A polêmica de jesuíno marcondes e o eco palmeirense no império
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Instituto Histórico e Geográfico de Palmeira
Fundado em 13 de fevereiro de 1955
Registro nº 438, Liv A-02 Cartório de Títulos e Documentos
CNPJ 07.217.980/0001-28
Declarado de utilidade pública pela Lei nº 310 de 22 de maio 1955.
A polêmica de Jesuíno Marcondes e o eco palmeirense pelo Império.
Paulo Henrique Taufer1
Atualmente não vemos Palmeira como um local onde convergem ideias e
conflitos políticos que repercutem nacionalmente. Somos uma cidade “provinciana”.
Mas será que houve em algum momento, uma Palmeira onde protagonistas da
dinâmica pública nacional se faziam presentes? Ou notícias referindo-se a políticos e
outros vultos de relativa importância nascidos aqui? Pode-se dizer que sim, e este
texto tentará demonstrar isso.
É verdade que a Colônia Cecília é sempre o evento mais lembrado se tratando dos
capítulos da história palmeirense, sendo objeto de diversos estudos ao longo dos anos,
não apenas no Brasil, como fora dele. A colônia de anarquistas fomentou diversas
discussões não só no campo da história como de outras ciências sociais e deve ser
sempre lembrado devido à singularidade da ideia e da sua execução em nosso
município. Mas não é esse episódio o objeto abordado aqui, e sim outro “evento” que
não ocupa muito espaço nas narrativas históricas e nem é de conhecimento da maioria
dos palmeirenses: A passagem (visita, estadia) de D. Pedro II à Palmeira,
principalmente no que cerne a polêmica instalação dos “alemães do Volga” por
recomendação de Jesuíno Marcondes.
Quando da passagem de D. Pedro II pela nossa cidade em 1880. Junto à
recepção calorosa – onde Jesuíno Marcondes figurava como líder –, protocolos e
famosas efemérides algo de grande repercussão – inclusive internacional – envolvendo
o então Imperador do Brasil e o seu Conselheiro Jesuíno Marcondes de Oliveira e Sá
acabou, de certa forma, "manchando" a então aparente imagem incorrigível de
1. Acadêmico do curso de Licenciatura em História pela Universidade Estadual de Ponta Grossa e
estagiário no Museu Histórico de Palmeira. [email protected]
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Jesuíno. Mas o que aconteceu exatamente para esse episódio ser considerado o mais
vergonhoso da carreira política de Marcondes?
Retomando o inicio da política imigratória que, não apenas o Brasil, mas outros
países americanos estavam adotando, deu-se um forte fluxo de europeus partindo da
sua terra natal em busca de novas oportunidades, onde a Província do Paraná
aparecia como grande candidata a prover essa população. Assim, poloneses, italianos,
alemães, entre outras nacionalidades, rumaram para a mais jovem das províncias até
então.
Em 1875 chegam à Palmeira os primeiros colonos russo-alemães (alemães e
descendentes de alemães que migraram para as margens do rio Volga, em território
russo, devido ao casamento entre o Czar Alexandre II e Catarina II), nesta ocasião
Jesuíno Marcondes ocupava o cargo de Ministro da Agricultura, Comércio e Obras
Públicas do Império, além disso, ele e sua família gozavam de poder e prestigio na
região dos Campos Gerais. É exatamente neste ponto em que começam os
desentendimentos e polêmicas. As terras que seriam destinadas a receber os
imigrantes era oferecidas pelo Estado aos imigrantes.
Vale lembrar que este e outros benefícios faziam parte da política de incentivo
aos imigrantes europeus insatisfeitos com suas situações em seus países, optarem pelo
Brasil como seu destino. Dado o contexto, a Província do Paraná, numa tentativa de
buscar o progresso, despontou como um dos principais destinos dos imigrantes
europeus em todo o Brasil. A partir disto, Palmeira se candidata a receber alguns
núcleos de colonos, através de uma petição feita pela Câmara Municipal da Vila de
Palmeira datada de 1873 que é citada inteiramente na obra Alemães do Volga no
Pugas de Arnoldo M. Bach e aqui fica transcrito um trecho:
“Senhor! Perante V. M. Imperial vem a Câmara Municipal desta Vila
da Palmeira, Província do Paraná, cumprindo um imperioso dever,
vem representar sobre vantagens que colheria este município com o
estabelecimento de uma colônia agrícola fundada pelo Governo
Imperial, ou ao menos, com a concentração nesta localidade de um
grande número de famílias de imigrantes europeus [...]”
As terras onde os colonos russo-alemães se alocaram em Palmeira foi chamada de
Colônia Sinimbu, e abragia 6 núcleos: Pugas, Lago, Santa Quitéria, Quero-Quero
(onde se encontrava o Capão da Anta), Papagaios Novos e Alegrete.
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As paragens escolhidas para a instalação das famílias de imigrantes eram em
sua maioria impróprias para agricultura, atividades esta fundamental para a
sobrevivência da colônia, provocando enorme evasão da população, migrando para
outros recantos ou retornando a Europa. Desta forma, como a escolha das terras foi
uma indicação direta de Jesuíno Marcondes, logo a visão crítica da imprensa,
principalmente dos periódicos ligados a Coroa, não pouparam o palmeirense.
Assim, em 1880, em sua visita à Palmeira – talvez este tenha sido o principal
motivo da escolha da cidade como parte da trajetória de sua visita ao Paraná – D.
Pedro II pode inspecionar com seus próprios olhos aquele fracasso. Vinda de Campo
Largo, a comitiva da família imperial se deteve na altura do Pugas para que D. Pedro
II obtivesse confirmação daquilo que soube por intermédio da mídia e de relatos de
outros políticos. Inclusive, a informação de que imigrantes estavam retornando para a
Europa por conta do mau recebimento que o governo brasileiro teria proporcionado a
eles, já havia repercutido lá, prejudicando a imagem do país e preterindo-o a outros.
A partir disso, como vários relatos nos mostram, Jesuíno Marcondes, que em
1880 figurava como vice-governador da província e um dos principais nomes do
partido Liberal (contrário ao Imperador), no Paraná foi considerado o principal
responsável por esse fracasso, como o próprio D. Pedro II escreveu em seu diário:
{...} Deixei a estrada nova pela antiga para examinar o Capão da Anta,
onde ainda há 11 famílias russas – muito má terra de cultura. Vi
plantação de batatas e de milho. O capão não é longo e bastante
estreito. Disseram-me que foi Jesuíno Marcondes que vendeu esta
propriedade de uma légua sobre duas ao Estado.
Também o Visconde de Taunay descreve a situação:
“Os russos tiveram razão [...] repercutindo em todo o Brasil em
sua simples enunciação, tomaram o vulto de um solene protesto
contra a malversação dos dinheiros públicos” {...} Verifiquei por
meus olhos os abusos [confirma o imperador] embora
procurassem arredar-me desses lugares. Não cessarei de
recomendar, ou antes, de aconselhar todo o cuidado com o serviço
de imigração. (apud. Calmon, 1975 – p.1215).
Porém, conforme estudos em documentos em alemão, a escolha dos terrenos
teria partido dos representantes dos colonos; o que desobrigaria o Conselheiro Jesuíno
do dito infortúnio (Shab, 1997 apud. Machado, 2004). Vale lembrar que a “culpa” foi
atribuída ao palmeirense e esta foi uma das causas deste não ter sido intitulado Barão
e em seu lugar, sua mãe, Querubina se beneficiou de tal honraria sendo consagrada
Viscondessa de Tibagy, mesmo já estando viúva. Além disso, as polêmicas e embates
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políticos envolvendo liberais e conservadores fomentavam o aumento de boatos e
notícias pouco confiáveis sobre a real natureza do acontecido.
De fato, mesmo que o fracasso da colonização no episódio do Capão da Anta tenha
tomado proporções maiores do que deveria por conta das rivalidades políticas, ou se
Jesuíno Marcondes carrega ou não alguma culpa, não nos cabe definir aqui. Mas após
esta análise, temos um exemplo da força e importância política que Palmeira e alguns
de seus representantes detinham até o final do século XIX e como os acontecimentos
aqui ecoavam por todo Brasil.
REFERÊNCIAS:
BACH, Arnoldo Monteiro. Os Alemães do Volga no Pugas. Ponta Grossa: Gráfica
Planeta, 2005.
CALMON, Pedro. História. D. Pedro II; Tomo Terceiro 165-B; cap.52; pag.1211-
1218. Rio de Janeiro – Brasília, 1975. Instituto Nacional do Livro. Ministério da
educação e Cultura.
CARNEIRO, Davi. D. Pedro II na Província do Paraná – 1880. Cap.1-2. Curitiba.
FREITAS, Astrogildo. Palmeira. Reminiscências e Tradições. Vol II. Pg 57-72.
Curitiba: Ed. Litero-técnica, 1984.
MACHADO, Marcus Vinícius Molinari. A Tradicional Palmeira recebe a
comitiva Imperial. Informativo do Instituto Histórico Geográfico de Palmeira. Ed.
Nº12; Ano 1 – 2004.
SHWARTZ, Windson. A presença do Imperador e o fracasso da Colonização.
Diário dos Campos on-line, 2012.
VIANA, Manoel. História de um Príncipe. Curitiba: Gráfica Vicentina Ltda, 1980.