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Eficiência Seletiva: uma Perspectiva Neo-Schumpeteriana Evolucionária sobre Questões Econômicas Normativas

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  • R. Bras. Eco. de Emp. 2005; 5(1): 29-00

    R EB E

    Robson Antonio Grassi 1

    Departamento de EconomiaUniversidade Federal do Esprito Santo (UFES)E-mail: [email protected]

    Concorrncia Schumpeteriana e capacitaesdinmicas: explicitando os elos tericos

    RRRRRESUMOESUMOESUMOESUMOESUMO::::: Embora muitos autores tenham tratado da concorrncia schumpeteriana em seusestudos, dado seu poder explicativo da realidade para economias capitalistas, tudo indicaque esta viso da concorrncia ainda no ocupou o espao que merece entre os estudiososda microeconomia. O mesmo se pode dizer da viso de firma que surge neste contexto, adas capacitaes dinmicas, embora neste caso devendo-se ressaltar que a mesma aindauma construo terica muito recente, surgida na dcada de 90. Tomando por base estasconstataes, o presente artigo tem por objetivo explicitar as principais caractersticas dosprocessos de concorrncia schumpeteriana e de construo de capacitaes dinmicas porparte das firmas. Procura-se evidenciar os desenvolvimentos tericos a eles associados,com o intuito de montar um quadro geral e integrado sobre estes temas - embora sem apretenso de esgot-los - que seja til para a anlise de firmas, indstrias e mercados deforma mais realista que as abordagens excessivamente abstratas encontradas nos manuaisortodoxos de microeconomia e de organizao industrial.

    PPPPPALAVRASALAVRASALAVRASALAVRASALAVRAS-C-C-C-C-CHAVEHAVEHAVEHAVEHAVE::::: Concorrncia Schumpeteriana - Capacitaes Dinmicas - DinmicaMicroeconmica

    AAAAABSTRACTBSTRACTBSTRACTBSTRACTBSTRACT::::: Due to the explicative power of the reality for capitalist economies, several au-thors consider the schumpeterian competition in their studies. In spite of this, there areindications that this vision of competition has still not obtained its deserved recognitionamong the microeconomists. The same can be said of the firm vision in this context (dy-namic capabilities), although, in this case, the theoretical construct is very recent (arising inthe 90s). Considering these observations, the present paper has as its objective to makeexplicit the main characteristics of the schumpeterian competition process and the forma-tion of dynamic capabilities by firms. In this sense, this paper highlights the theoreticaldevelopments with the objective of building a framework (without the pretension to ex-haust it) for more realistic analyses of firms, industries, and markets, than excessively ab-stract analyses founded in orthodox microeconomics and industrial organization manuals.

    KKKKKEYEYEYEYEY W W W W WORDSORDSORDSORDSORDS::::: Schumpeterian Competition - Dynamic Capabilities - Microeconomic Dynamics

    CDIGO JEL: L20 e O30

    1 Agradeo os comentrios de Mario Possas; dosparticipantes do VII Encontro Nacional daSociedade de Economia Poltica (Curitiba PR,2002), no qual foi apresentada uma versopreliminar deste artigo; e de um pareceristaannimo. Quaisquer incorrees remanescentes sode minha inteira responsabilidade.

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    IntroduoIntroduoIntroduoIntroduoIntroduo

    Embora muitos autores tenham tratadoda concorrncia schumpeteriana em seusestudos, dado seu poder explicativo darealidade das economias capitalistas, tudoindica que esta viso da concorrncia aindano ocupou o espao que merece entre osestudiosos da microeconomia. Nelson (1996a,pg. 98-9), por exemplo, reconhece que,embora a principal influncia de Schumpetertenha sido estimular os economistas a entenderque a inovao um aspecto central daatividade econmica - e no perifrico -, eletem ainda que convencer a maior parte daprofisso de economista (ibid) da validadede suas idias. O mesmo se pode dizer deuma viso de firma muito prxima a esteconceito de concorrncia, a abordagem dascapacitaes dinmicas, embora neste casodevendo-se ressaltar que a mesma umaconstruo terica muito recente, surgida nadcada de 90.

    Levando sempre em considerao estasidias, o objetivo do presente artigo explicitaras principais caractersticas dos processos deconcorrncia schumpeteriana e de construode capacitaes dinmicas por parte dasfirmas, evidenciando inclusive osdesenvolvimentos tericos a eles associadosque vm sendo feitos, com o intuito demontar um quadro geral e integrado sobreestes temas - embora sem a pretenso deesgot-los - que seja til para a anlise defirmas, indstrias e mercados de forma maisrealista que as abordagens neoclssicas.

    Vale ressaltar, apesar destes temas fazeremparte de uma mesma tradio terica, sendoinclusive utilizados sem maiores distinespor parte dos autores, considera-se que necessrio explicitar as caractersticasparticulares de cada um. Deve-se mostrar deforma clara que a tradio terica iniciadapor Schumpeter j possui uma viso de firma(capacitaes dinmicas) e de concorrncia(schumpeteriana) - que so os dois pilaresbsicos de qualquer enfoque de organizaoindustrial - completamente alternativas s damicroeconomia e mesmo da organizaoindustrial mainstream. Isto porque a referidatradio terica representa o nico enfoquedestas reas que rompe de forma inequvocacom os dois principais pilares tericos daortodoxia econmica, quais sejam, as noes

    de equilbrio e racionalidade maximizadora(ver Nelson & Winter, 1982, cap. 1). Comoeste artigo mostrar, mais importante que orompimento em si so as promissoraspossibilidades analticas referentes a firmas emercados que tal rompimento proporciona.

    O trabalho divide-se da seguinte forma:na primeira seo, a seguir, ressaltada aimportncia de se estudar a concorrncia soba tica schumpeteriana, uma das poucasvises ativas existentes sobre este tema. Nasegunda, so expostas as principais idias deSchumpeter e dos estudiosos que tmcontinuado o seu trabalho, os autoresevolucionistas (ou neo-schumpeterianos). Naterceira seo so mostrados os principaisdesenvolvimentos tericos de um grupo deautores que vem estudando a firma individuala partir de uma perspectiva schumpeteriana -a viso das capacitaes dinmicas da firma.Na quarta seo apresentada a forma comoestas perspectivas da concorrncia e da firmaso aplicveis ao entendimento docomportamento de firmas e mercados, deforma abrangente, abordando a interaoestratgia-estrutura de mercado nesteprocesso. Por fim, algumas conclusesencerram o presente artigo.

    1. A Importncia de uma Viso Ativa1. A Importncia de uma Viso Ativa1. A Importncia de uma Viso Ativa1. A Importncia de uma Viso Ativa1. A Importncia de uma Viso Ativada Concorrnciada Concorrnciada Concorrnciada Concorrnciada Concorrncia

    22222

    Este texto parte do princpio de queentender o processo de concorrncia fundamental para a compreenso dofuncionamento da economia capitalista, atporque tal estudo parte importante naconstituio de uma teoria da dinmica destaeconomia (ver Possas, 1989a, pg. 23).

    Deve-se esclarecer em primeiro lugar osentido que a dinmica tem neste trabalho,dada a amplitude de significados encontradosna literatura pertinente. Dinmico aquisignifica reconhecer que o capitalismo umsistema caracterizado por processos constantesde mudana, e que por isso, para serplenamente entendido, precisa ser encarado,nas palavras de Schumpeter, como umprocesso evolutivo (ver Schumpeter, 1943,cap. 7; Nelson e Winter, 1982; Saviotti eMetcalfe, 1991; e Dosi e Nelson, 1994).

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    Uma das principais causas destacaracterstica do capitalismo o constanteavano tcnico experimentado por estas

    2 Considera-se neste trabalho que a visualizao daconcorrncia a partir de suas dimenses ativa epassiva, como proposta por Mario Luiz Possas(1989a, 1996 e 2002) e Silvia Possas (1999),permite um melhor entendimento da importnciada noo de concorrncia schumpeteriana. Por issoa presente seo seguir como orientao geral ostrabalhos destes autores.

    3 Segundo Schumpeter, o capitalismo , pela prprianatureza, uma forma ou mtodo de mudanaeconmica, e no apenas nunca est, mas nuncapode estar, estacionrio (1943, pg. 112).

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    economias, gerado pela ocorrncia incessantede inovaes lato sensu, que segundo o autor,so o motor principal deste processoevolutivo. Isto significa que a economia, tantoa nvel microeconmico comomacroeconmico, segue trajetrias nas quaiso equilbrio mera casualidade, ou seja, emum regime de avano tcnico incessante aeconomia como um todo est - ou pode estar- em um contnuo estado de desequilbrio(deve-se ressaltar, este ltimo ponto devidomais aos autores neo-schumpeterianos do queao prprio Schumpeter, conforme veremos).

    Entender a concorrncia como umprocesso evolutivo conceitu-la como acompetio entre firmas por meio deinovaes - em resumo, concorrnciaschumpeteriana. Nesta viso daconcorrncia, como amplamente divulgado,as inovaes so motivadas pela busca porparte das empresas da diferenciao dosconcorrentes que lhes permita a obteno delucros monopolistas ou extraordinrios (ou,em linguagem neoclssica, acima do lucronormal, o lucro associado ao custo deoportunidade), realizando com isso seuintuito principal, que a valorizao do capital.Portanto, a perspectiva do lucro de monoplioque incentiva a inovao. E esta, ao geraraquele, torna-se a forma mais eficaz deconcorrncia (ver Possas, S., 1999, pg. 39-40).

    Isto significa tambm visualizar aconcorrncia como um processo de luta porapropriao de poder de compra e garantiade espao de valorizao do capital. Ou seja,a concorrncia aqui vista como um processode seleo econmica. Mas este processo deseleo diferente daquele presente nosestudos da biologia, j que a possibilidade dese criar estratgias influi de tal modo sobreesta seleo, que se torna o seu traopredominante. Os que no forem competentesno estabelecimento de estratgias - e na suaconstante renovao - possivelmentesucumbiro (ver Possas, S., 1999, pg. 32 eseguintes). Este processo, por sua vez, gerador de assimetrias e diferenas, que sorecriadas a todo o momento, e que garantema ampla diversidade (em relao a tamanho,lucratividade, etc.) de empresas encontradanos mercados (ver Dosi, 1988).

    Porm, sabe-se que esta viso daconcorrncia no a usada nos livros-textosde microeconomia. Nestes, a concorrncia

    continua sendo vista de forma atomista, ecomo um mero ajuste de preos e quantidadespor parte das empresas, que produzemprodutos homogneos, resultando noequilbrio do mercado e na obteno de lucrosnormais por parte dos agentes. A concorrncia vista no exatamente como um processo,mas como um conjunto de condies quegaranta a total ausncia de poder de mercadopelas firmas, mesmo o poder puramenteeconmico, adquirido no ato de competir.

    Tais condies incluem tambm a perfeitamobilidade dos fatores de produo, que acabano permitindo que surjam diferenas entreos competidores. Assim os supostos daconcorrncia perfeita eliminam a possibilidadede diferenciao, de grandes escalas, deinformao diferenciada, enfim qualquer coisaque provoque diferenciao entre osprodutores. a absolutizao dahomogeneidade (ver Possas, S., 1999, pg. 45).

    Vale ressaltar, at aqui estamos nosreferindo apenas aos manuais demicroeconomia de nvel de graduao. verdade que esta caracterizao daconcorrncia como um suposto parasocompetitivo perdido (Possas, 1989a, pg.136), e portanto irrealista, reconhecida pelosautores neoclssicos como apenas um pontode partida, e que oligoplios e monoplios, apartir de falhas de mercado, so os casosquase sempre encontrados nos mercados reais.Alm disso, nos livros de organizao industrialneoclssicos (geralmente de nvel de ps-graduao, como o de Tirole, 1988), vriasdestas hipteses so relaxadas, dandomargem a explicaes mais realistas sobre ofuncionamento de firmas e mercados. Surgemat mesmo com certa freqncia, nestacorrente de pensamento, modelos tericos emque a diferena e os privilgios so admitidos,com modelos sobre barreiras entrada,diferenciao de produto, informaoassimtrica, etc.

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    Mas esta constatao no elimina aimportncia da crtica feita abordagemneoclssica, pois surgem as seguintesperguntas, se pensarmos que a realidade umas: Qual a verdadeira viso da TeoriaNeoclssica sobre o funcionamento de firmase mercados? A dos manuais de graduao oua que aparece nos textos de ps-graduao?Para estes autores, o sistema capitalista deproduo melhor caracterizado pela gerao

    4 Para uma viso geral sobre a abordagem neoclssicamais moderna do oligoplio, que incorpora estasquestes, ver o prprio Tirole (1988) e Dixon(1988).

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    Concorrncia Schumpeteriana e Capacitaes Dinmicas: explicitando os Elos Tericos

    incessante de assimetrias e diferenas entre osagentes, e pelos elevados nveis deconcentrao da decorrentes, conforme ostextos neoclssicos de ps-graduao pelomenos indicam; ou pelo resultado de obtenoapenas de lucros normais no equilbrio delongo prazo que, edio aps edio, continuaaparecendo nos manuais de graduao (ver,por exemplo, Varian, 2003, cap. 23)?

    Apesar da esmagadora maior parte daproduo mundial de bens e servios ocorrerem setores da economia que apresentamelevados graus de concentrao, a opoterica da viso microeconmica mainstreamquanto a estes questionamentos bastanteclara. A idia de mobilidade homogeneizantepermanece no centro da viso neoclssica deconcorrncia, servindo inclusive comoreferncia principal para as suas proposiesnormativas, na forma como so apresentadasnos manuais microeconmicos maismodernos (neste caso, tanto nos de graduaocomo nos de nvel mais avanado). Nesteslivros, conforme notrio, a eficinciaalocativa dos mercados avaliada a partir domodelo de equilbrio geral competitivo (comseu carter intrinsecamente esttico).

    Assim, a total mobilidade econmica e aeliminao de privilgios entre oscompetidores permanecem uma bandeiranesta corrente de pensamento, predominandoprincipalmente nos manuais de graduao - epor tabela nos de introduo economia -,que so os que divulgam a viso de mundoneoclssica para o grande pblico, e podendos vezes carregar um certo contedoideolgico, de defesa do livre mercado comonorma ideal.

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    Vistas brevemente as duas vises deconcorrncia, cabe ressaltar que acomparao entre ambas melhor entendidase levarmos em considerao que todoprocesso de concorrncia tem uma dimensoativa (diferenciadora) e uma passiva(igualadora) (ver Possas, 1989a e 1996; ePossas, S. 1999, cap. 1).

    A dimenso ativa (diferenciadora) refere-se criao e ocupao de novos espaoseconmicos em busca de lucros anormais evantagens competitivas que no venham aser completa e rapidamente diludas (Possas,1996, pg. 76). Ou seja, refere-se inovao.A dimenso passiva (igualadora), por sua vez,

    refere-se a situaes de ajustamento oueliminao de lucros extraordinrios oumonopolistas (ibid).

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    H, pois, uma certa oposio entremobilidade e diferenciao. Os agenteseconmicos procuram introduzir a ltimade modo a evitar o lado homogeneizante daprimeira, para que as vantagens durem portempo o mais longo possvel (Possas, S.,1999, pg. 57).

    Sabe-se que as anlises de cunhoneoclssico e neo-ricardiano pem mais nfasena mobilidade, em sua face homogeneizante;e as de Marx e dos autores evolucionistas, nadiferenciao, embora, na maioria das vezes,a existncia do outro elemento sejareconhecida.

    7 Aqui parte-se do princpio de

    que a busca de diferenciao entre os produtores o mecanismo central da concorrncia. A eleesto subordinados os demais. O objetivo decada agente deve ser sempre o de obter amaior remunerao que possa alcanar, emuma estratgia que procure garantir aomesmo tempo a sua sobrevivncia nomercado. A difuso das conquistas a geradas- embora de fundamental importncia - ummovimento subordinado, pois no tem opoder de garantir vantagens especiais aosimitadores, mas apenas evitarprovisoriamente que sejam expurgados domercado e tenham seu capital desvalorizado.

    Assim, mais comum o reconhecimentodo carter dinmico da concorrncia por partede autores que do nfase busca dadiferenciao pelos produtores (dimensoativa). Os que julgam que so fortuitas eteoricamente pouco relevantes tais diferenastendem a no atribuir importncia suarenovao. Para estes, ao invs de um processoseletivo, a concorrncia acaba sendo entendidaem muitos casos como um conjunto decaractersticas morfolgicas de um mercado,e fica difcil entender, por exemplo, que omonoplio criado pelo prprio processo deconcorrncia, e no o contrrio daconcorrncia, como aparece nos manuais demicroeconomia.

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    Portanto, dada a riqueza analticaproporcionada por uma perspectiva ativa daconcorrncia, porque ento a viso maisconvencional, com seu irrealismo patente eimpossibilidade de lidar com processos demudana econmica, permanece sendo a base

    5 A prpria apresentao de monoplios eoligoplios nesta viso enquanto meras falhas demercado, quando no feita com cuidado, faz partedeste contedo ideolgico, pois a noo de falhanormalmente associada a erros ocasionais quedevem ser prontamente corrigidos, no devendopor isso ocorrer com freqncia. Porm,observando-se a realidade e verificando-se apresena esmagadora destas estruturas de mercadonas economias modernas, pode-se concluir que naverdade quando monoplios e oligoplios surgemem um mercado no porque tal mercado falhou(ao se distanciar da concorrncia perfeita), massimplesmente porque ele efetivamente assim, umespao onde so geradas e propagadas assimetriase diferenas entre os agentes econmicos (ver, emsentido parecido, Possas, 1996).

    6 Alguns manuais microeconmicos convencionais,como o de H. Varian (2003, cap. 22), assumemexplicitamente este carter passivo da concorrnciacomo sendo dos economistas, deixando visesmais ativas (baseadas na intensa rivalidade) para oleigo. Porm, conforme este artigo pretendemostrar, os economistas podem tambm partir deuma viso ativa da concorrncia.

    7 Embora a abordagem de Marx tambm ressaltecom propriedade os aspectos de diferenciao (eportanto ativos) da concorrncia, tal viso tericano ser apresentada neste texto, pois acabou nose desenvolvendo a ponto de se tornar uma teoriada concorrncia (ver Possas, 1989a e 2002); econsequentemente de apresentar aplicaesempricas na rea de organizao industrial, comoas que a abordagem evolucionista vem realizando.

    8 Assim, opinies como a de Joan Robinson (1953),para quem a principal causa do monoplio (numsentido amplo) obviamente a concorrnciaacabam soando estranhas para a viso mainstreamda concorrncia.

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    da microeconomia ensinada nos manuais daprofisso?

    9 Em outros termos, o que ainda

    impede que, pelo menos no que se refere aestudos sobre concorrncia, a Meca daeconomia mude, aceitando a sugesto deMarshall (1890) de mais de um sculo atrs?

    No objetivo deste trabalho achar aresposta para esta questo, que evidentemente muito complexa e no se refere somente aoestudo da concorrncia, mas prpria CinciaEconmica como um todo (e talcomplexidade aumenta ainda mais selevarmos em conta que, como visto, para cadapressuposto irrealista da noo deconcorrncia perfeita existe um relaxamentode hiptese que permite a construo demodelos com tratamento mais realista dasfirmas e mercados). Alm disso, reduzi-laapenas ao seu contedo ideolgico - queevidentemente existe - simplificar demais aquesto. Interessa aqui ressaltar dois aspectosimportantes que ajudam a explicar por quemesmo estudiosos de heterodoxias prximasaos autores que seguem Schumpeter no doa devida importncia que esta viso deconcorrncia merece:

    Em primeiro lugar, os autores que tratamda mudana econmica em muitos casos noexplicitam os pressupostos tericos utilizadosna sua anlise, no deixando claro por quepartem da noo de concorrnciaschumpeteriana. Isto acaba encobrindo paraum pblico mais amplo as virtudes destacorrente de pensamento na interpretao darealidade, inclusive no que se refere aosobjetivos dos seus modelos, no deixando queseja marcada a grande diferena que existeem relao ao mtodo e s proposies tericasdo mainstream (ou seja, poucos fazem comoNelson & Winter, no captulo 1 do seu livroclssico de 1982).

    Em segundo lugar, no pode ser esquecidoque a concorrncia schumpeteriana tratadaem muitos casos com um certo preconceitopor parte dos pesquisadores que no so darea, que tendem a consider-laexcessivamente dedicada a estudos sobretecnologia, e por isso tomando em contaapenas um caso muito particular (referente inovao tecnolgica) da concorrncia real(que teria na concorrncia via preos o seucaso mais geral).

    Tais pesquisadores acabam no levandoem conta, por exemplo, que sob a perspectiva

    schumpeteriana o objetivo nico da firma emcondies de concorrncia perfeita, que maximizar o lucro ao formar seu preo, acabasendo visto como um simples trusmo quenada esclarece sobre o processo decisrio dasfirmas (ver Macedo e Silva, 1999, cap. 2)

    10,

    caracterizado na verdade pela presenainseparvel de estratgias em busca dadiferenciao dos concorrentes.

    11

    Consideramos que existem algunsequvocos neste caso, j que em Schumpetera concorrncia via inovaes lato sensu, noincluindo somente a inovao tecnolgica.Ou seja, o objetivo da firma, em ltimainstncia, buscar um lucro extraordinriofazendo algo diferente dos concorrentes,

    12

    e existem vrias maneiras de isso ocorrer13

    (ver Schumpeter, 1943; e Saviotti e Metcalfe,1991). Com tudo isso, numa perspectivaschumpeteriana, fazer algo diferente dasoutras empresas, ou seja, inovar, acaba naverdade sendo visto como o caso geral, e aconcorrncia por preos tratada nos manuaisconvencionais torna-se um (importante) casoparticular daquela.

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    Assim, todos estes pontos analisadosindicam que olhar a concorrncia sob o prismaschumpeteriano (viso ativa) implica umamudana radical em relao visomainstream (passiva). Mas, para um melhoresclarecimento de questes como estas, importante ressaltar os pressupostos tericosda anlise schumpeteriana da concorrncia.Com esse intuito, veremos a seguir os pontosprincipais da anlise do prprio Schumpetere dos autores que o seguiram nesta tarefa.

    2.2.2.2.2. O Processo de Concorrncia em O Processo de Concorrncia em O Processo de Concorrncia em O Processo de Concorrncia em O Processo de Concorrncia emSchumpeter e nos Autores Neo-Schumpeter e nos Autores Neo-Schumpeter e nos Autores Neo-Schumpeter e nos Autores Neo-Schumpeter e nos Autores Neo-schumpeterianosschumpeterianosschumpeterianosschumpeterianosschumpeterianos

    Ao conceituar a concorrncia a partir doprocesso inovativo das empresas, Schumpeteraproveita para deixar bem clara a diferenaentre este tipo de concorrncia e aquela queaparece nos manuais convencionais daprofisso: Logo que as concorrncias dequalidade e do esforo de venda so admitidasnos sagrados recintos da teoria, a varivelpreo desalojada de sua posio dominante.(...) Mas na realidade capitalista,diferentemente de sua descrio de livro-texto,no esse tipo de concorrncia que conta,mas a concorrncia atravs de novas

    9 Mesmo autores neoclssicos importantes, como J.Stiglitz (citado por Teece, 1992, pg. 2), lamentamque enquanto so as propriedades dinmicas docapitalismo que constituem a base da nossa confianaem sua superioridade sobre outras formas deorganizao econmica, a teoria - no mnimo averso que ns ensinamos aos nossos estudantes- baseada sobre um modelo que assume umatecnologia imutvel.

    10 interessante esclarecer que a deciso de preos uma das decises estratgicas mais importantes doprocesso concorrencial. Mas apenas uma delas,e no a mais importante, se levarmos em conta oobjetivo das firmas de valorizar seu capital.

    11 a presena da tradicional viso da firma enquantofuno de produo. Mas quando so relaxadashipteses e surgem vises neoclssicas maisavanadas sobre as empresas, como a do agente-principal, questes fundamentais sobre ocomportamento das mesmas, como as relacionadascom o seu processo decisrio, com processos deaprendizado, inovaes, etc. continuam semmerecer ateno.

    12 Diferenciao costuma ser vista, na literaturapertinente, apenas como mudar um produto. Nosentido aqui utilizado, mais amplo e prximo aode inovao, refere-se criao de algo novo, in-clusive um novo produto.

    13 A inovao tecnolgica apenas a mais estudada,embora seja to importante quanto a organizacionale outras, quando o competidor procura sediferenciar dos concorrentes.

    14 Dada sua importncia, este ponto ser retomadona prxima seo deste artigo, ressaltando-se aprpria viso de Schumpeter.

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    Concorrncia Schumpeteriana e Capacitaes Dinmicas: explicitando os Elos Tericos

    mercadorias, novas tecnologias, novas fontesde oferta, novos tipos de organizao (...) Aeficincia desse tipo de concorrncia, pertodo outro, assim como um bombardeiocomparado a se forar uma porta - e tomais importante que passa a ser relativamenteindiferente saber se a concorrncia no sentidocomum funciona mais ou menosprontamente; em qualquer dos casos, apoderosa alavanca que, no longo prazo,expande a produo e reduz os preos feitade outro material (1943, pg. 114).

    15

    Assim, o grande estmulo para a inovao o lucro extraordinrio que ela pode trazer,e, se este decorre da diferena do inovadorem relao aos demais produtores, trata-sede um lucro de cunho monopolista(temporrio), de uma espcie de quase-renda(ver Schumpeter, 1912, pg. 28).

    A importncia deste tipo de concorrnciafica mais clara ainda quando o autor afirmaque a abertura de novos mercados e odesenvolvimento organizacional ilustram omesmo processo de mutao industrial - seme permitem o uso do termo biolgico - queincessantemente revoluciona a estruturaeconmica a partir de dentro, incessantementedestruindo a velha, incessantemente criandouma nova. Esse processo de DestruioCriativa o fato essencial acerca docapitalismo (1943, pg. 112-3, grifosoriginais).

    Vista brevemente a noo de concorrnciade Schumpeter, podemos passar a algunscomentrios a respeito de sua validade parainterpretar o processo de mudana econmicana realidade capitalista (principalmente nocapitalismo contemporneo). Isto se faznecessrio porque apesar dos pontos daabordagem de Schumpeter que ressaltam acaracterstica de mudana econmica docapitalismo, no pode ser esquecido tambmque em vrias passagens de sua obra marcante a presena de anlises a partir doequilbrio, revelando uma certa dubiedade damesma quanto ao tema aqui abordado.

    16

    Alm desta dubiedade, importante notarque, para o aprofundamento da anlise docapitalismo como processo evolucionrio, asua abordagem mostra-se tambm deficientepelo fato de a linguagem sobre destruiocriativa - embora fornecendo alguma pistasobre o que ele queria dizer - nunca ir alm depistas (ver Nelson, 1996a, pg. 94-5). Isto acaba

    sendo pouco para o entendimento dosprocessos evolucionrios enquanto processosinerentemente devastadores e ao mesmotempo geradores de progresso, quecaracterizam o capitalismo como um sistemaextremamente complexo.

    Portanto, o modelo de Schumpeter umbom ponto de partida, mas no suficientepara entendermos as virtudes e fraquezas damoderna mquina capitalista. Neste sentido,a contribuio dos autores neo-schumpeterianos (ou evolucionistas),

    17 como

    continuadores da obra de Schumpeter, temsido de fundamental importncia para sealcanar este objetivo.

    Podemos estabelecer como marco inicialda abordagem neo-schumpeteriana apublicao, em 1982, do famoso livro de R.Nelson e S. Winter, An Evolutionary Theoryof Economic Change. Nesta obra, os autoreslevaram adiante as pistas deixadas porSchumpeter a respeito do carterevolucionrio do capitalismo, e interpretarama mensagem deste autor como indicando quea anlise e a modelagem econmica daconcorrncia atravs da inovao poderia fazerpouco uso da anlise do equilbrio, e em vezdisso tratar a dinmica do desequilbrioexplicitamente - tornando o equilbrio apenasum caso especial da mesma (ver Nelson,1996a, pg. 96).

    Neste sentido, a idia central de Nelson& Winter (1982)

    18 que, tal como a evoluo

    das espcies se d (na teoria darwiniana) pormeio de mutaes genticas submetidas seleo do meio ambiente, as mudanaseconmicas - entendidas tanto no aspectotcnico-produtivo quanto na estrutura edinmica dos mercados - tm origem na buscaincessante, por parte das firmas, comounidades bsicas do processo competitivo, deintroduzir inovaes de processos e produtos- o que teria, em regra, caractersticasestocsticas; e estas inovaes, por sua vez,seriam submetidas aos mecanismos de seleoinerentes concorrncia e ao mercado (vertambm Possas, 1989b).

    Para o entendimento dos processos debusca e seleo, por sua vez, necessrio levarem conta que, para estes autores, os agentes,frente incerteza do ambiente concorrencial,atuam por meio de regras simples de deciso(rotinas).

    19 Assim, o processo de busca de

    novas oportunidades pode ser caracterizado

    15 Em outra passagem: O impulso fundamental queinicia e mantm o movimento da mquina capitalistadecorre dos novos bens de consumo, dos novosmtodos de produo ou transporte, dos novosmercados, das novas formas de organizao in-dustrial que a empresa capitalista cria (1943, pg.112).

    16 Na interpretao de Nelson (1996a, pg. 88) daTeoria do Desenvolvimento Econmico (1912),neste livro Schumpeter indica ao mesmo temposua admirao pela teoria do equilbrio geral e afirmaclaramente que em sua opinio tal teoria nopoderia lidar com a inovao.

    17 Os seguidores de Schumpeter so aquiconsiderados tambm evolucionistas, pelasrazes j mencionadas. Mas importante ressaltarque autores como Hayek ou Veblen (e os seguidoresde ambos) tambm so consideradosevolucionistas, embora no sejam schumpeterianos.

    18 Para uma viso abrangente das idias dos autoresneo-schumpeterianos, incluindo suas importantescontribuies a respeito da questo da mudanatecnolgica, ver Nelson & Winter (1982), Dosi etalii (1988), Dosi (1988), Dosi & Nelson (1994),Possas (1989b), Freeman (1994), Saviotti eMetcalfe (1991) e Nelson (1995).

    19 A questo das rotinas ser detalhada ainda nesta seo.

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    pelo esforo especificamente inovador, demudana das rotinas existentes a partir dasmesmas, que tem componentes estocsticos.Com isso, nada garante a princpio que, porexemplo, o esforo em P&D das empresasser selecionado pelo mercado e resultar emganhos para as mesmas.

    Porm, se nada garante a princpio que oesforo em P&D das empresas ser selecionadopelo mercado e resultar em ganhos para asmesmas, isso no quer dizer impossibilidadede tomar tais temas sob o ponto de vistaterico? No, se levarmos em conta que existeuma certa ordem neste processo, j que,conforme a experincia emprica mostra, oprogresso tecnolgico costuma trilhar umdeterminado caminho, que serve de orientaopara as empresas no que se refere a decisesrelativas inovao. Tal processo pode serentendido por meio das noes deparadigma e trajetria tecnolgicos.

    Um paradigma tecnolgico20

    pode serdefinido como um padro de soluo deproblemas tecno-econmicos selecionadosbaseados em princpios altamenteselecionados derivados das cincias naturais,juntamente com regras especficas visando aaquisio de novos conhecimentos eproteg-los, sempre que possvel, contra arpida difuso (destes conhecimentos) paraos seus competidores (Dosi, 1988, pg.1127). Os paradigmas tecnolgicos, comodefinidos acima, apresentam diferentes nveisde generalidade, aplicando-se a umaindstria (tecnologia) ou a um conjunto delas(grupos delas).

    A natureza paradigmtica doconhecimento tecnolgico tem conseqnciasimportantes para o desenvolvimento doprocesso de mudana tecnolgica. Nessesentido, este processo tende a ter um carteraltamente seletivo e cumulativo. Estascaractersticas so responsveis pela naturezarelativamente ordenada dos padresobservados de mudana tecnolgica. Taispadres so captados pela noo de trajetriatecnolgica

    21, que pode ser definida como a

    atividade de progresso tecnolgico ao longodos trade-offs tecno-econmicos definidos porum paradigma tecnolgico (Dosi, 1988, pg.1128). Vale ressaltar, um paradigma podeabranger vrias trajetrias, por meio das quaisse difunde e reproduz, e diante de cujoesgotamento tende a transformar-se ou ser

    superado por outro. Em situao de transio possvel inclusive a coexistncia de diferentesparadigmas.

    Assim, tais trajetrias so importantespara orientar as estratgias inovativas dasfirmas, garantindo uma certa regularidade nocomportamento das mesmas, mas nogarantem nenhuma previsibilidade quanto resultante configurao da estrutura demercado, dado o carter incerto doinvestimento inovativo, j mencionado. Atporque uma das caractersticas cruciais doprogresso ao longo de uma trajetriatecnolgica sua natureza cumulativa (verDosi, 1988; e Possas, 1989b). Isto garanteque assimetrias tecnolgicas e produtivas sogeradas ou reforadas essencialmente pelagerao e difuso de inovaes tecnolgicas,resultando na enorme diversidade de firmas(sob vrios aspectos, desde tamanho elucratividade, at inovativa) encontrada nosmercados (ver Dosi, 1988).

    Dosi (ibid) detalha com bastantepropriedade este processo, no qual a gerao,difuso e reproduo, endgenas s indstrias,de assimetrias competitivas, variedadetecnolgica e diversidade comportamentalentre as empresas constituem elementosfundamentais para a anlise da conformaoe transformao endgenas das estruturas demercado, sem a presena de qualquertendncia ao equilbrio neste processo.

    Portanto, do exposto at aqui podemosconcluir que os autores neo-schumpeterianosrejeitam o paradigma do equilbriocaracterstico da anlise neoclssica, propondopara o seu lugar o estudo da interaoendgena entre estratgia (da firma) eestrutura (do mercado) ao longo do tempo apartir dos esforos inovativos das empresas,onde o desequilbrio a regra. A concorrnciapassa a ser pensada como um processodinmico incessante, endgeno ao sistemaeconmico, capaz de gerar instabilidadeestrutural, e no qual a diversidade e asassimetrias competitivas so caractersticaspermanentes. Ao mesmo tempo, isso nosignifica nenhuma tendncia para a geraode caos, j que nos processos de mudanaeconmica nota-se a presena de uma certaordem espontnea, caracterizada, porexemplo, pelas trajetrias e paradigmastecnolgicos.

    22

    20 A noo de regime tecnolgico de Nelson &Winter (1982) mais ampla que a de paradigmatecnolgico, pois abarca as ligaes entretecnologia, organizao da produo e padres derelaes com fornecedores, mo-de-obra eusurios. A de paradigma tecno-econmico, deFreeman & Perez (1988), ainda mais ampla,incluindo aspectos institucionais e at sociais. Nestetrabalho, a no ser quando especificado, seguiremosa noo de paradigma tecnolgico.

    21 Em sentido algo parecido, existe a noo detrajetria natural, de Nelson & Winter (1982).

    22 Outros tipos de regularidades (as decorrentes dapresena de instituies) sero abordadas a seguir.

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    Mas o equilbrio de mercado no o nicopilar da ortodoxia econmica contestado pelaabordagem neo-schumpeteriana. Estesautores rejeitam tambm a suposio deracionalidade maximizadora (substantiva)por parte dos agentes (ver Nelson & Winter,1982, cap. 1). Considera-se que aracionalidade substantiva , no mnimo,insuficiente e, em geral, inadequada paraentendermos o comportamento das firmasem ambientes incertos e complexos, comoos descritos anteriormente. Isto nos leva aosconceitos de racionalidade propostos porSimon (1979, 1987), a racionalidade limitadae a racionalidade no procedimento (ouprocessual).

    23

    Como contraponto racionalidadesubstantiva, a racionalidade no procedimentoenfoca o comportamento dos agentes nas maisvariveis situaes, incluindo as dedesequilbrio, e faz uso de procedimentos nonecessariamente otimizadores.

    24 Assim, o

    comportamento racional no procedimentoquando o resultado de deliberaoapropriada, focalizando os processosempregados para se alcanar certos objetivos.E, num cenrio de incerteza forte ecomplexidade, como o presente naseconomias capitalistas (ver Possas, 1996),solues sub-timas (satisficing) passam a seraceitveis, j que neste contexto os agentes -embora at desejem - no possuem meios derealizar o clculo maximizador.

    Em tais contextos comum os agentestrabalharem com um repertrio limitado deaes ou condutas, nas quais depositam pelomenos um grau mnimo requerido deconfiabilidade. Para os objetivos destetrabalho, importante ressaltar que taiscondutas correspondem, em geral, a regrasou padres de comportamento, como no casoda noo de rotinas empregada por Nelson& Winter (1982, cap. 1, pg. 14). Estas ltimasso regras de comportamento parcialmenteinvariantes, utilizadas nas atividades desoluo de problemas das firmas, que tmduas caractersticas principais: (i) soespecficas e dependentes em relao aocontexto; e (ii) so relativamenteindependentes dos eventos (no sentido deapresentarem uma certa inrcia s informaesconcernentes mudanas no ambiente) (verDosi & Nelson, 1994, pg. 157).

    Entre os vrios tipos de rotinas, as maisimportantes no que se refere ao objetivo dasfirmas de valorizar seu capital so as criativas,aquelas orientadas para o melhoramento dasoutras rotinas, atravs de processos deinovao e imitao. Assim, a diversidade derotinas possveis, garantida pelas diferentespercepes do ambiente por parte dos agentes,significa uma multiplicidade de soluespossveis para estes problemas, desde asinovativas at s mais defensivas. E, aoconseguirem chegar soluo de taisproblemas, consequentemente reduzindo,para si prprios, a complexidade dos mesmos,os agentes geram incerteza forte ecomplexidade para os outros agentes.

    Tudo isso acaba resultando, no caso dasfirmas, na ampla diversidade de estratgiasque podem surgir em tais ambientes. Maisque isso, ambientes marcados por incertezaforte e complexidade, segundo Possas, noconduzem apenas a mltiplas solues, mas,o que mais importante, a diferentes padresde soluo, vale dizer, algo como umavariedade ou multiplicidade de estratgiasdecisrias (Possas, 1996, pg. 86, grifosoriginais).

    Esta viso das estratgias sem dvida convergente com as caractersticas doambiente descritas aqui, principalmente nosentido da diversidade de comportamentospor parte das empresas que surge quando asmesmas atuam nos mercados. Assim, conclui-se pela incorporao das estratgias comoum tema central, no mago da teoriamicroeconmica, enquanto linhas de aocoerentes e com um mnimo de estabilidadetemporal - como tratado em outras reas deconhecimento -, em lugar de mero sinnimode ao ou deciso, como de costumenas aplicaes econmicas da teoria dos jogos(Possas, 1996, pg. 75).

    25

    Com tudo isso, a diversidade decomportamentos e estratgias por parte dasempresas, amplamente verificada nosmercados, significa ausncia de regularidades?Mais uma vez, a resposta no. Se no caso datecnologia estavam presentes os paradigmase trajetrias tecnolgicos, aqui existeminstituies - enquanto conseqnciafundamental da incerteza sistmica e dacomplexidade do processo decisrio - parabalizar suas estratgias.

    23 Existe, na literatura especializada, muita confusona utilizao destes dois termos, que em algunscasos so vistos como sinnimos, e em outrossignificam tipos diferentes de racionalidade. Nesteartigo ambas as noes de racionalidade soutilizadas indistintamente como contraposio racionalidade substantiva.

    24 Neste sentido, podemos, como Nelson (1996a,pg. 94), considerar que, embora Schumpeter notenha tratado explicitamente do tema daracionalidade em sua obra, sua viso sobre acapacidade cognitiva humana sem dvida erabastante prxima da de Simon.

    25 Ou seja, num ambiente como o descrito aqui, ateoria dos jogos, por si s, mostra-se insuficiente(o que no significa sem importncia) para oentendimento das estratgias empresariais, porsimplificar demais o processo decisrio dos agentes(ver Porter, 1994).

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    Instituies podem ser definidasgenericamente como as regras do jogo deuma sociedade ou, mais formalmente, asrestries visualizadas que conformam ainterao humana (North, 1990, pg. 3), queconferem ao sistema uma relativaestabilidade, ao fornecerem uma ncora paraa formao de expectativas e, portanto, paraa definio de estratgias. Considera-se queas instituies (com diferentes nveis deabrangncia e formalidade) diluem os efeitosda incerteza no processo decisrio dos agenteseconmicos ao limitarem o seu espectro deescolha e, por isso mesmo, introduzem umamaior estabilidade ao sistema (ver tambmDosi e Orsenigo, 1988, pg. 19).

    26

    Concluindo esta seo, podemos afirmarque as firmas decidem e atuam - elaboram eimplementam suas estratgias - a partir dedois tipos de balizamentos estruturais (porqueestveis, embora no imutveis). Estesbalizamentos, que imprimem uma certaregularidade (e previsibilidade) a seuscomportamentos, a despeito da presenainescapvel da incerteza que implica aindeterminao (ou plurideterminao) dastrajetrias especficas de cada agenteeconmico, so os seguintes (ver Baptista,1997, pg. 1240):

    (i) os paradigmas e trajetriastecnolgicos, conforme vistosanteriormente; e

    (ii)o conjunto de instituies, que defineo leque de restries s quais estosubmetidas e o espectro deoportunidades passveis de exploraopor parte dos agentes.

    Atuando em planos analticos bastantediferenciados, ambas as determinaes -tecnolgicas e institucionais - ao forneceremparmetros decisivos para o clculoeconmico dos agentes, contribuemdecisivamente para a relativa estabilidade deseu comportamento (ibid).

    Com isso, os desenvolvimentos tericosvistos nesta seo, ao substiturem ospressupostos neoclssicos do equilbrio demercado e da racionalidade maximizadora,ao mesmo tempo em que permitem umamaior aproximao do real comportamentodas firmas no mercado, abrindo espao tericopara assimetrias e diversidade, no significamausncia de regularidades, j que elementoscomo os mencionados acima introduzem uma

    certa estabilidade ao sistema - pelo menos nosentido do mesmo no ser um caospermanente, apesar de sujeito a crises -,permitindo um tratamento explicativo defirmas, indstrias e mercados em novas basestericas.

    3. A Firma num Contexto de3. A Firma num Contexto de3. A Firma num Contexto de3. A Firma num Contexto de3. A Firma num Contexto deConcorrncia Schumpeteriana: aConcorrncia Schumpeteriana: aConcorrncia Schumpeteriana: aConcorrncia Schumpeteriana: aConcorrncia Schumpeteriana: aAbordagem das Capacitaes DinmicasAbordagem das Capacitaes DinmicasAbordagem das Capacitaes DinmicasAbordagem das Capacitaes DinmicasAbordagem das Capacitaes Dinmicas

    Vistas algumas das principaiscaractersticas do ambiente concorrencialencontrado nos mercados das economiascapitalistas, podemos agora concentrar aanlise na questo da firma individual. Como notrio, a abordagem que mais se adequa aum contexto de concorrncia schumpeteriana a das capacitaes dinmicas, que conceituaa firma como um repositrio de ativos ecapacitaes voltados para a valorizao doseu capital, em especial por meio de processosinovativos. Tal viso da firma na verdadeum paradigma de vises convergentes,integrado por pelo menos dois grupos deautores, a partir dos trabalhos pioneiros dePenrose (1959) e Chandler (1992):

    - Autores neo-schumpeterianos como R.Nelson, S. Winter e G. Dosi, queinterpretam a presena da firma nomercado sob uma perspectivaevolucionria, a partir dos processos debusca e seleo, como salientado na seoanterior; e

    - Autores oriundos da viso resource-based da firma, como D. Teece e G.Pisano, viso por sua vez tributria dotexto clssico de Penrose (1959), queconsiderava a firma individual umacoleo de recursos.

    A convergncia entre as duas vises grande, com influncias de Schumpeteramplamente reconhecidas por ambos osgrupos de autores.

    27 Nelson (1996b, pg. 119),

    por exemplo, considera que a viso dascapacitaes dinmicas, embebida em umateoria evolucionria da mudana econmica,ajuda a responder pergunta por eleconsiderada a mais importante para uma visoda firma, e que totalmente esquecida pelasabordagens ortodoxas (tanto a maistradicional, da firma enquanto funo deproduo; quanto as mais recentes, como o

    26 Embora deva-se ressaltar que as instituies - comoas inovaes - podem tambm criar assimetriasentre os agentes, como o caso das rotinas,principalmente as ligadas inovao.

    27 Neste trabalho, dada esta influncia, os termosteoria da firma neo-schumpeteriana, teoriaevolucionista da firma e das capacitaesdinmicas sero tratados como equivalentes.

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    caso da abordagem do agente-principal): porque as firmas diferem?

    Para se entender por que esta viso dafirma a que melhor responde a estapergunta, temos que, como Fransman (1994),partir de uma distino entre informao econhecimento. Segundo este autor, enfoquesda firma como os ortodoxos mais recentes (aabordagem do agente-principal, por exemplo)e o dos custos de transao tratam a firmasimplesmente como processadora deinformao. A abordagem das capacitaes,por sua vez, considera a firma um repositriode conhecimento, sendo que em suas rotinasque o conhecimento organizacional da firma acumulado. Isso a fonte mais relevante dediferenas entre firmas, embora estaabordagem no descarte tambm aimportncia das dificuldades relacionadas informao.

    28

    Nesta viso da firma, dois fatores-chaveemergem no papel de fontes fundamentais delucratividade e crescimento das firmas - valedizer, de seu poder de concorrncia: emprimeiro lugar (e numa tica penrosiana),os recursos por elas possudos, ou seja, os tiposde ativos (tangveis e intangveis) sob seucontrole; em segundo lugar, o conhecimentoe capacitaes acumulados nas firmas, queesto incorporados no s em seus ativos(intangveis) mas tambm em suas rotinas(destacando-se as ligadas ao aprendizado), quepodem ser consideradas o veculo dearmazenamento (e at mesmo criao) deconhecimentos tecnolgicos e de capacitaes(ver Baptista, 1997).

    Uma viso da firma como repositrio deconhecimentos, acumulados por meio decomplexos processos de aprendizado, significalevar em conta o acmulo de capacitaes ecompetncias da originado como fonte devantagem competitiva nos mercados.Podemos agora detalhar melhor taisprocessos.

    Teece e Pisano (1994), considerando queos vencedores nos mercados globais tm sidofirmas que apresentam inovaes, juntamentecom a capacitao de gerenciamento paraefetivamente coordenar e transferircompetncias internas e externas, notam ques recentemente os pesquisadores passaram alevar em conta o desenvolvimento decapacitaes especficas firma e a maneirapela qual as competncias so renovadas para

    responder a mudanas no ambiente denegcios. Assim, para esta nova viso da firma,a vantagem competitiva reside nascapacitaes dinmicas enraizadas em rotinasde alta performance operando dentro da firma,inseridas nos seus processos, e condicionadaspor sua histria.

    29

    Com isso, construir uma viso a partirdas capacitaes dinmicas requer identificaros fundamentos sobre os quais vantagensdistintivas e difceis de copiar podem serconstrudas. O ponto-chave que aspropriedades da organizao interna nopodem ser copiadas por um portfolio deunidades de negcio articuladas por meio decontratos formais, da mesma forma que oselementos distintivos da organizao internasimplesmente no podem ser copiados nomercado. Copiar leva tempo, e a cpia dasmelhores prticas pode ser ilusria (Teece ePisano, 1994, pg. 540).

    Uma competncia/capacitao difcil decopiar ou difcil de imitar pode ser consideradauma competncia distintiva. Entocompetncias e capacitaes so ativosespeciais porque precisam ser construdos, jque no podem ser comprados. Assim, ascapacitaes dinmicas so o subconjunto dascompetncias/capacitaes que permitem firma criar novos produtos e processos, eresponder a circunstncias de mercados emmudana.

    Tais competncias, unidas com uma visoestratgica, ajudaro a definir o core businessda firma (ver Teece, 1988).

    30 Cabe notar,

    entretanto, que estas capacidades podem sercriadas ou aperfeioadas no processo deinterao da firma com o mercado, por meioda implementao de estratgias especficas ede rotinas de alto nvel (de aprendizado). Ouseja, se o ambiente econmico pode sinalizaroportunidades e negcios altamentelucrativos, sua explorao efetiva pressupeno s a existncia prvia mas tambm agerao de capacitaes e ativos adequados.Mais importante do que isto, so estescondicionantes que viabilizam a prpriacriao de novas oportunidades de negcios(ver Baptista, 1997, pg. 1246).

    Por isso a questo da estratgia centralnos trabalhos destes autores. A anlise daestratgia segue aqui logicamente da anliseda capacitao ou competncia (Fransman,1994, pg. 747). Com isso, o enfoque das

    28 Vale ressaltar, autores como Teece e Pisano (1994)incluem na anlise alguns elementos da abordagemdos custos de transao, mas esta incluso no consensual dentro da corrente como um todo. Neo-schumpeterianos como Freeman (1991) e Lundvall(1993), por exemplo, em certos casos mostram-se crticos da utilizao deste referencial terico. Opresente trabalho, por sua vez, posiciona-se a fa-vor da incorporao de elementos da abordagemdos custos de transao, desde que com os devidoscuidados tericos e metodolgicos (ver Foss,1994). Entre outros motivos, porque a abordagemcontratual de Williamson (1985) complementa ade Schumpeter ao explicar caractersticas essenciaisde um importante tipo de inovao: a inovaoorganizacional ou institucional (ver Pond, 1993).

    29 Segundo estes autores, esta fonte de vantagemcompetitiva, as capacitaes dinmicas, enfatizadois aspectos principais. Primeiro, ela se refere aocarter mutante do ambiente (por isso,dinmicas); segundo, ela enfatiza o papel-chavedo gerenciamento estratgico em adaptar, integrar,e reconfigurar de forma apropriada habilidadesorganizacionais internas e externas, recursos, ecompetncias funcionais para ambientes commudanas (resumido na idia de capacitaes).

    30 Ver tambm Prahalad e Hamel (1990).

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    capacitaes diferencia-se em elevado grauda abordagem ortodoxa mais tradicional dafirma e das abordagens a partir de problemasrelacionados com a informao,aproximando-se da anlise de business dafirma, com uma viso mais abrangente erealista da estratgia empresarial (como emPorter, 1994, que procura ir alm da simplesutilizao da teoria dos jogos), e de acordocom as idias neo-schumpeterianas sobre estetema, conforme visto no final da seoanterior do presente artigo.

    Outra questo fundamental para este tipode abordagem passa a ser o processo pelo qualsuas capacitaes so criadas e acumuladas,ou seja, os mecanismos de aprendizado quelhes so subjacentes. Isto porque o carterparcialmente tcito, no codificvel eespecfico

    31 dos processos complexos de

    aprendizado tecnolgico, indissociveis daprpria execuo das atividades produtivas,que permite a apropriabilidade privada doconhecimento tecnolgico, condiofundamental para a empresa ser competitiva.

    A literatura pertinente reconhece vriasfontes de aprendizado, estando entre as maisimportantes a experincia de produo, ochamado learning by doing, ou de utilizao,o learning by using, neste caso especialmentequando se trata de um bem de capital. Almdisso, alguns autores, como Lundvall (1988,1993), tm ressaltado o fato de que naseconomias industriais modernas, umasubstancial parte das atividades inovativasocorre em unidades separadas dos potenciaisusurios das inovaes, e tambm que asinovaes de sucesso precisam ser baseadasno conhecimento sobre as necessidades dospotenciais usurios. o aprendizado-por-interao.

    32

    Explicitadas as questes das capacitaes,competncias e do aprendizado, restamencionar o outro pilar bsico da abordagemdas capacitaes, referente aos ativos, pois soos ativos de distintas naturezas - e a formaparticular de sua organizao no interior dasfronteiras da firma - que proporcionam fluxosde rendimentos s firmas que os detm.

    A postura estratgica de uma firma determinada no somente pelos seusprocessos de aprendizado e pela coerncia deseus processos e incentivos internos eexternos, mas tambm pela sua localizaoem qualquer ponto do tempo com respeito

    a seus ativos econmicos (business assets).Por ativos econmicos no queremos dizersua planta e equipamentos, a menos que elessejam especializados; em vez disso, nsqueremos dizer seus ativos de conhecimentodifceis de comercializar e os ativoscomplementares a eles, tanto quanto seusativos de reputao e relacionais. Issodeterminar sua participao no mercado ea lucratividade em qualquer ponto dotempo (Teece e Pisano, 1994, pg. 545).

    Segundo Teece (1986), quando a imitao fcil, os lucros da inovao podem aparecerpara os possuidores de certos ativoscomplementares, em vez daqueles quedesenvolvem a propriedade intelectual. Istosignifica a necessidade, em certos casos, de afirma inovadora estabelecer uma posioprvia nestes ativos complementares. Aquesto essencial apontada por Teece oreconhecimento de que estes ativoscomplementares podem converter-se, a pardas capacitaes estritamente tecnolgicas,em fontes de vantagens competitivasdiferenciais.

    Neste sentido, Teece usa o termo regimesde apropriabilidade para descrever a facilidadede imitao. Um regime de apropriabilidade(que pode ser forte ou fraco) refere-se a fatoresambientais, excluindo a firma e a estrutura demercado, que governam a habilidade doinovador em capturar os lucros gerados poruma inovao. As mais importantesdimenses de tal regime so a natureza datecnologia e a eficcia dos mecanismos legaisde proteo.

    Sintetizando o que foi exposto at aqui,os ativos estratgicos para a firma envolvem,de um lado, a sua capacitao tecnolgicabsica e, de outro, os ativos complementaresespecficos e de difcil reprodutibilidade. Emqualquer caso, trata-se de ativos: (i)essencialmente intangveis ou, em outraspalavras, capacitaes; (ii) difceis de seremreproduzidos, transferidos ou transacionadosno mercado, dado que so o resultado deprocessos de aprendizado complexosincorporados nas rotinas das firmas. Ou seja,estes ativos so a fonte bsica de gerao devantagens competitivas diferenciais por parteda firma (ver Baptista, 1997).

    Uma outra questo importante para aabordagem das capacitaes dinmicas dafirma refere-se a path dependencies. Considera-

    31 Tal especificidade est relacionada ao fato de que oaprendizado tende a ser local. Isto , oportunidadespara o aprendizado sero condicionadas poratividades prvias e assim sero especficas transao e produo num certo momento (Teecee Pisano, 1994, pg. 547).

    32 Outras questes importantes a respeito doaprendizado so tratadas por Dodgson (1993),principalmente as referentes ao aprendizadoorganizacional.

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    se que onde uma firma pode ir uma funode sua posio corrente e de trajetrias frente.E isso obviamente tambm influenciado pelatrajetria passada. Ou seja, a histriaimporta. Assim, os investimentos prvios dafirma e seu repertrio de rotinas (sua histria)restringem seu comportamento futuro.

    Isto evidentemente est relacionado snoes de paradigmas e trajetriastecnolgicos, mostradas anteriormente. Restaaqui enfatizar as caractersticas destastrajetrias que permitem uma abordagem daevoluo no tempo das vantagenscompetitivas e de tudo o que da se segue,como a maior ou menor assimetria presentenos mercados. Alm do regime deapropriabilidade, j visto, so mais trs ascaractersticas a serem mencionadas:

    A primeira a oportunidade tecnolgica,que diz respeito s possibilidadesvislumbradas de incorporar avanos em ritmointenso, gerando-se um fluxo de novosprodutos e processos produtivos, rapidamentesubstitudos. Setores cuja tecnologia avanacom velocidade elevada apresentam alto graude oportunidade.

    A segunda a cumulatividade, que dizrespeito ao fato de o progresso tcnico emgeral no se dar de modo aleatrio, mas seguiruma certa trajetria, cujas etapas sucessivaspodem ser at certo ponto identificadasantecipadamente. A introduo de inovaesno mbito da trajetria tecnolgica umaforma de a firma seguir atualizando seusconhecimentos e experincia na tecnologiaem questo. Uma deciso relativa tecnologiaa ser adotada, tomada num momento,restringe as decises futuras quanto mesma.

    Por fim, o grau de complexidade da basede conhecimento da trajetria tecnolgicatambm tem que ser levado em conta (verMalerba e Orsenigo, 1993).

    33 Isto significa

    que a base de conhecimento pode serprimariamente tcita, local e especfica firma, ou codificada e universal e assimrelativamente mais fcil para a firma obteracesso naquele mercado especfico.

    Vistas as quatro caractersticas dastrajetrias tecnolgicas, importante notarcomo as mesmas influenciam as estratgiasempresariais. A anlise de Malerba e Orsenigo(1993) indica que as possibilidades deestratgias tecnolgicas viveis e organizaodas atividades inovativas aumentam quanto

    mais altas e mais pervasivas so asoportunidades tecnolgicas, quanto mais alto o grau de cumulatividade da mudanatcnica, quanto mais baixo o grau deapropriabilidade das inovaes e quanto maiscomplexa a base relevante deconhecimento.

    34

    Vale ressaltar, as consideraes acimaefetuadas sobre dependncia da trajetriaconstituem a base para a formulao dasteorias de diversificao de corte neo-schumpeteriano, inspiradas em Penrose. Nateoria da coerncia das corporaes, comoexplicitado originalmente em Teece (1988)e mais recentemente por Dosi et alii (1992),o objetivo explicar as fronteiras da firma ea direo de seus processos de diversificaoa partir de determinantes tecno-produtivos- consubstanciados nas noes de pathdependence, aprendizado, oportunidadestecnolgicas e ativos complementares. Aproposta central dos autores explicarporque as firmas (predominantementemultiproduto) apresentam uma distribuiono aleatria de atividades produtivas e, maisdo que isto, porque a composio desteportfolio de atividades tende a manter-serelativamente estvel ao longo do tempo -imprimindo fortes regularidades (oucoerncia) ao processo de crescimento dafirma (ver tambm Baptista, 1997).

    Em funo do exposto at aqui, podemosconcluir que na abordagem das capacitaesdinmicas a firma:

    - um conjunto de capacitaes/competncias e ativos complementaresde apoio;

    - um locus fundamental de aprendizado,uma vez que estes ativos e capacitaesso criados (e conservados) a partir deprocessos contnuos de aprendizado,largamente incorporados nas rotinas dasfirmas e, portanto, dotados de fortecontedo tcito e especfico, significandoque suas propriedades no podem serreproduzidas via mercado.

    So estes fatores, juntamente com suarea de atuao prvia, que determinam apossibilidade efetiva de explorao deoportunidades que as trajetrias tecnolgicasde cada setor oferecem, que no se apresentaigualmente distribuda entre as firmas, dadasas duas caractersticas acima mencionadas. Ouseja, as firmas diferem.

    33 Aqui estes autores preferem referir-se aos re-gimes tecnolgicos, utilizando o termo consagradopor Nelson e Winter.

    34 Neste texto, para enfatizarem a importncia destesfatores, os autores apresentam algumas ilustraesempricas.

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    Isso significa que a firma deve ser vistacomo uma organizao com competnciasespecficas em fazer alguma coisa (Malerba eOrsenigo, 1993), sendo que competncia aquino somente identificar e exploraroportunidades de negcios existentes, masprincipalmente a habilidade de gerar eexplorar novas oportunidades de mercado,significando que os limites da firma sodefinidos de forma predominantementedinmica.

    Todas estas caractersticas permitemexplicar por que a abordagem das capacitaesdinmicas a viso da firma mais apropriadaa um contexto de concorrnciaschumpeteriana, ao contrrio das abordagensortodoxas (a dos manuais convencionais e asmais modernas) e mesmo da teoria dos custosde transao, apesar desta ltima apresentarpontos de contato importantes com umaviso evolucionria da firma (ver Foss, 1994).

    4. Concorrncia Schumpeteriana e4. Concorrncia Schumpeteriana e4. Concorrncia Schumpeteriana e4. Concorrncia Schumpeteriana e4. Concorrncia Schumpeteriana eCapacitaes Dinmicas: uma VisoCapacitaes Dinmicas: uma VisoCapacitaes Dinmicas: uma VisoCapacitaes Dinmicas: uma VisoCapacitaes Dinmicas: uma VisoGeralGeralGeralGeralGeral

    Podemos agora passar exposio de umaviso geral de firmas e mercados que surge apartir da noo de concorrnciaschumpeteriana e da abordagem dascapacitaes dinmicas, ressaltando comoocorre a interao entre as estratgias dasfirmas individuais e as estruturas dosmercados. O objetivo aqui mostrar que talviso, por ser dinmica, inclui a anlise deorganizao industrial (heterodoxa) maisantiga, de autores como Bain, Labini e Steindl,que era marcadamente esttica (ver Possas,1989b). Ou seja, a anlise neo-schumpeterianae das capacitaes permite pelo menos secaminhar no sentido de dinamizar o modelode Estrutura-Conduta-Desempenho (verDosi, 1984 e 1988), incorporando-o numaanlise mais geral, constituindo assim umaabordagem microdinmica de firmas emercados, em que estrutura e estratgia sedeterminam mutuamente.

    Sobre a firma individual, o agentedecisrio no presente contexto, importanteressaltar que aqui a mesma vista enquantounidade de busca de valorizao do capital,que se d, pelo menos em parte substantiva,mediante a produo de bens ou de servios.

    Considera-se que o objetivo bsico da firma extrair o maior rendimento possvel dos seusativos no contexto do processo deconcorrncia, ressaltando-se que s passvelde gerar uma remunerao extraordinria aposse de um ativo no facilmente transmissvelou reprodutvel. Em geral so os ativosintangveis, especialmente os baseados emtecnologia e num conhecimento especfico(as capacitaes) que apresentam essascaractersticas (ver Baptista, 1997; e Possas,S., 1999, pg. 87), conforme visto.

    com a posse destes ativos e capacitaes,que, por meio de suas rotinas (notadamenteas inovativas) e a formulao e execuo deestratgias, a firma procura construir asvantagens competitivas que a permitamdiferenciar-se dos competidores e destacar-seno processo de concorrncia, ou seja, alcanara competitividade.

    Porm, na formulao e implementaode suas estratgias competitivas, as firmas tmque levar em considerao as especificidadessetoriais dos mercados em que atuam. Taisespecificidades podem ser captadas, em boamedida, pelas distintas estruturas de mercadorelacionadas s diferentes indstrias. Segue-se que podemos considerar o mercado comoo principal locus da concorrncia e a estruturade mercado como um dos principaiscondicionantes das estratgias competitivasdas firmas.

    Isto porque a estrutura de mercadodesigna o espao concorrencial e suascaractersticas mais salientes, tais como asposies relativas dos competidores (grau deconcentrao, etc.) e as dimensescompetitivas mais relevantes (ver Possas, S.,1999, pg. 133).

    Vale ressaltar que, como em S. Possas(1999, pg. 62), o termo dimensescompetitivas

    35 aqui significa as diversas

    possibilidades de vantagens competitivas quese apresentam s firmas. Partindo daconsagrada diviso de vantagens competitivasde Porter (1985), naquelas provenientes debaixo custo ou diferenciao, a autora faz umapanhado bastante representativo dasprincipais dimenses competitivas que devemser levadas em conta pelas empresas naformulao de suas estratgias (ver Possas, S.,1999, cap. 2).

    35 Poderamos tambm denomin-las formas deconcorrncia. Um termo menos recomendado nocontexto aqui descrito, embora na prtica seja omais utilizado, padro de concorrncia. Talnoo, embora til no caso de mercados cujoritmo de modificaes seja lento, ainda muitoesttica para o caso de mercados em que as dimensescompetitivas relevantes e as vantagens a elasassociadas estejam em rpida mutao (Possas,S., 1999, pg. 174).

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    Assim, caractersticas das estruturas demercado como estas contribuem, ao longo dotempo, para a definio de um conjuntorelativamente estvel de mecanismos deconcorrncia ao alcance das firmas queparticipam ou queiram participar do processocompetitivo no espao de valorizao do capitalparticular correspondente quela estrutura.

    Se, alm das caractersticas da estrutura demercado (como as dimenses daconcorrncia), levarmos em conta, como jmencionado, aspectos relativos aos paradigmase trajetrias tecnolgicos e aos diversos tiposde instituies que influenciam as decises dosagentes, teremos ento um conjunto bastanterepresentativo de fatores redutores de incertezae atenuadores de disperso que impedem ouamortecem substancialmente a possveltendncia endgena instabilidade dasindstrias. Porm, ao servirem de parmetropara as estratgias empresariais, isso nosignifica homogeneidade absoluta nas soluestecnolgicas e organizacionais e nas estratgiasadotadas pelas empresas de uma mesmaindstria, e com maior razo de indstriasdiferentes.

    Passando finalmente descrio dadinmica do processo concorrencial, temosque, levando em conta os balizadoresestruturais acima mencionados, as firmasformulam estratgias com o intuito de obtervantagens competitivas. Tais vantagenscorrespondem na verdade a posiesmonopolistas (e portanto a lucros acima donormal) ou a criao de barreiras entrada,abrangendo tanto a concorrncia potencialcomo a interna. Evidentemente, quanto maiora vantagem competitiva da firma em relaos suas concorrentes efetivas e potenciais,maior tende a ser, ceteris paribus, o retornomonetrio esperado.

    Tais lucros tendem a diminuirconcomitantemente ao desaparecimento dasvantagens competitivas que lhes deramorigem. Como j visto, os lucrosextraordinrios tm um carter temporrio(onde entra o carter igualador daconcorrncia). Assim, necessrio, para queos processos de valorizao e acumulaotenham continuidade, que as vantagenscompetitivas sejam constantementerenovadas, j que os outros competidorestambm procuram a todo momento obternovos trunfos, ou no mnimo tentam anular

    as vantagens alheias. E para isso necessrio aconstante renovao e aprimoramento dasestratgias e capacitaes, gerando umaespcie de crculo virtuoso, no qual o objetivoltimo das empresas alterar a estrutura demercado vigente a seu favor, mantendo - ouincrementando - sua competitividade.

    36

    Assim, na perspectiva terica aquiassumida, as estratgias empresariaisinteragem dinamicamente com as estruturasde mercado, podendo modific-las de muitasmaneiras e em vrios nveis (...), e no apenassendo por elas condicionadas, ou atdeterminadas, como nos modelos tradicionais(estrutura-conduta-desempenho), at hpouco em voga, em organizao industrial(Possas, 1996, pg. 91, grifos originais). Emoutras palavras, tais estruturas no so dadas,na realidade como na teoria, mas modificadasconstantemente (embora de formadescontnua) por foras competitivas, emgeral endgenas, decorrentes de estratgiasempresariais voltadas concorrncia e inovao; embora estas ltimas sejamcondicionadas pelas estruturas previamenteexistentes. Em sntese, a configurao e aevoluo das indstrias e mercados devemser entendidas luz da interao dinmicaentre as estruturas industrial e de mercado eas estratgias empresariais (Possas, 1996, pg87-8, grifos originais).

    37

    Um bom exemplo da utilidade deste tipode anlise para o entendimento de aspectosimportantes de firmas e mercados, inclusivecom aplicaes empricas, refere-se ao estudoda estratgia cooperao inter-firmas.

    38

    Como notrio, este tema apresenta umarelevncia cada vez maior para o entendimentodo comportamento e do desempenho dasempresas no mundo atual. Ao que parece,num ambiente de acirramento daconcorrncia e globalizao dos mercados,juntar esforos pode ser uma estratgiafundamental na busca de competitividade.

    Assim, autores como Teece (1992),Lundvall (1988 e 1993), DeBresson e Amesse(1991), Freeman (1991) e Pisano (1990) tmalcanado resultados importantes naexplicao do fenmeno da cooperao, apartir de uma viso da firma individualbaseada nas capacitaes dinmicas. Para esteenfoque, neste caso tributrio do trabalhopioneiro de Richardson (1972), a cooperaointer-firmas vista como uma estratgia quevisa a aglutinao e o desenvolvimento decapacitaes/competncias complementares,

    36 Neste contexto, competitividade pode ser definida,em alguma medida, como o grau em que vantagenscompetitivas so geradas e sustentadas (Possas,1996, pg. 73).

    37 Entra aqui tambm a importncia das diversastipologias existentes na rea de organizao indus-trial (como as de Dosi et alii, 1992; Malerba eOrsenigo, 1993; Possas, 1985; Pavitt, 1984; eFreeman, 1974, cap. 8), que so importantes nosentido de ampliar o poder analtico do esquematerico acima delineado.

    38 Vale ressaltar, definimos cooperao neste trabalhode forma ampla, referindo-se a trs tipos de arranjoscooperativos, de acordo com a tipologia de Grabher(1993): alianas estratgicas, redes de sub-contratao e distritos industriais.

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    permitindo maiores oportunidades deaprendizado conjunto e reforandomutuamente a competitividade dosintegrantes do arranjo cooperativo.

    39

    Portanto, procuramos mostrar nesta seoque a viso schumpeteriana da concorrncia,centrada na mudana econmica e tecnolgica,e juntamente com a viso de firma dascapacitaes dinmicas, vem permitindoampliar as possibilidades de anlise de firmas,indstrias e mercados ao incorporar tambm aliteratura de organizao industrial maistradicional (que esttica), formando umaestrutura terica dinmica e, por isso, ao mesmotempo mais geral e com maior potencialanaltico, conforme revelam os numerososestudos j realizados sobre a dinmica industrialpor estes autores (ver, por exemplo, Dosi, 1984e 1988; Malerba e Orsenigo, 1993; Pavitt, 1984;e Dosi et alii, 1992).

    ConclusoConclusoConclusoConclusoConcluso

    O objetivo deste artigo foi explicitar osprincipais pressupostos tericos daconcorrncia schumpeteriana e da abordagemdas capacitaes dinmicas da firma,mostrando os desenvolvimentos a elesassociados que vm sendo feitos com o intuitode montar um quadro geral e integrado sobreambos os temas.

    Apesar de tais temas fazerem parte de umamesma tradio terica, sendo inclusiveutilizados sem maiores distines por partedos autores, procurou-se explicitar ascaractersticas particulares de cada um,mostrando que a tradio terica que partede Schumpeter j possui uma viso de firma(capacitaes dinmicas) e de concorrncia(schumpeteriana) - que so os dois pilaresbsicos de qualquer enfoque de organizaoindustrial - com importantesdesenvolvimentos tericos.

    Tambm foi mostrado que a concorrnciaschumpeteriana (juntamente com a referidaviso de firma), se comparada com amicroeconomia dos manuais convencionais, uma forma totalmente diferente de se pensarconcorrncia e firmas - e o prprio sistemacapitalista de produo -, o que certamentetem dificultado a sua maior aceitao por partedos economistas, apesar do potencialanaltico que j demonstrou possuir.

    Sob a tica de tais vises de firma econcorrncia - fundadas na busca estratgica

    de inovaes e capacitaes/competncias porparte dos agentes, que atuam em trajetriasfora do equilbrio e com racionalidade limitada-, a microeconomia deixa de ser a teoria dospreos com elevados graus de abstrao queaparece nos manuais de microeconomiaortodoxos, seguindo em direo a umaconstruo terica da firma (no mais umasimples funo de produo) e da concorrncia(num sentido amplo, que inclui tambm aconcorrncia por preos, como visto)totalmente voltada para o real entendimentodo funcionamento de firmas, mercados eindstrias nas economias capitalistas.

    E com isso fincando as bases para aconstruo de uma organizao industrialinteiramente heterodoxa, que no surjameramente do relaxamento de hipteses damicroeconomia dos manuais de graduao (eportanto sem o rompimento com os pilarestericos desta tradio terica), como o casoda organizao industrial neoclssica (ver Tirole,1988, introduo); mas sim com o rompimentototal com os pressupostos tericos da teoriaeconmica mainstream, conforme proposto porNelson e Winter (1982, cap. 1).

    O que se tem a ganhar com talrompimento e com o caminho alternativoaqui sugerido, que s plenamente entendidoa partir de uma viso ativa da concorrncia?Sem dvida, a possibilidade de anlise deinmeros temas (com as respectivas aplicaesempricas) relacionados com ofuncionamento de firmas e mercados de formamais realista e que no seriam possveis dentrodo marco terico neoclssico, mesmo o deorganizao industrial. Como exemploscitados neste artigo, podemos mencionar aanlise da trajetria tecnolgica de uma certaindstria, e de como isso influencia asestratgias das empresas; a construo decapacitaes pelas empresas, e de como issoafeta sua coerncia corporativa e suapossibilidade de construo de vantagenscompetitivas; os diversos estudos sobrecooperao inter-firmas; etc. E estes so apenasalguns dos muitos exemplos que podem serencontrados na literatura pertinente.

    Assim, embora ainda num estgio em queno apresenta proposies mais profundas depolticas pblicas (ver Possas, 1996), opotencial crtico e analtico desta tradioterica j permite que seus autores possam,nas palavras de R. Nelson, tentar convencera maior parte da profisso de economista dasua validade.

    39 Por outro lado, uma breve avaliao dos manuaisortodoxos suficiente para se concluir que osautores neoclssicos ainda precisam avanarbastante para chegarem a um entendimento maisaprofundado de acordos de cooperao complexoscomo os acima mencionados. Nos livros de Tirole(1988, pg. 413-4) e de Milgrom e Roberts (1992,pg. 575 e seguintes), por exemplo, a questo dasalianas estratgicas aparece de forma apenas su-perficial.

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