Estresse No Trabalho

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA UFSC ASSOCIAÇÃO CATARINENSE DE MEDICINA ACM XVII CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM MEDICINA DO TRABALHO ESTRESSE NO TRABALHO DR. HUMBERTO LUIZ LIBERATO DR. EDUARDO HENRIQUE BALLSTAEDT DR. JOSÉ DEL CARMEN JURADO ABRIL Florianópolis 2000/2001

Transcript of Estresse No Trabalho

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    UFSC

    ASSOCIAO CATARINENSE DE MEDICINA

    ACM

    XVII CURSO DE ESPECIALIZAO EM MEDICINA DO TRABALHO

    ESTRESSE NO TRABALHO

    DR. HUMBERTO LUIZ LIBERATO

    DR. EDUARDO HENRIQUE BALLSTAEDT

    DR. JOS DEL CARMEN JURADO ABRIL

    Florianpolis 2000/2001

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    UFSC

    ASSOCIAO CATARINENSE DE MEDICINA

    ACM

    ESTRESSE NO TRABALHO

    DR. HUMBERTO LUIZ LIBERATO DR. EDUARDO HENRIQUE BALLSTAEDT DR. JOS DEL CARMEN JURADO ABRIL

    PROFESSOR OCTACLIO SCHLLER SOBRINHO ORIENTADOR

    PROFESSOR SEBASTIO IVONE VIEIRA

    COORDENADOR

    Florianpolis

    2000/2001

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA UFSC

    ASSOCIAO CATARINENSE DE MEDICINA ACM

    XVII CURSO DE ESPECIALIZAO EM MEDICINA DO TRABALHO

    ESTRESSE NO TRABALHO

    Especializandos:

    DR. HUMBERTO LUIZ LIBERATO DR. EDUARDO HENRIQUE BALLSTAEDT

    DR. JOS DEL CARMEN JURADO ABRIL

    ORIENTADOR: PROFESSOR OCTACLIO SCHLLER SOBRINHO COORDENADOR: PROFESSOR SEBASTIO IVONE VIEIRA Parecer: ____________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________

    Conceito:

    Banca:

    ________________________ _________________________

    Sebastio Ivone Vieira Octaclio Schller Sobrinho Presidente Orientador

    ___________ _______________ ______________

    Membro Membro Membro

    Florianpolis 2000/2001

  • medo, vergonha, prazer, paixo... para cada destes uma parte do corpo responde s suas aes. So exemplos os suores, palpitaes do corao...

    Hipcrates

  • SUMRIO

    1. INTRODUO ......................................................................................... 01

    1.1. O CONCEITO DE ESTRESSE ............................................................................... 01

    1.2. DOENA DE ADAPTAO ................................................................................... 02

    2. O TRABALHO E O ESTRESSE ............................................................ 09

    2.1 A INFLUNCIA DA CULTURA ................................................................................ 09

    3. A LOUCURA DO TRABALHO .............................................................. 16

    3.1 O BOM ESTRESSE ................................................................................................ 25

    3.2 COMO DIAGNOSTICAR O ESTRESSE ................................................................. 27

    3.3 CONSEQNCIAS FISIOLGICAS DO ESTRESSE ............................................ 28

    3.4 SISTEMAS DE APOIO DE ENERGIA ...................................................................................................... 29

    3.5 AUXILIOS DE CONCENTRAO ............................................................................................................ 29

    3.6 REAES DEFENSIVAS ....................................................................................... 30

    3.7 CONSEQNCIAS PSICOLGICAS DO EXCESSO DE ESTRESSE ................................................ 30

    3.7.1 Efeitos cognitivos ................................................................................................ 30

    3.8 EFEITOS EMOCIONAIS ......................................................................................... 31

    3.9 EFEITOS COMPORTAMENTAIS GERAIS ............................................................................................ 32

    CONSIDERAES FINAIS ...................................................................... 33

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ......................................................... 42

  • LISTA DE TABELAS

    TABELA 1: CONSEQNCIAS FISIOLGICAS DO ESTRESSE ................................ 28

    TABELA 2: SISTEMAS DE APOIO DE ENERGIA ........................................................ 29

    TABELA 3: AUXILIOS DE CONCENTRAO .............................................................. 29

    TABELA 4: REAES DEFENSIVAS .......................................................................... 30

    TABELA 5: EFEITOS COGNITIVOS ............................................................................ 30

    TABELA 6: EFEITOS EMOCIONAIS .............................................................................................................. 31 TABELA 7: EFEITOS COMPORTAMENTAIS GERAIS ................................................ 32

    TABELA 8: CARACTERSTICAS ESTRESSANTES DO TRABALHO ....................................... 38

  • APRESENTAO

    A presente monografia que tem como ttulo Estresse no trabalho ser apresentada

    Universidade Federal de Santa Catarina, visando a obteno dos crditos a que faz direito,

    para a concluso do XVII Curso de Especializao em Medicina do Trabalho 2000/2001,

    tendo como orientador o Professor Octaclio Schler Sobrinho. O estudo foi elaborado a partir

    de pesquisa bibliogrfica, que segundo Rauen (1999) tem duas finalidades prticas num

    trabalho de pesquisa. A primeira trata da reviso da literatura, ou seja, toda a leitura que vise a

    fundamentar a pesquisa como um todo. A segunda ocorre quando os dados de observao so

    bibliogrficos ou documentais em sentido estrito e equivale aos trabalhos de campo e

    laboratrio nas demais pesquisas (Rauen, 1999:39).

    O termo estresse vem da fsica e neste campo de conhecimento tem o sentido do grau

    de deformidade que uma estrutura sofre quando submetida a esforo. Hans Seyle (1965)

    utilizou este termo para denominar aquele conjunto de reaes que um organismo

    desenvolve ao ser submetido a uma situao que exige um esforo para adaptao. A partir

    da definio do que estresse, e os diferentes conceitos existentes, procurar-se- delimitar o

    tema para suas implicaes no trabalho, pois como afirma Dejours (1992:11-12), a

    psicopatologia do trabalho, para usar um trusmo, ficou no estado embrionrio, apesar de

    alguns trabalhos importantes dos anos 50. Quando conhecido o desenvolvimento de que se

    beneficiaram as cincias humanas, de um sculo para c, podemos nos espantar com a

    lentido da psicopatologia do trabalho, em conquistar seu lugar de distino.

    ABSTRAT

  • The present monograph, which is entitled Stress at work will be presented at Santa

    Catarina Federal University, in order to obtain the credits by rights, for ending the XVII

    Specialization Course of Work Medicine 2000/2001, with Professor Octaclio Schler

    Sobrinho as orienting professor. Study was elaborated from bibliographic research, which,

    according to Rauen (1999), has two practical finalities in a research work. First is literature

    revision, it is, all lecture that aims basing research as a whole. The second takes place when

    observation data are bibliographic or documentary in strict meaning, and it equals field and

    laboratory works in the rest of the researches (Rauen, 1999:39).

    The term stress comes from physics and, in this knowledge field, it means the degree

    of deformity that a structure suffers when submitted to effort. Hans Seyle (1965) utilized this

    term to denominate that group of reactions developed by an organism when submitted to a

    situation demanding an effort for adaptation. Beginning with definition of stress, and

    different existing concepts, we will try to restrict this theme to its implications at work, for as

    Dejours states (1992:11-12), work psychopathology, using a truism, remained in embryonal

    state, in spite of some relevant works in 50s. When we think of development of human

    sciences, the last century, we are scared with slowness of work psychopathology to get its

    distinction place.

  • 1. INTRODUO

    1.1. O CONCEITO DE ESTRESSE

    A palavra estresse quer dizer presso, tenso ou insistncia, portanto estar

    estressado quer dizer estar sob presso ou estar sob a ao de estmulo insistente.

    importante no confundir estado fsico de estresse com estado de alarme de

    Cannon, pois h alguns critrios estabelecidos para que se possa assumir que um

    indivduo est eetressado e no simplesmente com alerta temporria. Chama-se de

    estressor qualquer estmulo capaz de provocar o aparecimento de um conjunto de

    respostas orgnicas, mentais, psicolgicas e/ou comportamentais relacionadas com

    mudanas fisiolgicas padres e estereotipadas, que acabam resultando em

    hiperfuno da glndula supra-renal e do sistema nervoso autnomo simptico.

    Essas respostas, em princpio, tm como objetivo adaptar o indivduo nova

    situao, gerada pelo estmulo estressor, e o conjunto delas, assumindo um tempo

    considervel, chamado de estresse. O estado de estresse est ento relacionado

    com a resposta de adaptao.

    O estresse essencialmente um grau de desgaste no corpo e da mente, que

    pode atingir nveis degenerativos. Impresses de estar nervoso, agitado,

    neurastnico ou debilitado podem ser percepes de aspectos subjetivos de

    estresse. Contudo, estresse no implica necessariamente uma alterao mrbida: a

    vida normal tambm acarreta desgaste na mquina do corpo. O estresse pode ter

  • at valor teraputico, como o caso no esporte e no trabalho, exercidos

    moderadamente.

    O estresse produz certas modificaes na estrutura e na composio qumica

    do corpo, que podem ser avaliadas. Algumas dessas modificaes so

    manifestaes das reaes de adaptao do corpo, seu mecanismo de defesa

    contra o estressor; outras j so sintomas de leso. No conjunto dessas

    modificaes o estresse denominado sndrome de adaptao geral (SAG), termo

    cunhado por Hans Selye, o criador e pesquisador que levantou pioneira e

    profundamente a questo.

    1.2. DOENA DE ADAPTAO

    A todo instante faz-se atividades de adaptao, ou seja, tentativas de ajustar-

    se s mais variadas exigncias, seja do ambiente externo, seja do mundo interno,

    atingindo este vasto mundo de idias, sentimentos, desejos, expectativas, sonhos,

    imagens, que cada um tem dentro de si. Selye demonstrou, em trabalhos publicados

    a partir de 1936, que o organismo quando exposto a um esforo desencadeado por

    um estmulo percebido como ameaador homeostase, seja ele fsico, qumico,

    biolgico ou mesmo psicossocial, apresenta a tendncia de responder de forma

    uniforme e inespecfica, anatmica e fisiologicamente A esse conjunto de reaes

    inespecficas na qual o organismo participa como um todo, ele chamou de Sndrome

    Geral de Adaptao. Esta sndrome consiste em trs fases:

  • Reao de Alarme: Durante esta fase so mobilizadas foras

    defensivas. Assim que o sistema nervoso central percebe a situao

    de tenso, o hipotlamo estimula a hipfise levando-a a aumentar a

    secreo do hormnio adrenocorticotrpico. Este, por sua vez,

    estimula as supra-renais a aumentarem a produo de adrenalina

    corticides. Jogados na circulao sistmica, rapidamente estes

    produtos qumicos chegam a todas as clulas do organismo. Estes

    hormnios so essenciais e juntamente com as reaes do sistema

    nervoso central e outros compostos qumicos, constituem a defesa

    do organismo contra o estresse;

    Fase de Resistncia: Nesta fase aumentada a capacidade de

    resistncia do organismo. H plena adaptao ao estressor.

    Enquanto que no primeiro estgio h maior atividade do sistema

    nervoso simptico, aqui a atividade mais intensa fica com o sistema

    parassimptico. Possuindo o efeito de desmobilizar o corpo, o

    sistema nervoso parassimptico abaixa novamente o nvel de alerta.

    A respirao, os batimentos cardacos, a circulao e a presso

    arterial voltam, gradativamente, a seus nveis anteriores. Porm, se

    h persistncia do estresse, gradativamente o nvel de resistncia

    vai diminuindo e inicia-se o estgio de exausto; e

    Fase de Exausto. Nesta fase esgota-se a energia para adaptao,

    podendo, como conseqncia, ocorrer at a morte do organismo.

  • No necessrio que a fase se desenvolva at o final para que haja o

    estresse e evidentemente s nas situaes mais graves que se atinge a ltima

    fase, a de exausto.

    A Reao de Alarme subdivide-se em dois tempos: choque e contra-choque.

    Parte dessa reao assemelha-se Reao de Emergncia de Cannon. Ele

    percebeu que quando um animal era submetido a estmulos agudos ameaadores

    da homeostase, inclusive medo, raiva, fome e dor, o animal apresentava uma reao

    em que se preparava para a luta ou fuga. Esta reao caracteriza-se por:

    a) aumento da freqncia cardaca e da presso arterial, para permitir que o

    sangue circule mais rapidamente e portanto, para chegar aos msculos

    esquelticos e crebro mais oxignio e nutrientes e facilite a mobilidade e o

    movimento;

    b) contrao do bao, levando mais glbulos vermelhos corrente sangunea,

    acarretando mais oxignio para o organismo particularmente nas reas

    estrategicamente favorecidas;

    c) o fgado libera glicose armazenado na corrente sangunea para que seja

    utilizado como alimento e, conseqentemente, mais energia para os

    msculos e crebro;

    d) redistribuio sangunea, diminuindo o fluxo para a pele e vsceras,

    aumentando para msculos e crebro;

    e) aumento da freqncia respiratria e dilatao dos brnquios, para que o

    organismo possa captar e receber mais oxignio;

    f) dilatao pupilar e exoftalmia,isto , a protuberncia do olho para fora do

    globo ocular, para aumentar a eficincia visual;

  • g) aumento do nmero de linfcitos na corrente sangunea, para reparar

    possveis danos aos tecidos por agentes externos agressores.

    Tais reaes so desencadeadas por descargas adrenrgicas da medula da

    glndula supra-renal e de noradrenalina em fibras ps-ganglionares do sistema

    nervoso autnomo simptico Em estudos realizados com seres humanos,

    Funkestein descobriu que a raiva dirigida para fora estava associada secreo de

    noradrenalina, enquanto a depresso e a ansiedade associavam-se a uma secreo

    de adrenalina. Paralelamente, acionado o eixo hipotlamo-hipfise-supra-renal que

    desencadeia respostas mais lentas e prolongadas e que desempenha um papel

    crucial na adaptao do organismo ao estresse a que est sendo submetido. O

    estmulo agudo provoca a secreo no hipotlamo do hormnio corticotrophin

    releasing hormone, que por sua vez determina a liberao de ACTH da adeno-

    hipfise, alm de outros neuro-hormnios e peptdeos cerebrais, como as beta-

    endorfinas, STH, prolactina etc. O ACTH desencadeia a sntese e a secreo de

    glicocorticides pelo crtex da supra-renal. Estabelece-se ento um mecanismo de

    feedback negativo com os glicocorticides atuando sobre o eixo hipotlamo-

    hipofisrio. Estas reaes so mediadas pelo sistema diencfalo-hipofisrio, visto

    que no surgem em animais de experimentao que tiveram a hipfise ou parte do

    diencfalo destrudos. Se os agentes estressantes desaparecerem, tais reaes

    tendem a regredir; no entanto, se o organismo obrigado a manter seu esforo de

    adaptao, entra em uma nova fase, que chamada Fase de Resistncia, que se

    caracteriza basicamente pela reao de hiperatividade crtico-supra-renal, sob

    mediao diencfalo-hipofisria, com aumento volumtrico do crtex da supra-renal,

    atrofia do bao e de estruturas linfticas, leucocitose, diminuio de eosinfilos e

    ulceraes.

  • Se os estmulos estressores continuarem a agir, ou se tornarem crnicos e

    repetitivos, a resposta basicamente se mantm, mas com duas caractersticas:

    diminuio da amplitude e antecipao das respostas. Poder ainda haver falha nos

    mecanismos de defesa, com desenvolvimento da terceira fase, que a de Exausto,

    com retorno Fase de Alarme de Cannon, dificuldade na manuteno de

    mecanismos adaptativos, perda de reserva energtica e morte.

    As reaes de estresse resultam, pois, de esforos de adaptao. No entanto,

    se a reao ao agressor for muito intensa ou se o agente do estresse for muito

    potente e/ou prolongado, poder haver, como conseqncia, doena ou maior

    predisposio ao desenvolvimento de doenas. Pois a reao protetora sistmica

    desencadeada pelo estresse pode ir alm da sua finalidade e dar lugar a efeitos

    indesejveis, devido perda de equilbrio geral dos tecidos e rgos e defesa

    imunolgica do organismo. oportuno lembrarmos mais uma vez Levi (1971): "o ser

    humano capaz de adaptar-se ao meio ambiente desfavorvel, mas esta adaptao

    no ocorre impunemente". O perigo parece ser maior nas situaes em que a

    energia mobilizada pelo estresse psicoemocional no pode ser consumida. Alis,

    Seyle nos lembra que as doenas de adaptao so predominantemente

    conseqncias do excesso de reaes de submisso.

    As colocaes acima podem ser mais facilmente comprovadas nas doenas

    em que notoriamente h um componente de esforo de adaptao, como, por

    exemplo, nas lceras digestivas, nas alteraes da presso arterial, crises

    hemorroidicas, alteraes inflamatrias do aparelho gastrintestinal, alteraes

    metablicas vrias etc.

  • O estresse pode ser fsico, emocional ou misto. O estresse misto o mais

    comum, pois o estresse fsico (associado a eventos como cirurgias, traumatismos,

    hemorragias e leses em geral) compromete tambm o emocional j que a dor induz

    a estados emocionais bastante intensos. O estresse emocional resulta de

    acontecimentos que afetam o indivduo psiquicamente ou emocionalmente, sem que

    haja relao primria com leses orgnicas. O estresse misto se estabelece quando

    uma leso fsica acompanhada de comprometimento psquico (emocional) ou vice-

    versa.

    hman, Esteves e Parra (1995) apontam trs categorias de acontecimentos

    estressantes. Na primeira categoria encontram-se aqueles que impem grandes

    exigncias capacidade de enfrentamento de uma pessoa e ocorrem com pouca

    freqncia, como por exemplo, a morte de um ente querido, a perda de um emprego,

    ser aprisionado etc. Os pequenos acontecimentos estressantes, chamados de

    problemas do cotidiano constituem a segunda categoria e acontecem com maior

    freqncia na vida das pessoas. Na terceira categoria encontram-se os conflitos

    contnuos da vida: problemas de casais, desemprego prolongado,dificuldade de

    educar os filhos, etc.

    Entretanto, as pessoas diferem quanto sua forma de reagir aos desafios

    impostos pela vida. Enquanto algumas so capazes de superar uma perda

    altamente significativa, outros podem dar incio a um transtorno psiquitrico diante

    de um acontecimento estressante de menor gravidade. Assim, as variveis

    individuais desempenham um papel decisivo na formao de um problema

    psicopatolgico.

  • Alm dos acontecimentos estressantes da vida, Barlow (1993) sugere a

    existncia de uma vulnerabilidade biolgica e uma vulnerabilidade psicolgica

    necessria para a formao de um transtorno de ansiedade.

    A vulnerabilidade biolgica refere-se a uma tendncia herdada a manifestar

    ansiedade. Algumas pessoas reagem com uma ativao fisiolgica maior aos

    acontecimentos estressantes. Mas essa resposta fisiolgica pouco especfica, no

    determina por si s, se uma pessoa desenvolver transtorno de ansiedade ou que

    tipo de transtorno de ansiedade ou que tipo de transtorno poder ocorrer.

    A vulnerabilidade psicolgica corresponde a uma percepo de imprevisibilidade em relao

    ao mundo, que aprendida, a partir da relao familiar e das experincias de vida. Assim, se

    uma pessoa possui o componente biolgico e desenvolve o componente psicolgico, ela estar

    predisposta a sofrer de um transtorno de ansiedade, a partir do momento em que surgirem os

    acontecimentos estressantes da vida, os quais funcionam com o estmulo disparador que

    conduz a um transtorno de ansiedade.

  • 2. O TRABALHO E O ESTRESSE

    Vrias das patologias hoje estudadas pela Medicina do Trabalho tm ntima

    correlao com o estresse. O desgaste a que pessoas so submetidas nos

    ambientes e nas relaes com o trabalho fator dos mais significativos na

    determinao de doenas. Este trabalho no escapa ao conhecimento mdico, mas

    tambm fato que o espao dedicado na anamnese investigao destes aspectos

    pequeno em relao sua importncia.

    2.1 A INFLUNCIA DA CULTURA

    O conjunto de prticas e as redes de significados compartilhados em

    grupamentos sociais formam o processo cultural. Tem permanncia de tempo, tem

    carter de coletividade e tem continuidade, alm da vida de quem a cria (Laraia).

    Este processo realiza a construo social da realidade. Uma cultura adquire

    "conformao e carter especficos graas coerncia e unidade de suas

    instituies sociais. Tais instituies possibilitam a continuidade social e constituem

    os instrumentos efetivos do seu equilbrio" (Laraia).

  • Para Mello Filho (1992), a cultura o resultado das atitudes, idias e

    condutas compartilhadas e transmitida pelas pessoas de uma sociedade, juntamente

    com as respectivas transformaes, isto , invenes, mtodos de investigaes do

    ambiente e objetos manufaturados. Por isto importante a filosofia de vida e viso

    do mundo que presidem a cultura, na construo do dinamismo dia a dia.

    As caractersticas da cultura representam potencialidades adaptativas e

    estressoras, dentro da numerosa gama de possibilidades de transformaes,

    reprodues e expresses prprias da complexidade e das riquezas humanas. Mas,

    existem processos culturais que limitam e moldam a expresso desta natureza sobre

    o que Geertz (in Laraia) afirma: "... um dos mais significativos fatos sobre as

    pessoas a constatao de que todos nascem com um equipamento para viver mil

    vidas, mas terminam tendo vivido uma s... o homem no apenas o produtor da

    cultura, mas tambm num sentido especificamente biolgico, o produto da cultura".

    Existem estudos em que a atuao da cultura sobre o biolgico se torna

    evidente, no processo do adoecer ou do curar. Por exemplo, o surgimento ou no de

    sintomas de mal-estar provocados pela ingesto combinada de determinados

    alimentos: leite com manga. Relata-se, tambm, o caso de africanos removidos

    violentamente de seu continente, ou seja, de seu ecossistema e de seu contexto

    cultural, que, transportados para uma terra estranha, perdiam a motivao para

    continuar vivos. Os casos de curas decorrentes da "f" no remdio ou na religio.

    Os processos psicossociais so constitudos, em parte, por percepes e

    atitudes dos indivduos e, em parte, por elementos culturais que direcionam os

    vnculos, reproduzem e recriam valores sobre vrios fatos da realidade. Os critrios

  • especficos sobre sade, doena, indivduo, trabalho, produtividade, fora,

    vulnerabilidade so construdos pela cultura e transformada pelos indivduos.

    A cultura edificada a partir do meio ambiente. O meio ambiente o mundo

    externo e a realidade imediata. Realidade esta, que segundo Berger e Luckmann

    (1987) decorrente da vida quotidiana, que se apresente interpretada pelos homens

    e subjetivamente dotada de sentido para eles, na medida em que forma um mundo

    coerente.

    Existem estudos realizados por Wiittkower sobre estresse cultural, conforme

    relata Mello Filho (1992) a partir dos quais possvel relacionar respostas

    psicossomticas e cultura. Neles, foram identificados aspectos culturais

    estressantes, como o uso acentuado de tabus, saturao de valores, instabilidade

    de modelos culturais, privao de vida social, rigidez de normas e condies

    minoritrios. Assim, conclumos que as respostas psicossomticas sofrem

    influncias diferentes em cada cultura.

    2.2 A CULTURA EMPRESARIAL

    Toda empresa um conjunto scio-cultural complexo, organizado para

    realizao de servios, fabricao de coisas, transformao ou extrao de produtos

    da natureza. Segundo Lapassade (1983), constitui-se de um sistema de redes, de

    status e papis.

  • Este complexo de pessoas, com seus modos prprios, transforma e provoca

    transformaes no trabalho que se realiza no espao empresarial. Suas atitudes

    visam satisfao de necessidades organizacionais e individuais, a partir de limites

    estruturais e tecnolgicos, sobre as quais se processam acomodaes dentro e fora

    do espao empresa.

    Na cultura empresarial sobressaem valores objetivos e impessoais, isto , no

    contando com a emoo, v-se o indivduo de forma incompleta, com habilidades

    especficas para a realizao de tarefas, isolado das suas caractersticas de ser, das

    suas experincias de vida. Desta forma, durante a relao indivduo-empresa, h

    uma ciso do comportamento: de um lado a fora de trabalho com subordinao s

    regras da empresa, de outro o vivenciar emoes nem sempre expressas

    adequadamente.

    O processo de firmar contrato de trabalho, na verdade, caracteriza-se por

    acatar as normas, os valores e os procedimentos utilizados e cobrados de forma

    coletiva. Nas empresas brasileiras, a ao empresarial passou a ser contida a partir

    da Consolidao das Leis do Trabalho, que regulamenta o registro, a remunerao,

    o repouso, o afastamento, a validade de atestados mdicos etc, no sentido de dar o

    mnimo de garantia ao cidado que trabalha. No entanto, diante das novas

    imposies do capitalismo selvagem em voga, estas regras esto se afrouxando

    para dar lugar maximizao do lucro e competitividade.

    Ao celebrar o contrato de trabalho, a pessoa com todos os fenmenos

    intrapessoais e interacionais que caracterizam sua identidade, acata as normas

    organizacionais. A pessoa quando admitida na empresa, traz consigo sua histria,

    sua personalidade e uma forma de funcionar tanto orgnica como psquica e social.

  • E tende a produzir nas suas relaes no s as expectativas, mas tambm sua

    histria, que vai interagir com o sistema de organizao, manuteno e de

    adaptao do indivduo, do grupo e da empresa.

    O "homem organizacional" leva toda sua potencialidade fsica, as

    caractersticas mentais, as anatmicas, as fisiolgicas e as sensitivas para a

    empresa. Leva tambm sua potencialidade social: a histria de vida, experincias

    adquiridas, os valores introjetados e a capacidade de compartilhar.

    A entrada da pessoa para o sistema empresa celebrada atravs da

    Consolidao das Leis do Trabalho, de prticas administrativas e de procedimentos

    seletivos especficos. Implcito a este momento instala-se o contrato psicolgico de

    trabalho. Este trato no explicitado de forma direta, mas fator determinante no

    processo adaptativo do indivduo na empresa. Mas agora com a flexibilizao das

    regras, recomendadas inclusive pelo Ministrio do Trabalho, a ansiedade do

    trabalhador aumenta pelas incertezas e ameaas de desemprego, procurando

    sujeit-lo mais ainda ao esprito empresarial.

    Para atuao deste "homem organizacional" apenas alguns aspectos so

    utilizados, estimulados e aceitos. No se pretende o trabalho para o homem, mas o

    homem para o trabalho, acionando o gerenciamento da moda chamado de

    "reengenharia ou qualidade total", para extrair o mximo em favor da empresa.

    Arendt faz a seguinte reflexo sobre a autonomia da pessoa no seu trabalho:

    "o anormal laborans pode escapar sua difcil situao como prisioneiro do ciclo

    interminvel do processo vital, eterna sujeio, necessidade do labor e do

    consumo, unicamente atravs da mobilizao de outra capacidade humana: a

  • capacidade de fazer fabricar e produzir o que atributo do homem faber, o qual,

    como fazedor de instrumentos, no s atenua as dores e fadigas do labor como

    erige um mundo de durabilidade".

    Codo destaca que "a sobrevivncia de um organismo depende em ltima

    instncia da capacidade fsica, biolgica e psicolgica de transformar o meio a sua

    imagem e semelhana, portanto, de autotransformar-se imagem e semelhana do

    meio".

    O grupo de trabalho legitima as articulaes entre interesses individuais,

    coletivos e empresariais. Formam-se redes de influncias com processos relativos

    cooperao, competio, conflitos, nvel de motivao e presses externas.

    Formam-se tambm, redes de afetos, emoes e sentimentos entre as pessoas com

    as quais se mantm variada freqncia e intensidade de convivncia.

    O equilbrio um dos processos determinantes da dinmica do grupo. Est

    associado ao contexto amplo em que est inserido. Sobre os grupos, Lewin, citado

    por Amado, afirma que "grupos so totalidades dinmicas que resultam das

    interaes entre seus membros. Estes grupos realizam formas de equilbrio no seio

    de um campo de foras. em funo da organizao perceptiva do espao social

    que as energias postas em jogo se completam e se combatem".

    A reciprocidade no grupo elemento definitivo na estrutura de grupos e na

    empresa. Se dentro do grupo de trabalho na empresa a regra no quebrar ou no

    parar a produo, se ocorre esta quebra em funo de doena, estabelece-se uma

    condio de suspenso da reciprocidade, atingindo-se vnculos de produtividade que

    existem entre os indivduos desse grupo. Desencadeiam-se novos tipos de vnculos

  • em funo dos sintomas e a alterao de comportamento do queixoso, novos fatores

    da dinmica do grupo. Para Rodrigues, esta inter-relao pessoa-empresa ser mais

    ou menos conflituosa quanto maiores forem as diferenas de expectativas dos dois

    plos ou quanto mais rgidos eles forem, com relao capacidade de adaptao.

    Evitando com isso a chamada Loucura do trabalho enunciada por Dejours (1992).

  • 3. A LOUCURA DO TRABALHO

    Um livro fez com que a disciplina de psicopatologia do trabalho avanasse.

    Em vrias regies foram formados grupos de estudo informais para ler e discutir

    esse livro. O livro A loucura do trabalho (Dejours, 1992), passou a ser uma

    referncia bsica, recomendada por professores das mais diversas reas

    acadmicas, como sociologia, psicologia, medicina social, administrao e at

    engenharia de produo. Vrias teses de mestrado e doutorado brasileiras

    apoiaram-se na abordagem de psicopatologia do trabalho de Dejours.

    Destarte, julga-se importante e necessria a abordagem deste autor como um

    captulo especfico do presente trabalho.

    O autor inicia com o conceito de que o perodo de desenvolvimento do

    capitalismo industrial caracteriza-se pelo crescimento da produo, pelo xodo rural

    e pela concentrao de novas populaes urbanas. Os salrios so to baixos que

    no garantem o estritamente necessrio para as famlias, a moradia se reduz a um

    pardieiro, falta higiene, sobra promiscuidade, esgotamento fsico. Acidentes de

    trabalho e subalimentao potencializam seus respectivos efeitos e criam condies

    de uma alta morbidade, de uma alta mortalidade e de uma longevidade

    formidavelmente reduzida. Assim surgiu a classe que hoje chamada de

    subproletariado, que habita as zonas periurbanas. Esta populao se caracteriza

    pelo no trabalho e pelo subemprego.

  • Para essa populao, doena motivo de vergonha. Considera-se que o

    homem que adoece e fica impossibilitado de trabalhar, o faz de propsito por motivo

    de preguia. As mulheres quando engravidam, escondem ao mximo a barriga,

    porque vo dizer que ela s sabe encher a casa de filhos. As pessoas ocultam os

    sintomas de suas doenas dos vizinhos e at da famlia o mximo que podem.

    Suporta-se a dor adiando em muito a ida ao mdico, que s acontece se a doena

    vir a impossibilitar as atividades normais do indivduo. Por ter um nmero de filhos

    compreendido em mdia de 8 a 10, a mulher no se permite adoecer e suporta em

    silncio os sintomas de ocasionais doenas, porque tem muitos afazeres

    domsticos. Quando uma das crianas que adoece, geralmente usado o

    medicamento que foi receitado a um dos outros filhos e que sobrou no vidro, e a

    dosagem geralmente decidida em alguma conversa com a vizinha. A ida ao

    mdico evitada porque sempre acaba em uma receita mdica que nem sempre

    poder ser adquirida. A ansiedade dessas pessoas se d pelo fato de que a doena

    pode afast-los de seus afazeres dirios, que so a garantia de sua sobrevivncia e

    de sua numerosa famlia.

    Em uma situao totalmente diferente de ansiedade, se encontram os

    funcionrios de linha de produo. Seu trabalho repetitivo em busca de produo

    cada vez maior os transformam em operrios-macacos, treinados para aplicar de

    uma maneira contnua e habitual uma tcnica cientfica de trabalho. Os especialistas

    do homem no trabalho divergem a respeito de um assunto: o que se passa na

    cabea de um operrio que trabalha mecanicamente exercendo uma atividade

    repetitiva? Pode ele entrar em devaneios? Isso prejudica sua produo?...

    Numerosos casos mostram que certos trabalhadores desgastados com problemas

    pessoais ou familiares entregam-se brutalmente a uma cadncia desenfreada para

  • esquecer as dificuldades durante o tempo de trabalho. Outros, ao contrrio, s

    sobrevivem ao trabalho repetitivo graas autonomia mental que conseguem

    conservar.

    Quanto mais rgida a organizao do trabalho, mais a diviso do trabalho

    acentuada, menor o contedo significativo do trabalho e menores so as

    possibilidades de muda-lo. Com isso, o sofrimento do trabalhador aumenta.

    Mesmo o tempo fora do trabalho no traz para todos as vantagens que

    poderamos esperar. Se levarmos em conta o custo financeiro das atividades de

    lazer e do tempo absorvido pelas atividades domsticas e deslocamento, poucos

    so os trabalhadores que podem organizar o lazer de acordo com seus desejos e

    suas necessidades fisiolgicas.

    Na vivncia dos trabalhadores, a inadaptao entre as necessidades

    provenientes da estrutura mental e o contedo ergonmico da tarefa traduz-se por

    uma insatisfao ou por um sofrimento, ou at mesmo por um estado de ansiedade

    raramente traduzido em palavras.

    O medo tambm constitui uma das dimenses da vivncia de alguns

    trabalhadores, como o caso da construo civil, pesca em alto-mar, trabalhos em

    profundidade, indstrias de preparao de produtos txicos, petroqumicas, etc. Ao

    lado do risco real precisamos mencionar ainda o risco suposto, confirmado pelos

    acidentes cuja impreviso fonte de ansiedade por parte dos trabalhadores.

    Um dos sinais indiretos do medo a negao de que exista o risco ou

    considerar-se imune a ele, como um empregado da construo civil que, mesmo

    tendo presenciado acidentes ocorridos com seus colegas acha que preveno de

  • acidentes coisa de medrosos e descuidados, e que acidentes s acontecem com

    quem procura ou exagera, pois com esse pensamento eles acreditam tomarem-

    se relativo cuidado no sofrero nenhum mal.

    Em uma indstria petroqumica, os trabalhadores no disfaram o medo e,

    como eles mesmos dizem no estarem sobrecarregados em seus afazeres, mas

    vivem em constante ansiedade porque sabem estar trabalhando sobre um barril de

    plvora.

    A ansiedade responde tambm aos ritmos de trabalho, de produo,

    velocidade e, atravs destes aspectos, ao salrio, aos prmios, s bonificaes

    fazendo com que a situao de trabalho completamente impregnada pelo risco de

    no acompanhar o ritmo imposto e de perder o trem. H tambm o medo de que ,

    assim que tiverem adquirido um certo hbito e rendimentos de controle seu posto de

    trabalho, a agarrarem-se a este, de modo a no perder tais vantagens atravs de

    uma troca de posto.

    Nos escritrios, servios de contabilidade e administrao, podemos observar

    uma tcnica especfica de comando, mais particularmente de tcnicas de

    discriminao, principalmente quando a avaliao do chefe influencia os pontos que

    so dados para o clculo do salrio, de avaliao de tarefas, do atraso autorizado ou

    punido etc. Falsas esperanas sobre promoes so habilmente mantidas e no

    raro, os chefes recorrem a uma convocao individual e, uma vez no escritrio,

    adotam uma atitude paternalista e, desviando-se dos assuntos profissionais,

    incentivam os funcionrios a falar de suas dificuldades familiares e materiais. Essas

    informaes sero usadas para uma manipulao psicolgica e, s vezes, so

    tornadas pblicas, ativando os conflitos entre empregados. O chefe tenta tambm

  • que os empregados falem de seus colegas e, o que no consegue obter diretamente

    do interessado, acaba extorquindo dos colegas mal-intencionados, o que acaba

    gerando uma ansiedade relativa degradao do funcionamento mental e do

    equilbrio psico-afetivo, que a desestruturao das relaes psico-afetivas

    espontneas com os colegas de trabalho, de seu envenenamento pela

    discriminao e suspeita, ou de sua implicao forada nas relaes de violncia e

    de agressividade com a hierarquia.

    Uma segunda ansiedade relativa degradao do organismo, onde as ms

    condies de trabalho colocam o corpo em perigo de duas maneiras: risco de

    acidente sbito de grave amplitude e doenas profissionais que aumentam o ndice

    de morbidade e diminuem o perodo de vida.

    Uma terceira ansiedade a gerada pela disciplina da fome, onde apesar do

    sofrimento mental que no pode mais passar ignorado, os trabalhadores continuam

    em seus postos de trabalho para enfrentar uma exigncia ainda mais imperiosa:

    sobreviver. Como os trabalhadores que inalam o hexaclorociclohexano no podem

    se livrar do cheiro nauseabundo de seu hlito e de seu suor nos quais o produto

    elimina-se. At no leito conjugal, o cheiro permanece ligado ao corpo como uma

    sombra impossvel de ser mascarada, fonte de vergonha e obstculo para a vida

    afetiva e sexual. Resta enfim, o salrio, que contm numerosas significaes:

    primeiramente concretas (sustentar a famlia, ganhar as frias, pagar as melhorias

    de sua casa, pagar as dvidas), mas tambm mais abstratas na medida em que o

    salrio contm os sonhos, fantasias e projetos de realizaes possveis.

    Um contra-exemplo da loucura no trabalho a aviao de caa.

    Diferentemente do que se observa na produo industrial ou na construo civil,

  • constata-se que, na aviao de caa, pilotos e comandos concordam geralmente em

    melhorar a relao sade-trabalho. Cada avio representa uma verdadeira fortuna e

    para assegurar o retorno base preciso que o piloto esteja em boa sade. Alm

    do mais, um piloto custa caro pela sua formao (muito diferente das indstrias,

    onde qualquer um pode aprender a executar as tarefas de um operrio) de maneira

    que sua prpria vida objeto de toda as atenes. A seleo dos pilotos se d pela

    parte fsica , uma vez que, na parte psicolgica, a profisso auto-seletiva. S

    resiste tenso e ansiedade aquele que tem loucura pelo perigo, pelo risco e pela

    ousadia. A angstia fundamental do piloto de caa seria, de algum modo, a de ser

    limitado, de ser comparado ao comum dos mortais, de ser obrigado modstia, de

    reconhecer a existncia do outro e de no ser auto-suficiente. Os pilotos se

    consideram o grupo de elite das, foras armadas, j que so os cavaleiros do cu.

    Na aviao de caa, a explorao de uma loucura bem especfica permite

    encontrar homens capazes de se lanarem num desafio mortal com os elementos

    naturais. Mas as coisas no param por a. Com as telefonistas, por exemplo, o

    sofrimento proveniente da insatisfao pode ser usado para aumentar a

    produtividade. A telefonista se enerva com o ritmo alucinado de seu trabalho e,

    como o nico meio de se livrar de seu interlocutor faze-lo desligar, ela acaba

    atendendo com mais velocidade para forar o final da ligao. Mas quando uma

    ligao termina j h outra em espera e, desta maneira, ela acaba trabalhando mais

    depressa e atendendo a um maior nmero de ligaes durante seu expediente.

    Nas indstrias petroqumicas o trabalho gera o medo e destri certas defesas

    contra a angstia, submetendo assim, a vida psquica dos trabalhadores a duras

    provas. Ignorando o funcionamento exato do processo industrial, e dos diferentes

  • equipamentos, etc., tm apenas dicas de como devem fazer funcionar as mquinas

    que operam e, com o passar do tempo e a observao do comportamento das

    mquinas, desenvolvem macetes para evitar acidentes graves. Tm conscincia de

    que todo mundo sabe que no sabe, num ambiente onde os engenheiros admitem

    que estudaram toda a teoria mas, na prtica, as coisas so muito diferentes. Talvez

    para negar o risco que correm os empregados acabam assumindo condutas

    perigosas. Criam verdadeiros jogos olmpicos no interior da usina, h jogos de bola

    que duram a noite inteira, s vezes um trabalhador atrs de uma pilastra usa o

    extintor de incndio dirigindo o jato contra seus companheiros, chegam a liberar

    vapor a 800 C para assar costeletas em um segundo, ou abrem as vlvulas noite

    liberando o vapor sob presso nos telhados da usina que, com seu carter

    estrondoso, provoca pnico entre os engenheiros que em suas casas so acordados

    pelos alarmes no meio da noite.

    Fica difcil avaliar com exatido os efeitos dessas defesas coletivas sobre a

    populao operria como um todo. Porm, aquele que fica de lado nessas prticas,

    um dia ou outro ser vtima de trote; ele dever enfrentar, alm do medo criado

    pelos riscos do trabalho, o medo criado pelo clima psicolgico do qual no participa.

    De maneira que essas condutas perigosas funcionam, provavelmente, como um

    sistema de seleo pela excluso dos vacilantes. Em contrapartida, para todos os

    outros que participam, cria uma intensa coeso, um clima de cumplicidade protetora,

    funcionando ento, efetivamente, como defesa contra o medo.

    As greves clssicas so raras e mesmo impossveis em certas usinas

    petroqumicas, pois a paralisao da produo acarretaria no somente prejuzos

    para o instrumento de trabalho mas, sobretudo, arriscaria provocar acidentes. Para

  • funcionar, este tipo de processo no deve nem ultrapassar o volume mximo, fixado

    previamente pelo construtor, nem cair aqum de uma produo mnima, sob a pena

    de provocar, em alguns pontos, a elevao perigosa de certas temperaturas,

    bloquear o fluxo de reagentes em certas canalizaes, etc. De modo que o mais

    freqente que a greve seja feita sob a forma de uma reduo da produo. Nesse

    sentido, a greve s pode comear em uma data fixada, quando certa instalao est

    em fase de manuteno. A paralisao repentina, por isso, impossvel. As greves

    selvagens so muito raras e a sabotagem fica definitivamente excluda. Em resumo,

    a explorao do medo aumenta a produtividade, exerce uma presso no sentido da

    ordem social e estimula o processo de produo de macetes, indispensveis ao

    funcionamento da empresa.

    Contrariamente ao que se pode imaginar, a explorao do sofrimento pela

    organizao do trabalho no cria doenas mentais especficas. No existem

    psicoses nem neuroses do trabalho. Nem os maiores crticos da nosologia

    psiquitrica conseguiram provar a existncia de uma patologia mental decorrente do

    trabalho. Isso significa que a organizao do trabalho no tem nenhuma importncia

    nas doenas mentais?

    Em geral, se a organizao do trabalho no pode ser considerada como fonte

    de doena mental, uma entidade psicopatolgica, entretanto, poderia talvez

    encontrar assim uma explicao original. Trata-se da sndrome subjetiva ps-

    traumtica. Essa sndrome aparece, em geral, aps a cicatrizao de uma ferida, a

    consolidao de uma fratura ou a cura de uma intoxicao aguda. Caracteriza-se por

    uma grande variedade de problemas funcionais, ou seja, sem substrato orgnico,

    ou pela persistncia anormal de um sintoma que apareceu depois do acidente.

  • como uma ferida no couro cabeludo provocada pela queda de uma pedra, depois da

    cura continua, durante meses, a produzir pruridos na superfcie do crnio, cefalias,

    impresses estranhas na cabea, vertigens, etc. s vezes esta sndrome

    interpretada como descompensao hipocondraca de uma estrutura neurtica

    subjacente e preexistente ao acidente. O papel do acidente o de elemento

    desencadeador e a evoluo da sndrome de uma cronicidade terrvel.

    Quando se ocupa de uma tarefa, o trabalhador procura arruma-la numa

    ordem, numa seqncia de gestos, escolhendo os instrumentos adequados, enfim,

    executando de certa maneira uma organizao de trabalho de compromisso. Deste

    modo, a mesma tarefa realizada por diferentes trabalhadores, nem sempre

    realizada segundo um mesmo e nico protocolo. Assim, a livre organizao do

    trabalho torna-se uma pea essencial do equilbrio psicossomtico e da satisfao.

    Mas quanto mais rgida for a organizao do trabalho, menos ela facilitar

    estruturaes favorveis ao equilbrio psicossomtico individual. As aptides ligadas

    mentalizao e produo de fantasmas constituem a melhor vlvula de escape

    tenso imposta economia psicossomtica.

    Parece que o sofrimento mental que foi mostrado no pode ser considerado

    apenas como uma conseqncia deplorvel ou um epifenmeno lamentvel. Em

    certos casos, ele se revela propcio produtividade. No tanto o sofrimento em si,

    mas os mecanismos de defesa empregados contra ele.

    Contra o sofrimento, a ansiedade e a satisfao, se constroem sistemas

    defensivos a ponto de o sofrimento, na maior parte desviar-se da verdade. Apesar

    de vivenciado, o sofrimento no reconhecido. Se a funo primeira dos sintomas

  • de defesa aliviar o sofrimento, seu poder de ocultao volta-se contra seus

    criadores.

    provvel que no exista soluo ideal e que, aqui como em tudo mais, seja

    sobretudo a evoluo a portadora de esperana. Considerando o lugar dedicado ao

    trabalho na existncia, a questo saber que tipo de homens a sociedade fabrica

    atravs de organizaes do trabalho. Entretanto, o problema no , absolutamente,

    criar novos homens, mas encontrar solues que permitam pr fim

    desestruturao de um certo nmero deles pelo trabalho.

    3.1 O BOM ESTRESSE1

    Para Vasconcelos (2001) o estresse, ao contrrio do que se imagina, um

    fenmeno saudvel, pois mobiliza dentro do corpo energias e condies necessrias

    para a reao aos problemas vividos.

    Sem ele, as primeiras ameaas que a vida apresenta abalariam

    consideravelmente qualquer pessoa. Mas quando o estresse intenso, o organismo

    altera todo seu funcionamento e a se torna uma doena, chamada diestresse.

    1 Esdras Guerreiro Vasconcellos professor doutor de ps-graduao em psicologia social e do

    trabalho da USP; em psicologia clnica, ncleo de psicossomtica e psicologia hospitalar da PUC-SP; e diretor cientfico do IPSPP-SP (Instituto Paulista de Estresse, Psicossomtica e Psiconeuroimunologia) in

  • Qualquer tipo de estresse -o natural, positivo ou negativo - produz alteraes

    orgnicas nos diversos sistemas (nervoso, endcrino, psicolgico, emocional,

    cognitivo, vascular, dermatolgico, gastrintestinal, sexual e reprodutor).

    Os danos podem ser tambm de pequeno porte e at trazerem

    conseqncias fatais, causando, por exemplo, o cncer. O trnsito denso, difcil,

    congestionado e violento pode ser uma causa para o aparecimento de doenas

    cardiovasculares em motoristas de txi e entregadores, disse o cientista Esdras

    Guerreiro Vasconcellos, do IPSPP-SP, Instituto Paulista de Estresse,

    Psicossomtica e Psiconeuroimunologia.

    Segundo o mdico, existem profisses que so mais estressantes que outras.

    Tudo depende, no entanto, da freqncia e da intensidade com que os fatores

    ocorrem na vida de uma pessoa.

    Profisses como as que trabalham com atendimento a catstrofes (policiais,

    mdicos de pronto-socorro, bombeiros), as que atuam sob forte presso de tempo

    (executivos, jornalistas, vestibulandos, motoristas de ambulncia), outras sob forte

    presso de competitividade (agentes da bolsa e atletas de alto nvel) tm uma

    probabilidade maior de desenvolver mais rapidamente sintomas de estresse.

    Os sintomas mais freqentes e que logo se manifestam quando a pessoa est

    muito estressada so insnia, alteraes nos batimentos cardacos, dor de

    estmago, diarrias, bloqueio mental, alergias persistentes, infeces resistentes,

    gripes prolongadas e duradouras, perda de cabelo, problemas sexuais (nos homens

    perda da ereo, nas mulheres alteraes no ciclo menstrual), irritabilidade, recluso

    social, intolerncia, agressividade e impacincia.

  • 3.2 COMO DIAGNOSTICAR O ESTRESSE

    Segundo Vasconcellos, primeiramente o estresse deve ser evitado. Para isso,

    necessrio desenvolver um ritmo de trabalho e de lazer que permita ao corpo

    refazer-se adequadamente das sobrecargas profissionais e pessoais.

    Uma atividade de lazer pouco competitiva imprescindvel para evitar o

    aparecimento dos sintomas do estresse. Uma atividade religiosa moderada pode

    tambm ajudar de maneira muito eficiente nesse combate aos efeitos prejudiciais do

    estresse, afirma Vasconcelos.

    Quando os sintomas j esto avanados, necessrio um tratamento mdico

    sempre acompanhado por uma psicoterapia especifica para controle de estresse.

  • 3.3 CONSEQNCIAS FISIOLGICAS DO ESTRESSE

    Os mobilizadores de energia so, aqueles que provem a energia instantnea.

    Eles provocam os seguintes efeitos:

    TABELA 1: CONSEQNCIAS FISIOLGICAS DO ESTRESSE

    Efeitos imediatos Efeito a longo prazo

    Liberao de adrenalina e

    noradrenalina das supra-renais

    na corrente sangnea

    acelera os reflexos aumentando o ritmo de

    batimentos cardacos, e a presso

    sangnea elevando os nveis de acar no

    sangue e o metabolismo corporal

    distrbios cardiovasculares

    como molstias do corao e

    derrames; problemas renais

    devido a hipertenso arterial;

    oscilaes nos nveis de

    acar no sangue, agravando

    assim o diabetes e a

    hipoglicemia

    Liberao de hormnios

    tireoidianos da glndula tireide

    na corrente sangnea

    acelera ainda mais o metabolismo corporal exausto, a perda de peso e,

    por fim, ao esgotamento

    fsico.

    Liberao de colesterol do fgado

    na corrente sangnea

    Aumenta ainda mais os nveis de energia elevao do risco de

    arteriosclerose

    Fonte: http://www.psicopatologia.hpg.com.br/fisiologicas.htm

    3.4 SISTEMAS DE APOIO DE ENERGIA

    Alm da mobilizao da energia em si, existe uma srie de funes corporais reunidas

    em resposta ao estresse que apiam essa mobilizao.

    TABELA 2: SISTEMAS DE APOIO DE ENERGIA

    Efeito imediato Efeito a longo prazo

  • Obstruo do sistema digestivo. o sangue desviado do estmago

    para os pulmes e msculos; a boca

    fica seca para que o estmago no

    tenha nem mesmo que digerir a

    saliva.

    problemas estomacais e perturbaes

    digestivas

    Reao cutnea O sangue e desviado da superfcie da

    pele para outras partes: palidez, suor

    perturba a temperatura natural do

    corpo

    Dilatao das passagens de ar nos

    pulmes

    Promove um ritmo mais rpido de

    respirao.

    cegueiras temporrias e alterar os

    batimentos cardacos.

    Fonte: http://www.psicopatologia.hpg.com.br/fisiologicas.htm

    3.5 AUXILIOS DE CONCENTRAO

    TABELA 3: AUXILIOS DE CONCENTRAO

    Efeito imediato Efeito a longo prazo

    Liberam endorfinas do

    hipotalamo na corrente sangnea

    anestsicos naturais; reduzem

    sensibilidade a ferimentos e

    contuses

    mais sensveis a dores rotineiras

    Liberam cortisona das supra-

    renais na corrente sangnea

    Interrompe as reaes alrgicas

    que poderiam interferir com a

    respirao

    reduz as reaes imunolgicas;

    aumentar o risco de ulceras

    ppticas

    Os sentidos ficam mais aguados

    e melhora o desempenho mental

    melhor funcionamento diminuindo ativamente as respostas

    sensoriais e mentais

    reduzida a produo de

    hormnios sexuais

    Evita o desvio de energia ou da

    ateno para o estimulo sexual

    impotncia, frigidez, esterilidade e

    outros problemas sexuais.

    Fonte: http://www.psicopatologia.hpg.com.br/fisiologicas.htm

  • 3.6 REAES DEFENSIVAS

    TABELA 4: REAES DEFENSIVAS

    Efeito imediato Efeito a longo prazo

    Os vasos sangneos contraem-se

    e o sangue fica mais espesso

    flui mais devagar e se coagula mais

    depressa em caso de ferimentos

    formao de cogulos, elevando

    assim o risco de molstias

    cardacas e derrames.

    Fonte: http://www.psicopatologia.hpg.com.br/fisiologicas.htm

    3.7 CONSEQNCIAS PSICOLGICAS DO EXCESSO DE ESTRESSE

    3.7.1 Efeitos cognitivos

    TABELA 5: EFEITOS COGNITIVOS

    DECRSCIMO DA CONCENTRAO E

    DA EXTENSO DA ATENO

    A mente encontra dificuldades para permanecer concentrada.

    Diminuem os poderes de observao

    AUMENTA A DESATENO A linha do que esta sendo ensinado ou dito e perdida com

    freqncia, mesmo no meio de frases.

    DETERIORA-SE A MEMRIA

    DE CURTO E LONGO PRAZOS

    Reduz-se a amplitude da memria. A lembrana e o

    reconhecimento diminuem, mesmo a respeito de materiais

    familiares.

    A VELOCIDADE DE RESPOSTA

    TORNA-SE IMPREVISVEL

    A velocidade real de resposta reduz-se; as tentativas de

    compensao podem levar a decises apressadas.

    AUMENTA O NDICE DE ERROS Como conseqncia de todos os itens anteriores, os erros

    aumentam em tarefas manipulativas e cognitivas. As decises

    tornam-se suspeitas.

    DETERIORAM-SE OS PODERES DE

    ORGANIZAO E PLANEJAMENTO A

    LONGO PRAZO

    A mente no pode avaliar com exatido as condies

    existentes nem prever as conseqncias futuras.

    AUMENTAM AS ILUSES E OS

    DISTRBIOS DE PENSAMENTO

    O teste da realidade torna-se menos eficiente, a objetividade e

    os poderes de critica so reduzidos, os padres de

    pensamento tornam-se confusos e irracionais

    Fonte: http://www.psicopatologia.hpg.com.br/fisiologicas.htm

  • 3.8 EFEITOS EMOCIONAIS

    TABELA 6: EFEITOS EMOCIONAIS

    AUMENTAM AS TENSES FISICAS E

    PSICOLOGICAS

    Reduz-se a capacidade de relaxamento do tnus muscular, de

    se sentir bem, de se desligar das preocupaes e ansiedades

    AUMENTA A HIPOCONDRIA Queixas imaginarias acrescentam-se aos males reais do

    estresse. Desaparecem as sensaes de sade e de bem-estar.

    OCORREM MUDANAS NOS

    TRAOS DE PERSONALIDADE

    Pessoas asseadas e cuidadosas podem se tornar desleixadas e

    relaxadas; pessoas carinhosas podem ficar indiferentes; as

    democrticas, autoritrias.

    CRESCEM OS PROBLEMAS DE

    PERSONALIDADE EXISTENTES

    Pioram a ansiedade, a super sensibilidade, a defensiva e a

    hospitalidade j existentes

    ENFRAQUECEM-SE AS RESTRIOES DE

    ORDEM MORAL E EMOCIONAL

    Os cdigos de comportamento e de impulso sexual

    enfraquecem-se (ou, par outro lado, tornam-se

    irrealisticamente rgidos). Aumentam as exploses

    emocionais

    APARECEM A DEPRESSO E A

    SENSAO DE DESAMPARO

    O entusiasmo cai ainda mais, surge um sentimento de

    impotncia para influenciar os fatos ou os prprios

    sentimentos a respeito deles

    A AUTO-ESTIMA DIMINUI DE FORMA AGUDA

    Desenvolvem-se sentimentos de incompetncia e de

    inutilidade

    Fonte: http://www.psicopatologia.hpg.com.br/fisiologicas.htm

  • 3.9 EFEITOS COMPORTAMENTAIS GERAIS

    TABELA 7: EFEITOS COMPORTAMENTAIS GERAIS

    AUMENTAM OS PROBLEMAS DE

    ARTICULAO VERBAL

    Aumentam os problemas j existentes de gagueira e hesitao,

    podendo surgir em pessoas at ento no afetadas.

    DIMINUEM OS INTERESSES E O

    ENTUSIASMO

    Os objetivos de vida podem ser abandonados. Passatempos

    parecem ser esquecidos. Objetos de estimao, vendidos

    AUMENTA O ABSENTEISMO Atrasos ou falta no trabalho por doenas reais ou imaginarias ou

    por desculpas inventadas tornam-se um problema

    CRESCE O USO DE DROGAS Torna-se mais evidente o abuso de lcool, cafena, nicotina e

    medicamentos ou drogas

    ABAIXAM OS NIVEIS DE ENERGIA Os nveis de energia caem ou podem variar de forma marcante de

    um dia para outro, sem razo aparente.

    ROMPEM-SE OS PADROES

    DE SONO

    Ocorre dificuldade para dormir ou para permanecer adormecido

    par mais de quatro horas.

    AUMENTA O CINISMO A RESPEITO

    DOS CLIENTES E COLEGAS Desenvolve-se a tendncia de jogar a culpa sobre os outros. O que se pode fazer com pessoas como essas? Eles s tero de novo a mesma disposio daqui a seis meses. Ningum se importa, exceto eu.

    IGNORAM-SE NOVAS

    INFORMAES

    So rejeitadas ate mesmo novas regulamentaes ou novos

    acontecimentos potencialmente teis. Estou ocupado demais para me importar com coisas como essas.

    RESPONSABILIDADES

    TRANSFERIDAS PARA OUTROS

    Aumenta a tendncia a redefinir limites e excluir tarefas

    desagradveis de seu campo

    RESOLVEM-SE OS PROBLEMAS DE FORMA CADA VEZ MAIS

    SUPERFICIAL

    So adotadas solues paliativas e de curto prazo, e abandonadas

    as tentativas de aprofundamento e de acompanhamento. Em

    algumas reas, ocorrem desistncias

    SURGEM PADRES BIZARROS DE

    COMPORTAMENTO

    Surgem maneirismos estranhos, imprevisibilidade e comporta

    mentos no caractersticos.

    PODEM OCORRER TENTATIVAS DE SUICDIO

    Surgem frases como acabar com tudo e e intil continuar.

    Fonte: http://www.psicopatologia.hpg.com.br/fisiologicas.htm

  • CONSIDERAES FINAIS

    O trabalho, as responsabilidades e as preocupaes do dia a dia tm inserido

    o homem numa rotina desgastante, ocasionando um dos grandes males das ltimas

    dcadas: o estresse.

    Submetido ao estresse, o corpo humano libera adrenalina, que aumenta os batimentos

    cardacos, acelera a respirao e provoca tenso muscular. Descontrolado e acumulado, esse

    fenmeno cria ou agrava problemas de sade, mas dentro de certos limites funciona como

    estmulo realizao.

    Estresse o estado que se caracteriza por um conjunto de reaes psicofisiolgicas do

    organismo a situaes que desencadeiam tenso. So fatores estressantes os acontecimentos

    que provocam ansiedade, agitao ou tristeza. A vida nas grandes cidades propicia inmeras

    situaes favorveis ao estresse, fenmeno especialmente freqente nas modernas sociedades

    industriais, principalmente no trabalho.

    Em 1936, o cientista e mdico austraco Hans Seyle apresentou pela primeira vez em

    biologia o conceito de estresse. Definiu-o como uma "sndrome geral de adaptao", ou seja,

    um conjunto de reaes sistmicas e no-especficas que surgem quando ocorre exposio do

    organismo a agentes agressores. Observou trs fases de resposta adaptativa:

    1. reao de alarme, que corresponde ao estresse agudo, quando se d a

    liberao de adrenalina;

  • 2. perodo de resistncia, correspondente ao estresse crnico, quando

    secretado o hormnio glicocorticide; e

    3. fase de exausto, que corresponde ao perodo pr-agnico, em que h

    falncia orgnica mltipla.

    Acredita-se que a capacidade de um indivduo para controlar situaes potencialmente

    estressantes pode ter profundos efeitos sobre suas funes vitais. Pesquisadores encontraram

    uma relao estatstica entre doenas coronarianas e indivduos que apresentam padres de

    comportamento muito estressante, com estilo de vida caracterizado por impacincia e

    sentimento de urgncia, e no trabalho o excesso de competitividade e preocupao em

    cumprir prazos.

    Segundo a OMS (1985), atravs de vrios estudos tem se verificado que o

    desgaste do trabalhador provocado por certas condies de trabalho um fator mais

    significativos na determinao do estresse e conseqentemente, no aparecimento

    de doenas.

    Em qualquer situao no trabalho pode ocorrer estresse quando os recursos

    necessrios para o trabalho, ou a capacidade do indivduo, no condizem com as

    demandas do servio ou as condies ambientais. Alm disso, chama a ateno

    para o fato de que o trabalhador que chega ao seu local de trabalho j

    sobrecarregado com fatores estressantes pessoais mais suscetvel a problemas

    adicionais.

    A carga de trabalho que a pessoa encontra em seu servio um dos fatores

    relacionados ao estresse ocupacional. Tanto a sobrecarga quanto a carga muito

    pequena de trabalho provocam ansiedade e frustraes, causando o estresse.

  • Vrias estratgias se aplicam com sucesso no tratamento do estresse. O

    alvio do estresse moderado pode ser obtido por meio de exerccio fsico ou de

    qualquer tipo de relaxamento. O estresse grave pode demandar tratamento

    psicoteraputico para trazer tona as causas subliminares e atac-las. Algumas

    vezes, a mudana de ambiente ou de modo de vida produz boa resposta

    teraputica.

    A luta pela melhoria econmica numa sociedade cada vez mais consumista,

    onde cada um vale o que tem, tornou-se a razo de viver de muitos. Ter o carro do

    ano, diversidades de eletrodomsticos oferecido pelo comrcio, computador de

    ltima gerao a meta principal. A televiso, o rdio e os jornais bombardeiam com

    propagandas de todos tipos e dos mais esdrxulos objetos e servios, incentivando

    a comprar.

    Para adquirir tudo que oferecido no se mede esforos, e inmeras vezes

    no se consegue visualizar no que se tornou a vida. Uma rotina estressante,

    prejudicial a vida familiar, profissional, social e pessoal, com conseqncias at

    mesmo fsicas. O grande nmero de doenas psicossomtico existente comprova

    este fato. o corpo dando o alerta que algo no vai bem.

    O estresse uma doena do sculo e tem efeitos negativos sobre a sade

    dos trabalhadores, afetando a produtividade.

    Sabe-se que o estresse o desgaste sofrido pelos rgos e provocado pelas

    dificuldades em enfrentar os problemas emocionais. No h dvida de que o estresse no

    depende apenas das tenses externas geradas pelas dificuldades socioeconmicas, mas

    tambm dos recursos mentais utilizados para enfrentar todos estes problemas.

  • Afigura-se que o estresse relacionado com o trabalho afeta milhes de

    trabalhadores em todos os ramos de atividade. Esta situao constitui um importante

    motivo de preocupao e um desafio devido no s aos seus efeitos sobre os

    trabalhadores individuais, mas tambm aos custos ou impacto econmico sobre as

    empresas e aos custos sociais para o pas.

  • Definio de estresse relacionado com o trabalho

    Cada vez mais existe um consenso para definir estresse relacionado com o

    trabalho em termos das "interaes" entre o trabalhador e o ambiente de trabalho

    (exposio a fatores de risco). Segundo este modelo, pode-se dizer que o estresse

    ressentido quando as exigncias do ambiente de trabalho ultrapassam a capacidade

    do trabalhador de fazer face a essas exigncias (ou de as controlar). Ao definir o

    estresse desta forma, coloca-se a tnica nas causas relacionadas com o trabalho e

    nas medidas de controle necessrias.

    Causas do estresse relacionado com o trabalho

    De um modo geral, o problema do estresse relacionado com o trabalho reside

    na concepo e na gesto da organizao do trabalho. Acima foi apresentado um

    modelo de definio do estresse em relao com o ambiente de trabalho; o estresse

    verifica-se quando as exigncias dos fatores de trabalho ultrapassam a capacidade

    de fazer face situao (ou de a controlar). Na literatura de investigao atual existe

    um consenso razovel sobre os perigos psicossociais do trabalho que so

    ressentidos como estressantes e/ou potencialmente nocivos. Isto resumido na

    abaixo onde se apresenta dez categorias de caractersticas de trabalho, ambientes

  • de trabalho e fatores organizacionais susceptveis de constituir um risco. Referem-

    se, tambm, as condies nas quais cada uma dessas categorias se mostrou

    prejudicial para a sade.

    Caractersticas estressantes do trabalho

    TABELA 8: CARACTERSTICAS ESTRESSANTES DO TRABALHO

    Categoria Condies que determinam os perigos

    Contexto do trabalho

    Cultura organizacional e funo Falta de comunicao, baixos nveis de apoio na resoluo de problemas e no desenvolvimento pessoal, falta de definio dos objetivos organizacionais.

    Papel na organizao Ambigidade e conflito de papis, impreciso da definio das responsabilidades dos trabalhadores.

    Progresso na carreira Estagnao na carreira e incerteza, promoo insuficiente ou excessiva, salrios baixos, insegurana do emprego, baixo valor social do trabalho.

    Liberdade da deciso / controle Falta de participao no processo de deciso, falta de controle no trabalho

  • Relaes interpessoais no trabalho

    Isolamento social ou fsico, relaes deficientes com os superiores, conflitos interpessoais, falta de apoio social.

    Relaes vida privada - trabalho Incompatibilidade das exigncias trabalho / vida privada, falta de apoio em casa, duplos problemas de carreira.

    Contedo do trabalho

    Ambiente laboral e equipamento Problemas com a disponibilidade, adequao e manuteno ou reparao do equipamento e das instalaes.

    Concepo da tarefa Falta de variedade ou ciclos de trabalho curtos, trabalho fragmentado ou menor, subutilizao das competncias, alto nvel de incerteza.

    Volume /ritmo de trabalho Sobrecarga de trabalho ou quantidade de trabalho insuficiente, falta de controle sobre ao ritmo, altos nveis de presso relativamente aos prazos acordados para as tarefas.

    Horrios de trabalho Trabalho por turnos, horrios rgidos, horas imprevisveis, perodos longos ou fora do normal.

    Alm disso, as rpidas e excepcionais mudanas de hoje no mundo do

    trabalho e sua organizao aumentam os problemas de estresse. As mudanas em

    si, em especial quando o trabalhador se confronta com problemas como falta de

    controle ou participao e incerteza, podem causar estresse.

    mbito da preveno e da gesto

    H de salientar a necessidade de traduzir os conhecimentos cientficos

    existentes em solues prticas para os problemas do estresse relacionado com o

    trabalho. Para tal, prope-se a utilizao da gesto do risco / controle do ciclo como

    enquadramento para a resoluo dos problemas. O controle do ciclo o processo

    sistemtico pelo qual os riscos so identificados, analisados e geridos, e os

  • trabalhadores protegidos. Esta abordagem de resoluo dos problemas encontra-se

    bem estabelecida como estratgia para combater os riscos fsicos, constituindo, para

    alm disso, uma estratgia til para a avaliao de todos os riscos psicossociais no

    trabalho.

    Prioridades de investigao

    A principal rea para investigao futura a gesto do estresse, sua

    avaliao e a natureza fundamental do estresse. Os esforos devem ser

    concentrados em aes de gesto do estresse a nvel organizacional, em especial

    tendo em conta que muitas vezes foram adotadas vises demasiado limitadas

    quanto ao que deve ser a gesto do estresse e, muitas vezes, as aes foram

    demasiado concentradas em tratar ou curar a pessoa. Alm disso, so necessrias

    avaliaes mais adequadas e sistemticas das intervenes.

    Existe uma clara necessidade de avaliar e monitorizar vrios aspectos da

    concepo e gesto do trabalho muitas vezes designadas coletivamente como

    "mundo do trabalho em mudana" (ver tabela abaixo). Estes novos padres de

    trabalho podem ser portadores de riscos complementares e imprevistos para os

    trabalhadores e as empresas.

    O Mundo do Trabalho em Mudana

    nmero crescente de trabalhadores idosos

    teletrabalho e uso crescente das tecnologias da informao e da

  • comunicao

    reduo dos efetivos, descentralizao da produo, sub-contratao e globalizao e mudanas nos padres de trabalho da decorrentes

    exigncia de flexibilidade aos trabalhadores, tanto em termos do seu nmero, como das suas funes e competncias

    uma maior percentagem de trabalhadores no setor dos servios

    trabalho auto-regulamentado ou trabalho de equipe

    Uma segunda rea de investigao a necessidade de colocar o estresse no

    trabalho no contexto mais vasto de problemas interligados, tais com as

    desigualdades sociais, a diversidade social, a idade, o sexo, as deficincias e uma

    etnia. Esta abordagem essencial para se obter uma perspectiva completa da

    gesto do estresse no trabalho.

    Resultados-chave

    O estresse relacionado com o trabalho pode ser tratado da mesma forma que

    outras questes de sade e segurana, atravs da adaptao do controle do ciclo, j

    bem estabelecido para a avaliao e a gesto dos riscos fsicos, gesto do

    estresse no trabalho.

    A investigao futura deve centrar-se em intervenes de gesto do estresse a nvel da

    organizao.

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