na Encarnao verdadeira do Filho de Deus o sinal distintivo da f crist: Nisto reconhecereis o Esprito de Deus: todo esprito que confessa que Jesus Cristo veio na carne de Deus (1Jo. 4,2). Esta a alegre convico da Igreja desde o seu comeo, quando canta o grande mistrio da piedade: Ele foi manifestado na carne (1Tim. 3,16) (CIC 463). Incio de Antioquia "Nosso Deus, Jesus Cristo, tomou carne no seio de Maria segundo o plano de Deus" (Epstola aos Efsios 18). "Jesus, da descendncia de Davi, filho de Maria, de fato nasceu, comeu e bebeu" (Epstola aos Tralianos 9). Justino Mrtir "Fez homem, por meio da Virgem, a fim de que o caminho que deu origem desobedincia instigada pela serpente fosse tambm o caminho que destrusse a desobedincia. Eva era virgem e incorrupta; concebendo a palavra da serpente, gerou a desobedincia e a morte. A Virgem Maria, porm, concebeu f e alegria quando o anjo Gabriel lhe anunciou a boa nova de que o Esprito do Senhor viria sobre ela; a fora do Altssimo a cobriria com sua sombra, de modo que o Santo que dela nasceria seria o Filho de Deus. Ento respondeu ela: 'Faa-se em mim segundo a tua palavra'. Da Virgem, portanto, nasceu Jesus, de quem falam as Escrituras (...) aquele por quem Deus destri a serpente" (Dilogo com Trifo 100,4-5). Ireneu de Lio "No Cristo que nasce de Maria a humanidade toda que renasce vida. A solidariedade existente entre Cristo e os homens traz esta conseqncia: a concepo e o nascimento de Jesus j so a redeno por antecipao dos homens" (Contra as Heresias). "No podemos participar da imortalidade sem uma estreita unio com o Imortal. Como poderamos nos unir imortalidade se ela no se houvesse feito o que somos?" Contra as Heresias). "Quando Ele (Jesus) se encarnou- 50 -

e

se

fez

homem,

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recapitulou em si mesmo a longa histria dos homens e, em resumo, nos proporcionou a salvao, de sorte que aquilo que havamos perdido em Ado, isto , sermos imagem e semelhana de Deus, o recuperemos em Cristo Jesus (...) alis por isso que Cristo passou por todas as idades da vida, restituindo, com isto, a todos os homens, a comunho com Deus" (Contra as Heresias 3,18,1.7). "O Verbo de Deus fez-se homem e o Filho de Deus fez-se Filho do Homem para que o homem entreem comunho com o Verbo de Deus e, por adoo, se torne filho de Deus. Realmente, no poderamos ganhar de outra forma a eternidade e a imortalidade (...) se antes o Eterno e o Imortal no se tornasse aquilo que somos" (Contra as Heresias 3,19,1). "O Verbo de Deus habitou no homem e fez-se Filho do homem para acostumar o homem a apreender a Deus e acostumar a Deus a habitar no homem, segundo o beneplcito do Pai" (Contra as Heresias 3,20,2). "Por causa de seu imensurvel amor, Deus se fez aquilo que somos para que pudesse Ele fazer de ns aquilo que Ele " Contra as Heresias 5, Prefcio). "O que estava perdido (=Ado) tinha carne e sangue, pois Deus plasmou o homem apanhando barro da terra, e para ele foi estabelecida toda a economia da vinda do Senhor. Tambm Ele, pois, teve carne e sangue para recapitular em si no uma outra obra, mas a obra plasmada inicialmente pelo Pai, para procurar o que estava perdido" (Contra as Heresias 5,14,2). "Se no fosse preciso salvar a carne, o Filho de Deus absolutamente no teria encarnado" (Contra as Heresias 5,14). Tertuliano de Cartago "A norma de f absolutamente uma s, imutvel e irreformvel: crer em um s Deus todo-poderoso, Criador do mundo, e em Jesus Cristo, seu Filho, nascido da Virgem Maria" (Do vu das virgens 1). "Toma cuidado, Marcio, se pelo menos no rasuraste o texto! 'Deus escolheu o que era loucura aos olhos do mundo para encher de confuso sua sabedoria' (...) Procura, pois, o que Ele designou assim e, se te tornas forte de o teres j encontrado, haver loucura maior do que crer em um Deus- 51 -

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que nasceu? (...) Haveria outra coisa que Deus pudesse ter escolhido para desafiar a sabedoria deste mundo? (...) Sim, h outras loucuras, to loucas quanto essa, relativas s injrias que Deus sofreu em sua paixo. verdade: designa-se como sabedoria um Deus crucificado! Suprime tambm isso, Marcio! O que estou dizendo? Isso, de preferncia. O que h mais indigno de um Deus e pelo que deve Ele envergonhar-se mais? Por nascer ou por morrer? Por carregar a carne ou a cruz? (...) Por estar deitado em um prespio ou depositado em um tmulo? Sers ainda mais sbio se te recusares a acreditar tambm nessas loucuras. Mas no poderias ser sbio, sem seres louco neste mundo, acreditando nas loucuras de Deus. Deus no foi realmente crucificado? No morreu to realmente quanto foi realmente crucificado? No ressuscitou to realmente quanto realmente morreu? Teria sido falsamente que Paulo decretou entre ns que ele nada mais sabia alm de Jesus crucificado? Teria sido falsamente que foi colocado no tmulo? Que falsamente nos ensinou sua ressurreio? Nesse caso, nossa f tambm falsa e ser apenas fantasma tudo que esperamos de Cristo (...) Eu te peo: poupa a nica esperana do universo! (...) Tudo o que indigno de Deus vem a ser vantagem para mim. Estou salvo se no me ruborizo por causa do meu Senhor (...) O Filho de Deus foi crucificado? No me envergonho por isso, uma vez que preciso envergonhar-se. O Filho de Deus morreu? preciso acreditar, pois absurdo. Ele foi sepultado, ressuscitou? seguro, pois impossvel" (Da Carne de Cristo 4,5-5,4). "Antes de tudo, ser preciso apontar o motivo pelo qual o Filho de Deus devia nascer de uma Virgem: devia nascer de um modo novo o iniciador de um novo nascimento, acerca do qual o Senhor havia dado um sinal anunciado de antemo por Isaas. Qual era este sinal? 'A virgem conceber e dar luz um filho' (Is 7,14). Concebeu, pois, a Virgem e deu luz ao Emanuel, que significa 'Deus conosco'" (Da carne de Cristo 17,2). Hiplito de Roma "Ns vos damos graas, Deus, por vosso Filho dileto Jesus Cristo (...) Vs o enviastes do cu ao ventre da Virgem e, a, ao ser encerrado, tomou um corpo e revelou-se teu Filho, nascido do Esprito Santo e da Virgem" (Anfora).

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"[Cristo tomou] uma santa carne de uma santa Virgem" (Do Anticristo 4). Hilrio de Poitiers "No era Ele que precisava tornar-se homem, Ele que criou o homem. Ns que precisvamos de que Deus se fizesse carne e habitasse em ns, isto , precisvamos de que Ele, tomando uma carne individual, habitasse o interior de toda carne. Seu rebaixamento nossa nobreza; suas ignomnias so nossa glria. Visto que Ele Deus na carne, ns, de carne que somos, somos renovados pela Divindade" (Da Trindade 2,25). Efrm da Sria "O anjo Gabriel foi enviado a Maria para preparar uma morada para o seu Senhor. Nela, a raa dos homens vis e insignificantes se uniu com a raa divina que est acima de todas as paixes (...) Pela prole de Maria, tem sido abenoada aquela me que foi amaldioada em seus filhos (Gen 3,16), trazendo bnos, as mais profundas, a esta mulher cuja prole destruiu a morte e a Satans. E no seio de Maria se fez criana Aquele que igual a seu Pai desde a eternidade; comunicou-nos sua grandeza e assumiu nossa pequenez; conosco se fez mortal e nos infundiu sua vida a fim de livrar-nos da morte (...) Maria o jardim ao qual desceu do Pai a chuva da bno. Esta asperso chegou at o rosto de Ado e, assim, Este recobrou a vida e se levantou do sepulcro, j que por seus inimigos tinha sido sepultado no Xeol" (Carmina Soguita 1). Atansio de Alexandria "Sendo Deus, fez-se homem para nos divinizar" (Contra rio 1,38). "Se Ele (Jesus) houvesse querido somente ser aparente, teria podido assumir um corpo mais excelente. Mas, na realidade, tomou um corpo como o nosso, mesmo que de uma maneira no usual e corrente, pois o seu corpo um corpo puro e no fruto de uma unio marital. Ele assumiu (nossa humanidade) de uma Virgem inviolada, pura e que no conheceu varo. Com efeito, sendo Ele poderoso e criador de todas as coisas, edificou para si, na Virgem, um templo, ou seja, seu prprio corpo" (Da Encarnao do Verbo 8). "Quando os telogos explicam a respeito dele (=Jesus), que- 53 -

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comeu, bebeu e foi dado luz, saiba que o corpo enquanto corpo que foi dado luz e comeu alimentos apropriados, mas Ele, o Deus Verbo unido ao corpo, ordenou todo o universo e, pelas obras que realizava no corpo, fazia-se conhecer no como um homem, mas como o Deus Verbo. No entanto, dele que se diz isso, porque o corpo que comia, foi dado luz e sofria no era de outro, mas exatamente o do Senhor. E como Ele se tornara homem, convinha dizer tais coisas como homem, para que seu corpo aparecesse verdadeiramente e no de maneira imaginria. Contudo, assim como Ele era conhecido por isso, segundo sua presena corporal, assim tambm as obras que realizava graas ao corpo faziam-no ser reconhecido como o Filho de Deus (...) Invisvel, Ele conhecido a partir das obras da criao; assim, tambm tornado homem e preservado dos olhares em um corpo, saberamos, por suas obras, que no era um homem, mas o Poder e o Verbo de Deus que as realizava. De fato, ter os demnios sob o seu controle e expuls-los no obra humana, mas divina. Ora, vendo-o curar as doenas s quais est sujeito o gnero humano, como consider-lo ainda um homem e no Deus? Ele purificava os leprosos, fazia os coxos andar, abria os ouvidos dos surdos, fazia os cegos enxergar; em resumo, expulsava para longe dos homens todas as doenas e toda enfermidade, e qualquer um podia, pois, contemplar sua divindade (...) Por isso, quando desce para ns, no princpio, Ele modela para Si um corpo nascido de uma Virgem, para oferecer a todos uma prova no desprezvel de sua divindade, pois quem modelou aquele corpo tambm o Autor dos outros corpos. Vendo esse corpo proveniente de uma Virgem sozinha, sem o concurso de um homem, quem no conclui que Aquele que se manifesta nesse corpo tambm o Autor e o Senhor dos outros corpos? (...) E quando, com uma pequena quantidade de alimento, Ele deu de comer a uma multido, que passou da penria abundncia, de sorte que, com cinco pes saciou cinco mil homens, e ainda sobrava outro tanto, mostrava que era verdadeiramente o Senhor da universal providncia" (Da Encarnao do Verbo 18). "Pois o Filho de Deus se fez homem para nos tornar divinos" (Da Encarnao do Verbo 54,3). "Como o corpo do Senhor foi colocado a ss no sepulcro, para que pudesse demonstrar sua ressurreio, talvez por

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motivo semelhante seu corpo proveio de Maria, como filho nico, para que crssemos em sua origem divina" (Da Virgindade 2). Gregrio de Nanzianzo "Qual esse novo mistrio que me diz respeito? Sou pequeno e grande, baixo e alto, mortal e imortal. Sou um com o mundo; sou outro com Deus; um com a carne, outro com o esprito. preciso que eu seja sepultado com Cristo, que eu ressuscite com Ele, que seja herdeiro de cu com Ele, que eu me torne filho de Deus, que eu me torne divino (=entre em ntima comunho com Deus) (...) Vede o que para ns o grande mistrio; vede o que para ns o Deus feito carne, feito pobre em nosso favor: Ele veio reerguer a carne, salvar sua imagem, restaurar o homem; Ele veio fazer-nos plenamente um em Cristo; em Cristo, que veio totalmente a ns, para colocar em ns tudo o que Ele . No h mais nem homem nem mulher, nem brbaro nem cita, nem escravo nem livre (Col. 3,11), caractersticas da carne. H apenas a imagem de Deus, que todos trazemos em ns, segundo a qual fomos criados, e que preciso formar e gravar em ns to nitidamente que ela baste para nos identificar" (Or