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Série a Espada do Espírito

01 Oração Eficaz 02 Conhecendo o Espírito 03 O Governo de Deus 04 A Fé Viva 05 Glória na Igreja 06 Ministério no Espírito 07 Conhecendo o Pai 08 Alcançando o Perdido 09 Ouvindo a Deus 10 Conhecendo o Filho 11 Salvação pela Graça 12 Adoração em Espírito e em Verdade

www.swordoftheespirit.co.uk

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As citações bíblicas são – salvo indicação em contrário – da Bíblia Almeida Revista e Atualizada – 2ª. edição – Sociedade Bíblica do Brasil.

Coordenação geral: Print International Brasil Editora Ltda.Supervisor de tradução: João GuimarãesTradução: Vera Jordan Revisão: Edna Batista GuimarãesDiagramação: Rafael Alvares - alvaresdesign.com.br

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Espada do Espírito

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Sumário

Introdução 7

01 O que é fé? 11 02 Fé bíblica 27 03 A operação da fé 41 04 O fundamento da fé 55 05 A fé ouvinte 69 06 A fé semente 81 07 A fé confessante 95 08 A fé atuante 105 09 A garantia da fé 115 10 Desenvolvendo a fé viva 127

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Introdução

Este livro é chamado de A Fé Viva com o propósito de revelar duas verdades essenciais sobre a natureza da fé e como podemos andar nela. Primeiro, a fé viva é fé autêntica. É real, não um ‘faz de conta’ ou fé imaginária. Segundo, é fé prática, ou seja, é pro-dutiva e frutífera; resulta em ações. Somos salvos pela fé, por crer e confiar somente em Cristo para a nossa salvação. Porém, Deus nunca planejou que nossa fé em Cristo fosse passiva. Seu desejo é que coloquemos nossa fé em prática e realizemos grandes coi-sas para Ele em nossas vidas por meio da fé viva. Ele deixou um espaço para nossos nomes serem colocados na galeria da fé – a lista de pessoas que, assim como aqueles registrados no capítulo 11 de Hebreus, alcançaram grandes feitos pela fé.

Todos sabem que o cristianismo geralmente é descrito como ‘a fé cristã’, mas a maioria das pessoas acha que fé cristã se re-fere às crenças específicas do cristianismo. E muitos homens e mulheres pensam que cristãos comprometidos são ‘crentes’ por causa das crenças que defendem.

Essa ideia comum sobre ‘fé’ tem levado muitas pessoas a pensar no cristianismo como algo essencialmente intelectual. As ideias são consideradas supremamente importantes, então questionamos as pessoas sobre o que acreditam, e muitas vezes conservamos a amizade e comunhão com base em opiniões hu-manas.

Entretanto, a Bíblia de fato restringe a fé ao entendimento inte-lectual? A galeria da fé em Hebreus 11 enaltece os heróis do Anti-go Testamento por causa de suas ideias, por causa de suas ações, ou talvez ambas? Precisamos descobrir a resposta e depois lidar com as implicações para a nossa vida cristã individual e coletiva.

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No passado, houve desentendimentos dentro da Igreja quanto à importância relativa da ‘fé’ e das ‘obras’. Alguns professores de Bíblia defendem a fé e denigrem as obras, enquanto outros insistem que ‘fé sem obras é morta’. Precisamos examinar se a ideia bíblica de fé é maior do que esses dois grupos perceberam.

Ultimamente tem surgido na Igreja uma nova ênfase da ‘fé’. E alguns começam a insistir que a fé significa que deveríamos obter toda e qualquer promessa bíblica quase de imediato. Como resultado, diversas técnicas diferentes são ensinadas com a ex-pectativa de nos ajudar a receber tudo pela fé sem nenhuma demora.

Todos nós sabemos que devemos ter fé, e a maioria já deve ter experimentado conflito com dúvidas e questionamentos sin-ceros. Muitos crentes querem ter ‘mais fé’ ou uma ‘fé melhor’, mas não sabem como desenvolvê-la – e várias pessoas ficarão imaginando o que pode ser a ‘fé viva’.

Este é um estudo para crentes dispostos a colocar de lado as próprias ideias sobre fé e estudar a Palavra de Deus para des-cobrir Sua revelação. Precisamos descobrir o que Ele quer dizer com fé e crença, o que devemos crer e, o mais importante: como podemos desenvolver uma vida de fé.

Há um material adicional para facilitar o aprendizado. Esse material está disponível no Manual do Estudante da série Espada do Espírito e no website www.swordofthespirit.co.uk. O manual traz um guia de estudo complementar para cada capítulo, além de Questões para debate e testes. Após registrar-se nesse módulo no website, você poderá ter acesso a mais testes e exames.

Há também uma Webtool (o livro texto com links para refe-rências bíblicas), e ensino abrangente em áudio e vídeo. O uso desses materiais adicionais o ajudará a examinar, reter e aplicar o conhecimento que adquiriu neste livro.

Você também poderá usar o Manual do Estudante com pe-quenos grupos. Você pode escolher, mediante oração, as partes que considerar mais importantes para o grupo. Isso quer dizer que em algumas reuniões você pode usar todo o material, en-quanto em outras apenas uma pequena parte. Use o bom senso

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e o discernimento espiritual. Sinta-se à vontade para fazer foto-cópias e distribuí-las a qualquer grupo que esteja liderando.

Minha oração é que, quando concluir o estudo deste livro, você saiba o que já recebeu, a segurança que lhe foi dada, e de que maneira pode transformar a fé viva de uma pequena semen-te em algo do tipo de uma planta forte e muito frutífera.

Colin Dye

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Parte Um

O que é Fé?

É impossível ler o Novo Testamento sem perceber que a ideia de ‘fé’, ou “crença” parece simplesmente central. Na realidade, ela é tão essencial que o cristianismo se tornou conhecido como ‘a fé cristã’, e os seguidores de Cristo geralmente são chamados de ‘crentes’.

Essa primeira impressão é confirmada quando estudamos o Novo Testamento. Descobrimos, por exemplo, que o substantivo grego pistis, ‘fé’, e o verbo grego pisteuo, ‘crer’, ocorrem, cada um, mais de 240 vezes, e que o adjetivo pistos, ‘fiel’ ou ‘cren-te’, aparece aproximadamente 70 vezes. Essa palavra básica do Novo Testamento deve ser o ponto de partida para o nosso estu-do da fé viva.

PistisPistis, ‘fé’, significa ‘persuasão firme’. Refere-se a uma convicção que é baseada no ouvir, e está intimamente vinculada a peitho, que quer dizer ‘persuadir’. O adjetivo pistis usado literalmente significa que podemos dizer que temos ‘fé’ apenas quando tiver-mos sido firmemente persuadidos por algo que ouvimos.

No Novo Testamento pistis é usado sempre em relação a:1. Própria fé de Deus e de Cristo2. Nossa fé em Deus ou Cristo3. Questões espirituais

A palavra pistis é usada para referir-se a essas questões de diversas formas diferentes. Ela descreve, por exemplo:

• Fidelidade – Romanos 3:25; 1Coríntios 2:5; 15:14, 17;

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2Coríntios 1:24; Gálatas 3:23; Filipenses 1:25; 2:17; 1Tes-salonicenses 3:2; 2Tessalonicenses 1:3 e 3:2• Confiabilidade – Mateus 23:23; Romanos 3:3; Gálatas 5:22 e Tito 2:10• O que é crido, o conteúdo da fé – Atos 6:7; 14:22; Gálatas 1:23; Filipenses 1.27; 1Tessalonicenses 3:10; Judas 1:3 e 20• Uma razão para a fé, uma segurança – Atos 17:31• Uma promessa concedida em fé – 1Timóteo 5:12

PisteuoO verbo grego pisteuo normalmente é traduzido como ‘crer’, o que indica, às vezes, que ‘fé’ e ‘crente’ são coisas distintas e dife-rentes. Porém, pistis e pisteuo – ‘fé’ e ‘crer’ – são formas grama-ticais diferentes da mesma palavra grega. É uma pena que não há forma verbal do substantivo ‘fé’, mas ‘Eu creio’ é exatamente o mesmo que ‘eu fé’ ou ‘eu tenho fé’.

Pisteuo significa literalmente ‘ser convencido de’ ou ‘por a confiança em’. É vital entendermos que pisteuo indica confiança imaginária e confiança relacional; inclui confiança e crédito; em palavras simples, pisteuo é algo que ‘fazemos’ bem como algo que ‘pensamos’.

Isso se torna claro especialmente no Evangelho de João que enfatiza a atividade da ‘crença’ sem nunca usar pistis, mas usan-do pisteuo quase cem vezes. O primeiro uso que Jesus faz da palavra em João 1:50 refere-se à ‘crença’ de Natanael. Esse é um exemplo clássico de fé viva em ação.

Observamos que Natanael:• Ouviu o que Filipe disse sobre Jesus – 1:45• Veio a Jesus – 1:46–47• Ouviu o que Jesus disse – 1:47–48• Confessou a divindade e o poder de Jesus – 1:49• Começou a seguir a Jesus como um discípulo – 21:2.

PistosUsada de forma ativa, pistos significa ‘crer’ ou ‘confiar’ – Atos 16:1; Gálatas 3:9 e 2Coríntios 6:15. Usada de forma passiva

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significa ‘confiável’ ou ‘fiel’ – 1Tessalonicenses 5:24 e 2Tessalo-nicenses 3:3.

A palavra pistos é traduzida como ‘crente’ em 2Coríntios 6:15; 1Timóteo 4:12; 5:16 e 1Pedro 1:21. Isso nos faz recordar que o ato de ‘crer’ ou ‘ter fé’ é a característica principal dos cristãos. Ou somos crentes ‘fiéis’, ‘que creem’ ou não somos nada.

Fé salvadoraA notícia central do Novo Testamento é a revelação de que Deus enviou Seu Filho para ser o Salvador do mundo, e que Jesus realizou a nossa salvação morrendo uma morte voluntária, sacri-ficial na cruz do Calvário.

Fé é a atitude por meio da qual abandonamos todos os nos-sos esforços para obter a salvação, e começamos a confiar ple-namente em Cristo – somente Nele – para obtê-la. Os versículos 30 e 31 de Atos 16 relatam a pergunta do carcereiro: ‘Que devo fazer para que seja salvo?’, a resposta de Paulo foi simples: ‘Crê no Senhor Jesus e serás salvo’.

É bem semelhante em João 3:16: a fé é o único caminho pelo qual recebemos salvação. É por isso que ela é importante para o cristianismo.

Fé e atosO verbo pisteuo geralmente é seguido por ‘que’, o que mostra que a fé tem a ver com fatos. João 8:24 mostra que isso é im-portante, porém Tiago 2.19 lembra que há mais na fé do que assentimento intelectual.

A ideia de a fé incluir crença intelectual é sugerida em Mateus 21:32, onde Jesus lembra os judeus que eles não creram no que João falou. É semelhante em João 8:45,46 e João 5:24. Algu-mas traduções insistem em verter João 5:24 como ‘crer em/ na-quele que me enviou’, mas deveria ser, ‘crer nele que me enviou’. Naturalmente que se nós cremos em Deus, de fato, agiremos segundo essa crença, mas fé inclui crer no que Deus diz, bem como crer no próprio Deus. Na realidade, como perceberemos adiante, crer na Palavra de Deus é crer em Jesus.

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Fé e açãoNo Novo Testamento o verbo pisteuo normalmente é seguido por eis. Isso significa literalmente ‘crer em’ e se refere a um crer que nos leva para fora de nós mesmos e nos coloca em Cristo. Essa é a razão por que geralmente se referem aos crentes como aqueles que estão ‘em Cristo’.

Isso denota não apenas uma crença intelectual, mas tam-bém uma fé viva por meio da qual continuamos nos apegando a Jesus com todo nosso ser e toda nossa força. João 15:4 mos-tra que quando cremos assim, vivemos em Cristo e Ele em nós. Fé não é apenas aceitar alguns fatos como verdadeiros, embora isso faça parte, fé também é confiarmos nós mesmos em Jesus.

Na Parte Cinco observaremos que muitos versículos, que nas versões inglesas da Bíblia parecem se referir à nossa fé em Deus ou Jesus, apontam, na realidade, para a fé de Deus ou a fé de Jesus. Em 60 versículos o substantivo pistis é seguido por uma construção que é traduzida naturalmente como ‘fé de al-guém’, e é sempre vertido assim nos 44 lugares onde descreve a fé de uma pessoa. Há muitas boas razões para parecer mais provável que as outras passagens também se refiram à ‘fé de Jesus’ em vez de nossa ‘fé em Jesus’. Podemos dizer que, como regra geral deveríamos ler ‘crer em Jesus’ como ‘crer dentro de Jesus’, e ‘fé em Jesus’ como ‘fé de Jesus’.

Fé e fundamentoO verbo pisteuo às vezes é seguido por epi, ‘no/sobre o’, o que mostra que a fé tem uma base sólida. Observamos isso em Atos 9:42, onde muitos ‘creram no Senhor’ quando Dorcas foi ressuscitada. O povo de Jope vira o que Jesus podia fazer, e colocaram sua fé ‘sobre Ele’. A mesma ideia está visível em Romanos 4:24.

ResumoPara resumir os três últimos pontos, podemos dizer que:

• ‘Crer que’ refere-se a confiar na verdade – fé factual ou proposicional

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• ‘Crença em’ refere-se a confiar em uma pessoa – fé pessoal ou relacional• ‘Crença sobre’ refere-se a confiar em um fundamento – fé substancial ou fundamental.

Fé absoluta O Novo Testamento sempre usa pisteuo de modo absoluto. Em João 4:41, por exemplo, verificamos que muitos dos samarita-nos acreditaram por causa da palavra de Jesus; mas João não se preocupa em nos dizer em que eles acreditavam. Devemos supor que João achava o fato evidente por si só.

A fé é tão importante e tão fundamental para o cristianismo que o Novo Testamento se refere constantemente ao crer sem definir a fé, e aos ‘crentes’ sem esclarecer suas crenças. Temos muito a aprender com essa abordagem simples em nossos dias.

Fé vivaAo considerarmos o resumo do modo que o Novo Testamento usa pistis e pisteuo, podemos dizer que há quatro elementos principais na descrição de fé e crença humana:

1. Uma convicção firme baseada no ouvir 2. Uma confissão plena da revelação ou verdade de Deus3. Uma rendição pessoal a Cristo 4. Uma ação inspirada por essa rendição.Encontramos esses elementos em João 1:12; 2Coríntios 5:7

e 2Tessalonicenses 2:11-12, e os exploraremos em capítulos posteriores. Verificaremos como todos esses elementos de fé, assim como ações humanas, são o resultado de uma obra pro-funda do Espírito Santo em nossos corações.

Uma visão geral da féDevido à fé ser tão importante para a ‘nossa fé’, muitos cristãos se sentem debaixo de certo tipo de pressão no sentido de gerar fé. Eles ouvem pregadores corretamente instando as pessoas a crer, e pensam que precisam produzir a fé em quantidades sempre crescentes.

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Todavia, a fé não é o resultado do esforço ou da atividade do ser humano: mental, emocional ou físico. A fé sempre tem sua origem em Deus. Fé verdadeira não é crer em algo que queremos, do modo que queremos, quando quisermos, pois a fé sempre é determinada e limitada pela Palavra de Deus. Não somos livres para simplesmente inventar o conteúdo de nossa fé – fé diz res-peito a sonhar os sonhos de Deus e enxergar as visões de Deus. A fé tem uma fonteO Novo Testamento indica a existência de três aspectos para a origem divina da fé:

1. Jesus é o autor da féHebreus 12:2 descreve Jesus como o ‘autor e consumador’ da fé: a palavra ‘nossa’ não aparece no grego e deveria ser omitida. A palavra grega archegos é traduzida como ‘Fundador’, ‘Autor’, ‘Príncipe’ e ‘Capitão’ e se refere a alguém que assume a lideran-ça em qualquer coisa, ou a quem quer que ofereça a primeira ocasião de algo. Como archegos da fé, Jesus assume a liderança na fé. Toda fé olha para Ele e para a Sua fé, e extrai inspiração e força de Sua fé.

A palavra grega teleiotes é traduzida como ‘Consumador’ e ‘Aperfeiçoador’, e significa aquele que termina algo com perfei-ção. Como teleiotes da fé, Jesus é o exemplo perfeito de fé que a trouxe à plena totalidade em Sua pessoa.

Isso quer dizer que não acreditamos em um vácuo, em vez disso cremos nas pegadas do líder da fé. Olhamos para Jesus e para a Sua fé – tanto como um modelo externo quanto como uma dinâmica interior – e prosseguimos crendo à maneira Dele para o cumprimento da fé que Ele alcançou. Isso nos ajuda a entender que ‘fé’ e ‘seguir’ são maneiras distintas de comunicar a mesma ideia.

2. A fé é um dom da graça de Deus A maioria dos crentes sabe que graça e fé são necessárias para a salvação; e muitos foram ensinados que a graça é responsabi-

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lidade de Deus e a fé é responsabilidade nossa. Isso é verdade, mas também precisamos reconhecer que nossa fé é um dom da graça tanto quanto a própria salvação.

Efésios 2:8 e 9 mostram que a fé que nos capacita a expe-rimentar o dom gratuito de Deus a salvação ‘não vem de vós; é dom de Deus’. Podemos constatar essa ideia de ‘graça por trás da fé’ em Romanos 4:16 e Filipenses 1:29.

Trata-se de uma ideia incomum e interessante para alguns crentes, pois a maioria é ensinada que precisa exercitar a fé hu-mana a fim de experimentar a graça divina. Todavia, sabemos que a salvação é obra inteiramente de Deus, e que não há nada que possamos fazer para nos salvar ou nem mesmo oferecer a menor contribuição para a nossa salvação.

Portanto, deveríamos pressupor que a fé seja um dom da graça de Deus e não deveríamos ficar surpresos ao vermos tal descrição nas Escrituras. Se a fé fosse algo que produzíssemos e contribuísse para o processo de salvação, ela não poderia ser uma obra inteiramente de Deus. Porém, se a fé que contribuímos é ela mesma um dom proveniente de Deus, então a salvação é de fato uma obra completa e exclusiva de Deus.

3. A fé é a obra do Espírito Santo A série A Espada do Espírito é uma escola ministerial na Palavra e no Espírito. Em cada volume chamamos a atenção para a forma que Deus nos chama a depender tanto de Sua Palavra quanto de Seu Espírito. Algumas tradições cristãs tendem a basear-se mais na Palavra enquanto outras preferem o Espírito, mas Deus está sempre nos chamando a uma dependência equilibrada dos dois, porque na realidade os dois são inseparáveis.

Em algumas áreas que estudamos, como em A Espada do Es-pírito volume Ministério no Espírito, é fácil concentrar-se demais no Espírito e negligenciar a Palavra; por isso temos de trabalhar duro no estudo dos princípios Bíblicos e autoridade para o ‘minis-tério’. Em outras áreas, como A Fé Viva, é fácil nos envolvermos demais na doutrina bíblica e desprezarmos o Espírito – quando Ele é quem inspirou a Palavra e continua a aplicá-la!

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É importante que percebamos desde o início de nosso estudo o envolvimento do Espírito na fé. Na realidade, 2Coríntios 4:13 identifica o Espírito Santo como ‘o Espírito de fé’. (Algumas tra-duções indicam que esse texto refere-se a uma atitude humana de fé, a ‘um espírito de fé’. Todavia, Paulo usa a frase ‘mesmo es-pírito’ com frequência, e sempre se referindo ao Espírito Santo.)

Citando o Salmo 116:10, 2Coríntios 4:13 destaca o elo entre a Palavra e o Espírito. E sua ênfase de que o Espírito de fé faz o ‘crer’ conduzir ao ‘falar’ é inteiramente coerente com o ensino bíblico mais amplo sobre a obra do Espírito.

Sempre que o Espírito Santo vem sobre nós, Ele nos move a falar profeticamente – e nosso discurso profético sempre está em conformidade com os princípios bíblicos, com a Palavra. Esse princípio de que a fé que recebemos do ‘Espírito de fé’ nos faz falar, é simplesmente outro exemplo do mesmo princípio eterno, profético do Espírito.

O texto de 1Coríntios 12:9 mostra que o ‘mesmo Espírito’ nos dá fé como uma manifestação de Si mesmo. Isso ressalta o que já constatamos: que a fé que recebemos de Deus é uma expres-são da Sua fé – isso é mencionado de diversas formas como a fé de Deus, fé de Jesus e, neste caso, a fé do Espírito.

O texto de 1Coríntios 12:3 coloca esse dom da fé no contexto do Espírito nos movendo a falar. Isso deve nos ajudar a entender a ideia-chave de que a fé viva, verdadeira, proveniente de Deus deve ser falada francamente ou confessada.

A fé é nossa responsabilidadeAlém de indicar que existem esses três aspectos divinos para a origem da fé, a Bíblia enfatiza constantemente que a fé é uma responsabilidade do homem – constatamos isso em Hebreus 3:12, 19 e 11:6.

Nossa responsabilidade, contudo, é pelo exercício ou atividade da fé, não por sua criação. Somos chamados a um crer, confessar e agir ativos da fé que recebemos de Deus; não temos de criar a força de vontade humana e trazer a fé à existência do nada.

Neste volume recorreremos com frequência a Hebreus 11, o

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grande capítulo bíblico sobre fé. Todavia, embora o versículo 6 revele que não podemos agradar a Deus sem fé ativa, ele não ensina nada sobre a fonte de fé.

Hebreus 3:12 mostra que a incredulidade, a ausência de fé, é um afastamento do ‘Deus vivo’. Esse nome não é uma simples descrição de Deus, pois ‘Deus vivo’ é um dos mais importantes nomes de Deus presentes no Antigo Testamento, e tem um uso restrito e preciso. Deus é conhecido como ‘o Deus vivo’ principal-mente nos contextos de livramento miraculoso e de quando Ele está falando e agindo. Verificamos isso em Deuteronômio 5.26; 1Samuel 17:26, 36; 2Reis 19:4, 16; Isaías 37:17; Jeremias 10:10; 23:36 e Daniel 6:20 e 26.

Sempre que Deus é mencionado como o ‘Deus vivo’ – e trata-se de uma construção comparativamente rara – é uma referência direta a Deus que fala face a face com Moisés, o Deus que mata Golias, o Deus que derrota Senaqueribe, o Deus que fecha bocas de leões, o Deus que fala aos profetas. É por isso que a identifi-cação de Jesus por Pedro em Mateus 16:16 é tão significativa.

Isso quer dizer que se incredulidade significa afastamento do Deus vivo, fé deve significar apego ao Deus vivo – àquela faceta de Deus que fala, age e cumpre o prometido tão decisivamente.

Nosso chamado na vida não é para desenvolver algum nível impressionante de fé humana, é simplesmente para apegar-se ao Deus vivo. E ao nos apegarmos a Ele, absorvemos Seu afável dom de fé – a autoconfiança de que Ele pode derrotar Golias, pode fechar a boca de um leão, pode falar com autoridade e eficácia aos povos das nações. Assim, somos chamados a con-fessar ou falar de nossa fé, e agir de acordo com essa fé.

Este volume A Fé Viva é um lembrete de que o que a Bíblia busca e encoraja não é a fé humana, é o exercício humano – nossa crença viva – da autoconfiança ativa do Deus vivo.

A fé tem um objetoQuando algumas pessoas falam sobre fé, parecem querer dizer ‘fé na fé’. Parecem insinuar que não importa em que acredite-mos, apenas que acreditemos. Elas dão a impressão de que a

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fé muda os fatos, a fé opera milagres, a fé funciona. Todavia a fé, como a oração, não muda nada. É o Deus vivo quem age. Ele derrotou Golias, não a fé de Davi, e Ele fechou as bocas dos leões, não a fé de Daniel.

Podemos dizer que a fé é como a embreagem em um carro, ela simplesmente impulsiona a potência do motor. Sem embre-agem, um carro robusto pode fazer muito barulho, mas jamais se moverá; sem o motor, contudo, a mais nova e melhor em-breagem torna-se irrelevante. Como uma embreagem, a fé nos prende ao Deus vivo e Sua Palavra e poder podem assim ser vistos em ação.

É por essa razão que Jesus falou como falou em Mateus 17:20. Não é o tamanho da embreagem que conta, é o tama-nho e a condição do motor. Se Deus é o Deus vivo, insinuar que precisamos de uma enorme quantidade de fé é um insulto terrível para Ele.

A fé sempre tem um alcance para além de si e segura a mão de Deus; ela confia em Deus e sobre Deus – verificamos isso em Marcos 11:22 e João 14:1.

A fé tem conteúdoFé cristã não é ter um objetivo ou ambição e trabalhar decidi-damente em direção a ele. A fé bíblica é crer em algo específico que ouvimos de Deus e depois confessá-lo e agirmos conforme esse algo.

Verificamos que a essência de pistis é ser convencido de algo que se ouviu – e Romanos 10:17 descreve esse processo em ação. Isso demonstra que ouvir a Deus está no centro da fé; na verdade, ela norteia cada aspecto da vida cristã.

A menos que ouçamos de Deus, e que nossa fé esteja relacio-nada às palavras que ouvimos e provamos, não teremos uma fé viva bíblica. Essa área da vida cristã é examinada na série Espa-da do Espírito volume Ouvindo a Deus. Isso significa que é muito presunçoso acreditar em algo e agir segundo esse algo se Deus não houver falado; e é igualmente desobediente não acreditar e agir se Deus tiver falado.

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Muitos líderes relacionam corretamente a fé com as promes-sas bíblicas de Deus; consideraremos esse assunto mais adiante. Contudo, é preciso observar que a Palavra de Deus é o ‘conteúdo’ de nossa fé, e não o ‘objeto’ de nossa fé. Assim como não de-vemos ter fé na fé, também não devemos ter fé nas promessas de Deus. Passagens como Romanos 4:20-21 e Salmo 106:12 nos encorajam a crer nas promessas de Deus, mas cremos nelas porque Ele as declarou. Temos fé ‘em’ Deus e ‘sobre’ Deus, e cremos, confessamos e agimos sobre Suas Palavras e promessas porque elas são Suas Palavras.

Nossa fé está Nele e se desenvolve por meio de nosso apego a Ele, porém o conteúdo de nossa fé é o que ouvimos Ele dizer a nós por Sua divina revelação. Essa é a obra do Espírito, pois é por meio Dele que o Pai nos fala e ensina.

A fé tem ações Temos visto que a fé não é passividade ou inatividade, e retorna-remos a esse princípio importante durante este estudo. Romanos 10:9-10 mostra que a fé viva sempre inclui uma confissão – uma declaração pública – da Palavra de Deus; e Tiago 2:14-26 nos traz à memória que a fé sempre inclui uma obra ou uma ação baseada na Palavra que foi recebida de Deus.

No passado alguns líderes da igreja tentaram insinuar a exis-tência de uma contradição entre ‘fé’ e ‘obras’, mas isso ocorreu devido a um mal-entendido da fé bíblica. Fé viva, crença bíblica abrangem o ‘ouvir’, ‘receber a Palavra’, ‘confessar’ e ‘fazer’. Ne-nhum desses elementos da fé pode ser considerado como a ple-nitude da fé isoladamente. Eles são todos igualmente aspectos indispensáveis da fé autêntica.

A fé lida com o que não se vêHebreus 11:1 define fé como ‘a certeza de coisas que se espe-ram, a convicção de fatos que se não veem’. Esse versículo ensi-na que a fé lida com aquelas coisas em nossas vidas que ainda não foram cumpridas ou experimentadas. Observamos isso em Romanos 8:18-25; 2Coríntios 4:18 e 5:17.

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A fé cumpre o seu propósito quando de fato experimentamos algo que cremos, confessamos e agimos segundo tal. Nessas alturas já não precisamos mais de fé, mas até então, pela fé enxergamos verdades e abraçamos realidades muito antes de experimentá-las ou tê-las.

Lemos no capítulo 11 de Hebreus sobre pessoas que viveram e morreram em fé. Elas acreditaram, confessaram e agiram se-gundo as palavras que haviam ouvido de Deus, mas na realidade não experimentaram em suas vidas o que fora prometido. 1 Pe-dro 1:8-9 indica que não é tão diferente para nós na área mais importante da fé.

A fé reconhece verdades espirituaisEm Hebreus 11:1, a palavra grega para ‘substância’ é huposta-sis, e ela também é usada em Hebreus 1:3 para descrever Jesus como ‘a expressão exata’ da pessoa ou essência de Deus. Hu-postasis significa a natureza real de algo em oposição à manifes-tação exterior. No capítulo 1:3 essa palavra se refere à essência divina de Deus que existe e é revelada em Jesus; e no capítulo 11:1 ela revela que a fé lida com realidades invisíveis.

A fé olha para além e abaixo das aparências exteriores e se apega à verdade de Deus sobre a situação. As aparências podem incluir fatos visíveis e externos, mas a verdade substancial de Deus vai mais fundo do que isso – e é a fé que nos capacita a abraçar a substância autêntica sob uma aparência factual. Por exemplo, a substância é que Deus é amor e que o diabo está derrotado, mas os fatos parecem, às vezes, diferentes. A fé – apegar-se ao Deus vivo – nos capacita a ver a realidade verda-deira e continuar acreditando, confessando, e agindo segundo a substância quando a aparência parece contradizê-la.

Deus sabe que irá cumprir o que quer que tenha prometido, e Ele já pode ver o que prometeu. Quando nos apegamos a Ele, e recebemos Seu dom afável da fé, partilhamos de Sua certeza e visão. Pela fé partilhamos de Sua certeza de que a promessa será cumprida e recebemos Sua revelação na substância do que tem sido prometido.

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O Novo Testamento traduz hupostasis com frequência como ‘confiança’ – por exemplo, 2Coríntios 9:4; 11:17 e Hebreus 3:14. Hupostasis é derivada de hupo, ‘sob’, e stasis, ‘uma posi-ção’. Isso significa que, além de significar a substância ‘sob’ algo que lhe dá um firme fundamento, hupostasis significa também a qualidade de confiança que nos capacita a ‘permanecer sob’, ‘aguentar’ ou ‘experimentar’ qualquer coisa.

A fé viva engloba esses dois aspectos de hupostasis – ela nos capacita a enxergar a substância do que é prometido, e também nos dá confiança para receber a substância antes de ela ser ex-perimentada. Enxergamos essa ideia de fé tanto vendo quanto recebendo confiadamente a substância presente de uma realida-de futura em passagens como Marcos 11:24; Lucas 13:12–13; 1Pedro 1:7–8 e 1João 3:2. Voltaremos a esta análise e oferece-remos uma tradução mais detalhada de hupostasis na Parte Dez.

A fé percebe plenamente as realidades não vistas Pela fé, as coisas que ouvimos Deus prometer e que esperamos, confessando e agindo em conformidade com elas, se tornam uma realidade vivida. Hebreus 4:1-3 revela que, desde Cristo, nós que cremos ‘entramos’ de fato nas promessas de Deus.

Mais uma vez, precisamos entender que nossa fé não faz as promessas se realizarem. É Deus quem cumpre Suas promessas. Em vez disso, a fé – como uma embreagem que engata o mo-tor – nos capacita a vivenciar as promessas e participar em seu cumprimento. Pela fé – pelo nos apegar a Deus, pelo crer ‘em’ e ‘sobre’ Ele – estamos exatamente no lugar certo para experi-mentar a realidade prometida no mesmo instante em que Deus cumpre Sua promessa.

Fé é certezaHebreus 11:1 declara que a fé é ‘a “evidência” das coisas que não se veem. Essa é a palavra grega elegchos, que se traduz como ‘reprovação’ ou ‘convicção’ em 2Timóteo 3:16. Elegchos é uma palavra jurídica e era usada para descrever alguém que havia sido julgado e considerado culpado pela ‘evidência’.

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O uso da palavra elegchos aqui mostra que a fé nos traz à ‘plena convicção’. A fé trata da evidência sólida, e traz certeza absoluta – segurança total. Isso expressa a ideia de fé como ‘per-suasão total baseada no ouvir’ de um jeito levemente diferente. Estudaremos esse aspecto da fé com mais detalhe, mas, por enquanto, podemos vê-lo em Romanos 4:16-21; 2Timóteo 1:12 e Hebreus 10:22-23.

As ‘coisas’ mencionadas em Hebreus 11:1 não são mistérios sem sentido. A palavra grega é pragma – de onde temos ‘prag-mático’ – e se refere a questões muito práticas. Era outra palavra muito comum na época do Novo Testamento e era usada para identificar uma ação judicial específica, do tipo que hoje nos referimos como o ‘caso referente a Brown e Jones’.

Isso indica que a fé trata da certeza absoluta de questões específicas. A fé não é sem propósito, algo que tenhamos em geral. A fé é sempre sobre questões muito específicas, reais, que são definidas tão estritamente quanto uma ação legal. A fé fala daquelas ‘coisas’ – as específicas – que Deus tem falado; fala das realidades particulares que Ele nos revela quando ouvimos as verdades reais que Ele tem realizado. Porque Ele as tem pro-metido, sabemos que são certas – pois Deus sempre faz o que diz e sempre diz o que faz.

Isso mostra que a fé verdadeira, bíblica não é um pensamento positivo religioso, produto de um espírito não crítico, ingênuo. Atualmente as pessoas tendem a denegrir tudo que não pode ser demonstrado racionalmente ou provado de forma empírica – e isso significa que o conceito de fé é automaticamente evitado. Todavia, devemos lembrar que – embora haja razões intelectuais boas para se crer em Deus – Deus está definitivamente além tan-to do raciocínio humano normal quanto da investigação científi-ca. Isso significa que nossa longa busca por demonstrar e provar Sua existência torna-se essencialmente fracassada se contarmos exclusivamente com essas duas tentativas.

Felizmente, Deus providenciou uma terceira categoria de co-nhecimento: a revelação. Em sua forma mais simples, revelação é ouvir de alguém que tem informação especial o que é a verda-

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de, neste caso, ouvir da autoridade suprema que é Deus. Embo-ra valorize a razão e a percepção do sentido, a revelação defende que há conhecimento inacessível tanto à razão humana quanto à percepção de sentido. Fé é o meio para esse conhecimento es-pecial de Deus, a habilidade pela qual podemos entender e deter o conhecimento de Deus e de questões espirituais.

Isso não significa que nossa fé seja irracional ou não esteja baseada em fatos científicos, ou mesmo que a fé não possa ser sustentada pela razão ou ciência. Na realidade, as Escrituras entendem a fé não como uma regressão às trevas, mas como um passo em direção à luz, uma revelação do mundo invisível que Deus escolher revelar a nós.

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Parte Dois

Fé Bíblica

Constatamos que a palavra ‘fé’ é muito importante no Novo Testamento, contudo, ela aparece apenas duas vezes no Antigo Testamento – em Deuteronômio 32:20 e Habacuque 2:4. Isso não quer dizer que ‘fé’ seja uma ideia irrelevante no Antigo Tes-tamento, mas sim que é proclamada em outras palavras como ‘crer’, ‘confiar’ e ‘esperar’.

A fé no Antigo TestamentoUma das exigências mais básicas do Antigo Testamento é que as pessoas tenham uma atitude correta em relação a Deus. Essa ati-tude não é identificada como fé, mas é isso que ela é. Passagens como Salmos 26:1; 37:3-8 e Provérbios 3:5 estão tão próximas quanto é possível chegar da ideia neotestamentária de pistis.

O Salmista pode estar apelando para a sua integridade no Salmo 26.1, para ele mesmo e seus feitos, mas sua integridade é o fruto de sua confiança – e esta é totalmente no Senhor. Ocor-re praticamente o mesmo no Salmo 37: o Salmista pode estar procurando uma vida reta, mas ‘confiar no Senhor’ é a base da retidão que ele busca. É idêntico ao chamado do Novo Testa-mento para se ‘viver pela fé’ e mostra que o chamado de Jesus à fé não era novo.

As pessoas às vezes são instadas – no Antigo Testamento a confiar na ‘Palavra de Deus’, como no Salmo 119:42, mas isso porque é a Palavra de Deus. Podemos dizer que ‘a Palavra’ era o conteúdo de sua fé, e que Deus – a fonte da Palavra – era o objeto de sua fé.

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Provérbios 3:5 contrasta ‘confiar no Senhor’ com ‘não te es-tribes no teu próprio entendimento’. O chamado para as pessoas rejeitarem ‘confiar no eu’ é quase tanto um clamor comum do An-tigo Testamento quanto um rogo para que ‘confiem no Senhor’. Percebemos isso, por exemplo, em Provérbios 28:26; Ezequiel 33:13 e Oséias 10:13. Em outras passagens – por exemplo, Isaías 42:17 e Habacuque 2:18 – as pessoas são instadas a não crer em ídolos ou falsos deuses, e Jeremias 17:5 nos adverte quanto a crer em algo que seja humano.

O Antigo Testamento apresenta Deus como o único que é totalmente digno da confiança humana, Ele é o único ser que é totalmente confiável e capaz de cumprir tudo que promete. No Antigo Testamento, Deus recebe mais de 300 nomes e títulos diferentes, e eles expressam facetas distintas da natureza divina que Seu povo invocou para atender necessidades específicas e cumprir promessas específicas.

Examinamos essa ideia mais detalhadamente na série Espa-da do Espírito, volume Conhecendo o Pai, mas podemos vislum-brá-la já em passagens como Salmos 28:2 e 86:15. A fé pode ser depositada confiadamente em um Deus como esse. Quando cremos no ‘Deus forte’, sabemos que estaremos fisicamente se-guros; e quando nos apegamos ao Deus compassivo, misericor-dioso e gracioso, sabemos que seremos mantidos seguros – ou salvos – de uma maneira bem diferente.

Isso significa que a fé viva não é apenas um conjunto de pro-posições religiosas que aprovamos, é uma fé no Deus vivo que revela a Si mesmo em ações, em palavras, e – o mais importante – em Cristo.

AbraãoÉ impossível pensar na fé bíblica sem considerar Abraão cuja vida toda demonstrou atitude de confiança. Gênesis 15:6 é a descrição fundamental da fé que Abraão tinha, e é estudado em passagens do Novo Testamento como Romanos 4:1-25; Gálatas 3:6-14; Hebreus 11:8 e Tiago 2:23.

Nas Escrituras Abraão sempre é considerado ‘o pioneiro da fé’, e Deus sempre é chamado de ‘o Deus de Abraão: isso desta-

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ca a centralidade da fé na relação entre Deus e a humanidade. Deus apresentou-se a Moisés dessa forma em Êxodo 3:15.

Ao examinarmos a história de Abraão percebemos rapidamen-te que os quatro elementos básicos de pistis estão presentes: ele ouviu Deus; ele creu em Deus; ele confessou as promessas de Deus; e ele agiu conforme a promessa. Por exemplo, observamos em Gênesis que Abraão:

1. Ouviu a Palavra de Deus:• Em comunhão íntima – 12:1, 7; 13:14-17; 18:33; 22:1-2 e 24:40• Em visões – 15:1-21• Em alguma forma física – 17:1-22 e 18:1-33• Por meio de mensageiros angelicais – 22:11-18.

2. Confessou sua fé em Deus como:• Iavé – 12:8• Eterno – 21:33• O Altíssimo – 14:22• Deus do céu e da terra – 14:22 e 24:3• Senhor – 15:2• Juiz de toda humanidade – 18:25• Justo – 18:25• Provedor – 22:8 e 14.

3. Confiou em Deus:• Ele adorou a Deus e o chamou pelo nome – 12:8; 13:4 e 18• Ele creu no Senhor – 15:6.

4. Agiu em fé ao:• Deixar Ur – 11:31 e 15:7• Deixar Harã – 12:1-4• Aceitar a vida nômade “peregrina” mesmo quando Canaã lhe fora prometida – 13:15 e 15:18• Estar pronto para sacrificar Isaque – 22:2-18.É importante reconhecermos que as ações obedientes e fi-

éis de Abraão foram sua resposta às promessas e revelação de Deus. Ele simplesmente ouviu a Palavra de Deus e respondeu

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com fé – não há qualquer indicação de uma ‘lei’ ou exigência por algum tipo de padrão ético. Contudo, há um desenvolvimento ou avanço, no relacionamento baseado na fé que Abraão tinha com Deus, estudaremos isso na Parte Dez.

A fé de Abraão – seu apego a Deus – o levou a deixar seu lar e família. Gênesis 15:6 revela que foi a fé de Abraão e não o seu ‘bom’ comportamento ou obediência a qualquer lei, que o levou a ser considerado reto por Deus. Esse é um princípio básico da fé bíblica e nos mostra que é fé que Deus está buscando em nossas vidas.

A fé no Novo TestamentoEstudamos a palavra grega para fé, pistis, e elaboramos um re-sumo sobre o assunto. Sabemos que fé, a ação de crer, é mui-to relevante no Novo Testamento, e que o uso especificamente cristão de pistis é nos comprometermos a Cristo – nos mantendo fiéis e nos rendendo a Ele. Nesta seção, percebemos como as diferentes partes do Novo Testamento explicam e aplicam esse compromisso.

Os EvangelhosAs primeiras palavras de Jesus, em Marcos 1:15, ligam de ime-diato a fé, ou a crença, a arrependimento. Porque o Reino de Deus chegara, os ouvintes de Jesus deveriam mudar o modo de pensar a respeito de Deus e se comprometer de todo coração com tudo que Jesus representava – com Sua santa missão. Crer no Evangelho simplesmente significava crer no próprio Jesus.

Os Evangelhos registram que o ministério de Jesus foi uma série de desafios de fé. Por exemplo:

• Imediatamente após Marcos 1:15, os primeiros discípulos foram convocados a deixar a pesca e seguir Jesus – Marcos 1:17• O aspecto da fé é forte em todas as histórias de cura – Ma-teus 8:10, 13; 9:22, 29; 15:28; Marcos 9:24; 10:52; Lucas 7:50 e 17:19• No acalmar da tempestade, os discípulos foram repreendi-

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dos por sua falta de fé – Mateus 8:26; Marcos 4:40 e Lucas 8:25• Jesus prometeu feitos notáveis às pessoas de fé – Mateus 17:20; 21:21–22 e Lucas 17:5–6.Marcos 9:23 indica que a fé é uma alegação de possibilidades

diante de impossibilidades – de substância sobre a aparência, de verdade divina sobre fatos humanos. A missão de Jesus estava baseada na convicção de que o que Deus esperava das pessoas era impossível pelo esforço humano, porém tornou-se possível quando a fé as ligou a Deus e a Sua maneira de fazer as coisas.

Esse aspecto ‘impossível’ é acessível apenas quando centrado em uma pessoa visível, em e sobre Jesus. É em Cristo e por meio Dele que Deus realiza o aparentemente impossível.

Observamos que a exigência de fé por parte de Jesus não era nova, visto que o Antigo Testamento convocava as pessoas a confiar em Deus. Também observamos isso em Lucas 1:45 e 1:20, que comparam a fé e a incredulidade de Maria e Zacarias.

Sabemos que fé implica em ouvir a Palavra de Deus; e isso é destacado por Lucas 8:11-15, que iguala ‘crer’ com ‘receber a Palavra de Deus’.

Também entendemos que a fé deve sempre ter consequên-cias ativas; em Mateus 21:22 e em Marcos 11:24, Jesus ensi-nou que a fé se manifesta em oração, e que a comunicação com o Pai deve ser com ‘crença’ para ser real e eficaz.

O Evangelho de JoãoObservamos que o verbo ‘acreditar’ aparece quase 100 vezes no Evangelho de João, e os versículos 30 e 31 do capítulo 20 mostram que o propósito do livro todo é que os leitores possam ‘acreditar’.

Muitos dos princípios de fé que já observamos nas Escrituras também são destacados nesse Evangelho, por exemplo:

• Fé implica em ouvir a Palavra – 2:22• Fé significa crer em Jesus – 4:50; 8:30; 12:11 e 14:1• A fé é movida pelas obras de Jesus – 2:11 e 10:37–38• A salvação vem como resultado da fé – 1:12 e 3:16.

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O Evangelho de João, contudo, adiciona duas percepções ao nosso entendimento. Primeiro, mostra que a fé em Jesus implica em uma transformação radical e a uma renúncia ao mundo. As multidões no capítulo 6, versículos 60 a 66, deixaram Jesus ao perceberem que Sua visão de vida era basicamente diferente da visão que tinham. No capítulo 6.15, eles quiseram tornar Jesus um rei terreno, ao passo que Jesus desejara que eles respon-dessem a Seu ensinamento espiritual sobre comer Sua carne e beber Seu sangue.

Segundo, esse Evangelho revela que a fé tem graus variáveis. Podemos não ter alcançado a plenitude de fé, mas somos muito diferentes dos incrédulos que não têm fé alguma. Tomé já era um crente, mas Jesus lhe disse para ser ‘crente’ (Jo 20:27). E a fé dos samaritanos em João 4:40 era diferente da fé exigida em João 20:30–31.

Isso indica que a fé não é uma experiência única e estática; em vez disso, é uma exploração contínua do viver em Cristo, que evolui na medida em que continuamos nos firmando Nele e com Ele.

AtosÉ no livro de Atos que a comunidade cristã é identificada pela primeira vez como ‘aqueles que creem’ – 2:44; 4:4, 32; 9:42; 11:21 e 14:23.

O livro todo mostra o exercício da fé como o acompanhante fundamental do arrependimento, e é sempre fé ‘no Senhor’ ou na ‘Palavra’ que se pregava a respeito Dele – 4:4; 11:17; 14:23; 16:31; 17:11–12; 19:4; 20:21 e 24:24.

Isso prova que a fé pessoal no Jesus ressurreto era uma au-tenticação indispensável dos primeiros cristãos. A mensagem de Jesus tinha de ser ouvida, recebida e crida antes de tudo o que Ele tinha feito pelas pessoas pudesse ser experimentado e ado-tado. Essa ideia de fé é tão importante para a igreja primitiva que a expressão ‘a fé’ é usada às vezes em Atos para denotar a mensagem cristã – 6:7; 13:8 e 14:22.

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As cartas de PauloAs cartas de Paulo (1Coríntios – Filemom) ensinam muito sobre fé, e mostram que a fé era importante para sua vida e pensamen-to. Ele usa a ideia de fé de uma forma rica e variada, e podemos identificar sete aplicações adicionais de fé em suas cartas.

1. Deus é fielO ensinamento de Paulo acerca da fé é baseado na fidelidade de Deus – no fato de que Deus é tanto pleno de fé quanto comple-tamente confiável em todas as Suas relações com as pessoas. Observamos isso em Romanos 3:3; 1Coríntios 1:9; 2Coríntios 1:18; 1Tessalonicenses 5:24 e 2Timóteo 2:13.

Entende-se que Deus é totalmente confiável quanto a cumprir tudo o que promete, o que significa que podemos confiar nas palavras de Deus sem qualquer hesitação quando reconhece-mos Sua voz. É por isso que Paulo se refere a ‘palavras fiéis’ em passagens como 1Timóteo 1:15; 3:1; 4:9; 2Timóteo 2:11 e Tito 3:8.

2. Fé é aceitação da mensagem de Deus Em Romanos 10:17; 1Coríntios 1:21 e Efésios 1:13, a fé é apre-sentada como a resposta humana correta à pregação do Evan-gelho. Como percebemos, o objeto da fé é Cristo e Cristo só tem sentido por meio da fé.

O texto de Romanos 10:8-13 mostra que a evidência dessa resposta da fé é uma confissão oral de que Jesus é Senhor. Por-tanto, deve incluir uma decisão pessoal e segura a respeito de Jesus.

3. A justificação vem somente por meio da féA principal mensagem de Romanos 1–8 é que a justificação (o estabelecimento de um relacionamento correto entre Deus e os homens e mulheres) pode ser alcançada somente pela fé. Roma-nos 1:17 baseia sua afirmação em Habacuque 2:4.

Paulo vê a justificação como um dom divino pelo qual nada se pode fazer para ganhar, mas que deve ser recebido. Esse re-

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cebimento é uma ação de fé, que está descrita em Romanos 3:21-26. É essa crença que leva Paulo, nos versículos 27 a 31 do capítulo 3, a refutar qualquer possibilidade da justifica-ção poder ser por obras humanas. Para Paulo, a fé é o oposto da auto-realização: acreditar em Cristo é parar de acreditar (no sentido de depender) em si mesmo. A jactância, por definição, é automaticamente excluída pela fé.

4. Fé é um processo contínuoObservamos que a fé é um processo ininterrupto, e isso é enfa-tizado em Romanos 1:17. A fé não é simplesmente a aceitação de um ato de justificação de Deus, é também o estabelecimento de um novo relacionamento com Cristo. Paulo fala mais sobre isso em todo seu ensinamento ‘em Cristo’. Na Parte Dez estu-daremos a evolução da fé, mas agora precisamos entender que a fé evolui de fato.

1Tessalonicenses 1:3 mostra que a fé é dinâmica, não está-tica. E Gálatas 2:20 esclarece que nossa nova vida deveria ser uma ação contínua de fé, uma constante exploração e apropria-ção do que Jesus tem feito por nós.

5. Fé é compromisso com nossa nova vidaObservamos que há graus de fé, e Paulo descreve algumas im-plicações dessa ideia.

• A falta de fé pode existir e se deve oferecer oração para remediar tal deficiência – 1Tessalonicenses 3:10.• O aumento da fé leva a maiores oportunidades de se pre-gar o Evangelho – 2Coríntios 10:15-16.• A fé progressiva de Abraão é um exemplo para os outros – Romanos 4:20–21.• Indivíduos e comunidades inteiras podem se tornar conhe-cidos por sua fé – Filemom 1;5; Romanos 1:8; Efésios 1:15; Colossenses 1:4 e 1Tessalonicenses 1:8.Isso não significa que a fé seja tão vaga que possa sempre

passar despercebida por alguém que esteja crendo. Ao con-trário, mostra que a fé é muito mais que simples aprovação à

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mensagem cristã. Para Paulo, a fé é um comprometimento total de seguir Cristo e de pensar e viver à Sua maneira.

6. Fé é um dom de DeusJá analisamos 1Coríntios 12:9 e percebemos que a fé do Espí-rito é um dom especial para os crentes. Esse é um dos dons do Espírito que examinamos na série Espada do Espírito, volume Conhecendo o Espírito. Como todos os dons, esse é dado aos crentes cheios do Espírito quando necessitam que a fé do Espí-rito os ajude a edificar a igreja e executar com mais eficácia as obras de Jesus.

Essa é a própria fé de Deus que é dada para um serviço específico – como em Tiago 5:15. Todavia, 1Coríntios 13:2 nos faz lembrar que a fé é sem valor quando divorciada do amor. Não há categoria de ‘super fé’ que seja superior a todos os outros tipos de fé, é apenas que o Espírito graciosamente nos dá uma força temporária de Sua fé quando mais necessitamos dela.

7. A fé só é ativada quando a vontade de Deus é conhecida Uma característica notável nas cartas de Paulo é que ele co-mumente não ora para suas igrejas obterem fé, mas dá graças porque são crentes e já possuem fé. O que ele ora então é para que recebam conhecimento, como em Efésios 1:15-19. Seme-lhantemente, em Filemom 6, Paulo ora para que ‘a comunhão da fé se torne eficiente no pleno conhecimento de todo bem que há em nós, para com Cristo’. Mais uma vez, Paulo não ora para Filemom obter fé – ele lhe diz que já a tem. Isso porque Paulo entendia que a fé se faz ativa por meio do conhecimento da vontade de Deus.

É natural que Deus tem dado a cada pessoa uma medida de fé. Contudo, essa fé pode ser ativa ou passiva, eficaz ou ineficaz – Paulo ora para que possa se tornar eficaz, a fim de que possa começar a produzir resultados. E como a fé se tornará eficaz? Por meio da percepção, do conhecimento, da Palavra – a fé se torna ativa apenas quando a vontade de Deus é conhecida.

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HebreusEstudamos a definição de fé de Hebreus 11:1 e vimos que o ca-pítulo ilustra a persistência da fé diante de dificuldades conside-ráveis. Esse tema aparece nos textos de 6:12 e 13:7, e é aludido nos textos de 3:6 e 10:23.

Além de oferecer exemplos de fé, Hebreus também ilustra os efeitos da descrença nos capítulos 3 e 4. A descrença barrou o caminho para o descanso prometido aos judeus e, por conse-guinte, somente a fé poderia garantir a entrada deles. Hebreus 4:2 mostra que a mensagem que os israelitas ouviram não os beneficiou porque não havia fé por parte deles.

Outras epístolasTiago 2:1 declara que os seus leitores mantiveram a fé de Jesus; e Tiago 1:3 ensina que a fé precisa de aprovação; Tiago 1:6 mostra que devemos orar em fé sem duvidar e 5:15 declara que a oração cheia de fé é eficaz na cura.

Todavia, é o conceito de fé em Tiago 2:14-26 que é especial-mente importante. Essa passagem não está discutindo a ideia de que podemos ser justificados pelas obras da lei; em vez disso, ela descreve os tipos de obras que são um elemento indispensável da fé viva, produtiva.

Tiago 2:24 é o versículo-chave, e prova que Tiago não está contradizendo a doutrina da justificação pela fé. Ao contrário, Tia-go está insistindo que a fé que não mostra resultados práticos não é uma fé viva, frutífera ou produtiva. Ele ensina que a fé sem as respectivas ações práticas é inútil, isto é, morta, infrutífera e improdutiva.

A Bíblia inteira se une em oposição à ideia de fé como simples assentimento; Tiago 2:19 nos faz lembrar que até mesmo os de-mônios têm esse tipo de crença, e isso não os beneficia em nada.

Tiago e Paulo citaram Gênesis 15:6: porém, enquanto Tiago 2:21-23 indica que Abraão foi justificado pelas obras, Romanos 4:2-4 declara que ele foi justificado pela fé. Tais declarações não se opõem. Paulo aponta para a fé de Abraão que o levou à sua justifi-cação enquanto Tiago descreve a mesma fé justificadora em ação.

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PARTE DOIS - FÉ BÍBLICA 37

Tiago e Paulo estão olhando para a mesma coisa – a reação total de Abraão à Palavra de Deus. Paulo, porém, enfatiza o ele-mento invisível da fé – o crer; enquanto Tiago destaca o elemento visível ou frutífero da fé viva – ações.

Também percebemos nas epístolas que:• A fé está firmemente vinculada à salvação – 1Pedro 1.5 e 9• A fé deve ser provada – 1Pedro 1:7• A fé é mais valiosa que ouro – 1Pedro 2:7• Crentes perseguidos devem confiar no Criador fiel – 1Pedro 4:19• Aqueles afrontados pelo diabo devem permanecer firmes na fé – 1Pedro 5:9• A fé é o ponto inicial do progresso – 2Pedro 1:5-7• A fé vence o mundo – 1João 5:4• Fé é crer em Jesus – 1João 5:1 e 5• A fé traz certeza de vida eterna – 1João 5:13• A fé está vinculada a amor – 1João 3:23• A fé inclui o confessar – 1João 4:15.Podemos perceber então que 1Pedro 5:9 diz que aqueles

afrontados pelo diabo devem permanecer firmes na fé. Aqui te-mos de ter em mente também Tiago 4:7, que mostra que quando nos sujeitamos a Deus, podemos resistir ao diabo e ele fugirá de nós. De que maneira devemos resistir ao diabo? O texto de 1Pe-dro 5:9 oferece a resposta: ‘resisti-lhe firmes na fé’. Isso significa que tão logo a fé se torne uma convicção firme em nosso coração, o diabo terá de fugir. Efésios 6:16 confirma essa verdade: ‘embra-çando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno’.

ApocalipseO último livro da Bíblia apresenta Jesus como ‘a Fiel Testemunha’ – Ap 1:4,5 e 3:14 – e como ‘a testemunha fiel e verdadeira’, quando Ele aparece como o vencedor final, ‘Fiel e Verdadeiro’,Ap 19:11; e isso revela que Suas Palavras são sempre totalmente confiáveis – Ap 21:5 e 22:6. Todavia, não é surpresa que as pes-soas nas igrejas sejam exortadas a ser fiéis, Ap 2:10; e sejam mencionadas como fiéis, Ap 2:13 e 17:14.

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A fé está vinculada ao amor, Ap 2:19, à perseverança, Ap 13:10 e a Jesus, Ap 14:12. Se nossa fé não estiver fundamen-tada no amor, ela não é paciente e duradoura, e não é ‘a fé de Jesus’, não é a fé viva e bíblica. Não nos capacitará a vencer nos últimos dias mencionados no livro de Apocalipse.

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Parte Três

A Operação da Fé

A fé viva não opera pela ação humana ou força de vontade, mas somente pela capacitação divina. Recebemos fé de Deus e operamos em fé somente por meio da obra do Espírito Santo em nossas vidas.

A Bíblia contrasta constantemente a fé com obras – o traba-lhar de Deus com os esforços fúteis de homens e mulheres. As obras vêm pelo esforço humano, porém a fé é o dom de Deus e a obra do Espírito Santo, o Espírito de fé. Fé é simplesmente responder a Deus, o que significa que a fé não pode ser criada, desenvolvida ou usada por autoesforço carnal ou manipulação psicológica.

Como observamos no volume Conhecendo o Espírito, o Espí-rito Santo está inteiramente fora de nosso controle; Ele é o vento santo de Deus que sopra onde e como deseja. Isso significa que não há técnicas ou fórmulas ‘mágicas’ que facilitem a operação da fé, e que não há ‘leis da fé’, invisíveis ou mecânicas, que Deus deva obedecer.

Observamos que Deus estabeleceu alguns princípios de fé, mas – como todos os princípios bíblicos – Ele não está limitado a esses princípios. Deus é soberano e não está sujeito a ninguém ou a coisa alguma.

Muitos líderes ensinam sobre fé de um modo que parece su-gerir que alguns resultados acontecem automaticamente quando regras específicas são obedecidas. Porém, não podemos usar o Espírito Santo desse modo, pois é Ele quem nos usa. Qualquer um que insiste em um sistema, técnica ou fórmula mecânicos

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que alega equipar-nos com poder de fé, está pendendo perigosa-mente para o oculto e para o demoníaco.

O Espírito de féA fé bíblica surge de um relacionamento vivo e verdadeiro com o Espírito, o que já constatamos que é chamado de ‘o Espírito de fé’. A fé viva somente é possível ‘no’ ou ‘pelo’ Espírito, o que significa que nenhum não cristão – nenhum ‘incrédulo’ – tem a possibilidade de praticar a fé verdadeira.

É claro que todas as pessoas exercitam uma fé humana basea-da em experiência. Por exemplo, as pessoas praticam fé humana toda vez que se curvam para sentar em uma cadeira, se posicio-nam em uma fila, comem um prato de comida, tomam remédio, esperam um trem e assim por diante. Todavia, essas ações re-presentam a fé em uma pessoa ou objeto, não a fé no Deus vivo.

Essa ‘fé humana’ é um tipo de fé, mas não a fé viva. A con-fiança humana que colocamos em um objeto ou pessoa pode nos ajudar a experimentar seus benefícios, mas o objeto ou a pessoa não nos concede, por si próprios, a fé para experimentá-los. Esse tipo de fé é em si mesmo totalmente desprovido de poder ou ape-nas um benefício psicológico. Em contrapartida, o Deus vivo vem a nós, fala conosco, e nos dá a fé necessária para respondermos às Suas Palavras e ações.

Assim como a ‘fé humana’, existem também ‘espíritos de fé’ malignos a serviço no mundo. Eles encorajam diferentes formas de ‘fé religiosa’ que pode incluir a confiança em um deus, um livro, um espírito etc. Esse tipo de fé pode ser fraco ou pode ter um impacto psicológico, ou pode ainda ser um apego a poderes malignos.

Esse tipo errado de fé opera por meio de espíritos demoníacos – por meio de falsos ‘espíritos de fé’. É natural que eles busquem enganar crentes verdadeiros, bem como pessoas comuns, na fé falsa, por isso precisamos ser capazes de reconhecer os sinais inerentes à sua atividade.

Há muitos sinais ou ideias que nos ajudam a identificar esse tipo de fé. Por exemplo:

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PARTE TRÊS - A OPERAÇÃO DA FÉ 43

• A promessa de poder conforme solicitação• O motivo não é a questão principal • O poder é visto como uma força impessoal ou energia• Inclui a comunicação com espíritos ou guias• Poderes espirituais são acessados ou manipulados• Opera por meio de fórmulas, mecanismos e técnicas• O poder é canalizado através de objetos físicos, lugares, atos, rituais e em tempos e épocas especiais• Há uma ênfase no poder do pensamento ou da mente – na visualização, concentração e formas não-bíblicas de medita-ção• Há uma rejeição da realidade do mundo material• A criação de uma realidade pessoal por leis espirituais e poderes.Devemos evitar essa falsa fé e continuar a nos apegar somente

em Deus – o que fazemos ao viver no e com o Espírito Santo. Na medida em que vivemos em parceria com o Espírito Santo, a fé viva se desenvolve dentro de nós de forma tão real que permane-ce bem distante da fé falsa, ímpia, manipuladora e egoísta.

A palavra de féA fé viva é acreditar ativamente no Deus vivo que fala Sua Palavra com poder, autoridade e clareza. Observamos que fé pistis signi-fica ser totalmente persuadido pelo que ouvimos Deus nos dizer, e isso está bem explicado em Romanos 10:17.

A fé está totalmente envolta pela Palavra de Deus e Suas pro-messas; isso significa que a fé viva não somente vem pelo ouvir a Palavra de Deus, mas também opera dentro dos limites da Sua Palavra. Fé verdadeira não é acreditar em qualquer coisa que queremos, do jeito que queremos e quando quisermos, pois a fé verdadeira é sempre determinada e limitada pela Palavra de Deus.

Isso significa que a fé sempre começa com: ‘Deus diz’. A fé não pode operar se Deus não houver falado, pois isso é presun-ção. Muitas pessoas pensam que ‘desobediência’ é o oposto de ‘obediência’, mas precisamos perceber que presunção e desobe-

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diência’ são os dois aspectos idênticos do oposto de obediên-cia. É pecaminoso tanto o fazer o que Deus não falou quanto o não fazer o que Ele falou. Isso quer dizer que podemos pecar por agir presunçosamente em relação a algo que presumimos que Deus tenha dito, mas, na verdade, Ele não disse. E pode-mos pecar por ignorar desdenhosamente o que Ele tem dito.

A fé retira seu poder e conteúdo da Palavra de Deus, e He-breus 4:12 descreve esse poder inerente. Assim podemos ter certeza de que cada promessa de Deus carrega em si o poder de Deus que é necessário para o próprio cumprimento.

O texto de 2Coríntios 1:18-22 descreve a fidelidade de Deus – Sua fidelidade plena – e ilustra a confiabilidade intrínseca da Palavra de Deus ao declarar que todas as promessas de Deus são ‘Sim’ e ‘Amém’ porque estão em Cristo. Essa passagem in-dica que nunca devemos pensar na Palavra de Deus separada de Cristo.

Como observaremos, essa associação entre a Palavra de Deus e Jesus pode ser fundamental à nossa compreensão da ‘Palavra’.

Logos e rhemaO Novo Testamento utiliza duas palavras gregas diferentes para a ‘Palavra’, e precisamos entender sua distinção e significado. O jeito mais simples de perceber a diferença é pensar em logos como a Palavra ‘geral’ de Deus e em rhema como Sua Palavra ‘específica ou particular’. Logos e rhema sempre são usadas intercambiavelmente no Novo Testamento, e seus significados característicos nem sempre são claros em todo contexto.

Alguns líderes insinuaram que logos se refere à Bíblia, e que rhema se refere à profecia, mas as duas palavras são usadas de modos muito mais abrangentes do que esse no Novo Testa-mento. Podemos dizer, tecnicamente, que logos denota a ideia por trás de uma palavra, ao passo que rhema a descreve do modo que ela é falada ou escrita. Por exemplo, a palavra logos de ‘cadeira’ refere-se à ideia geral de todas as cadeiras – a algo em que nos sentamos, quer tenha três pernas ou quatro, seja

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de madeira, plástico ou metal; enquanto que a palavra rhema de ‘cadeira’ indica a cadeira particular da qual fizemos menção em nossa fala ou escrita.

A palavra Logos é usada em Hebreus 4:12 para deixar claro que todas as palavras de Deus são vivas e ativas; enquanto rhema é usada em Romanos 10:17 para mostrar que a fé vem do ouvir uma palavra particular de Deus. É o mesmo em Efé-sios 6.17: ‘a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus’ usa rhema para chamar a atenção para a palavra específica que o Espírito nos traz em tempos de necessidade. Podemos ‘ouvir’ essa palavra como parte de um sermão, uma mensagem profé-tica, ou em nossos espíritos. Ou ainda podemos ‘ver’ a palavra por intermédio da mensagem na Bíblia, uma visão, ou criação – como em Gênesis 15:5.

Não importa como recebemos a Palavra de Deus, ela sem-pre estará alinhada com princípios bíblicos. Analisaremos esse assunto com mais detalhes na Parte Quatro, porém por ora precisamos entender que a fé viva vem do ouvir ou ver uma palavra ‘particular’ de Deus a nós individualmente.

A fé é sempre ativada pela palavra rhema, não pela palavra logos; e a palavra logos deve se tornar rhema para a fé poder operar. A fé é o resultado da palavra específica de Deus em uma situação particular. A Palavra geral de Deus a todas as pessoas e épocas deve se tornar Sua palavra ‘particular’ a nós para a fé operar em nossas vidas, não apenas a Palavra de Deus a todos, mas a ‘Palavra de Deus para mim’. A fé opera no âmbito pessoal, não no geral – somente então podemos desfrutar os benefícios da promessa.

Ação duplaNa parábola do Semeador, em Mateus 13:1-23, a semente, ‘a Palavra de Deus’, tem de ser recebida pelo solo, ‘o coração humano’, antes que possa experimentar seus benefícios, sua ‘multiplicação’, e antes que se torne ativa. Isso corresponde à fé.

A palavra particular de Deus a nós deve ser recebida em

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nossas vidas, deve ser verdadeiramente crida, antes de poder começar a se tornar ativa – a operar e fazer que aconteçam os benefícios prometidos. Isso não significa que a fé torna a Palavra viva e ativa, pois ela já o é. Em vez disso, a fé – que recebemos de Deus – capacita a Palavra a ser viva e ativa em nossas vidas.

Esse é um exemplo maravilhoso da parceria que Deus bus-ca com seu povo. Nossa fé vem de Deus pelo ouvir e ver Sua Palavra, e então o exercício contínuo dessa fé nos capacita a experimentar Sua Palavra. Vemos essa ação dupla da Palavra – trazendo fé e sendo ativada por essa fé – em passagens como 1Tessalonicenses 1:5, 6 e 2:13.

A confissão de féJá observamos que fé e confissão são inseparáveis, e percebe-mos que simplesmente jamais pode haver fé verdadeira sem al-guma forma de confissão. Passagens como Romanos 10:8-10; Salmo 19:14 e Josué 1:8 ilustram essa importante verdade.

A palavra grega homologeo é traduzida no Novo Testamento como ‘confessar’ que é derivada de homo, ‘mesmo’, e lego, ‘fa-lar’, e significa literalmente ‘falar a mesma coisa’. Logo, quando confessamos a palavra da fé, estamos dizendo exatamente a mesma coisa que a Palavra de Deus. Todavia, a confissão ver-dadeira não é apenas declarar-se a favor da verdade e não agir na prática, a confissão verdadeira é falar dos nossos ‘corações’. Mateus 15.8 revela o que Deus pensa a respeito das pessoas que repetem a Palavra, ou fazem confissão vazia, sem nela crer profundamente e sem confiar completamente.

A confissão de fé da Palavra está baseada no ensinamento bíblico sobre o ‘coração’ de homens e mulheres. Nas Escrituras, a frase ‘o coração’ não se refere ao órgão que bomba sangue pelo corpo humano; em vez disso, é uma referência poética à essência de uma pessoa, à pessoa interior. Observamos isso em Provérbios 4:23; 23:7 e 27:9.

A Bíblia ensina que o coração, a verdade interior, transborda para a boca humana. Mateus 12:33-37 mostra que indepen-

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dente do que nossos corações estejam cheios, irá transbordar automaticamente para nossas bocas. Se nossos corações – a vida interior – estiverem cheios de fé, transbordarão para nos-sas bocas, em nossas palavras. Falaremos naturalmente pa-lavras de fé e pensamentos de fé, e nosso discurso refletirá a atitude de fé que predomina em nossos corações.

Esse princípio de confissão do coração é tão importante que em Mateus 12:37 Jesus diz que seremos julgados por nossas palavras, pois elas refletem precisamente a condição de nossas vidas interiores, de nosso coração. Isso obedece ao princípio da criação das ‘árvores e frutos’ que permeia todo o Novo Tes-tamento. Uma árvore boa dá frutos bons, e uma árvore má dá maus frutos ou não dá frutos. Se nossos corações estiverem cheios de fé, nossos pensamentos, palavras, atitudes e feitos serão coerentes com nossa fé. O que pensamos, dizemos e fazemos sempre está baseado no que acreditamos ‘profunda-mente’ em nossos corações.

Confissão vaziaO princípio do ‘coração’ demonstra a futilidade de tentar trans-formar a confissão em um tipo de ‘técnica de fé’. Podemos con-fessar uma verdade para sempre com nossos lábios, mas em nada resultará se ela não estiver em nossos corações.

Embora a confissão seja uma parte essencial da fé, devemos lembrar que ela não gera fé. Essa distinção se torna particu-larmente evidente em Romanos 10:9, 10. Se a fé realmente existe em nossas vidas, ela deve ser falada – pois a fé não pode operar sem confissão. Observamos esse princípio na prática em Mateus 4:4-10.

A verdadeira confissão não é simplesmente um acordo in-telectual ou verbal com a Palavra, é algo que surge de uma convicção interior de que Deus falou direta e especificamente a nós – e que Sua Palavra não pode falhar.

Algumas pessoas descobrem que falar da Palavra, meditar e orar sobre ela sempre leva a uma liberação da fé. Todavia, não

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se trata de fé criada pela confissão, mas sim do processo inicial de buscar ao Senhor, esperando que Ele nos fale, abrindo nos-sos corações para receber a palavra de fé, e cumprindo nossa responsabilidade de ouvi-Lo. Devemos evitar a ideia equivoca-da de que a simples repetição de versículos bíblicos é igual a operar em fé. O texto de 2Coríntios 4:13 mostra que cremos e depois falamos; não falamos para que creiamos.

As ações de féJá observamos que a fé viva é uma fé ativa que produz resul-tados verbais e visíveis. A fé autêntica tanto é vista em ações quanto ouvida em palavras. O que fazemos revela o que cremos tanto quanto o que dizemos; trata-se mais uma vez do princípio da ‘árvore e frutos’.

Fé e ação obediente estão intimamente relacionadas. Fé sem obediência à palavra ouvida não é uma fé autêntica naquela palavra; e obediência sem fé é legalismo. Hebreus 11:6 revela que não podemos agradar a Deus sem fé; logo, para agradar a Deus nossa obediência deve vir de um coração crente.

Hebreus 11 é chamado de ‘galeria dos heróis’ da fé. Sem exceção, cada pessoa mencionada nesse capítulo é descrita como quem demonstra grandes feitos que foram executados em fé. É simplesmente impossível que a fé viva seja secreta e não revelada em ações de fé.

A fé viva afeta a forma que vivemos; determina nossas esco-lhas e ações; estabelece o curso de nossas vidas. A fé viva foi o que distinguiu os heróis de Hebreus 11 de seus contemporâ-neos incrédulos.

A leitura minuciosa de Hebreus 11 deve ser suficiente para nos convencer que Tiago 2:17-20 está correto ao declarar que a fé sem ação é morta. Observamos que Tiago não está falando sobre as obras da Lei, ou boas ações, como a base para ganhar a aceitação de Deus. Em vez disso, ele está falando a respeito do tipo de ações que acompanham a fé viva, autêntica, e está enfatizando o elo vital entre fé e ações.

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Fé e ação operam juntasFé e ações, assim como fé e confissão, são uma parceria indis-solúvel. Nenhuma pode operar sem a outra. Sozinha a fé não produz nada – é morta e inerte; na realidade, não é fé viva. Para ser fé viva deve estar acompanhada por ações de fé. Isso significa que a fé nunca é uma questão religiosa, passiva; é sempre ativa.

Todavia, assim como a fé sem obras é morta, assim também as obras sem fé são sem sentido e fúteis. As ações sem fé não realizam nada – elas não passam de autoesforço humano car-nal que não pode produzir coisa alguma com valor eterno.

A fé é concluída pela açãoMuitos líderes pensam que fé significa crer em Deus e então recostar e não fazer nada exceto orar. Todavia, a fé nunca opera dessa forma. Junto à fé há sempre uma ação correspondente que deve acompanhar a crença em Deus e a confissão de Sua Palavra.

Tiago 2:2 mostra que a fé é concluída pelas obras. O verbo grego teleioo, ‘tornar perfeito’, significa ‘trazer ao fim pela con-clusão ou acabamento’, e seu uso prova que a fé é incompleta sem obras.

Tiago 2:21-23 declara que Abraão foi considerado justo quando ofereceu seu filho. O versículo citado em Tiago 2:23, Gênesis 15:6, foi dito por Deus muitos anos antes do sacrifício de Isaque, e foi a resposta de Deus à fé que Abraão tinha no fato de que a Palavra de Deus em Gênesis 15.5 seria cumprida.

Como observaremos na Parte Dez, a ação de Abraão em Gênesis 22 foi um teste específico de sua fé mencionada em Gênesis 15:6 – daí a declaração em Tiago 2:23 que a Palavra se cumpriu quando Abraão ofereceu Isaque sobre o altar.

A fé de Abraão descrita em Gênesis 15:5, desenvolveu-se durante a concepção, nascimento e infância de Isaque; porém foi concluída ou finalizada quando Abraão fez o que Deus lhe mandou em Gênesis 22:2. Suas obras concluíram sua fé, e ele foi chamado de ‘um amigo de Deus’. Sem ações, nossa fé

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permanecerá mera teoria, será apenas uma ideia intelectual ou um sonho vazio.

A ação deve ser adequada à féA ação de fé não é fazer tudo que vem à nossa mente; é realizar uma ação adequada que corresponda à manifestação específica de fé na Palavra. Podemos dizer que toda palavra de fé tem uma respectiva confissão de fé e uma respectiva ação de fé.

Em Tiago 2:15, é fácil observar qual é a ação adequada que corresponde à fé. Se a fé for fé viva, a confissão de fé: ‘Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos’, corresponderá à ação de fé ade-quada do dar sacrificial de recursos pessoais. Podemos ver essa combinação de ações com confissão, crença e com o ouvir a Palavra em passagens como Josué 3:14-17; Mateus 12:13; 14:28-30; Lucas 17:13, 14; João 9:6, 7; Atos 9;34; 1Tessalo-nicenses 5:18 e Hebreus 11:17-19.

A prova da fé A prova é parte integral do modo que a fé opera, pois a fé deve ser provada se quiser triunfar. Observamos isso na história de Abraão; e Jesus sempre provou a fé do povo que vinha a Ele, a fim de garantir que estivessem prontos para receber a promessa. Pode-se observar isso, por exemplo, em João 4:46-53; 11:6, 32, 40 e Mateus 15:22-28.

Tiago 1:2-4 mostra que se apegar às promessas e bondade de Deus durante as épocas de sofrimento é um dos nossos maio-res desafios de fé. Em 1Pedro 1:6, 7 observamos que a prova ferrenha tanto estabelece a autenticidade de nossa fé quanto a refina. A prova comprova se estamos crendo na substância ou na ‘aparência’, se estamos confiando em Deus ou nas circuns-tâncias.

A prova avalia nossa vontade de permanecer firme na Palavra de Deus a nós quando essa palavra não parece ser eficaz em nossa situação. Isso quer dizer que a prova tem como alvo a pa-lavra, e que perseverar em fé significa se apegar a Deus e a Sua Palavra, quaisquer que sejam as circunstâncias.

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PARTE TRÊS - A OPERAÇÃO DA FÉ 51

Parece que a prova vem de duas maneiras:• Por meio de demoras perceptíveis • Por meio de contradições perceptíveis.

DemorasHabacuque 2:3 mostra que a visão de Deus, a Sua Palavra, será cumprida; mas que – do ponto de vista humano – pode demorar e talvez tenhamos de esperar. Como observamos em João 11, essas demoras aparentes são divinamente propostas para provar a nossa fé.

O mesmo se dá em Hebreus 10:35-37; a promessa de Deus vem após termos resistido. A Bíblia enfatiza constantemente que Deus quer desenvolver paciência e persistência em nós, e estu-daremos isso na Parte Dez da série Espada do Espírito volume Oração Eficaz e na Parte Seis do Ministério no Espírito.

Pode haver vezes em que a demora aconteça por causa das forças opositoras do diabo, como em Daniel 10, mas o princípio de ‘confiar na Palavra de Deus e resistir até que a promessa seja concretizada’ ainda se aplica. Estudamos isso na Parte Sete do volume Oração Eficaz e na Parte Dez do Ministério no Espírito.

ContradiçõesVez ou outra a aparência de uma situação parece contradizer a essência da situação que fora revelada pela Palavra de Deus. Isso leva algumas pessoas à crise de confiança, outras à confu-são teológica e ainda outras mais a uma rejeição da aparência. Deus, contudo, quer de fato provar e amadurecer a nossa fé de forma que entendamos verdadeiramente o que está ocorrendo no reino espiritual.

Como observamos na Parte Sete do Ministério no Espírito, Satanás nos tenta constantemente a duvidar da Palavra e da bondade de Deus. Ele se deleita em apontar as contradições com o objetivo de nos fazer duvidar de Deus e culpá-lo pelas dificuldades.

Todavia, assim como com as aparentes demoras, somos sim-plesmente chamados à perseverança paciente e a uma devoção

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inteligente e lógica à Palavra de Deus, que desenvolva a fé. Se Deus tem falado, podemos ter certeza de que a Sua Palavra será cumprida. Essa é a realidade, não importa o que as demoras e contradições possam insinuar aparentemente.

Já observamos que a fé refere-se a questões invisíveis, não experimentadas, portanto, devemos perceber que as demoras e contradições são, por definição, parte integral da operação da fé. Se nunca houvesse demoras, nunca necessitaríamos de fé.

Na realidade, todas as provas de fé são parte do processo ordenado por Deus para desenvolver a nossa fé e trazê-la à ma-turidade de forma que possamos receber o que Ele prometeu. Sem essas provas nosso jeito de ser não cresce e se torna ca-paz de carregar a bênção prometida. A fé nunca deve ser vista como bênçãos instantâneas ‘conforme solicitação’. Esse espírito de ‘exigência impertinente’ tem a ver com imaturidade infantil, e não é fé autêntica. Somente a fé provada é uma fé triunfante!

Fé e fatosA fé viva não ignora fatos ou a verdade; ela reconhece que são realidades, mas sabe que eles não são o final da história. Por exemplo, Abraão reconheceu que tinha quase cem anos e que sua esposa era estéril e já passara havia muito da idade de gerar filhos. Todavia, Abraão também sabia que Deus professara Sua Palavra e que ele seria o Pai de muitas nações.

A prova da fé é simplesmente se continuaremos a crer na Palavra de Deus quando os fatos, do modo que os vemos, não a testifica. Pela fé, Abraão passou na prova – e seguiu crendo, confessando e agindo de acordo com a Palavra de Deus.

Em Gênesis 17:1, Deus apresentou-se a Abraão como El Shaddai. Algumas versões da Bíblia traduzem essa frase como ‘Deus Poderoso’, enquanto outras a interpretam como ‘O Deus da Montanha’, porém elas não refletem o pleno significado desse nome.

Não é possível saber o significado original de shaddai, ou sua derivação. Muitos mestres pensam que se deriva da pala-vra Acadiana sadu para ‘montanha’, e usam isso para justificar

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PARTE TRÊS - A OPERAÇÃO DA FÉ 53

‘Poderoso’. Outros, porém, sustentam que ela se deriva da pa-lavra Aramaica para ‘emanar’; enquanto alguns apontam para a semelhança de shaddai com a palavra Hebraica para ‘peito’. Ainda, outros têm dito que shaddai pode se relacionar à raiz He-braica primitiva shadad que significa ‘lidar violentamente com’, ‘espoliar’, ‘devastar’, ‘arruinar’, ‘destruir’, ou ‘estragar’. Isso sig-nificaria o Deus que é manifestado pela terribilidade de seus atos poderosos.

A Septuaginta – a versão grega do Antigo Testamento – tradu-ziu El Shaddai como ‘o suficiente’, e isso faz um sentido tremen-do quando percebemos que quase sempre se usa El Shaddai, no Antigo Testamento, no contexto da provisão da aliança fantástica de Deus.

Conforme mostra o volume Conhecendo o Pai, o nome divino El Shaddai é sempre usado no contexto de Deus prover filhos, alimento ou sabedoria. A questão singular para Abraão, para a maioria dos patriarcas, para Jó, em Jó 33:4, e Noemi, em Rute 1:20,21, era se eles confiariam que o El Shaddai proveria suas necessidades quando as circunstâncias pareciam insistir que Ele não estava fazendo jus ao Seu nome de ‘provedor de tudo’.

Os fatos diante de nós podem, às vezes, parecer cruéis, mas deveriam esvair-se na insignificância ao serem colocados diante das palavras gloriosas, porém de prova, do El Shaddai. Se Ele prometeu prover algo, podemos descansar seguros de que Sua Palavra será cumprida. Nossa fé está repousando sobre Seu ca-ráter indubitável, comprovado e imutável.

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Parte Quatro

O Fundamento da Fé

Observamos que a fé vem do ouvir uma palavra específica e particular vinda de Deus, e que a fé está intimamente ligada à Sua Palavra. Portanto, precisamos ter certeza de que entende-mos o que as Escrituras querem dizer com ‘Palavra de Deus’.

DabarA palavra hebraica dabar é usada quase 400 vezes no Antigo Testamento para descrever ‘a Palavra’ de Deus. Dabar significa quase sempre uma mensagem falada de Deus para homens e mulheres na forma de um mandamento, profecia, advertência e encorajamento. Dabar se refere à Palavra de Deus escrita apenas no Salmo 119, onde é usada como sinônimo de ‘a Lei’, para os cinco primeiros livros do Antigo Testamento.

Dabar significa literalmente ‘aquilo que está por trás’, e quando é traduzida como ‘Palavra’, aponta para ‘um som sig-nificativo que revela o quer que esteja por trás dele próprio’. Devemos entender que essa ‘auto-revelação’ constitui a essên-cia do ensinamento bíblico sobre a Palavra de Deus’.

No pensamento hebraico, a dabar de uma pessoa – sua Palavra – era considerada como uma extensão de sua perso-nalidade e também como tendo uma existência real em si mes-ma. Então podemos dizer que no Antigo Testamento, a Palavra de Deus era Sua auto-revelação por intermédio dos profetas que – quando proferida – passava a existir por si mesma para sempre.

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Auto-revelação Estamos tão acostumados atualmente a nos referirmos à Bíblia como ‘a Palavra de Deus’, que temos a tendência de pensar na ‘Palavra’ apenas como algo separado e independente de Deus. Temos de reconhecer que ‘a Palavra’ também é um aspecto do caráter e personalidade de Deus.

Podemos observar esse elemento dual de forma especial-mente clara em Provérbios 8 e 9. A Sabedoria de Deus é o po-der criativo de Deus e parte fundamental de seu caráter divino; contudo, em Provérbios 8:22-30, a ‘Sabedoria’ também é clara-mente apresentada como sendo distinta de Deus de certo modo.

A Palavra de Deus e a Sabedoria de Deus são quase sinôni-mos, pois ambas são auto-revelações e se cumprem em Jesus – que é a suprema auto-revelação de Deus, é eternamente parte do Deus Trino, e, não obstante, também é bem distinto do Pai.

A única diferença entre ‘a Palavra’ e ‘a Sabedoria’ é que há um elemento falado intrínseco na ideia da ‘Palavra’ que não está presente na ‘sabedoria’. Podemos dizer que a Palavra de Deus revela a sabedoria de Deus – assim como Jesus aparece no Evangelho de João como ‘o Verbo’ que cumpre perfeitamente as passagens de ‘sabedoria’ de Provérbios 8 e 9.

Quando pensamos na Palavra em termos de auto-revelação, podemos perceber por que a Palavra de Deus está sempre re-vestida com a Sua autoridade e deve ser obedecida – como em Salmos 103:20 e Deuteronômio 12:32. Isaías 40:8 mostra que, como Deus, a Palavra é eterna; Isaías 55:11 declara que a Palavra de Deus não pode voltar vazia uma vez que seja pro-ferida; e 1Pedro 1:23-25 revela sua natureza viva, incorruptível e eterna.

Dabar é geralmente traduzida como parte da expressão: ‘a Palavra do Senhor veio a’. Repito, estamos tão acostumados a pensar na Bíblia como a Palavra que sempre falamos em ‘ir à Palavra’ e ‘voltar-se à Palavra’. Contudo, a ênfase bíblica é sem-pre que a Palavra volta-se a nós e que a Palavra vem a nós. A iniciativa parte sempre de Deus, Ele sopra Sua palavra a nós, e a vinda da Palavra e sabedoria de Deus é sempre uma revelação

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dinâmica, ativa, natural. Não há nada estático acerca da Palavra de Deus.

Percebemos que há uma associação bíblica comum entre a Palavra e o Espírito: deveríamos ser capazes de entender que isso ocorre porque a Palavra de Deus flui de Sua boca no Seu respirar – a Palavra é soprada , ela é expirada pelo, no e por meio do Espírito.

LogosNo Antigo Testamento, dabar é usada tanto para descrever mensagens simples de Deus para um povo específico quan-to para descrever todo o conteúdo de Sua auto-revelação total. Já observamos que duas palavras gregas são usadas no Novo Testamento para esses aspectos idênticos da ‘Palavra’ de Deus: rhema denota palavras ‘particulares’ de Deus, e logos refere-se à revelação completa ou ‘geral’ de Deus.

Na versão grega do Antigo Testamento, a Septuaginta, logos é sempre usada para traduzir dabar; e esse senso de uma plena auto-revelação divina é levado ao Novo Testamento onde logos também é usada como um título de Jesus – que é a perfeita au-to-revelação de Deus, enquanto é também muito distinto do Pai.

JesusJesus é revelado como ‘o logos de Deus’ em João 1:1-18; 1João 1:1, 2; 5:7 e Apocalipse 19:13. Prosseguindo a partir das ideias que constatamos serem intrínsecas a dabar, isso aponta imedia-tamente para:

• A personalidade distinta de Jesus• Seu relacionamento com Deus dentro da Trindade• Seu poder criativo e autoridade singular• Seu cumprimento das 400 passagens da ‘palavra’ no An-tigo Testamento.Depois de entendermos firmemente que Jesus é ‘a Palavra

de Deus’ – a auto-revelação distinta e total de Deus – podemos começar a pensar sobre a relação entre ‘fé’ e ‘a Palavra’ de uma forma mais bíblica. Quando dizemos que a fé viva vem pelo ou-

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vir ou ver a Palavra – e que isso implica em crer, ver, confessar e agir na Palavra – estamos dizendo na verdade que a fé vem pelo receber Jesus e que isso significa crer em Jesus, confessar Jesus e agir com Jesus.

A fé não é uma ideia acadêmica e chata que é apenas uma opção para pessoas letradas, estudadas, com entendimento in-telectual das Escrituras. É um relacionamento vivo com Jesus – que envolve apegar-se a Ele, ouvi-Lo, e viver e servir com Ele – o que está aberto a todas as pessoas, independente da formação e intelecto.

Isso não significa que as Escrituras não sejam importantes – longe disso. Todavia não devemos esquecer que a ênfase bíblica da fé é que ela vem mais do ouvir em nossos corações do que do ler com nossas mentes; que está mais centrada sobre a pes-soa de Jesus do que nas simples palavras bíblicas; e que ela é um apegar-se ao Deus vivo mais que um simples entendimento complexo da Bíblia.

É possível ler a Bíblia apenas com a ajuda de nossas mentes humanas e estudá-la apenas com nossos intelectos pessoais. Muitas pessoas fazem assim e professam que por meio disso co-nhecem a Palavra de Deus. Porém, somente podemos ‘ouvir’ ou ‘ver’ verdadeiramente a Palavra de Deus com a ajuda do Espírito.

Já observamos que a Palavra vem a nós no sopro de Deus, e que não podemos separar a Palavra do Espírito. Todos os crentes devem estudar as Escrituras, mas somente ‘vemos’ a Palavra de Deus pelo nosso estudo quando o Espírito a vivifica em nossos espíritos.

Muito ensinamento bíblico sobre ‘a Palavra’ está fundamen-tado no Salmo 119. Esse Salmo magnífico ilustra a importância da Palavra escrita, mas não devemos esquecer que o propósito da ‘Palavra’ nesse salmo é que devemos recebê-la em nossos corações como a revelação falada, viva de Deus.

Isso significa que nosso entendimento da ‘Palavra’ deve in-cluir as Escrituras, mas não deve restringir-se a elas, e que o nosso entendimento do ‘receber’ deve incluir ‘ler’, mas deve ir além disso e incluir o ‘compreender’, ‘ouvir’ e ‘ver’. As Escrituras

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são um elemento muito especial dentro da Palavra de Deus, mas são importantes porque nos apontam para Jesus – para aquele que é ‘a Palavra’.

Outros usosNo Novo Testamento, logos não aponta somente para Jesus, mas também usa-se das maneiras a seguir para descrever:

• Uma ideia falada – Lucas 7:7; 1Coríntios 14:9 e 19• Uma declaração da parte de Deus – João 15:25; Romanos 9:9;Gálatas 5:14 e Hebreus 4:12• Uma declaração da parte de Cristo – Mateus 24:35; João 2:22; 4.41; 14:23 e 15:20• Instrução espiritual falada – Atos 2:40; 10:36; 1Coríntios 2:13; 12:8; 2Coríntios 1:18; 1Tessalonicenses 1:5; 2Tessa-lonicenses 2:15 e Hebreus 6:1• Doutrina espiritual – Mateus 13.20; Colossenses 3:16; 1Timóteo 4:6; 2Timóteo 1:13; Tito 1:9 e 1João 2:7.A frase ‘a logos do Senhor’ é sempre usada no Novo Testa-

mento para descrever a vontade revelada de Deus de maneira muito semelhante a que a frase ‘a Palavra de Deus’ é usada no Antigo Testamento. Essa frase é usada para descrever:

• Uma revelação direta de Jesus – 1Tessalonicenses 4:15• Uma mensagem do Senhor, proferida com Sua autoridade e tornada eficaz por Seu poder – Atos 8:25; 13:49; 15:35, 36; 16:32; 19:10; 1Tessalonicenses 1:8 e 2Tessalonicenses 3:1• As boas novas ou ‘evangelho’ sobre Jesus – Atos 13.26; 14:3; 15:7; 1Coríntios 1:18; 2 Coríntios 2:17; 4:2; 5:19; 6:7; Gálatas 6:6; Efésios 1:13; Filipenses 2:16; Colossenses 1:5 e Hebreus 5:13.• A soma das falas de Deus – Marcos 7:13 e João 10:35.

O EvangelhoQuando logos descreve as ‘boas novas’ ou mensagem do Evan-gelho, ela é usada na totalidade – como em ‘pregar a Palavra’, Atos 11:19; 14:25 e 16:6. Porém é usada também descritiva-mente, por exemplo:

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• A Palavra de Deus – Atos 4:31 e 13:5• A Palavra de Cristo – Colossenses 3:16• A Palavra da cruz – 1Coríntios 1:18• A Palavra da vida – Filipenses 2:16• A Palavra da reconciliação – 2Coríntios 5:19• A Palavra da salvação – Atos 13:26• A Palavra da verdade – 2Coríntios 6:7 e Efésios 1:13• A Palavra da justificação – Hebreus 5:13.Essas frases mostram que no Novo Testamento, a história

do Evangelho é basicamente a apresentação do próprio Jesus: Ele é a Palavra que é pregada na total dependência do poder do Espírito. Na realidade, podemos dizer que na igreja primitiva, ‘a Palavra’ sempre significava uma mensagem auto-reveladora da parte de Deus, em Cristo, por intermédio do Espírito. Tinha de ser pregada e ministrada com a ajuda do Espírito – e obedecida por aqueles que a ouviam – como se a Palavra falada fosse o próprio Cristo.

RhemaObservamos que rhema aponta para uma Palavra específica de Deus, como em oposição à totalidade geral da Palavra de Deus representada por logos. Podemos perceber isso, por exemplo, em Mateus 26:75 onde Pedro não lembrou as Palavras gerais de Jesus, ele lembrou a mensagem específica para ele: ‘Antes que o galo cante, tu me negarás três vezes’.

Quando entendemos que Jesus é o logos de Deus, não fi-camos surpresos ao perceber que Romanos 10:17 se refere à rhema de Deus e não ao logos de Deus. A rhema de Deus não é algo diferente do logos de Deus, mas um aspecto dele. Por uma palavra rhema, Deus enfatiza um elemento dentro de Seu logos – a ‘palavra’ que nesse caso, é Sua mensagem direta que concede salvação àqueles que a ouvem.

Temos notado que há mais de 300 nomes e títulos de Deus no Antigo Testamento. Iavé, ‘Sou o que sou’ ou ‘Serei o que serei’ é o nome pessoal geral de Deus que descreve a totalidade de Sua natureza e aparece 6.828 vezes no Antigo Testamento; mas

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Iavé – ou Jeová – sempre é qualificado por um aspecto particular de Sua natureza – por exemplo:

Jeová-Jiré – o Senhor que provê, Gênesis 22:14.Jeová-Rafa – o Senhor que sara, Êxodo 15:26Jeová-Nissi – O Senhor é a nossa bandeira, Êxodo 17:15Jeová Mequedesh – o Senhor que santifica, Êxodo 31:13Jeová-Shalom – o Senhor é a nossa paz, Juízes 6:24Jeová-Sabaote – o Senhor dos exércitos, 1Samuel 1:3Jeová Rohi – o Senhor é o nosso pastor [ou guia], Salmo 23:1Jeová Tsidquenu – O Senhor justiça nossa, Jeremias 23:6Jeová-Sama – o Senhor está ali, Ezequiel 48:35.Esses nomes não descrevem – cada um – um nome distinto

de Deus, eles enfatizam o aspecto específico do caráter de Deus que é relevante para uma situação específica. Podemos pensar em Iavé como sendo mais como o logos de Deus, e os outros 300 nomes como sendo a rhema de Deus: vemos esse elo entre a Palavra e o nome de Deus em Salmos 138:2.

Cada um dos nomes e títulos de Deus é totalmente coerente com Seu caráter pleno. Quando Ele age, por exemplo, como Jeo-vá Rafa, Ele está agindo coerentemente com Seu caráter como Jeová-Shalom, Jeová-Rohi, Jeová-Jire, Jeová-Sama e etc.

É o mesmo com a rhema de Deus. Por definição, toda palavra de Deus sempre é totalmente coerente com o logos auto-revela-dor e com toda rhema de Deus.

Isso significa que toda mensagem individual de Deus, todo mandamento, profecia, promessa, mover e etc. é, por natureza, sempre plenamente coerente com todo o logos de Deus, e tam-bém com toda palavra rhema de Deus que já foi proferida.

Isso mostra o quanto é importante fazer prova de tudo que as pessoas declaram como palavra de Deus – e mostra que não é tão difícil fazer prova dessas palavras. Se toda Palavra rhema autêntica é uma auto-revelação de Deus, significa que toda pa-lavra deve ser coerente com tudo que conhecemos sobre Deus, tudo que conhecemos sobre Jesus, e com toda a revelação das Escrituras.

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Quando Deus, pelo Espírito, sopra ou fala Sua palavra rhema a nós, é como se Ele usasse uma ‘caneta marca texto divina’. Por Sua palavra rhema, Deus realça um aspecto da Palavra logos e revela Sua Palavra ‘agora’.

Vemos exemplos de uma palavra rhema em: Mateus 4:4; 26:75; Marcos 14:72; Lucas 1:38; 2:29; 3:2; 5:5; 24:8; João 5:47; 6:63; 8:20; 8:47; 12:47,48; 14:10; 15:7; 17:8; Atos 2:14; 10:37; 11:16; Romanos 10:8,17,18; Efésios 6:17; 1Pe-dro 1:25; Judas 1:17 e Apocalipse 17:17.

A Palavra de DeusSabendo que a Palavra de Deus, a Bíblia, é o fundamento da fé, não deveríamos nos surpreender com o fato de que o ensina-mento bíblico sobre a Palavra seja especialmente rico e variado. Seriam necessários diversos livros para estudar todo o material bíblico sobre a Palavra de Deus, e levaria toda a eternidade para explorarmos e experimentarmos toda a extensão da Palavra. Po-demos, contudo, formar uma visão geral que nos ajude a enten-der a forma que a Palavra opera – e como abordá-la e recebê-la com reverência e entusiasmo.

A integridade da Palavra de DeusEmbora 2Timóteo 3:16–17 não utilize a frase ‘Palavra de Deus’, o texto revela que as Escrituras são a Palavra de Deus ao des-crever sua inspiração e autoridade singular. A palavra grega the-opneustos significa ‘Deus soprou’ – expirou em vez de inspirou – e essa é a única vez que é usada no Novo Testamento. Essa palavra nos mostra que as Escrituras são de alguma forma espe-cial, expiradas exclusivamente pelo sopro de Deus, pelo Espírito.

Passagens como o Salmo 33:6 e 2Pedro 1:19-21 salientam a verdade que a Palavra de Deus sempre vem pelo Espírito, pelo sopro de Deus. Também salientam o fato de que, devido a Pala-vra ser soprada por Deus, Ela é a Palavra de Deus de fato – é ‘o sopro de Seus lábios’.

Mais importante ainda, ao usar o tempo presente – ‘é sopra-da por Deus’ em vez de ‘foi soprada por Deus’ – 2Timóteo 3:16

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mostra que as Escrituras não foram simplesmente sopradas de modo completo e suficiente quando foram escritas pela primeira vez, ou quando foram reunidas. Em vez disso, as Escrituras ain-da estão sendo sopradas por Deus a nós hoje pelo Espírito.

Isso significa que toda a Bíblia é um livro para uma fé viva, e não apenas um documento histórico para minuciosa análise acadêmica. Naturalmente devemos reconhecer que 2Timóteo 3:16–17 refere-se apenas ao Antigo Testamento, pois o Novo Testamento ainda não havia sido escrito. Porém, esse ensina-mento se aplica a toda a Bíblia, o Novo e o Antigo Testamento.

O texto de 2Timóteo 3:16–17 também aponta para o princí-pio de que a fé viva é construída sobre o fundamento da Palavra e inclui obras ao mostrar que toda a Escritura – não apenas algumas passagens privilegiadas – deve nos equipar para toda boa obra.

Observamos que o Salmo 119 é a única passagem do Anti-go Testamento a se referir, como 2Timóteo 3:16–17, à Palavra escrita de Deus. O versículo 89 deixa claro que a Palavra escrita de Deus é eterna, e o versículo 160 enfatiza que isso é verdade.

Em Lucas 21:33, Jesus promete que Suas palavras logos – a totalidade das palavras de Cristo – nunca passarão. Isso nos mostra que Suas palavras são eternas e imutáveis, mas tam-bém nos aponta ao Novo Testamento – pois é por meio do Novo Testamento que Suas palavras têm sido preservadas por todo o tempo.

O Novo TestamentoNo primeiro século, após a ressurreição de Cristo, muitos ho-mens com antecedentes amplamente diferentes escreveram a história de Jesus como a entenderam. Basearam a tarefa na pró-pria memória, no testemunho ocular, na tradição oral, nos regis-tros de outras pessoas e – em alguns casos – em sua imaginação santificada.

Os documentos que chamamos de Mateus, Marcos, Lucas e João não eram os únicos registros da vida de Jesus a circular entre os crentes, mas eram sempre preeminentes. Muitos estu-

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diosos creem que houve um espaço de menos de uma geração entre o Pentecostes e a escrita do primeiro Evangelho, e que a maioria das cartas de Paulo foi escrita antes dos Evangelhos. Parece que o Evangelho de João foi o último a ser escrito, e num prazo de poucas décadas um cristão desconhecido havia juntado os quatro Evangelhos e começado a circulá-los como uma cole-tânea de quatro Evangelhos.

Por volta do ano 150 d.C, os quatro Evangelhos haviam sido amplamente aceitos como registros oficiais da vida, ensinamen-to e morte de Cristo, mas levaram mais cem anos para serem formalmente reconhecidos como os únicos registros oficiais. An-tes do final do segundo século, igrejas em diferentes partes do mundo começaram a juntar os escritos dos cristãos do primeiro século. Primeiro, houve muito desacordo quanto a algumas car-tas, especialmente a de Tiago, Hebreus e Apocalipse; mas houve acordo total quanto a Mateus, Marcos e Lucas, e acordo geral quanto à carta de João.

A tarefa da igreja era discernir quais escritos deveriam ser re-conhecidos como aqueles que portavam a autoridade das Escri-turas. E um Evangelho ou carta era considerado apenas quando havia indícios importantes de que fora escrito por um apóstolo ou por um membro do círculo apostólico.

Durante o terceiro século, Eusébio, um líder eclesiástico da época, sintetizou a opinião cristã ao dividir os escritos cristãos em três categorias: aqueles que eram ‘espúrios’, aqueles que eram ‘descordados’ e aqueles que eram ‘reconhecidos’.

O Novo Testamento foi finalmente fixado em 367 d.C. pela Igreja Oriental, na trigésima nona carta Pascal de Atanásio; e em 397 d.C. pela Igreja Ocidental, no concílio de Cartago. As duas igrejas concordaram que os 27 livros, conhecidos atualmente como o Novo Testamento, deveriam ser reconhecidos como a Palavra de Deus – como a Escritura inspirada, eternamente imu-tável e completamente peremptória.

É essencial reconhecer que o cânon (isto é, os livros que te-mos na Bíblia) foi determinado por Deus. A autoridade de cada livro foi estabelecida por Deus e simplesmente descoberta pelos

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líderes da igreja primitiva. Contudo, temos um eterno débito de gratidão para com os líderes da igreja primitiva que oraram, es-tudaram e fizeram prova das palavras dos homens para definir quais escritos portavam a autoridade divina como Palavra de Deus. Por meio de sua fé, diligência e abertura ao Espírito, as palavras de Jesus nunca irão de fato passar.

O poder da PalavraTemos reconhecido que o Espírito e a Palavra trabalham juntos e que as palavras de Deus são sopradas e realizadas por inter-médio do Espírito. Exemplos disso são vistos em Gênesis 1:1-3; Salmos 33:6-9; João 6:63 e 2Timóteo 3:16.

Quando Deus sopra Sua Palavra, ela é uma expressão Dele mesmo e está investida de Seu poder e autoridade; portanto, não falhará em cumprir o seu propósito. O que Deus fala acontecerá. Percebemos o poder divino intrínseco da Palavra em 2Crônicas 6:14, 15; Isaías 55:10, 11 e Romanos 4:18-21.

Hebreus 4:12 é um versículo famoso que descreve a Palavra de Deus como viva, ativa e mais afiada que qualquer espada. Isso ensina que a Palavra é tão poderosa que opera uma obra interior e espiritual em nossas vidas.

• A Palavra expõe nossos pensamentos e atitudes; penetra a ‘aparência’ de nosso comportamento exterior para expor a ‘realidade’ do nosso ‘coração’.• A Palavra penetra e divide, ou desnuda nossa alma e Espírito.Se quisermos que nossa fé se desenvolva, uma das coisas

mais importantes a fazer é permitir que a Palavra de Deus ultra-passe nossas almas e tenha acesso a nossos espíritos.

Muitos líderes discordam quanto às definições exatas da alma e espírito humanos. A forma mais simples de entendê-los é a seguinte:

1. Nossa ‘alma’ refere-se a nossas áreas de intelecto, vonta-de, motivação, raciocínio, entendimento, emoção, sentimento e a experiência de nossos cinco sentidos ‘naturais’.

Essas áreas da alma sempre inibem a obra de Deus. A razão, por exemplo, rejeita aquilo que não pode entender; nossas emo-

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ções e o que percebemos pelos cinco sentidos, quase sempre contradizem a Palavra de Deus. A fé não é baseada no intelec-to, emoções ou vontade humana. A verdadeira fé inclui esses elementos, mas opera fora do espírito humano inflamado pelo Espírito Santo que opera em nós.

2. Nosso ‘espírito’ refere-se à área da personalidade humana que, uma vez despertada por Deus, comunica-se com Ele.

É importante entendermos que o espírito é transracional, não irracional. Quando falamos em línguas, por exemplo, nosso espí-rito ora, mas nossa mente não entende o que está acontecendo.

Nossos espíritos estão mais ‘naturalmente’ em sintonia com a Palavra de Deus e não tão dominados pelas circunstâncias físicas quanto nossas almas. A fé viva evolui na medida em que permitimos que nossas vidas sejam controladas mais por nossos espíritos do que por nossas almas.

É natural que nossas almas e espíritos não sejam facilmente distinguíveis uma vez que juntos formam o elemento eterno de nosso ‘ser’.

É o estado de nosso espírito, contudo, que determina o desti-no eterno de nosso ‘ser’, não a condição de nossa alma.

Essa distinção ressalta que ouvir a Palavra de Deus é muito mais que simplesmente ler as Escrituras com a mente. A verdade é que podemos ler as Escrituras com nossas mentes ou ‘almas’, e não ouvirmos a Palavra de Deus, e não sermos edificados na fé e amadurecidos no espírito. Como veremos na próxima parte, a fé ouvinte inclui ler e estudar as Escrituras, mas também devemos permitir que Deus fale Sua palavra rhema a partir de Sua palavra logos, e devemos aplicá-la profundamente em nossos espíritos.

As promessas da PalavraNas gerações passadas muitas famílias cristãs possuíam uma ‘caixa de promessa’. Essa caixa continha um par de pinças e diversas promessas bíblicas, cada uma impressa num pequeno cartão. Muitas pessoas tiravam um versículo da caixa todo dia, e o julgavam ser a Palavra de Deus para elas naquele dia.

A infinita graça de Deus mostra que às vezes Ele honrava

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essas caixas e falava poderosamente às pessoas por meio das palavras que liam. Porém não é essa a forma que Deus pretende que usemos Sua Palavra.

Há muitas promessas específicas nas Escrituras, e Deus pode salientar uma para nós a cada vez – nos levando a recordá-la, por exemplo, se lermos a Bíblia toda, ou ao lermos a promessa naquela hora. Contudo, aqui é mais importante reconhecer a promessa bíblica de que toda a Palavra logos de Deus nos minis-tra de várias maneiras.

Por exemplo, a Bíblia nos ensina que a Palavra traz:• Fé – Romanos 10:17• Novo nascimento e nova vida – Tiago 1:18 e 1Pedro 1:23• Alimento espiritual – 1Pedro 2:1–2 e Mateus 4:4• Revelação e direção – Salmos 119:105 e 130• Purificação e santidade – Salmos 119:9; Efésios 5:25–27; 2Pedro 1:1-4 e João 17:17• Recompensa e bênção – Salmos 1:1-3 e 19:11• Cura – Salmos 107:20• Vitória sobre o pecado – Salmos 17:4 e 119:11• Vitória sobre Satanás – Lucas 4:4, 8, 12; Efésios 6:17; 1João 2:14 e Apocalipse 12:11• Libertação do juízo – João 5:24 e 12:47.Todas essas promessas maravilhosas a respeito dos efeitos

poderosos da Palavra de Deus são aspectos gloriosos da fé viva. Deus pode usar algum elemento de Sua Palavra – Jesus, pesso-almente no Espírito, as Escrituras ou pregação e profecia – para ministrar qualquer uma dessas promessas a nós.

Não podemos fazer nada dessas coisas para ou por nós mes-mos, em vez disso precisamos reagir à Palavra de Deus com a fé que a própria Palavra traz para receber a promessa de Deus. Em cada uma das quatro partes sub-sequentes, consideraremos os diferentes elementos de fé que nos permitem experimentar essas promessas da Palavra.

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Parte Cinco

A Fé Ouvinte

Romanos 10:17 ensina um princípio básico de fé, e demonstra que a fé vem primeiro pelo ouvir. A menos que ouçam a Palavra de Deus, as pessoas nunca acreditarão Nele e nunca terão a fé viva.

Já observamos que a fé não vem pelo esforço humano em acreditar, mas vem de Deus na medida em que Ele trabalha dentro de nós pela Palavra e pelo Espírito e nos ajuda a crer. Não importa o quão arduamente tentemos, jamais poderemos produzir fé verdadeira por nossos próprios esforços.

A fé viva começa quando ouvimos Deus falar. Esse ‘ouvir a fé’ não é uma vaga noção de que Deus falou no geral, é um re-conhecimento de que Deus falou pessoal, íntima e diretamente a nós – e assim Sua Palavra começa a operar profundamente em nós.

O processo da fé Muitos dos desacordos entre líderes quanto à natureza e à obra da fé, provêm da falha em reconhecer que a fé é um processo.

Muitos ensinamentos sobre a fé identificam um elemento dentro do processo da fé como fé verdadeira e desprezam os outros elementos. Por exemplo, as discussões inúteis sobre ‘fé’ e ‘obras’ estão amplamente baseadas na ideia de que a ‘fé cren-te’ e a ‘fé atuante’ são duas atividades distintas em vez de dois aspectos inseparáveis da fé viva.

Embora a fé viva comece com ouvir a Palavra de Deus, ela não acaba aí. A fé continua durante toda a progressão da pala-

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vra enquanto essa opera e evolui em nossas vidas – até que todo o processo de fé esteja concluído.

Cada elemento no processo de fé é um aspecto diferente de nossa resposta à palavra rhema que ouvimos de Deus; e a cada estágio do processo o Espírito Santo trabalha ativamente com a Palavra capacitando-nos a responder com fé ao propósito de Deus para as nossas vidas.

Podemos dizer que o processo de fé inclui:• Ouvir a Palavra – Romanos 10:17 revela quanta impor-tância devemos dar para o ouvir cuidadosamente a Palavra de Deus.• Crer na Palavra – Romanos 10:10 indica que crer significa receber a Palavra no profundo de nosso ser, de forma que ela se enraíze em nossos corações e influencie o todo de nossas vidas.• Confessar a Palavra – Romanos 10:9 é uma promessa importante que ilustra o modo como a fé influencia o que dizemos e nos capacita a começar a falar de acordo com a Palavra de Deus.• Realizar a Palavra – observamos que há uma ação apro-priada para cada confissão de fé a qual deve acompanhá-la e completá-la – como em Tiago 2:17-22.• Permanecer firme na Palavra – sabemos que a fé é provada por Deus a fim de ajudar a evoluir e amadurecer. Para isso precisamos permanecer firmes nas promessas da Palavra de Deus: podemos observar isso em Tiago 1:3-4 e 1Pedro 1:6-7.• Regozijar-se na Palavra – a atitude crescente de fé é re-fletida na perspectiva positiva descrita em 1Pedro 1:8. Essa atitude é caracterizada por gratidão autêntica pelo que Deus tem feito, está fazendo e fará – como em Salmos 50:14, 15, 23 e 106:12.• Perseverar na Palavra – o processo de fé é concluído quan-do continuamos a nos manter fiéis à verdade da palavra rhema de Deus até que seja cumprida, como em Hebreus 6:11–12; 10:35–36 e Tiago 1:4-7.

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PARTE CINCO - A FÉ OUVINTE 71

Ouvindo cuidadosamente a Palavra de DeusO primeiro e fundamental elemento do processo de fé é ouvir cuidadosamente a Palavra de Deus; e fazemos isso dando a Deus nossa atenção, arrumando tempo para ouvi-Lo e para ler as Escrituras.

Esse aspecto da vida cristã é explorado com detalhes no vo-lume Ouvindo a Deus, e tocamos nesse assunto quase que em todos os outros livros da série Espada do Espírito. Ouvir a Deus, ouvir a Sua Palavra, reconhecer o Seu mover, discernir as diretrizes do Espírito – não importa como a descrevemos – essa disciplina espiritual é essencial a todo aspecto de nossas vidas cristãs individuais e coletivas.

Os profetasEmbora aprendamos de todas as partes do Antigo Testamento, os profetas são particularmente importantes porque foram a mi-noria exclusiva que foi ungida com o Espírito e que ministrou no e com o Espírito. Ouvir a Deus foi a base de toda a vida e serviço dos profetas do Antigo Testamento, e os princípios que eles seguiam permanecem essenciais ao viver e servir atual de todos os crentes igualmente ungidos com o Espírito Santo.

O Antigo Testamento indica que os profetas ouviam Deus lhes falar de quatro maneiras básicas:

1. A Palavra de DeusAmós 3:8 mostra que ‘a Palavra de Deus’ tinha um impacto efi-caz sobre os profetas. Como percebemos, o Antigo Testamento insiste em que a Palavra ‘vinha para’ os profetas. Essa expressão descreve um conhecimento interno e crescente da mensagem de Deus que se desenvolveu nas mentes dos profetas durante um período de tempo – como em Zacarias 1:1 e 7.

Jeremias 1:11; 18:1-4; 24:1-10 e Amós 7:7 mostram que Deus algumas vezes usou eventos bem comuns para falar a Sua Palavra aos profetas. Parece que Deus sempre desvendou a Sua Palavra na intimidade da comunhão particular com os Seus ser-vos, em vez de ser por meio de lampejos súbitos de iluminação.

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Isso é ouvir a Palavra cuidadosamente por meio de meditação, reflexão, observação, leitura e estudo das Escrituras.

2. O fardo de DeusHabacuque 1:1 refere-se à massa do Senhor. Algumas traduções vertem essa palavra hebraica como ‘mensagem’ ou ‘oráculo’, mas literalmente ela significa uma ‘carga’ ou ‘fardo’. O versículo revela que Deus permitiu ao profeta sentir o que Ele estava sentindo a respeito de um assunto específico.

Isso se refere a um conhecimento interno crescente do interes-se de Deus quanto a um assunto específico, pessoa ou grupo de pessoas. Percebemos isso em Isaías 13:1; 14:28; 15:1; 17:1; 19:1; 21:1, 11, 13; 22:1; 23:1 e Jeremias 23:33-40.

3. O Espírito de DeusEm toda a série vimos que a Bíblia ensina que há um elo muito forte entre o Espírito e a atividade profética. Observamos isso, por exemplo, em Números 11:29 e 1Samuel 10.

No Antigo Testamento, 1Samuel 19:18-24 mostra que a des-cida do Espírito levou à declaração espontânea das palavras de Deus; Miquéias 3:8 indica que o Espírito tanto inspirou os profetas quanto lhes deu a coragem necessária para declarar a revelação que ouviram; e Joel 2:28 deixa claro que receber o Espírito deveria resultar na ação de declarar a Palavra de Deus a pessoas específi-cas, no poder de Deus.

Isso se refere ao ouvir instantâneo da Palavra de Deus que é para um rápido confessar e agir. Às vezes, chegava aos profetas como uma voz externa audível, mas também era, e talvez com maior frequência, um ‘ouvir’ interno da voz do Espírito em seus corações.

4. Sonhos, visões e anjosAs Escrituras registram que os profetas sempre ouviam a Palavra de Deus por meio de visões de dia e sonhos à noite – como em Números 12:6; Isaías 6; Ezequiel 12:8; Daniel 7:1 e Zacarias 1.8. E em raras ocasiões, anjos foram enviados aos profetas com

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a Palavra de Deus, por exemplo, 2Reis 1:3-15; 1Crônicas 21:18; Daniel 9:21 e Zacarias 1:9.

O ouvir hojeTodas essas formas proféticas de ouvir a Palavra de Deus ainda são relevantes para os crentes ungidos de hoje. Na medida em que vivemos no Espírito, também nos tornamos cientes da pala-vra ou mensagem específica de Deus para nós, visto que ela se desenvolve em nós durante um período de tempo. Podemos di-zer que conseguimos ‘ouvir’ a Palavra de Deus enquanto estamos adorando, ouvindo a pregação, lendo a Bíblia, meditando, orando, contemplando a criação como Abraão, e quando estamos simples-mente dando uma volta pelo mundo como Jeremias.

O que parece acontecer é que o Espírito destaca para nós, sobre-naturalmente, algo como uma sentença em um sermão, um versí-culo em um hino, uma frase em uma oração, uma passagem na Bí-blia, uma mensagem de Deus, e assim por diante. Por esses meios, o Espírito continua paciente e persistentemente chamando nossa atenção para a palavra rhema de Deus até que a ‘ouçamos’ de fato, a reconheçamos como Palavra de Deus, e respondamos com fé.

Todavia, ‘ouvir a Palavra de Deus’ não se restringe ao recebi-mento de Suas mensagens por meio das Escrituras, ensino, acon-tecimentos naturais e profecia. Sabemos que o próprio Jesus é a Palavra logos de Deus, e ouvi-Lo clara e consistentemente implica em estabelecer e desenvolver uma relação pessoal com Ele.

Quando prosseguimos nos apegando a Jesus, nos tornamos gradativamente conscientes – como os profetas do Antigo Testa-mento – de Seus interesses e responsabilidades principais. Pelo Espírito, Jesus nos revela aos pouquinhos aqueles elementos es-pecíficos de Seus interesses, com os quais Ele quer que lidemos com fé.

Assim como Deus tem ‘palavras’ específicas para pessoas dis-tintas, assim também Sua responsabilidade massa pode variar de pessoa para pessoa e de igreja para igreja. Esse é o ponto de parti-da da fé, quando nos tornamos cientes da mensagem ou interesse de Deus, porém precisamos permitir que a Palavra e o Espírito

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desenvolvam essa fé até o fim – até a Palavra ser cumprida e a responsabilidade concluída.

Nem sempre nós ‘ouvimos’ a Palavra de Deus pela conscien-tização gradativa. Às vezes ouvimos Sua Palavra clara e imedia-tamente, quando Deus fala a nossos espíritos pelo Espírito Santo. Como os profetas do Antigo Testamento, nossa unção com o Es-pírito e nosso relacionamento íntimo com Deus significa que há vezes em que a Palavra de Deus é mais como um trovão do que um sussurro. Não devemos esperar que Deus sempre fale clara-mente assim, mas não devemos duvidar Dele quando assim o faz.

Joel 2:28 declara que Deus ainda falará a Seu povo por sonhos e visões quando Seu Espírito tiver sido derramado sobre toda a carne, e Atos 9:10; 10:3; 11:5; 12:9; 16:9 e 18:9 ilustram a verdade dessa profecia. Às vezes, Deus realmente declara Sua Palavra a alguns crentes por meio de sonhos e visões, mas nossas mentes precisam estar purificadas e renovadas para a ouvirmos claramente quando esse modo for utilizado.

‘Ouvir em fé’ é o simples ato de responder ao que Deus está dizendo, independente da maneira que Ele escolhe para falar co-nosco. Nós ‘ouvimos em fé’ a Palavra de Deus do mesmo modo quando Deus nos fala por um sonho, ou pelas Escrituras, ou ainda por uma obra de arte, um sermão e etc.

Se Deus não falou, não pode haver um ouvir real nem fé au-têntica. Visto que toda fé verdadeira vem de Deus, é natural que a fé viva foque no que Deus tem dito em vez de focar em ideias ou desejos humanos. A fé ‘egoísta’ ou ‘autocentrada’ não é fé verda-deira e devemos nos acautelar de qualquer ensinamento que se concentre em obter coisas de Deus.

A vida de cruzEm Lucas 8:4-15, Jesus compara a Palavra de Deus a uma se-mente e o ‘coração’ humano ao solo. Essa imagem reforça o con-ceito da palavra ‘vindo’ até nós em vez de nós nos ‘voltando’ à palavra. Nessa parábola vemos que o solo deve ser fértil para que a semente seja produtiva – se tiver de se tornar ‘madura’ e alcançar o seu propósito. Isso indica que a Palavra de Deus deve

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ser recebida nas vidas que estão prontas para deixá-la frutificar para Deus, em vez de ser recebida nas vidas que estão tentando ceifá-la para qualquer fim egoísta.

Devemos reconhecer e lembrar que a semente viva, incorrup-tível da Palavra não pode ser pervertida, alterada ou manipulada em algo que nunca se pretendeu que fosse.

A fé de JesusO versículo 20 de Gálatas 2 demonstra que nossa vida de fé co-meça com a cruz. Trata-se de um versículo importante, e é uma das dez passagens do Novo Testamento onde a ‘fé’ é seguida por uma construção gramatical denominada ‘o genitivo’ que se refere a Jesus. Os outros versículos estão em: Romanos 3:22, 26; Gála-tas 2:16 (ocorre duas vezes), 20; 3:22; Efésios 3:12; Filipenses 3:9; Tiago 2:1; Apocalipse 2:13 e 14:12.

Essa construção é naturalmente traduzida como ‘fé de Jesus’, mas a maioria das versões da Bíblia traduz como ‘fé em Jesus’. Muitos líderes insistem que essas passagens apontam para a fé que nós praticamos em vez da fé de Jesus. Há, contudo, 44 ver-sículos no Novo Testamento que usam a construção do genitivo em relação à fé e a um ser humano, e cada uma delas é traduzida como significando: ‘fé da pessoa’ – por exemplo, Mateus 9:2, 22, 29; Marcos 10:52; Lucas 22:32 e Romanos 4:16. Como nenhu-ma dessas 44 ocorrências é traduzida como: ‘fé na pessoa’, pare-ce mais provável que as onze passagens sobre Jesus se refiram a Sua fé em vez da nossa fé Nele.

Além disso, há 32 ocasiões nas cartas de Paulo em que a pa-lavra fé é seguida por uma construção genitiva. Vinte delas se re-ferem à fé de um cristão, outra à fé de Deus, duas à fé de Abraão, e outra ainda a qualquer um que tenha sua fé considerada como retidão. Como todas são traduzidas como ‘fé de’, é provável que as outras oito passagens também se refiram à fé ‘de’ Jesus.

Existem muitas outras razões bíblicas e gramaticais excelentes pelas quais parece provável que essas passagens indiquem que nossa fé seja originada e ancorada na fé de Jesus. Essa ideia fica especialmente clara em Gálatas 2:20, que baseia tudo em Cristo.

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Essa passagem aponta claramente para a Sua morte, Sua vida, Seu amor e Sua doação, logo, faz mais sentido admitir que tam-bém está se referindo à Sua fé.

Já reconhecemos que a fé vem de Deus; esses versículos – e outros como Marcos 11:22, Romanos 3:3 e Colossenses 2:12, que usam ‘o genitivo’ para indicar a fé de Deus – salientam essa verdade e revelam que a fé que Deus nos dá é tirada de Sua fé. Isso não deve nos surpreender, pois sabemos que todos os dons que recebemos de Deus são, de alguma forma, aspectos de Sua natureza. Se não achamos difícil aceitar as ideias de amar com o amor de Deus, servir com o poder de Deus e ministrar com os dons de Deus, não devemos achar difícil aceitar que também so-mos chamados a crer com a fé de Deus.

Automorte Gálatas 2:20 mostra que precisamos alcançar o lugar onde pos-samos dizer com honestidade que fomos crucificados com Cristo – e que estamos dependendo de Sua vida, Seu amor, Sua fé e Seu sacrifício. Devemos reconhecer, contudo, que não seremos totalmente liberados a uma vida de fé até que tenhamos sido cru-cificados com Ele.

A crucificação com Cristo significa que todas as paixões interio-res e desejos que a Bíblia chama de ‘a carne’ foram sepultados – como em Romanos 6:6. Isso nos liberta das pressões e restrições do mundo que tenta nos conformar com seus padrões e valores. Essa automorte para ‘a carne’ e para ‘o mundo ’ é crucialmente importante para a vida de fé, e precisamos compartilhar da oração de Paulo em Gálatas 6:14 se quisermos progredir no processo da fé. Nós conseguimos seguir os desejos de Deus em vez de nossas demandas centradas em si mesmas, apenas quando somos domi-nados pela vida de cruz.

O relacionamento com a ressurreiçãoGálatas 2:20 nos lembra que, em Cristo, a ressurreição é sempre um complemento da crucificação. Saberemos que estamos come-çando a entrar no reino da fé quando pudermos dizer esse versícu-

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PARTE CINCO - A FÉ OUVINTE 77

lo com paixão e verdade. A fé viva é experimentar profundamente dentro de nós a vida de ressurreição, poder, amor e fé de Cristo.

Isso nos faz lembrar que a fé é um relacionamento com a cruz, não uma fórmula insensível. Devemos nos assegurar de nunca es-quecer que ‘ouvir a Palavra’ significa ouvir uma pessoa não lendo um livro de regras, mas ouvindo Deus, não examinando um livro para verificar uma lei a ser obedecida, nem mesmo uma lei de fé.

Gálatas 2:20 descreve a vida de fé que é baseada em um rela-cionamento de simples confiança no Filho de Deus. Isso é possível apenas por causa do que Jesus fez ao amar e dar a Si mesmo por ‘mim’ – o que deve ser simplesmente a maior expressão possível do amor de Deus.

João 3:16 descreve o amor de Deus pelo mundo e Efésios 5:27 registra o amor de Cristo pela Igreja. Todavia, Gálatas 2:20 é tão pessoal quanto possível e revela que Deus ‘me’ amou e deu a Si mesmo por ‘mim’. É o nosso ‘ouvir’ essa verdade básica pelo Espírito que vive em nós que nos libera mais profundamente para o processo de fé.

A fé viva se desenvolve quando ouvimos, quando entendemos profundamente e percebemos que Deus está verdadeira e favo-ravelmente propenso a nós – e que Ele não poderia jamais estar mais a favor de nós do que está agora.

O processo de fé – o qual podemos considerar como nossa vida de fé – se inicia quando ‘ouvimos’ que Deus é totalmente por nós, e que Sua graça está disponível para nos levantar, fortalecer, e nos liberar para o Seu propósito em nossas vidas.

O Espírito de féGálatas 2:20 faz parte de um pequeno grupo de passagens que são responsáveis pela ênfase evangélica e pentecostal no ‘receber Jesus em nossos corações’ e ‘Jesus viver em nossos corações’. Precisamos reconhecer, porém, que a ênfase mais ampla do Novo Testamento está tremendamente em nós vivendo ‘em Cristo’.

Sabemos que fisicamente Jesus está sentado à direita do Pai, e que está ‘em nós’ apenas espiritualmente pelo Espírito. Gálatas 2:20 se refere à presença de Cristo em nossas vidas por meio do

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Espírito Santo – que nos capacita e equipa para uma vida de fé, porque Ele é ‘o Espírito da fé’ mencionado em 2Coríntios 4:13.

O Espírito Santo deve estar envolvido se a fé vier pelo ouvir e vir a Palavra, pois o Espírito e a Palavra são inseparáveis. Te-mos visto que a Palavra vem de Deus no sopro de Deus; e, em João 6:63, Jesus afirma que Suas palavras rhema são Espírito e vida – o que significa que devemos ter o Espírito quando temos a palavra.

Observamos essa relação em 2Coríntios 1:20-22. Algumas traduções da Bíblia indicam que Cristo é tanto o ‘Sim’ quanto o ‘Amém’ para todas as promessas de Deus. Porém, muitas tradu-ções modernas nos ajudam a entender o grego com mais preci-são. O versículo 20 realmente declara que o ‘Sim’ para todas as promessas de Deus é encontrado em Cristo, e que ‘por intermédio Dele’ respondemos ‘Amém’ para dar louvor a Deus. Os versículos 21 e 22 mostram que Deus nos deu um lugar em Cristo e o Pe-nhor do Espírito em nossos corações.

Isso significa que Deus declarou Suas promessas a nós, e que Cristo veio a nós como a testemunha e o cumprimento das pro-messas. O Espírito em nossos corações nos leva a adicionar o ‘Amém’ de fé – para nos alinhar com Cristo e a Palavra, e para viver de acordo com as promessas.

É por isso que, como em Atos 6:5, a vida de fé é apresenta-da como uma vida dirigida pelo Espírito: são simplesmente duas formas diferentes de expressar a mesma realidade. A fé viva é produzida pelo Espírito de fé que opera em nós paralelamente à Palavra de Deus. Quando ouvimos o Espírito, vemos a Palavra. Quando vemos a Palavra, ouvimos o Espírito. Não importa como o descrevamos, o resultado é sempre o mesmo – os inícios e o desenvolvimento da fé.

No volume Conhecendo o Espírito aprendemos que é o Espíri-to quem nos capacita a ouvir a Palavra, quem nos provê o poder para responder em fé, e que mantém nossa fé viva – na medida em que abraçamos Sua presença em nossas vidas. Como vive-mos no Espírito e com o Espírito, deveríamos ouvi-Lo e atender aos Seus estímulos; esse assunto é considerado em quase todos

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os livros da série Espada do Espírito. Sabemos que a fé viva não é baseada em nossas emoções, intelecto ou vontade. A fé ver-dadeira inclui tais coisas, mas opera essencialmente a partir de nossos espíritos quando a Palavra de Deus é inflamada pela obra do Espírito em nós.

Precisamos todos estar prontos para não aceitar nada menos que o autêntico trabalhar da Palavra em nossos corações pela fé. Desde o Pentecostes, a obra de Deus na terra é feita por todo o povo crente, não apenas por alguns homens e mulheres espe-ciais. Isso significa que toda a comunidade crente do povo de Deus deve avançar no processo de fé para cumprir a vontade de Deus.

Todos nós precisamos abrir nossos ouvidos e corações para a Palavra, e permitir que o Espírito derrame a fé de Deus em nós, a fim de podermos desenvolver vidas autênticas de fé viva na Igreja. Resumindo, precisamos conhecer Jesus como o autor de nossa fé – e, portanto, precisamos fazer do ouvi-Lo a nossa prioridade. Isso não ocorrerá pela luta e esforço humano, mas pelo apegar-se a Jesus – pelo segurar Sua mão e confiar Nele enquanto nos conduz em Sua vida de fé.

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Parte Seis

A Fé Semente

Muitos ‘crentes’ modernos parecem ter um entendimento um tanto vago e incompleto da fé. Parecem pensar que a ‘fé’ é sim-plesmente o ato de crer, e que – portanto – o conteúdo de sua fé não é particularmente importante. Como tantas pessoas hoje, eles valorizam a sinceridade sem perceber que não há mérito em estar sinceramente equivocado.

A sociedade contemporânea ocidental está cheia de pessoas que têm fé nas ideias humanas, e que creem em seus sonhos pessoais. Contudo, como cristãos não temos a liberdade de in-ventar o conteúdo da fé viva – pois nossa fé implica em crer somente no que Deus diz, não no que sonhamos em nossas mentes ou pegamos emprestado de outras pessoas.

Quando ouvimos de fato a Palavra de Deus, devemos crer ou descrer do que Ele falou. Se rejeitarmos, ignorarmos ou ajustar-mos a Palavra de Deus a nós, isso significa que estamos confian-do em nossos próprios pensamentos e opiniões.

O processo de fé se inicia quando ouvimos a Palavra de Deus, mas a fé viva se desenvolve depois, de três maneiras paralelas – pelo crer na Palavra de Deus, pelo confessar Sua Palavra, e pelo agir segundo Sua Palavra. Não se trata de uma série de etapas de fé em que uma etapa leva à outra; elas são aspectos comple-mentares de fé que coexistem paralelamente.

A semente da fé Em Mateus 17:20, Jesus compara a fé a uma pequena semen-te de mostarda. Utilizando essa imagem de fé, podemos dizer

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que recebemos a ‘semente da fé’ de Deus quando ouvimos a Sua Palavra, mas que essa semente permanece dormente até a levarmos profundamente ao solo de nossas vidas e permitirmos que ela cresça.

É importante reconhecermos que essa pequena fé-semente não vai crescendo mais e mais até tornar-se finalmente uma enorme semente de fé. Em vez disso, ela amadurece transfor-mando-se em uma ‘planta de fé’ que contém raiz, tronco e folhas.

A semente não se transforma imediatamente em uma raiz totalmente desenvolvida que mais tarde agrega um tronco ma-duro e depois desenvolve folhas perfeitas. Em vez disso, a raiz, o tronco e as folhas vão se desenvolvendo paralelamente até que a planta esteja madura o bastante para produzir fruto.

Da mesma forma, ‘crença’, ‘confissão’ e ‘ações’ são elementos paralelos ao processo de fé que juntos vão evoluindo – a partir da fé –semente que recebemos pelo ouvir e ver a Palavra de Deus – até a fé completa que Deus almeja para nós.

Embora examinemos esses elementos de fé individualmente em capítulos posteriores, devemos reconhecer continuamente que – na realidade – eles estão plenamente interligados no pro-cesso de fé. Assim como a raiz, o tronco e as folhas em uma planta viva, a ‘fé crente, a fé confessante’ e as ‘ações de fé’ nu-trem e apoiam umas as outras a fim de permitir que a fé viva se desenvolva até ser completa.

Crendo na PalavraObservamos que as Palavras rhema de Deus são sempre total-mente coerentes com Sua Palavra logos. São todas baseadas em Jesus e se conformam à Sua natureza, e são todas fundamen-tadas em princípios bíblicos e concordam com a auto-revelação total de Deus pela Palavra e pelo Espírito.

Isso significa que todos os planos de fé de Deus para nós são baseados nas promessas que Ele registrou na Bíblia, e que todos estão enraizados na pessoa e natureza de Cristo. A fé crente é simplesmente crer – confiar totalmente – na auto-revelação de Deus na e por meio da Palavra.

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PARTE SEIS - A FÉ SEMENTE 83

O texto de 2Pedro 1:1-4 ilustra isso ensinando que Deus tem nos dado muitas promessas preciosas, e que todas vieram a nós pela retidão do próprio Cristo. Isso salienta o princípio de que as promessas bíblicas são disponibilizadas por meio da fé de Jesus – Suas ações, obediência, e morte – demonstrando que a fé viva não é simplesmente crer em algo, é crer no que foi revelado em Jesus. Nunca devemos esquecer que as bênçãos de Deus estão disponíveis apenas Nele e por meio Dele.

O nome de DeusFé viva não é simplesmente crer em Deus, é crer nas coisas cer-tas a respeito de Deus – é crer que Deus é quem diz ser, que Ele é o tipo de Deus que revelou ser.

Na Bíblia, o nome de uma pessoa revela a sua natureza, e a natureza de Deus é revelada pelos Seus mais de 300 nomes. Esses nomes são sempre resumidos na frase ‘o nome’, e somos sempre encorajados a estar ‘no nome de Deus’ – como em Ma-teus 18:20. Isso significa que entramos completamente no que Deus tem revelado sobre Si mesmo por meio de Seu nome e disso dependemos totalmente.

A Bíblia ensina que o nome de Deus é cheio de poder, e é por isso que os judeus nunca ousaram pronunciar o nome Iavé – embora fossem exortados a se gloriarem nesse nome em 1Crô-nicas 16:10. Percebemos esse poder em passagens como Êxodo 9:16 e Atos 4:30.

De modo especial, a Bíblia enfatiza o poder absoluto do nome de Deus:

• Para curar – Atos 3:6-16; 4:10-18 e Tiago 5:14• Para derrotar e destruir o inimigo – 1Samuel 17:43-51; Sal-mos 60:12; 91:13; 108:13; 118:10-13; Zacarias 10:5-12; Marcos 16:17; Atos 16:18; 19:13 e Romanos 16:20• Para proteger – 2Samuel 22:3; Salmos 20:1; 91; 124; Provérbios 18:10; Isaías 26:4 e João 17:11, 12.Isso significa que a Palavra de Deus revela que para a nature-

za de Deus é básico curar, derrotar e proteger. A fé viva, portanto, significa confiar plenamente que nosso Deus é um Deus que

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cura, um Deus que protege, que vence os nossos inimigos e etc.Depois de Iavé, o segundo nome bíblico mais comum de

Deus é Elohim. É usado 2.550 vezes e se refere a ‘aquele a quem pertence todo poder’. Elohim e sua forma abreviada El são considerados de muitos modos para revelar facetas distintas da natureza poderosa de Deus. Por exemplo:

• Elohim Qodesh – o santo, Josué 24:19 e Isaías 57:15• Elohim Tsur Yesha – a rocha da salvação, 2Samuel 22:47• Elohim Tsur Israel – a rocha de Israel, 2Samuel 23:3• Elohim Maoz – a fortaleza, Salmos 43:2• Elohim Melek – o rei, Salmos 44:4• Elohim Olam – o eterno, Isaías 40:28• Elohim Erets – o Deus de toda a terra, Isaías 54:5• Elohim Magen – o escudo, Salmos 84:9• Elohim Machceh Metsudah – o refúgio e fortaleza, Salmos 91:2• Elohim Emeth – a verdade, Jeremias 10:10• El Elyon – o altíssimo, Gênesis 14:19• El Roi – aquele que me vê, Gênesis 16:13• El Shaddai – o provedor todo poderoso, Gênesis 17:1• El Qanna – o zeloso, Êxodo 20:5• El Channun Rachum – o clemente e misericordioso, Nee-mias 9:31• El Gibbur – o poderoso, Neemias 9:32• El Aman – o fiel, Deuteronômio 7:9• El Emunah – o confiável, Deuteronômio 32:4• El Chay – o Deus vivo, Josué 3:10• El Deah – o Deus da sabedoria, 1Samuel 2:3• El Yeshua – a salvação, Salmos 68:19• El Moshaoth – Deus de libertação, Salmos 68:20• El Asah Pele – o Deus que faz maravilhas, Salmos 77:14• El Shamayim – Deus dos céus, Salmos 136:26• El Tsaddiq – o justo, Isaías 45:21• Elah Elahin – o Deus dos deuses, Daniel 2:47Esses nomes, e outros mais, revelam aspectos distintos da

natureza do Deus todo poderoso que nos fala, eles nos mostram

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como Deus é e o que Ele geralmente promete fazer. Sabemos que a Palavra de Deus sempre é coerente com a Sua natureza revelada e por isso somos chamados a crer no conteúdo do que Ele diz, porque provém de quem Ele é.

A fé viva é baseada na Palavra rhema de Deus, mas se desen-volve quando nós confiamos ativamente na Palavra porque es-tamos convencidos que ela vem de Elohim Yahweh – do Senhor Deus que é como a Sua Palavra, e que age de forma coerente com as Suas Palavras.

Podemos dizer que a fé crente é aquela que se apega – ou se mantém fiel – ao nome específico de Deus que mais coincide com a Palavra que Ele falou. Esse entendimento nos ajuda a perceber que a fé viva é um relacionamento com o Deus vivo e que desenvolvemos a fé conhecendo Deus mais intimamente.

O nome de JesusComo todos os nomes de Deus são revelações de Sua infinita na-tureza fiel, podemos dizer que todos eles são perfeitamente cum-pridos em Jesus. Ele é quem cumpriu perfeitamente a salvação de Deus para nós ao alcançar as três funções básicas do nome – nossa cura eterna e proteção, e a derrota de nosso inimigo.

Por causa disso, Filipenses 2:9-11 mostra que Deus conce-deu a Jesus o nome que está acima de todo nome. É esse nome, e somente nesse nome, que podemos agora vir e desfrutar as promessas da Palavra de Deus. Observamos isso em 2Coríntios 1:20.

No Antigo Testamento, muitos títulos apontam profeticamente para o nome e a natureza de Jesus. Por exemplo:

• Aquele a Quem Pertence – Gênesis 49:10• A Estrela e o Cetro – Números 24:17• O Profeta – Deuteronômio 18:15-19• O Ungido – 1Samuel 2:10 e 35• O Mediador – Jó 33:23• A Pedra Rejeitada – Salmos 118:22• A Sabedoria – Provérbios 8:22-31• O Amado – Cântico dos Cânticos 1:16

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• O Renovo de Iavé – Isaías 4:2• O Emanuel – Isaías 7:14• O Maravilhoso Conselheiro – Deus Poderoso – Pai Eterno – Príncipe da Paz – Isaías 9:6• O Servo – Isaías 42:1• O Varão de Dores – Isaías 53:3.Apocalipse 19:11-16 revela que Jesus também é conhecido

pelos nomes:• Fiel e Verdadeiro• A Palavra de Deus• Rei dos Reis• Senhor dos Senhores.Apocalipse 19:12 também declara que Ele tem um nome que

não é conhecido por ninguém a não ser Ele próprio. Isso indica que existem maravilhas e detalhes de Sua natureza que levare-mos a eternidade para explorar e desfrutar.

A retidão de JesusQuando Deus nos fala, é com palavras de graça e amor, promes-sa e bênção. E Suas palavras rhema de bênção trazem consigo a semente necessária da fé de Deus que se transforma na fé que precisamos para experimentar a bênção.

Devemos nos lembrar, contudo, que Deus pode nos abençoar somente por meio da retidão de Jesus – uma vez que não temos retidão própria. Porque Jesus não tinha pecado e viveu sem pe-car, Ele cumpriu perfeitamente a retidão de Deus. Agora essa retidão, a retidão de Jesus, está gratuitamente disponível a nós por Sua morte sacrificial no Calvário. Podemos dizer que a cruz é a chave de Deus que destrava a porta de Seu almoxarifado de bênção.

Podemos dizer que todas as bênçãos prometidas de Deus es-tão disponíveis a nós por meio da fé de Jesus – Suas ações, obe-diência e morte. É possível dizermos que podemos obter cada promessa divina, cada palavra rhema, pela fé viva em Jesus – e em Seu nome e natureza santos e cheios de fé.

Assim como em Mateus 13:19, um inimigo tenta tirar a pala-

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vra do reino que é semeada no coração, assim também o mesmo inimigo tenta garantir que a semente de fé permaneça dormente em nossas vidas. Muitos ‘crentes’ ouvem a afável Palavra de Deus a eles, e depois ouvem a insinuação do inimigo de que não a merecem. Essa insinuação maligna não é outra mentira demoníaca, pois nenhum de nós merece qualquer coisa de Deus exceto juízo. Contudo, nossa dignidade pessoal não é a base que Deus usa para nos dar ou pela qual recebemos. Em vez disso, Ele dá porque Sua natureza divina é bondosa, amável e misericordiosa; e recebemos porque a morte expiatória de Jesus nos tem fornecido acesso ilimitado à graça de Deus. Todos nós somos indignos demais de receber até mesmo a menor promes-sa divina, mas recebemos a retidão do próprio Cristo, e – Nele – todas as promessas de Deus a nós são ‘Sim’ e ‘Amém’.

Porém o inimigo não desiste. Sua próxima tática é tentar e convencer cristãos de que jamais terão fé suficiente para receber uma bênção significativa de Deus. O sucesso do inimigo com essa tática é visto pela aceitação ampla na Igreja da ideia equivo-cada de que é preciso grande fé para receber algo de Deus. Trata-se de uma espantosa distorção da verdade divina insinuar que as bênçãos prometidas do nome e natureza de Deus, as quais foram disponibilizadas gratuitamente em Cristo, sejam – na re-alidade – retidas por Deus por causa da pequenez de nossa fé.

O diabo tem convencido muitas pessoas de que é necessá-rio muito mais fé do que elas jamais conseguiriam ter para ver as promessas de Deus cumpridas em suas vidas. Todavia, essa convicção é baseada no erro de que criamos nossa própria fé, enquanto a verdade é que nós a obtemos de Deus. Se tivésse-mos realmente de criar fé para receber de Deus, não seríamos capazes de administrá-la. Neste livro, contudo, temos visto que Deus nos dá bondosamente uma semente de Sua fé – e essa semente viva, de mostarda, é totalmente suficiente.

O versículo 1 de 2Pedro 1 é importante, destaca a verdade que a fé preciosa é obtida, não criada ou auto-fabricada, e que é obtida pela retidão de Jesus. Ainda mais importante, ele nos faz lembrar que a fé que obtemos de Deus hoje é exatamente a

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mesma fé que Pedro obteve em sua época – porque ela vem da fé de Jesus.

A fé que Pedro e os outros crentes de sua geração receberam para obter as promessas de Deus é exatamente o mesmo tipo de fé que recebemos de Deus atualmente. Não devemos pensar ou ensinar que precisamos de uma fé maior do que temos, pois isso insinua que a fé que Deus nos deu é defeituosa. Em vez disso, precisamos simplesmente aceitar que a fé que Deus nos deu é adequada e usá-la crendo, confessando e agindo conforme a verdade que Elohim Iavé agirá segundo Sua natureza e Palavra.

Níveis de féEmbora a questão não seja claramente a quantidade de nossa fé, devemos perceber que a Bíblia fala sobre níveis de fé: pequena fé, grande fé e até mesmo fé madura ou perfeita. Em muitas ocasiões Jesus ficou surpreso com a incredulidade de Seus dis-cípulos, como em Mateus 8:26 em que Ele os repreende com a frase ‘homens de pequena fé’. Aqui Jesus não estava se referindo tanto ao tamanho da fé, mas à semente pouco desenvolvida da fé, a qual – por não ser desenvolvida – os fez ouvir a voz do medo e não as palavras de Jesus.

Essa descrição de fé fraca ou hesitante pode ser aplicada a muitos cristãos atualmente. Muitos de nós vivemos vidas incons-tantes – quando as coisas estão indo bem, louvamos a Deus e estamos cheios de fé, mas quando nos deparamos com a menor dificuldade, deixamos tudo cair, e a primeira coisa a cair é a nossa fé em Deus. Porém, devemos nos lembrar que a nossa fé não está alicerçada em circunstâncias, mas na Palavra de Deus que vive e permanece para sempre, como percebemos em Isaías 40:8. Quando enfrentamos dificuldades, essa é a hora exata que Deus está nos chamando a crer firmemente Nele, esperando que Ele cumpra Sua Palavra para nós e crescendo em fé todo o tempo.

O oposto de fé fraca é fé grande. Jesus falou acerca do centu-rião em Mateus 8:10: ‘nem mesmo em Israel achei fé como esta’. Da gentia cananéia, Ele disse: ‘Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se contigo como queres’ (Mt 15:28). O que tinham esses dois

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indivíduos que fez Jesus comentar a respeito de sua ‘grande fé’? Observamos um reconhecimento por parte do centurião acerca de quem era Jesus e do poder de cura de Sua Palavra, mesmo a distância. Percebemos que a mulher cananéia não seria levada a desistir e foi persistente. Recusando-se a ser desencorajada e sustentando o princípio de que Deus desejava abençoar, ela simplesmente não acataria um ‘não’ como resposta. Essa é a es-sência da grande fé. E como resultado, tanto o servo do centurião quanto a filha da mulher foram curados ‘na mesma hora’.

Conforme analisamos o Novo Testamento, descobrimos que há, contudo, um nível mais avançado de fé: a fé perfeita ou madura. Esse é o tipo de fé que move montanhas, supera obs-táculos, é triunfante nas provas e fica firme, não enfraquece pelas circunstâncias, mas aguenta o tempo que for necessário para receber a resposta de Deus. Essa é a fé da descoberta, a qual Jesus se refere em Marcos 11:22 quando diz: ‘Tende fé em Deus’ ou melhor, ‘Tenha a fé de Deus. Aqui vemos a perfeita fé em ação. Ela tem o poder de mover montanhas e, contudo, conforme mostra Mateus 17:20, é apenas uma fé semente de mostarda. A ênfase está na qualidade da fé, não em quanta fé podemos conseguir nós mesmos. Isso porque é o ‘tipo de fé de Deus’, a fé que Deus dá por meio do Seu Espírito que é perfeito, poderoso e puro, não mesclado com dúvida ou suposição, mas fiel à vontade revelada de Deus.

Crendo nas promessasO texto de 2Pedro 1:3, 4 explica que, como resultado da obra de Cristo, Deus fez provisão para cada necessidade possível nossa. Isso significa que não há situação que possamos enfrentar para a qual Deus já não tenha feito provisão. Visto ser Deus o Todo-poderoso Elohim e o El Shaddai provedor, conforme estudamos, isso não deveria nos surpreender.

Na realidade, o nome pessoal de Deus, Iavé, ‘Eu sou o que sou’, ou, ‘Serei o que serei’, significa que Deus será Ele mesmo o que Seu povo precisar, a fim de cumprir aquela necessidade. É isso exatamente que Ele fez para nós em Cristo, e por isso que

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2Pedro 1:4 descreve o recebimento das promessas como partici-pação na natureza de Deus.

Vida e piedade O texto de 2Pedro 1:3 promete a provisão de Deus por meio de Seu poder para tudo que precisamos em termos de zoe e euse-beia, para ‘vida’ e ‘piedade’. No Novo Testamento, zoe geralmen-te se refere à vida espiritual – em contraste com bios, vida física. Essa é a vida que Deus tem dentro de Si mesmo, a qual deu a Jesus encarnado, e que Jesus revelou no mundo: Observamos isso, por exemplo, em João 5:26 e 1João 1:2.

De acordo com João 3:15, zoe é a vida da qual participamos pela fé em Jesus; e Atos 3:15 mostra que Jesus é o autor desse tipo de vida para todos que confiam Nele. Colossenses 3.4 des-creve Jesus como a zoe dos crentes, e João 6:35 e 63 ensina que Jesus continua mantendo a vida zoe que Ele dá.

Tudo isso indica que a provisão de Deus para a ‘vida e pie-dade’ é na verdade o próprio Jesus – daí a referência à partici-pação da natureza divina. Como observamos, as promessas de Deus não são algo independente Dele e exterior a Ele, elas são aspectos de Seu nome e natureza e só podem ser recebidas e experimentadas em Cristo.

É isso que Pedro quer dizer quando fala da Palavra de Deus como ‘semente’. Assim como as sementes carregam em si todas as habilidades e atributos relativos à planta a que pertencem, assim também a Palavra de Deus, Sua semente, carrega todas as habilidades, características e atributos do próprio Deus. A se-mente de Deus carrega Sua natureza e, pela fé, recebemos a semente da Palavra no solo de nossos corações, e essa, por sua vez, cresce e traz o fruto da vida de Deus ao mundo. Esse é o modo que experimentamos Deus e Suas bênçãos em nossas vi-das, e é dessa forma que pela fé nos tornamos participantes da natureza divina.

Quando Pedro diz que recebemos ‘fé igualmente preciosa’ a dos apóstolos do primeiro século, ele quer dizer que temos a mesma Palavra que eles tinham e, se a recebermos em nossos

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corações, poderemos experimentar as mesmas manifestações de Deus – os sinais, maravilhas e milagres – que eles viram durante suas vidas. Fé semente é a fé que recebe a semente da Palavra de Deus e que cultiva essa semente até formar uma planta fru-tífera. A semente, ou promessas da Palavra de Deus, que Pedro descreve como ‘preciosas e grandíssimas’ e que, como obser-vamos, carrega em si a promessa da própria natureza de Deus.

Isso significa que quando Deus nos promete algo, Ele está prometendo a si mesmo para nós. Podemos dizer verdadeira-mente que, em Cristo, Iavé é o que Seu povo precisar a fim de atender a necessidade. A fé crente é nada mais – e nada menos – que confiar na natureza revelada de Deus. Em Cristo, a Palavra de Deus libera dentro de nós o poder para viver a vida que Deus oferece, e tudo que precisamos para desenvolver essa vida está contido nas promessas de Deus.

O versículo 3 de 2Pedro 1 promete que Deus nos tem dado não apenas ‘vida’ espiritual, mas também ‘piedade’ – a consu-mação dessa vida. Eusebeia, piedade, refere-se a uma atitude para com Deus que pensa e faz somente o que é agradável a Ele. Significa pensar e agir como Deus em toda situação – e as promessas de Deus nos capacitam a ser verdadeiramente divi-nos todas às vezes.

Obtendo as promessasAs promessas de Deus estão plenamente entrelaçadas com a fé viva, pois são uma fonte vital de fé, um meio de desenvolver a fé, e o alvo da fé. A fé opera nas promessas da Palavra, em torno delas e por meio delas, e devemos saber como agarrá-las.

1. Encontre as promessas Quando os crentes não conhecem os nomes revelados de Deus, e não conhecem Suas promessas escritas imutáveis, é difícil para eles agir segundo as mesmas e tirar delas a fé. Isso significa que precisamos buscar nas Escrituras os nomes e promessas de Deus, lê-las e recordá-las, e recebê-las em nossas vidas e come-çar a pedir seu cumprimento a Deus. Precisamos fazer isso pes-

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soalmente, lendo e estudando a Palavra de Deus e não tentando pegar quaisquer supostos atalhos.

2. Acredite nas promessasNão é o bastante simplesmente ler os nomes e promessas e conhecê-los de forma acadêmica ou intelectual. Precisamos também gravá-los profundamente em nossos corações. Crer nas promessas significa confiar nelas plenamente, significa estar convencido de que elas são realmente verdadeiras para nós pes-soalmente. Muitas pessoas creem que Deus é amor, mas estão longe de ter certeza que Ele as ama autêntica e profundamente. Precisamos avançar da teoria para a aplicação pessoal. Fazemos isso desenvolvendo um relacionamento íntimo e confiante com Deus, dependendo cada vez mais de Sua natureza revelada e Palavra.

3. Cumpra as condições Deus quer que acreditemos Nele de modo que alinhemos nossos pensamentos e ações à Sua vontade para que Ele pessoalmente governe em nossas vidas. A maioria de Suas promessas é de algum modo condicional. Por exemplo, as promessas de Lucas 11:9, 10 são condicionais no pedir constantemente, buscar e bater – não podemos reivindicar a promessa se simplesmente pedimos uma vez e depois esperamos a resposta. E a promessa de que todas essas coisas vos serão acrescentadas em Lucas 12:31 é condicional a buscar o reino, a não buscar coisas mate-riais, e a não ficar ansioso por elas.

Em muitos lugares, a condição está implícita. Por exemplo, as maravilhosas promessas do salmo 23 dependem do Senhor ser ‘meu’ pastor. Não podemos reivindicar os benefícios dos versícu-los 2 a 6 a menos que estejamos sendo pastoreados – governa-dos, guiados, protegidos e providos – exclusivamente por Deus.

4. Receber as promessasVimos que a fé é um relacionamento com a Palavra que se de-senvolve como uma planta nova a partir de uma semente. Isso

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significa que nós não recebemos as promessas de Deus do modo que obtemos algo de uma máquina. O elemento ‘crer’ do proces-so de fé não envolve simplesmente encontrar uma promessa ou um nome relevante de Deus, cumprir as condições apropriadas e crer que Deus a cumprirá. Já observamos que Deus prova nossa fé tanto para confirmar que ela é genuína quanto para desenvol-vê-la. E sabemos que o inimigo se opõe de modo persistente e agressivo a toda fé em desenvolvimento.

Para receber as promessas de Deus, precisamos persistir em nossa crença, continuar a nos apegar em Jesus, continuar a de-pender da fidelidade de Deus. Precisamos estar determinados a avançar em fé até recebermos a promessa de Deus.

A Palavra de Deus contém vastas áreas de promessa para nós explorarmos e herdarmos. Deus está sinalizando para que rece-bamos a Ele e recebamos Dele. A maioria dos cristãos se regozija nos benefícios iniciais da salvação, mas Deus anseia para que todos nós nos aprofundemos mais Nele e compartilhemos Suas bênçãos que abrangem o restante da vida.

Não devemos buscar o que Deus não prometeu, e não de-vemos desprezar o que Ele prometeu. Na medida em que O conhecermos melhor, em toda riqueza de Seu nome e natureza, desenvolveremos uma fé crente em seu caráter afável e continu-aremos a receber Suas palavras rhema para toda diversidade de promessas em Sua Palavra logos.

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Parte Sete

A Fé Confessante

Já constatamos que confissão, ou a fé confessante, é um ele-mento indispensável da fé viva que deveria existir e se desen-volver paralelamente à fé crente e à fé atuante. Nós não cremos para criar confissão, ou confessamos para criar fé; em vez dis-so, as duas coisas se desenvolvem juntas a partir da fé semente que recebemos de Deus pelo ouvir a Sua Palavra. Percebemos essa conexão em Romanos 10:10.

A oração popular em Salmos 19:14, que é oferecida a Deus como o início de tantos sermões, ilustra a importância de ‘as palavras dos meus lábios’ e ‘o meditar do meu coração’ per-manecer íntegras. Deveríamos confessar o que cremos e crer no que confessamos: nenhum é mais importante que o outro; ambos devem estar em ordem para que a fé viva se desenvolva até a perfeição.

Josué 1:8 mostra que a fé atuante também deve ser adi-cionada à confissão e crença. Deus disse a Josué que a Sua Palavra deveria estar em sua boca, e que Josué deveria meditar nela continuamente – podemos considerar isso como ‘confis-são’ e ‘crença’. Todavia, não era o bastante, e Deus também instruiu Josué a agir conforme Sua Palavra.

Consideraremos esse elemento da fé atuante na seção se-guinte, mas aqui focaremos no elemento de fé confessante da fé viva – em assegurar que a Palavra de Deus esteja realmente em nossos lábios.

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O poder da línguaConstatamos que a fé viva está intimamente ligada com a Pa-lavra de Deus, que a Palavra vem do Pai no sopro de Deus, e que a nossa fé vem do próprio Deus. Se a fé de Deus implica no falar Sua Palavra, e Seu dom de fé está envolvido nessa fala, deveríamos certamente esperar que Sua fé em nós implique em o falarmos Sua Palavra.

Aprendemos que a palavra grega homologeo, que é traduzida como ‘confissão’ em todo o Novo Testamento, significa literal-mente ‘falar a mesma coisa’. Isso significa que a fé confessante é ‘falar as mesmas Palavras’ que Deus fala.

Sabemos que recebemos a fé semente de Deus quando ou-vimos a Palavra. Essa fé semente se desenvolve até a planta madura frutífera da fé viva, quando cremos que ouvimos Deus falar sem alterar Suas Palavras de modo algum, e quando fa-lamos as Palavras de Deus com fé sem ajustar ou moldar Sua Palavra rhema a nós.

A Bíblia enfatiza repetidas vezes o poder da língua tanto para o bem quanto para o mal. Podemos observar isso, por exemplo, em passagens como Tiago 3:1-12 e Provérbios 18:21. E o as-sunto é considerado de forma especial na Parte Dez do volume Ministério no Espírito quando examinamos o ensino bíblico so-bre falar com autoridade profética.

Palavras não são apenas sons, elas carregam o significado e a intenção do locutor e têm mais poder do que percebemos. Nossas Palavras – nossa confissão – podem fortalecer as pesso-as e podem derrubá-las; podem amaldiçoar e podem abençoar; podem encorajar e podem machucar; podem ministrar vida e podem ministrar morte. O que dizemos influencia acontecimen-tos e afeta pessoas; portanto, como crentes, devemos render nossas línguas ao Espírito Santo e permitir que Ele endireite o nosso falar.

Em toda a série Espada do Espírito, enfatizamos continua-mente a tendência profética que permeia o cristianismo bíblico. Sempre que o Espírito Santo vem sobre as pessoas, Ele as ca-pacita a falar a Palavra de Deus – Ele as equipa tanto com as

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PARTE SETE - A FÉ CONFESSANTE 97

palavras a dizer quanto com o poder para falá-las na autoridade de Deus. Observamos esse princípio profético nas vidas dos profetas do Antigo Testamento, em episódios como em Núme-ros 11:24-30; 1Samuel 10:6; Lucas 1:67-79, e – o mais claro de todos – no Pentecostes e por todo o livro de Atos.

Esse princípio é extremamente relevante para o elemento de confissão da fé. Deus em Sua graça não apenas nos dá – por meio de Sua palavra falada – a fé semente que precisamos para receber Suas promessas, Ele nos dá também Seu Espírito para nos ajudar a falar Suas palavras; essa confissão desenvolve e fortalece a nossa fé rumo à maturidade.

Palavra de DeusSabemos que as palavras de Deus têm imenso poder. Ele fala e acontece. Percebemos isso na Criação e em passagens como 2Crônicas 6:15; Isaías 55:10, 11 e Hebreus 4:12.

Sempre que Deus fala, Ele tem plena fé que Suas palavras serão eficazes. Podemos dizer que Ele ‘crê’ no que diz e em Seu poder para cumprir as Palavras, que Ele ‘fala’ ou ‘confessa’ Suas Palavras, e que ‘age’ de acordo com elas. Os três elementos bá-sicos da fé viva estão sempre presentes toda vez que Deus fala.

Deus nunca faz promessas grandes que estão além de sua capacidade de cumprir. Suas Palavras sempre refletem Sua na-tureza e poder. É por isso que podemos dizer que Ele é sempre fiel (cheio de fé), pois Ele é totalmente confiante em Sua Palavra e na própria capacidade de cumpri-la.

Quando Deus fala Sua Palavra, Ele nos chama a confessar – a dizer o mesmo que Ele. Isso significa que nossa confissão é baseada na Palavra de Deus e em Sua ‘fi-de-li-da-de’. Nossa confissão não é uma declaração de nossa opinião ou capacida-de de realizar uma tarefa; em vez disso, testifica a confiabilida-de da Palavra de Deus e a capacidade de Deus executá-la.

Utilizando a fé que recebemos de Deus, compreendemos completamente o poder intrínseco da Palavra de Deus, cremos nela, e respondemos ao que Deus tem dito concordando com a Palavra em nosso discurso. A Palavra de Deus não afeta a vida

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das pessoas até que elas acreditem, confessem e ajam con-forme tal Palavra. É por isso que o texto de Romanos 10:8-10 declara que devemos confessar e crer para receber a salvação prometida por Deus.

ParceriaO princípio de relacionamento e parceria está presente na Bí-blia. Deus aproveita cada oportunidade em Sua Palavra para salientar que Ele quer um relacionamento com homens e mu-lheres que reflita os relacionamentos Dele próprio dentro da Trindade – e esse assunto é analisado na série Espada do Espí-rito volume Conhecendo o Espírito e Glória na Igreja.

O texto de Romanos 10:8-10 ilustra esse princípio impor-tante de três maneiras:

• É a palavra de Deus em nossas bocas e corações• Nós cremos e confessamos, Deus salva• Nós pregamos, mas é a palavra de fé de Deus que procla-mamos.Nossa confissão, nossa pregação é a nossa expressão de

concordância verbal com a Palavra de Deus. Porém, devemos perceber que é baseada em nosso relacionamento, nossa par-ceria e comunhão com Deus. A confissão não é uma simples repetição da Palavra de Deus, em vez disso, deve estar intima-mente ligada com uma crença autêntica proveniente do coração de que o que está sendo confessado é a Palavra de Deus, e que Deus pode – e – cumprirá suas promessas.

Confissão e convicçãoA fé confessante não é uma declamação vazia, religiosa da Pa-lavra de Deus, pois deve partir da convicção. Deus não se im-pressiona quando falamos Sua Palavra mecanicamente, pois Ele olha nosso coração a fim de garantir que nossa confissão esteja ligada à nossa fé.

Em Mateus 15:8, Jesus deixa claro que é possível falar pa-lavras que parecem de Deus, mas que – na realidade – não são de Deus porque não têm relação com a vida interior do locutor.

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Isso significa que a fé confessante implica em concordância dupla.

Nossa confissão não apenas deve ser igual a da Palavra de Deus, mas igual a de nosso coração. Algumas pessoas insinu-am que ‘confissão traz posse’, mas isso é um mal-entendido do processo de fé e superenfatiza o elemento confessional da fé viva. Enquanto é verdade que devemos continuar confessando até experimentarmos a promessa de Deus, essa confissão não se sustenta sozinha. É igualmente verdade que devemos conti-nuar crendo e agindo.

Contudo, o mais importante é que devemos perceber que ‘confessamos porque possuímos’. É a confissão de fé que já está dentro de nosso coração que ajuda a fé a se desenvolver por completo. Simplificando, não somos salvos porque ‘falamos como salvos’, nós ‘falamos como salvos’ porque somos salvos; e não somos curados porque confessamos as promessas de cura de Deus, nós confessamos a cura porque temos recebido a promessa de cura de Deus em nosso coração.

Essa é uma distinção muito importante, visto que a fé viva não é uma versão espiritual do pensamento positivo: a con-fissão infinita não faz nada acontecer. Nós confessamos com palavras de fé porque a Palavra de Deus é verdadeira e porque Deus é quem Ele é; e é Deus que – por meio de Sua Palavra e por nossa fé viva – mantém Suas promessas a nós.

A convicção do coraçãoMuitas pessoas estão convencidas de que a fé cristã é verdadei-ra e fizeram algum tipo de voto de segui-la. Todavia, sem um re-lacionamento forte – de coração – com Deus elas se preocupam com uma confissão exterior e comportamento exterior.

Passagens como Provérbios 4:23; 23:17 e 27:19 salientam a importância da convicção do coração. Elas nos impelem a tomar cuidado com o nosso coração porque tudo que dizemos e fazemos flui de nosso ser interior. Se nosso coração estiver correto, nossa confissão e ações também estarão corretas – e é o nosso coração que importa para Deus.

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Mateus 12:33-37 desenvolve isso mostrando que a boca fala do que há em abundância no coração. Se nosso coração contém a fé semente de Deus, ela fluirá de nossas bocas em confissão: nosso discurso refletirá a atitude de fé em nossos corações. É tão importante que os versículos 36 e 37 revelam que seremos julgados por Deus cada palavra negligente que fa-lamos. Jesus salienta aqui as palavras negligentes assim como nosso discurso usual. Isso porque são as palavras irrefletidas que, às vezes, revelam a verdade de nossos corações. Natural-mente que Mateus 7:20, 21 mostra que não somos julgados somente por nossas palavras, mas os versículos 33-37 de Ma-teus 12 demonstram como a nossa confissão é importante para Deus.

Isso é importante porque é o ‘ser’, e não o ‘fazer’ que está no centro do evangelho, e o que separa o cristianismo de outras religiões. É por isso que passagens como João 3:3-18 são tão fundamentais para a fé.

Nova vidaSeguir Jesus não é uma questão simplesmente de mudar o jeito que nos comportamos, ou mesmo defender um novo conjunto de crenças; é receber de Deus uma vida nova e diferente, e permitir que a Sua vida encontre expressão em nossas crenças, pensamentos, motivos e estilo de vida exterior.

Outras religiões tentam trabalhar de fora para dentro, mas o cristianismo trabalha de dentro para fora. Outras religiões ensi-nam que podemos ganhar uma nova vida espiritual executando certas ações e práticas e acreditando em ideias específicas. O cristianismo não denigre essas ações e ideias, simplesmente insiste que elas são incapazes de prover uma nova vida.

Somente o cristianismo declara que os homens e mulheres são incapazes de produzir nova vida pelos próprios recursos, e defende a um só tempo que precisamos receber de Deus tudo o que precisamos para a nova vida e que é somente essa nova vida proveniente de Deus que nos capacita a pensar, falar e agir de uma forma que é agradável a Deus.

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PARTE SETE - A FÉ CONFESSANTE 101

Árvore e frutoIsso é nada mais que o princípio da árvore e do fruto de Jesus. Boas árvores dão bons frutos, e árvores más dão frutos maus ou não os dão. Até que creiamos conforme Jesus, somos uma ‘árvore má’. Não importa o quanto possamos parecer impres-sionantes na superfície, somos diferentes por baixo dela. Jere-mias 17:9 é um princípio cristão eterno o qual descremos por nosso risco.

Deus não está preocupado com as nossas ações externas, Ele está preocupado com a necessidade de nossa natureza in-terior má ser desraizada, e Sua natureza ser plantada dentro de nós. Isso é ‘nascer de novo’ com a natureza de Deus dentro, e é o que foi prometido em Ezequiel 36:26, 27.

Isso deveria nos convencer que é inútil transformar a con-fissão em uma técnica de fé. Podemos confessar uma verdade com os nossos lábios para sempre – como os cristãos nominais fazem repetidamente quando recitam o Credo dos Apóstolos ou a Oração do Senhor todo domingo – mas nada dará resultado se essa verdade não estiver no fundo de nossos corações.

Falando a BíbliaEssa ênfase na importância da confissão proveniente do cora-ção não significa que devamos desprezar ou menosprezar os benefícios de memorizar as Escrituras e de recitar a Bíblia.

Na realidade, na medida em que lemos, estudamos, e apren-demos as Escrituras, damos ao Espírito Santo uma oportunida-de maior de nos falar por meio da Palavra escrita. Todavia, de-vemos sempre abordar as Escrituras humildemente, e depender de Deus para revelar a sua Palavra em nossos corações.

Falando com féTemos visto que a fé viva opera a partir do coração; e se a fé de Deus está realmente em nossos corações por Sua Palavra, ela deve ser falada francamente. A obra eficaz da fé sempre nos leva a confessar a Palavra.

Se ouvirmos a Palavra de Deus, se estivermos crendo no

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A FÉ VIVA102

coração, nossa confissão será igual à Palavra de Deus. Isso significa que temos todo o poder da Palavra de Deus operando por meio de nossa confissão, por intermédio de nossos lábios.

Quando declaramos nossa confissão, com fé viva e de acordo com a Palavra de Deus, podemos fazer nossas circunstâncias se alinharem com a vontade e propósitos de Deus. Examinamos esse aspecto de nossa confissão falada ‘cheia de fé’ na Parte Sete da Oração Eficaz e Parte Dez do Ministério no Espírito.

Em Mateus 17:19, 20; Marcos 11:22, 23 e Lucas 17:5, 6, Jesus ensinou Seus discípulos a falar com fé ‘para mover mon-tanhas’. Essa ideia está baseada em Isaías 2:11-16; 40:1-5 e Zacarias 4:7.

Marcos 11:22 é uma das passagens que já consideramos que geralmente é traduzida como: Ter fé em Deus, quando uma tradução melhor da palavra grega é: ‘Ter [a] fé de Deus’.

Algumas pessoas têm dificuldade de entender o que a frase ‘fé de Deus’ realmente significa. Todavia, se você entender que fé é confiança na Palavra de Deus, então você pode perguntar: quem tem maior confiança na Palavra de Deus do que o próprio Deus? Quando Deus fala Sua Palavra, Ele a fala com Sua fé. A Palavra de Deus, então, carrega Seu poder e autoridade para vê-la realizada conforme Isaías 59:11 deixa claro. Certamente que se Deus nos chama a confessar Sua Palavra, então Sua Palavra em nossa boca carrega exatamente o mesmo poder e autoridade como a Palavra de Deus em Sua boca. Isso que Je-sus quis dizer quando falou: ‘Tenha a fé de Deus’, e é disso que a confissão fala.

Sabemos que mover montanha não é um problema para o Deus vivo, para o todo-poderoso Elohim; e quando – pelo ouvir a palavra rhema de Deus – nós recebemos a semente da fé de Deus, deveríamos perceber que nós também podemos falar às montanhas e vê-las mover-se.

Mateus 17:20 e Lucas 17:5, 6 nos lembram que não pre-cisamos de muita fé para falar às montanhas, apenas a fé au-têntica. É a qualidade e não a quantidade que conta. Por si só nossa fé não pode alcançar nada – é Deus quem move as mon-

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PARTE SETE - A FÉ CONFESSANTE 103

tanhas. A fé que recebemos de Deus simplesmente nos envolve com Seu grande amor, e nós a liberamos por nossa confissão.

Quando uma ‘montanha’ de oposição está entre nós e a von-tade de Deus para a nossa vida, nós temos o poder e a autori-dade, pela fé, para falar à montanha e ordenar que ela se mova. Deus pode efetuar todas as mudanças necessárias para alinhar nossas circunstâncias com Sua vontade. Como observamos nos volumes A Oração Eficaz e Ministério no Espírito, as montanhas devem ser identificadas a nós por Deus, e o propósito por trás da confissão deve ser a revelação da glória de Deus.

A fé viva não é um cartão de crédito espiritual que signi-fica que podemos ter o que quisermos de Deus, sempre que quisermos. A fé trata da Palavra revelada de Deus. Todavia, quando ouvimos a Palavra de Deus, e cremos em nossos cora-ções, temos ‘a fé de Deus’ para falar – e continuar falando – à montanha específica que está impedindo a Palavra de Deus de ser cumprida e Sua glória de ser vista.

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Parte Oito

A Fé Atuante

Sabemos que a fé verdadeira se desenvolve a partir da fé semen-te divina que recebemos de Deus pelo ouvir as palavras rhema específicas a nós. E vimos que a fé viva implica em crer nessa palavra no profundo de nossos corações, confessando-a com nos-sas bocas, e agindo em conformidade com ela em nossas vidas.

A fé crente, a fé confessante e a fé atuante são três aspectos complementares da fé viva que coexistem como as raízes, tronco e folhas de uma planta, e que se nutrem e fortalecem mutuamen-te para que a fé possa chegar à perfeição. Não se trata de fases sequenciais da fé; em vez disso, são aspectos complementares, todos eles precisam estar presentes em nossas vidas, e todos eles necessitam de igual ênfase em nosso ensinamento.

A fé viva não é apenas uma questão de convicções sinceras, ela inclui também ações poderosas; nem tem a ver apenas com a linguagem espiritual, pois a fé autêntica também tem um estilo de vida de fé santo. A fé verdadeira afeta o que pensamos, o que dizemos e o que fazemos.

O elemento fé atuante da fé viva é salientado em Tiago 2:14-26; o versículo 17 identifica as obras – ações – como a essência do discipulado.

Fé e obediência Como sabemos que a fé viva vem de Deus, deveríamos ser capa-zes de perceber que a fé deve ser ativa do mesmo modo que Deus é ativo. E porque a fé viva está diretamente ligada com a Palavra

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de Deus, também deveríamos ser capazes de entender que a fé deve ser tão poderosamente ativa quanto a Palavra mostra ser em Hebreus 4:12.

Temos visto que a fé viva afeta o modo de falarmos, indepen-dente do que há em nossos corações, flui inevitavelmente de nossa boca. Contudo, a fé tem tanto resultados visíveis quanto verbais – é vista e ouvida. É novamente o princípio da árvore e do fruto de Jesus.

O fruto que uma árvore produz é determinado pelo tipo de árvore que é. Do mesmo modo, nosso estilo de vida e nossas ações são moldados por nossa natureza interior. Se, em e por Cristo, temos recebido o nome e a natureza de Deus, a fé que recebemos se converterá em ‘ações de fé’ proféticas, bem como em ‘discurso de fé’ profético. Sem essa operação de fé, teremos fé morta e religião vazia.

Como Tiago 2:17 esclarece, a fé sem ações significa que não há fé viva. Devemos perceber que os erros sempre penetram len-tamente em nosso entendimento quando concluímos descuida-damente que tanto o corolário quanto o reverso de uma declara-ção bíblica também podem ser verdadeiros, mas raramente esse é o caso. Por exemplo, Deus pode ser amor, mas o amor não é Deus; e embora os textos de Deuteronômio 13:1-5 e 18:21, 22 estabeleçam que a falha de profecias prenunciativas identifica um falso profeta, o cumprimento da profecia não é necessaria-mente uma prova de autenticidade.

Em Tiago 2:17, contudo, o reverso da declaração realmente é verdadeiro: ações sem fé também indicam que não há presença de fé viva. Na realidade, não importa o quão difícil possa ser para os incrédulos aceitarem, as ações sem fé não são ações bíblicas, aceitáveis por Deus.

A fé e a obediência inspiradas no amor são dois modos dife-rentes de soletrar o mesmo conceito bíblico. No Novo Testamen-to, podemos substituir ‘fé’ por ‘obediência’ e ‘obediência’ por ‘fé’ onde quer que apareçam. Fé sem obediência não é fé, é apenas palavra vazia. E obediência sem fé não pode ser obediência ver-dadeira, pode ser apenas uma obra vazia. Esse é um princípio

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PARTE OITO - A FÉ ATUANTE 107

importante de se entender, já que o mundo crê que as ‘boas obras’ são fundamentalmente valorosas; considera que a ação exterior é tudo que importa, e que um motivo indigno não pode anular uma obra digna.

Contudo, sem fé sabemos que é impossível agradar a Deus. Como a fé verdadeira, a obediência verdadeira também deve ser baseada no ouvir a palavra rhema de Deus – caso contrário é apenas presunção pecadora. E assim como crer na Palavra de Deus, para obedecê-Lo também devemos crer que Ele é quem diz ser, e que Ele recompensa aqueles que O buscam e buscam os Seus caminhos.

As ações obedientes verdadeiras devem ser acompanhadas pela fé interior, e a convicção autêntica deve sempre ser acom-panhada por uma ação obediente. Se dissermos que cremos e não fizermos nada em relação à nossa fé, verdadeiramente não cremos no que dizemos.

Devemos perceber, contudo, que às vezes o não fazer nada pode ser a ação obediente para a qual somos chamados por Deus. Ações audaciosas, como a de Abraão em Gênesis 16 e Davi em 1Crônicas 21, podem não ser sinais de fé viva, pois são tão más quanto as ações desobedientes.

A fé viva é sempre manifestada em uma ação de fé obediente, positiva – ainda que essa ação signifique recusar fazer o que nor-malmente faríamos. E essa ação de fé corresponderá exatamente à operação de fé que está ocorrendo internamente.

Hebreus 11Já constatamos que Hebreus 11 é um capítulo importante sobre a fé, e agora podemos perceber que ele revela o tipo de ações práticas que são uma parte fundamental da fé viva.

As ‘ações de fé’ relacionadas nesse capítulo são todas ‘ações obedientes’ à palavra rhema de Deus. Em cada caso, podemos intercambiar as palavras ‘por fé’ e ‘por obediência’ e não mudar o sentido da passagem.

Contudo, em cada caso, não foi uma obediência legalista e robotizada a Deus, foi uma relação amorosa de obediência com

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Deus. Os homens e mulheres de Hebreus 11 ‘tiveram fé’, eles creram porque sabiam que Deus era quem havia dito ser, e por-que estavam apegando-se a Deus e suas vidas estavam ‘Nele’ e ‘segundo Ele’.

Pela fé:• Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício • Enoque foi trasladado desta vida• Noé construiu uma arca• Abraão deixou a terra de Ur• Abraão viajou sem saber onde estava indo• Abraão viveu em tendas• Abraão esperou pela cidade de Deus• Sara concebeu e deu à luz uma criança quando já havia passado da idade de procriar• Abraão ofereceu seu filho como um sacrifício quando Deus o provou• Isaque abençoou Jacó e Esaú• Jacó abençoou os filhos de José e adorou • José falou sobre o Êxodo futuro e deu instruções para que seus ossos fossem levados do Egito para a terra prometida na época do Êxodo• Os pais de Moisés o esconderam• Moisés recusou ser identificado com os egípcios• Moisés escolheu sofrer aflições com o povo de Deus• Moisés manteve a Páscoa e deixou o Egito• Os israelitas atravessaram o Mar Vermelho• Os muros de Jericó ruíram• Raabe foi preservada por ter recebido os espiões• Reinos foram conquistados• Promessas foram obtidas• Bocas de leões foram fechadas• Chamas foram extintas• Pessoas escaparam da morte pela espada• Fraqueza foi transformada em força• Pessoas se tornaram corajosas e eficazes na batalha• Exércitos fugiram apavorados

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PARTE OITO - A FÉ ATUANTE 109

• O morto reviveu• Torturas foram suportadas• Pessoas aceitaram deboches, surras e prisão• Elas foram apedrejadas, serradas ao meio e assassinadas• Foram desamparadas, afligidas e atormentadas• Vagaram em desertos e pelas montanhas, e viveram em cavernas.Todas essas distintas ações foram ‘pela fé’. As obras foram a

consumação da palavra rhema específica de Deus para a pessoa, e cada ‘ação de fé’ foi apropriada à Palavra dada àquela pessoa. Não é o que as pessoas fizeram que é importante, e sim por que e como fizeram.

Em todas as eras muitas pessoas tentaram imitar as obras de fé de outros crentes. Elas têm se preocupado com os supostos benefícios ou valor das ações externas, e têm usado as ‘ações de fé’ relacionadas em Hebreus 11 para justificar suas ações.

Porém, essas ações foram todas ‘pela fé’ e isso quer dizer que os homens e mulheres envolvidos ouviram Deus falar com eles pessoalmente, colocaram Sua palavra no fundo de seus corações, e creram, confessaram e agiram segundo a palavra específica.

A menos que nossas obras sejam motivadas pela fé viva como uma resposta obediente à Palavra de Deus a nós pessoalmente, elas serão obras mortas e inúteis.

Fé e açõesTiago 2:17 e 2:26 mostram que nossa fé é morta, e totalmente inútil, se não estiver sendo demonstrada por ações. Constatamos que Efésios 2:8, 9 não contradiz Tiago 2, pois as duas passagens expressam a mesma verdade em palavras diferentes: não somos salvos por boas obras, somos salvos para as boas obras – mas, boas obras realizadas em fé.

Efésios 2:10 mostra que fomos criados em Jesus especifica-mente para boas obras, obras que Deus preparou para fazermos. Tiago 2 reforça essa ideia e ensina que fomos justificados pela fé, mas Tiago também revela que demonstramos a fé viva pelo que fazemos.

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Cristãos não são pessoas que podem viver como escolherem. A excelsa graça de Deus jamais pode ser encerrada a nós, não importa o que façamos, mas a fé viva implica em ações obedien-tes. Como cristãos, somos chamados a ouvir e obedecer a Deus, e nossa nova vida em Cristo significa que acolhemos a liberdade espiritual para ouvir e obedecer a Deus. De fato, somente aquelas pessoas que foram redimidas por Deus, e libertadas da garra do pecado e de Satanás, têm a possibilidade de obedecê-Lo.

Não podemos crer na Palavra de Deus e viver independen-temente dela. Quando cremos em Jesus e segundo Jesus e nos apegamos a Ele, recebemos o poder de Deus para viver a vida de Deus. Isso implica num pleno estilo de vida de fé, não apenas uma ou duas ações de fé esporádicas.

No plano de Deus, a fé crente, a fé confessante e a fé atu-ante são elementos essenciais da fé viva. Se qualquer um dos elementos estiver ausente, a fé é morta, não viva; e se qualquer elemento estiver subdesenvolvido, a fé será fraca e improvável alcançar a perfeição.

As ações expressam a féEm Tiago 2:22, observamos que a fé que Abraão tinha foi trazida à maturidade por suas ações. Gênesis 22 descreve o processo de fé de Abraão:

1. Abraão ouviu a palavra rhema de Deus a ele – Gênesis 22:1, 22. Ele respondeu com fé – 22:13. Ele confessou sua fé no Deus que ‘tudo provê’, o qual pro-metera torná-lo o pai de muitas nações – 22:5 e 22:84. Durante muitos dias ele realizou uma série de ações obe-dientes que correspondiam à palavra de Deus a ele – 22:3, 6 e 9, 10.A fé do coração, a confissão verbal e as ações físicas de Abraão

combinavam. Nessa situação, sua fé – sua resposta à Palavra de Deus em Gênesis 22:1, 2 – teria se tornado infrutífera sem ne-nhum desses elementos. Entretanto podemos observar que de

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algum modo especial foram suas ações de fé que expressaram o processo de fé.

Muitas pessoas começam a crer e avançar na fé, mas daí não expressam sua fé com a ação correta. Junto a cada expressão de fé há sempre uma ação correspondente que Deus quer que reali-zemos em fé – na expectativa de que Ele cumpra a Sua Palavra.

Em cada situação em que Deus nos chama a crer em Sua Pa-lavra, há sempre algo para crermos, algo a confessar, e algo a fa-zer. Como já observamos, essa ação de fé pode eventualmente ser o ‘fazer nada’ – principalmente não se preocupar e confiar muito.

Ações apropriadasNossas ações de fé devem corresponder exatamente à palavra específica de Deus que recebemos e confessamos. Por exemplo, se confessamos a fé em um Deus de amor, nossas ações devem refletir essa fé, e devemos amar os outros também. Se não nos importamos com os outros na prática, isso mostra que não cre-mos de fato em Deus como um Deus de amor.

Tiago 2:1-9, 14-18 salienta isso e mostra que nossas ações de fé devem combinar com nossas confissões de fé. Se tivermos os recursos para ajudar o necessitado, somente palavras não são o bastante – elas são vazias e infrutíferas! Todavia, a verdadeira confissão de fé sempre será acompanhada por ações direciona-das pela fé que combinam com nossas palavras, de maneira que nossa confissão deve ser ‘a mesma’ que a palavra de Deus a nós.

Estudamos esse princípio no sacrifício de Isaque por parte de Abraão. Todas as suas ações em Gênesis 22 foram apropriadas à palavra específica que ele recebera de Deus nos versículos 1 e 2.

A prostituta gentia Muitas pessoas acham difícil se identificar com a oferta cheia de fé de Isaque por parte de Abraão; elas pensam equivocadamente que isso requer uma quantia de fé que está além delas – quando sabemos que não precisamos de uma grande quantidade de fé, apenas um fragmento da qualidade correta de fé. Talvez por isso, Tiago 2:25 use Raabe como um exemplo de ‘fé atuante’.

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Raabe foi a prostituta gentia que escondeu e protegeu os espi-ões israelitas em Josué 2:1-21 e 6:22-25. As Escrituras ensinam que as ações de Raabe foram ‘inspiradas pela fé’ e ‘cheias de fé’. Ela era uma mulher que cria, e suas ações foram a expressão de sua fé, e um sinal visível a outros de seu arrependimento, visto que escolheu uma nova direção para a sua vida.

Raabe acreditou que Deus estava lutando por Israel, e que daria a eles toda a terra, e ela confessou essa fé aos espias em Josué 2:9. Porém, mais que isso, ela quis se juntar ao lado vencedor – apegar-se ao Deus que ela chamou de Iavé. Sua fé em Deus não foi uma teoria religiosa, ela acreditou de fato no que Deus estava fazendo, ela confessou isso, e agiu em confor-midade. De modo maravilhoso Mateus 1:5 registra como Deus honrou sua fé e a incorporou a Seu povo e à árvore genealógica do Messias.

Agora podemos começar a perceber o que Tiago quis dizer quando falou que Abraão e Raabe foram justificados pelas obras. Ele não está falando sobre ser justificado diante de Deus. Isso acontece pela fé somente e é totalmente independente das obras da lei ou quaisquer ações de nossa parte. Paulo deixa isso claro em Efésios 2:8, 9 e Romanos 4:1-8. Tiago está falando de nos-sas boas obras, ou as ações que correspondem à nossa fé e a aperfeiçoa, uma vez que fomos justificados diante de Deus.

O que Tiago quer dizer então quando fala que Abraão e Raabe foram ‘justificados pelas obras’? Em palavras simples, ele está falando de como nossas obras feitas em fé mostram aos outros ou lhes justificam nossa afirmação de termos fé viva. Isso se alinha à ordem de Jesus em Mateus 5:16: ‘Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus’. Nossas boas obras, feitas em fé, validam nossa afirmação aos olhos dos outros. Foi dessa forma que Abraão ganhou a reputação de ser amigo de Deus, e foi assim que Raabe ganhou seu renome como uma mulher de fé. Dessa forma, os dois provaram aos outros que sua fé era verdadeiramente viva. Suas ações vindicaram ou ‘justificaram’ sua afirmação de fé aos olhos dos outros, especial-

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PARTE OITO - A FÉ ATUANTE 113

mente àqueles que se beneficiaram de suas ações.E de nossa parte, se realmente crermos que Jesus é Senhor,

agiremos conforme essa fé. Se crermos legitimamente que Jesus quer alcançar o perdido, curar o doente, libertar os cativos e daí por diante, estaremos prontos para executar as ações de fé ade-quadas. E não somente nos beneficiaremos dos frutos de nossa fé pessoalmente, mas também outros serão abençoados. Eles verão a nossa fé em ação e glorificarão a Deus como resultado.

Não precisamos de muita fé, pois, em Cristo, Deus nos deu tudo que precisamos. Precisamos simplesmente fazer seja lá o que for que ouçamos Deus dizer – e podemos ter total certeza de ter fé suficiente, da mais alta qualidade possível, para falar e realizar a palavra de Deus.

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Parte Nove

A Garantia da Fé

Neste livro temos focado o modo que a fé opera, e nos concen-tramos na importantíssima associação entre a fé viva e a Palavra do Deus vivo. Neste capítulo, contudo, consideramos a relação entre a ‘fé’ e ‘o sangue de Cristo’, e observamos como Seu san-gue é a garantia vital de nossa fé.

O poder de Seu sangueEm alguns segmentos da Igreja há uma ênfase considerável no sangue de Cristo, e se faz muito uso de termos como: ‘lavado no sangue’, ‘capacitado pelo sangue’ e ‘coberto pelo sangue’. Essas expressões podem ser confusas, enganosas e desagradá-veis – especialmente para incrédulos – e precisamos entender as verdades bíblicas que estão por detrás dos diferentes termos. Não há valor em dizer algo sem entender corretamente a verdade por detrás.

O que é ‘o sangue’?Naturalmente, a frase ‘o sangue’ refere-se ao sangue vertido das feridas de Jesus na cruz; mas aponta para além, já que é uma expressão resumida da morte sacrificial completa de Jesus, bem como tudo que conquistou para nós. Podemos dizer que Jesus morreu como um sacrifício voluntário pelos pecadores, e que Seu sangue representa a totalidade de Sua morte sacrificial: o sangue é o sinal ou prova de sua morte.

Lemos em Levítico 17:11 que Deus diz: ‘Porque a vida da carne está no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para

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fazer expiação pela vossa alma...’ Porque o sangue de Jesus fez expiação por nós, devemos nos lembrar que a frase: ‘o sangue de Jesus’ não é simplesmente metafórica, mas se aplica de fato à substância real do sangue de Jesus. Entretanto, precisamos en-tender também de que modo esse sangue opera para nos salvar e unir Deus em aliança conosco.

O texto de Romanos 3:21-26 utiliza palavras técnicas como ‘justificação’, ‘redenção’ e ‘propiciação’ para descrever os resulta-dos da morte de Cristo – e abordamos esse assunto em detalhe na série Espada do Espírito, volume Salvação pela Graça. Porém, o versículo 25 simplesmente mostra que Deus escolheu Jesus como um sacrifício pela reconciliação, por meio da fé, pelo der-ramamento de Seu sangue. É o sangue de Jesus, derramado em Sua morte ‘cheia de fé’ que gerou todos os maravilhosos triunfos da cruz – triunfos que recebemos pela graça por meio de nossa fé em Cristo.

O Novo Testamento ensina que o sangue de Jesus realizou o que os antigos rituais judeus de sacrifício podiam apenas simbo-lizar – total e permanente purificação do pecado. Na realidade, tudo que o Antigo Testamento registra sobre sangue é significati-vo para a nova aliança. Os sacrifícios do Antigo Testamento prefi-guraram a cruz, o lugar onde Jesus derramou Seu sangue como o sacrifício pleno, final e perfeito por nossos pecados.

Sangue sacrificial Em Êxodo 12:1-14, o sangue do animal sacrificial sem defeito – podia ser um cordeiro ou cabrito, macho – foi colocado em fé nos umbrais e verga das portas das casas judaicas como um sinal de ser o povo de Deus. Quando Deus viu o sangue, Ele ‘passou por cima’ da casa e não destruiu os ocupantes quando feriu o primogênito do Egito. É por isso que Jesus é mencionado como o ‘Cordeiro pascal’ de Deus, pois é por meio de nossa fé em Seu sangue que Deus passa por cima de nós e não nos pune por nosso pecado.

Levítico 16:1-34 descreve os eventos do ‘Dia Anual da Ex-piação’ ou ‘Dia Anual da Reconciliação’ quando um novilho era

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PARTE NOVE - A GARANTIA DA FÉ 117

sacrificado pelo pecado do sumo sacerdote e sua família, e os dois bodes eram sacrificados pela culpa e pecado do povo. Um bode, o ‘bode expiatório’ era enviado ao deserto e simbolica-mente carregava a culpa do povo; o outro bode era sacrificado pelo pecado do povo. O sangue do novilho e do bode era então espargido pelo sumo sacerdote sobre o propiciatório e diante do propiciatório e do altar como um ato de expiação pela impureza e rebelião dos israelitas.

Do mesmo modo, em todo o Novo Testamento, a morte de Jesus é reconhecida como efetivamente sacrificial pela culpa e pecado dos homens.

Observamos isso, por exemplo, em 1Coríntios 5:7; 2Coríntios 5:14; Gálatas 2:20; Efésios 5:2; Hebreus 5–10; 1Pedro 3:18 e 1João 2:2.

Sabemos que Jesus morreu de modo completo e suficiente por nós e pelos nossos pecados para nos levar a Deus. E pode-mos dizer, no geral, que Sua morte:

• Aplacou a ira de Deus• Satisfez o senso de justiça de Deus• Produziu o nosso perdão• Comprou a nossa liberdade• Declarou a nossa retidão, a nossa justificação• Limpou-nos do pecado• Forjou os nossos novos relacionamentos com Deus e com outras pessoas• Alcançou a eternal perfeição de todos que Ele está santifi-cando• Expiou completamente todos os pecados de forma que ago-ra não há necessidade alguma de ofertas por culpa e pecado.Contudo, o Novo Testamento identifica dez formas específicas

em que ‘o sangue’ nos assegura da obra salvífica de Deus em nossas vidas. Podemos dizer com confiança que o sangue nos assegura de nosso(a):

• Perdão – Efésios 1:7• Purificação – 1João 1:7• Retidão – Romanos 5:9

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• Redenção – Efésios 1:7• Santificação – Hebreus 10:10 e 13:12• Compra – 1Coríntios 6:19, 20• Livramento da maldição da Lei – Gálatas 3:13• Herança prometida – Hebreus 9:15-18• Liberdade das escravidões herdadas – 1Pedro 1:18, 19• Vitória sobre Satanás – Colossenses 2:15; Hebreus 2:14 e João 12:31-33.Todas essas conquistas estão maravilhosamente sintetizadas

e fazem alusão implicitamente a frase eterna – ‘sangue de Cris-to’. Seu sangue é a garantia visível de todas essas conquistas.

Sacrifício de quem?Isaías 53 é um capítulo profético importante sobre a cruz, mas o versículo 10 é muito difícil de traduzir. A segunda oração pode-ria significar; ‘embora Deus ofereça Seu servo como uma oferta de culpa’ ou ‘o servo oferece a si mesmo como uma oferta de culpa’. Não está claro em Hebreus se é Deus ou o servo quem faz a oferta.

À primeira vista, o Novo Testamento parece igualmente am-bíguo nesse ponto. Marcos 14:27; João 3:16; Romanos 3:25; 4:25; 8:3, 32; 2Coríntios 5:21 e 1João 4:9, 10, todos acen-tuam que o Pai enviou o Filho para ser um sacrifício. Contudo, em todo o restante do Novo Testamento, acentua-se a natureza voluntária do sacrifício de Cristo: Mateus 20:28; Gálatas 2:20; Efésios 5:2, 25; 1Timóteo 2:6; Tito 2:14; Hebreus 9:14 e 26, todos afirmam que o Filho sacrificou a Si mesmo.

Naturalmente que a verdade tem dois lados. O Pai deu o Fi-lho e o Filho deu a Si mesmo livremente. O Pai não fez o Filho suportar uma provação que Ele não quisesse enfrentar, e o Filho não surpreendeu o Pai com Sua ação altruísta. Esse paradoxo é nitidamente declarado em Gálatas 1:4 e João 10:17, 18.

Estudamos a relação entre a Trindade na série Espada do Espírito volumes Glória na Igreja e Conhecendo o Espírito, e percebemos que o Pai, o Filho e o Espírito não são três indiví-duos distintos, mas três autodistinções dentro de um ser. Eles

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revelam Sua unicidade em uma diversidade tripla de pessoas, características e funções.

Se essa tri-unidade divina for mal-entendida, é provável que caíamos em erro quando contemplarmos a cruz. Se enfatizar-mos que o Pai, o Filho e o Espírito são indivíduos separados, nós inevitavelmente caricaturamos o Calvário como Deus punindo um Filho inocente ou como Jesus persuadindo um Pai relutante. Enquanto 2Coríntios 5:18, 19 deixa claro que o sacrifício não foi feito por Cristo sozinho ou por Deus sozinho, mas por Deus agindo em Cristo e por meio de Cristo com Seu pleno consen-timento.

E se enfatizarmos a unicidade absoluta de Deus, concluire-mos erroneamente que Deus morreu por nós. Todavia, devemos perceber que Deus não poderia ter morrido porque Ele é imortal. Para resolver esse problema, Deus, na pessoa de Cristo, tornou-se homem de modo que Ele pôde morrer em nosso lugar: para que pudesse infligir e receber a própria punição; e ser ambos simultaneamente: Juiz e vítima inocente. Hebreus 2:14-18 e Filipenses 2:6-8 declaram isso claramente.

O Deus de sacrifícioIsso significa que devemos crer, ter fé e nos apegarmos ao Deus de sacrifício de sangue; e que devemos considerar ‘o sangue’ não apenas importante para as Escrituras, mas o centro da na-tureza de Deus. Seu sacrifício na cruz alcançou eternamente a nossa salvação, mas é também o maior ato de auto-revelação da natureza pessoal de Deus.

Por causa da cruz podemos dizer que ‘o sangue’ é a revela-ção e garantia suprema da:

• Bondade• Misericórdia• Graça• Verdade• Paciência• Perdão• Retidão

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• Paz• Autocontrole• Bondade• Auto-obliteração• Confiabilidade• Fé• Justiça• Amor de Deus. Observamos isso em Romanos 3:24-26 e 5:8, e podemos

dizer que ‘o sangue’ é a garantia da natureza de Deus, isto é, a garantia absoluta de fé no Deus que Se revelou por meio de Seu sangue como infinitamente amoroso e afável.

O Novo Testamento sempre define amor em termos do sa-crifício de Deus na cruz, por exemplo, Romanos 5:8; 1João 3:15-20 e 4:7-21. Na cruz, Deus deu tudo por causa de seu amor por aqueles que não merecem nada. O Pai deu o Filho por aqueles que preferem adorar outros deuses; o Filho deu a Si mesmo por aqueles que persistentemente O ignoram; e am-bos renderam-se à relação um com o outro por causa de Seu inimaginável amor por todos nós.

Desde a terrível agonia e separação divina do sacrifício de sangue do Calvário, ninguém pode olhar para uma cruz e ques-tionar o amor de Deus – porque nada revela o amor de Deus mais claramente do que ‘o sangue’. O sangue é a garantia do amor de Deus, e de nossa fé no amor de Deus. O sangue prova que Deus nos ama.

Então podemos dizer que o sangue de Cristo é a garantia de ambos:

• Quem Deus é• O que Deus tem feito por nós.Neste livro vimos que a nossa fé está lastreada tanto na

revelação do próprio Deus quanto na Sua palavra a nós. Agora podemos ver que o sangue de Cristo é a garantia desses dois aspectos fundamentais da fé, e deveríamos poder compreender por que a cruz é tão importante para a fé cristã.

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A aliança de sangueSe quisermos entender o elo bíblico entre a fé e ‘o sangue’, teremos de reconhecer o ensinamento bíblico sobre as alianças de sangue. Pode-se observar tal ensinamento muito claramente na história do trato de Deus com Abraão.

A palavra rhema inicial de Deus a Abraão foi falada em Gê-nesis 12:1-3, e Abraão respondeu em fé ao partir de Harã para Canaã. Muitos anos depois, Deus confirmou a Sua palavra a Abraão em Gênesis 15:1. Todavia, dessa vez, nos versículos 2 e 3 Abraão questionou Deus quanto à forma que a promessa seria cumprida. A palavra do Senhor respondeu a Abraão nos versículos 4 e 5, e – pelo ver as estrelas no céu – Abraão viu as promessas de Deus a ele e creu. O versículo 6 relata que Abraão colocou sua fé em Deus e que isso lhe foi imputado por justiça.

No versículo 8, contudo, Abraão pediu a Deus por uma pro-va de garantia, por um sinal que pudesse confirmar a Sua pa-lavra a ele. Ele estava pedindo que Deus entrasse num acordo vinculativo com ele. Em sua pecaminosidade, Abraão queria ter certeza de que a promessa de Deus seria cumprida.

A resposta de Deus a isso foi o estabelecimento da aliança de sangue descrita nos versículos 9 a 21. A aliança real se assemelha aos rituais de aliança antigos descritos em Jeremias 34:18. Nestes, as partes contratantes passavam entre as par-tes dos animais mortos e invocavam para si o destino da vítima sacrificial caso quebrassem o acordo.

Observamos que somente Deus passa entre as partes dos animais porque Sua aliança de sangue é um pacto unilateral: é uma iniciativa divina. A chama de fogo é Iavé, como em Êxodo 3:2; 13:21 e 19:18.

E a escuridão e o período de tempo apontam para o Calvário quando Deus fez uma aliança semelhante por meio do sangue derramado e do corpo partido de Jesus.

Na aliança de sangue com Abraão, Deus estava dizendo: ‘Que eu seja como esses pedaços partidos de animais se falhar em cumprir a minha palavra a você’. Essa aliança anteviu – pre-

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parou o caminho para – o juramento que Deus fez em Gênesis 22:16, 17 na consumação da fé de Abraão. Deus obviamente nunca quebra Sua Palavra, mas o Novo Testamento mostra que Jesus de fato morreu como um sacrifício, não pela infidelidade de Deus, mas pela nossa.

Assim podemos dizer que o sangue de Cristo é a promessa solene de Deus de que Ele manterá Sua Palavra a nós: é o ‘au-xílio dado por Deus’ à fé – a garantia de Sua Palavra – que pre-cisamos por causa de nossa pecaminosidade e incredulidade. Também deveríamos poder perceber como o sangue prepara o caminho para o fruto do juramento do selo de Deus a nós, para a promessa do Espírito em nossos corações.

A testemunha de Deus O texto de 1João 5:5-9 descreve ‘a água e o sangue’ como tes-temunhas que coincidem com o Espírito (a água é a água que verteu com o sangue do lado de Jesus quando Ele foi furado por uma lança na cruz). No volume Conhecendo o Espírito observamos que o Espírito Santo é a testemunha de Jesus, e que tudo que Ele faz tem o propósito de focar a atenção Nele e ‘testemunhar’ ou ‘concordar com’ a natureza de Jesus.

E aqui vemos que o sangue e a água são testemunhas se-melhantes ao Espírito. As três testemunhas prendem a nossa atenção em Cristo, e revelam a Sua natureza afável.

A graça de DeusA aliança pessoal de sangue de Deus com Abrãao em Gênesis 15 revela a graça de Deus. Deus não exige obediência e Abraão não faz promessa de obediência. Essas vêm depois, nos versí-culos 17:1 e 22:12, visto que Deus chama Abraão a um rela-cionamento ainda mais íntimo e um estilo de vida ainda mais parecido com o Dele, mas a aliança de sangue em si, é uma ocasião de pura graça.

Os lapsos e dúvidas de Abraão não são mencionados, e não retardam a aliança. Esta se dá quando Abraão mostra fé, mas não está isento de dúvida, e é feita antes de a obediência ter

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sido exigida, testada ou confirmada. Deus segue o mesmo prin-cípio de graça no Calvário.

A aliança de sangue com Moisés, em Êxodo 23.20–24.8, também foi uma iniciativa divina da graça, mas dessa vez ho-mens e mulheres tiveram de responder com obediência. A na-ção de Israel foi obrigada a guardar a Lei de Deus para obter Sua bênção.

O Novo Testamento, especialmente Gálatas 3, olha para a aliança de sangue com Abraão como o fundamento da fé cristã, e estabelece a ‘Nova Aliança’ na cruz com base na aliança de Abraão de pura graça e fé.

Primeira Coríntios 11:25 e Hebreus 8:6-10 descrevem a cruz em termos de uma nova aliança, o que significa que ‘o san-gue’ é o juramento supremo de Deus à humanidade. Deus nun-ca quebrara Sua promessa de Gênesis 15, contudo Ele deixou acontecer a Si mesmo no Calvário o que acontecia aos animais.

Na cruz não havia exigência de obediência, apenas uma ofer-ta de perdão. Nossos lapsos e dúvida não retardaram a aliança, pois foi outra ocasião de pura graça. Desde a aliança de sangue da cruz, não há nada mais que Deus possa fazer. Ele fez Sua promessa e Seu sangue testemunha Sua total sinceridade e fi-delidade. Na realidade, podemos dizer que o sangue faz Deus manter Sua Palavra.

Vencendo pelo sangueSabemos que temos garantia ou segurança dupla de nossa fé – a Palavra de Deus e o sangue da aliança. Na realidade, pode-mos dizer que a Palavra da aliança está selada pelo sangue da aliança e o Espírito testifica isso aos nossos corações. A Palavra de Deus agora está protegida em uma aliança que tanto foi feita no sangue de Jesus quanto entrou em vigor pelo Seu sangue na medida em que o Espírito aplica isso a nossos corações. Ob-servamos isso em Hebreus 9:20 e Romanos 8:32. O contexto dessas duas passagens também nos ajuda a perceber que o sangue trata das consequências de nossa falha e nos coloca em uma posição vitoriosa sobre o nosso inimigo.

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Hebreus 9:27, 28 deixa claro que o sangue de Cristo trata completamente de todas as coisas – todo nosso pecado, culpas, dúvidas, fraquezas e falhas. A primeira vinda de Cristo teve a ver com tratar de nosso pecado por meio de Seu sangue, como ob-servamos em Romanos 8:3 e 2Coríntios 5:21. A segunda vinda de Jesus não terá ligação com o pecado porque a redenção, pelo sangue, é completa. Pela fé, esperamos por essa vinda que se dará no Julgamento – Romanos 2:6 e 1Coríntios 1:8.

Romanos 8:34-39, talvez o apogeu do Novo Testamento, mostra que o sangue, a morte de Cristo, garante que estamos em uma posição triunfante sobre a morte e os demônios, duran-te o presente e o futuro, e sobre todos os poderes celestiais. O sangue – a obra completa da morte sacrificial de Jesus – garante que nada jamais poderá nos separar do amor de Deus, o qual conhecemos em Jesus.

Entendemos que nossa fé está ligada em quem Deus é, e que conhecemos Deus como graça e amor por causa de tudo que Ele tem revelado sobre Seu nome e natureza em Jesus. Contudo, embora conheçamos e saibamos de tudo isso, ainda assim duvi-damos e procuramos sinais para nos convencer de que podemos depender da Palavra de Deus. Então Deus nos deu o sinal que estamos procurando, a prova que precisamos para a fé, toda a segurança que necessitamos para crer, a garantia de Sua Palavra.

O sangue de Cristo é a segurança da fé; é a garantia que Iavé é quem Ele é, que Ele se tornou na cruz aquilo que precisáva-mos a fim de atender a nossa necessidade maior. Quando de fato percebermos a graça e o poder do sangue, entenderemos finalmente por que não precisamos de uma grande quantia de fé, apenas aquela que tem o tamanho de uma sementinha.

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Parte Dez

Desenvolvendo a Fé Viva

Constatamos que a prova é parte integral do processo de fé, e que Jesus sempre provou a fé daqueles que vieram a Ele a fim de garantir que estavam prontos para receber Dele.

Essa prova faz parte do fortalecimento da fé, que possibilita à ‘semente’ transformar-se na planta madura. Nós não recebemos de Deus uma planta da fé plenamente desenvolvida ao ouvirmos Sua palavra, pois isso poderia não ser fé. Em vez disso, recebe-mos uma semente de Sua fé que devemos trazer para o profundo de nossa vida e cultivar. Na medida em que continuamos a crer na Palavra de Deus em nossos corações, continuamos a confessá-la com nossos lábios e a agir constantemente em conformidade com ela, então a semente se transforma em uma planta madura que nos possibilita receber a promessa.

Assim como algumas sementes precisam ser tocadas pela ge-ada para germinar, e outras plantas precisam de ventos fortes para fazê-las desenvolver raízes fortes, assim Jesus definitivamen-te prova as pessoas para fortalecer a sua fé. Podemos observar isso em sua demora antes de visitar Lázaro, João 11:5-40, Seu questionamento da mulher cananéia, Mateus 15:22-28, e Sua estranha ordem ao oficial do rei em Cafarnaum, João 4:46-53.

Fé e oraçãoAs plantas, entretanto, necessitam mais do que clima frio e ven-tos fortes para passarem de sementes à maturidade produtiva. E nossa fé imatura também necessita de alimento e cuidado para que possa se desenvolver corretamente.

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Sabemos que a fé é relacionamento, ela é um fazer parte no Deus vivo e se apegar a Ele – é um relacionamento vivo com a Palavra e o Espírito. Observamos no volume Oração Eficaz que a oração é uma parte indispensável de qualquer relacionamento com Deus, então devemos entender que a oração é fundamental para o desenvolvimento de nossa fé.

PersistênciaA fé verdadeira é vista na oração persistente descrita por Jesus em Lucas 11:5-13 – esse assunto é abordado no volume Oração Eficaz. A oração persistente é necessária até que os resultados prometidos de Deus sejam vistos ou que o Espírito Santo testifique a nós que a questão está cumprida.

Podemos dizer que a oração persistente é tanto a evidência de fé quanto um meio do desenvolvimento da fé. Sem fé nós não persistiremos, mas pela persistência nossa fé se desenvolve e amadurece de modo que recebemos a promessa de Deus.

TriunfoA oração intercessora é sempre necessária até que haja triunfo no Espírito, e que Sua garantia de fé tenha sido liberada em nós.

É aí que sabemos em nossos espíritos que nosso pedido foi concedido e a situação tratada. Não tem nada a ver com o resul-tado já poder ser visto, pois o triunfo espiritual pode vir muito an-tes de ocorrer qualquer mudança na situação externa. Abordamos esse assunto na Parte Sete do volume Oração Eficaz.

Esse é um processo de desenvolvimento da fé: oramos em fé até recebermos a garantia do Espírito; então aceitamos essa garantia e em seguida confessamos e agimos em conformidade com ela não nos preocupando – e parando de orar a respeito da questão e co-meçando a louvar a Deus. De novo, esse processo de oração tanto evidencia nossa ‘fé muda de planta’ como a fortalece e desenvolve.

Batalha espiritual A batalha espiritual sempre é necessária na medida em que exer-citamos a fé em Deus para o cumprimento de Suas promessas

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a nós. Os filhos de Israel tiveram de passar por muitas batalhas antes de entrarem para a sua herança em Canaã. Esse assunto é abordado na Parte Sete do volume Oração Eficaz.

Todo o processo de fé – do ouvir ao crer, confessar e agir até o receber – é um tempo de batalha espiritual uma vez que o inimigo sempre tenta matar pela fome ou esmagar com os pés a jovem semente ‘muda de planta’. É preciso ficar claro que a ba-talha espiritual auxilia no desenvolvimento de nossa fé ao resistir às tentativas do inimigo de esmagar ou corromper a nossa fé. Devemos perceber que a batalha espiritual é quase sempre mais acirrada no momento imediatamente anterior ao triunfo espiritual ou à liberação da promessa.

Ações de graçaLouvor e ação de graça também são essenciais ao desenvolvi-mento da fé. Nós demonstramos fé, e ainda a fortalecemos, sem-pre que louvamos a Deus simplesmente na base da fé – sem nenhuma evidência física. Nós não precisamos de fé para louvar a Deus por aquilo que podemos ver! Isso O glorifica e libera Seu poder. Abordamos esse assunto na Parte Cinco do volume Oração Eficaz.

A oração da féTiago 5:13-18 é uma passagem importante sobre oração e fé, e o versículo 15 se refere à ‘oração da fé’. Esse assunto é examinado com mais detalhes na Parte Dez do volume Oração Eficaz e na Parte Cinco do Ministério no Espírito.

A oração de fé significa ‘orar com o conhecimento de que te-mos o que pedimos antes de o possuirmos’. Constatamos isso em 1João 5:14, 15 e Marcos 11.24. Para orar desse modo, pre-cisamos:

• Uma convicção interior – Hebreus 11:1• O testemunho do Espírito – Romanos 8:16• A paz que vem pela fé – Hebreus 4:3 e 10.Não devemos pensar na ‘oração da fé’ como um nível de ora-

ção ao qual podemos aspirar apenas eventualmente, pois cada

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oração que é baseada em uma palavra rhema recebida de Deus deve ser uma ‘oração de fé’.

Nessas alturas deveríamos entender que Deus nos deu – por meio de Sua Palavra – a fé que precisamos para orar pelo cum-primento de Sua Palavra, e que ‘a Palavra’, ‘o Espírito’ e ‘o san-gue’ nos oferecem toda a garantia extra que precisamos para orar dessa forma todas às vezes.

Fé e louvorSe formos sérios quanto a desenvolver a fé viva em nossas vi-das, devemos garantir a manutenção de uma atitude de louvor e adoração pelo que Deus tem se revelado ser na Palavra e pelo sangue, e que nós damos graças antes da manifestação ou cum-primento da promessa em nossas vidas. Essa atitude é vista em Salmos 106:12 e 130:5-7.

Estudamos a ação de graças em detalhe na Parte Cinco da Oração Eficaz, e observamos lá que ação de graças é acima de tudo uma oração, direcionada a Deus, que o agradece pelo que Ele tem feito; e que o louvor é essencialmente um elogio ou exaltação acerca das atividades e atributos de Deus que ou é direcionado a outras pessoas ou abraçado por elas quando dire-cionado a Deus.

Quando agradecemos a Deus, falamos pessoalmente com Ele. Entretanto, outras pessoas geralmente estão envolvidas quando louvamos a Deus. A ordem em Salmos 100.4 é clara. Entramos individualmente por Suas portas com ação de graças, mas de-pois entramos juntos em Seus átrios com nosso louvor. Para a fé viva se desenvolver, deve haver os dois elementos: pessoal e coletivo – deve haver agradecimentos e louvor.

Deus habita nos louvores de Seu povo Salmos 22:1-3 mostra que Deus habita, ou está entronizado, nos louvores de Seu povo. Ele vem e possui Seu povo quando este o louva para outra pessoa. Essa vinda de Deus por meio do louvor é o que desenvolve a fé: por intermédio do louvor nosso relacionamento com Deus é fortalecido.

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Salmos 89:15, 16 deixa claro que louvar a Deus é andar na luz de Sua presença. Na medida em que desenvolvemos essa relação íntima, a fé que recebemos de Deus se fortalece e ama-durece naturalmente.

O louvor honra a Deus Deveríamos entender que fortalecemos nossa fé – e a fé de ou-tros – quando agradecemos a Deus pelo que Ele tem feito. Em-bora essas ações de graças não sejam declarações de fé, elas desenvolvem de fato a fé. Pois enquanto nos regozijamos no que Deus tem feito, aprofundamos nossa convicção de que Ele pode realizar os mesmos feitos de novo – e feitos maiores.

Todavia, não devemos agradecer a Deus como objetivo exclu-sivo de fortalecer a nossa fé, em vez disso é preciso agradecê-Lo para focar a atenção Nele – honrar e glorificar o Deus vivo. Os Salmos 50:14, 15, 23; 107:21, 22; 116:12 e 17 ilustram esse princípio.

O louvor, contudo, vai além da ação de graças. No louvor, nós exaltamos a Deus pelo que Ele é e pelo que Ele ainda está por fazer. Esses louvores são tanto a evidência da fé confessante quanto um meio de desenvolvê-la. Eu repito, devemos louvar a Deus essencialmente para honrá-Lo e glorificá-Lo, mas devemos reconhecer que essa oração de fé tem o efeito colateral de desen-volver a nossa fé.

Na medida em que louvamos Iavé por ser quem Ele é, o nosso louvor destaca e aumenta a nossa fé. E na proporção em que O louvamos pelo que Ele está ainda por fazer – com base no que Ele disse, em quem Ele é e nas garantias que Ele tem dado – trazemos glória para Deus e força para a nossa fé.

O louvor prepara o caminho para a vitóriaAs Escrituras revelam repetidas vezes que o louvor prepara o caminho para a vitória, que ele acelera a vinda da promessa. Observamos isso em passagens como Êxodo 15:1-3, 9-13; Jó 35:10, 11; Salmos 2:8; 8:2; 42:5, 6; 77:6; 149:69 e Atos 16:25, 26.

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Mais uma vez, devemos entender que Paulo e Silas não lou-varam a Deus para que as portas da cadeia se rompessem, eles O louvaram simplesmente porque Ele merecia o louvor. Contudo, o louvor no contexto deles foi em si mesmo uma manifestação de fé. Além disso, esse episódio tanto trouxe Deus mais profundo em seus corações quanto foi um ataque implícito ao inimigo. Abordamos esse aspecto do louvor no volume Adoração em Es-pírito e Verdade. Podemos dizer que o louvor cheio de fé honra Deus e expulsa o diabo – desse modo, ele prepara o caminho para a vitória e a realização.

O louvor traz glória Constatamos na Parte Um de Glória na Igreja que sacrifícios, inclusive o sacrifício de louvor, sempre atrai a glória de Deus. No Antigo Testamento, a expressão ‘a glória de Deus’ é usada de dois modos diferentes:

• Como um termo equivalente para ‘o nome de Deus’ que se refere ao caráter auto-revelado de Deus• Como uma revelação visível da presença de Deus a Seu povo.A glória de Deus mostra às pessoas – e principados e potes-

tades – precisamente onde Deus está, e exatamente como Ele é. Isso significa que nosso louvor sacrificial atrai a presença – o nome e a natureza – de Deus para dentro de nossa situação. Isso sempre é um crescimento maravilhoso para a nossa fé, pois quem pode duvidar quando sabemos que Deus está entre nós?

A fé como a de AbraãoComo observamos, a história bíblica da ‘fé em desenvolvimento’ de Abraão – de Gênesis 12:1 a 22:19 – é importante para o nos-so entendimento da fé viva. No Novo Testamento, Abraão, não Moisés, é o Pai da fé e o modelo do modo que experimentamos a salvação.

Uma visão geral do modo que a fé que Abraão tinha se de-senvolveu nos ajuda a compilar os diferentes princípios de fé que percebemos neste livro.

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Gênesis 12A primeira menção de qualquer relação, 12:1-3, entre Deus e Abraão relata Deus falando a Abraão, sem qualquer precedente, e lhe dando uma série de oito promessas:

• Eu lhe mostrarei uma terra• Eu farei de ti uma grande nação • Eu te abençoarei• Eu farei seu nome grande• Você será uma bênção • Eu abençoarei aqueles que te abençoarem• Eu amaldiçoarei aqueles que te amaldiçoarem• Em ti, todas as famílias da terra serão benditas.Nessas alturas, Deus não faz exigência alguma a Abraão.

Ele simplesmente fala Sua palavra rhema específica a Abraão, e Abraão tanto pode responder com fé quanto com descrença. O versículo 4 mostra que Abraão creu na palavra de Deus a ele e agiu com fé. Essa ‘resposta de fé’ é seguida, no versículo 7, por outra promessa divina. Essa promessa teria fortalecido grande-mente a fé que Abraão tinha, uma vez que lhe teria confirmado que Deus verdadeiramente era com ele e o estava dirigindo a Canaã.

Dessa vez Abraão responde, no versículo 8, à promessa de Deus com adoração. Ele constrói um altar e invoca o nome de Iavé. Podemos perceber que há uma promessa e uma ‘resposta de fé’ em cada passo do ‘processo de fé’, e que cada desdobra-mento lança Abraão para mais perto de Deus. Ele está realmente fazendo parte de Deus, tomando ciência de Seu nome e nature-za, e começando a se apegar a Ele.

Não há indício algum de qualquer razão por que Deus falou a Abraão. É simplesmente a escolha soberana de Deus. Não há nenhum padrão que Abraão deva alcançar. É tudo graça da parte de Deus e fé da parte de Abraão.

Em Gênesis 13:8-12, Abraão e Ló se separaram de acordo com a ordem a Abraão em Gênesis 12.1. E Deus responde, em 13.14-17, à ação de fé de Abraão com outra repetição de Sua promessa.

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Gênesis 15Gênesis 14 registra o encontro extraordinário – e prova – de Abraão com Melquisedeque, que deve ter sido ‘desenvolvedor de fé’. A seguir, Deus falou novamente a Abraão com palavras de promessa, em Gênesis 15:1.

Constatamos que Abraão estava em um relacionamento tão real com Deus que era capaz de Lhe relatar suas dúvidas. Deus não dispensou Abraão por causa de suas dúvidas, em vez disso Ele lhe confirmou e explicou pacientemente Sua Palavra.

Gênesis 15:6 chama atenção para a resposta fiel de Abraão à palavra de Deus, e a define como ‘crença em’ ou ‘no Iavé’. Então Deus revela-se a Abraão no versículo 7, e Abraão responde com mais perguntas – e Deus o assegura por meio da aliança de san-gue descrita nos versículos 9 a 17.

A essas alturas, Abraão tinha fé viva autêntica em Iavé, mas ainda era fé ‘muda de planta’: sua fé estava mesclada com dúvi-das e questionamentos. Contudo, toda vez que Abraão respondia com palavras e ações de fé, Deus o lançava mais profundamente a um relacionamento vital com Ele. Podemos perceber que Deus continuou repetindo Sua palavra a Abraão, continuou ‘injetando’ fé em Abraão, e que a fé pequena, porém autêntica de Abraão em Iavé era suficiente. Deus imputou sua fé como justiça.

Tudo isso deveria nos encher de confiança, pois é o mesmo para nós atualmente. Deus nos escolheu e falou conosco – e está inteiramente baseado em Sua graça e não tem nada a ver com o nosso mérito. Ele nos tem dado promessas específicas, e não nos rejeita quando nossa fé é tingida com dúvidas e questões. Ele continua nos chamando a adorá-Lo, a viajar com Ele, a fazer parte Dele e desfrutar um relacionamento vital com Ele. E sempre que damos um passo hesitante de fé, Ele nos premia com uma reafirmação de Sua palavra e uma maior revelação de Si mesmo.

Gênesis 17Gênesis 16 descreve a presunção pecadora de Abraão – suas ações descrentes. Todavia, não há reprimenda da parte de Deus, apenas graça e promessas a Ismael e Hagar. Gênesis 17, contu-

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do, implica em um maior desdobramento na fé que Abraão tinha.Quatorze anos haviam passado e Deus aparece a Abraão no-

vamente, dessa vez revelando-se como El Shaddai, como o Deus que ‘tudo provê’. Agora, pela primeira vez, Deus requer, em Gêne-sis 17:1, que Abraão ande em Sua presença e seja perfeito. Deus não estava exigindo impecabilidade, mas uma retidão básica – diferente de seu comportamento em Gênesis 12:12-20 e 16:1-4 – que se baseava em permanecer próximo, apegado a Deus.

É importante entendermos o processo: primeiro Deus reve-lou-se como provedor total, e depois instruiu Abraão a caminhar diante Dele – a permanecer próximo de Sua total provisão e a depender de Sua total provisão. Deus não instruiu Abraão a ser perfeito, e – se ele fosse – então Deus estaria com ele e proveria para ele. Devemos entender que a graça sempre precede a fé e provê a fé necessária para a necessária ‘resposta de fé’.

Mais promessas – inclusive um novo nome – são dadas a Abraão, versículos 3 a 8, e em seguida mais ordens são coloca-das sobre ele. Mais uma vez, a promessa sempre precede as or-dens para aqueles que estão em um relacionamento de adoração com Deus.

A dádiva de um novo nome a Abraão pelo Deus que ‘tudo pro-vê’, chama a atenção para a natureza do El Shaddai, e enfatiza que Abraão seria capacitado a ser o que a promessa lhe dissera.

Desenvolvimento contínuoPodemos observar o desenvolvimento contínuo da fé que Abraão tinha em Gênesis 12 a 21. Por exemplo:

• Capítulo 12 – a primeira resposta de fé de Abraão à palavra de Deus ao deixar casa, família e país.• Capítulo 13 – um desvencilhamento fiel de sua família, e um lapso de fé ao viajar ao Egito, para onde não havia sido enviado, e pecar. Deus não falou com ele enquanto estava lá.• Capítulo 14 – Abraão confia em Deus mais que nas posses.• Capítulo 15 – Abraão crê – e faz perguntas. A aliança de sangue é dada como garantia.• Capítulo 16 – Outro lapso de fé e Abraão confia ‘na carne’.

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• Capítulo 17 – a primeira ordem de Deus para obedecer e uma caminhada íntima com Deus. Deus lhe dá um novo nome e natureza.• Capítulos 18 a 19 – Abraão é retratado como um homem santo. Ele conduz sua família nos caminhos da justiça, 18:19; ele compartilha os segredos de Deus, 18:17; ele é um intercessor, 18:23 a 33.• Capítulo 20 – Outro lapso de fé com uma velha fraqueza; mesmo assim, Deus usa Abraão em um milagre de cura.Finalmente, no capítulo 21, Isaque nasce e parece que a fé

de Abraão alcança o resultado final.

Gênesis 22Os acontecimentos de Gênesis 22 são a prova suprema da fé de Abraão, e o momento quando ele obtém a promessa da qual ouvira Deus falar tantas vezes. A prova de Deus exigia fé madura e obediência inquestionável, e os versículos 1 a 10 descrevem como Abraão passou na prova. Como resulta-do de passar nessa prova divina de fé, o versículo 12 mostra que Abraão fez parte de um relacionamento íntimo ainda mais profundo com Deus. Tiago 2.21 relata a importância desse momento.

Nesse novo nível de obediência amorosa, Deus faz um voto e jura por Si mesmo; por esse voto Deus tanto estava renovan-do Suas promessas a Abraão quanto lhe oferecendo um novo nível de garantia. O voto divino é uma garantia adicional de fé – semelhante à aliança de sangue – que Deus, em Sua graça, concede a Abraão. Dessa vez, porém, a garantia não é dada por causa das questões de Abraão, mas como recompensa bondosa.

Podemos dizer que esse é o momento quando Abraão ob-tém a promessa, pois o voto é a garantia absoluta de que a promessa será cumprida. Deus dera Sua palavra de que não poderia mais haver retorno. A essa altura, Abraão muda de ‘ter’ uma promessa para ‘receber’ a promessa. Sua vida alcançou êxito.

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Desenvolvendo a fé Devemos poder perceber que a história de Abraão é a nossa história. Deus nos fala, Ele nos dá Sua santa Palavra, e nós respondemos a Ele com imaturidade, hesitação e fé fraca. Mas nós avançamos, lentamente desenvolvendo uma fé viva mais forte, e um relacionamento autêntico com Deus.

Como Abraão, Deus nos chama a crer Nele, andar em Sua presença, depender de Sua total provisão. E, como Abraão, nós caímos em pecado, intercedemos, vemos Deus operar mi-lagres, buscamos a Deus para que cumpra Sua palavra em nós, e assim por diante.

Contudo, há algumas diferenças significativas. Abraão teve apenas uma breve reunião com um rei-sacerdote que o ali-mentou com pão e vinho. Nós temos um relacionamento vita-lício com o supremo sacerdote da ordem de Melquisedeque, Hebreus 5.6-10, que continua a nos alimentar a cada dia com pão e vinho.

Em vez de uma aliança de sangue completa e suficiente para garantir a nossa fé, que inclui o corpo partido de animais, temos uma aliança de sangue completa e suficiente baseada no sangue e no corpo partido do próprio Deus.

E em vez de um voto verbalizado por Deus como a garan-tia de Sua promessa, temos o dom, o selo de Deus o Espírito Santo que é a promessa absoluta e o primeiro pagamento de nossa herança. Deus não nos verbaliza um voto como fez com Abraão, Ele nos dá a Si mesmo como compromisso indissolú-vel de bênção eterna.

Nossa fé pode evoluir de uma pequena muda de planta para a completa maturidade, pois Deus tem feito tudo para tornar isso possível. Precisamos simplesmente continuar nos apegando a Ele, continuar orando e louvando, e continuar vi-vendo pelo ‘processo de fé’, crer no que Deus tem dito, falar o que Ele tem dito e fazer o que Ele tem dito.

O sangue, a Palavra e o Espírito garantem que, como Abraão, nós também mudaremos do ouvir, ver e receber as promessas para obtê-las pessoalmente do Deus vivo.

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Resumo Após ter trabalhado este volume você terá um entendimento maior do que significa caminhar pela fé viva. Você percebeu como essa fé evolui de uma pequena semente e se transforma em uma planta saudável e produtiva. Nós delineamos todo esse processo com cada um de seus estágios e elementos. Seria de grande valia resumir esse ensinamento sobre a fé viva.

A definição de fé provinda de DeusDeus nos deu uma definição muito valiosa de fé em Hebreus 11:1: ‘a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem’. De acordo com esse versículo, a fé está ocupada com o ‘ainda não’ e com ‘o não visto’. É aqui pre-cisamente que a maioria de nós erra completamente. A filosofia secular diz que: ‘ver é crer’, mas a Bíblia diz: ‘crer é ver’. Se você pode ver algo com os olhos naturais, não precisa crer em Deus para isso. O escritor do livro de Hebreus também nos diz que a fé é a certeza de coisas que se esperam. Em outras palavras, tem a ver com um futuro, realidade ainda não vista, aquela de que ain-da não nos apropriamos ou experimentamos em nossas vidas.

Fé e esperançaO que, porém, a Bíblia quer dizer com esperança? É uma expec-tativa confiante de um evento futuro; é a certeza de que aquele evento futuro ocorrerá. Um exemplo óbvio é a ressurreição de nossos corpos. Não aconteceu ainda, mas vai acontecer. A razão por que podemos crer nessa promessa é que quando Jesus foi levantado dentre os mortos, Ele liberou a esperança de ressur-reição a fim de que um dia todos nós sejamos levantados dos mortos. Segundo Tito 2:13, é nossa gloriosa esperança que será certamente cumprida quando Cristo vier novamente.

O apóstolo Paulo fala sobre esperança em Romanos 8.24. Não somos apenas salvos pela fé, também somos salvos pela (ou na) esperança, porque ainda não recebemos tudo que será nosso pela salvação que vem em Jesus. Porém, a esperança que é vista não é esperança coisa nenhuma. Quem espera por

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aquilo que já tem? Em outras palavras, contanto que a promessa de Deus seja futura, contanto que ela ainda não tenha aconteci-do, você pode chamá-la de ‘esperança’.

Fé e ‘substância’ Constatamos que a fé viva tem a ver com ‘ainda não’ e o ‘não visto’. É por isso que, logicamente falando, nós lutamos com ela. A Bíblia diz que somos chamados a viver por fé, não por vista. Muitas pessoas são dominadas pelo mundo de seus sentidos físicos e procuram alguns resultados físicos imediatos, em vez de focar no que Deus diz. Todavia, a menos que você saiba como crer quando a promessa de Deus é invisível, você nunca a verá materializar-se. Primeiro você crê depois você recebe.

Abraão enfrentou o fato de que seu corpo era tão bom quan-to morto e que Sara era estéril, contudo, ele foi firme na fé em relação à promessa de Deus, estando totalmente convencido de que o que Deus prometera, Ele era capaz de fazer. Ele enfren-tou os fatos, mas o fez no conhecimento de que tais fatos não eram toda a verdade da situação. Pela fé Abraão percebeu que a verdade espiritual vai além de fatos físicos, disponíveis a nossos sentidos. Deus o havia nomeado Abraão, o ‘Pai de multidão’, e ele se apegou a verdade desse nome na medida em que os anos passavam e nada parecia acontecer. Ele tinha fé no Deus que chama coisas que não são como se já fossem.

Algumas pessoas referem-se ao tempo entre saber pela fé que se recebeu algo de Deus e o momento em que a promessa é vista no reino físico como: ‘período de incubação da fé’. O livro de Hebreus chama de ‘ a certeza de ter algo pela fé antes da manifestação da ‘substância’ da promessa. Fé viva é ‘substân-cia’, porque tem de vir a você por revelação e está baseada em certeza sólida.

Três significados para ‘substância’Como vimos na Parte Um, a palavra ‘substância’, em grego hu-postasis, carrega muitas linhas de sentido. Nós examinamos três delas aqui.

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A primeira, emprestada da filosofia grega é: ‘as coisas como de fato são, não como parecem’. Se simplesmente olhar as coi-sas como elas parecem, você nunca se moverá em fé.

O segundo significado é: ‘um firme fundamento sobre o qual podemos nos apoiar e construir’. Porque é substancial você po-der andar sobre ele. Foi assim que Pedro andou sobre a água! Ele andou sobre a substância de sua fé na palavra de Jesus. Pela fé podemos fazer o impossível. Tudo o mais irá desapon-tá-lo, mas a fé real nunca nos desapontará. É um fundamento inabalável para as nossas vidas.

O terceiro significado da palavra ‘substância’ é ‘escritura’. A palavra ‘substância’ era usada na área de comércio e na compra de propriedade para referir-se à escritura em folhas estabelecen-do os direitos de propriedade. Se você possui a escritura de sua propriedade, ela prova que você é dono da casa. Ela não prova que você mora de fato na casa. Outra pessoa poderia morar lá. Pode ser que não seja você o ocupante da casa, mas você é o proprietário, e tem o direito legal de tomar posse da propriedade. Quando nos movemos na fé viva, conseguimos a escritura de nossa promessa, nos tornamos proprietários. Então podemos fazer a transição de ser o proprietário para ser o ocupante.

Fé é evidênciaAssim como ‘escritura’, a palavra para ‘prova’ usada em He-breus 11:1 é tirada do sistema jurídico do dia. Isso significa que a prova é tão forte que, acima de qualquer dúvida lógica, a pes-soa em julgamento foi comprovada culpada. Refere-se à prova inquestionável, prova que não pode ser negada. Uma palavra relacionada é ‘convicção’. Então, fé é a prova ou convicção de coisas que não se veem. Muitas pessoas em nossa sociedade estão dizendo: ‘Se a Bíblia é verdadeira, prove’. Todavia, Deus diz: ‘a fé é a evidência’.

A fé, então, tem a ver com fatos realizados, verdades revela-das e realidades vividas. A fé viva é a substância das realidades cumpridas de Deus, a ‘substância de coisas que se esperam’.

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Ver é crer Como observamos, a fé viva agarra-se às verdades realizadas de Deus, Sua Palavra. Não tem nada a ver com a nossa imagi-nação humana ou poderes mentais ou desejos ou vontades ou sonhos. Entretanto, também lemos em Hebreus 11:27 que a fé capacita-nos a ver ‘aquele que é invisível’. Isso revela o poder da visão. Podemos entender os mistérios de Deus pela fé, agarrar as promessas de Deus pela fé e, pela fé podemos certamente ver a promessa de Deus antes de seu cumprimento. O Espírito de Deus testifica aos olhos do nosso coração dando-nos um entendimento visual daquilo para o que estamos crendo Nele.

O poder da visão é uma parte vital da fé. Precisamos apren-der como cooperar com esse processo imaginário do Espírito Santo. Pela fé podemos ver uma imagem da coisa da qual Deus falou e manter essa visão diante dos olhos até que seja realizada em nossas vidas.

A fé viva aplicadaA partir da Palavra de Deus, entendemos que tudo que precisa-mos para a vida e santidade – desde o perdão de pecados até cada uma das outras provisões terrenas – foi-nos prometido. Pela fé podemos ver cada promessa na Bíblia como uma verda-de cumprida. Isso significa que por fé podemos alcançar o reino invisível e agarrar as realidades espirituais de Deus, Suas verda-des cumpridas referentes à nossa vida. Pela fé nós as pegamos e as trazemos para o reino do real, do visível – para a nossa experiência humana.

Cada bênção que Deus tem para nós na terra já foi cumprida por Jesus na cruz. Por exemplo, essa é a verdade por trás de 1Pedro 2:24 que diz que ‘por suas chagas, fostes sarados’. Se há qualquer dificuldade na cura, não está no coração de Deus nosso Pai. É vontade do Pai curar. Jesus pagou o preço na cruz e pela fé podemos alcançar o reino invisível e agarrar a realidade realizada de Deus referente à nossa cura. Isso se aplica a todas as promessas da Palavra de Deus.

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A fé viva é uma aventura emocionante. Deus o convida a caminhar em Sua presença, ver o invisível, fazer o impossível e realizar a Sua vontade revelada na terra.