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CITOLOGIA CLÍNICA Prof. Edson de Freitas Gomes 1 PROCESSOS INFLAMATÓRIOS A Citologia tem papel importante no reconhecimento das lesões inflamatórias do trato genital feminino. Ela permite avaliar a intensidade da lesão inflamatória, acompanhar sua evolução e, em certos casos, determinar a natureza do agente causal. Inflamação: É a reação de um tecido vivo, vascularizado a uma agressão. O agente agressor não leva necessariamente a uma reação. Os tecidos reagem às agressões (traumatismos, infecções, agentes químicos e radioativos, etc.) com uma reação inflamatória exsudativa, onde se podem observar leucócitos, histiócitos, hemácias e fenômenos de necrose celular. Os PMN podem ser numerosos, isolados ou em aglomerados. Os linfócitos são mais freqüentes nas lesões crônicas. Os plasmócitos são raros. A presença de macrófagos, por vezes multinucleados e contendo fragmentos celulares fagocitados, é freqüente nas inflamações crônicas. A presença de hemácias bem conservadas ou lisadas acompanha comumente os fenômenos inflamatórios. As mucosas atróficas ou congestas sangram mais facilmente. Euplasia: Atividade celular dentro dos padrões de normalidade Retroplasia: Atividade biológica celular diminuída Proplasia: Atividade biológica celular aumentada Durante o processo inflamatório observamos alterações retroplásicas nas células epiteliais. E, se a agressão é muito intensa, pode haver morte celular e necrose.

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CITOLOGIA CLÍNICA Prof. Edson de Freitas GomesPROCESSOS INFLAMATÓRIOSA Citologia tem papel importante no reconhecimento das lesões inflamatórias do trato genital feminino. Ela permite avaliar a intensidade da lesão inflamatória, acompanhar sua evolução e, em certos casos, determinar a natureza do agente causal. Inflamação: É a reação de um tecido vivo, vascularizado a uma agressão. O agente agressor não leva necessariamente a uma reação. Os tecidos reagem às agressões (traumatismos, infecções

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PROCESSOS INFLAMATÓRIOS

A Citologia tem papel importante no reconhecimento das lesões inflamatórias do trato genital feminino. Ela permite avaliar a intensidade da lesão inflamatória, acompanhar sua evolução e, em certos casos, determinar a natureza do agente causal. Inflamação: É a reação de um tecido vivo, vascularizado a uma agressão. O agente agressor não leva necessariamente a uma reação. Os tecidos reagem às agressões (traumatismos, infecções, agentes químicos e radioativos, etc.) com uma reação inflamatória exsudativa, onde se podem observar leucócitos, histiócitos, hemácias e fenômenos de necrose celular. Os PMN podem ser numerosos, isolados ou em aglomerados. Os linfócitos são mais freqüentes nas lesões crônicas. Os plasmócitos são raros. A presença de macrófagos, por vezes multinucleados e contendo fragmentos celulares fagocitados, é freqüente nas inflamações crônicas. A presença de hemácias bem conservadas ou lisadas acompanha comumente os fenômenos inflamatórios. As mucosas atróficas ou congestas sangram mais facilmente.

Euplasia: Atividade celular dentro dos padrões de normalidade Retroplasia: Atividade biológica celular diminuída Proplasia: Atividade biológica celular aumentada Durante o processo inflamatório observamos alterações retroplásicas nas células epiteliais. E, se a agressão é muito intensa, pode haver morte celular e necrose.

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Quando a célula sobrevive, observa-se no início da reparação um processo de proplasia que pode estar acompanhado de processos retroplásicos ainda presentes. As células podem recuperar seus padrões de diferenciação através de processos proplásicos, e a área lesada, com a participação do conjuntivo, pode chegar à cicatrização. Fator terreno: Ectopia. É o mecanismo mais comum, devido à exposição da naturalmente muito frágil mucosa glandular ao agressivo meio vaginal, de pH ácido, e a possibilidade da presença de uma diversificada população de microorganismos, além de eventuais lesões traumáticas, faz com que seja desencadeada uma resposta inflamatória. Todas as formas de lesão tecidual (p.e.: erosão e ulceração) começam com alterações moleculares e estruturais. Essas alterações levam, posteriormente, a alterações morfológicas, que depois levam a alterações anatômicas e depois clínicas. Agentes biológicos: fungos, bactérias, vírus, protozoários. Agentes físicos: traumáticos (laceração), térmicos (cauterização), radiação (radioterapia) Agentes químicos: cáusticos, drogas antiblásticas Alterações celulares: Inespecíficas: Alterações celulares independem do

agente causal Específicas: Herpes, estrogênio. CRITÉRIOS CITOLÓGICOS DE INFLAMAÇÃO: Em relação ao citoplasma:

1. Pseudoeosinofilia 2. Metacromasia ou Anfofilia

3. Apagamento de bordas citoplasmáticas

4. Formas bizarras de citoplasma (fibra,girino,raquete,amebóide)

5. Halo perinuclear

6. Dobramento de bordas citoplasmáticas em CP

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7. Vacuolização citoplasmática

8. Fagocitose ou inclusões citoplasmáticas

9. Ceratinização irregular

10. Anisocitose

Em relação ao núcleo:

1. Cariomegalia, hipertrofia nuclear ou aumento da relação N/C 2. Contorno nuclear irregular 3. Bi ou multinucleação 4. Espessamento da carioteca 5. Hipercromasia nuclear com marginalização da cromatina 6. Inchação do núcleo 7. Alterações nucleares degenerativas

ALTERAÇÕES CELULARES MAIS FREQUENTES EM UM PROCESSO INFLAMATÓRIO: Em relação ao citoplasma: metacromasia e pseudoeosinofilia com maior freqüência. Seguidas por halos perinucleares e formas bizarras. Quando o processo é acentuado, perda ou apagamento das bordas citoplasmáticas aparece, geralmente ligado à pseudoeosinofilia. Todas estas alterações citoplasmáticas serão observadas em qualquer tipo de processo inflamatório, independentemente do agente causal. Em relação aos núcleos: na maioria dos processos inflamatórios os núcleos apresentam processos degenerativos: cariopicnose, cariorrexe e cariólise. CÉLULAS METAPLÁSICAS REATIVAS • Neste caso, as células metaplásicas exibem os critérios de inflamação,

como: Pseudoeosinofilia, metacromasia, halo perinuclear, vacuolização citoplasmática, inclusões citoplasmáticas (PMN), espessamento da carioteca, núcleo aumentado, nucléolos proeminentes, etc.

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CÉLULAS ENDOCERVICAIS REATIVAS • Multinucleação • Aumento do volume nuclear (hipertrofia nuclear 3 a 5x) • Anisocariose e pleomorfismo moderado • Marginalização da cromatina • Hipercromasia discreta • Nucléolos proeminentes • Os folhetos celulares podem mostrar infiltração por PMN • Citoplasma edemaciado com vacuolização citoplasmática ou infiltração de

PMN Cervicite, Cervicocolpite e colpite. CORRIMENTOS VAGINAIS: Anormalidade em quantidade ou aspecto físico, do conteúdo vaginal, que se exterioriza através da genitália externa. É uma das queixas mais comuns no consultório ginecológico. A etiologia é variada, sobressaindo-se os agentes de natureza infecciosa. A infecção pode se originar do crescimento da microbiota normal da vagina (oportunistas) ou da colonização de novos agentes (contato sexual ou fômites). Condições Predisponentes: • Hábitos de higiene desfavoráveis; • Uso de assentos sanitários públicos sem os devidos cuidados, bancos de

bicicletas de academia, etc.; • Relações sexuais sem uso de preservativo • Perspiração local aumentada; • Alérgenos (perfumes, geléias contraceptivas, tecidos, sabões, etc.); • Agentes infecciosos (mais comuns: gardnerella, tricomonas, cândida); • Problemas dermatológicos;

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• Condições que alteram a flora bacteriana e/ou o pH vaginal (como diabetes, queda imunológica por enfermidades ou stress, uso de antibioticoterapia, duchas vaginais, gestação, etc.);

• Alteração do pH vaginal (o pH da vagina constitui uma barreira de defesa, pois a acidez detém os germes. A vagina de mulheres idosas e crianças é menos resistente a infecções devido ao pH mais alto. O pH normal da vagina varia entre 4,0 e 4,5);

• Causas inespecíficas; • Ausência de bacilos de Döderlein (barreira de defesa do aparelho genital).

PRINCIPAIS AGENTES ETIOLÓGICOS BACTÉRIAS: Vaginose Bacteriana: Antes denominada vaginose inespecífica, vaginose anaeróbica ou bacteriose vaginal. É decorrente do desequilíbrio do ecossistema vaginal, caracterizada por exacerbada diminuição da população de lactobacilos e aumento exagerado na concentração de germes anaeróbios. É uma infestação polimicrobiana: Gardnerella vaginalis + Anaeróbios (Mobiluncus, bacterióides, micoplasma, etc.). Importância: Alta freqüência. Foi associada à doença inflamatória pélvica, prematuridade fetal e parto prematuro, infecções ginecológicas e esfregaços de PAP anormais. Quadro Clínico: - Corrimento abundante, fino, homogêneo, branco-acinzentado, aderente às paredes vaginais e que pode ser bolhoso (pequenas bolhas); - Secreção com forte odor amina (odor fétido), principalmente após o teste com KOH a 10%; Aminas voláteis: cadaverina, putrescina e trimetilamina; - pH vaginal acima de 4,5; - Presença de Clue cells nos esfregaços; - Mucosa hiperemiada com pontilhado hemorrágico.

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Diagnóstico:

1. Gardnerella vaginalis - anaeróbio, cocobacilos pleomórficos Gram-negativos para Gram variáveis. Características: Esfregaço leucopênico, induz a picnose, lactobacilos raros ou ausentes, clue cell.

2. Mobiluncus sp. (M. mulieri e M. curtisii) – anaeróbio, Gram-negativos

para Gram variáveis, forma de vírgula, bacilos curvos, com extremidades afinadas, coma cell; Metronidazol: M. mulieris - a maioria é sensível M. curtisii - todos são resistentes As duas espécies são sensíveis: ampicilina, amoxicilina, clindamicina, cloranfenicol e vancomicina;

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Tratamento Medidas gerais: Abstinência sexual, acidificação do meio vaginal (Banho de assento morno com 1 litro de água e 1 colher de ácido acético (vinagre) por 20 min, 2 vezes ao dia, por 1 semana). Medicamentoso: • Metronidazol 500mg, VO, de 12/12 horas, por 7 dias, ou • Metronidazol 2g, VO, dose única, ou • Tinidazol 2g VO dose única, ou • Secnidazol 2g dose única, e/ou ainda • Metronidazol geléia vaginal, 1 aplicar por noite durante 10 noites seguidas.

A paciente deve ser orientada nesse caso a evitar ter relações sexuais durante o tratamento.

• Gestantes: Metronidazol geléia vaginal 1 aplicador por dia por 10 dias. Se for necessário tratamento sistêmico utilizar Metronidazol 250mg, VO, de 8/8 horas, por 7 dias, ou Metronidazol 2g, VO, dose única. Sempre após ser completado o primeiro trimestre.

• Geralmente tratado o parceiro nos casos de infecções recorrentes • Pacientes HIV+ podem usar o mesmo tratamento.

3. Actinomyces sp. – bactéria anaeróbia, Gram-positiva, freqüente em esfregaços de usuárias de DIU. Apresentam-se como grupos entrelaçados de organismos filamentosos, que se coram em azul-escuro, freqüentemente ramificados, identificados como tufos bacterianos ou grupos de “bolas de algodão” na objetiva de 10x. Na objetiva de 40x, os filamentos, às vezes, apresentam uma distribuição radial ou um aspecto enovelado; Frequentemente observamos uma resposta inflamatória aguda com PMN;

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4. Fusobacterium sp. – bacilos longos, finos, anaeróbicos, Gram-negativos, semelhantes ao Lepthotrix vaginalis, porém, são menores e não apresentam curvaturas e em forma de letras;

5. Lepthotrix vaginalis – anaeróbio, bacilo longo, Gram-negativo. São

longos e filamentosos, que se coram em azul-escuro, assemelhando-se a rabiscos infantis em papel ou a finos pêlos. O seu grande tamanho propicia curvaturas que lembram letras (S,U e C). É referida a associação com o Trichomonas vaginalis em torno de 80%;

6. Lactobacilos (Bacilos de Doderlein) – microbiota normal, anaeróbio ou microaerófilo, Gram-positivo. Microbiota exacerbada pode levar a leucorréia conhecida como VAGINOSE CITOLÍTICA . Os sinais e sintomas são semelhantes aos da candidíase vaginal (corrimento branco, grumoso, prurido, ardor e que piora no pré-mênstruo), sendo por esta muitas vezes, confundida. Os sintomas seriam causados pôr substâncias irritativas oriundas do citoplasma de células intermediárias lisadas pela atividade de bactérias. Diagnóstico: • Esfregaço leucopênico • Microbiota lactobacilar exacerbada • Citólise excessiva (destruição de alto número de células

intermediárias. A fermentação lática do glicogênio destrói o citoplasma, deixando os núcleos nus).

• Ausência de agentes específicos (Cândida, Trichomonas, Gardnerella, Mobiluncus, etc.).

• pH vaginal entre 3,5 e 4,5 • Corrimento branco homogêneo, com prurido e ardência, podendo

causar não raras vezes disúria e dispareunia. Tratamento:

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• Depois de descartada a presença de candidíase e outras afecções, feito o diagnóstico de vaginose citolítica, a intenção é alcalinizar o meio vaginal. Isso é conseguido através do uso de óvulos de bicarbonato (feitos em algumas farmácias de manipulação) ou ainda com “duchas vaginais” com bicarbonato de sódio durante 10 dias: Em 1 litro de água destilada, a paciente deve dissolver 1 colher de sopa cheia de bicarbonato de sódio. Com uma seringa descartável a solução deve ser aplicada via vaginal, 1 vez por dia durante pelo menos 10 dias.

7. Enterobactérias – aeróbios, bacilos curtos, grossos, Gram-negativos,

freqüentemente aos pares e unidos virtualmente por suas extremidades;

8. Cocos – podem ser aeróbios e anaeróbios, apresentam-se como uma “poeira” azul-arroxeada espalhada sobre o esfregaço;

9. Bacilos difteróides – bacilos morfologicamente semelhantes aos

lactobacilos de Doderlein, diferenciando-se apenas por apresentarem, em ambas as extremidades, um espessamento arredondado, dando-lhes o aspecto de “halteres” ou de “palito de fósforo de 2 cabeças”. Microbiota normal da mulher infante e pós-menopausada.

PROTOZOÁRIOS

Tricomoníase: - Representa 10 – 15% dos corrimentos vaginais infecciosos. - Uretrite não-gonocócica de transmissão principalmente sexual - Freqüente associação com o gonococo e com flora anaeróbica Quadro Clínico:

• Corrimento no final ou após a menstruação, desconforto, prurido, disúria, dispareunia, dor no baixo ventre.

• Secreção vaginal fluida, bolhosa, de coloração amarelo-esverdeada ou acinzentada de odor fétido.

• Intensa hiperemia de vagina e cérvice uterina. • Colpite focal expressa pelo colo em framboesa e pelo aspecto tigróide ao teste

de Schiller

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Diagnóstico:

1. Trichomonas vaginalis - varia de tamanho (15 a 30um), pode ser redondo, oval ou piriforme. Coloração de cinza ao verde claro, azul-esverdeado, azul-claro; Seu citoplasma é finamente vacuolado e evidenciamos com freqüência grânulos eosinofílicos. Exibe um núcleo excêntrico, borrado e pouco nítido (olho de mongol). Em geral não visualizamos flagelos. Ocasionalmente, fragmentos degenerados de citoplasma ou de macrófagos podem ser confundidos com trichomonas. Consequentemente, pelo menos um dos seguintes itens deve estar presente: bom detalhamento nuclear, grânulos eosinofílicos citoplasmáticos ou flagelos. Costuma dar reação inflamatória pronunciada: Com relação ao citoplasma, halo perinuclear é mais freqüente, geralmente ligado à pseudoeosinofilia, que resulta num aspecto “moth-eaten”; Com relação ao núcleo, ao contrário da maioria dos processos inflamatórios, que apresentam processos degenerativos, nesta infecção é diferente, as reações nucleares refletem mais atividade que degeneração, não raro acentuada atividade. Alterações pela ordem de freqüência e quantidade em um esfregaço:

a) NÚCLEOS ATIVOS (HIPERCROMASIA) – o conteúdo de cromatina está aumentado, porém ainda homogeneamente distribuído

b) BI OU MULTINUCLEAÇÃO – geralmente acompanhada de atividade nuclear

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c) CARIOMEGALIA – com intensa atividade cromática, sem sugerir ainda displasia

Podem formar banquetes. Numerosos polimorfonucleares (células em chumbo grosso). Este conjunto representa os chamados sinais citológicos indiretos da trichomoníase.

Tratamento: Medidas gerais: Banho de assento morno com 1 litro de água e 1 colher de ácido acético (vinagre) por 20 min, 2 vezes ao dia, por 1 semana. Tratamento medicamentoso:

• Metronidazol 500mg, VO, de 12/12 horas, por 7 dias, ou • Metronidazol 2g, VO, dose única, ou • Tinidazol 2g VO dose única, ou • Secnidazol 2g dose única. • Como é considerada uma DST, o tratamento deve sempre incluir o

parceiro dando preferência o uso de dose única. • Tratar também mulheres assintomáticas e seus parceiros. • Gestantes: tratar apenas após completar o primeiro trimestre, com

Metronidazol 2g VO em dose única. • Nutrizes: tratar com Metronidazol geléia, 1 aplicador a cada 12 horas,

por 5 dias. Se for necessário fazer tratamento sistêmico, fazer Metronidazol 2g VO em dose única e suspender a amamentação por 24h.

• Pacientes HIV+ podem usar o mesmo tratamento.

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FUNGOS Candidíase Vulvovaginal: Responsável por 20-25% dos corrimentos vaginais infecciosos. Fatores predisponentes: Gravidez, diabetes, ACO ou estrógenos exógenos, imunodepressores, ATB de amplo espectro, duchas vaginais e vestuário inadequado. Quadro Clínico: Leucorréia grumosa, em placas, aderente, com aspecto de leite coalhado. Prurido intenso, agudo, Sensibilidade aumentada, irritações, fissuras, queimor e edema vulvar. Disúria, dispareunia, ardor e irritação vaginal. A forma ulcerativa pode simular a infecção herpética. No exame especular: Colpite difusa.

Classificação: - Não-complicada: Episódios isolados e manifestações clínicas leves a moderadas. - Complicada: Candidíase vulvovaginal recorrente: Manifestações clínicas

severas, outras espécies que não a C. albicans, ou na presença de diabetes, imunossupressão ou gravidez.

Diagnóstico:

1. Candida sp. – apresenta-se com pseudo-hifas e esporos geralmente ovais, corados eosinofilicamente até marrom-acinzentado pela coloração de PAP. Pode levar a pseudoeosinofilia, halo perinuclear. Podemos visualizar núcleos de PMN fragmentados e formação de rouleau de células escamosas “lancetadas” por pseudo-hifas. O “lancetamento” (spearing) é melhor observado na objetiva de menor aumento, mesmo se as pseudo-hifas não forem proeminentes (efeito “espetinho de churrasco”).

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2. Cândida glabrata (Torulopsis glabrata) – não forma pseudo-hifas. Esporos redondos, pequenos, refringentes, pseudo-capsulados, corados eosinofilicamente. Observa-se um halo claro em volta desses esporos.

Tratamento: Medidas gerais: Evitar roupas justas ou sintéticas, evitar duchas vaginais ou desodorantes íntimos, identificar e corrigir os fatores predisponentes, embrocação vulvovaginal com violeta de genciana a 1% e alcalinização do pH vaginal (Banho de assento morno com 1 litro de água e 2 colheres de bicarbonato de sódio por 20 min, 2 vezes ao dia, por 1 semana). Tratamento medicamentoso:

• Miconazol creme vaginal 1 aplicador por noite por 7 noites consecutivas, ou • Clotrimazol creme vaginal 1 aplicar por noite por 6-12noites consecutivas, ou • Fluconazol 150mg 1 cp dose única, ou • Itraconazol 200mg VO de 12/12 horas, duas doses, ou • Cetoconazol 400mg VO por dia por 5 dias. • Parceiros não precisam ser tratados, exceto se sintomáticos. • Em gestantes dar preferência para o tratamento vaginal com Miconazol ou

Clotrimazol. Não utilizar medicação sistêmica. • Pacientes HIV+ podem usar o mesmo tratamento.

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SINAIS CITOLÓGICOS

1. Herpes – Nos estágios iniciais da infecção, apenas células endocervicais severamente inflamadas estão presentes. Mais tarde, observa-se uma célula grande, multinucleada, exibindo amoldamento nuclear, espessamento da carioteca, cromatina nuclear rarefeita com aspecto de vidro fosco (aspecto “ground glass” causado pela marginalização periférica da cromatina e da presença de partículas virais intranucleares). Na fase final, podem-se encontrar inclusões viróticas no interior do núcleo do tipo Cowdry.

Inclusões virais são colônias de vírus ou coleções de proteínas virais situadas geralmente no núcleo de células infectadas. Essas inclusões intranucleares fortemente eosinófilas com um halo claro em torno que desloca a cromatina para a periferia são conhecidas como “inclusões de Cowdry tipo A”

2. Chlamydia sp. – Predileção por células endocervicais e metaplásicas.

Observa-se vacúolo de parede reforçada no citoplasma das células, geralmente amoldado ao núcleo, com o corpúsculo de GUPTA no seu interior, eosinofílico ou basofílico. Muitos casos de infecção por Clamídia estão associados à cervicite folicular. Os esfregaços, nestes casos, mostram quadro inflamatório com feixes e grupos de células linfóides e macrófagos.

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Tratamento: • Azitromicina 1g VO Dose única; ou • Doxicicina 100mg VO de 12/12 horas por 7 dias (contra-indicado

em gestantes ou nutrizes); ou • Eritromicina 500mg 6/6 horas por 7 dias.

3. HPV – O aspecto mais característico da infecção é o coilócito, uma célula com três características essenciais: • Núcleo anormal (atípico); • Um grande halo perinuclear, ou espaço claro, que representa a

ausência de organelas citoplasmáticas; • Uma superfície periférica, espessa e irregular, de citoplasma denso. A anormalidade nuclear poderá ser a binucleação, picnose ou multinucleação. Coilócitos estão frequentemente associados com a discariose e a presença de células paraceratóticas e/ou disceratóticas. Tríade: Coilocitose, disceratose e discariose.

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VAGINITE ATRÓFICA Surge como decorrência da insuficiência estrogênica em mulheres no climatério, no pós-parto ou ooforectomizadas. A mucosa torna-se atrófica, fina, pouco resistente aos traumatismos e às bactérias coliformes, que geralmente substituem a microbiota lactobacilar. Diagnóstico: - Monocamadas de células profundas, com polaridade nuclear preservada; - Podem predominar as células do tipo parabasal dispersas; - Aumento nuclear generalizado 3 a 5x pode ocorrer com leve aumento da relação N/C; - Células intermediárias tendem a ser normocromáticas, mas as profundas podem apresentar leve hipercromasia e costumam exibir núcleos mais alongados. Todavia, a cromatina apresenta uma distribuição uniforme. - A autólise pode resultar em núcleos desnudos; - Pode ocorrer um abundante exsudato inflamatório e um fundo basofílico granular que lembra uma diátese tumoral; - Pode aparecer “Blue Bobs” (bolhas de material amorfo basofílico, que reflete tanto células profundas degeneradas quanto muco espessado); - Pode haver presença de células profundas degeneradas eosinofílicas ou orangeofílicas com picnose nuclear; - Histiócitos gigantes estão frequentemente presentes, contendo núcleos múltiplos.

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Tratamento: Consiste na terapia com reposição hormonal local de estrogênio (Estrógenos Conjugados creme vaginal – 1 vez por dia na primeira semana e, após, 2 vezes por semana) e uso de lubrificantes vaginais nas relações sexuais. Alterações Celulares Ceratóticas: • Hiperceratose: é a ceratinização que ocorre na superfície do epitélio de

revestimento. Acima da célula superficial, forma uma camada córnea. Devido à irritação contínua, as células superficiais (que são as mais diferenciadas do epitélio escamoso) continuam se diferenciando e se transformam em escamas córneas (células superficiais escamosas anucleadas ceratinizadas). Elas aparecem isoladas ou em grupos e estão freqüentemente pregueadas e um núcleo fantasma pode ser visível na área anteriormente ocupada pelo núcleo (ghostlike “nuclear holes”). O citoplasma se cora intensamente eosinofilicamente, podendo variar do vermelho, amarelo ao laranja, mais frequentemente mostra-se orangeofílico. O epitélio mucoso se transformou em pele. A placa branca que se forma é chamada pelos colposcopistas de leucoplasia. Ex.: Contaminação por células da região inferior da vagina, reação a diafragma uterino, prolapso uterino, leucoplasia, infecção por HPV, ou discariose subjacente.

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• Paraceratose Típica: é uma ceratinização incompleta, onde a célula mantém o núcleo. Células paraceratóticas são melhores descritas como miniaturas equivalentes às células superficiais. Elas aparecem isoladas ou em lençóis com margens celulares distintas e uma polaridade nuclear bem preservada. A forma da célula é extremamente variável, sendo poligonal, redonda, oval, fusiforme ou irregular. O citoplasma se cora intensamente eosinofilicamente, podendo variar do vermelho, amarelo ao laranja, mais frequentemente mostra-se orangeofílico. Os núcleos são pequenos e picnóticos. Pode-se observar a formação de “pérola”. Paraqueratose pode encobrir um epitélio escamoso normal ou uma condição mais séria. Um seguimento dessas pacientes é mandatório. Se ela persistir por um período longo de tempo, deve-se fazer uma biópsia.

Cervicite (Folicular) Linfocítica: • A cervicite linfocítica (cervicite folicular) é uma forma rara de cervicite

crônica que resulta na formação de folículos linfóides maduros no sub-epitélio da cérvice uterina.

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• Uma população polimórfica de linfócitos com ou sem macrófagos com corpos tingíveis é vista em agrupamento ou fluindo no muco.

ALTERAÇÕES DEGENERATIVAS Fisiológica: cariopicnose, citólise pelo BD Patológica: infecções, radiação, cauterização, deficiência de ácido fólico. • CONSEQUÊNCIA DE UM ESTÍMULO CRÔNICO NOCIVO • ESQUEMIA AGUDA REPETIDA • TRAUMATISMO (CIRURGIA) • ENFERMIDADE INTERCORRENTE • MANIPULAÇÃO INADEQUADA NA COLHEITA DO MATERIAL (FIX AÇÃO

INCORRETA, ESTENDIDO INCORRETO): Na amostra dessecada as células aumentam de volume e achatam-se, criando detalhes nucleares pouco nítidos. Dessa forma, células benignas podem parecer discarióticas e, a fixação insuficiente, poderá imitar a queratinização.

Fase inicial (reversível) Fase final (irreversível) Espessamento da carioteca Cariopicnose Hipertrofia nuclear Rutura da carioteca (Cariorrexe) Hipocromasia nuclear Cariólise Dilatação nucleolar Liquefação do citoplasma (acidofilia) ALTERAÇÕES REGENERATIVAS a. REPARO • Células apresentam-se em forma de lençol com citoplasma mal delimitado

(lâmina coesiva de células em monocamada: falta ou escassez de células isoladas)

• Polaridade normal

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• Núcleos aumentados com discreta hipercromasia • Bi ou multinucleação • Cromatina finamente granular e homogênea + isomorfismo (DD adeno) • Pode apresentar figuras de mitose normais • Nucléolos proeminentes (fase inicial)

b. METAPLASIA • As células apresentam-se isoladas ou em agregados soltos. Não exibem

nucléolos. • Observa-se pleomorfismo celular (fuso, amebóide...) • Prolongamentos e pontes inter-citoplasmáticas. Delimita-se bem o

citoplasma • Núcleos redondos ou ovais localizados centralmente • Cromatina finamente granular. Ocasionalmente estão presentes

cromocentros • Quanto mais imatura, maior a densidade citoplasmática e geralmente cora-

se cianofilicamente • Quando vai tornando-se madura pode corar-se mais eosinofilicamente.

Torna-se difícil diferenciar • IMATURA: as células são pequenas, redondas ou ovais, com aspecto de

células basais e parabasais com citoplasma denso e cianófilo • MATURA: apresenta tamanho e forma semelhante às células superficiais e

intermediárias e às vezes pode-se fazer a distinção entre ecto (mais denso) e endoplasma (cora-se mais palidamente)

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PROCESSOS METAPLÁSICOS • ESTÍMULO CRÔNICO • SONDA COLOCADA NA BEXIGA URINÁRIA • TABAGISMO • METAPLASIA SINCICIAL DO ENDOMÉTRIO E DA

ENDOMETRIOSE, IDENTIFICAR COMO PROCESSOS REATIVOS E NÃO MALIGNOS

• METAPLASIA TUBÁRIA DA ENDOCÉRVICE NÃO CONFUNDIR COM ADENOCARCINOMA “IN SITU” DE ENDOCÉRVICE