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A GEOGRAFIA ESCOLAR E A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL BRASILEIRA: UM OLHAR A PARTIR DAS CHARGES E IMAGENS. Marcelo Amorim Correia 1 Universidade Estadual de Feira de Santana(UEFS) [email protected] Daniele Silva Rios 2 UEFS [email protected] Suelen Brito de Oliveira² UEFS [email protected] Bruno Pinheiro de Almeida² UEFS [email protected] Eziel Santana Mascarenhas² UEFS [email protected] Gilvan Gomes² UEFS [email protected] RESUMO O ensino de Geografia na Educação Básica precisa ser mediado por novas metodologias, pois se percebe o insucesso de algumas práticas tradicionais que até hoje são utilizadas por alguns professores e que trazem poucos resultados no que se refere ao processo de ensino- aprendizagem, sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo principal analisar como as charges e imagens podem auxiliar nesse processo e na construção de conhecimento sobre a organização espacial brasileira. Compreendendo a relevância social e didática da utilização desses recursos/gêneros, inicialmente, explicamos as diferenças das estratégias metodológicas e como inserir-las nas aulas de Geografia, em seguida mapeamos alguns exemplos de projetos educativos que utilizaram esses recursos/gêneros como estratégia metodológica no processo ensino-aprendizagem. O objeto a ser estudado neste trabalho é o ensino de Geografia. Parte dessas indagações surgiu a partir das nossas experiências como estagiários nas disciplinas de Estágio Supervisionado em Geografia, Metodologia do Ensino de Geografia e Didática, que nos possibilitou observar o cotidiano escolar e materializado na disciplina Laboratório de Geografia V, em 2015.2. O trabalho possui uma abordagem qualitativa, pois a problemática estudada contempla um fator social, o ensino. Utilizamos um aparato teórico interdisciplinar, dentre eles: Gurgel (2004), Cavalcanti (2003), Silva (2004), Castellar (2010) e o PCN de Geografia (1998), que contribuíram com suas obras para o balizamento do tema e a garantia de um aporte conceitual e instrumental a cerca da problemática estudada, realizado por meio de pesquisa 1 Professor Mestre do Curso de Geografia da UEFS e orientador da disciplina Laboratório de Geografia V (LEG V) 2 Graduandos do Curso de Geografia da UEFS e da disciplina LEG V, 2015.2

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A GEOGRAFIA ESCOLAR E A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL BRASILEIRA:

UM OLHAR A PARTIR DAS CHARGES E IMAGENS.

Marcelo Amorim Correia1

Universidade Estadual de Feira de Santana(UEFS)

[email protected]

Daniele Silva Rios2

UEFS

[email protected]

Suelen Brito de Oliveira²

UEFS

[email protected]

Bruno Pinheiro de Almeida²

UEFS

[email protected]

Eziel Santana Mascarenhas²

UEFS

[email protected]

Gilvan Gomes²

UEFS

[email protected]

RESUMO

O ensino de Geografia na Educação Básica precisa ser mediado por novas metodologias, pois se

percebe o insucesso de algumas práticas tradicionais que até hoje são utilizadas por alguns

professores e que trazem poucos resultados no que se refere ao processo de ensino-

aprendizagem, sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo principal analisar como as

charges e imagens podem auxiliar nesse processo e na construção de conhecimento sobre a

organização espacial brasileira. Compreendendo a relevância social e didática da utilização

desses recursos/gêneros, inicialmente, explicamos as diferenças das estratégias metodológicas e

como inserir-las nas aulas de Geografia, em seguida mapeamos alguns exemplos de projetos

educativos que utilizaram esses recursos/gêneros como estratégia metodológica no processo

ensino-aprendizagem. O objeto a ser estudado neste trabalho é o ensino de Geografia. Parte

dessas indagações surgiu a partir das nossas experiências como estagiários nas disciplinas de

Estágio Supervisionado em Geografia, Metodologia do Ensino de Geografia e Didática, que nos

possibilitou observar o cotidiano escolar e materializado na disciplina Laboratório de Geografia

V, em 2015.2. O trabalho possui uma abordagem qualitativa, pois a problemática estudada

contempla um fator social, o ensino. Utilizamos um aparato teórico interdisciplinar, dentre eles:

Gurgel (2004), Cavalcanti (2003), Silva (2004), Castellar (2010) e o PCN de Geografia (1998),

que contribuíram com suas obras para o balizamento do tema e a garantia de um aporte

conceitual e instrumental a cerca da problemática estudada, realizado por meio de pesquisa

1 Professor Mestre do Curso de Geografia da UEFS e orientador da disciplina Laboratório de Geografia V (LEG V) 2 Graduandos do Curso de Geografia da UEFS e da disciplina LEG V, 2015.2

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bibliográfica. Os dados obtidos e as contribuições teóricas foram analisados de forma dedutiva,

com o intuito de verificar se a problemática é verdadeira a ponto de contribuir para a realidade

estudada. Ao final do trabalho, elencamos exemplos de projetos educativos, oficinas, charges e

imagens que podem e devem ser utilizadas no ensino de Geografia da educação básica, pois

esses recursos/gêneros garantem a compreensão crítica das ações desenvolvidas no espaço

geográfico, bem como, o envolvimento dos sujeitos, visto que, eles foram convidados a

participarem do processo de construção do seu conhecimento, através principalmente do vivido,

do experimentado. É importante salientar, como a utilização desses recursos/gêneros em sala de

aula, mobilizou o professor a um deslocamento da sua prática pedagógica, a começar pelo seu

planejamento, os quais atentaram para desenvolver atividades mediadas por propósitos didáticos

e comunicativos, atentando para os três elementos envolvidos nas situações didáticas: as

condições, critérios e intervenções. Nesse contexto, as expectativas de aprendizagem dos

alunos, vivenciarem situações diversas de leitura em contexto de estudo regularmente na sua

vida escolar; desenvolverem comportamentos leitores que contribuam para o seu

desenvolvimento como cidadão informado e crítico; vivenciarem situações reais de leitura na

escola, sabendo quais os propósitos comunicativos envolvidos nas mesmas; aprenderem a ler

diferentes fontes de informação; desenvolverem diferentes comportamentos, levando em

consideração a fonte, o propósito e o tempo; compreenderem que estudar é diferente de apenas

ler; aprenderem os conteúdos dos textos que estiverem lendo, foram potencializadas e

verificadas ao longo do nosso processo de pesquisa. Nesta perspectiva, um dos pontos mais

crucial da prática docente de relacionar o conhecimento do cotidiano como o conhecimento

escolar, foi em certa maneira superado, portanto, repensar sobre a nossa prática pedagógica e

atentar para novas práticas docentes que possam ser utilizadas na sala de aula com os alunos são

de extrema relevância para o processo de ensino-aprendizado.

PALAVRAS-CHAVE: Geografia Escolar, ensino-aprendizagem e recursos/gêneros.

INTRODUÇÃO

A partir das mudanças ocorridas durante o século XIX a XX houve a

necessidade de incrementar novas praticas pedagógicas no ambiente escolar, utilizando

recursos e gêneros textuais disponíveis principalmente em meio digital.

Partindo para área do ensino de Geografia, especificamente o conteúdo da

organização espacial brasileira, existe a necessidade de trazer recursos/gêneros que

possibilitem a melhor compreensão do conteúdo por meio da visualização das charges e

imagens.

Portanto, o ensino de Geografia na educação básica precisa ser mediado por

novas metodologias, pois, é perceptível o insucesso das práticas tradicionais utilizadas

por alguns professores, assim produzem poucos resultados no processo de ensino –

aprendizagem o que dificulta a compreensão do aluno a cerca do espaço geográfico.

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É nesse contexto que o trabalho se pautará tendo como principais objetivos:

analisar como as charges e imagens podem auxiliar no ensinar e aprender sobre a

organização espacial brasileira. Compreendendo a relevância didática e social da

utilização das charges e imagens no processo de ensino e aprendizagem, assim

identificando as diferentes estratégias metodológicas da utilização desses

recursos/gêneros no ensino e aprendizagem de Geografia e por fim mapear alguns

exemplos de projetos educativos, oficinas que utilizaram esses recursos/gêneros como

estratégias para ensinar e aprender, além de apresentar o envolvimento dos alunos

perante as novas metodologias.

METODOLOGIA

O objeto a ser estudado na pesquisa é o ensino de Geografia. Desse modo, o

direcionamento desta é a verificação da relevância didática e social do uso de charges e

imagens no ensino da mesma. Parte dessa questão surgiu a partir das nossas

experiências como estagiários nas disciplinas de Estágio Supervisionado em Geografia,

Metodologia do Ensino de Geografia, Didática, as quais nos possibilitou observar o

cotidiano escolar, sejam elas motivadas por exigências acadêmicas, ou por participação

no ensino, bem como a partir de leituras e contribuições acadêmicas sobre o ensino de

Geografia.

Valemo-nos, é claro, de um aparato teórico entre os principais Gurgel (2004),

Cavalcanti (2003), Silva (2004) e o PCN de Geografia (1998), para contemplar o tema e

nos garantir um aporte conceitual e instrumental a cerca da problemática estudada,

realizado por meio de pesquisa bibliográfica.

A pesquisa será abordada de forma qualitativa, uma vez que a problemática

estudada contempla um fator social: o ensino. Serão analisados de forma dedutiva os

dados e as contribuições teóricas no sentido de verificar se a hipótese proposta na

pesquisa é verdadeira a ponto de contribuir para a realidade escolar.

REFERENCIAL TEÓRICO

É necessário diferenciar e conceituar os termos que estaremos trabalhando,

iniciando com recursos e gêneros textuais, existe uma diferença entre estas

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classificações. O gênero textual segundo o Dicionário Online 3se refere às estruturas que

compõe os textos, tanto orais como escritos, e que tem o objetivo de constituir algum

tipo de comunicação. Os gêneros textuais possuem características básicas, algumas

delas são: o tipo de assunto abordado, quem está falando, para quem está falando, qual a

finalidade do texto e qual o tipo do texto (narrativo, argumentativo, instrucional e etc.).

Como aborda o Dicionário Online, recurso significa “o ato ou efeito de recorrer.

Meio empregado para vencer uma dificuldade ou um embaraço”. Sendo assim, o

recurso é um meio alternativo para ser utilizado em casos de problemas.

As charges são um tipo de ilustração que geralmente apresenta um discurso

humorístico e está presente em revistas e principalmente em jornais. Trata-se de

desenhos elaborados por cartunistas que captam de maneira perspicaz as diversas

situações do cotidiano, transpondo para o desenho algum tipo de crítica, geralmente

permeada por fina ironia. Gurgel (2004, p.2) afirma que:

Uma das características essenciais do gênero “charge” é a articulação que

existe entre diferentes linguagens, especialmente a verbal e a visual. Ao optar

por analisar textos humorísticos da mídia escrita (jornais, revistas, etc.), ao

mesmo tempo em que fazemos um recorte para um estudo mais detalhado,

optamos também por analisar os textos imagéticos, ou seja, aqueles que

valorizam mais a imagem. Tal fato dá-se, não apenas por pura preferência,

mas inclusive por considerar que a ilustração, no caso as charges, os cartuns e

as tiras, além de provocarem o humor, em termos de conteúdo, podem ser tão

ricas e densas quanto os outros textos opinativos, crônicas e editoriais, por

exemplo. Além de atrair a atenção do leitor, o texto com imagens transmite

também um posicionamento crítico sobre personagens e fatos políticos.

A charge é um gênero textual que articula diferentes linguagens e inter-relaciona

textos com caricaturas, desenhos e o humor. A partir daí se dá a riqueza do gênero, o

humor é o ponto de atração para a compreensão e o posicionamento crítico do leitor.

No que se refere à imagem, com base no Dicionário Online significa dizer que a

mesma é uma representação de uma pessoa ou objeto por meio da pintura e/ou da

escultura. Desse modo, a imagem desperta no individuo o sentido da visão na

representação do objeto, pessoa ou paisagem que lhe é apresentada.

Portanto, diante do exposto percebemos que esses recursos/gêneros apresentam

diferenças na forma. A charge para ser realmente um gênero textual possui a

3<http://www.dicio.com.br> Acesso em 04/04/2016 ás 10h:09min

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necessidade, senão a obrigatoriedade, de apresentar as características anteriormente

evidenciadas: imagem, humor por meio do texto; Já imagem não há uma regra em sua

apresentação, o tema é livre. Entretanto, o que se percebe é que a utilização de ambas se

torna um recurso para o ensino e aprendizagem de Geografia, principalmente na escola

básica.

A Geografia da escola básica, a qual está sendo analisada se difere da ciência

geográfica, portanto, se faz necessário distingui-las, pois a ciência geográfica, utilizada

na formação de professores na academia é constituída de teorias, conceitos e métodos

sobre seu objeto de investigação. A Geografia escolar corresponde a uma seleção e

organização dos conteúdos da ciência para a escola básica. Sendo assim Cavalcanti

(2006, p. 20) afirma que:

[...] o ensino de Geografia, assim, não se deve pautar pela descrição e

enumeração de dados, priorizando apenas aqueles visíveis e observáveis na

sua aparência (na maioria das vezes impostos à “memória” dos alunos, sem

real interesse por parte destes). Ao contrário, o ensino deve propiciar ao

aluno a compreensão do espaço geográfico na sua concretude, nas suas

contradições.

O ensino de Geografia tem o objetivo de ser compreensível pelos alunos e que

possa mostrar a relação com o cotidiano dos mesmos para que o aprendizado seja

concretizado. Não apenas, uma mera memorização dos conteúdos pelos alunos.

Cavalcanti (2006) discute que há uma confiança de que para ensinar bem só é

necessário o conhecimento do conteúdo da matéria focado criticamente. Ou seja,

bastaria que só o professor contribuísse para a formação de cidadãos críticos, mas deve

ser levado em consideração como e quais as práticas pedagógicas que podem ser

utilizadas para a formação desse cidadão, sendo assim, o ensino de Geografia

atualmente deve possibilitar ao aluno a descobrir o mundo que vivemos e formar sua

própria opinião.

Portanto, Cavalcanti (2006) aborda que o ensino é um processo de conhecimento

do aluno, no qual o professor e a matéria de ensino são os mediadores, no nosso caso, a

Geografia deve está articulado com seus componentes fundamentais que são os

objetivos, conteúdos e os métodos de ensino.

As práticas docentes e as técnicas de ensino devem está articuladas com o que se

deseja obter de resultado com os alunos. Trabalhar com conceitos, projetos

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interdisciplinares, outros recursos pedagógicos e com temas que sejam de interesse do

aluno amplia as possibilidades de trabalhar com novos conteúdos e ajuda no

desenvolvimento cognitivo do aluno, no qual o mesmo reorganiza e estrutura

naturalmente, seus conhecimentos. Sendo assim, Castellar (2010, p.50) afirma que

“dessa forma, pensar a prática, a ação didática como o momento da reflexão teórica,

permite que a aula seja criativa e transformadora”.

Ao trabalhar com imagens e charges recorre-se a diferentes linguagens como

meio de expressar interpretações, hipóteses e conceitos. Os Parâmetros Curriculares

Nacionais de Geografia, (1998. p.33) aborda que “na escola, fotos comuns, fotos aéreas,

filmes, gravuras e vídeos também podem ser utilizados como fontes de informação e de

leitura do espaço e da paisagem”.

Nesse contexto, o estudo dessas linguagens gráficas na educação básica

contribui para que os alunos possam compreender informações particularizadas sobre a

organização do espaço geográfico.

O ponto mais crucial da prática docente é relacionar o conhecimento do

cotidiano com o conhecimento acadêmico, o que nesta relação permite a consolidação

significativa do aprendizado. Por isso, repensar novos recursos/gêneros, ou seja, novas

práticas docentes e técnicas de ensino, que possam ser utilizados na sala de aula com os

estudantes são de extrema relevância para o aprendizado dos mesmos.

A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL BRASILEIRA A PARTIR DAS CHARGES E

IMAGENS.

A geografia como disciplina escolar pode desempenhar um papel importante na

formação do aluno, isso porque a disciplina, por sua natureza engloba conhecimentos

que diz respeito, a relação que existe entre a sociedade e a natureza – o homem e seu

espaço – o que contribui para a formação de cidadãos conscientes de como o espaço

geográfico é produzido e como o mesmo é reelaborado pela sociedade.

Para isso, o papel do professor de geografia é de extrema importância no

desenvolvimento desse conhecimento geográfico na escola, devido ao fato de que o

professor é a “ponte” entre os alunos e o conhecimento trabalhado e a forma como ele

conduz e planeja esse processo reflete no nível de apreensão do conhecimento

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apresentado.Esse planejamento requer estratégias e procedimentos pedagógicos que

utilizem técnicas e materiais para operacionalizar o ensino e que auxiliem no processo

de aprendizagem, a utilização de recursos como elementos materiais utilizados na

concretização da técnica de ensino é um meio motivador para a compreensão do

conteúdo trabalhado.

Mesmo com essa relevância, alguns educadores não utilizam coerentemente os

recursos em relação aos conteúdos abordados, e assim estes se tornam apenas um

instrumento de entretenimento, como aborda Silva (2004, p.68):

Recursos são geralmente negligenciados pela maioria dos educadores.

Quando pensamos no processo de ensino e de aprendizagem, tendemos a

pensar o conteúdo e na técnica. [...] alguns educadores acham que o simples

aprendizado de técnicas de ensino é suficiente para mudar e dinamizar seu

trabalho.

De acordo com cada nível de ensino o professor pode planejar as suas aulas de

modo a contemplar o conhecimento estudado, com os recursos e métodos que assim

entender. No que diz respeito aos recursos, e ao que se discute nesse trabalho, o uso de

charges e imagens no ensino de Geografia pode ser incluído nos planejamentos das

aulas com o objetivo de colocar o aluno diante do conhecimento de forma lúdica e

divertida. Na disciplina de Geografia, existem várias possibilidades para trabalhar com

charges e imagens em função da diversidade conceitual, entretanto, Alves, Pereira e

Cabral (2013, p. 418) afirmam que:

Tratando-se da disciplina de Geografia, existem várias possibilidades de se

trabalhar com esses recursos didáticos devido ao volume de temas sociais,

críticos e contemporâneos representados pelas charges e tiras humorísticas

veiculados pelos sistemas de informações do país (revistas, internet, jornais,

etc.). Além disso, existe a necessidade gritante de tornar a disciplina mais

interessante para os alunos, haja vista que, por vezes, estes a classificam

como uma disciplina chata, monótona, em síntese, desinteressante.

O uso de charges e imagens como um recurso de ensino de Geografia e incluídos

os planejamentos dos professores pode tornar o ensino dessa disciplina mais

motivadora, pois rompe com um modelo de ensino pautado na transmissão de

conhecimento por parte do professor, que na maioria das vezes utiliza como recurso a

lousa e o livro didático. Desse modo, o conhecimento trabalhado em sala por meio de

charges e imagens possibilita um interesse maior por parte do aluno e consequentemente

maior participação nas aulas.

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Tendo como um recorte espacial a organização brasileira, apresentamos a seguir

possíveis charges e imagens que podem ser utilizadas como recurso no ensino de

Geografia na educação básica, para obter um bom resultado é necessário que a

interpretação dos recursos/gêneros seja feita de maneira coletiva no primeiro momento,

no qual o Professor seja apenas o mediador da discussão.

É possível através de charges compreender a divisão do espaço entre as classes

sociais distintas, de modo que os privilégios são geralmente concedidos as classes

sociais mais favorecidas. Como ilustra a charge 01. 4

A charge 025 pode ser utilizada para a compreensão da organização do espaço da

cidade de São Paulo, cuja cidade é caracterizada como desenvolvida e a mais

industrializada do país, porém, ainda gera desigualdades sociais, de modo que o

desenvolvimento tecnológico não atende de modo homogêneo toda a população.

4https://www.google.com.br/search?q=charge+eugenio+catador&source=lnms&tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwidrKPI26XLAhX

HkpAKHaG8BfEQ_AUIBygB&biw=1093&bih=514#imgrc=-yAuInewE0Kw8M%3AAcesso em 05/05/2016 ás 08:31h. 5https://www.google.com.br/search?biw=1093&bih=514&tbm=isch&sa=1&q=charge+s%C3%A3o+paulo+aniversar

io&oq=charge+s%C3%A3o+paulo+aniversario&gs_l=img.3...33671.36568.0.36918.12.12.0.0.0.0.200.1715.0j8j1.9.0

....0...1c.1.64.img..3.0.0.Z-DkPm5ZDSc#imgrc=PgcBSObxGxLDrM%3AAcesso em 05/05/2016 ás 09:25h.

Charge 02

Fonte: Brasil escola

Charge 01

Fonte: apedemars

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Sabendo que no Brasil, maior parcela das terras está concentrada com a

população de classe alta, o que ocasiona diversos impactos sócios espaciais, é possível

discutir também esse processo por meio de charges. Com a charge 036, é possível

entender como os problemas emergidos no campo ocasionam outros problemas na

cidade.

Além das charges podemos utilizar também, imagens para compreender a

organização espacial, contribuindo assim para que os alunos possam atribuir sentido aos

conceitos apresentados em sala. A imagem 017 retrata o recorte regional do Brasil, um

simples exemplo de imagem a ser utilizada.

6<https://www.google.com.br/search?q=charges+sobre+o+espa%C3%A7o+rural&espv=2&biw=1093&bih=514&tb

m=isch&imgil= Acesso em 05/05/2016 ás 09:21h.

7<https://www.google.com.br/imgres?imgurl=http%3A%2F%2F3.bp.blogspot.com%2F-

1wmwht0iKdg%2FURPsM9TWdeI%2FAAAAAAAAArA%2FXedAa0BSXp8%2Fs1600%2F134regioesbrasilibge.j

pg&imgrefurl=http%3A%2F%2Fvaldineiandrade.blogspot.com%2F2013_02_01_archive.html&docid=gedtXFMXv

ZkDNM&tbnid=HmFDorN5f0GsM%3A&w=592&h=553&bih=514&biw=1093&ved=0ahUKEwix84CqjsPMAhW

Dj5AKHa3iA-sQMwgjKAYwBg&iact=mrc&uact=8> Acesso em 05/05/2016 ás 09:44h.

Charge 03

Fonte: escravo nem pensar

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PROJETOS PEDAGÓGICOS E OFICINAS A PARTIR DO USO DE CHARGES

E IMAGENS

Em relação à utilização de charges e imagens em auxilio ao processo de ensino-

aprendizagem, destacaremos exemplos de trabalhos desenvolvidos a partir da utilização

desses recursos materiais e o resultado dessas experiências abordando o envolvimento

dos alunos em relação a essa nova metodologia inserida em aula.

O primeiro trabalho analisado foi O ensino dos problemas ambientais por

meio das charges, um relato de experiência dos bolsistas do Pibid – Geografia-, os

alunos bolsistas Daniele Rios e Eziel Mascarenhas, ambos alunos do 6º semestre de

Geografia 2016, da UEFS desenvolveram uma oficina com alunos de 1º ano do ensino

médio de uma escola estadual no mesmo município.

Com esta oficina, os bolsistas buscaram por meio de charges estimularem a

consciência crítica dos alunos a partir da leitura, interpretação e da criação de charges a

cerca dos problemas ambientais.

A oficina realizada teve como tema Brincando de ser cartunista, na qual os

alunos criaram suas próprias charges após as discussões promovidas pelas diversas

interpretações que surgiram com as charges levadas para a sala pelos bolsistas.

Utilizando seu senso crítico, percepção sobre os problemas ambientais e por meio de

um mural os alunos colocaram suas criações em exposição na escola, possibilitando aos

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demais, que não participaram da oficina, conhecer de uma maneira lúdica e diferente os

problemas relacionados ao meio ambiente.

Os bolsistas descreveram como foi a experiência, por meio de um relato, ao

utilizar as charges atrelada a um conteúdo específico e qual os resultados encontrados

em relação a participação e compreensão dos alunos por meio dessa nova metodologia.

Segundo eles foi possível perceber o quanto os alunos conseguem interagir e aprender

por meio da utilização de recursos visuais, além de possibilitar a construção de um olhar

crítico relacionado aos problemas ambientais existentes.

Outro trabalho analisado com essa mesma perspectiva foi A utilização de

charges e tiras humorísticas comorecurso didático-pedagógico mobilizador no

processo de ensino-aprendizagem da Geografia, trabalho feito por Telma Bezerra,

Suellen Pereira e Laíse Cabral ambas na Universidade Federal de Campina Grande. O

mesmo objetivou avaliar a utilização de charges e tiras humorísticas como recurso

didático no processo de ensino-aprendizagem da Geografia dando ênfase também aos

problemas ambientais.

As autoras citaram que esses recursos apresentam-se como potencialidades a

serem exploradas e disseminadas no âmbito educacional, pois além de despertar a

curiosidade no estudante, faz com que o mesmo se interesse pelo conteúdo que está

sendo transmitido e construído.

Concluíram que, todo gênero textual tem a sua funcionalidade no dia a dia. Na

sala de aula, e nas aulas de Geografia, assim a charge são recursos atrativos que o

professor e o aluno devem explorar, pois além de trabalhar a prática de leitura de texto,

aumenta a leitura de mundo que estes recursos/gêneros possibilitam mediante a

intertextualidade. Como resultado os alunos obtiveram uma grande compreensão do

tema trabalhado por meio desses recursos inovadores, no qual os alunos construíram

textos coerentes com base nas informações visualizadas nas charges e tirinhas.

Diante dessas análises podemos perceber a importância que se tem a utilização

de novas técnicas de ensino, essencialmente a utilização de recursos imagéticos como as

charges e imagens. Recursos esses que são de fácil acesso e estão disponíveis para

oferecer suporte ao professor no planejamento e na concretização das suas aulas.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de ensino/aprendizagem deve privilegiar o desenvolvimento de

competências e habilidades que serão necessárias no cotidiano do aluno, para tanto é

dever do docente buscar métodos e técnicas que tornem as aulas de Geografia dinâmica

e que estes aprendam efetivamente.

A utilização das charges e imagens se configura como um recurso/gênero

didático muito eficiente e lúdico no ensino de Geografia, pois sintetizam inúmeras

informações e situações que levará o aluno a ler, interpretar, analisar e inferir sobre

diversos temas e discussões importantes na sociedade em que o próprio é sujeito ativo.

As charges possibilitam aprender de forma descontraída, pois carrega uma

mensagem sátira, peculiar, crítica sobre determinados temas. Nas experiências relatadas

foi perceptível o envolvimento coletivo dos alunos em expressar suas visões e opiniões,

isto denota o poder das aulas de Geografia e sua importância para a aprendizagem. As

imagens também se configuram como outro recurso/gênero a serem utilizadas na sala de

aula, estas contém dados e informações acerca de um determinado fenômeno, sintetizam

as inúmeras formas de compreender o espaço estudado.

Para tanto é notório que a prática docente deve permear esta perspectiva do

ensino efetivo e não “decoreba”. Estes recursos/gêneros citados se constituem como

métodos simples e acessíveis que todo professor de Geografia pode inserir nas suas

aulas, fazendo a mediação do processo de aprendizagem e instigando o aluno a pensar,

analisar, opinar e expressar sua leitura de mundo, este é sujeito ativo na sociedade e

necessita dos conhecimentos específicos da Geografia.

REFERÊNCIAS

ALVES, Telma Lucia Bezerra; PEREIRA, Suellen Silva e CABRAL, Laíse do

Nascimento. A utilização de charges e tiras humorísticas como recurso didático-

pedagógico mobilizador no processo de ensino-aprendizagem da Geografia.

Educação | Santa Maria | v. 38 | n. 2 | p. 417-432 | maio/ago. 2013.

Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:

geografia. Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1998. 156p.

CASTELLAR, Sônia Maria Vanzella. Educação geográfica: formação didática. IN:

Formação de professores: conteúdos e metodologias no ensino de Geografia.

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Organizadoras: Eliana Marta Barbosa de Morais e Loçandra Borges de Moraes. –

Goiânia: NEPEG, 2010 (Goiânia: E.V) p. 39-57.

CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia, escola e construção do

conhecimento. Campinas: Papirus, 2006.

GURGEL, Nair. A charge numa perspectiva discursiva. Primeira Versão. Ano II,

nº135. Fevereiro. Porto Velho, 2004. Volume IX.

RIOS, Daniele Silva. MASCARENHAS,Eziel Santana. O ensino dos problemas

ambientais por meio das charges: relato de experiência dos bolsistas do pibid -

geografia. III Fórum de Licenciaturas da UFRB- Amargosa, 2016.

SILVA, Onildo Araújo da. Geografia: metodologia e técnicas de ensino. Feira de

Santana: Universidade Estadual de Feira de Santana, 2004. 94p.