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1 A utilização de um tema atual – o estresse – como elemento motivador e integrador para o estudo da fisiologia humana no Ensino Médio: a percepção dos alunos sobre o seu estresse – causas, conseqüências e controle. Jeanne Anna Maria van Helvoort Lengert 1 Maurício de Castro Marchese (Prof.orientador) 2 Resumo A busca por diferentes estratégias de trabalho visando ajudar o aluno a pensar criticamente, a refletir e a construir o conhecimento, contribui para uma aprendizagem mais significativa. Assim, optou-se neste estudo pela escolha de um tema atual, com o objetivo de mobilizar a curiosidade e o interesse do aluno para o estudo da Biologia, mais especificamente da fisiologia humana, e auxiliar professor e alunos no processo de ensino e de aprendizagem. Foram investigadas as concepções prévias dos alunos de nível médio de uma escola pública sobre o estresse e suas causas, bem como, a sua percepção quanto ao próprio estresse e a utilização de técnicas de relaxamento, buscando uma melhor qualidade de vida. Os estudantes possuem um bom conhecimento prévio sobre o tema, indicando como causa mais freqüente os relacionamentos em diversos ambientes. Na escola, além de problemas de relacionamento, o excesso de trabalhos e provas, bem como o barulho e a bagunça, também foram consideradas importantes causas de estresse pelos alunos. É possível que o uso de temas atuais, relacionados ao conteúdo e à vivência cotidiana do aluno, constitua uma estratégia capaz de motivar e mobilizar a construção do conhecimento. Palavras-chave: Estresse. Fisiologia humana. Saúde. Abordagem histórico-crítica. Abstract The search for different work strategies aiming at helping the students to think critically, to reflect and to build the knowledge contribute to a meaningful learning. Thus, in this study was chosen an actual theme aiming to raise the curiosity and interest of the student for the study of Biology, more specifically the human physiology, and also help teachers and students in the teaching and learning process. Some secondary students’s preliminary conceptions on stress and its causes were investigated in a public school, and their own perceptions about their stress and the use of relaxation techniques, looking for a better quality of life. Students have a good background about the matter, showing that the most frequent cause are the relationships in different environments. In addition to this problem of relationship, the amount of work, the tests, the noise and the mess were also considered important causes of stress for students at school. It is possible that the use of current matters related to the content and the students’s everyday experience be a strategy able to motivate and mobilize the construction of knowledge. Key-words: Stress. Human physiology. Health. Historical-critic approach ______________________________________________________________________________________________ 1 Bióloga, Especialista em Metodologia do Ensino, Professora da rede pública de ensino do Paraná. 2 Biólogo, Mestre em Ciências – Fisiologia Geral e Comparada pela USP, Professor Assistente da Universidade Estadual de Londrina – PR.

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A utilização de um tema atual – o estresse – como e lemento motivador e

integrador para o estudo da fisiologia humana no En sino Médio: a

percepção dos alunos sobre o seu estresse – causas, conseqüências e

controle.

Jeanne Anna Maria van Helvoort Lengert1

Maurício de Castro Marchese (Prof.orientador)2

Resumo

A busca por diferentes estratégias de trabalho visando ajudar o aluno a pensar criticamente, a refletir e a construir o conhecimento, contribui para uma aprendizagem mais significativa. Assim, optou-se neste estudo pela escolha de um tema atual, com o objetivo de mobilizar a curiosidade e o interesse do aluno para o estudo da Biologia, mais especificamente da fisiologia humana, e auxiliar professor e alunos no processo de ensino e de aprendizagem. Foram investigadas as concepções prévias dos alunos de nível médio de uma escola pública sobre o estresse e suas causas, bem como, a sua percepção quanto ao próprio estresse e a utilização de técnicas de relaxamento, buscando uma melhor qualidade de vida. Os estudantes possuem um bom conhecimento prévio sobre o tema, indicando como causa mais freqüente os relacionamentos em diversos ambientes. Na escola, além de problemas de relacionamento, o excesso de trabalhos e provas, bem como o barulho e a bagunça, também foram consideradas importantes causas de estresse pelos alunos. É possível que o uso de temas atuais, relacionados ao conteúdo e à vivência cotidiana do aluno, constitua uma estratégia capaz de motivar e mobilizar a construção do conhecimento.

Palavras-chave: Estresse. Fisiologia humana. Saúde. Abordagem histórico-crítica.

Abstract

The search for different work strategies aiming at helping the students to think critically, to reflect and to build the knowledge contribute to a meaningful learning. Thus, in this study was chosen an actual theme aiming to raise the curiosity and interest of the student for the study of Biology, more specifically the human physiology, and also help teachers and students in the teaching and learning process. Some secondary students’s preliminary conceptions on stress and its causes were investigated in a public school, and their own perceptions about their stress and the use of relaxation techniques, looking for a better quality of life. Students have a good background about the matter, showing that the most frequent cause are the relationships in different environments. In addition to this problem of relationship, the amount of work, the tests, the noise and the mess were also considered important causes of stress for students at school. It is possible that the use of current matters related to the content and the students’s everyday experience be a strategy able to motivate and mobilize the construction of knowledge. Key-words: Stress. Human physiology. Health. Historical-critic approach

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1 Bióloga, Especialista em Metodologia do Ensino, Professora da rede pública de ensino do Paraná. 2 Biólogo, Mestre em Ciências – Fisiologia Geral e Comparada pela USP, Professor Assistente da Universidade Estadual de Londrina – PR.

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Introdução

A Secretaria de Estado da Educação (SEED – PR), objetivando dar

novos rumos à Educação Básica, implementou um documento orientador do

currículo para toda a rede pública estadual – as Diretrizes Curriculares da

Educação Básica do Paraná.

Tal documento foi elaborado tendo-se em vista que os Parâmetros

Curriculares Nacionais (PCN) promoveram um esvaziamento dos conteúdos

formais nas disciplinas, surgindo, então, a necessidade de trazer os conteúdos

de volta para os currículos escolares, mas numa perspectiva histórico-crítica,

levando-se em conta seus determinantes políticos, sociais e ideológicos.

Para Santos (2005,p.8), “o resgate do trabalho do professor e dos

conteúdos significativos é um passo à frente da pedagogia histórico-crítica em

relação às demais pedagogias do nosso tempo”.

A abordagem histórico-crítica propõe uma metodologia que, ao partir da

prática social, tem como objetivo instrumentalizar o aluno, para que, ao

apropriar-se dos conhecimentos necessários, tenha condições de retornar à

prática social, para atuar na sociedade como agente de transformação.

Para Santos (2005,p.59), “é o saber sistematizado e sua apropriação

que garantem os dispositivos para lutar e conquistar uma vida melhor”.

Nas Diretrizes Curriculares foram definidos também os conteúdos

estruturantes das disciplinas, que conforme o documento:

[...] são os saberes, conhecimentos de grande amplitude, que identificam e organizam os campos de estudo de uma disciplina escolar, considerados fundamentais para a compreensão de seu objeto de estudo e ensino e, quando for o caso, de suas áreas de estudo. [...] pretende-se que os conteúdos sejam abordados de forma integrada, com ênfase aos aspectos essenciais do objeto de estudo da disciplina, relacionados a conceitos oriundos das diversas ciências de referência da Biologia. Tais relações deverão ser desenvolvidas ao longo do Ensino Médio, num aprofundamento conceitual e reflexivo, com vistas a dotar o aluno das significações dos conteúdos em sua formação neste nível de ensino. (Paraná, 2006 p.32 e 33).

No que se refere à disciplina de Biologia, os conteúdos estruturantes

foram assim definidos: - organização dos seres vivos; - mecanismos biológicos;

- biodiversidade; - implicações dos avanços biológicos no fenômeno vida.

O conteúdo estruturante mecanismos biológicos enfoca o

funcionamento dos sistemas orgânicos dos seres vivos, compreendendo seus

mecanismos. Considera, ainda, que se o conhecimento acerca do

funcionamento dos sistemas biológicos ocorrer de forma isolada, não

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possibilitará ao aluno estabelecer relações entre os diversos mecanismos para

manutenção da vida. Assim, de acordo com as Diretrizes Curriculares de

Biologia (2006,p.40) é importante “[...] que se compreenda os sistemas vivos

como fruto da interação entre seus elementos constituintes e da interação

desse sistema com os demais componentes do seu meio”.

Uma das grandes dificuldades observadas no ensino do conteúdo

específico de fisiologia humana no Ensino Médio é a abordagem dos sistemas

orgânicos isoladamente, sem que haja uma integração entre os mesmos, o que

além de dificultar a aprendizagem do aluno, o impede de ter uma visão do

organismo como um todo. As palavras de Krasilchik (1986,p.24) vêm confirmar

tal afirmação:

Por sua vez, a falta de integração intradisciplinar é fonte de grandes dificuldades no aprendizado de Biologia. O conteúdo é apresentado dividido em compartimentos estanques, sem propiciar aos alunos oportunidades de sintetizar e dar coerência ao conjunto, o que se faria mostrando-lhes as ligações entre fatos, fenômenos, conceitos e processos aprendidos.

Buscando superar esses desafios do ensino e da aprendizagem do

conteúdo citado anteriormente, optamos em nossa prática pedagógica pela

escolha de um tema atual, veiculado constantemente pela mídia, para tornar as

aulas mais interessantes e despertar no aluno a curiosidade, o interesse e a

vontade para aprofundar seus conhecimentos, contribuindo assim para uma

aprendizagem mais significativa.

Para tanto, elegemos o tema estresse, não como tema transversal, mas

como elemento motivador e integrador, uma vez que é um desencadeador de

inúmeras reações fisiológicas, capaz de mobilizar vários órgãos e sistemas, o

que possibilitará ao aluno uma percepção do funcionamento do corpo humano

de forma integrada.

Verificamos também em diferentes livros didáticos de Biologia, várias

referências ao tema estresse e sua relação com os mecanismos fisiológicos

humanos (Machado, 2003; Amabis e Martho, 2004 e Linhares e

Gewandsznajder, 2005).

1. A relação mente – corpo

Vários autores concordam com a influência do emocional sobre a saúde

do organismo, enfatizando a importância dessa interação mente/corpo.

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No século IV a. C., Hipócrates já considerava a saúde como um

equilíbrio harmonioso entre corpo, mente e ambiente, e o desequilíbrio entre

esses elementos seria a causa das doenças (Pelletier, 1997).

Pelletier (1997,p.15) afirma que “a mente e o corpo estão

intrinsecamente ligados”, e continua:

Atitudes, crenças e estados emocionais, que vão de amor e compaixão a medo e raiva, podem desencadear reações em cadeia que afetam a química do sangue, a freqüência cardíaca e a atividade de cada célula e sistema orgânico do corpo – do estômago ao sistema imunológico, passando pelo trato gastrointestinal.

A medicina mente/corpo tem despertado um interesse cada vez maior

dos profissionais da área da saúde, e muitas pesquisas têm surgido no campo

da psiconeuroimunologia, que estuda a interação entre o sistema imune e o

comportamento, com mediação do sistema nervoso.

Para Pelletier (1997), compreender as complexas relações entre a

mente, o corpo, o estresse e o ambiente psicossocial e físico, constitui um

grande desafio.

Entender o estresse e seus aspectos fisiológicos é uma forma de

começar a desvendar esse mistério da ligação entre mente e corpo.

1.1 O estresse

Ao contrário do que muitos acreditam, o estresse não é uma doença,

mas uma reação normal e instintiva do organismo, necessária à sobrevivência,

uma ajuda fundamental para enfrentar situações de desafio ou emoções muito

fortes.

O impacto do estresse sobre o organismo foi demonstrado em animais

pelo fisiologista americano Walter B. Cannon, em 1939, sendo denominada de

“reação de luta ou fuga”, reação fisiológica na qual o organismo produz

hormônios importantes, preparando uma pessoa ou um animal sob ameaça

para lutar ou fugir.

Essa reação de luta ou fuga é disparada em situações de perigo

iminente. Assim reagia o homem primitivo quando se deparava com um animal

selvagem, e assim continuamos reagindo aos estresses de hoje, como se

estivéssemos encarando uma ameaça física real (Pelletier, 1997). Quando a

ameaça deixa de existir, nossas condições fisiológicas normalizam.

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Entretanto, a agitação da vida moderna, competitividade, desemprego,

violência, insegurança, trânsito, medo, preocupações, tensões, a falta de tempo

para o lazer, para a família e até para a prática de alguma atividade física,

muitas vezes acabam se transformando em fatores determinantes para o

surgimento do estresse contínuo, o que pode levar a um desgaste do

organismo, com sérias conseqüências para a saúde.

Vários fatores psicológicos interferem na forma como uma pessoa

enfrenta uma situação estressante. Devido às diferenças individuais, algumas

pessoas podem considerar determinada situação estressante, enquanto outras

não, dependendo da percepção e da reação emocional de cada pessoa

(Carlson, 2002).

Em 1926, Hans Selye (1965) definiu estresse como o estado que se

manifesta pela Síndrome de Adaptação Geral, que se desenvolve por meio de

três fases distintas: 1. reação de alarme – 2. fase de resistência – 3. fase de

exaustão. É normal passarmos com freqüência pelas duas primeiras fases,

que correspondem à adaptação e resistência do organismo diante dos

inúmeros fatores de estresse, já a terceira fase ocorre apenas em casos de

estresse muito graves, quando a resistência do organismo desaparece,

resultando em doenças bastante sérias.

Para Moreira e Mello Filho (1992,p.122) a resposta ao estresse ocorre

pela ação integrada dos sistemas nervoso, endócrino e imunológico,

desencadeando respostas orgânicas que possibilitem ao organismo uma

adaptação e manutenção de seu equilíbrio interno.

O sistema mais bem conhecido de resposta ao estresse é o sistema

hipotálamo – hipófise – adrenal. De acordo com Bear, Connors e Paradiso

(2002, p.523) “o hipotálamo orquestra as respostas fisiológicas do organismo

para uma situação de estresse”, secretando vários neurormônios, dentre eles o

hormônio liberador de corticotrofina (CRH), que estimula a glândula hipófise a

secretar o hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). Este hormônio, por sua vez,

estimula o córtex adrenal a secretar o hormônio cortisol, enquanto a medula

adrenal libera adrenalina, elementos fundamentais da resposta ao estresse

(Moreira e Mello Filho, 1992).

A liberação desses hormônios no sangue vai desencadear várias

mudanças fisiológicas, como aumento da freqüência cardíaca e da pressão

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arterial, e aumento da quantidade de glicose disponível a fim de produzir mais

energia, com melhora do desempenho físico e intelectual, possibilitando ao

organismo uma resposta rápida e eficiente quando se sentir ameaçado.

Na medida certa, essas alterações fisiológicas são benéficas, entretanto,

se ocorrerem com freqüência e por períodos prolongados, podem contribuir

para o desenvolvimento de doenças, pois acabam sobrecarregando órgãos e

sistemas, conforme Pelletier (1997,p.18) descreve:

Quando prolongado por mais tempo, os aumentos normais de curto prazo da pressão sangüínea podem se transformar em hipertensão, a maior tensão muscular pode levar a dores de cabeça ou agravar a dor, mudanças anormais na atividade do trato intestinal podem levar a diarréia ou espasmos, a freqüência cardíaca acelerada pode aumentar o risco de arritmia.

O sistema imunológico também é influenciado nesta resposta do

organismo ao estresse, pois níveis elevados de cortisol inibem a produção de

substâncias envolvidas no processo inflamatório (Widmaier, Raff e Strang,

2004).

Sobre esta diminuição da atividade imunológica, Amabis e Martho

(2004,p.572) escrevem:

Hoje sabe-se que a manutenção prolongada de níveis elevados de cortisol no sangue, como ocorre no estresse crônico, causa depressão do sistema imunitário, tornando o organismo mais suscetível a infecções e contribuindo para doenças como úlcera péptica, hipertensão, arteriosclerose e, possivelmente, diabetes melitos. Existem também indícios de que a depressão do sistema imunitário contribui para o desenvolvimento de câncer, o que pode explicar a maior incidência dessa doença em pessoas com depressão crônica.

2. Técnicas de controle do estresse

Para enfrentar o alto nível de estresse presente na vida de milhares de

pessoas atualmente, a recomendação de muitos especialistas é a adoção de

medidas que ajudem no enfrentamento e superação das situações geradoras

de tensão. Essas medidas incluem desde uma alimentação saudável,

momentos de lazer, dormir o suficiente, exercícios físicos, técnicas de

relaxamento, meditação e até uma mudança no modo de pensar, sentir e agir,

o que Lipp (2004,p.17) denomina “reestruturação de aspectos emocionais”,

pois muitas vezes a maneira como interpretamos determinadas situações,

através de pensamentos negativos, pode ser uma fonte interna de estresse.

Como lemos em Alcino (2004,p.36):

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Já as crenças irracionais são uma maneira distorcida e disfuncional de julgar as situações que estão ligadas a uma tendência da pessoa de julgar negativamente a si mesma, o mundo e as pessoas. Essas crenças são limitadoras do desenvolvimento humano e normalmente geram frustrações, ansiedade e stress.

2.1 Relaxamento

O relaxamento constitui um processo psicofisiológico, em que ocorre a

interação entre o fisiológico e o psicológico. É uma técnica que auxilia nos

estados de estresse, tensão muscular e atua positivamente sobre a saúde

física, mental e emocional.

Há várias formas de relaxamento, desde técnicas mais tradicionais de

contemplação, meditação, yoga, respiração diafragmática, relaxamento

muscular progressivo, às mais modernas de biofeedback e visualização e

músicas.

Estudos no campo da psicologia constataram que a prática regular de

alguma técnica de relaxamento pode contribuir para evitar doenças causadas

pelo estresse, além de auxiliar as pessoas a lidarem melhor com a ansiedade e

melhorarem seus relacionamentos interpessoais.

Antoni (1997,p.327/328) faz um relato sobre um programa de

treinamento em grupo da Universidade de Miami, denominado – programa de

administração cognitivo-comportamental do estresse – que incluía exercícios

de relaxamento físico além de estratégias específicas, como treinamento em

positividade, visando capacitar homens infectados com o HIV para enfrentar

melhor o estresse em suas vidas. De acordo com Antoni, aqueles que

seguiram o programa tiveram aumentos significativos em dois tipos de células

do sistema imunológico – células T auxiliares e células citotóxicas naturais. Já

aqueles que não participaram do programa mostraram reduções em ambas as

medidas do sistema imunológico.

Em 2005, a psicóloga Edelvais Keller, tendo constatado o alto nível de

estresse dos funcionários de um hospital universitário público, da cidade de

Londrina, realizou um programa de intervenção psicológica que além de

trabalhar as relações interpessoais familiares e profissionais, também incluía

técnicas de relaxamento apoiadas na respiração profunda, e teve como

resultado uma redução significativa dos sintomas de estresse e uma melhora

nas relações interpessoais (Navarro, 2007).

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A partir de 1982, os pesquisadores Kiecolt-Glaser e Glaser

(1997,p.38/42) iniciaram estudos anuais com alunos de medicina de faculdades

norte-americanas, coletando dados imunológicos e psicológicos dos mesmos,

inclusive durante o período de provas, com o objetivo de relacionar estresse e

imunidade. Constataram que o estresse simples das provas afetava de forma

negativa o sistema imunológico, ocasionando diminuição da atividade das

células citotóxicas naturais. Em um desses estudos, aplicaram a um grupo de

alunos hipnose e treinamento em técnicas de relaxamento. Observaram que os

alunos que praticavam as técnicas de relaxamento com freqüência,

apresentaram uma significativa melhora na função imunológica durante as

provas, o que não ocorria com aqueles que as praticavam com menor

freqüência ou que nunca as praticavam.

3. Objetivos da proposta de intervenção

Levando-se em consideração todo o contexto supracitado, os objetivos

da proposta de intervenção na escola dentro de uma abordagem histórico-

crítica, foram:

• Mobilizar a curiosidade e o interesse do aluno para o estudo da Biologia,

mais especificamente da fisiologia humana, com a utilização de um tema

integrador, que permita superar a visão fragmentada do organismo;

• Instrumentalizar o aluno com referencial teórico, para que o mesmo

tenha condições de superar a visão sincrética inicial e seja capaz de

elaborar novas estruturas de conhecimento;

• Proporcionar ao aluno vivência de técnicas de controle do estresse, que

poderão ser utilizadas como estratégias de enfrentamento para reduzir a

tensão mental e física presentes na pessoa estressada.

Objetivo

Investigar os conhecimentos prévios dos alunos de nível médio de uma

escola pública, sobre o estresse e suas causas. Além disso, após a intervenção

teórica e prática, investigar a percepção dos alunos quanto ao seu próprio

estresse e a utilização de técnicas de relaxamento como estratégia de

enfrentamento.

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Metodologia

O trabalho teve início com uma análise diagnóstica realizada por meio

de um questionário semi-estruturado (anexo 1), com questões abertas,

objetivando fazer um levantamento da vivência cotidiana do educando sobre o

tema estresse, evidenciando sua visão sobre o conteúdo, seus conhecimentos

prévios.

Para tanto, participaram deste estudo 136 jovens, sendo 82 do sexo

feminino e 54 do sexo masculino, com idade média de 16,3 anos + 1,2 anos,

estudantes do Ensino Médio de um colégio estadual de Londrina – PR.

Essa etapa inicial é importante, conforme Anastasiou e Alves (2005,

p.74):

Reforça-se que o ponto de partida é a prática social do aluno, a qual, uma vez considerada, torna-se elemento de mobilização para a construção do conhecimento. Tendo o pensamento mobilizado, o processo de construção do conhecimento já se iniciou.

A partir de uma “situação-problema” que exemplificava um caso de

estresse de curto prazo, os alunos foram questionados sobre as reações

orgânicas que ocorreram no exemplo citado, os órgãos e sistemas que foram

“acionados” naquelas reações, a fim de que percebessem que uma reação

orgânica não ocorre isoladamente, mas é uma reação complexa em que ocorre

a mobilização de todo o organismo.

Na seqüência, utilizando diferentes recursos didáticos como,

transparências dos vários sistemas, textos, artigos de jornais e revistas, livros

didáticos, passou-se para o estudo da fisiologia humana. Por meio de um

referencial teórico, os alunos tiveram momentos de estudo, reflexão, discussão

e construção coletiva, trabalhando e pesquisando os conceitos relacionados ao

tema, objetivando estabelecer uma integração entre os vários sistemas

orgânicos.

Esta etapa culminou com a produção de um texto síntese sobre os

mecanismos fisiológicos do estresse e as diversas conseqüências do estresse

para o organismo.

Também foram solicitados aos alunos trabalhos de pesquisa sobre

doenças relacionadas ao estresse, bem como a elaboração de um folheto

explicativo e ilustrativo (folder) sobre o tema.

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Finalmente, buscando a interdisciplinaridade da Biologia com a

Educação Física, os alunos envolvidos neste estudo tiveram uma aula prática

de técnicas de relaxamento, servindo como uma alternativa vivenciada e que

poderá ser incorporada no cotidiano do aluno.

Participaram desta aula 20 alunos, sendo 19 do sexo feminino e 1 do

sexo masculino, estudantes do Ensino Médio.

Iniciou-se a aula enfatizando-se a importância de uma respiração longa

e profunda para energizar e “alimentar” o corpo, garantindo maior concentração

de oxigênio circulante no organismo. Esse modo de respirar, chamado de

respiração diafragmática, em que há pouco movimento torácico e mais

movimentos abdominais, ajuda a aliviar as tensões e estimula a resposta de

relaxamento, baixando o nível de ansiedade.

Os exercícios de respiração foram realizados pelos alunos ao som de

música calma e suave, alternados com exercícios de alongamento geral.

Na parte final da aula, em duplas, os alunos vivenciaram técnica de

relaxamento por meio de massagem, utilizando-se de materiais como bolas de

tênis.

Após a aula os alunos responderam a outro questionário semi-

estruturado com questões fechadas (anexo 2).

Os resultados deste trabalho foram baseados apenas na análise

diagnóstica do conhecimento prévio sobre estresse, realizada inicialmente, e

na percepção do aluno sobre o seu estresse e a utilização de técnicas de

relaxamento, investigação realizada após a aula prática ministrada pela Profª

de Educação Física.

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Resultados e discussão

1. Da análise diagnóstica

O gráfico 1 mostra os resultados sobre a definição de estresse para os

alunos:

Gráfico 1 – Distribuição das respostas dos estudant es segundo a freqüência e as categorias de sintomas (reação do organismo) ou fat ores determinantes (força exterior). As categorias foram estabelecidas com base na defin ição de Pelletier (1997), citada no texto abaixo.

Verificamos que os alunos definiram estresse citando sintomas ou

fatores determinantes relacionados a ele, ficando evidente a dificuldade para se

chegar a uma definição precisa do estresse, o que corrobora com a afirmação

de Pelletier (1997, p.21) “a definição exata do estresse é vaga e inconsistente,

referindo-se às vezes a uma força exterior e às vezes à reação do organismo a

ela”. Segundo o referido autor, estresse não é o que acontece a alguém –

essas forças exteriores são os fatores de estresse – mas como esse alguém

reage ao que acontece. Entretanto, para Lipp (2003,p.17) “... o termo tem sido

utilizado atualmente para descrever tanto os estímulos que geram uma quebra

na homeostase do organismo, como a resposta comportamental criada por tal

desequilíbrio”.

No gráfico 2, podemos observar que a maioria dos alunos considera o

estresse como algo ruim .

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1Sintomas Fatores determina ntes

O que é estresse para você?1 - Nervosismo

2 - Irritabilidade

3 - Cansaço físico e mental

4 - A pessoa ficar brava, com raiva/ódio

5 - Perder a paciência com facilidade

6 - Descontrole emocional

7 - Outros (ansiedade, tristeza, desânimo,agressividade, angústia)

1 - Excesso de problemas/preocupações

2 - Excesso de trabalho

3 - A correria do dia-a-dia

4 - Muita rotina

5 - Muita pressão

Fatores Determinantes

Sintomas

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1BOM RUIM

Em sua opinião, o estresse é algo bom ou ruim?1. Quando controlado

2. Serve como alarme, avisando que é horade desacelerar o ritmo e se tranqüilizar3. Não justificaram

1 - Causa problemas de saúde/doenças

2 - Afeta as relações interpessoais

3 - A pessoa estressada altera seucomportamento, agindo sem pensar4 - A pessoa estressada fica mal-humorada e chata5 - Acaba gerando depressão

6 - Atrapalha o rendimento/diminui aconcentração7 - A pessoa estressada se isola

8 - Causa envelhecimento precoce

9 - Baixa a auto-estima

RUIM

BOM

Gráfico 2 – Distribuição das respostas dos estudant es segundo a freqüência e a categoria de classificação do estresse em bom ou ru im. É compreensível o fato de a maioria dos alunos considerarem o

estresse como algo ruim, especialmente porque é mais comum encontrar

matérias relacionadas ao estresse abordando seus aspectos negativos. No

entanto, estudos têm demonstrado que na medida certa essa reação é

benéfica e serve como estímulo diante dos desafios da vida moderna:

O stress não é necessariamente negativo... Quando bem usado, ajuda a superar desafios. É a adrenalina que faz com que atletas consigam superar limites numa competição ou que consultores de multinacionais terminem um projeto em tempo recorde. (Zakabi,2004).

Para Silva (2006, p.1), o correto seria nos referirmos ao estresse

utilizando sempre um dos prefixos “eu” (bom ou positivo) ou “dis” (ruim ou

negativo), usando os termos eustresse e distresse.

De acordo com Rio (apud Araldi-Favassa, Armiliato e Kalinine, 2005,

p.87):

No eustresse, predomina a emoção da alegria, há um aumento da capacidade de concentração, da agilidade mental, as ações musculares são harmoniosas e bem coordenadas, há sentimento de vitalização, de prazer e confiança. Já no distresse, predominam as emoções de ansiedade destrutiva, do medo, da tristeza, da raiva, a capacidade de concentração é diminuída e o funcionamento mental se torna confuso, ações musculares são descoordenadas e desarmônicas, predomina o desprazer e a insegurança e aumenta a probabilidade de acidentes.

Silva (2006) acredita que o fator tempo tem uma influência direta no

aspecto positivo ou negativo do estresse. Assim, na fase aguda, o estresse é

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quase sempre positivo, pois nessa fase a liberação de adrenalina,

noradrenalina e cortisol na circulação sanguínea, ajuda a pessoa a enfrentar as

situações de desafio. Já na fase crônica do estresse, o organismo começa a

apresentar sinais de esgotamento físico e/ou mental, com o surgimento de

diferentes patologias: hipertensão, diabetes, obesidade, depressão, pânico,

câncer, entre outras.

Quando as reações do eustresse (fase inicial do estresse) não são suficientes para restabelecer o equilíbrio interno, o organismo esgota sua carga em semanas. Em três meses de “pressão” por algo, o eustresse é substituído pelo distresse e, dentro de mais algum tempo, qualquer pessoa poderá adoecer gravemente. (Silva, 2006, p.2)

De fato, várias pesquisas têm demonstrado que situações de estresse

prolongado podem provocar uma diminuição da atividade imunológica,

aumentando muito o risco de contrair infecções. De acordo com Teixeira

(2003,p.48) [...] “ Em tais situações, já está bem estabelecida a suscetibilidade

destas pessoas a infecções virais, atraso na cicatrização de ferimentos e queda

marcante na produção de anticorpos em resposta à vacinação”.

Podemos observar nos gráficos 3, 4 e 5 , que os alunos quando

questionados sobre motivos que poderiam levar uma pessoa ao estresse,

citaram problemas de relacionamento como um dos principais motivos, tanto na

família, como na escola e no trabalho. Na família problemas de relacionamento

com pais, irmãos e parentes em geral, na escola com professores e colegas, e

no trabalho com chefia, colegas e clientes.

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Cite um motivo que poderia levar uma pessoa ao estr esse: na FAMÍLIA

1 - Brigas/discussões

2 - Problemas de relacionamentocom os pais/padrastos

3 - Dificuldades financeiras

4 - Problemas de relacionamentocom os irmãos

5 - Problemas de relacionamentocom parentes

6 - Violência

7 - Drogas

Gráfico 3 – Distribuição das respostas dos estudant es com relação aos motivos que poderiam levar ao estresse na família.

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Cite um motivo que poderia levar uma pessoa ao estr esse: na ESCOLA

1. Problemas de relacionamento comos professores2. Problemas de relacionamento comos colegas/brincadeiras3. Excesso de trabalhos/provas

4. Barulho/conversas/bagunça

5. Notas ruins

6. Dificuldade de aprendizagem

7. Injustiças

8. Matemática

9. Falta de respeito

10. Conflitos/brigas/discussões

11. Estudar

12. Aulas chatas

Gráfico 4 – Distribuição das respostas dos estudant es com relação aos motivos que poderiam levar ao estresse na escola.

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Cite um motivo que poderia levar uma pessoa ao estr esse: no TRABALHO

1. Problemas de relacionamentocom a chefia2. Excesso de trabalho

3. Problemas de relacionamentocom os colegas4. Problemas de relacionamentocom os clientes5. Excesso de cobrança

6. Brigas/intrigas

7. Cansaço

8. Baixo salário

9. Cometer erros

10. Rotina

11. Reclamações

Gráfico 5 – Distribuição das respostas dos estudant es com relação aos motivos que poderiam levar ao estresse no trabalho.

Um estudo de doutorado desenvolvido no Hospital Universitário de

Londrina, em 2005, pela psicóloga Edelvais Keller, constatou que entre os

principais agentes estressores citados pelos funcionários daquela instituição

figuravam os problemas de relacionamento com colegas de trabalho e com

chefias, resultando em inúmeros casos de depressão (Navarro, 2007).

Além de serem um fator determinante de estresse, dificuldades nas

relações interpessoais podem ter um reflexo negativo na saúde. Para Kiecolt-

Glaser e Glaser (1997, p.45), “relacionamentos pessoais insatisfatórios e a falta

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de apoio social podem afetar adversamente o sistema imunológico”. Os

referidos autores mencionam ainda uma pesquisa realizada pela equipe do

sociólogo James House, na qual os pesquisadores concluíram que os

relacionamentos sociais estressantes constituem um fator de risco para o

desenvolvimento de doenças e morte precoce, ao lado de outros fatores como

o cigarro, hipertensão arterial, colesterol alto, obesidade e sedentarismo.

Muitas vezes achamos que apenas situações drásticas (morte, acidente,

doença, separação conjugal, violência, desemprego...) levam ao estresse.

Entretanto, os pequenos acontecimentos do dia-a-dia podem também ser

fatores de muito estresse, como por exemplo, os problemas de relacionamento

citados pelos alunos. Por isso é fundamental tentar resolver os pequenos

conflitos diários de uma forma sensata, equilibrada, buscando o diálogo,

tomando atitudes coerentes e condizentes com a situação que se apresenta,

respeitando as diferentes opiniões, para criar um clima harmonioso e livre de

estresse.

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O que você gostaria de saber mais sobre estresse?

1. Conseqüências do estresse parao organismo

2. Tratamento

3. Prevenção/controle

4. Como surge/causas que levam aoestresse

5. Sintomas do estresse

6. Níveis de estresse

Gráfico 6 – Distribuição das respostas dos estudant es com relação a tópicos que gostariam de saber mais sobre o tema.

Constatamos pelas respostas obtidas à questão do gráfico 6, que o tema

estresse mobilizou o interesse dos alunos, sendo que a maioria gostaria de

maiores informações sobre as conseqüências do estresse para o organismo,

tratamento, prevenção e controle, como surge o estresse e quais as suas

causas.

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2. Da sessão de relaxamento

Considerando-se o interesse dos alunos que participaram deste estudo

em relação a tratamento, prevenção e controle do estresse, um dos objetivos

do trabalho foi proporcionar uma aula prática de algumas técnicas de

relaxamento, que poderão ser utilizadas posteriormente pelos mesmos, como

estratégia de enfrentamento para reduzir o nível de estresse.

Apenas 20 alunos do Ensino Médio participaram desta aula, pois

infelizmente não houve tempo para ser aplicada a todos os alunos envolvidos

neste estudo. Entretanto, levando-se em conta as solicitações dos próprios

alunos, pretende-se dar continuidade a este trabalho no próximo ano.

Percebemos no gráfico 7 que muitos alunos sentem-se estressados

freqüentemente, o que já foi constatado pela psicóloga Marilda Lipp numa

pesquisa em que mediu o nível de estresse de alunos de três escolas, uma

pública de periferia, uma de zona rural e uma particular, tendo concluído que

“os mais estressados pertenciam à instituição pública e 13% deles já tinham

níveis severos de desgaste emocional, que comprometiam sua saúde”. A

insegurança e a falta de perspectivas para o futuro foram algumas das causas

apontadas para o estresse daqueles alunos. (Cavalcante, 2003). Já os alunos

participantes desta pesquisa consideraram as dificuldades nas relações

interpessoais um dos principais fatores de estresse, conforme gráficos 3,4 e 5,

o que mostra as diferentes realidades vivenciadas pelos alunos de escolas

públicas.

Com que freqüência você se sente estressado(a):

0%

40%

50%

10% nunca

algumas vezes

freqüentemente

sempre

Gráfico 7 – Porcentagem da freqüência de estresse sentido pelos alunos.

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Observamos nos gráficos 8 e 9 que, apesar da grande maioria (90%) já

ter ouvido falar em técnicas de relaxamento para controle do estresse, 95%

nunca utilizou estas técnicas na prática. Estes dados revelam a distância entre

o conhecimento e os procedimentos e atitudes. Nem sempre o conhecimento

reflete em mudança de comportamento. A escola deveria se voltar mais para

esta questão, não se preocupando apenas em cumprir os conteúdos que fazem

parte do currículo, mas cumprindo seu papel de formadora de pessoas críticas,

capazes de exercer sua cidadania e transformar sua realidade.

Você já tinha ouvido falar sobre técnicas de relaxamento para controle do estresse:

10%

70%

15%5% nunca

algumas vezes

freqüentemente

sempre

Gráfico 8 – Porcentagem da freqüência do conhecime nto dos alunos sobre técnicas de relaxamento.

Quando estressado(a) você utiliza alguma técnica de relaxamento:

95%

5%

0%

0% nunca

algumas vezes

freqüentemente

sempre

Gráfico 9 – Porcentagem da freqüência de uso de téc nicas de relaxamento pelos alunos antes da aula.

Após a aula, a totalidade dos alunos respondeu que pretende utilizar o

que aprendeu e 65% deles afirmou ter conseguido atingir um alto grau de

relaxamento, conforme gráficos 10 e 11.

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Você pretende utilizar as técnicas de relaxamento vivenciadas nesta prática:

0%

40%

25%

35%

nunca

algumas vezes

freqüentemente

sempre

Gráfico 10 – Porcentagem da freqüência de uso de té cnicas de relaxamento pretendido pelos alunos após a aula .

Com essa prática, qual o seu nível de relaxamento:

65%

25%

10% 0% alto

médio

baixo

não relaxou

Gráfico 11 – Porcentagem referente ao nível de rela xamento dos alunos após a aula.

Alguns comentários registrados pelos alunos sobre a prática vivenciada

evidenciam a aceitação que a mesma teve: “Adorei, estou me sentindo muito

bem” – “Eu gostei muito, poderia fazer direto com alunos e professores,

ajudaria muito na aprendizagem do aluno, além de deixar a todos mais

relaxados” – “Eu gostei muito das técnicas de relaxamento, e com certeza vou

usá-las” – “Muito bom! Gostaria que tivesse mais vezes” – “Gostei muito,

deveriam fazer isso com mais freqüência, não só na escola, mas em outros

ambientes também”.

Realizar essas técnicas de respiração, alongamento, relaxamento nas

escolas é perceber as diferentes possibilidades de trabalho na disciplina de

Educação Física, objetivando a saúde física e psíquica dos alunos.

A Secretaria Estadual da Educação de São Paulo, por exemplo, está

incentivando entre professores e alunos a prática de uma técnica chinesa de

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meditação e relaxamento denominada lien ch’i, com o objetivo de aumentar os

níveis de concentração dos estudantes, diminuir a ansiedade e a violência nas

escolas.

A seqüência de exercícios do lien ch’i é realizada ao som de uma música

suave, que ajuda a relaxar. A professora Neuza Quintana Costa, de Araçatuba-

SP, aplica a técnica diariamente aos alunos, e segundo ela, as crianças ficam

nitidamente mais calmas e mais concentradas quando fazem o exercício

(Morales, 2005).

Considerações finais

Pode-se concluir, após este estudo, que incorporar a abordagem

histórico-crítica nas práticas pedagógicas pode parecer, em um primeiro

momento, algo difícil e inatingível.

Conforme Anastasiou (2005,p.71):

Quando o professor é desafiado a atuar numa nova visão em relação ao processo de ensino e de aprendizagem, poderá encontrar dificuldades, até mesmo pessoais, de se colocar numa diferenciada ação docente. Geralmente, essa dificuldade se inicia pela própria compreensão da necessidade de ruptura com o repasse tradicional.

Contudo, a tentativa de superar um ensino baseado na mera

transmissão de conhecimento, em que o aluno é apenas um espectador e a

aprendizagem se dá por memorização e repetição, constitui-se em um desafio

enriquecedor para o professor que, ao utilizar diferentes estratégias

possibilitará a construção do conhecimento pelo aluno, o desenvolvimento de

pensamento crítico, reflexivo, contribuindo assim para uma aprendizagem mais

significativa.

Percebeu-se com este estudo que, o interesse demonstrado pelos

alunos foi com certeza um fator positivo para o desenvolvimento da proposta

de intervenção na escola. A curiosidade foi o estímulo necessário para que os

alunos se envolvessem no estudo e na busca de informações acerca do tema.

Muitas vezes eles apresentam dificuldades no estudo da fisiologia humana,

sentem-se desmotivados e incapazes de ver o significado, a importância do

conteúdo, principalmente porque não conseguem relacionar o que estudam

àquilo que ocorre em seu próprio corpo. Assim, trazer um tema atual para a

sala de aula buscando relacioná-lo à vivência do aluno – conhecimentos

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prévios e experiências – e ao conteúdo proposto, é uma alternativa

interessante, que pode auxiliar professor e alunos no processo de ensino e de

aprendizagem.

Deste modo, buscou-se trabalhar o tema proposto de uma maneira

significativa, levando o aluno a refletir sobre sua compreensão acerca do

estresse, dando significado às suas concepções alternativas, e por meio do

referencial teórico ajudá-lo na construção do conhecimento.

Os estudantes possuem um bom conhecimento prévio sobre o tema,

indicando como causa mais freqüente os relacionamentos interpessoais em

diversos ambientes. Na escola, além de problemas de relacionamento, o

excesso de trabalhos e provas, bem como o barulho e a bagunça, também

foram consideradas importantes causas de estresse pelos alunos. Muitos

alunos sentem-se estressados freqüentemente, e apesar da grande maioria já

ter ouvido falar em técnicas de relaxamento para controle do estresse, nunca

as utilizou na prática. Após a aula com técnicas de respiração e alongamento, a

totalidade dos alunos respondeu que pretende utilizar o que aprendeu e 65%

deles afirmou ter conseguido atingir um alto grau de relaxamento.

A proposta de uma prática possibilita a mudança de procedimentos e

atitudes, que vai além da aquisição do próprio conhecimento. É preciso que o

conhecimento seja aplicado, para que possa refletir na vida do aluno e da

comunidade onde ele vive. Esta é a educação transformadora que tanto

almejamos, aliando teoria e prática, na busca da solução de problemas.

Agradecimento Professor Maurício de Castro Marchese, Professora Carina Barbiero Bastos, Professora Eliana Guidetti do Nascimento, André van Helvoort Lengert, Professora Maristela Miranda da Silva Bento, Professora Tânia Cristina Firmiano Tudisco, diretora e alunos do Colégio Estadual Nossa Senhora de Lourdes. O meu agradecimento sincero a todos vocês que tornaram possível a realização deste trabalho.

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Anexos Anexo 1 – Análise diagnóstica – conhecimentos prévi os dos alunos sobre o tema estresse e suas causas.

1. O que é estresse para você? 2. Em sua opinião, o estresse é algo bom ou ruim?

3. Cite um motivo que poderia levar uma pessoa ao estresse:

Na Família Na Escola No Trabalho

4. O que você gostaria de saber mais sobre estresse? Anexo 2 – Percepção do aluno sobre seu estresse e a utilização de técnicas de relaxamento. 1. Com que freqüência você se sente estressado (a) : (1) nunca (2) algumas vezes (3) freqüentemente (4) sempre 2. Você já tinha ouvido falar sobre técnicas de relaxamento para controle do estresse: (1) nunca (2) algumas vezes (3) freqüentemente (4) sempre 3. Quando estressado (a) você utiliza alguma técnica de relaxamento: (1) nunca (2) algumas vezes (3) freqüentemente (4) sempre 4. Você pretende utilizar as técnicas de relaxamento vivenciadas nesta prática: (1) nunca (2) algumas vezes (3) freqüentemente (4) sempre 5. Com essa prática, qual o seu nível de relaxamento: (1) alto (2) médio (3) baixo (4) não relaxou 6. Se desejar, deixe seu comentário: ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________