46572
-
Upload
jimmy-bomfim-de-jesus -
Category
Documents
-
view
218 -
download
0
Transcript of 46572
-
7/25/2019 46572
1/160
-
7/25/2019 46572
2/160
-
7/25/2019 46572
3/160
Janete de O. Elias
Joy Costa Mattos
Volume nicoPrtica de Ensino 1
Apoio:
-
7/25/2019 46572
4/160
Material Didtico
Referncias Bibliogrficas e catalogao na fonte, de acordo com as normas da ABNT.
Copyright 2005, Fundao Cecierj / Consrcio Cederj
Nenhuma parte deste material poder ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meioeletrnico, mecnico, por fotocpia e outros, sem a prvia autorizao, por escrito, da Fundao.
ELABORAO DE CONTEDOJanete de O. EliasJoy Costa Mattos
COORDENAO DE DESENVOLVIMENTOINSTRUCIONALCristine Costa Barreto
DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONALE REVISOMrcia Elisa RendeiroAna Tereza de AndradeNilce P. Rangel Del Rio
COORDENAO DE LINGUAGEMMaria Anglica Alves
E42pElias, Janete de O. Prtica de ensino 1. volume nico / Janete de O. Elias. Rio de Janeiro: Fundao CECIERJ, 2008. 155p.; 19 x 26,5 cm.
ISBN 85-89200-62-0
1. Prtica de Ensino. 2. Produo docente. I. Mattos, Joy
Costa. I. Ttulo. CDD: 370.71
EDITORATereza Queiroz
COORDENAO EDITORIALJane Castellani
REVISO TIPOGRFICAKtia Ferreira dos SantosSandra Valria F. de Oliveira
COORDENAO DEPRODUOJorge Moura
PROGRAMAO VISUALCristiane Matos GuimaresRonaldo dAguiar Silva
ILUSTRAOEduardo Bordoni
CAPAEduardo Bordoni
PRODUO GRFICAOsias FerrazPatrcia SeabraVernica Paranhos
Departamento de Produo
Fundao Cecierj / Consrcio CederjRua Visconde de Niteri, 1364 Mangueira Rio de Janeiro, RJ CEP 20943-001
Tel.: (21) 2334-1569 Fax: (21) 2568-0725
PresidenteMasako Oya Masuda
Vice-presidenteMirian Crapez
Coordenao do Curso de Pedagogia para as Sries Iniciais do Ensino FundamentalUNIRIO - Adilson FlorentinoUERJ - Rosana de Oliveira
2010.2/2011.1
-
7/25/2019 46572
5/160
Universidades Consorciadas
Governo do Estado do Rio de Janeiro
Secretrio de Estado de Cincia e Tecnologia
Governador
Alexandre Cardoso
Srgio Cabral Filho
UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DONORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO
Reitor: Almy Junior Cordeiro de Carvalho
UERJ - UNIVERSIDADE DO ESTADO DORIO DE JANEIRO
Reitor: Ricardo Vieiralves
UNIRIO - UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADODO RIO DE JANEIROReitora: Malvina Tania Tuttman
UFRRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL RURALDO RIO DE JANEIRO
Reitor: Ricardo Motta Miranda
UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DORIO DE JANEIROReitor: Alosio Teixeira
UFF - UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSEReitor: Roberto de Souza Salles
-
7/25/2019 46572
6/160
-
7/25/2019 46572
7/160
Prtica de Ensino 1
SUMRIO
Volume nico
Aula 1 Novos desafios para a Prtica 7
Aula 2 Os caminhos do saber: o saber-fazer e o saber-dizer 15
Aula 3 Dimenso socioantropolgica da Prtica de Ensino: vida e complexidade 25
Aula 4 Dimenso socioantropolgica da Prtica de Ensino: contextualizao reflexiva 33
Aula 5 Novas concepes das prticas educacionais
num mundo de relaes e identidades 41
Aula 6 Ensinar e aprender... Um exerccio de mltiplos saberes? 53
Aula 7 Espao de ensinar, tempo de aprender 63
Aula 8 Visibilidade da Prtica de Ensino saberes que se cruzam.Onde? Quando? Como? 71
Aula 9 Visibilidade da Prtica de Ensino fazeres que se entrecruzam.
Como? Por qu? Para quem?79
Aula 10 Caracterizao dos instrumentos da Prtica de Ensino a sala de aula conectada com a realidade:
um encontro possvel 87
Aula 11 A sala de aula conectada realidade:evidncias pedaggicas 97
Aula 12 Caracterizao dos instrumentos da Prtica de Ensino: o poder da leitura 107
Aula 13 Alternativas da Prtica de Ensino no cotidiano escolar 117
Aula 14 Possibilidades e limites da produo docente-discente 127
Aula 15 Produtos e resultados da Prtica de Ensino 139
Referncias 149
-
7/25/2019 46572
8/160
-
7/25/2019 46572
9/160
Novos desafios para a Prtica
Esperamos que, aps o estudo do contedo destaaula, voc seja capaz de:
Conceituar a prtica de ensino, observando,na sociedade, novos paradigmas que trazemimplcitos novos contedos e metodologiasespecficas.
Pr-requisitosLeitura do guia da disciplina.
Anlise do quadro temtico.
obje
tivo
1AULA
-
7/25/2019 46572
10/160
C E D E R J8
Prtica de Ensino 1 | Novos desafios para a Prtica
INTRODUO
A PANORMICA DA PRTICA DE ENSINO
Todos ns presenciamos as mudanas da sociedade em suas for-
mas de se organizar, de produzir bens e comercializ-los, de se divertir,
de ensinar e de aprender.
As prticas de ensino tradicionalmente conhecidas no encontram
espao estimulador num ambiente de mltiplos apelos e de exacerbao
da violncia, da massificao e da alienao no processo acelerado que
a sociedade apresenta hoje.Tanto ns, quanto vocs, professores, temos a sensao clara de
que muitas aulas convencionais esto ultrapassadas e, neste momento,
queremos demonstrar isto.
Ainda que a distncia, procuraremos, aqui, desempenhar a
complexa tarefa de aproxim-los de ns, a fim de, juntos, tentarmos
buscar uma diretriz que possibilite algumas mudanas no processo
educacional.
certo que cada um de ns encontra em sua prpria prtica soluesmetodolgicas correspondentes s reflexes anteriores. No entanto,
uma prtica articulada coletivamente, como expresso cooperativa das
identidades de cada professor, e o respeito a suas subjetividades, ainda no
se fez divulgada. Entretanto, as modernas tcnicas do PORTFLIO, relatrio,
dossi, catlogo, almanaqueindicam apenas um caminho possvel para
a reflexo-articulao e a construo desta nova prtica docente. Prtica
esta que se agrega s prticas pedaggicas e exige prticas de ensino em
contedos especficos, que revelem os SABERESPEDAGGICOSe os SABERESDAEXPERINCIA, tecnicamente comprovados.
PORTFLIO
Relatrio, dossi,catlogo so modernastcnicas de seleoe classificao de
documentos,organizados eseparados como:textos tericos etextos imagticos,referentes a um temapedaggico. Essastcnicas possibilitam,por sua seleo, anlisee crtica, a construopermanente de seusaber pedaggico.
SABERESPEDAGGICOS
Conhecimentosespecficos necessrios prtica docente.
SABERESDAEXPERINCIA
Conhecimentosacumulados no
exerccio da prticadocente.
-
7/25/2019 46572
11/160
C E D E R J 9
1
AULA
Ensinar/Educar participar de um processo, em parte previsvel e
em parte aleatrio ou imprevisvel, porque a educao feita pela prpria
vida, pela reelaborao mental-emocional das experincias individuais.
a prpria forma de viver que nos possibilita a APRENDIZAGEM, pelas
atitudes bsicas diante da vida e de ns mesmos. Quanto mais
avanamos em idade, mais claramente nos revelamos em aprendizagens
que configuram o tipo de pessoa em que nos transformamos. Torna-se
um processo previsvel, se entendermos que ensinar um ato contnuo,
inserido em cada cultura, respeitando normas, tradies e leis oriundas
da sociedade que ensina.
As instituies aprendem e ensinam, tanto quanto professores
ensinam e aprendem. Ensinar depende rigorosamente do preparo
tcnico do professor, que saber interferir, ajudar a apontar caminhos de
aprendizagem. O docente deve ser preparado TICA, emocional, intelectual
e profissionalmente, em circunstncias favorveis a uma relao efetiva
com os alunos, como na situao percebida e configurada na apropriao
dos contedos inerentes presente PRTICADEENSINO.
Nosso desafio caminhar para uma educao e um ensino que
integrem todas as dimenses do ser humano. Para isto, precisamos de
profissionais que faam essa integrao em si mesmos, observando os
aspectos sensoriais, intelectuais e tecnolgicos e que expressem, em suas
palavras e aes, as mudanas que esto realizando e os avanos que
tm conseguido.
Neste momento, nos transportamos a Thiago de Mello:
No, no tenho caminho novo.
O que tenho de novo
o jeito de caminhar.
(CENPEC, l994, p. 15)
com este jeito de caminhar que se faz a Prtica de Ensino (quer
dizer, da forma como entendemos que deva ser a Prtica de Ensino
neste curso). Trata-se de reordenar a experincia que cada um de ns pos-
sui, introduzindo uma nova racionalidade, indo alm dos pressupostos,
dos preconceitos e dos esteretipos que se apresentam em cada cultura.
preciso reconhecer diferentes obstculos e entraves pedaggicos que nos
impedem de compreender e de realizar um novo conhecimento e questionar
nossas concepes relativas s teorias anteriormente construdas.
APRENDIZAGEM
Entendemos comoaprendizagem as
mudanas que o alunoapresenta em seu modode pensar, sentir e agir.
A PRTICADEENSINOdeve ser: interativa,
participativa,autntica eprodutiva.
TICA
Conjunto de regras deconduta consideradas
universalmente vlidas
(Japiass, 1996, p. 93)
-
7/25/2019 46572
12/160
C E D E R J10
Prtica de Ensino 1 | Novos desafios para a Prtica
O momento poltico-social que hoje enfrentamos no Brasil nos
apresenta questes de fundo como: quais contedos esto sendo veiculados
na prtica de ensino que indicam promover o tipo de sociedade que
desejamos? Quais prticas pedaggicas vm sendo desenvolvidas, para
que o professor possa fazer uma anlise reflexiva sobre as reformas
educacionais que vm sendo propostas? Em que medida a PRTICACOTIDIANA,
enquanto PRXIS,tem proporcionado reais condies de reflexo?
A PRTICAPEDAGGICAtem observado a proposta dialgica apenas
no discurso, sem que esta se revele nas aes de sala de aula. Ser que
a multiplicidade de dilogos que se abre nos obriga a desvendar novas
informaes nos contedos pedaggicos?
AMPLIANDO ESPAOS NA PRTICA DE ENSINO
Sempre h o que aprender ouvindo, vivendo e sobretudo trabalhando,
mas s aprende quem se dispe a rever suas certezas.
(Darcy Ribeiro)
Entender a Prtica de Ensino como disciplina integradora do
currculo escolar em sua forma de poltica cultural demanda alar
as categorias sociais, culturais, polticas e econmicas condiode categorias bsicas para a compreenso da escola atual e de suas
possibilidades de mudana.
Para melhor apreenso desta nossa abordagem da prtica de ensino,
precisamos destacar que conhecimento e poderse associam para atribuir
um princpio ideolgico forma e ao contedo do conhecimento curricular.
Num segundo momento, precisamos entender como a escola recebe,
legitima ou rejeita as experincias e os saberes dos alunos e como estes se
submetem s normas escolares e aos demais processos de resistncia.
Leitura complementar
Para aprofundar sua reflexo sobre as definies de conhe-cimento e poder seria interessante voc verificar o material dadisciplina Fundamentos da Educao 1. L trabalhou-se tambmestas categorias.
PRTICACOTIDIANA
O fazer constantedo professor.
PRXIS
Reflexo crtica de suaatuao diria.
PRTICAPEDAGGICAAs aes entendidascomo educativas.
-
7/25/2019 46572
13/160
C E D E R J 11
1
AULA
Nosso aluno formula hipteses sobre seu mundo
quando desenvolve funo simblica, cria imagens,
idias e linguagens para representar fatos e
expressar sentimentos.
A sociedade, neste incio de sculo, tem vivido transformaes
em ritmo acelerado, atingindo tambm a Educao e demais cincias
em evoluo. Transformou-se a idia que se tinha de conhecimento, de
criana, de ensino, de escola, de mtodos. Tudo precisou evoluir, procu-
rando acompanhar este movimento, este novo ritmo de vida.
LCUS
Lugar de observaousado em linguagem de
pesquisa.
AOPRTICO-REFLEXIVA
Entendemos por aoprtico-reflexiva a ao
do educador curioso,investigador, ousado ecriativo, mediador de
suas conquistas, chavemestra de seus novos
desafios.
Tais mudanas aceleradas, devidas, em grande parte, alta tecnologia,
apresentam condies desafiadoras diariamente. Os meios de comunicao
descortinam o universo, com toda a sua complexidade e formulam, a
seu jeito, interpretaes do mundo.
Para acompanhar a histria dos tempos, a prtica de ensino precisa
tambm se atualizar. Assim pensada, reveste-se de uma intencionalidade
que busca trazer ao cotidiano dos alunos elementos essenciais vida atual,
contidos em diferentes espaos, em diversas linguagens, entendendo a
escola como umLCUSprazeroso que permite o acesso aos objetos sociais
de conhecimento.
A prtica de ensino, neste curso, tem seu foco voltado para a cons-
truo da autonomia, da cooperao, da atuao crtica e criativa de seus
alunos, numa prtica pedaggica que oferea espao para a construo
de conhecimentos espao de aprendizagem em mltiplas dimenses.
MAS, COMO ENSINAR? UM DESAFIO CONSTANTE
Quando falamos em prtica do ensino, estamos nos referindo a
um professor que precisa ser sujeito de seu fazer pedaggico, capaz de
estabelecer uma AOPRTICO-REFLEXIVAno seu cotidianoprofissional.
Sem a curiosidade que move, que me insere na busca, no
aprendo nem ensino.
(Paulo Freire, 1998, p. 40)
-
7/25/2019 46572
14/160
C E D E R J12
Prtica de Ensino 1 | Novos desafios para a Prtica
A organizao destas questes nos traz alguns desafios e muitas
reflexes.
Pensar e viver a diversidade do mundo, perpassado por tantas
inovaes tecnolgicas e incessantes descobertas, exige de ns um dilogo
com este novo mundo e com outros mundos a serem contemplados nas
diversas esferas da vida social.
Trabalhar politicamente para que diversas vozes integrem este
mosaico social tarefa que nos cabe, professores de Prtica de Ensino e
professores em sua prtica cotidiana.
A formao e o trabalho docente precisam de um compromisso tico
para a construo de uma nova sociedade mais justa e feliz, envolvendo a
diversidade de sujeitos, de grupos, de relatos e de recursos em diferentes
linguagens em mltiplas culturas.Neste primeiro momento, tivemos a preocupao de tangenciar
diferentes contedos abordados nas demais disciplinas de seu curso. Isto
pode demonstrar um bloco de informaes extremamente denso, porm
necessrios visualizao do cenrio em que vivemos atualmente, que
nos possibilita um exerccio prtico, relativo ampliao de seu olhar
pedaggico.
PALAVRA-CHAVE
Mosaico social.
SUSTENTAOTERICA
Textos cientficos quese referem a sua prticapedaggica.
R E S U M O
A sociedade atual caracteriza-se pela alta tecnologia e pelas mudanas aceleradas.
Ns, professores, convivemos cotidianamente com estas realidades, principalmente
quando estamos em sala de aula.
Neste sentido, vale relembrar:
As Prticas de Ensino tambm precisam se atualizar.
As Prticas de Ensino exigem contedos especficos.
As Prticas de Ensino consideram que o ato de ensinar um ato contnuo,
inserido em cada cultura.
As Prticas de Ensino possibilitam ao professor a apropriao dos contedos
inerentes a sua formao que se deseja reflexiva, dialgica, integradora.
A Prtica de Ensino, nesta nova abordagem, entendida como elemento
integrador do currculo escolar e prope, atravs da compreenso das diferentes
categorias sociais, culturais, polticas e econmicas, a compreenso da escola atual
e sua possibilidade de mudana.
-
7/25/2019 46572
15/160
C E D E R J 13
1
AULA
EXERCCIO
Organize um pequeno fichrio, a partir das leituras j realizadas cotidianamente ena disciplina Fundamentos da Educao 1, observando os assuntos que constituem
este mosaico socialao qual nos referimos nesta aula.
AUTO-AVALIAO
Esta a 1 aula. Um bom comeo ser refletir e escolher pequenos textos sobre
as questes apresentadas a seguir e que esperamos possam apoiar e sustentar
sua prtica pedaggica.
Para que serve a Escola?
Qual a sua funo social?
De que forma a Escola vem cumprindo seu papel?
Quem so os meus alunos?
Que experincias e conhecimentos tm?
Que professores desejamos para nossa sociedade?
Leitura complementar
Pedagogia da autonomia,de Paulo Freire.
-
7/25/2019 46572
16/160
C E D E R J14
AGENDA DIDTICA
Aula 1 TEMTICA __________________________
PREVISO EXECUO AVALIAO
Ord Data CH Incio CH Fim Atividades desenvolvidasMudanas na Prtica
de EnsinoCH
Utilz
Observao e anlise:
Data
Assinatura do Tutor
-
7/25/2019 46572
17/160
Os caminhos do saber:
o saber-fazer e o saber-dizer
Esperamos que, aps o estudo do contedo destaaula, voc seja capaz de:
Utilizar a prtica de ensino como ponto dereferncia para a ampliao do conhecimento.
Transformar a ao pedaggica com base noconhecimento de diferentes teorias.
Pr-requisitoPara melhor compreender esta aula,
recorde a fundamentao terica da aula
anterior a partir da auto-avaliao.
objet
ivos
2AULA
-
7/25/2019 46572
18/160
C E D E R J16
Prtica de Ensino 1 |Os caminhos do saber: o saber-fazer e o saber-dizer
INTRODUO ...ser feiticeiro da palavra,
estudar a alquimia do corao humano...
(Guimares Rosa, in Rubem Alves, 1995, p. 63)
As atividades aqui propostas para orient-lo na busca de novos caminhos em
seu saber-fazer so:
leitura e reflexo dos lembretes relacionados;
reviso dos textos j trabalhados em outras disciplinas deste curso;
exerccios propostos no final da aula.
ENSINAR: VALE A PENA?
A questo central da Prtica de Ensino ensinar e aprender tem
sua chave-mestra no professor. Exige-se de todo educador preparo pro-
fissional que responda sobre o saber e o saber-fazer.
Para que se realize a formao profissionaldesejada, indispen-
svel conscincia poltica, percepo de outras leituras do mundo, e uso
da memriapara construir o prprio discurso. Voc deve ser o agente
de sua prpria histria, autor de sua prpria prtica.
Imaginamos suas expectativas a respeito deste curso, assim como
suas freqentes indagaes sobre ensinar e aprender,aprender e ensinar
e aprender a aprender.
Certamente, voc j descobriu a relao existente na expresso
comumente repetida nas salas de aula dos cursos que voc j freqentou
antes deste e que resumem um certo contedo programtico:
Ensinar a aprender,
aprender a ensinar,
aprender a aprender,
ensinar a ensinar.
E assim se define um campo de estudos
entre a Didtica e a atividade educativa:
a Prtica de Ensino.
-
7/25/2019 46572
19/160
C E D E R J 17
2
AULA
O jogo de palavras nos mostra uma dimenso relacional entre
as aes de ensinar e aprendere nos levam a fazer seis perguntas gera-
doras de saber:
1- O que ensinar e aprender?
2- Quando ensinar e aprender?
3- Onde ensinar e aprender?
4- Quem vai ensinar e aprender?
5- Como ensinar e aprender?
6- Por que e para que ensinar e aprender?
A primeira pergunta o qu? refere-se a um contedo, a um
conhecimento que tem um valor, uma necessidade circunstancial e
temporal. Assim, vejamos:
colocar o ouvido prximo ao cho para saber a distncia e o
tempo que o trem levar para chegar a um local determinado
no um aprendizado necessrio para crianas de uma escola
urbana. Entretanto, saber usar um relgio, conhecer um
sistema de medidas, estabelecer a relao entre espao,
tempo e velocidade so conhecimentos que diariamentecolocamos em prtica para resolver um problema que em
outra cultura se resolve de forma mais simples.
Pensando nisto, selecionamos algumas indagaes comuns na
atividade de professor. A partir das idias que estas indagaes sugerem,
procuramos explicitar seu significado e definir objetivos, utilizando as
experincias referendadas por fatos de nossa realidade educacional.
-
7/25/2019 46572
20/160
C E D E R J18
Prtica de Ensino 1 |Os caminhos do saber: o saber-fazer e o saber-dizer
PROFESSOR PENSANDO ALTO FALA O QUE SENTE!
Pretendo com este curso, aprender como lidar com as
dificuldades dos meus alunos.
ouEstou cansada de ler, ouvir, analisar. Eu preciso de algum
que me diga o que devo fazer em sala de aula.
ou
Quantas outras falas voc poderia redigir em
continuidade s sugeridas neste momento?
Anote uma opo que expresse o que voc
deseja alcanar neste curso.
Professor, suas atividades de sala de aula so interessantes e
significativas. Faa com que seus alunos percebam isto.
Estes aspectos, quando trabalhados em sala de aula, caracterizam
um professor com liderana no processo de ensino.
Voc j deve ter percebido, no seu dia-a-dia escolar, o quanto
difcil convencer o aluno simplesmente falando. preciso, de sua
parte, um comportamento, uma postura, uma ao significativa e vitalque reforce e realce aquilo que voc diz e que deve ser compreendido
pelo aluno.
Nossa experincia em sala de aula aponta alguns caminhos que
se desdobram em atalhosque levam interao.
Procure conhecer seus alunos.
Mostre, costantemente, que so parceiros no ensinar e
no aprender.
Sente-se ao lado deles e verifique quais os que precisamde maior apoio.
-
7/25/2019 46572
21/160
C E D E R J 19
2
AULA
PALAVRAS-CHAVE
Interao, experincia,contedo.
O bom professor procura ver o problema do aluno. Neste caso,
o saber torna-se to importante quanto o fazer e o dizer.
Conhecer asexperinciasdos alunos, seus interesses, habilidades,
necessidades e sobretudo seu atual nvel de conhecimento do contedo
a ser ensinado indispensvel ao professor.
O contedo no deve ser nossa nica preocupao. Ele existe para
ensinar aos alunos o ponto de partida para sua reflexo sobre a vida.
preciso que voc tenha sempre presente esta realidade que nos
leva a culpabilizar os professores que nos antecederam pelo que o aluno
no aprendeu na etapa anterior.
"Ser que preciso mesmo disto, deste Curso?"
ou"Ser que preciso ser um professor subserviente, obediente,
disciplinado para ser um bom professor?"
ou
"Ser que preciso ser um professor/educador comprometido
com minha prtica?"
Quantas perguntas, quantas questes que s tm
sentido no trabalho conjunto que estamos fazendo
ns e voc.
Freqente com assiduidade o seu plo e leve suas
(seus):
questes
experincias
saberes em discusso
Professor, como voc sabe, acredita-se que quem muda a educao o professor em seu cotidiano. Por isso, nossa proposta nesta disciplina
implica na redefinio da ao pedaggica na sala de aula. Os objetivos
que se pretende so:
ter um educador comprometido com sua prtica;
gerar novas prticas, novas abordagens, que no sejam
utilizadas aleatoriamente.
O professor que esperamosdeve ser o agente de INTERATIVIDADE e
simultaneamente ser o gerente do processo de reconstruo do conhecimento
na sala de aula. Ele precisa, portanto, saber quando e como intervir em
sua prtica docente.
INTERATIVIDADE
Ao que se exerce
mutuamente entre duasou mais pessoas.
-
7/25/2019 46572
22/160
C E D E R J20
Prtica de Ensino 1 |Os caminhos do saber: o saber-fazer e o saber-dizer
Sabemos tambm que modificar a prtica dos professores no
significa anular ou rejeitar de uma vez tudo que j faz parte de sua
experincia escolar. Ao contrrio, queremos valorizar sua histria,
reconhecendo os alicerces a existentes.
Nos ltimos anos, pesquisas em nossa rea tm surgido trazen-
do conhecimentos que reorientam a prtica pedaggica. Esta prtica,
alimentada por estudos e pesquisas de psicologia da aprendizagem e de
didtica, dentre outros, oferece fundamentos para nossa discusso sobre
vrias questes que tm seu foco em nossa escola.
As pesquisas cientficas contemporneas nos permitem ter uma
melhor compreenso dos fenmenos educacionais.
Professor, procuramos explicitar, nesta segunda aula,
que apostamos em sua formao, pois acreditamos
na possibilidade da interao.
A reflexo terica em outras disciplinas o auxiliar na melhor
compreenso do processo ensino-aprendizagem, possibilitando o alcance
de novas estratgias que conduzem ao sucesso sua ao pedaggica.
Ningum ignora tudo.
Ningum sabe tudo.
Todos ns sabemos alguma coisa.
Por isso aprendemos sempre.
(Paulo Freire)
-
7/25/2019 46572
23/160
C E D E R J 21
2
AULA
EXERCCIO
Identifique em sua prtica de sala de aula trs momentos que considere mais
significativos onde as relaes interativas se fizeram presentes. Registre e guarde
essas anotaes.
R E S U M O
Todo professor deve buscar preparo profissional que responda sobre "o saber"
e "o fazer".
Toda prtica de ensino tem como questo central "o ensinar e aprender" na
dimenso em que ela se relaciona.
Todo professor deve ser o agente de sua prpria histria, autor de sua prpria
prtica.
Todo contedo de ensino tem um valor circunstancial, temporal e por isso, no
pode ser a nica preocupao do professor.
Todo professor precisa que suas atividades de aula sejam interessantes,
significativas, caracterizando sua liderana na relao ensinar e aprender.
Todo bom professor procura conhecer seus alunos: base do processo ensinar
e aprender.
Todo professor pode transformar-se num educador comprometido com sua
prtica, ser agente de interatividade e gerente do processo de reconstruo do
conhecimento em sala de aula, ou seja, deve ser aquele que sabe "quando" e
"como" intervir em sua prtica docente.
-
7/25/2019 46572
24/160
C E D E R J22
Prtica de Ensino 1 |Os caminhos do saber: o saber-fazer e o saber-dizer
AUTO-AVALIAO
Quando o professor no se coloca por inteiro no processo ensinar e aprender,pode ter a sensao de fracasso, pois o constante "dar aula" torna-se um ato sem
significado e rotineiro.
Pense sobre as situaes vivenciadas nesta aula, no constante ensinar e aprender,
onde estas relaes interativas se fazem presente. Reflita sobre elas, discuta com
seus colegas a relao entre o que voc aprendeu e as transformaes possveis
em sua sala de aula.
INFORMAO SOBRE A PRXIMA AULA
A prxima aula levar voc a perceber a amplitude do seu espao pedaggico atravs
da interao das diferentes culturas que professores e alunos representam.
Leitura complementar
Conversas com quem gosta de ensinar, de Rubem Alves.
-
7/25/2019 46572
25/160
C E D E R J 23
AGENDA DIDTICA
Aula 2 TEMTICA __________________________
PREVISO EXECUO AVALIAO
Ord Data CH Incio CH Fim Atividades desenvolvidasMudanas na Prtica
de EnsinoCH
Utilz
Observao e anlise:
Data
Assinatura do Tutor
-
7/25/2019 46572
26/160
-
7/25/2019 46572
27/160
Dimenso socioantropolgicada Prtica de Ensino:
vida e complexidade
Esperamos que, aps o estudo do contedo destaaula, voc seja capaz de:
Construir socialmente uma prtica de ensino quepermita a interao dos diferentes contedoscurriculares verificados na prtica pedaggica.
Pr-requisitoPara prosseguir esta aula voc deve
ter identificado as relaes interativas
que se fazem presentes na sala de aula
e constroem significados pela ao
recproca entre professor e aluno.
obje
tivo
3AULA
-
7/25/2019 46572
28/160
C E D E R J26
Prtica de Ensino 1 | Dimenso socioantropolgica da Prtica de Ensino: vida e complexidade
INTRODUO ... a reflexo didtica: o pensamento do indivduo
se forma por um contexto social e cultural, e estes, por
sua vez, so configurados pelo pensamento e ao dos
indivduos.
(Alarco, 2001, apud Kemmus, 1999, p. 98)
Apontamos, na aula anterior, o desafio para um ensino e uma educao que
integram as vrias dimensesdo ser humano em suas diferentes culturas,
grupos e identidades.
Veremos nesta e na prxima aula como isto pode acontecer.
A FUNO SOCIAL DA PRTICA DE ENSINOO tema proposto muito instigante e desafiador, pois envolve
a formao de conceitos e de um contedo complexo que ainda est
em construo pelos diferentes autores e pesquisadores em educao.
Portanto, h um espao aberto s discusses entre professores e
especialistas, na busca de novas configuraes, que permitam refletir
sobre os mltiplos saberes e as resistncias s proposies de mudana
no pensamento pedaggico e nas PRTICASINSTITUCIONAIS.
As funes sociais e polticas da escola que se pretende reflexiva
existem em um determinado momento histrico, de acordo com o contexto
geogrfico e econmico em que a escola se insere.
Em tais condies, torna-se difcil contextualizar os saberes de
modo a se tornarem multidimensionais e impensveis sem a complexidade
que extrapola os inconvenientes da superespecializao, do confinamento
e do despedaamento irresponsvel do saber.
Cada vez mais, a gigantesca proliferao de conhecimentos escapa
ao controle humano. O produto do trabalho se apresenta muito picotado
face s diversas reas do conhecimento e, no raro, encontra-se ao sabor
do desejo de outros com os quais estabelecemos relaes.
Isto nos leva a perceber a complexidade das relaes vividase
reconhecidas cotidianamente no interior da escola que so refletidas em
seu projeto poltico-pedaggico-curricular.
PRTICASINSTITUCIONAIS
Aes observveiscotidianamente nasEscola, no Estado,nas Empresas, nasFamlias e outrosgrupos.
-
7/25/2019 46572
29/160
C E D E R J 27
3
AULASabemos o quo frequntemente nos
encontramos atados a conceitos e preconceitos,
informaes divergentes e falas alheias trazendo
incompatibilidades s diferentes propostas cons-
tantes na organizao do processo educacional.
So diferentes teorias culturais, diferen-
tes personalidades que se formam na famlia,
na igreja, na vizinhana, na empresa... e nos
demais grupos aos quais estamos inseridos,
alm da Escola.
Ao considerar a escola em sua dimenso
socioantropolgica, ao estabelecer relaes entre
a escola e as demais instituies, reconhecemos
que a vida escolar se torna mais complexa.
O acesso ao saber intelectual define-se no
espao da escola tecendo laos de solida-
riedade para amenizar as situaes conflitivas
de nossa existncia.
EDGARMORIN
Socilogo, nascido a8 de julho de 1921, em
Paris, Frana.Desenvolve, em suas
teorias, o pensamentocomplexo, conduzindo
o professor revisodas prticas pedaggi-
cas da atualidade.
AULA
Aprofundar nossos conhecimentos sobre as diferentes instituies
sociais, identificando as concepes prvias, os condicionamentos, bem
como os preconceitos que se formam no cotidiano e que se confrontam
com a realidade, como um sistema de contradies em movimento, implica,
necessariamente, em compreender o conjunto dessas profundas contradies,
visveis cotidianamente, onde aflora o mundo do diferente.
Assim o desafio e o convite de MORINpara a realizao de uma
reforma do pensamento por intermdio da complexidade tanto
pode ser lida sob ponto de vista da ruptura do paradigma dascincias humanas, como uma nova proposio epistemolgica,
quanto como uma utopia poltico-social.
(Pena Vega A. e Almeida, 1999, p. 13)
-
7/25/2019 46572
30/160
C E D E R J28
Prtica de Ensino 1 | Dimenso socioantropolgica da Prtica de Ensino: vida e complexidade
Para sistematizar as possibilidades de aproximao entre a comu-
nidade e a escola de forma a poder construir um currculo que permita
a interao dos diferentes saberes culturais, precisamos:
revelar nas prticas educativas as representaes sociais
que atingem o processo educacional por inteiro;
mostrar um conhecimento crtico da vida cotidiana que
considere a realidade social como o espao no qual se
concretizam as transformaes da ao humana;
conceber a complexidade da escola como organizao
de aprendizagem e, tambm, como organizao na qual se
aprende, por ser um local onde se reproduzem as relaes
sociais e polticas do momento histrico vivenciado.
tomar a escola como instituio de lideranaque deve
ocupar um lugar privilegiado no espao social de maior
transformao;
valorizar a sala de aulanas diferentes oportunidades que
lhes so propiciadas a fim de transformar o legal, o institu-
do, o tradicional-hierrquico, arriscando nas incertezas de
suas criaes inovadoras um novo caminho investigativo.
Aps essa releitura, voc solicitado a fazer
outras reflexes e nisto poder ser ajudado
reunindo-se a outros professores, integrantes
das reunies desenvolvidas em sua escola.
Participe! Faa anotaes.
Procure brincar de memria e busque nos
jornais guardados, nas revistas, nas letras de
msicas e nos livros os fatos que mostrem a
complexidade das relaes na escola.
-
7/25/2019 46572
31/160
C E D E R J 29
3
AULA
Neste momento,
tente integrar essa
provocao sua
exper incia de
sala de aula.
PRTICADOCENTE
Entendida como aoinstitucional do
professor no ato deensinar.
por isso que, para construir a dimenso
socioantropolgica da Prtica de Ensino,
precisamos formatar a idia de que essa
disciplina se configura em uma PRTICADOCENTE,
partilhada na pesquisa e na aprendizagem das
mltiplas disciplinas do curr culo escolar.
Dos estudos psicolgicos, sociolgicos, lingsticos, matemticos,
dentre outros, realizados por voc no decorrer da vida at hoje, muitas
informaes foram assimiladas, gravadas e/ou descartadas. Entretanto,
diariamente, como se magia fosse, continuando a viver, manifestamos
idias, mantemos ideologias e reformulamos obras. Assim, carregamos
em nossa trajetria os amigos e, tambm, os inimigos, os companheiros,
parceiros e, muito respeitosamente ou no, nossos opositores. dessa
maneira que construmos a nossa dimenso pessoal e nos percebemos em
relao s outras pessoas, aos outros objetos, a outras culturas que nos
mostram nossas diferenas, nossas identidades atravs das subjetividades
de cada um com os quais nos relacionamos.
As diferentes vivncias proporcionadas pela sociedade, pela cultura,
pela participao em diversos grupos de pessoas, em diferentes espaos,
nos permitem compreender a variedade de dimenses do cotidiano, assim
como assimilar comportamentos inerentes a cada um desses grupos.
Da mesma forma, quando delimitamos a grade curricular, definimos a
prtica de ensino. Fica evidente que esta inclui prticas especiais de ensino
relativas a cada contedo, em sua teoria e em atividades pedaggicas
que lhes so prprias.Assim, a Prtica de Ensino de Histria e de Matemtica destaca
do contexto vivenciado contedos e formas diferentes de aprendizagem,
de ensino e de pesquisa. O mesmo enunciado de um problema de vida
possibilita o uso didtico da Histria e da Matemtica quando apontam,
respectivamente, implicaes sociais e operaes numricas.
Devemos nos lembrar de quanto a disciplina Prtica de Ensino tem
se modificado historicamente desde a Antigidade at hoje, conforme as
diferentes expectativas sociais a respeito do professor como profissionale suas responsabilidades.
-
7/25/2019 46572
32/160
C E D E R J30
Prtica de Ensino 1 | Dimenso socioantropolgica da Prtica de Ensino: vida e complexidade
Como antigamente, h ainda hoje quem pense no professor como um
mestre, um mago que sabe e que no necessita de formao profissional
prolongada ou de um estudo especfico, porque considera a competncia
carismtica e a retrica suficientes para ensinar. A simpatia e a comunica-
bilidade acrescidas do desejo de ensinar o fazem professor. Entretanto,
nem o professor mago nem o professor tcnico correspondem mais
s reais necessidades de uma sociedade como a nossa.
Temos que pensar a prtica pedaggica e o currculo em uma
outra concepo de ensino, onde a aprendizagem h de se construir na
cumplicidade de um grupo exigente, em sua racionalidade terico-prtica
que se afirma em um planejamento pedaggico sensvel reflexo e s
atuaes em suas mltiplas dimenses sociais.
Hoje, preciso compreender que o mundo vem mudando em suasformas geogrficas, em suas relaes culturais e identitrias, apresentando
novas prticas que sugerem uma nova tica.
Pense na diferena que existe entre transmitir e ensinar.
Contedos tornam-se descartveis devido precariedade
de dados com aplicabilidade restrita.
R E S U M O
Se voc, professor, se prope como ns a uma prtica de ensino que integre
diferentes contedos, precisa:
construir socialmente os contedos de ensino passveis de promover a
interatividade curricular;
promover a percepo da complexidade dos saberes, que lhe permitam refletir
sobre as resistncias s proposies de mudana no pensamento pedaggico;
reconhecer a importncia do processo histrico na relao da escola com as
diferentes instituies da cultura;
superar o pensamento fragmentadopelas especializaes na busca da totalidade
do conhecimento;
estabelecer relaesentre a escola e as demais instituies na efetivao de um
currculo vivo;
valorizar, nas prticas educativas, as representaes sociaisque atingem o
processo educacional.
-
7/25/2019 46572
33/160
C E D E R J 31
3
AULA
EXERCCIOS
1. Selecione em artigos de jornais, revistas, e outras mdias, o relato de situaes,
que mostrem as diferentes formas de interao entre a escola e a sociedade.
2. Guarde aqueles relacionadas s seguintes temticas:
Participao da famlia no processo escolar.
Relao da escola com o mundo do trabalho.
AUTO-AVALIAO
Se o desafio que propusemos a voc foi um ensino e uma educao que integram
vrias dimenses, precisamos, agora, de uma nova reflexo:
Pense sobre as relaes que se estabelecem entre a vida na escola e a vida do
dia-a-dia. Quando voc conversa sobre isto com seus alunos em sala de aula pode
verificar as diferenas marcantes em suas falas.
INFORMAO SOBRE A PRXIMA AULA
Nossa prxima aula dar continuidade ao estudo da complexidade das relaes
que se estabelecem na escola, conhecimento fundamental que possibilitar sua
nova prtica pedaggica.
-
7/25/2019 46572
34/160
C E D E R J32
AGENDA DIDTICA
Aula 3 TEMTICA __________________________
PREVISO EXECUO AVALIAO
Ord Data CH Incio CH Fim Atividades desenvolvidasMudanas na Prtica
de EnsinoCH
Utilz
Observao e anlise:
Data
Assinatura do Tutor
-
7/25/2019 46572
35/160
Dimenso socioantropolgicada Prtica de Ensino:
contextualizao reflexiva
Esperamos que, aps o estudo do contedo destaaula, voc seja capaz de:
Refletir sobre o processo de ensino/aprendizageme sobre as prticas eficazes para a sua realizao.
Pr-requisitoPara uma melhor compreenso
desta aula, preciso que voc tenha
identificado o que aparece implcito num
currculo vivo e sua interferncia no
processo educacional.
obje
tivo
4AULA
-
7/25/2019 46572
36/160
C E D E R J34
Prtica de Ensino 1 |Dimenso socioantropolgica da Prtica de Ensino: contextualizao reflexiva
INTRODUO H uma idade em que se ensina o que se sabe; mas vem em seguidaoutra, em que se ensina o que no se sabe; isso se chama pesquisar.
Vem talvez agora a idade de uma outra experincia, a de desa-
prender, de deixar trabalhar o remanejamento imprevisvel que
o esquecimento impe sedimentao dos saberes, das culturas,das crenas que atravessamos. Essa experincia tem... um nome:
sapientia nenhum poder, um pouco de saber, um pouco de sabe-
doria, e o mximo de sabor possvel.
(Barthes, 1977, in Castro, 1998, p. 125)
ATIVIDADERELACIONAL
Chamamos atividade
relacional ao toque
mgico que se estabe-
lece nas inter-relaesde afetividade entre
professores e alunos.
Leitura complementar
Conversas com quem gosta de ensinar, de Ruben Alves,e saber um pouco mais sobre esse "toque mgico".
Voc vem encontrando, neste curso, informaes que o levam a pensar sobrea diversidade que caracteriza cada indivduo, cada grupo, cada sociedade.
Essa diversidade se reflete no s no interior da Escola, como tambm nos
demais membros da comunidade escolar. Com base em tais diferenas, os
conhecimentos adquiridos se inserem cada vez mais amplamente na vida
cotidiana.
Assim, temos que compreender nossas singularidades, de modo a estabelecer
relaes solidrias e produtivas em nosso cotidiano.
Como ento poder o professor colocar-se em sala de aula de maneira produtiva,entre a expectativa dos alunos e o recorte da realidade que precisa ensinar?
A SINGULARIDADE DA PRTICA DE ENSINO
A primeira dificuldade que identificamos como professor a
ATIVIDADERELACIONALcom alunos, sempre a lhes transmitir mensagens de
possibilidades, de sucesso, de esperana emocional e de confiana no
fazer educacional. Isto s acontecer, na medida em que se estabelece um
clima emocional, que faz vir tona o toque mgico das inter-relaes,
que se processa como essencial no trabalho docente.
TIVIDADE
RELACIONAL
Chamamos atividade
relacional ao toque
mgico que se estabe-
lece nas inter-relaesde afetividade entre
professores e alunos.
-
7/25/2019 46572
37/160
C E D E R J 35
4
AULA
Saber ouvir, numa escuta mais sensvel, a fala dos alunos, seus
anseios, seus desejos, suas indagaes, pode parecer fcil, quando no
se tem o conhecimento da complexidade que integra as vrias dimenses
do ser humano.
Trabalhamos com nossas emoes, nossa cultura,
nossos gostos e desgostos, nossos preconceitos, nossas
angstias e desejos, nossos fantasmas de poder ou de
perfeies e finalmente nossas entranhas.
(Perrenoud, 1993, in Carvalho)
Somente atravs de muito esforo, vontade e competncia pro-
fissional, podemos conseguir um clima de cooperao autntica, nos
mltiplos e complexos processos evidenciados na sala de aula.
PERRENOUDenfatiza que o ensino um trabalho com pessoas, por
isso, uma profisso relacional, tendo como principal instrumento
de trabalho a pessoa do professor, um sujeito interagindo com outros
sujeitos em atividades de dimenses existenciais e afetivas que no podem
ser desconsideradas.
PHILIPPPERRENOUD
Socilogo suo,professor da Faculdade
de Psicologia e
Cincias da
Universidade deGenebra.
Esse esforo competente exige do
professor uma renovao do pensar a sala
de aula, o aluno e a escola.
PHILIPPPERRENOUD
Socilogo suo,professor da Faculdade
de Psicologia e
Cincias da
Universidade deGenebra.
-
7/25/2019 46572
38/160
C E D E R J36
Prtica de Ensino 1 |Dimenso socioantropolgica da Prtica de Ensino: contextualizao reflexiva
HOJE, UM NOVO COMEO...
Definir um novo comeo corresponde a estabelecer critrios de
anlise do professor profissional. Perrenoud (2001) nos faz pensar em
uma atividade educacional que :
intelectual, porque envolve a responsabilidade individual
daquele que a exerce;
erudita, no rotineira, mecnica ou repetitiva;
prtica, na medida em que se define como exerccio de
uma arte mais do que puramente terica e especulativa;
altrusta, pois constitui um servio valioso oferecido
sociedade;
tcnica, porque se aprende ao final de uma longa formao;
solidria, medida que se exerce por uma forte organi-
zao e uma grande coerncia interna de um grupo.
Estamos nos confrontando com situae sociais complexas e
subordinadas ao tempo, nas quais se misturam o social, o institucional
e o pessoal. Fica inaugurado assim, em um espao definido pela
complexidade da vida, a construo de um sujeito capaz de se referenciar
em uma relao com os outros e consigo mesmo. (Mireille Cifali, in
Perrenoud, 2001, p. 103)
Perrenoud (2001, p. 25) diz que atualmente se torna mais visvel a
passagem de um ofcio artesanal para uma situao profissional, onde o
professor visto como uma pessoa autnoma, dotada de competncias
especficas e especializadas que repousam sobre uma base de conhecimentos
racionais, reconhecidos, oriundos da cincia, legitimados pela universidade,
ou de conhecimentos originrios da prtica.
Nesse entendimento, fica fortalecida a idia de
que a profissionalizao do professor se faz por
um processo de racionalizao dos conhecimentos
postos em ao e por prticas eficazes em uma
determinada situao.
-
7/25/2019 46572
39/160
C E D E R J 37
4
AULA
Sugerimos agora que voc reflita sobre:
a identificao da experincia como portadora de
saberes abstrados do contexto ou das condies que os
circunscrevem e os definem;
a valorizao de um documento de registropara acompanhar
as aes e as reaes acumuladas e arquivadas para posteriores
reflexes e racionalizaes;
a introduo do constante desafio de uma prtica pedaggica
reflexivaque mantm o dilogo entre as identidades existentes
na diversidade de sujeitos, de grupos, de falas e de tecnologias
implcitas nas relaes de convivncia e produtividade;
a utilizao de diferentes meios de ensinoe de recursos de
aprendizagem que se encontram em jornais, revistas e outros
peridicos, assim como nos textos musicais, nas fotografias,
nos cartes-postais, nos fatos marcantes reproduzidos por
pintores, escultores, arquitetos;
a transformao do trabalho desenvolvido em sala de
aula como documento, por revelar a produo conjunta
de professores e alunoscada vez mais conscientes, mais
atuantes, mais participativos... mais humanos.
Podemos afirmar que nesta perspectiva de produo contextual
o currculo deve ser visto como um artefato social e cultural, por suas
determinaes sociais, histricas, antropolgicas, dentre outras.
Assim, professor, em sua prtica se revela um desejo
permanente de aprender, de modificar-se, de viver
em um mundo que se renova, colocando seus
velhos problemas sob novos enfoques, sob outras
perspectivas e novas esperanas.
-
7/25/2019 46572
40/160
C E D E R J38
Prtica de Ensino 1 |Dimenso socioantropolgica da Prtica de Ensino: contextualizao reflexiva
Aps essas prticas pedaggicas, ser que voc, professor:
a) deseja a mudana?
b) compromete-se atravs de aes e significaes a
execut-la?
c) identifica quais so os papis e modos de agir prprios
da nova identidade?
d) busca o reconhecimento dessa identidade e sua aceitao
no relacionamento escolar?
e) forma um novo autoconceito, posicionando-se como edu-
cador consciente em sua prtica, no exerccio da reflexo,
da autonomia e da ao solidria?
R E S U M O
Pensar a diversidade em suas mltiplas implicaes na vida da Escola, torna voc,
professor, um novo lder pelo papel social que ocupa no processo educacional.
Ns, professores, em constante reflexo sobre a prtica docente, achamos por
bem relembrar:
Que diversidade significa perceber, entender, aceitar e saber trabalhar as
diferenas (individuais, de grupo, sociais, culturais), atravs das prticas docentesem constante renovao.
Que diversidade esta que atinge e inclui toda a comunidade escolar? Que
competncia profissional torna-se to importante quanto outras habilidades e/ou
qualidades exigidas ao professor.
Que nova Prtica de Ensino esta que exige de ns, professores deste tempo,
uma renovao no pensar e no agir em sala de aula, com nossos alunos e no
viver/conviver na escola e na comunidade?
-
7/25/2019 46572
41/160
C E D E R J 39
4
AULA
EXERCCIOS
1. A partir do conhecimento adquirido nesta prtica contextualizada,recomendamos a redao de um pequeno texto em que fique ressaltada a prtica
docente de um professor que valoriza o conhecimento, a cultura e a condio
de aprendizagem de seu aluno.
2. Ao iniciar sua redao considere com ateno as questes apresentadas
nesta aula.
AUTO-AVALIAO
Nosso propsito foi lev-lo a trabalhar com as diferenas observadas nas falas,
nos comportamentos, e no confronto entre alunos, para examinar criteriosamente
que a pretensa homogeneidade desejada por ns, no grupo de alunos, se revela
muito mais pela diversidade, pelas diferenas, pelas caractersticas identitrias de
cada criana, da a singularidade da Prtica de Ensino como disciplina e campo
de pesquisa.
Voc percebeu que o processo ensino/aprendizagem desenvolvido nessa
perspectiva interacionista torna a Prtica de Ensino uma disciplina mais eficaz naformao do professor?
-
7/25/2019 46572
42/160
C E D E R J40
AGENDA DIDTICA
Aula 4 TEMTICA __________________________
PREVISO EXECUO AVALIAO
Ord Data CH Incio CH Fim Atividades desenvolvidasMudanas na Prtica
de EnsinoCH
Utilz
Observao e anlise:
Data
Assinatura do Tutor
-
7/25/2019 46572
43/160
Novas concepes das prticaseducacionais num mundo de
relaes e identidades
Esperamos que, aps o estudo do contedo destaaula, voc seja capaz de:
Analisar as diferentes formas de elaboraodo conhecimento pelo sujeito em processo deaprendizagem.
Avaliar os novos desafios da prtica pedaggicana perspectiva da multiplicidade de saberes.
Pr-requisitoVolte aula anterior para rever
a importncia da dimensosocioantropolgica no processo
educacional. um conhecimentoindispensvel Prtica de Ensino.
objet
ivos
5AULA
-
7/25/2019 46572
44/160
C E D E R J42
Prtica de Ensino 1 | Novas concepes das prticas educacionais num mundo de relaes e identidades
Nas aulas anteriores, observamos que a aprendizagem um ato construdo
socialmente e que envolve uma relao entre os diferentes sujeitos da Educao.
Por conseqncia:
O saber ler e escrever serve para abrir os
olhos da gente, no apenas para aprender o
mundo dos outros, mas para aprender tambm
o mundo da gente.
(Secretaria Municipal de Educao.
So Joo de Meriti, SEMEAR, 1998, p. 59)
Esta nossa quinta aula ser desenvolvida a partir da leitura do texto no prximo
item e das atividades decorrentes dele.
O xito de nossas aulas depender da interao com as outras disciplinas que
voc esteja cursando e das demais informaes que voc possua. importante,
(re)construir seu conhecimento terico e, a partir dele, poder (re)pensar a todo
momento novas abordagens pedaggicas. Isto no fcil e precisa querer,
pensar e exercitar.
bom lembrar que a troca de conhecimentos e experincias com seus colegas
ser sempre oportuna, enriquecedora, no esquecendo tambm que os tutores
estaro a sua disposio sempre que precisar.
Continuamos apostando no seu sucesso!
MLTIPLOS SUJEITOS DA EDUCAO: A SUBJETIVIDADEDE PROFESSORES E ALUNOS
O mundo, as relaes e as identidades mudaram, assim como as
concepes e as prticas educacionais. Em funo dessas mudanas,
no podemos mais pensar nem praticar a pedagogia e o currculo
como antes. Neste contexto, a Pedagogia Cultural impele a novasconcepes, fazeres, dizeres.
(SANDRACORAZZA, Ptio, 2000, p. 27)
Comeamos esta conversa de professores, lembrando-nos de
quando trabalhvamos em escolas da rede pblica, h algumas dcadas,
aproximadamente no incio dos anos 70 quando era suficiente entender,
ver e falar dos alunos apenas como membros integrantes de certa classe
explorada da sociedade. Hoje isso no basta. Atualmente, precisamos
compreender o alunado da escola pblica tambm como um menino(a),
de gerao infantil, branco(a) ou negro(a), hetero-homossexual, migrante
INTRODUO
SANDRACORAZZA
professora doPrograma deps-graduao emEducao e doDepartamento deEnsino e Currculo da
Faculdade de Educaoda UFRGS.
or co
Esta n
-
7/25/2019 46572
45/160
C E D E R J 43
5
AULA
da zona rural, filho(a), catador(a) de lixo, catlico(a), evanglico(a) etc.
Assim visto, temos que consider-lo como possuidor de muitas linguagens
e usuriode vrias outras. (ibid, p. 27)
Neste sentido, tambm concordamos em v-los(as) como sujeitos
escolarizados, possuidores de vrios discursos simultneos, e, s vezes,
sobrepostos ou conflitantes. Este MOSAICOCULTURALsurge numa subjetividade
plural, no mais centrada na classe, no gnero, na nacionalidade, mas
naquilo que poderamos chamar de identidade cultural.
Mas voc poder perguntar: ora, por que no posso mais entender
meu aluno somente como sujeito integrante de uma classe popular de
uma escola pblica da periferia? Respondemos categoricamente que no
deve ser assim. Voc sabe, os tempos so outros, tudo mudou: o mundo,
as relaes e as prticas educacionais tambm. Evolumos como pessoa,
como profissional e como sociedade.
Os vertiginosos avanos cientficos e tecnolgicos nos conduzem a
novas concepes, a novos fazeres e dizeres e, em funo destas mudanas,
buscamos uma nova pedagogia, novas prticas curriculares, ou seja, novas
respostas para antigos problemas do cotidiano escolar.
Este pensar, professor, nos remete a uma determinada trajetria
de estudo. Primeiramente, uma compreenso terico-prtica das repre-
sentaes sociaise, a seguir, os desenvolvimentos e atuais aplicaesdestas educao.
A noo de representao social, para R. CHARTIER (1990),
entendida a partir da sociologia histrica do ato de ler, associada
prtica cultural. Ou seja, seu interesse torna relevante a construo e a
leitura da realidade social em diferentes espaos e tempos. Classificaes,
divises e delimitaes que organizam a apreenso do mundo social
como categorias fundamentais de percepo e apreenso do mundo
real, conforme esclarece Sandra Corazza.
A Pedagogia precisa
e deve ser, cada vez
mais, entendida e
exercida em termos
culturais.
MOSAICOCULTURALDiz-se de uma
sociedade onde oprocesso de interaoentre os grupos exigeo enfrentamento das
diversidades culturais.
ROGERCHARTIER
Historiador francs,autor de inmeras
obras, comoA Histria Cultural
entre prticas erepresentaes e
Memria e Sociedade,e de onde extramos o
conceito derepresentaes sociais
para nossa anlise ediscusso.
A teoria das representaes sociais em seu
propsito de buscar, relacionar processos
cognitivos e prticas sociais, recorrendo a
sistemas de significao socialmente partilhados,
que orientam e justificam, nos parece, finalmente,
justificar-se como um caminho promissor na busca
de novas solues para velhos problemas.
-
7/25/2019 46572
46/160
C E D E R J44
Prtica de Ensino 1 | Novas concepes das prticas educacionais num mundo de relaes e identidades
Desta forma, podemos entender representaes como esquemas
construdos pelos indivduos que as geram conforme seus interesses.
Assim, somos forados a estabelecer relaes entre o que
dito e o lugar social daquele que o diz. O entendimento do termo
representaes, esclarece por que no existem discursos neutros,
visto que h sempre uma ideologia subjacente. Tais discursos fazem
parte de estratgias e prticas de poder que se apresentam em campos
de constantes concordncias e competies, consensos e conflitos.
Por tudo isto, a investigao das representaes nos conduz vida
social e nos aproxima das relaes concretas, colocando-nos em contato
com a vida, conforme a realidade pensada conforme a experincia de
cada um. Um copo de gua pela metade, por exemplo, estar meio cheio
ou meio vazio de acordo com a lgica do observador.
Veremos agora trs formas de interao entre o sujeito e o mundo
que sejam possveis de serem identificadas no seu cotidiano escolar:
as atividades de classificao e delimitao: construes
da realidade, criadas pelos diferentes espaos sociais de
forma plural e contraditria;
as prticas sociais expressivas: formas de existncia
de relaes do sujeito com o mundo, e com sua prprialgica;
as formas institucionalizadas de agir, pensar, sentir
coletivas ou singulares simblicas da existncia e da
continuidade de grupos e classes. (Dauster, 2000)
possvel que, atravs deste percurso, possamos compreender a
construo da teoria da leitura de Roger Chartier (1990), que procura
mostrar as diferentes formas pelas quais os sujeitos interpretam textosque os afetam, transformando sua auto-representao em representao
do mundo.
-
7/25/2019 46572
47/160
C E D E R J 45
5
AULA
Tais referncias nos mostram que quando Chartier nos convida
professor e alunos pesquisadores a trabalhar com representaes e
prticas, ele ressalta o relacionamento dos discursos proferidos com a
posio de quem os faz. Ou como diz Norbert Elias:
...o modo como uma pessoa decide ou age, desenvolve-se nas rela-
es com outras pessoas, numa modificao de sua natureza pela
sociedade. Mas, o que assim se molda no algo simplesmente pas-
sivo, no uma moeda sem vida, cunhada como milhares de moedas
idnticas, e sim o centro ativo do indivduo, a direo pessoal de
seus instintos e de sua vontade; numa palavra, seu verdadeiro eu.
O que moldado pela sociedade tambm molda por sua vez: a
auto-regulao do indivduo em relao aos outros que estabelece
limites auto-regulao destes.
At ento fomos conduzidos a uma conceituao de representaes
sociais, no contexto educacional. A partir de agora mostraremos como
tais representaes se apresentam em seu cotidiano e sua importncia
na construo da subjetividade de alunos e professores, na identificao
de suas personalidades.
Muitas mudanas j esto ocorrendo e precisamos perceb-las.
Vejamos como:
O processo de avaliao tem duas funes: a
diagnstica e a classificatria. A escola faz usode ambas, sendo porm a classificatria de maior
aplicao, visto que se destina ao acompanhamento
e anlise do processo educativo.
Quando voc reprova o seu aluno, ser que
se d conta de que outros professores no mais
fazem isso? Considera certa a reprovao?
O fracasso escolar e sua incidncia perversa sobre os alunos
oriundos das camadas mais pobres da populao constitui forte base
de pesquisa e de discusses entre especialistas em educao.
-
7/25/2019 46572
48/160
C E D E R J46
Prtica de Ensino 1 | Novas concepes das prticas educacionais num mundo de relaes e identidades
A Escola pode ser concebida como um plo cultural,
onde o conhecimento deve ser socializado, vinculado
realidade do aluno.
A Escola pode promover a identidade cultural do aluno,
inserindo-o no mundo em que vive.
Os estudos sobre este fracasso apresentam alguns culpados:
a prpria criana, quando considerada por sua natureza
sem aptido ou prontido necessria para a aprendizagem;
o prprio meio cultural que no proporciona criana
o desenvolvimento de atitudes e competncias necessrias
privao cultural";
o prprio sistema escolar, ento responsvel pela
manuteno do sistema social vigente, sustentado pela
teoria da repetio.
Como vemos, este quadro e suas contribuies ou mudanas
efetivas das prticas escolares tm nos conduzido ao imobilismo,
favorecendo mecanismos de excluso nelas contidos. Quantas vezes
voc j pensou sobre isso?Neste sentido, concordamos com Mazzotti (2001) quando em
recentes pesquisas evidencia o estudo do cotidiano escolar e suas prticas
docentes. Segundo ela, tais estudos indicam que
1) o baixo nvel socioeconmico do aluno induz o professor
2) os professores tendem a interagir diferentemente com
3) este comportamento diferenciado, freqentemente
4) os professores atribuem o fracasso escolar s condies
5) a responsabilidade pelo fracasso, suas causas internas
a uma baixa expectativa sobre ele;
alunos, construindo expectativas altas e baixas;
resulta em maiores ou menores oportunidades para
aprender, surgindo diminuio da auto-estima de alunos
com baixas expectativas;
sociopsicolgicas e econmicas dos alunos, eximindo-se
de responsabilidades;
(falta de aptido ou de esforo) tendem a ser assumidaspelos alunos de baixo rendimento.
-
7/25/2019 46572
49/160
C E D E R J 47
5
AULA
Ainda acompanhando o pensamento da autora, afirmamos, com
base, tambm, em tantas outras pesquisas, que os professores tm se
mostrado pouco crticos a respeito do que esperam dos alunos mais
carentes, tendendo a uma viso de mundo estereotipada pela classe
mdia, considerando-a como se fosse nica.
Resumindo, o modelo de aluno ideal no corresponde ao da
realidade. O aluno que hoje representa a maior parte de nossa clientela
da escola pblica do ensino fundamental uma criana pobre, cujos
pais tm baixa renda (ou nenhuma), sem escolaridade e lutam pela
sobrevivncia.
A importncia de tais estudos representa para ns um avano
no conhecimento dos mecanismos bsicos sobre os quais se produz o
fracasso escolar das crianas pobres. Estes estudos nos mostram a
necessidade de se ultrapassar as constataes esteriotipadas, seja na
prtica escolar ou na cabea das pessoas. Torna-se premente enten-
der como e porque estas percepes, atribuies, atitudes e expectativas
so construdas e mantidas.
A teoria das representaes sociais, em seu propsito de buscar e
relacionar processos cognitivos e prticas sociais, justifica-se como um
caminho promissor na busca de novas solues para velhos problemassocialmente partilhados.
Apesar da posio que assumimos nesta Prtica de Ensino, no
se pode fugir ao enfrentamento terico-prtico operando e interagindo
com a prtica investigativa, caso contrrio se perderia a riqueza e a
complexidade terica e histrica desta prtica.
Excluem-se da escola os que no conseguem aprender, excluem-se
do mercado de trabalho os que no tm capacidade tcnica porque
no aprenderam a ler, escrever e contar e excluem-se, finalmente,
do exerccio da cidadania estes mesmos cidados, porque no
conhecem valores morais e polticos que fundam a vida de uma
sociedade livre, democrtica e participativa.
(Vicente Barreto, Razes e Asas, 1988, n 1, p. 3)
-
7/25/2019 46572
50/160
C E D E R J48
Prtica de Ensino 1 | Novas concepes das prticas educacionais num mundo de relaes e identidades
EXERCCIOS
1. Observe, aps nossa aula, como a subjetividade de professores e alunosse faz
presente em sua sala de aula;
2. Discuta sobre ela com colegas de curso, no plo ou em sua prpria escola;
3. Aproveite estas ilustraesa seguir e faa um registro de cada uma destas
situaes que se relacionem a sua experincia.
R E S U M O
Vimos que se ns, professores, afirmamos que os tempos so outros, no
podemos nos esquecer desta realidade quando estamos em sala de aula. Assim
vale lembrar:
o mundo das relaes e as identidades mudaram, assim como as concepes das
prticas educacionais.
alunos e professores, sujeitos da educao, se apresentam como possuidores de
vrios discursos, numa constante subjetividade entre professores e alunos.
a prtica docente, exercida atualmente em termos culturais, torna relevante
as representaes sociais construo e leitura da realidade social em diferentes
espaos e tempos.
o professor deste tempo deve perceber como as representaes sociais se
fazem presentes em seu cotidiano escolar e sua importncia na construo da
subjetividade de alunos e professores.
o fracasso escolar merece ainda outras pesquisas, assim como, o desenvolvimento
de novos projetos sociais que busquem em uma prtica pedaggica um currculo
que seja uma possibilidade de interao entre alunos.
-
7/25/2019 46572
51/160
C E D E R J 49
5
AULA
O que esta escola representa na vida de seus alunos?
Repense suas condies de vida.
Como o aluno aprende?
-
7/25/2019 46572
52/160
C E D E R J50
Prtica de Ensino 1 | Novas concepes das prticas educacionais num mundo de relaes e identidades
AUTO-AVALIAO
Voc conseguiu perceber as diferentes formas de construo do conhecimento?
Foi possvel fazer uma relao entre esse processo de construo e as mudanas
das relaes que provocam novas identidades?
Como, no seu entendimento, a escola vem se comportando em relao a essas
mudanas que vm ocorrendo?
INFORMAO SOBRE A PRXIMA AULA
A prxima aula levar voc a refletir sobre os mltiplos saberes no exerccio de
ensinar e aprender.
Curta o prazer de fazer um lbum de imagens (fotos) na escola, evidenciando
diferentes prticas pedaggicas do cotidiano.
-
7/25/2019 46572
53/160
C E D E R J 51
AGENDA DIDTICA
Aula 5 TEMTICA __________________________
PREVISO EXECUO AVALIAO
Ord Data CH Incio CH Fim Atividades desenvolvidasMudanas na Prtica
de EnsinoCH
Utilz
Observao e anlise:
Data
Assinatura do Tutor
-
7/25/2019 46572
54/160
-
7/25/2019 46572
55/160
Ensinar e aprender...Um exerccio de
mltiplos saberes?
Esperamos que, aps o estudo do contedo destaaula, voc seja capaz de:
Analisar os processos cognitivos, dialgicos einterativos, presentes nos processos de ensino eaprendizagem sob diferentes aportes tericos.
Propor rupturas com a perspectiva tradicional deensino.
Pr-requisitoO reconhecimento da importncia da
interao entre os sujeitos da educao
na construo dos mltiplos saberes
necessrios a um novo tempo nas
relaes culturais.
objet
ivos
6AULA
-
7/25/2019 46572
56/160
C E D E R J54
Prtica de Ensino 1 |Ensinar e aprender... Um exerccio de mltiplos saberes?
Promover rupturas em relao ao ensino
tradicional.
Fcil de falar, difcil de fazer!
Lembre-se de que o convvio nos permite aprender
ao imitar o outro, ao acatar sugestes e criar
novos saberes, certezas e convices que nos
tornam persuasivos e contestadores.
No olhar que lanamos sobre nossa prtica
docente identificamos: o novo, o antigo e o
desejado.
Ensinar sempre um desafio?
Desafio ...
...uma imprudncia?
...uma ousadia?
...uma coragem compartilhada?
...um desbravar constante?
INTRODUO Na aula anterior, vimos que alunos e professores interagem como sujeitos
da educao, em seu cotidiano escolar. Da a importncia das subjetividades
na concepo das atuais prticas pedaggicas vivenciadas dentro e fora
da escola.
Sabemos que toda criana tem algo a dizer.
preciso que o professor d oportunidade para que ela fale.
Partilhar idias , tambm, desenvolver o pensamento!
(Clia Linhares)
Vamos refletir agora sobre a produo de sujeitos e suas subjetividades, pois
preciso fazer o cruzamento entre os saberes sociais e os saberes j constitudos
na cultura que os alunos vivenciam.
Na conversa que iniciamos anteriormente,
falamos em promover rupturas.Nossa
inteno era (e ainda ) a de favorecer novas
alternativas na (re)construo dos saberes
constitudos. Vamos continuar esta conversa?
Inicialmente, o desafio nos conduz a uma prtica
pedaggica que auxilia professores e alunos a
refletirem e perceberem seus saberes,
para, em seguida, entender, processar e
transformar a realidade(Freire, 1987).
Tomamos a escola pblica fundamental como
palco central, onde a experincia de cada um
vai sendo construda numa instituio escolar.
Lanamos nosso olhar sobre este territrio
singular a sala de aula espao pedaggico
onde a ao acontece (Nvoa, 1992).
Quando voc est em sala de aula junto a seus
alunos, o que acontece neste espao e o que
voc faz acontecer?
Pensando nisto, discutiremos a sala de aula como um espao institucional
que favorece novas iniciativas e pressupe um esforo da (re)significao de
ensinar e aprender.
Voc perceber que instituir uma perspectiva de produo do conhecimento e
promover a apropriao dos saberes cotidianos aproxima a escola da vida dos
alunos. Provoca uma ao reflexiva sobre o conhecimento e a experincia de
si mesmo na relao com os outros.
-
7/25/2019 46572
57/160
C E D E R J 55
6
AULA
OS MLTIPLOS SABERES NO EXERCCIO DE ENSINARA APRENDER
Da fronteira se pode alcanar
um ngulo de viso mais amplo... embora nunca
se veja tudo.
(Regina Leite Garcia)
Comeamos por lhe perguntar se, alguma vez, um acontecimento
inesperado, de pouca importncia em seu cotidiano, fez voc mudar
de atitude didtica, como por exemplo, em relao a algum aluno,
preconcebidamente rotulado de irrecupervel, alterando a vida dele.
A vida de professores registra muitas surpresas e, neste processo
de constantes descobertas, muito nos assustamos, mitos desaparecem e
constatamos que:
(...) a verdade sempre relativa a quem olha e ao lugar de onde se
olha, e mais, que o que at ento denominamos objeto nos olha
interagindo conosco, e direciona o nosso olhar, influindo sobre o
que vemos e at sobre o mtodo que escolhemos para investig-
lo.
(Garcia, 2000, p. 116)
Tal situao se apresenta como uma estratgia provocadora,
que lhe pode permitir levantar, conhecer e at (re)construir processos
e relaes presentes em sua vivncia escolar, em sua conscincia e em
suas mltiplas aes.
No entanto, bom lembrar que nossa contribuio nesta reflexo
somente se tornar vlida, se o aluno/professor se envolver no processo
de (re)construo desta prtica. necessrio, para isto, identificar
contradies, descobrir dimenses que interagem na construo dos
saberes, identificar suas influncias no exerccio de ensinar e aprender, e
respeitar os papis sociais que so incorporados no palco da escola. Da
vem a (re)significao da Prtica de Ensino pelo exerccio dos mltiplos
saberes em interao.
,
os
m
-
7/25/2019 46572
58/160
C E D E R J56
Prtica de Ensino 1 |Ensinar e aprender... Um exerccio de mltiplos saberes?
Ento, pergunta-se, que conhecimento este, trabalhado e cons-
trudo na escola e pela escola, do qual estamos falando?
a professora que sabe!: concepo dos
alunos sobre o ensino do sistema formal.
Olha quem est Falando!: as diferentes vozes
no discurso escolar.
Somos sempre atores observando e sendo
observados. Criticamos e somos criticados.
O saber escolarapresenta diferentes tipos de conhecimento e reala
a importncia do trnsito entre saberes; o conhecimento est em cons-
tante processo de elaborao e sempre a servio de valores, nem sempre
explcitos, mas culturalmente observados e reproduzidos.
Quando nos referimos escola como palco, pensamos nas repre-
sentaes que ela contempla: a vida na escola, se vida vivida, nos tem
mostrado a existncia de mltiplos saberes no ato de ensinar e aprender:
Saberes daqueles que nos contam a prpria histria de vida;
Saberes dos que propem novos enfoques sobre o ato de
ensinar e o ato de aprender;
Saberes de fragmentos autobiogrficos;
Saberes que os alunos trazem para a sala de aula e que so
fundamentais ao processo de formao do conhecimento.
Temos hoje, a nosso dispor, vasto material coletado por pesquisa
ao longo da histria, que nos permite uma viso mais rica da escola, com
registros biogrficos de alunos de outras dcadas.O que nele encontramos?
Prticas autoritrias e desprezo pelo saberes dos alunos, o cotidiano
escolar desconhecido pelos pais dos alunos, assim como o distanciamento
em relao s contingncias que cercam a vida de professores.
-
7/25/2019 46572
59/160
C E D E R J 57
6
AULA
O trabalho na escola no pode prescindir da reflexo consciente
do professor, do olhar sobre si mesmo como sujeito de sua prtica, de
sua prpria histria de vida escolar, ou seja, este trabalho no pode
ignorar aquele que se prope, a todo momento, (re)significar sua aula
como espaos de:
possibilidades de experincias, de viso de mundo, devalorizao das relaes interpessoais, de aes educativas
inclusivas, valorizando o que se fala, l, escreve, pensa,
ensina, aprende e arquiva.
Tire o olho do livro!
Sozinho ele muito "indigesto"...
Olhe ao seu "entorno"...
Junte conhecimento com observao...
do outro sozinho,
dos outros em grupo,
do ambiente da escola,
da cultura dos alunos.
R J 57
, ,interpessoais, de aes educativas
o que se fala, l, escreve, pensa,
a.
C E D E
-
7/25/2019 46572
60/160
C E D E R J58
Prtica de Ensino 1 |Ensinar e aprender... Um exerccio de mltiplos saberes?
Assim pensando, a sala de aula, este territrio destinado con-
quista de mltiplos saberes, apresenta-se como uma teia de relaes. Tais
relaes podem ser interativas do intelecto e do afeto, tecidas entre as
pessoas produtoras dos atos de ensinar e de aprender, tanto na dimenso
subjetiva da conscincia dos sujeitos, quanto na dimenso objetiva
da cultura.
Nossa proposta inicial foi favorecer a auto-reflexo de vocs,
alunos/professores, como sujeitos da produo de sua prpria formao.
Queremos uma formao que incorpore, com humildade, o exerccio
de transitar em diferentes campos do conhecimento, sem apropriao
privada de saberes e com conscincia de seus no saberes.
Se concordarmos que o professor brasileiro mudou de perfil,
de classe, de cor, de cultura e de condies materiais, talvez possamos a
partir destas concepes, abrir caminhos para a reinveno da escola
(Frazo, 2000, p. 49).
Nesse sentido, firma-se a necessidade de se criar uma nova cultura,
que seja transgressoradas verdades acabadas, do conhecimento pronto
e desconectado da realidade social.
Os estudos j realizados sobre a sala de aula em territrios de
mltiplos saberes (Anais do X Endipe, RJ, 2000) apontam resultados.para a dialogicidade como categoria mediadora entre os
conhecimentos e as pessoas, em que as relaes possam ser
construdas por meio da partilha das vivncias e saberes entre
o professor e os alunos, saindo da viso de investigaes sobre
para uma investigao e reflexo com a realidade e com parcerias
construdas numa sala de aula com fronteiras abertas, permitindo
a possibilidade de indissociar o ato de ensinar e o de produzir
conhecimento.
(Cleoni Fernandes, 2000, p. 180)
Para finalizar, embora sem colocar um ponto final na discusso,
procuramos mostrar que a Escola pode agilizar o trnsito dos saberes
na ao pedaggica, fazendo com que ocorra um fluxo contnuo nas
diversas (re)elaboraes cognitivas/afetivas, frutos de procedimentos de
qualidade, na direo do exerccio da cidadania assumida.
Esperamos que, atravs deste percurso discursivo, seja possvel
entender melhor a complexidade de tais processos sociais que envolvem
tanto os que esto na escola como os que permanecem fora dela.
-
7/25/2019 46572
61/160
C E D E R J 59
6
AULA
EXERCCIO
1. Nossa preocupao em oferecer sempre o melhor nos remete ao texto A Escolafabricando professores e estudantes: experincia de si mesmos(Linhares, 2000,
pp. 47-54). Nele, a professora faz referncia a um filme rodado numa escola de
Shuiquan, num povoado da China contempornea. O filme em questo, Nenhum
a menos, faz parte da videoteca de seu plo.
Propomos que voc assista ao filme. Ele tem sido utilizado em cursos de
formao de professores, por sua adequao ao trabalho na educao e
na escola.
Algumas referncias sobre ele:
Mesmo retratando uma escola no oriente, o enredo nos leva a pensar o que temos
estudado sobre as subjetividades, se muito pouco ou quase nada. A subjetividade
de sujeitos professores e alunos vai sendo construda e produzindo escolas. At
que ponto esto construindo para conservar ou para modificar seus entornos, suas
comunidades, suas cidades, conjugando-as com outras relaes sociais, intervindo
nas sociedades e na histria (ibid, 2002, p. 44).
R E S U M O
Nesta aula vimos que a prtica de ensino no pode prescindir da constante
reflexo do professor, do olhar sobre si mesmo como sujeito de sua prtica de
seu propsito de refletir:
A sala de aula, vista como territrio de mltiplos saberes espao de relaes
interativas do intelecto e do afeto entre os que participam do ato de ensinar e
aprender;
A interao que se processa tanto na dimenso subjetiva da conscincia dos
sujeitos (professores e alunos), quanto na dimenso objetiva da cultura a que
pertencem estes sujeitos.
Os diferentes saberes do professor, sempre percebidos e sempre tomados como
ponto de partida para se entender e transformar a realidade.
-
7/25/2019 46572
62/160
C E D E R J60
Prtica de Ensino 1 |Ensinar e aprender... Um exerccio de mltiplos saberes?
A trajetria do filme levar voc a observar questes pedaggicas, contedos,
mtodos e seu entrelaamento e at sua subordinao, dentre outras questes
menos discutidas ou faladas, mas sem dvida, como bem ressalta Clia Frazo
Linhares, presentes e potencializadas nas prticas, e nos funcionamentos e
mecanismos da escola:
as polticas que conduzem as experincias de si mesmo e dos outros, controlando
no s o como aprender, mas o que se aprende, o que se ensina e fala e, do
outro lado deste mesmo fio, o que se precisa silenciar e desaprender. Trata-se
de espaos polticos de fabricao de conformismos e sujeies que, por sua vez,
atiam insurgncias, como resistncias, como afirmaes.
(Endipe, 2000, p. 45)
Assistindo ao filme, seu olhar dever estar voltado para ver o que nos acostumaram
a no ver, o que foi deixado margem, como menor, pela fora de consensos
que reproduzem os ditos e os feitos. Por esta razo, vale a pena voc tambm
ver este filme.
Com olhar investigador, voc poder identificar nas falas da professorinha Wei
Minzhi, nas imagens do filme, os exerccios contidos em processos de subjetivao,
numa tenso a que chamamos de mundo de objetos numa dimenso de
objetividade inseparvel da subjetividade. Voc ver tambm, no filme, que os
exerccios de matemtica tornaram-se produtivos, e se transformaram no objetivo
maior da prpria escola: a luta pela permanncia de todos na escola nenhum
a menos.
Vale a pena conferir e fazer o registro das inmeras questes pedaggicas aserem refletidas por voc nesta oportunidade de (re)construo de saberes
de professores e alunos.
Lembre-se de que, diariamente, em sala de aula , voc e seus alunos constroem
saberes nicos e importantes. Registrar os conceitos estudados, fotografar
(gravar) as cenas interessantes do cotidiano e utiliz-las pedagogicamente
pode ser uma forma de levantar vozes at hoje silenciadas e dar significado
a comportamentos ocultados por mitos e preconceitos.
-
7/25/2019 46572
63/160
C E D E R J 61
6
AULA
AUTO-AVALIAO
Esta aula trouxe uma srie de conhecimentos que interferem na perspectiva pela
qual vemos a prtica de ensino na sala de aula e fora dela.
Partindo da proposta da (re)significao do processo de ensinar e aprender, releia
os objetivos desta aula e constate se houve (re)significao em seus conhecimentos:
dvidas que ficaram e mudanas que provocaram.
Voc conseguiu visualizar no filme o exerccio dos mltiplos saberes em ao
na escola?
-
7/25/2019 46572
64/160
C E D E R J62
AGENDA DIDTICA
Aula 6 TEMTICA __________________________
PREVISO EXECUO AVALIAO
Ord Data CH Incio CH Fim Atividades desenvolvidasMudanas na Prtica
de EnsinoCH
Utilz
Observao e anlise:
Data
Assinatura do Tutor
-
7/25/2019 46572
65/160
Espao de ensinar,
tempo de aprender
Esperamos que, aps o estudo do contedo destaaula, voc seja capaz de:
Formular novas polticas de atuao em sala deaula.
Encontrar em sua prpria ao os caminhossugeridos nas teorias estudadas.
Pr-requisitosTrazemos para esta aula
os diversos conceitos trabalhados
nas Aulas 5 e 6 sobre:
Identidades culturais e sociais;
Subjetividades de professores e alunos;
Interao escola e meio;
Representaes sociais em sala de aula;
O ato de aprender como exerccio
de mltiplos saberes.Eles sero necessrios para compreender a sala de
aula como espao de reflexo no exerccio de ensinar.
objet
ivos
7AULA
-
7/25/2019 46572
66/160
C E D E R J64
Prtica de Ensino 1 |Espao de ensinar, tempo de aprender
INTRODUO No h um penso, mas um pensamos. o que
pensamos que estabelece o penso e no o contrrio.
Essa co-participao dos sujeitos no ato de pensar se
d na comunicao, em torno do significado/significante.
(Paulo Freire)
Pensamos em lhes oferecer um eficaz instrumento que trouxesse tona o
lugar da imaginao na educao, revendo a crena na criana, na cultura, no
ambiente familiar, na escola, na comunidade, para livr-los de preconceitos e
autoritarismos que minimizam nossa capacidade de atuar criativamente.
O farto material terico que lhe oferecemos teve como objetivo possibilitar o
relacionamento entre os conhecimentos teoricamente discutidos e a prtica
cotidiana na escola e na vida. Esta a principal razo de mantermos e
defendermos uma prtica de ensino que sugere caminhos a serem escolhidos
por voc no grande repertrio de saberes apreendidos no dia-a dia de todo
professor.
Sua vida, suas indagaes, suas afetividades, repletas de emoes, juntamente
com os conhecimentos adquiridos, configuram um novo espao de reflexo
que lhe possibilita a interatividade no exerccio do ensinar.
QUE TAL MANTER EM SALA DE AULA UM OLHAR FELIZ,QUE INTEGRA VIDA E PROFISSO?
E agora voc decide seus prximos passos em relao aos objetivos
dessa aula.
( ) Preciso rever as aulas anteriores?
( ) Preciso ler um pouco mais?
( ) ..................................................
(o que voc precisa fazer?)
Voc, professor de rede pblica de ensino, sabe o quanto divergem
as orientaes das diversas Secretarias de Educao que de certa forma
influenciam nossa prtica docente.
Entretanto, reconhecemos que a aprendizagem exige determinadas
rotinas que caracterizam a instituio escolar, tornando-a diferente e to
necessria sociedade atual, por isso a necessidade de investir "pesado"
na capacidade diria para o exerccio do magistrio.
que lh
QUEQUE
dessa
-
7/25/2019 46572
67/160
C E D E R J 65
7
AULA
Na sala de aula a teoria se atualiza, sendo confirmada ou trans-
formada, medida que no d conta do que acontece fora dela. Por
isto, provoca busca e criaes de novas explicaes tericas, capazes
de responder s complexas questes dos profissionais empenhados em
ensinar e aprender.
Pelo que temos falado, cada um de ns um, nico, diferente de
todos os demais; cada situao uma, indita, diferente de qualquer
outra situao teorizada, explicada, vivenciada em sala de aula.
Neste momento, dentre as inmeras questes que afloram seu
pensamento, professor, destacamos:
Como cada aluno pode contar sua histria de vida em
contribuio ao grupo?
Como voc pode propor novas prticas para a sala deaula?
Como o ambiente da comunidade interfere na sua forma
de ensinar?
Que saberes anteriores voc e seus alunos tm aproveitado
no processo de ensino e aprendizagem?
Partindo das aulas anteriores, voc agora j tem bem claro nosso
propsito em chamar sua ateno sobre a diversidade entre os alunos eos mltiplos sujeitos da educao.
No se trata de trabalhar com as diferenas para homogeneizar
nem de trabalhar, apesar das diferenas, ignorando-as, e sim,
com as diferenas encaradas como contribuio e no como faltas
ou necessidades...
(CENPEC, 1994, p. 6)
No h curso que possa dar conta do seu
desenvolvimento profissional, isto s depende
de voc. Ns podemos apenas ajudar.
Trabalhando com
as diferenas.
Sala de aula: oficina
de trabalho.
-
7/25/2019 46572
68/160
C E D E R J66
Prtica de Ensino 1 |Espao de ensinar, tempo de aprender
Se voc, a partir de agora, observar com maior rigor uma turma em
sala de aula, ou mesmo qualquer outro grupo considerado homogneo,
com certeza encontrar entre seus integrantes mais diferenas do que
semelhanas. Se souber aproveitar a riqueza que existe na variedade de
respostas entre alunos e professores, esta aprendizagem se tornar mais
efetiva para todos, fazendo com que voc, professor, esquea de vez,
tantas tentativas que j tivemos em reduzir estas diferenas.
O trabalho da escola no pode prescindir da reflexo sobre estas
questes. Possibilidade fundamental de (re) significar seu espao de ensinar
e aprender.
A escola precisa ser vista como um espao-tempo de permanente
transformao, exigindo muita dedicao e, mais que tudo, muita inves-
tigao para romper com uma absurda onipotncia com a qual fomos
todos formados.
Deslizando em nossa prpria histria, devemos considerar
suas tantas e necessrias diferenas, porque j aprendemos que o
cotidiano escolar tem