A Transferencia, o Analista e a Angustia

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    RESUMO

    Este trabalho aborda a emergnciade angstia no analista em um caso

    de psicanlise com crianas. Lacan(2005) aponta que no raro o

    analista ser tomado pela angstiaquando em contato com seu paciente.

    A questo evocada : o que acontece?

    No se pretende responder ou fechara questo, contudo, com base em

    um caso clnico, pretende-se ler nasentrelinhas o que est em jogo naanlise e, por conseguinte, refletir

    sobre a emergncia da transfernciacomo correlata ao surgimento da

    angstia. No caso clnico apresenta-do, a analista que recebe o pacientelana mo da interpretao para

    manejar uma transferncia negativa.A transferncia o campo em que o

    analista atua, e nesse campo queo analista, saindo de sua funo,converte-se em um sujeito afetado

    pela angstia. Nesse momento deemergncia da angstia, mostra-se

    como a analista utiliza tticas para

    retornar funo de causa, fazendosemblante de objeto.

    Descritores: transferncia; ana-lista; angstia.

    A TRANSFERNCIA, OANALISTA E A ANGSTIA

    Rafael de Castro Dorado

    Alessandra Fernandes Carreira

    DOI: http://dx.doi.org/10.11606/issn.1981-1624.v19i1p111-127

    Psiclogo pela Universidade de Ribeiro Preto (UNAERP). Membro do Espao de

    Interlocuo em Psicanlise - Lalngua, Ribeiro Preto, So Paulo, Brasil.

    Psicanalista. Professora titular do curso de Psicologia da Universidade de

    Ribeiro Preto (UNAERP) e membro-fundador do Espao de

    Interlocuo em Psicanlise Lalngua Ribeiro Preto, So Paulo, Brasil.

    Introduo

    Inserido no projeto de pesquisa Psicanlise com crianas:

    teoria e clnica1

    , o presente trabalho aborda a angstia de um sujeitoao perceber-se na posio de analista, em uma sesso psicanalticacom criana. Trata-se de tomar a irrupo dessa angstia, para almda subjetividade do sujeito-analista, como um possvel indicadorclnico do prprio caso em atendimento.

    Artigo

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    112 Estilos clin., So Paulo, v. 19, n. 1, jan./abr. 2014, 111-127.

    O caso clnico estudado neste trabalho refere-se a um menino quefoi adotado, de nome fictcio Joo, que iniciou seu tratamento com trsanos de idade. Sua me queixava-se de sua agressividade e recusa em ir escola. O caso conta com registros no literais das sesses, utilizadoscomo material para anlise.

    Este artigo tem por objetivo explorar e discutir o que est envolvidona angstia que pode tomar o analista quando conduz uma anlise. Emque ponto o analista implicado no jogo transferencial capaz de causara angstia? Diante de sua angstia, quais direcionamento(s) e manejo(s)o analista pode se utilizar?

    Diante dessas questes, espera-se fomentar a discusso em tornoda clnica psicanaltica; haja vista que a psicanlise a clnica, a teoria consequncia e carece de ser revista amide.

    Caso clnico

    A me de Joo procura atendimento para ele quando ele tem trsanos de idade; sua queixa consiste na agressividade da criana dentro efora de casa e sua averso escola. Os atendimentos ocorreram na ClnicaEscola de Psicologia da Universidade de Ribeiro Preto (UNAERP),englobando quatro entrevistas com a me e quase quatro anos de aten-dimento ao menino.

    Joo foi abandonado por sua me biolgica, uma andarilha que jhavia entregado vrios bebs para adoo assim que nasceram. Quandodeu luz Joo, porm, relutou em entreg-lo, levando-o consigo durantedias, mas deixando-o na calada, prximo ao hospital, ainda com o cueiroe a pulseira da maternidade, dias depois.

    A me adotiva ficou muito tensa nesse perodo, pois demorou a

    receber o beb. Ela nomeava-se para o menino como me do coraoe nas entrevistas referia-se a ele como filho do corao. Durante a es-pera para a adoo, ela desenvolveu uma gravidez psicolgica e chegoua produzir leite, entretanto Joo no o aceitou, sofrendo de desnutrio.

    No obstante, ela no conseguia impor limites ao filho por d dacriana e medo de perd-la. Concluiu que espelhava a agressividade domenino e vice-versa. O grude me-filho era corroborado pelo fato de opai viajar a trabalho e estar ausente a maior parte do tempo. Falar sobretudo isso nas sesses de terapia levou a me a constatar que era preciso

    que Joo conquistasse sua prpria liberdade.

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    Joo, por sua vez, ao longo dassesses, simulava rebeldia, projetandono analista uma me perseguidora eque o abandonara; ao mesmo tempo,o menino simulava no saber que suame era adotiva. A criana apresentouresistncia para entrar na sala em mui-tas sesses, e a transferncia seguiupelo campo da agressividade.

    Aps algumas sesses, a analistasuperou a resistncia de Joo ao entrarna sala marcando seus movimentos eos interpretando; por exemplo, entrar

    e sair amide da sala de atendimento.O que a analista marca para ele, emdeterminada sesso, como sendo umaquesto acerca de sua origem e seudestino: Ser que um dia voc j foi eveio de algum lugar? De onde ser quevoc veio? Alm disso, o analista fezuma oferta, procurando com isso criaruma demanda: Se voc ficar aquidentro comigo, eu posso te ajudar adescobrir sua origem e seu destino.

    Houve diversos momentos emque a analista precisou fazer esse tipode manejo para aproximar-se de Joo.O menino aceitou a ajuda do analis-ta, elegendo-o como seu intrpreteem momentos que variavam entre

    acordo e desacordo. Joo, segundo oanalista (Carreira, 2004), avanou emsua anlise, passando por questesfundamentais sobre sua origem, di-ferena entre sexos, identificao aomasculino, ou seja, os que tm falo, ea morte, inclusive a da analista, que setornou nada.

    Em certo momento da anlise, o

    menino decidiu no mais compare-

    cer. O questionamento levando pelaanalista se a anlise de Joo haviachegado ao fim. A reposta a essaquesto pareceu ser a que se trata dealgo, caso o menino volte.

    Transferncia, analista eangstia

    A transferncia o meio peloqual a anlise se torna possvel e, ao

    mesmo tempo, o que ameaa invia-bilizar o trabalho. Se, por um lado, osujeito em anlise coloca o analistaem um lugar de sujeito do supostosaber, no absurdo, por outro lado,que o analista seja localizado no lugarde quem no sabe. No se trata exa-tamente de o analista ser colocadono lugar do que sabe ou no sabepara que a anlise fique paralisada,invivel, truncada; a anlise pode ficarinvivel devido resistncia do pr-prio analista. E essa resistncia podeser causada por diversos fenmenosque a transferncia, no raramente,suscita. Neste trabalho, a angstia doanalista, nodal dentro de uma anlise,

    analisada dentro do transfenmenoda transferncia.A angstia do analista o toma e o

    atinge como sujeito. Como lidar comesse fenmeno? O que est em jogo?Neste artigo, analisa-se o campo datransferncia, a angstia e o discursodo analista, com o intuito de discutircertas questes que implicam o ana-

    lista em sua prtica.

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    Angustiada, eu interpreto demaise ele fica mais agressivo ainda, poispareo atuar no lugar de uma me per-seguidora, que o abandonou. (Car-reira, 2004, p.13). Essa frase suscitao questionamento acerca do que estenvolvido na angstia ao perceber-sena posio de analista.

    Quanto a isso, Lacan (2005)afirma que:

    quando o analista inicia sua prtica,no impossvel, graas a Deus, que,por mais que apresente uma tima dis-posio para ser analista, ele sinta, desdesuas primeiras relaes com o doenteno div, uma certa angstia. (Carreira,2004, p.13)

    Lacan (2005) aborda e formalizaessa questo da angstia no analistainiciante e sua relao com o paciente,mostrando que se trata praticamente

    de condio de iniciante angustiar-seao estar na posio de analista.

    Antes de prosseguir, interes-sante a tentativa de diferenciar aansiedade da angstia. A primeira,concebida como algo que se move efaz mover para alguma direo, podeser considerada como uma concen-

    trao de energia, uma precipitao,no sentido de acmulo, uma emoo,algo da ordem da volio. A angstia,por sua vez, representa algo que barra,algo que impede o sujeito, e que seencontra em outro campo, diverso aoda emoo (Lacan, 2005). Qual seria,ento, o territrio da angstia?

    No dia a dia, a linguagem falta

    em dar conta do mundo, e dentro de

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    um processo analtico no diferente. Ento, o que ocorre com oanalista para que possa emergir sua angstia?

    Lacan (2005) relaciona a angstia fantasia e ao desejo do Outro,bem como identificao narcsica. O autor no oferece, a priori,explicaes diretas e simples para essas relaes; o que faz dese-novelar o campo da angstia. Lacan explora alguns fenmenos queocorrem sob o nome da angstia e toma como referncia o textofreudiano de 1926 sobre Inibio, sintoma e angstia.

    Com base nas palavras do ttulo da obra de Freud, inibio, sintomae angstia, Lacan (2005) elabora um esquema, a fim de articular osfenmenos que emergem sob o nome angstia:

    Fonte: Quadro da angstia (Lacan, 2005, p. 89).

    A inibio seria uma manifestao da angstia, ou melhor, umasituao sob o nome da angstia. Lacan argumenta e sugere o usode outro termo no lugar do termo inibio, a sugesto do autor utilizar a palavra impedimento, pois:

    Nossos sujeitos ficam inibidos quando nos falam de sua inibio, e nsmesmo o ficamos ao falar em congressos cientficos, mas, no dia a dia, eles

    ficam mesmo impedidos. Estar impedido um sintoma. (Lacan, 2005, p. 19)

    Considerando a etimologia, Lacan (2005) contextualiza a troca dapalavra inibio pela palavra impedir.Impedicare, do latim, signifi-ca ser apanhado na armadilha. Freud fez o uso da palavra inibioatrelando-a ao significado de algo que impede o movimento; Lacan(2005), por sua vez, afirma que o impedimento no o movimento,mas o prprio sujeito. O que impede o sujeito uma armadilha naqual o sujeito pego.

    Esta armadilha, afirma Lacan (2005), a captura narcsica:

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    O impedimento ocorrido est ligado a este crculo que faz com que, nomesmo movimento com o que o sujeito avana para o gozo, isto , para o quelhe est mais distante, ele depare com essa fratura ntima, muito prxima,por ter-se deixado apanhar, no caminho, em sua prpria imagem, a imagemespecular. essa a armadilha. (Lacan, 2005, p. 19)

    Outro termo utilizado dentro do campo da angstia o emba-rao.Ainda utilizando a etimologia como arrimo de sua argumen-tao, Lacan pontua que O embarao , em termos muito exatos,o sujeito S revestido da barra, |S, porque imbaricarefaz a mais diretaaluso barra, bara, como tal (2005, p. 19). O embarao, ento,est relacionado com a castrao, com o sujeito barrado.

    Segundo Lacan (2005), o impedimento suscitaria o embara-o, logo suscitando o barramento do sujeito; o embaraoseria,

    ento, a forma leve de angstia.

    Na anlise, s vezes existe o que anterior a tudo o que podemos elaborar oucompreender. Chamarei a isso a presena do Outro (A), com A maisculo. Noexiste autoanlise, nem mesmo quando a imaginamos. O Outro (A) est ali. nesse caminho e com o mesmo intuito que se situa a indicao que j lhes deiacerca de algo que vai muito mais longe, ou seja, a angstia. (Lacan,2005, p. 31)

    Com base nesse apontamento, Lacan (2005) assevera que o de-

    sejo do homem sempre o desejo do Outro e relaciona a angstiacom o desejo do Outro. Nesse sentido, quando o sujeito deseja, ele castrado. S h desejo se h falta; entretanto, onde o Outro entranesse campo? O sujeito castrado e deseja. Em que ponto isso podese relacionar angstia e transferncia?

    Se tomarmos o vis da castrao, o Outro j se faz presente nesteterreno. a castrao corresponde incapacidade do sujeito obterno Outro a garantia de gozo. (Kaufmann, 1996, p. 81) O Outro referncia para o sujeito tanto na dimenso da satisfao, quantona incapacidade da mesma. O saldo de tal incapacidade poderia,possivelmente, ser denominado como falta, pois ela parece estararticulada com a figura de uma barreira, ou barra, que impede apulso de atingir seu alvo, em que preciso o redirecionamento e abusca por outros objetos, de outro caminho para o gozo.

    No obstante, o sujeito inserido na cultura por meio da presenado Outro. Dependendo do posicionamento do sujeito perante esseencontro com o Outro, o sujeito ir habitar a linguagem; ou poder

    ser habitado por ela como ocorre na psicose. A linguagem permite

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    o aparecimento do sujeito, e ela aponta logo para a existncia dealgo intransponvel, mas possivelmente manejvel: a falta. Ento, com base no lugar que o sujeito se coloca, ao se deparar com afalta, que o leva a ter determinada relao com o Outro. O neur-tico recalca a falta, o perverso a desmente, enquanto o psictico aforaclui (Quinet, 1997).

    Com a condio irrevogvel de deparar-se com a linguagem,o sujeito passar a buscar algo que poderia aplacar a falta, ento elecomea a desejar.

    A falta est na linguagem, e o Outro concebido como umespao aberto de significantes que o sujeito encontra desde seuingresso no mundo (Kaufmann, 1996, p. 385). Pode-se, ento,afirmar que o Outro a linguagem. O sujeito ir se deparar com

    o enigma, ao recm-chegar a esse espao aberto. O enigma podese estabelecer da questo O que quer o Outro de mim? Essapergunta, denominada desejo, lana o sujeito a outro patamar:a construo da fantasia que tanto resposta ao desejo do Outro,quanto proteo em relao angstia.

    A linguagem, ou seja, o Outro, inaugura o sujeito dividido, epromove o surgimento do inconsciente. O sujeito marcado pelabarra do significante e por uma sombra de algo que passou por ali,o resduo da presena do Outro, o objeto a. Lacan (2005) afirmaque o objeto a o objeto do desejo, causa do desejo.

    Parece que a angstia surge na medida em que, ao se aproxi-mar do objeto de desejo, que poderia encerrar a falta, se encerratambm a possibilidade de se desejar. Ento, o sujeito, ao estar naposio de objeto de desejo, reduzido a objeto. A angstia doanalista, suscitada por ser colocado em certos lugares na transfe-rncia, provavelmente se relaciona com essa ideia de ser colocadoem lugar de objeto.

    Lacan (2005) se utiliza de uma fbula para ilustrar a relaoessencial da angstia com o desejo do Outro:

    Revestindo-me eu mesmo da mscara de animal como que se cobre ofeiticeiro da chamada gruta dos Trs Irmos, imaginei-me perante vocsdiante de outro animal, este de verdade, supostamente gigantesco, no caso,um louva-a-deus. Como eu no sabia qual era a mscara que estava usando, fcil vocs imaginarem que tinha certa razo para no estar tranquilo, dadaa possibilidade de que essa mscara porventura no fosse imprpria parainduzir minha parceira a algum erro sobre minha identidade. A coisa foi bem

    assinalada por eu haver acrescentado que no via minha prpria imagem noespelho enigmtico do globo ocular do inseto. (Lacan, 2005, p. 14)

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    Lacan (2005) leva o questiona-mento O que o Outro quer de mim?para um desdobramento a mais. Aocolocar a cena da fbula, ele afirmaque no se trata apenas de uma ques-to do sujeito relacionada ao enigmado desejo do Outro, mas tambm uma interrogao a respeito do que oOutro quer do sujeito.Nas palavrasde Lacan (2005, p.14), Que quer ele arespeito deste lugar do eu?. Ento, osujeito, ao se deparar com o olhar doOutro, questiona-se acerca do desejo

    dele e, no obstante, capturado emuma identificao narcsica, levando--o ao questionamento Como devoresponder a partir deste lugar do eu?

    Nesta dialtica entre o desejo ea identificao narcsica, a angstiapode emergir no sujeito (Lacan,2005). Por isso, quando, em meio transferncia, o analista tomadopela angstia, pode-se afirmar que seusujeito entrou em cena e se encontradiante do olhar do louva-a-deus, ou,em outras palavras, que ele est diantedo olhar do Outro. Este olhar aqueleem que o olho espelhado do Outrono reflete a imagem do sujeito, e osujeito no sabe, ento, que mscara

    usar, ou melhor, no sabe que mascaraest usando.A transferncia , no entanto, o

    que possibilita a existncia de umaanlise, e suport-la fundamental. uma demanda de amor do analisandoao colocar o analista em uma posioem que este no deve ratificar, pormdeve suportar permanecer para depois

    se movimentar, j que ela a chancela

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    para o analista ser o intrprete (Carreira, 2012) e, posteriormente, a que oferece um lugar vazio ao sujeito. Este lugar vazio deque o sujeito poder utilizar para articular os sinais da existnciade seu inconsciente, j que somente ele, o prprio sujeito, podeescrever algum saber, ainda que parcial.

    Transferncia e angstia no caso Joo

    Acerca da transferncia, o analista se utiliza de apostas etticas, calculadas ou no (ato analtico), com o intuito de tornaro canal da transferncia mais propcio para o trabalho analti-

    co. O caso clnico de Joo ilustra o modo como isso ocorre: omenino resiste na transferncia negativa, no quer ficar na salae age agressivamente com sua me; parece, de acordo com osrelatos posteriores do analista, que ele a coloca no lugar de umame perseguidora que o abandonou. Em meio a isso, ocorre aseguinte cena:

    Joo quer que a me levante da cadeira para ele sentar, puxa a cadeira,puxa o cabelo da me e bate nela.

    Neste momento, a analista corta a sesso, dizendo a Joo: Voc quer o lugar da sua me.A me se levanta. Joo senta na cadeira e diz: minha.E a analista diz: Agora o lugar seu.(Primeira sesso de Joo)

    Logo aps o corte da sesso, segue outra cena na recepo

    da clnica:

    Joo olha para a foto do crach da analista e diz: Olha a foto!A analista pergunta: Quem ? Voc.E a analista conclui: Voc j me conhece.(Primeira sesso de Joo)

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    Na primeira cena, a analista interpreta, marcando o movimento do garoto dequerer expulsar agressivamente sua me de um lugar para poder conquistar oseu espao, algo que parece ser de sua fantasia, de seu posicionamento peranteo Outro. E por meio dessa marcao cria-se a possibilidade de o sujeito atribuiralgum saber ao analista. Na segunda cena, h relao com o corte de sesso,realizado momentos antes. A fala de Joo, direcionada ao analista, o esboode uma transferncia diferente daquela presente momentos antes, que se carac-terizava como permeada pela agressividade e sem demanda de saber analista.O analista ratifica essa abertura ao afirmar Voc j me conhece.

    Conforme citado anteriormente, h artifcios que o analista utiliza para lidarcom a transferncia. Dessa maneira, o analista em sesso com Joo, o analisante,que demonstrava resistncia para entrar na sala de atendimento, busca superar atransferncia por meio do uso da interpretao de muitos de seus movimentos.

    Aps algumas interpretaes, a criana dirigiu-se ao analista, seguindo-se umacena indicadora de que houve consequncias das intervenes anteriores daanalista, que buscou chamar Joo para o trabalho analtico.

    Joo pega a canetinha e diz: O que isso?Imediatamente, ele mesmo responde: Lpis.Ao que indaga a analista: Voc me fez uma pergunta. Voc acha que eu sei?(Segunda sesso de Joo)

    Outra cena semelhante ocorre novamente prximo ao final de outra sesso.Provavelmente o que ocorre que a criana passa a supor que o analista saibaalgo, e o analista pode neste momento ocupar na transferncia o lugar de quemsabe. Poderia ser afirmado que a analista ocupou o lugar de objeto a?

    Lacan (2008, p. 245) afirma que A transferncia impensvel, a no sertomando-se partida do sujeito suposto saber. O que isso quer dizer? Lacan

    (2010), analisando o texto de Plato sobre O banquete, explora o territrio datransferncia, e remete s figuras de Alcebades e Scrates. Alcebades atribui aScrates a deteno de algo que pode dizer de seu prprio desejo. O que Alce-bades chama de agalma. Ele quer que Scrates lhe d o agalma.

    No absurdo aproximar a cena do caso clnico relatado com a de Alcebadese Scrates, pois, na transferncia, o sujeito supe que o analista detm algo; algoque possa dizer do prprio sujeito. Isso se deve aoque Lacan (2008) denominaefeito de transferncia, ou seja, o efeito do amor. claro que, como todo amor,ele s referencivel, como Freud nos indica, no campo do narcisismo. Amar

    , essencialmente, querer ser amado. (Lacan, 2008, p. 245)

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    O psicanalista depende dessa aoda transferncia para utilizar a prpriainterpretao. Entretanto, esse mesmoefeito que permite a interpretaotambm a inviabiliza; haja visto queo amor, neste territrio transferencial,d-se como resistncia (Lacan, 2008).

    Considerando esse efeito, o ana-lista precisa orientar a transfernciapelo campo do simblico. Dessamaneira, a demanda por amor, que apriori est destinada ao analista, podeser deslocada para o saber por meio

    do apagamento da presena do ana-lista como mestre. Resta ao analisante,com isso, a escuta de sua fala dirigidaao Outro.

    Lacan (2008) aborda a temticada transferncia e se remete ao casoclnico de Anna O., em que Breuer,ao se deparar com a potente transfe-rncia de sua paciente, foge, recorreao que Lacan (2010) denomina umasada bem burguesa. Freud, por suavez, deu outro destino transfernciade Anna O.:

    diferena de Breuer, e qualquerque seja sua causa, a conduta adotadapor Freud faz dele o senhor do temvelpequeno deus. Ele escolhe, como S-

    crates, servi-lo [Eros] para servir-se dele.(Lacan, 2010, p. 17)

    Faz-se importante questionar,ainda, dentro da temtica da trans-ferncia, O que surge na frente dosujeito quando ele se depara como Outro? De acordo com Lacan(2005), surge uma imagem autentica-

    da pelo Outro. Porm, algo no pode

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    ser refletido, gerando, portanto, uma falta. Essa imagem, que orienta epolariza o desejo, tem para ele uma funo de captao. Nela, o desejo estno apenas velado, mas essencialmente relacionado com uma ausncia(Lacan, 2005, p.55).

    Fonte: Esquema ptico simplificado (Lacan, 2005, p.49).

    Essa falta proporciona a possibilidade de uma apario, organizada peloobjeto a, que no apreensvel ao sujeito, mas que permanece prximo

    dele e a causa de seu desejo.Nesse campo que o analista opera: no campo do objeto a. precisorecorrer ao que Lacan (1992) articula sobre o discurso do analista. Ele afir-ma que o analista faz-se causa do desejo de seu analisante; assim, pode-seconsiderar que o analista simula, para o analisante, o objeto a.

    Fonte: Matema do discurso do analista (Lacan, 1992, p. 29).

    Pode-se conceber o lugar do analista, em relao o analisante, tambmda seguinte forma:

    o analista toma o lugar para desencadear o movimento de investimento do sujeitosuposto saber sujeito que, por ser reconhecido como tal, frtil de antemo, em seurecanto, daquilo que chamamos transferncia. (Lacan, 1992, p. 39)

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    Ou seja, o analista busca, pormeio de manejos da transferncia,simular-se sujeito de suposto saber,mas apostando em certos aponta-mentos acerca do saber do paciente.Esses apontamentos, no raro, sorealizados atravs da interpretao.

    A seguir uma passagem do casoclnico de Joo, para tornar um poucomais palpvel o que a teoria s vezesparece deixar rarefeito acerca da rela-o analista-analisante:

    O analista est sentada no cho defrente para a porta. Joo senta na cadeirada me, do lado de fora, espia a sala esenta na cadeira novamente. O analistaacompanha seu movimento dizendovrias vezes:

    Voc apareceu! Voc sumiu!Joo fecha a porta, bate na porta e

    demora em abrir. Ele a abre e a deixaentreaberta.

    O analista diz: Voc vai e vem. Ser que um dia

    voc j foi e veio de algum lugar? Deonde ser que voc veio? Se voc ficaraqui dentro comigo, eu posso te ajudara descobrir.

    (Quarta sesso de Joo)

    Nesse recorte de sesso, o analistainforma, interpretando e pontuando,

    ao pequeno paciente que ela podeajud-lo com suas supostas questes.Esse recorte est permeado pelodiscurso do analista, que se faz de-nunciante da diviso do sujeito: halgo que escapa conscincia, resiste,entretanto se anuncia o tempo todoquando o sujeito fala, sonha, contapiadas, faz trocadilhos, comete atosfalhos, quando a criana brinca, reage

    presena do outro etc. Em suma, odiscurso do analista aponta e confirmaa afirmao de Freud (1910/2006), ade que o Eu no to senhor de seusdomnios, ao menos, no o quantopensa.

    O analista, que por meio da trans-ferncia faz papel de objeto a, quecausa o desejo e ao mesmo tempodenuncia a falta, ser aquele que suposto saber algo, e ento o aponta-dor de que h um saber inconsciente.O analista aquele que no sabe,

    mesmo sendo colocando no lugar dosbio que ir resgatar os segredos doanalisante e devolv-los decifrados.Se o analista no resgata e decifra ocontedo apresentado pelo analisan-te, o que ele faz? Ele se inscreve nodiscurso analtico, o qual envolve afala do sujeito, de seus significantes, aqual denuncia a existncia de verdadesque apenas o prprio sujeito podeser detentor, j que apenas o sujeito capaz de rememorar e construir algocom base em seus significantes.

    Lacan (2008) afirma que o sujeitodo suposto saber considerado sabe-dor de alguma coisa, pois sujeito dodesejo. No obstante, na transferncia

    e em seus efeitos (pois onde o ana-lista pode ser colocado como sujeitodo suposto saber), h o encontro dodesejo do analista com o do sujeito.Assim, o desejo do analista precisaoperar na transferncia. Qual o dese-jo do analista? Presume-se, talvez, queseja fazer operar o discurso analtico.Como isso acontece particular a

    cada analista.

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    Segue uma cena significante no caso clnico, que demonstra odesejo do analista operando de maneira particular. O analista a narrana primeira pessoa:

    Finalizadas as sesses, sempre acompanhava Joo e sua me, na poca em

    que essa ainda entrava na sala de atendimento, at a recepo. Parte do caminhoque levava da sala de atendimento at a recepo era uma longa rampa. Joo,nesse trajeto, costumava vir correndo por trs de mim e bater-me nas costas comfora. Sua me sempre o repreendia com firmeza, mas isso de nada adiantava.

    Todavia, em uma ocasio, j advertida disso, fiquei atenta e, ao notar queele se aproximava, peguei rapidamente em sua mo e sa correndo, puxando-oe exclamando: Vamos, vamos, vamos!

    Sua me ficou para trs e eu s parei quando chegamos ao final da rampa,j na porta de acesso recepo. Ele ficou atnito e riu muito. Quando sua mese aproximou, Joo perguntou a ela: Por que ela fez isso? A me tambm riu

    e disse algo sobre eu estar brincando com ele.Desde ento ele nunca mais me bateu, mas, por outro lado, iniciou uma

    brincadeira que se repetiu inmeras vezes, acompanhando-nos at quase o finaldo tratamento: no incio da rampa, animado, ele me propunha apostarmoscorrida. (Carreira, no prelo)

    Nessa cena, o analista, ao pegar na mo do menino e correr,desestrutura a repetio do ato dele e abre para uma pergunta: Porque ela fez isso? Que podemos decifrar como: Qual a inteno

    dela ao fazer isso? Desdobrando um pouco mais: O que ela querde mim, o que ela quer comigo? Esse questionamento somenteemerge com base na interveno do analista, em que algo de suasubjetividade (carreira, correr) colocado no contexto analtico. Porconseguinte, o sujeito analisado toma esse ato de seu analista comodesejo. Assim, a transferncia toma outro rumo, pois o menino passaa apostar corrida com seu analista, colando-o em outro lugar. Inserin-do-o em uma cena em que o Outro est ali ativamente e desejando.

    no campo da transferncia que o desejo do analista deve ope-rar, afinal somente possvel que o discurso analtico tenha validadedentro desse campo. Com base no discurso do analista pode-seargumentar sobre o surgimento da angstia no analista. Quando oanalista encarna o objeto a, ele tambm pode encarnar aquele queaponta para a falta do sujeito. Ora, estando neste lugar, o analistano est livre de ser tomado como objeto de desejo, haja vista queo objeto a causa do desejo (Lacan, 2005). E nesse ponto que aangstia pode surgir no analista, ao ser tomado por objeto e a im-

    possibilidade de ser qualquer outra coisa, seno o objeto desejado

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    pelo sujeito. O analista se angustia por, ao se ver nesse jogo transferencial, nosuporta permanecer na posio de analista.

    Lacan (2008, p. 47) afirma, acerca da angstia do analista, que Na expe-rincia, necessrio canaliz-la e, se ouso dizer, dos-la, para no ser por elasubmerso. A est uma dificuldade correlativa da que h em conjugar o sujeitocom o real.

    A angstia ronda, portanto, a experincia analtica como um todo; no sepode tomar como regra a presena da angstia do analista em seu ofcio, poroutro lado ela surge frequentemente. E parece surgir, como Lacan (2008) pon-dera, em torno da conjugao do sujeito dividido e o real.

    Haja visto que o real o que no se inscreve, ou seja, no passvel desimbolizao, h algo de real presente na relao do analista com o analisando,sem que eles possam codific-lo; nessa relao h o que no se pode simbolizar,

    portanto no se pode processar, no analisvel. Essa condio , ento, terrenofrtil para a angstia.O analista deve fazer uso de manejos para dosar e no ser submerso pela

    angstia. Isso implica considerar a demanda do analisando, pois, ao se seguiruma anlise, o analista se depara, sucessivamente, com todas as manifestaese ligaes que o sujeito faz de sua demanda; com base nisso, o analista deveresponder, no do lugar onde localizado na transferncia, mas do lugar desimulao de objeto a(Lacan, 1958/1966/1998). E responder por meio da in-terpretao, no visando a demanda, mas considerando a lgica do significantepara provocar o surgimento de algo novo.

    Assim, o analista aquele que sustenta a demanda, no, como se costumadizer, para frustrar o sujeito, mas para que reapaream os significantes em quesua frustrao est retida (Lacan,1966/1998, p. 624).

    Considerar a demanda se deparar com o desejo que, mesmo estando paraalm, fica visvel; pelo manejo, o analista deve situar os efeitos da demanda emrelao ao lugar do desejo. A demanda no o desejo, porm oferece pistas deseu lugar (Lacan, 1966/1998). E dessa maneira que o analista pode manter

    ou retornar a seu lugar.O sujeito demanda algo ao chegar anlise. O analista no deve responder aisso. o desejo que deve ser ouvido, alm de ser impossvel responder deman-da. E qual o motor? O que abre para a possibilidade do processo analtico? Ademanda do analista. O analista demanda que o sujeito fale, pois na cadeia designificantes que o desejo se mostra; basta o sujeito falar. O analista demandaa fala do sujeito porque o campo onde a anlise age, afinal O desejo s fazsujeitar o que a anlise subjetiva (Lacan,1966/1998, p. 629).

    Nesse vis, possvel contornar a angstia do analista, j que ele empresta

    sua presena e paga com ela, pois, ela o suporte aos fenmenos singulares que

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    a anlise descobriu na transferncia(Lacan, 1966/1998, p. 593).

    Parece que a dimenso do desejodo analista seja algo alm, singular acada analista, com consequncias elugar nico em cada processo ana-ltico. De modo geral, esse desejo necessrio para que se possa enfrentarangstia quando ela surge.

    THE TRANSFER, THE ANALYST ANDTHE ANGUISH

    ABSTRACT

    This paper approaches the emergence of anguish inthe analyst in a case of psychoanalysis with children.

    Lacan (2005) shows that is not uncommon the an-alyst be taken by anguish when he is in contact with

    his patient. The question raised is: what happens? Itis not our aim respond or nalize this question, but,

    based on a clinical case, read between the lines whatis at stake in the analysis and, therefore, reect about

    the transference emergence as co-related to the anguish

    emergence. In the clinical case in question, the analystwho receives the patient utilizes the interpretation to

    manage a negative transference. The transfer is the eldwhere the analyst operates, and it is in this eld that

    the analyst, leaving their function, becomes a subject

    affected by anguish. At this moment, of emergence ofthe anguish, will be shown how the analyst utilizestactics to return to the function of cause by doing

    semblance of object.

    Index terms:transfer; analyst; anguish.

    LA TRANSFERENCIA, EL ANALISTAE LA ANGUSTIA

    RESUMEN

    Este trabajo aborda el surgimiento de la angustia en el

    analista en un caso de psicoanlisis con nios. Lacan(2005) muestra que no es raro el analista embargarse

    por la angustia cuando entra en contacto con el paciente.

    La pregunta que se plantea es: qu pasa? El objetivono es responder o cerrar esta pregunta, pero, a partir

    de un caso clnico, leer entre lneas lo que est en juego

    en el anlisis y, por tanto, reexionar sobre la emer-gencia de la transferencia en relacin a la aparicin

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    de la angustia. En el caso en cuestin, el analista querecibe el paciente hace uso de la interpretacin para

    manejar una transferencia negativa. La transferencia esel campo en el que el analista opera, y es en este campoque el analista, dejando a su funcin, se convierte en un

    sujeto afectado por la angustia. En este momento deemergencia de la angustia, se mostrar como el analista

    utiliza tcticas para volver a la funcin de la causa,haciendo semblante del objeto.

    Palabras clave: transferencia; analista; angustia.

    REFERNCIAS

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    NOTA

    1. Artigo elaborado a partir de pesquisa deIniciao Cientfica do Projeto Psicanlisecom crianas: teoria e clnica, financiado pelaUniversidade de Ribeiro Preto (UNAERP)e coordenado pela Prof. Dra. AlessandraFernandes Carreira no curso de Psicologia.

    [email protected]. Costbile Romano, 2.201

    14096-900 Ribeiro Preto SP Brasil.

    [email protected]. Costbile Romano, 2.201

    14096-900 Ribeiro Preto SP Brasil.

    Recebido em novembro/2012.

    Aceito em fevereiro/2014.