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ARTIGOS FERNANDO MOUTINHO RAMALHO BITTENCOURT Indicadores de desempenho como instrumentos de gestão, auditoria e análise econômica.........13 EDITORIAL JÚLIO MIRAGAYA Lições do passado ................................................................................................................28 REINALDO GONÇALVES A conjuntura político-econômica do Brasil .......................................................................................7 jul/set de 2005 Revista de conjuntura 3

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Revista de conjuntura jul/set de 20053

Revista Editada pelo CORECON/DF - ANO VI - nº 23 - JUL/SET DE 2005

.....� .....4

ENTREVISTA

EMERSON KAPAZÉtica e Corrupção – a coerência de nossos políticos e de nós mesmos.................................5

ARTIGOS

REINALDO GONÇALVESA conjuntura político-econômica do Brasil .......................................................................................7

FERNANDO MOUTINHO RAMALHO BITTENCOURTIndicadores de desempenho como instrumentos de gestão, auditoria e análise econômica.........13

JÚLIO MIRAGAYALições do passado ................................................................................................................28

HUMBERTO VENDELINO RICHTER

FABIO NOGUEIRA CARLUCCI O mercado de trabalho para o economista ........................................................................31

MANIFESTO

A CRISE DA REPÚBLICA ................................................................................................37

EDITORIAL

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EDITORIAL

Editor Responsável: Roberto Bocaccio PiscitelliConselho Editorial: Mônica Beraldo Fabrício da Silva,Roberto Bocaccio Piscitelli,Humberto Vendelino Richter,Maurício Barata de Paula Pinto,Mário Sérgio Fernandez Sallorenzo, José Roberto Novaes de Almeida e José Aroudo Mota.Jornalista Responsável: Daniela Lima - Reg. DRT/DF: 4926Redação: Daniela LimaEditoração Eletrônica: Ars Ventura Imagem & Comunicação(61) 3273-1114Impressão: Gráfica Plano PilotoTiragem: 3.800Periodicidade: TrimestralAs matérias assinadas por colaboradores não refletem, necessariamente, a posição das entidades. É permitida a reprodução total ou parcial dos artigos desta edição, desde que citada a fonte.

CONSELHO REGIONAL DE ECONOMIA DA 11ª REGIÃO – DF

Presidente: Mônica Beraldo Fabrício da SilvaVice-Presidente: Roberto Bocaccio PiscitelliConselheiros Efetivos: Mônica Beraldo Fabrício da Silva,Roberto Bocaccio Piscitelli,Maurício Barata de Paula Pinto,Guidborgongne Carneiro N. da Silva,José Aroudo Mota,Victor José Hohl,Paulo Luiz Figueiredo de Oliveira,Humberto Vendelino Richter eMaria Cristina de AraújoConselheiros Suplentes: Newton Ferreira da Silva Marques,Max Leno de Almeida,Evilásio da Silva Salvador,Homero Gustavo Reginaldo Lima,José Luiz Xavier,José Luiz Pagnussat,Jusçanio Umbelino de Souza eGilson Duarte dos SantosEquipe do CORECON: Iraídes Godinho de Sales, Ismar Marques Teixeira, Michele Cantuária Soares, Jamildo Cezário Gomes e Angeilton Francisco Lima Faleiro.

End.: SCS Qd. 04, Ed. Embaixador, Sala 202 CEP 70300-907 – Brasília –DFTels: (61) 3225-9242 / 3223-14293964-8366 / 3964-8368Fax: (61) 3964-8364E-mail: [email protected]: www.corecondf.org.brHorário de Funcionamento: das 8:00 as 18:00 horas (sem intervalo)

EXPEDIENTE

Órgão Oficial do CORECON-DFA entrevista deste número, sobre Ética, coincide com a divulgação do

relatório anual da Transparência Internacional, classificando os países segundo o índice de percepção da corrupção 2005, tendo os últimos três anos como referência. Numa escala de 0 a 10, a nota brasileira caiu de 3,9 para 3,7. Numa relação de 159 países, o Brasil passou da 59ª posição para a 62ª. Ficamos atrás de Belize, Colômbia, Tailândia, Cuba, Chile.Convenhamos que não é um lugar honroso para quem tem a pretensão de se tornar membro permanente do Conselho de Segurança da ONU (embora isso não seja um atestado de boa conduta para os outros) e líder da América Latina e entre os emergentes.

O que talvez seja melancólico é o fato de esse pífio desempenho se repetir com um governo cujo Partido sempre foi o símbolo da moralidade pública. Além do mais, é relevante assinalar que os dados que serviram de base para a percepção de empresários, executivos, acadêmicos e analistas de dentro e de fora do País praticamente não chegaram a incorporar os efeitos da crise política, pois foram colhido até junho.

Evidentemente, essa impressão ou desconfiança que agentes econômicos têm em relação a um país é fator de importância não negligenciável na disposição de investirem nesse país e nas estimativas do custo dos investimentos. É essencial auscultar as condições com base nas quais se pode participar de uma licitação ou assinar um contrato, ou pleitear algum tipo de benefício.

Segundo o diretor da Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo, os governantes e muitos cidadãos preferem o discurso “ético”, vazio de conteúdo e estéril de resultados. “Não é o mensalão que produz uma imagem negativa a respeito da integridade das instituições brasileiras. É a falta de integridade dessas instituições que produz o mensalão”. Ele está “muito decepcionado” com o presidente Lula. Já o presidente da Transparência Internacional, Peter Eigen, afirmou que, “apesar do ceticismo do nosso representante no Brasil, eu tinha esperança de que as coisas fossem mudar no governo dele”. “Como ele não estava ciente do que acontecia tão perto dele?”

É bem verdade que a corrupção não é um atributo estritamente brasileiro. Ocorre no mundo todo. Sempre ocorreu. Entretanto, uma das impressões que se têm é que, no nosso caso, além de não se ter avançado – antes pelo contrário -, não se criaram ou não se adotaram mecanismos institucionais que prevenissem ou mesmo coibissem as fraudes, os desvios. Ou – o que é pior – convive-se com essa realidade de forma bastante tolerante. Farto noticiário parece não ter fim, mas parece nunca chegar-se ao fim nas apurações e, sobretudo, nas punições, nas conseqüências. Em outras palavras, seria necessário ir até as últimas conseqüências, ainda que seja para constatar que uma denúncia é falsa e, neste caso, punir severamente o seu autor.

É evidente que a corrupção não é privilégio de nenhum governo. Ela é atávica; nasceu com o descobrimento (talvez até porque se conheça pouco da História pregressa). Muitos dos censores de hoje são farisaicos e hipócritas. A sujeira acumulada embaixo do tapete é secular.

Quem sabe não valerá a pena meditar até onde não apenas “cada povo tem o governo que merece”, mas também sobre se cada governo tem o povo que merece.

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Ética e Corrupção – a coerência de nossos políticos e de nós mesmos

A Revista de Conjuntura do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal (CORECON-DF) entrevista o presidente do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO), sobre Ética e Corrupção. Emerson Kapaz fala da necessidade de lutar contra o espírito de malandragem, de levar vantagem sobre os outros. Para ele, não há corrupção sem corruptor, e, tanto no setor público como no privado, a falta de ética existe em larga escala.

Entrevista: Daniela LimaColaboração: Roberto Bocaccio Piscitelli

ENTREVISTA

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cial, e temos conseguido impor-tantes vitórias na difusão destes conceitos.

Conjuntura - A falta de Ética é um problema endêmico e atávico no Brasil? A crise está no governo ou em nós mesmos?

Emerson Kapaz - Não acredito que seja um problema endêmico; poderia até dizer que é mais um problema de nossas elites do que do cidadão comum. Temos que lutar contra o espírito de malandra-gem, de levar vantagem sobre os outros, a famosa “lei de Gerson”, que talvez agora seja transformada na lei de Jefferson (Roberto), o “Rouba, mas Fala”.

Conjuntura - Há mecanismos preventivos e repressivos que possam desestimular a corrupção no Brasil? A impunidade continua sendo uma vacina para a prática reiterada de atos anti-éticos?

Emerson Kapaz - Devemos trabalhar na prevenção e nas bre-chas legais que existem, mas, se não atacarmos a impunidade, não há saída. A corrupção é fruto de uma série de fatores, mas o infrator avalia antes a relação risco/oportu-nidade.

Conjuntura - Os desvios de

comportamento envolvem apenas o Setor Público? Por que nunca se punem os corruptores?

Emerson Kapaz - Esse é um ponto muito importante. Não há corrupção sem corruptor e, tanto no setor público como no privado, a falta de ética existe em larga escala.

A sonegação e o famoso caixa-dois são a mola propulsora desta corrupção por parte das empresas. As empresas precisam de proteção para continuarem isentas, e começa aí o financiamento de políticos, a propina a fiscais, a compra de li-minares ou habeas-corpus, ou seja, um verdadeiro Estado paralelo.

Conjuntura - Todos se con-taminam com o poder ou o con-taminam? É possível manter uma coerência entre o que se diz e o que se faz, entre o comportamento an-tes e depois do exercício dos cargos e funções?

Emerson Kapaz - É claro que é possível, mas é necessário uma retidão de comportamen-to, uma clara noção do que se pretende fazer com o poder, que é um meio e não um fim em si mesmo, que poucos políticos tem hoje. A coerência depende de se ter uma estrutura psicológica para lidar com o poder.

Conjuntura - As organizações

da sociedade civil são capazes de controlar os poderes constituídos e exercer um papel de mediação entre o povo e as lideranças gover-namentais?

Emerson Kapaz - Uma das grandes alternativas está na socie-dade civil, nas instituições que hoje podem fazer esta pressão saudável em direção às mudanças de que precisamos. Estas organizações são movidas por objetivos que superam o imediatismo, e vêm-se transfor-mando em grandes mobilizadores da vontade política da sociedade.

Conjuntura - Como o Sr. vê a noção de Ética no atual momento vivido pela política brasileira? É possível imaginá-la num clima com tantas e contínuas denúncias de corrupção?

Emerson Kapaz - Nunca se usou tanto a Ética em vão, como es-tamos vendo agora. O mais impor-tante de tudo o que está acontecendo é que passamos a discutir e avaliar o que de fato é ético, qual o conceito de valores que temos no Brasil de hoje, qual a importância de cobrar-mos coerência de nossos políticos e de nós mesmos, e com isso tenho certeza de que sairemos melhores do que entramos nesta crise política.

Conjuntura - O Sr. acredita que a Ética emana do próprio indi-viduo? Que instituições deveriam discuti-la e ensiná-la?

Emerson Kapaz - O conceito de ética começa em nós mesmos, por meio de uma escala de valores que nos vai sendo passada por educação, exemplos de nossos pais, atitudes; vamos construindo nossa própria escala, que, ao longo do tempo, é confrontada com a ética coletiva, da sociedade, que pode colocar-nos alguns limites ou afrouxar os nossos, como está acontecendo hoje. Perdemos a noção do que é certo, quais valores devemos respeitar.

Devemos discutir isso nas esco-las e – acredito – em qualquer outra instituição que queira aprofundar-se sobre o tema. Nós, do ETCO, por exemplo, surgimos a partir de uma necessidade de se aprofundar a discussão sobre ética concorren-

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A R T I G O

A conjuntura político-econômica do Brasil

Reinaldo Gonçalves *

A economia brasileira, no momento atual, se encontra em situação de profunda instabi-lidade. Na verdade, o Brasil apresenta uma desestabilização econômica muito séria, muito profunda. Essa desestabilização macroeconômica tem sido um dos combustíveis da atual e gra-ve crise política e institucional brasileira. Em outras palavras, se a economia não estivesse tão desequilibrada como está hoje, essa crise político-institucional não teria atingido o nível crítico que temos observado.

Imaginemos a economia crescendo a 7% ao ano, a taxa de emprego caindo significati-vamente, os serviços de utilida-de pública expandindo-se com qualidade e preços baixos, e a violência reduzindo-se. Nesse

quadro hipotético, a crise políti-ca e institucional teria atingido esse nível crítico? A resposta é um “não” rotundo. Em outras palavras, há uma situação eco-nômica de degradação, de dete-rioração, de desestabilização e de instabilidade, que provoca o esgarçamento social, tensão na esfera da política, nas relações, estruturas e processos políticos. Isso desemboca em uma degra-dação das instituições públicas e privadas. É nesse processo de tensionamento que a política de degradação das instituições gera uma crise que atinge as dimensões que estamos obser-vando hoje.

Estou entre aqueles 21% da população brasileira que pen-sam que o Presidente da Repú-blica, Luís Inácio Lula da Silva,

é o principal responsável pela atual e grave crise sistêmica no Brasil. Estou entre aqueles 32% da população brasileira que acham que o atual Governo da República é um Governo ruim, ou até mesmo péssimo. Contrariamente aos canalhocra-tas (aqueles que apóiam todo e qualquer governo), penso que a política econômica brasileira tem tido um péssimo desem-penho. O Brasil encontra-se em profunda desestabilização macroeconômica, ou seja, o desempenho da política econô-mica brasileira é medíocre.

Vou tratar de quatro temas que fazem parte do núcleo central do debate. O Governo e a canalhocracia têm usado esses temas para caracterizar uma “blindagem” da economia

O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Reinaldo Gonçalves, falou sobre a crise política e a atual situação econômica do Pais, em sessão solene, na Câmara Legislativa, no dia 24 de agosto de 2005, em comemoração ao Dia do Economista.

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brasileira. Se perguntarmos a um estudante de Economia: o que acontece com um país que tem a maior taxa de juros real e uma das taxas de crescimento mais baixas do mundo? A res-posta seria: esse país está de-sequilibrado do ponto de vista macroeconômico; esse país tem graves problemas do ponto de vista econômico. Vou fazer uma radiografia desse desequilíbrio, falando de quatro temas: ques-tão fiscal, controle da inflação, área externa e a questão da renda, do emprego e da distri-buição.

Esses quatro temas afetam

diretamente o cotidiano do ci-dadão; afetam a questão do em-prego, da renda, da segurança, da saúde e as expectativas com relação ao futuro próximo.

Juros altos

A questão fiscal. O Brasil tem um enorme desequilíbrio fiscal. O mundo, quando olha as finanças públicas brasileiras, observa desequilíbrios de fluxo e de estoque extraordinários. Gastamos, hoje, no Brasil, cerca de 7,5% do PIB para pagamento de juros. Parte ex-pressiva das receitas públicas é

gasta com pagamento de juros da dívida. Isso não existe em lugar nenhum do Planeta Terra. Há transferência de renda do conjunto da população para um grupo minoritário de rentistas e banqueiros. Isso é uma tragédia para o Brasil.

Quando o rentista aplica dez milhões de reais, ele ganha 1,5% ao mês, ou seja, cento e cinqüenta mil reais por mês. Desse valor ele gasta trinta mil reais com bens e serviços, e compra de papel (títulos pú-blicos) cento e vinte mil reais. Quando ele compra bens e ser-viços, há geração de produção, renda e emprego; entretanto, quando ele compra papel (faz uma aplicação financeira) a economia trava. Só que os cen-to e cinqüenta mil reais que vieram do povo brasileiro, por meio da tributação, significam redução da renda pessoal dispo-nível, pois se tirou a renda do trabalhador e do desempregado, que gasta 100%, 90% da sua renda. Dessa forma, transfe-riu-se renda para o rentista, que gasta 10%-20% com bens e serviços, e, ao comprar mais papel, deixa-se de contratar ca-pital e trabalhadores, e, portan-to, a economia brasileira trava. Não há dúvida de que os juros altos no Brasil desestimulam o investimento, o consumo e pro-vocam uma brutal concentração de riquezas e de renda. Temos então o famigerado superávit primário, o que significa deixar de fazer investimentos sociais no País; portanto, agravam-se

“O Brasil tem um enorme

desequilíbrio fiscal. O mundo,

quando olha as finanças

públicas brasileiras, observa

desequilíbrios de fluxo e de estoque

extraordinários. Gastamos, hoje,

no Brasil, cerca de 7,5% do PIB

para pagamento de juros. Parte

expressiva das receitas públicas é

gasta com pagamento de juros da

dívida. Isso não existe em lugar

nenhum do Planeta Terra”.

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os problemas da compressão do gasto social e da deteriora-ção das instituições. Ademais, quanto menos recursos o Estado tem no seu orçamento, maior é a disputa pelos recursos do Estado e, portanto, maior ten-são política. Essa tensão no plano da política, em nível municipal, distrital, estadual ou federal, não estaria ocorrendo se os orçamentos públicos, em qualquer instância, estivessem sem essa rigidez de juros. Isso provoca tensão política dentro e fora das instituições públicas. Orçamentos rígidos, que envol-vem 7,5% do PIB e uma par-cela extraordinária expressiva desses orçamentos municipais, distritais, estaduais e federal comprometida com juros, im-pedem o Legislativo e o Exe-cutivo de realizarem projetos sérios e conseqüentes para o País. Portanto, acirra-se a luta, a rivalidade, o antagonismo e a disputa pelos recursos públicos. O tensionamento na política provoca e amplia a propensão a práticas oportunistas. Não é por acaso que estamos passando por essa crise política, que deriva de finanças públicas quebradas. Nesse sentido, é uma tolice imaginar que a economia brasi-leira representa uma blindagem, e que a política não deve afetar a economia, quando é exata-mente o contrário. É uma eco-nomia já doente, que vai con-taminando, vai reduzindo cada vez mais o sistema imunológico da política.

Dívida/PIB

A dívida pública continua crescendo, e nos aproximamos rapidamente de uma dívida pública de um trilhão de reais, em termos absolutos, houve um incremento da dívida mobiliária de cem bilhões de reais. A rela-ção dívida/PIB no Brasil dimi-nuiu recentemente porque parte expressiva da dívida pública brasileira é externa. Como o dólar caiu de R$ 3,53 para cer-ca de R$ 2,35, isso ocasionou uma queda da dívida em termos absolutos quando medida em moeda nacional. O problema do aumento da relação dívida/PIB vai retornar quando o dólar vol-tar à cotação de R$ 4,00; como

resultado, a relação dívida/PIB vai explodir. Atualmente, a re-lação dívida/PIB está artificial-mente comprimida por causa da taxa de câmbio baixa.

O ajuste fiscal brasileiro é frágil e travestido por um su-perávit primário que é muito mais um problema do que uma solução. Isso no contexto em que a carga tributária brasileira está aumentando, ou seja, não atinge as camadas mais ricas da população, e, sim, o traba-lhador e desempregado. Em outras palavras, o Governo Lula é responsável pela manutenção de um enorme desequilíbrio das contas públicas brasileiras e, no contexto de uma política mone-tária absolutamente irracional,

“O ajuste fiscal brasileiro é

frágil e travestido por um su-

perávit primário que é muito

mais um problema do que uma

solução. Isso no contexto em

que a carga tributária brasileira

está aumentando, ou seja, não

atinge as camadas mais ricas da

população, e, sim, o trabalhador

e desempregado”.

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há uma brutal concentração de riqueza, tirando renda do traba-lhador e transferindo aos ren-tistas e banqueiros. Vale men-cionar que, na História recente do Brasil, nenhum governo teve uma relação jurosXsalário tão alta quanto o Governo Lula.

Inflação/juros

A inflação no Brasil tem sido segurada por juros altíssimos. O empresário não investe, o traba-lhador não consome. Resultado: com o desempenho medíocre da economia brasileira, um PIB crescendo em média três por cento ao ano, não há pressão de demanda. Daí, o grande pro-blema na inflação do Brasil é a oferta. Sem investimento e com capacidade produtiva trava-da, aumentam as restrições de oferta e a rigidez do aparelho produtivo. O grande fator de expansão da inflação do Brasil hoje têm sido os contratos inde-xados de serviços de utilidade pública. Esse Governo não teve a coragem e a vontade política de fazer a revisão desses con-tratos, inclusive dos procedi-mentos de indexação dos servi-ços de utilidade pública.

Atualmente, o trabalhador desempregado paga, da sua ren-da, muito mais pelo serviço de utilidade pública do que ele pa-gava há cinco, dez anos. Conse-qüentemente, a inflação tem um nível relativamente baixo, mas é controlada pelo desemprego,

pela renda baixa e por um câm-bio artificialmente baixo.

Setor externo

Nos últimos dois anos ex-portamos mais que importamos, num total de sessenta bilhões de dólares. Este ano, haverá um aumento nas exportações de trinta a quarenta bilhões de dólares e, nos últimos três anos, acumulamos um superávit comercial de cem bilhões de dólares. Ficamos mais com-petitivos? Não. Sem investi-mento não podemos ficar mais competitivos. Pelo contrário,

a economia brasileira continua afundando-se numa trajetória de instabilidade sistêmica, por-que a taxa de investimento tem caído, o Sistema Nacional de Inovações tem andado para trás, a produtividade não consegue manter uma trajetória estável, não há geração significativa de empregos no País e as finanças públicas estão desequilibradas.

A economia brasileira tem sido marcada por forte inefici-ência do sistema.O desempenho na balança comercial, que me-lhorou nos últimos três anos, resulta de uma conjuntura in-ternacional extraordinariamente

“A economia brasileira continua

afundando-se numa trajetória

de instabilidade sistêmica, por-

que a taxa de investimento tem

caído, o Sistema Nacional de

Inovações tem andado para trás,

a produtividade não consegue

manter uma trajetória estável,

não há geração significativa de

empregos no País e as finanças

públicas estão desequilibradas”.

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favorável. Nas últimas décadas, a economia itnernacional nunca esteve tão bem quanto agora. E o Brasil tem aproveitado isso? Nem tanto. Quando compa-ramos a economia brasileira com outras do mundo, vamos observar que o Brasil tem tido um desempenho inferior. Em outras palavras, se estamos ex-portando muito, o mundo todo está exportando muito. E por quê? Os Estados Unidos estão fazendo um déficit da balança comercial de U$ 800 bilhões. As duas locomotivas (EUA e China) aceleraram e puxaram os vagões de primeira classe, como a Coréia, e os vagões de segunda classe, como a Índia, e os vagões de terceira classe, como a Argentina. Enquanto isso, o Brasil de Lula vira um vagão de quarta classe. Estamos andando para trás. Nos últimos três anos, o mundo cresceu a uma taxa média anual de 4,5%, os países em desenvolvimento, 6,5%, a América Latina, 3,9%, e o Brasil de Lula, 3,5%. O de-senvolvimento do subdesenvol-vimento do Brasil no governo Lula resulta de uma política macroeconômica inconsistente e imcompetente. O País está marcado pela desestabilização macroeconômica profunda. É por isso que o Brasil, nos úl-timos anos, continua entre os cinco maiores riscos do mundo. Se o Brasil tivesse a economia blindada, o risco-Brasil não seria igual ao da Argentina ,que

fez moratória da dívida externa no passado recente. Isso carac-teriza a situação dramática da economia brasileira. Isso tem alimentado a crise política e institucional que vivemos, e continuará alimentando-a en-quanto não alterarmos a política econômica do Brasil. Caso não

* Reinaldo GonçalvesProfessor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

haja ruptura com essa política, a atual trajetória de instabilida-de e crise deverá aprofundar-se. Ou seja, a mediocridade da atual política econômica não somente é a causa principal como também o principal fator agravante da atual crise política e institucional.

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Quem tem informação tem poderRevista de Conjuntura, o melhor panorama

sobre tudo que anda acontecendo.

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A R T I G O

Indicadores de desempenho como instrumentos de gestão, auditoria e análise econômica

Fernando Moutinho Ramalho Bittencourt *

“É indispensável não esque-cer que uma teoria só se justifica quando nos arma para conhe-cer a realidade e atuar sobre ela”.(Celso Furtado)1

Cada participante relevante primário vai exigir da gover-nança a formulação de um gru-po de objetivos voltados para os seus interesses específicos, os quais, no seu conjunto, se tornarão as dimensões do de-sempenho empresarial, ou seja, a mensuração do desempenho deve estabelecer um sistema de coleta e avaliação de informa-ções, que permita aferir, atra-vés de diferentes instrumentos e métricas, a capacidade e o grau de eficiência e eficácia da produção do valor empresarial

para os stakeholders primários selecionados. Como toda firma tem sempre pelo menos dois stakeholders primários, os seus clientes/usuários e os seus acio-nistas/investidores, a mensura-ção do valor que produz também deve ser feita sempre com pelo menos duas dimensões de de-sempenho2.

Indicadores de desempenho (ID) são instrumentos de seleção e organização das informações relativas à gestão, com base em critérios de utilidade para a avaliação da qualidade e dos resultados da gestão. O conceito de indicadores de desempenho não é alheio ao mundo da ges-tão empresarial3. De fato, um dos principais instrumentos de

controladoria empresarial é o de “painel de controle”4 ou ba-lanced scorecard5, documentos ou sistemas de informação que recolhem de forma sistematizada a informação relevante sobre a gestão, as atividades e o atin-gimento dos objetivos de uma organização. Pela sua própria natureza, tais “painéis” repre-sentam a reunião de conjuntos de indicadores de desempenho considerados relevantes por cada gestor. Em nível internacional, o setor público vem trazendo para si, em ritmo crescente, esta mo-dalidade de controle, tanto como instrumento de apoio à adminis-tração quanto para auditorias de natureza operacional6. Os ID têm como principal valor agregado, para gestores e auditores, a pos-

1 Furtado, Celso. Desenvolvimento e Subdesenvolvimento. apud Vieira, 2003, p. 87.2 Martin; Santos; Dias Filho, 2004, p. 163 Martin; Santos; Dias Filho, 2004, pp. 16-174 Também denominado, em diversos idiomas, cuadro de dirección, cuadro de mando ou tableau de bord.5 Bonnefoy, 2003, pp. 28-29; Niven, 2005, pp. 14-256 Conhecida por uma variedade de denominações, esta modalidade de auditoria representa, em síntese, uma avaliação sistemática e estruturada

dos programas, projetos, atividades e sistemas de uma organização ou do setor público como um todo, com a finalidade de emitir uma opinião quanto aos aspectos de eficiência, eficácia, economicidade, efetividade e eqüidade, critérios estes cujo detalhamento conceitual faremos adian-te neste trabalho. (Dentre as muitas propostas de descrição dessa modalidade de auditoria: TCU, 2000B, p. 15, Anglès, 1999, p. 11; Ferrei-ra,2004, p. 270.)

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sibilidade de selecionar, focalizar e expressar claramente as áreas mais relevantes do desempenho do ponto de vista da estratégia e dos objetivos da organização ou programa auditado7.

No Brasil, o uso do conceito de indicadores de desempenho no setor público vem sendo forte-mente impulsionado pela atuação de controle do Tribunal de Contas da União, inserindo-os nos recur-sos utilizados para a realização de auditorias de natureza operacio-nal. Este texto busca apresentar os elementos essenciais do roteiro técnico que define e orienta a utilização das técnicas de indi-cadores de Desempenho e Mapa de Produtos em tais auditorias. A partir desse eixo principal, foram acrescentados considera-ções e esclarecimentos adicionais derivados da literatura técnica internacional, que não chegam a modificar, em nenhum aspecto relevante, a estrutura da orienta-ção original do TCU8.

1) ENTENDENDO INDICA-DORES DE DESEMPENHO – CONCEITOS BÁSICOS

Conceitualmente, um indicador de desempenho é um número, percentagem ou razão que mede um aspecto do

desempenho, com o objetivo de comparar esta medida com metas preestabelecidas.

Reparemos que o indicador representa a “variável” que se está medindo, ou seja, caracteriza a dimensão que se quer avaliar. Os valores efetivamente medidos e os valores desejáveis para cada indicador são habitualmente de-nominados de métricas do indi-cador de desempenho respectivo. Também o conjunto de valores desejados é denominado com freqüência de “metas”.

Os indicadores quase sempre são compostos por variáveis de natureza comum a toda ativida-de social:

• custo (p. ex., custo unitário, custo total programado);

• tempo (p. ex., prazos es-tabelecidos, tempo total por tarefa);

• quantidade (p. ex., produ-ção total, demanda atendida); e

• qualidade.(p. ex., satisfação do cliente, padrões de qualidade).

Quando determinada ativi-dade pode ser descrita satis-fatoriamente através de dados unidimensionais muito simples e facilmente quantificáveis e men-suráveis (ex: quilometragem de estradas conservadas; número de alunos matriculados no 1o grau), não temos propriamente o uso

de indicadores, mas de simples medições de desempenho. O uso dos indicadores de desempenho se faz necessário quando não é possível efetuar tais mensura-ções de forma direta, sendo a abordagem da avaliação mais complexa e multidimensional. Indicadores são assim uma alter-nativa para a medição do desem-penho em profundidade, embora não forneçam uma mensuração direta dos resultados. Nos exem-plos acima considerados, se quisermos avaliar não apenas o resultado bruto (ex: quilometra-gem de estradas conservadas), mas também a qualidade desse resultado, temos que acrescentar vários outros dados, combina-dos, para montar indicadores que reflitam todo o conjunto de ações que geraram aquele resul-tado bruto (ex: o custo incorrido pela administração para conser-var cada quilômetro de estrada).

Isto se dá sem prejuízo de que, apesar de que os esforços de medida e objetividade per-mitam que boa parte dos indica-dores possa ser quantificada, é possível que alguns dentre eles sejam, legitimamente, de natu-reza qualitativa, porque muitos aspectos do desempenho da ação pública são também qualitati-vos9. Neste caso, podem seguir uma escala ordinal (ex: excelen-te, bom, ruim e péssimo), situa-ção que permite em certos casos

7 Ramió, 1999, pp. 228-229, para a definição de “painel de controle” e sua incorporação ao setor público, e p. 249, para extensa bibliografia sobre o seu desenvolvimento no setor empresarial; Mas & Sullà, 1998, p. 13 et seqs. IGAE, 1997, para uma descrição minuciosa da inserção dos indicadores de desempenho num sistema de planejamento estratégico das organizações públicas. Para um survey extenso dessas práticas no setor público de mais de 60 países, ver Bonnefoy, 2003, pp. 13-14

8 Em razão dessa natureza de instrumento de divulgação mais ampla, a maior parte do texto apresenta, explicitamente, o conteúdo do roteiro téc-nico do Tribunal (TCU, 2000), permanecendo com o autor a responsabilidade pelo sentido das alterações e acréscimos que introduz. Quando a informação provier de outra fonte, esta origem será explicitamente referenciada.

9 Anglès, 1999, p. 50

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algum tipo de quantificação através da atribuição de pesos a estas categorias qualitativas.10

Indicadores de desempe-nho, portanto, são apro-ximações à realidade multidimensional da gestão, fornecendo uma boa visão acerca do resultado que se deseja medir, desde que sempre, recebam dos seus usuários uma interpretação compatível com o contexto em que estão inseridos.

Esta interpretação é essen-cialmente comparativa. Um ID ganha significado quando é co-locado num quadro de referência de acompanhamento e avaliação do desempenho:

• ao longo do tempo, dentro da mesma dimensão refletida pelo ID (comparando-se o de-sempenho anterior e o desempe-nho corrente); ou

• comparando o desempenho corrente com algum padrão de comparação independente (seja ele um padrão genérico ou o desempenho de outras organi-zações ou atividades similares); ou, ainda,

• cotejando o desempenho planejado e o desempenho real-mente verificado.

Anglès11 usa o sugestivo

nome de “comparadores” para mencionar os valores ou bases de comparação dos quais os in-dicadores de desempenho neces-sitam para que tenham um signi-ficado. Os comparadores podem vir de várias fontes: padrões ou standards emitidos por organis-mos públicos ou internacionais; valores majoritários (represen-tam o resultado mais comum em uma atividade determinada); valores ótimos (os melhores obtidos por uma entidade ou atividade comparável); preços de mercado de determinado pro-duto ou serviço; comparador de tendência (séries históricas em unidades não-monetárias ou em moeda constantes).

As fontes principais deste texto são voltadas para a forma-ção e orientação de auditores, e por isso são encontradas inúme-ras referências a “auditor” e “au-ditoria”, como agentes externos que atuam sobre as organizações que são analisadas mediante o uso de indicadores de desempe-nho e mapa de produto. Ainda que o uso majoritário dessas técnicas se dê na realização de auditorias de natureza operacio-nal, nada impede que sejam apli-cadas em missões de consultoria ou na própria atividade gerencial da organização, quando então a menção a “auditor” aplica-se automaticamente àquele que estiver conduzindo a aplicação das técnicas na organização, independente de seu papel insti-

10 IGAE, 1997, pp. 123 e 154-155. Para uma descrição em profundidade da heurística do tratamento de dados qualitativos, sugerindo vastas possibilidades a este tipo de indicadores, vide Pereira, 2001.

11 Anglès, 1999, p. 5412 Niven, 2005, pp. 21-28. A abordagem dessas duas outras possibilidades dos ID excede o escopo deste trabalho, orientado essencialmente para

a auditoria.13 Estes critérios são uma combinação das heurísticas oferecidas em TCU (2000, pp. 12-14) e IGAE (1977, p. 140-146)

tucional. Ao privilegiar a audito-ria, nossa perspectiva evidencia o papel dos indicadores de de-sempenho como instrumentos de medição e avaliação. Ao ajudar a construí-los, porém, o auditor estará oferecendo à organização cliente, também, um mecanismo de gerenciamento estratégico e uma ferramenta de comunica-ção12.

2) AVALIANDO INDICADO-RES DE DESEMPENHO - QUALIDADES DESEJÁVEIS

Para construir um conjunto de ID, é necessário selecionar de um leque quase infinito de possibilidades de informação (sobre custo, tempo, quantidade ou qualidade da atividade ava-liada) aqueles subconjuntos que tenham utilidade para as finali-dades de quem especifica o ID e de quem virá a utilizá-lo. Para isso, existem requisitos ou crité-rios de qualidade que orientam o auditor quanto às características desejáveis em um ID13.

Representatividade. O indi-cador deve ser a expressão dos produtos essenciais de uma ativi-dade ou função; o enfoque deve ser no produto (output): medir aquilo que é produzido (produtos intermediários ou finais), ou os impactos (outcomes) desses pro-dutos fora do âmbito da atividade ou função examinada. É preciso, portanto, evitar a confusão co-mum entre o produto (o que é

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Revista de conjuntura jul/set de 200516

produzido por cada atividade) e o processo (como, por que meios é produzido o resultado). Também é componente da representativi-dade a correlação com o objetivo (ou seja, o ID deve estar direta-mente relacionado com a dimen-são do desempenho que pretende retratar).

Homogeneidade. Na constru-ção de indicadores e na sua inter-pretação devem ser consideradas apenas variáveis homogêneas. Assim, não se pode comparar historicamente custos unitários quando as composições respec-tivas foram alteradas ao longo do tempo; não se pode também comparar dados de natureza ou composição heterogêneas. A homogeneidade é requisito es-sencial da comparabilidade, que, como vimos, é indissociável da utilização dos ID.

Praticidade. O indicador deve funcionar na prática, e

servir ao processo de tomada de decisão. A verificação des-sa condição é, evidentemente, empírica: o ID deve ser testado, modificado ou excluído quan-do não atender às necessidades dos usuários a que se destina. A praticidade implica também em que a informação trazida pelo indicador esteja disponível em tempo oportuno para atender às necessidades do processo de tomada de decisão14.

Independência. O indicador deve medir os resultados atribu-íveis às ações que se quer moni-torar, devendo ser evitados in-dicadores que possam ser signi-ficativamente influenciados por fatores externos (também se des-creve tal qualidade como “foca-lizado em áreas controláveis”15). Isto deve ser observado também na dimensão temporal (o valor do indicador relativo ao resul-tado alcançado em um período

de tempo deve ser conseqüência das atividades realizadas durante esse mesmo período, e não antes ou depois dele16).

Confiabilidade. A fonte de dados utilizada para o cálculo do indicador deve ser confiá-vel, de tal forma que diferentes avaliadores possam chegar aos mesmos resultados empíricos. (É possível, naturalmente, que existam diferentes interpretações para um ID, mas não se deve es-colher um ID cujos valores me-didos diferem significativamente entre avaliadores diferentes.)

Seletividade. Deve-se esta-belecer um número equilibrado de indicadores, que enfoquem os aspectos essenciais do que se quer monitorar. Indicadores demais apresentam geralmente um custo proibitivo para definir e manter, e podem confundir a interpretação com excesso de prioridades; já um número in-suficiente deles não dá conta de abarcar os aspectos mínimos da gestão que se tem que conside-rar. (A seletividade tem o seu si-métrico na qualidade seguinte.)

Cobertura. Os indicadores devem representar adequada-mente a amplitude e a diversi-dade de características do fenô-meno monitorado, resguardado o princípio da seletividade e da simplicidade.

Simplicidade. O indicador deve ser de fácil compreensão e não envolver dificuldades de cálculo ou de uso (desproporcio-nais à capacidade de tratamento da informação dos responsáveis

14 IGAE, 1997, p. 14215 Bonnefoy, 2003, p. 2316 IGAE, 1999, p. 141 (qualidade de “relação com as atividades do exercício”)

“O indicador deve funcionar na

prática, e servir ao processo de

tomada de decisão. A verificação

dessa condição é, evidentemente,

empírica: o ID deve ser testado,

modificado ou excluído quando

não atender às necessidades dos

usuários a que se destina”.

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Revista de conjuntura jul/set de 200517

pela gestão e pela avaliação)Capacidade de ser medido.

O indicador deve materialmente ser passível de medição para o âmbito subjetivo, temporal e geográfico para o qual se lhe quer calcular, o que requer que se cumpram as seguintes carac-terísticas:17

custo razoável: as informa-ções necessárias ao cálculo do indicador devem ser coletadas e atualizadas a um custo razoável; em outras palavras, a manutenção da base de dados não pode ser dispendiosa frente aos benefícios esperados da utilização do indi-cador; como componente desse custo razoável, pode-se também suscitar a não-redundância (cada ID deve ser único e não repetir informações ou dimensões de outro ID escolhido18);

acessibilidade: deve haver possibilidade e facilidade de acesso às informações primá-rias, bem como de registro e manutenção para o cálculo dos indicadores;

critérios definidos: o indi-cador deve ter a ele associada uma clara definição dos critérios aplicáveis para determinação de seu valor;

periodização: o indicador deve ser capaz de correlacio-nar-se, sem ambigüidades, com os resultados de um período de tempo predefinido; caso con-trário, não conterá informação capaz de associar um determi-nado ato ou política (que são

executados sempre ao longo de um período de tempo também determinado) aos resultados ob-servados;

estabilidade: a estabilidade conceitual das variáveis compo-nentes e do próprio indicador, bem como a estabilidade dos procedimentos para sua elabora-ção, são condições necessárias ao emprego de indicadores para avaliar o desempenho ao longo do tempo (trata-se de um reflexo intertemporal do princípio da homogeneidade, já examinado).

Por fim, uma qualidade que não é, em si técnica, mas que tem conseqüências relevantes no su-cesso da implantação dessa téc-nica: a participação, o envolvi-

mento no processo de elaboração do indicador de todos os atores relevantes, com o fim de asse-gurar a legitimidade e reforçar o compromisso com os objetivos e indicadores resultantes (sendo o indicador e o objetivo que pre-tenda avaliar os mais consensuais possíveis dentro da organiza-ção)19. Conquanto não seja, em tese, requisito de consistência do indicador escolhido, o grau de participação em sua elaboração deve merecer consideração por parte dos auditores e envolvidos com o processo de implantação de ID numa organização.

Estas qualidades devem naturalmente ser apreciadas no contexto em que se insere a

17 Este critério ou qualidade (“Capacidade de ser medido”) é uma adaptação a partir de IGAE, 1997, p. 141-142, que incorpora de maneira mais precisa e completa os conceitos de economicidade e acessibilidade do TCU.

18 Bonnefoy, 2003, p. 23. O TCU chama a essa qualidade “economicidade” (TCU, 2000, p. 13), denominação que substituímos por dar ensejo a confusão com a dimensão de desempenho de mesmo nome, que veremos logo a seguir.

19 Bonnefoy, 2003, p. 23; IGAE, 1997, p. 29.

“As informações necessárias ao

cálculo do indicador devem ser

coletadas e atualizadas a um custo

razoável; em outras palavras, a

manutenção da base de dados não

pode ser dispendiosa frente aos

benefícios esperados da utilização do

indicador; como componente desse

custo razoável, pode-se também

suscitar a não-redundância”.

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utilização do ID. Assim, a insta-lação numa organização de pro-cedimentos de coleta e análise de informações para preparação de ID pode ser trabalhosa, a princípio, caso não existam as referidas informações. Estariam assim, aparentemente, com-prometidos o custo razoável e a acessibilidade. No entanto, a análise que concluiu pela conve-niência daquele ID pode deixar claro que a disponibilidade e o uso daquelas informações é im-prescindível para o atingimento dos objetivos da gestão (ou seja, quando não se poderia gerenciar validamente sem dispor e usar

tais informações), quando então o levantamento dos indicadores já representa em si mesmo um passo para a correção de uma falha estrutural na organização ou programa. Em outro caso, a existência de erros ou lacunas na coleta ou estruturação da informação pode requerer uma modificação considerável das es-pecificações ou dos procedimen-tos relativos a essa informação, como conseqüência da implan-tação dos ID. Aparentemente, rompe-se com a estabilidade, mas essa ruptura é nesse caso também imprescindível para que as demais qualidades (especial-

mente a confiabilidade) possam ser associadas aos indicadores. (Ou seja, neste caso a série his-tórica acumulada não tem utili-dade para comparação, devendo ser utilizada apenas a série que se inicia com a correção dos problemas detectados na implan-tação do ID.)

Um pequeno alerta, porém: os indicadores são um instrumento, não um fim em si mesmos. Este caráter instrumental às vezes passa um pouco despercebido no curso de uma metodologia de trabalho de auditorias com prazo determinado, que tende a buscar um retrato informacional daquilo que se audita. Esta prioridade é perfeitamente válida, mas o audi-tor não pode jamais esquecer que o principal usuário potencial do ID é a própria entidade (ou seus stakeholders permanentes, como clientes, acionistas, usuários). Neste sentido, o indicador repre-senta um investimento essencial-mente da própria entidade audi-tada na geração de informação, o que deve sempre fazer lembrar o princípio de que toda informação tem um custo, e sua utilidade tem que ser contrastada com esse custo.20 Para isto, em maior ou menor medida os indicadores devem guardar coerência com o processo de planejamento e ges-tão da entidade auditada (“tra-duzir sua visão e estratégia”)21. Assim, os dilemas que descreve-mos no parágrafo anterior devem sofrer por parte do auditor a mais cautelosa ponderação: ao pôr

20 Hopp & Leite, 1988, p. 6321 Niven, 2005, p. 17; no mesmo sentido, IGAE, 1997, p. 57: prestação de contas e controle (onde inserem-se os ID “constituyen los elementos

de referencia para la retroalimentación del sistema en sus distintas vertientes, estratégica, presupuestaria y operativa.”

“Os Indicadores são um instrumento,

não um fim em si mesmos. Este

caráter instrumental às vezes passa

um pouco despercebido no curso

de uma metodologia de trabalho de

auditorias com prazo determinado,

que tende a buscar um retrato

informacional daquilo que se audita.

Esta prioridade é perfeitamente

válida, mas o auditor não pode jamais

esquecer que o principal usuário

potencial do ID é a própria entidade”.

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em evidência as lacunas entre a organização da informação exis-tente e a necessária para gerar os indicadores, a auditoria pode estar detectando uma fragilidade estratégica – e mission critical – da entidade auditada (caso em que se justifica plenamente o investimento na produção dos ID), e desta forma agregando valor significativo ao cliente-au-ditado. Eventualmente, porém, a proposta de indicadores formu-lada pelo auditor pode estar sim-plesmente exigindo informação desconectada da visão, estratégia

e operações dessa entidade. Ao vislumbrar essa possibilidade, o auditor deve aplicar o seu melhor juízo profissional para validar ou não sob essa perspectiva os indicadores escolhidos, não dis-pensando nunca a opinião dos próprios gestores e técnicos da entidade auditada.

3) USANDO INDICADORES DE DESEMPENHO - DIMEN-SÕES DO DESEMPENHO

A estrutura teórica da audi-toria de natureza operacional

desenvolveu diferentes perspec-tivas para abordar o desempenho de uma atividade ou função: são as chamadas dimensões do desempenho22. As dimensões do desempenho orientam também a construção de indicadores de desempenho; sugerem quais os ângulos da atividade examinada que os ID construídos devem abranger, para que possam ofere-cer uma visão da gestão com um grau de relevância razoável. São dimensões de desempenho de uso amplamente disseminado na prá-tica profissional.

Dimensão Definição Exemplos

Economicidade

Minimização dos custos dos recursos utilizados na consecução de uma atividade, sem comprometimento dos padrões de qualidade.

As licitações para contratação de serviços de Informática resultaram em preços menores, mantida a qualidade dos serviços?

Eficiência

Relação entre os produtos (bens e serviços) gerados por uma atividade e os custos dos insumos empregados, em um determinado período de tempo.

Houve aumento no número de veículos reparados em uma oficina de manutenção, mantidos os padrões de qualidade, e os custos diretos e indiretos permaneceram constantes ou diminuíram?

Eficácia

Grau de alcance das metas programadas, em um determinado período de tempo, independentemente dos custos implicados.

O número de crianças vacinadasna última campanha de vacinação atingiu o programado? As rodovias privatizadas foram recuperadas dentro do prazo previsto?

Efetividade

Relação entre os resultados alcançados (impactos observados) e os objetivos (impactos esperados) que motivaram a atuação institucional.

O programa “médico de família” redundou na redução da mortalidade infantil?

Eqüidade

Medida da possibilidade de acesso aos benefícios de uma determinada ação por parte dos grupos sociais menos favorecidos em comparação com as mesmas possibilidades da média do país.

O programa de reforço escolar permitiu que os alunos de menor condição sócio-econômica reduzissem a distância de seus resultados escolares em relação à média geral de alunos ?

22 Para uma descrição exaustiva, vide Anglès, , 1999, pp. 13-20 e 37; TCU, 2000B, pp. 107-109

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Atentar para as dimensões de desempenho permite escolher um mix de indicadores que cubra suficientemente os objetivos da avaliação que se pretende. Por exemplo, de nada adiantaria analisar a economicidade dos custos de uma organização que não consiga produzir os serviços para os quais foi criada – baixas eficiência e eficácia – ou que não resulte em qualquer impacto positivo na sociedade – baixa efetividade. Desta forma, é necessário, em cada auditoria, distribuir os ID´s de forma que abranjam, em seu conjunto, to-das ou a maioria das dimensões do desempenho. A escolha desse mix dependerá, uma vez mais, da contextualização do traba-lho que se realiza: a dimensão de eqüidade, por exemplo, tem muito mais relevância em orga-nizações e programas de perfil assistencial; aquelas instituições relativas às funções típicas do poder de polícia estatal (fisca-lização em geral, regulação de atividades privadas) apresentam em geral pautas de ação muito mais rígidas, nas quais a efici-ência e a efetividade ganham maior importância.

4) PREPARANDO OS INDICA-DORES DE DESEMPENHO: O MAPA DE PRODUTOS

O mapa de produtos é uma técnica de análise organizacio-nal utilizada para a obtenção de indicadores de desempenho. Aqui, a palavra produto tem uma conotação muito específica: PRODUTO é um bem, um ser-viço ou uma condição resultante de atividade(s) de uma organi-zação ou de um indivíduo. São

exemplos de produtos: “benefí-cios de um programa”, “estradas conservadas”, “correspondência datilografada”, “pacientes aten-didos”. Já quando se fala em “implementar um programa”, “conservar estradas”, “datilogra-far correspondência” e “atender pacientes”, está-se tratando das atividades das quais resultam tais produtos.

Um mapa de produtos é um arranjo gráfico no qual se ali-nham três componentes básicos: insumos, produtos intermedi-ários e produtos finais. Ele se assemelha a uma linha de pro-dução ou de montagem, onde o importante (e o que fica regis-trado graficamente) é o produto gerado em cada fase, em vez do processo (ou atividade) que ge-rou o produto.

ESTRUTURA BÁSICA DE UM MAPA DE PRODUTOS

No mapa de produtos as setas indicam que a existência do con-teúdo da caixa à esquerda (insu-mo ou produto intermediário) é necessária para que se produza o conteúdo da caixa à direita (pro-duto intermediário ou final).

Para a elaboração de um mapa de produtos, deve-se contar preferencialmente com a participação do pessoal da ins-tituição auditada, pois é quem

melhor conhece as atividades desempenhadas, os produtos resultantes, os objetivos e a missão da instituição. Essa par-ticipação contribui para a elabo-ração de um mapa de produtos capaz de refletir a realidade da instituição.

A melhor forma de captar essa participação é por meio da montagem do mapa de produtos em workshops com a participa-ção do pessoal-chave da insti-tuição ou do programa auditado, que, sob a orientação da equipe de auditoria, vai montando, pas-so a passo, o mapa de produtos. Os passos a serem seguidos no workshop, basicamente, são:

1 - utilizar a técnica de brains-torm, incentivando os partici-pantes a identificar os possíveis produtos resultantes das ativida-des da instituição. Os produtos identificados podem ser anotados em etiquetas autocolantes;

2 - definir qual é o produto final e quais são os intermedi-ários. Colar a etiqueta que des-creve o produto final na parede da sala ou em alguma superfície lisa existente, em local visível a todos;

3 - selecionar um pequeno número de produtos que sejam essenciais para a função ou ati-vidade sob exame. Considerar um máximo de dez produtos,

INSUMO

INSUMO

INSUMO

INSUMO

PRODUTO INTERMEDIÁRIO

PRODUTO INTERMEDIÁRIO

PRODUTO FINAL

PRODUTO FINAL

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Revista de conjuntura jul/set de 200521

embora algumas atividades mais complexas possam exigir um número maior;

4 - verificar quais produtos (A, B, C etc.) deveriam ter sido obtidos numa fase imediatamente anterior à de obtenção do produto final. Colar as etiquetas referen-tes a esses produtos à esquerda daquela(s) que representa (m) o(s) produto(s) final(is);

5 - verificar quais produtos (X, Y, Z etc.) deveriam ter sido obti-dos numa fase imediatamente an-terior à de obtenção dos produtos A, B, C etc., e assim por diante. Cole as novas etiquetas sempre à esquerda das anteriores;

6 - utilizar o mapa de produ-tos para mostrar de que forma esses produtos se relacionam entre si e com o produto final;

7 - desenhar o mapa, utili-zando software apropriado, nor-malmente disponível em pacotes para escritório, distribuindo-o aos participantes;

Algumas recomendações devem ainda ser observadas na geração de um mapa de produto:

a) o produto final não deve ser um resultado genérico, mas algo mensurável; assim, de nada adianta definir o produto final como “fiscalização abrangente realizada”, o que seria aceita-velmente substituído por “ações de fiscalização realizadas e en-cerradas atingindo os resultados previstos na legislação”;

b) o uso de bloco de notas autocolantes facilita a montagem do mapa, pois permite que se rearranjem os produtos até ser obtida uma seqüência adequada;

c) a efetiva participação dos auditados é essencial; o papel do

auditor em auditoria operacional no workshop deve ser o de faci-litador, incentivando os próprios participantes a elaborar o mapa de produtos. Caso o auditor te-nha elaborado suas próprias pro-postas de produtos a considerar, ele deve aguardar para expô-las tão – somente após encerrada a apresentação e acolhimento das propostas dos integrantes da organização, exatamente para evitar que a posição do auditor no processo iniba ou direcione o raciocínio original dos gestores e técnicos;

d) o tempo deve ser controla-do, já que as discussões acerca de quais os produtos que devem constar no mapa podem tornar-se acaloradas e prolongar-se de-masiadamente.

Para identificar os produtos-chave (passo 3 acima), voltam a cobrar importância os aspec-tos de custo (ex: produtos cuja obtenção demanda muito mais recursos que os demais), critici-

dade no processo produtivo (ex: produto de cuja obtenção de-pendem vários outros) e tempo (produto que determina o tempo total gasto na obtenção do pro-duto final).

5) FORMULANDO INDICA-DORES DE DESEMPENHO A PARTIR DO MAPA DE PRODUTOS

Os produtos-chave identifi-cados no mapa de produtos são a chave para a construção de indicadores de desempenho. A fase crucial na elaboração dos indicadores de desempenho é, então, a formulação de questões sobre economicidade, eficiên-cia, eficácia e efetividade em torno dos produtos-chave23. Definidos estes, todos os par-ticipantes do workshop devem ser instruídos para que se co-loquem no lugar dos gerentes da instituição e tentem definir as perguntas para as quais

“O papel do auditor em auditoria

operacional no workshop deve ser o de

facilitador, incentivando os próprios

participantes a elaborar o mapa de

produtos. Caso o auditor tenha elaborado

suas próprias propostas de produtos,

ele deve aguardar para expô-las após

encerrada a apresentação das propostas

dos integrantes da organização”.

23 Sem descartar a dimensão da eqüidade, especialmente se a atividade auditada tem caráter assistencial ou distributivo.

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Revista de conjuntura jul/set de 200522

provavelmente gostariam de obter respostas a respeito dos referidos produtos. Essas são as questões que realmente interes-sam a respeito dos produtos. Os participantes devem também in-dicar se tais perguntas referem-se à economicidade, à eficiên-

É importante destacar que enfoque do workshop não deve recair sobre os indicadores, mas sobre as questões a que os indicadores devem responder. Se durante o workshop com o pessoal-chave tais questões não forem formuladas, partindo-se diretamente para a elaboração dos indicadores, vários proble-mas poderão surgir:

a) os indicadores sugeridos não refletirão os produtos-chave que se deseja mensurar;

b) será proposto um número excessivo de indicadores;

c) existirá uma tendência em se sugerir indicadores que refli-tam o impacto do produto final,

cia, à eficácia ou à efetividade. Chegando a um consenso, os produtos e as perguntas devem ser anotados em lugar visível a todos. A resposta a estas per-guntas, então, será um embrião de indicador de desempenho.

Voltando ao exemplo da enti-

dade de fiscalização, se o produ-to-chave é “ações de fiscalização realizadas e encerradas atingindo os resultados previstos na legisla-ção”, algumas questões pertinen-tes, e as propostas de indicadores correspondentes, poderiam ser as seguintes:

Dimensão Questão formulada Proposta de indicador

Eficiência

Quanto custa cada ação de fiscalização realizada e encerrada atingindo os resultados previstos na legislação?

Custo por ação (custo total / número de ações de fiscalização realizadas e encerradas atingindo os resultados previstos na legislação)

EficáciaQual a proporção de ações bem-sucedidas, tendo por resultado os previstos na legislação ?

Grau de sucesso da fiscalização (total de ações de fiscalização encerradas / total de ações de fiscalização realizadas e encerradas atingindo os resultados previstos na legislação)

EfetividadeQuais as conseqüências da ação de fiscalização sobre o cumprimento da lei pelos administrados ?

Série histórica da evolução do número de infrações à lei tal como previstas na legislação

ou de um único produto (outco-me), em vez dos produtos cuja obtenção depende tão-somente das ações da instituição.

É claro que indicadores de efetividade deverão ser consi-derados, mas em conjunto com outros que abordem as demais dimensões, que estão mais sob a esfera de influência da ação do organismo examinado.

Identificados os indicadores, a equipe de auditoria provavel-mente contará com um número muito grande de potenciais in-dicadores. O passo seguinte é selecionar os mais relevantes. Essa tarefa, por mais que se tente tornar objetivo o critério

de seleção, envolve muito de subjetividade, sendo extrema-mente necessário contar-se com a experiência do pessoal da instituição auditada. Por isso, embora a equipe de auditoria possa realizar diretamente essa tarefa, não deve nunca deixar de submeter os seus resultados aos profissionais da organização auditados. Sobre isto, deve ainda ser reiterado que:

a) são necessários poucos indicadores; um número exces-sivo de indicadores irá sobrecar-regar a instituição na obtenção de informação necessária ao seu cálculo. “Os indicadores devem ser suficientes para cobrir todos

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Revista de conjuntura jul/set de 200523

os aspectos importantes do pro-grama, serviço ou organização analisados, mas não podem ser tantos que ocultem estes aspec-tos importantes.”24;

b) é preciso que os indica-dores cubram a maior parte dos produtos-chave25 e forneçam informações de economicidade, eficiência, eficácia e efetivida-de26. Deve-se evitar a concentra-ção de indicadores em torno de um único produto, e procurar fa-zer-se uma distribuição equilibrada dos indicadores entre produtos e entre dimensões;

c) os indicadores de desempe-nho devem ser comparativos. Por exemplo: “número de treinamentos efetuados” não é um indicador, mas sim “número de treinamentos efetuados comparado com o núme-ro planejado”;

Para auxiliar a seleção dos indi-cadores, pode ser aproveitada uma metodologia simplificada, baseada na experiência australiana27.

1) Para cada indicador poten-cial, atribuem-se notas de 1 a 5 nos seguintes quesitos:

benefício: as melhorias po-tenciais decorrentes de se utilizar aquele indicador na avaliação do desempenho;

relevância: a relevância do indicador para os objetivos da ins-tituição;

acessibilidade: a disponibi-lidade de dados para cálculo do indicador.

controle: o quanto de controle a instituição teria sobre o indica-dor.

2) Multiplicam-se as notas de cada um, obtendo-se valores entre 1 e 625.

3) Selecionam-se os indica-dores que obtiveram os maiores produtos.

Após a identificação dos indi-cadores, deve-se proceder à sua “depuração”, mediante entrevistas com os gerentes da instituição, para se discutir com eles a ade-quação desses indicadores. Ba-sicamente, a pergunta que deve ser colocada para eles é: “Se os gerentes necessitarem de resposta a esta pergunta, este indicador de desempenho fornecerá a resposta esperada?”. Provavelmente será necessário revisar os indicadores várias vezes, especialmente em áreas onde não existam medições diretas nem facilidade para obten-ção de informações.

6) MANTENDO E UTILIZAN-DO INDICADORES DE DE-SEMPENHO

O passo final consiste na fi-xação de metas de desempenho a serem atingidas pela instituição, que deverão ser aferidas pelos indicadores de desempenho elabo-rados. Cabe aos gestores a fixação de tais metas, devendo ao auditor tão-somente verificar se elas são:

a) realísticas: levam em conta os objetivos da instituição, o con-texto econômico em que está inse-rida, as limitações orçamentárias, o desempenho anterior etc.;

b) exeqüíveis: são passíveis de serem atingidas, pois, se não forem, serão vistas como meros ideais e não terão influência prática no comportamento da instituição;

c) desafiadoras: as metas devem representar objetivos de incremento em relação à realidade presente, para encorajar a melhoria

24 Anglès, 1999, p. 48. O mesmo autor propõe (p. 55) que “uma bateria de indicadores, portanto, deve mover-se entre quatro e seis indicadores”.25 Para alguns desses produtos, pode não ser necessário desenvolver indicadores de desempenho, pois eles não serão produtos críticos para a

organização ou programa (estão no mapa apenas para facilitar o seu entendimento) ou não serão produtos que necessitem de monitoramento regular (por serem produtos cujo acompanhamento deve ser efetuado no nível operacional e não no nível gerencial, ou por serem conseqüên-cias automáticas de outros produtos, estes sim monitorados).

26 Ou também eqüidade, conforme a missão da organização.27 Trata-se apenas da apresentação de uma experiência bem-sucedida. Utilizando esse critério, os 27 potenciais indicadores inicialmente encon-

trados numa auditoria realizada no Australian Office of Multicultural Affairs foram reduzidos para apenas 8 indicadores de desempenho. O auditor deve permanecer inteiramente livre de formular critérios ou metodologias adaptados às peculiaridades do caso que estiver tratando.

“O passo final consiste na fi-

xação de metas de desempenho

a serem atingidas pela

instituição, que deverão ser

aferidas pelos indicadores de

desempenho elaborados”.

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do desempenho e incentivar que a instituição busque a otimização dos resultados a partir dos recursos disponíveis. A elevação das metas pode ser disposta em intensidade crescente ao longo do horizonte de tempo para as metas (metas incre-mentais de curto prazo, metas am-pliadas para médio prazo e metas ambiciosas para o desenvolvimen-to a longo prazo da organização)28;

d) comparáveis: podem ser comparadas internamente à ins-tituição, ou externamente, com outras instituições de reconhecido bom desempenho na área;

e) claras: são facilmente identi-ficáveis. Não sendo, podem gerar ambigüidade na sua compreensão e aplicação29.

Modelos mais sofisticados de indicadores de desempenho prevê-em a combinação matemática entre os diversos indicadores (mediante ponderações de diversas naturezas) para montar indicadores compos-tos por outros indicadores.30 Isso pode ser contemplado em nível te-órico-metodológico, porém parece evidente que a sua concretização depende de um considerável ama-durecimento das partes envolvidas (auditor e organização auditada) na construção e aplicação de indica-dores simples, ao longo de vários ciclos de gestão.

É necessário ressaltar que a definição de metas (ou critérios) para o valor esperado dos indica-

dores é essencial para a realização da maior parte dos projetos de auditoria de natureza operacional, uma vez que são exatamente a comparação de condições encon-tradas com critérios predetermina-dos. No entanto, em situações nas quais se está exatamente montando um sistema de indicadores a par-tir de uma realidade em que não existem31, é admissível que uma primeira etapa de trabalho seja apenas a montagem e validação do sistema de indicadores (tanto mais quanto mais precária for a dispo-nibilidade prévia das informações requeridas). Após um determinado período em que este sistema tenha sido posto em prática, uma segun-da etapa deve ser a interpretação dos indicadores e a fixação de me-tas para os mesmos.

Por fim, não se pode esquecer que a produção da informação relativa a indicadores de de-sempenho pode sofrer inúmeros percalços, tanto em razão da difi-culdade e custo intrínsecos à sua elaboração, quanto em função de

interesses dos prestadores de in-formação em direcionar de tal ou qual maneira os dados (interesse este que será tanto maior quanto mais influência tiverem os indi-cadores de desempenho na gestão da organização ou programa32). Desta forma, a plena utilização dos indicadores não prescinde da adoção de rotinas de validação permanente da informação coleta-da, mediante controles internos e mecanismos de auditoria apropria-dos. Esta necessidade, porém, não representa apenas um ônus para a organização: na medida em que as dimensões selecionadas pelos indicadores de desempenho são relevantes para a missão da enti-dade ou programa, uma atenção constante sobre os dados corres-pondentes reforça a percepção e a consciência dessas prioridades em todos os segmentos envolvi-dos. Utilizando a formulação do Ministério de Fazenda do Chile, “eliminar inconsistências entre os afazeres da instituição e seus objetivos prioritários”33.

28 Niven, 2005, pp. 222-227. Este autor exemplifica como meta de longo prazo a meta da Administração Kennedy, formulada em 1961, de levar um norte-americano à Lua antes do final da década de 1960.

29 Como já vimos, os indicadores de desempenho são também uma ferramenta de comunicação da organização.30 IGAE, 1997, p. 161 et seqs.31 Casos típicos de um trabalho de consultoria ou de auto-desenvolvimento da própria administração da organização.32 Anglès, 1999, pp. 54-55, oferece um breve rol de possibilidades de manipulação dos indicadores (acelerar ou retardar gastos correntes ou de

capital; retardar a contratação de pessoal para minimizar o custo da folha de pagamento; diferir as despesas discricionárias; alterar o método de contábil alocação de despesas gerais; substituir registros contábeis no regime de competência pelo regime de caixa, e vice-versa).

33 Bonnefoy, 2003, p. 16, Recuadro 1

*Fernando Moutinho Ramalho BittencourtEconomista e consultor; Analista de Controle

Externo no Tribunal de Contas da União

Page 25: 23-revista

Revista de conjuntura jul/set de 200525

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Revista de conjuntura jul/set de 200526

C o n v ê n i o s d e A s s i s t ê n c i a e o u t r o sC o n v ê n i o s d e A s s i s t ê n c i a e o u t r o s

M a i s i n f o r m a ç õ e s n o s i t e : w w w . c o r e c o n d f . o r g . b r

NOVOS CONVÊNIOS

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3961-3500. SITE: www.atlanticahotels.com.br. E-MAIL: [email protected].

Vantagens: os descontos acordados para os associados à toda rede Atlântica Hotels inclusive no Metropolitan Flat. de Brasília estão relacionados em arquivo no site do CORECON-DF em con-vênios. A Atlântica Hotels possuem hotéis em Brasília-DF, São Paulo-SP, Recife-PE, Porto Alegre-RS, Londrina-PR, Fortaleza-CE, Goiânia-GO, Minas Gerais-MG, Espírito Santo-ES, Curitiba-PR, Aracaju-SE, Natal-RN, Macaé-RJ.

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4145. Contato: João Bosco Ribeiro (Coordenador BSB) ou Re-nata Lessa (Monitora BSB). SITE: www.fgvsp.br/gvnet. E-MAIL: [email protected].

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Vantagens: descontos corporativos nas pós-graduaçõs lato sensu e nos MBA’s, no percentual de 15% em até 5 alunos, de 20% de 6 a 10 alunos, e de 25% de 11 alunos em diante, em cada turma. Descontos também em todos os cursos livres de pequena média e curta durações que sejam abertos ao público, nos mesmos percen-tuais acima em relação aos respectivos preços cheios.

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xador - Setor Comercial Sul. Fone: (61) 3233-4092, 3223-1936 ou 3223-4469.

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• Multicópias SCS Qd. 02, Bloco B, Sobrelojas 07 a 15 do Ed. Palácio do Comér-

cio - Setor Comercial Sul, Brasília-DF, CEP 70.318-900 - Fone: (61) 3036-2780. E-MAIL: [email protected].

Vantagens: desconto de 15% para pagamento a vista em todos os serviços oferecidos pela empresa.

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Fone: (61) 3244-9329 ou 3442-8326. Vantagens: 40% de desconto nas consultas de pediatria geral e

endocrinologia pediátrica, e 20% de desconto nas consultas de homeopatia pediátrica. Obs: consultas com hora marcada.

• Theriaga - Farmácia de Manipulação W3 Sul Qd. 507, Bloco B, Lojas 09/10. Cep: 70.351-520. Fone: (61)

3443-4591 e Fax: (61) 3443-7126. Vantagens: compras de R$ 40,00 a R$ 89,00, 6% de desconto;

compras de R$ 90,00 a R$ 159,00, 7% de desconto; compras aci-ma de R$ 160,00, 11% de desconto. Obs: descontos não válidos para suplementos e medicamentos industrializados

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este. Fones: (61) 3341-2114 - Fax: (61) 3342-5668. SITE: www.ibepdf.com.br. E-MAIL: [email protected].

Vantagens: preço especial para economistas regularmente registra-dos no curso de MBA em Empreendedorismo e Projetos Financei-ros, que está disponível no site: www.corecondf.org.br/convenios.asp (link para maiores informação no nome do curso)

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CEP 72.000-995 Fone: (61) 3397-5251. SITE: www.maua.com.br ; E-MAIL: [email protected].

Vantagens: descontos de 20% sobre as mensalidades nos cursos de pós-graduação lato sensu.

• Penna Fernandez, Safe Carneiro & Caldas Pereira Advogados Associados

SHIS, QL 14, conjunto 07, casa 12, Lago Sul, Brasília/DF CEP: 71640-075. Fone: (61) 3364-3040 – E-MAIL: [email protected].

Vantagens: a banca oferece descontos progressivos na assinatura do Plano Corporativo de Assistência Jurídica.

CONVÊNIOS RENOVADOS (benefícios adicionais)

• Ótica Paulo Santana Ltda SCLS 104, Bloco “C”, loja 01 - Asa Sul. Fone: (61) 3225-3288. Vantagens: 15% nas compras a vista sobre o preço de tabela.

Faturamento pelo preço de tabela, com uma entrada mais quatro pagamentos, em 30, 60, 90 e 120 dias, sem acréscimo.

• Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mer-cado de Capitais - APIMEC

SHCS CR QD 507 Bloco “C” Loja 21 – 2° Pavimento – Asa Sul – Brasília-DF.

Fone: (61) 3443-4003. SITE: www.apimecdf.com.br. E-MAIL: [email protected].

Vantagens: para os economistas registrados e em dia com suas obrigações, descontos e/ou valores diferenciados em cursos, nas mesmas condições oferecidas aos próprios associados da entidade promotora.

• Revitare – Centro de Estética Avenida W3 Sul, Qd. 516, Bl. “C”, Sl. 29. Fones: (61) 3245-3540 /

9103-3889. Vantagens: 20% de desconto para pagamento a vista nos trata-

mentos corporais; 10% de desconto para pagamento a vista no tratamento facial; ou, ainda, desconto de 10% para pagamento em até quatro vezes nos tratamentos corporais; avaliação corporal e facial grátis, e a primeira sessão de tratamento corporal grátis.

CONVÊNIOS RECADASTRADOS

• Editora da UnB Fones: (61) 3226-7312 / 3226-6874. SITE: www.editora.unb.br. E-MAIL: [email protected]. Vantagens: 15% nas compras a vista em publicações da Editora

UnB; 5% nas compras de publicações de terceiros (os descontos não se aplicam a produtos em promoção).

• Hotel Mar del Plata, Praia Hotel e Victória Palace Hotel Av. Madre Maria Vilac, esq. Rua dos Eucaliptos, Canasvieiras

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Revista de conjuntura jul/set de 200527

C o n v ê n i o s d e A s s i s t ê n c i a e o u t r o sC o n v ê n i o s d e A s s i s t ê n c i a e o u t r o s

M a i s i n f o r m a ç õ e s n o s i t e : w w w . c o r e c o n d f . o r g . b r M a i s i n f o r m a ç õ e s n o s i t e : w w w . c o r e c o n d f . o r g . b r

- Florianópolis/SC. CEP 88.054-001. Ligações Nacionais: (48) 266-1949, 9982-0499. SITE: www.mardelplata.com.br e www.vitoria-palacehotel.com.br. E-MAIL: [email protected] .

Vantagens: 20% de desconto no valor da tabela vigente no período de baixa temporada (15 de abril a 15 de dezembro), e desconto de 10% da tabela vigente no período de alta temporada (15 de dezem-bro a 15 de abril).

• Hotel Quinta Santa Bárbara Situado à Rua do Bonfim, nº 1, Pirenopólis - Goiás. Fone: (62) 331-

1304. Vantagens: 20% para ocupações feitas no período de baixa tempo-

rada; 10% para ocupações feitas nos períodos de alta temporada, isto é, fins de semana, férias e feriados (os descontos não se apli-cam às diárias de hospedagem em promoção).

• Editora Contexto Cadastre-se no SITE: www.editoracontexto.com.br . E-MAIL: [email protected]. Vantagens: 20% de desconto para livros de Economia.

• Pousada Camelot Rodovia GO 118, Km 168, entrada da cidade de Alto Paraíso/GO.

Fones: (62) 3446-1581 (reservas) e 3446-1449. SITE: www.pousa-dacamelot.com.br. E-MAIL: [email protected].

Vantagens: 15% de desconto nas hospedagens pelo preço de balcão a todo associado acompanhado de seus dependentes.

• Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) Vantagens: as publicações encontram-se à disposição no CORE-

CON-DF, com 30% de desconto para economistas em dia.

• Instituto de Cooperação e Assistência Técnica da Associação de Ensino Unificado do Distrito Federal – ICAT/AEUDF

Fone: 3224-2905. SITE: www.aeudf.br . Vantagens: 10% de desconto nos cursos de pós-graduação.

• Rede de Drogarias Rosário Fone: (61) 3212 1000. Vantagens: 8% de desconto pela tabela da

Drogaria Rosário.

• Convênio de cooperação e parceria CORECON-DF / CRA-DF Cooperação e parceria visando à soma de esforços e recursos,

com o objetivo de promover a realização de cursos para os as-sociados. Matrículas nas mesmas condições dos associados dos respectivos Conselhos.

• Hotel Manhattan Plaza SHN Quadra 02 Bloco “A” - Setor Hoteleiro Norte/Asa Norte. Fone: (61) 3319-3543 e Fax: (61) 3328- 5685 (Manhattan Plaza

Hotel) SITE: www.manhattan.com.br. E-MAIL: reservas@manhattan.

com.br. Vantagens: 54% de desconto de 2ª a 6ª-feiras sobre a tarifa-balcão

e 62% de 6ª a 2ª-feiras sobre a tarifa-balcão para os economistas de todo o Brasil registrados e em dia com suas obrigações, bastan-do para tal benefício apresentar sua carteira profissional.

• Hotel Kubitschek Plaza SHN Quadra 02 Bloco “E” - Setor Hoteleiro Norte/Asa Norte. Fone:

(61) 3319-3543 e Fax: (61) 3328- 9366 (Kubitschek Plaza Hotel). SITE: www.kubitschek.com.br . E-MAIL: [email protected].

br . Vantagens: 54% de desconto de 2ª a 6ª-feiras sobre a tarifa-balcão

e 62% de 6ª a 2ª-feiras sobre a tarifa-balcão para os economistas de todo o Brasil registrados e em dia com suas obrigações, bastan-do para tal benefício apresentar sua carteira profissional.

• Hotel Alvorada SHS Quadra 04 Bloco “A” - Setor Hoteleiro Sul/Asa Sul. Fone:

3322-1122. SITE: www.alvoradahotel.com.br. E-MAIL:

[email protected]. Vantagens: 20 % de desconto na alta temporada sobre a tarifa-bal-

cão e 30% de desconto sobre a tarifa-balcão em baixa temporada para os economistas de todo o Brasil registrados e em dia com suas obrigações, bastando para tal benefício apresentar a carteira profissional.

• Aracoara Hotel SHN Quadra 05 Bloco “C” - Setor Hoteleiro Norte/Asa Norte. Fone:

(61) 3424-9222 e Fax: (61) 3424-9200 SITE: www.aracoara.com.br. E-MAIL: [email protected]. Vantagens: 40% de desconto de 2ª a 6ª-feiras sobre a tarifa-balcão

e 50% de desconto de 6ª a 2ª-feiras sobre a tarifa-balcão. Essas vantagens são oferecidas aos economistas de todo o Brasil regis-trados e em dia com suas obrigações, bastando para tal benefício apresentar sua carteira profissional.

• Hotel Porto da Ilha Rua Dom Jaime Câmara, 43 - Florianópolis/SC. Fone: (48) 3322-

0007. SITE: www.portodailha.com.br. E-MAIL: [email protected]. Vantagens: descontos: 25% de segunda a sexta-feiras, e 28%

sábado e domingo, sobre o valor da diária, com apresentação da carteira de identidade profissional.

• Cambirela Hotel Av. Max Schramm, 2199 - Florianópolis/ SC. Fone: (48) 281-3100. SITE: www.cambirela.com.br . E-MAIL: [email protected] . Vantagens: desconto: 30% sobre o valor da diária de balcão vigen-

te, com apresentação da carteira de identidade profissional. • Baía Norte Palace Hotel Av. Rubens de Arruda Ramos, 220 - Florianópolis/SC. Fone: (48)

229-3144. SITE: www.baianorte.com.br . E-MAIL: [email protected]

. Vantagens: desconto de 25% sobre o valor da diária, com apresen-

tação da carteira de identidade profissional.

• Hotel Coronel Bertaso Av. Getúlio Dorneles Vargas, 52-S - Chapecó/SC. Fone: (49) 322-

4444. SITE: www.hotelbertaso.com.br. E-MAIL: reservas@hotelbertaso.

com.br . Vantagens: desconto de 20% sobre o valor da diária, com apresen-

tação da carteira de identidade profissional.

• Coral Plaza Hotel Rua Felipe Schmidt, 1320 - Florianópolis/SC. Fone: (49) 225.6002. SITE: www.coralplaza.com.br. E-MAIL: coralplaza@westcoral.

com.br . Vantagens: desconto de 40% sobre o valor da diária, com apresen-

tação da carteira de identidade profissional.

• Hotel Carlton SHS Quadra 05, Bloco “G” - Setor Hoteleiro Sul. Asa Sul. Tel: (61) 3224-8819 e Fax: (61) 3226-8109 (Carlton Hotel Brasília). SITE: www.carltonhotelbrasilia.com.br . E-MAIL:

[email protected] . Vantagens: desconto de 50% sobre as tarifas de hospedagem-

balcão de 2ª a 5ª-feiras e desconto de 60% sobre as tarifas de hospedagem-balcão de 6ª-feiras a domingos, com a apresentação da carteira de identidade profissional. Observação: sobre todas as tarifas acrescentar 10% de taxa de serviço.

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Revista de conjuntura jul/set de 200528

A R T I G O

Lições do passado

O Governo Lula vive há al-guns meses uma grave crise, que atinge também de forma violenta o Partido dos Trabalhadores. Tra-ta-se de uma crise absolutamente previsível, pois simplesmente se está colhendo o que foi plantado, já que sua origem está no proces-so de degeneração que atingiu o PT e que se transplantou para o Governo (o que não é novidade, se analisarmos o histórico de vários partidos de esquerda em todo o mundo). Afinal, desde meados dos anos noventa vinham ocorrendo no PT financiamentos caríssimos de campanhas políticas e relações estranhas com setores empresariais em Governos estadu-ais e municipais com administra-ções petistas, e que vinham sendo amplamente questionados pelos setores da esquerda do Partido.

A responsabilidade direta des-ta crise deve ser essencialmente creditada aos membros da cúpula do Governo e do PT (os que co-meteram atos ilícitos e os que se omitiram), que têm operado na busca, a qualquer custo, das con-dições de governabilidade. Para garantir esta tal governabilidade, o Governo Lula estabeleceu dois pilares: a política econômica e a política de alianças.

No primeiro caso, implemen-

tou, desde o primeiro momento, uma política econômica que é a mera continuidade, senão aprofundamento, da praticada por FHC, assentada num brutal arrocho fiscal e elevada taxa de juros, seguindo rigorosamente a receita do FMI. As metas de inflação cada vez mais baixas, combinadas com as elevadas ta-xas de juros, têm proporcionado uma crescente elevação dos juros reais, atraindo investidores exter-nos e uma enxurrada de dólares, o que explica a forte apreciação do real nos últimos meses. A con-seqüência desta política tem sido a transferência anual pelo setor público de nada menos que 8% do PIB (cerca de R$ 130 bilhões) para os “agiotas legalizados”, a título de pagamento da dívida pública.

De outro lado, proporciona às grandes corporações nacionais e internacionais as mais elevadas taxas de lucro da História do País. No primeiro semestre de 2005, os vinte maiores lucros de bancos e empresas nacionais e transnacio-nais totalizaram 24,7 bilhões de reais, com crescimento de 67,2% sobre igual período de 2004, que já havia sido recorde.

O resultado tem sido um pífio crescimento da economia, que

Júlio Miragaya *

a equipe econômica insiste em apresentar como um desempe-nho extraordinário. Se o PIB crescer em 2005 os 2,8% inicial-mente projetados pelo IPEA, a média do Governo Lula nestes três anos será de 2,73%. Para os desavisados, trata-se de um resultado abaixo das já sofríveis médias nos Governos Figueire-do (2,86%), Sarney (4,42%) e Itamar (5,39%), e acima apenas de FHC (2,32%) e Collor (-1,30%). Repare-se que se está comparando com os governos de piores desempenhos dos últimos 80 anos. Fica evidente que a tal fundação de bases sólidas para um crescimento sustentado para os próximos 10 ou 15 anos, apre-goada por Palocci / Meirelles, é uma peça de ficção que não resiste à crítica de um calouro de Economia. E o agravante é que este pífio crescimento ocorre concomitantemente com uma acentuada aceleração da concen-tração de renda no País.

Quanto à política de alianças, o Governo Lula jogou por terra toda a elaboração política cons-truída pelo PT ao longo de duas décadas, de que a convivência com um Congresso majoritaria-mente conservador (vinculado aos interesses da classe domi-

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Revista de conjuntura jul/set de 200529

Lições do passadonante) se daria a partir da mo-bilização dos setores populares, para pressioná-lo pela aprovação de medidas de interesse popular (algumas poucas conquistas na Constituinte de 1988 acontece-ram desta forma). Mas para a pauta conservadora que o Go-verno tem encaminhado ao Con-gresso, esta estratégia não faria o menor sentido. Para implementar um programa conservador, me-lhor seria estabelecer uma aliança com a direita mais ideológica (PSDB) e não com a fisiológica (PL, PTB, PP), pois assim, pelo menos, se evitariam estes casos mais escandalosos de corrupção.

Enfim, toda a ação de gover-no está submissa ao esforço de geração de superávit primário, e todos os compromissos históricos (e de campanha) do PT foram escanteados: reforma agrária, duplicação do valor real do salá-rio mínimo, distribuição de renda etc. Os verdadeiros traídos neste País foram os militantes do PT, por sua alta cúpula, e a classe trabalhadora, por um programa de governo que não é o seu

Mas para implantar uma e outra política, tão frontalmente contrárias aos princípios e às tra-dições do Partido, o maior obstá-culo estaria nas bases do próprio PT, onde haveria resistência a esta “conversão”. Era necessário superá-la, e, num processo que não é recente, a sua primeira ví-tima foi a democracia interna no Partido. A gradativa supressão da democracia interna no PT ini-ciou-se com a redução do papel dos núcleos de base ainda nos anos oitenta. Em seguida, veio a substituição dos congressos anuais do Partido (com delegados

eleitos desde os núcleos de base) por congressos a cada dois e de-pois, três anos (com eleição atra-vés do “filtro” e sem discussão na base). Por fim, separou-se do congresso o processo de eleição dos dirigentes, fazendo-se esta com base num processo absolu-tamente despolitizado (o PED), mediante a votação em urna, sem o prévio e indispensável (para o bem da democracia) debate e avaliação do desempenho dos dirigentes.

Este processo apresenta uma incrível semelhança com o que se passou na década de 1920 com o Partido Comunista (Bolchevique) na Rússia, e que, para desgraça da humanidade, transformou o sonho de milhões de homens e mulheres de todo o mundo, de construção de uma sociedade

socialista livre e igualitária, no “inferno” stalinista.

Dmitri Volkogonov, em “Stálin – Triunfo e Tragédia”, destacou que, nos 7 anos entre a Revolução de 1917 e 1924, com Lênin à frente do Partido, ocorre-ram 7 congressos do Partido Bol-chevique, e que após a morte de Lênin, com a ascensão e consoli-dação de Stálin, foram realizados 5 congressos em seus 28 anos de ditadura (1928, 1930, 1934, 1939 e 1952). Lembrou que Stálin “to-mou medidas para reduzir drasti-camente a característica coletiva (do Partido) da tomada de deci-sões...., o Partido transformara-se numa máquina obediente para a execução das ordens da ‘persona-lidade dominante”.

O segundo passo no PT foi o de se abortar toda e qualquer ma-

“Toda a ação de governo está

submissa ao esforço de geração

de superávit primário, e todos os

compromissos históricos (e de

campanha) do PT foram escanteados:

reforma agrária, duplicação do valor

real do salário mínimo, distribuição

de renda etc. Os verdadeiros traídos

neste País foram os militantes do

PT, por sua alta cúpula, e a classe

trabalhadora, por um programa de

governo que não é o seu”.

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Revista de conjuntura jul/set de 200530

nifestação no Partido divergente da posição oficial (na verdade, de sua cúpula). Parlamentares e militantes foram expulsos do PT por defenderem (e votarem) po-sições distintas das definidas pela “maioria”, muito embora, por via de regra, estivessem de acordo com as posições programáticas do Partido.

Mais uma vez as semelhanças são grandes: Isaac Deutscher, em “Trotsky – o Profeta De-sarmado”, afirma que, em 15 de outubro de 1924, um docu-mento de destacados membros do Partido Bolchevique (Carta dos 46) protestava contra a hie-rarquia de secretários e contra o sufocamento das discussões internas, alegando que os con-gressos e conferências regulares do Partido, cheio de delegados nomeados, deixaram de ser re-presentativos, e exigiam que a proibição de grupos dentro do Partido fosse abolida ou relaxa-da. E exigiam que se convocasse uma conferência de emergência para examinar a situação.

Outro processo com grande semelhança é o de inchaço e corrupção do Partido. Segundo Deutscher, “ Em princípios de 1917 (o Partido Bolchevique) ti-nha apenas 23 mil membros em toda a Rússia...e em 1922 seus quadros elevaram-se para 700 mil. A maior parte desse cres-cimento, porém, já era espúria. A corrida para o lado vencedor fazia-se então a todo vapor. O Partido tinha de preencher nu-merosos postos no governo.....Em meio a essa massa de arri-vistas, os verdadeiros bolche-

viques foram reduzidos a uma pequena minoria. Sentiram que estavam sendo esmagados pe-los elementos estranhos, assim classificados: carreiristas vul-gares, ex-membros dos partidos antibolcheviques e bolcheviques corrompidos pelo poder e pelos privilégios”. Nada a acrescentar.

Que fique claro que pedidos de desculpas ou a simples exclu-são de alguns nomes da cúpula do PT e do Governo, embora in-dispensáveis, nada resolverá se os organismos e os métodos per-manecerem com os mesmos ví-cios. Mas ainda há tempo de sair

do impasse, e o primeiro passo deve ser restaurar a democracia interna no PT. A convocação de uma conferência extraordinária do Partido se faz absolutamente necessária para que se faça um real balanço destes dois anos e meio de Governo e aponte para uma mudança completa nas po-líticas econômica e de alianças.

Em tempo, este não é um artigo de ataque ao PT ou ao Governo Lula, mas sim de defe-sa da regeneração do Partido, da correção de rumos do Governo e contra o acuo das organizações populares pelas forças de direita.

* Júlio MiragayaEconomista, ex-presidente do CORECON/DF e

filiado e ex-dirigente do PT/DF e PT/RJ (artigo originalmente enviado para a revista Teoria e Debate, do PT).

“Que fique claro que pedidos de

desculpas ou a simples exclusão de

alguns nomes da cúpula do PT e do

Governo, embora indispensáveis,

nada resolverá se os organismos e

os métodos permanecerem com os

mesmos vícios. Mas ainda há tempo

de sair do impasse, e o primeiro passo

deve ser restaurar a democracia

interna no PT”.

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Revista de conjuntura jul/set de 200531

Existe hoje uma grande preocupação com os cursos de graduação da área econômica, os quais estão sofrendo uma nítida queda nas matrículas. A sensa-ção é de que só as universidades públicas irão formar economis-tas nos próximos anos. Qual é o motivo dessa retração? Será que não há mais interesse na área econômica? Por que o merca-do não está absorvendo nossos formandos? Nossa atividade econômica não depende mais de profissionais da área?

Essas e outras perguntas são lançadas sem que se tenha res-postas adequadas. As informa-ções que nos chegam mostram o lado da oferta do mercado. Mas as características e exigências da demanda não são conhecidas de forma clara. Não se sabe quais as habilitações e habilidades que o mercado deseja dos economis-tas formados. O Serviço Público já não exige para uma série de funções e cargos tipicamente econômicos, que concursado

A R T I G O

O mercado de trabalho para o economista

Humberto Vendelino Richter *Fabio Nogueira Carlucci *

seja economista (embora mais de 50% dos candidatos que passam nos concursos públicos sejam economistas). O que o mercado demanda de caracterís-ticas e de perfil do economista parece não corresponder ao que estamos lançando no mercado. Cabe-nos, portanto, verificar quais são os requisitos demanda-dos pelo mercado. Esse é o obje-tivo desta proposta de pesquisa.

1. Introdução

O meio ambiente, representa-do pelas empresas e instituições que empregam profissionais de nível superior, está sofrendo mudanças fundamentais tanto em nível nacional quanto mun-dial. Os fatores responsáveis por essas mudanças estão ligados ao atual processo de globalização, que vem exigindo adaptações no modelo de gestão e de competi-ção das organizações econômi-co-financeiras. Mudaram, assim, as necessidades dessas organi-

zações em relação ao perfil da mão-de-obra de nível superior, o que vem ocasionando uma pres-são sobre os modelos de gestão dos cursos de graduação, no sentido de se adaptarem a essas novas demandas do mercado de trabalho. Os atuais programas de ensino superior, com um di-recionamento erudito, baseado na formação humanística do aluno e na formação clássica do pesquisador, voltada mais para problemas específicos, estão produzindo profissionais que não atendem aos atuais desejos da demanda do mercado de tra-balho.

Segundo Balbchevky (1998) e Tachizawa (2002), a forma-ção oferecida nos cursos de graduação, mesmo quando bem sucedida, não consegue produzir profissionais capazes de solu-cionar criativamente problemas das empresas e instituições atuantes no mercado, as quais vêm desenvolvendo uma cres-cente diversificação horizontal

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Revista de conjuntura jul/set de 200532

de atividades, aumentando a competição e fazendo com que as fatias de mercado mudem rapidamente. Na opinião des-ses autores, as instituições de ensino superior, doravante aqui denominadas de IES, devem acompanhar essas mudanças do mercado para poder competir e sobreviver. Em outras palavras, uma IES deve acompanhar aten-tamente as mudanças da deman-da de mercado para manter sua posição competitiva. É preciso que o profissional produzido pelas IES apresente um conjunto de habilidades, competências e conhecimentos que esteja sendo desejado pelas organizações contratantes.

2. O problema

A demanda por vagas em cursos de Administração, Conta-bilidade e Economia, entre ou-tros, vem declinando em Brasília desde 2002. Dos nove cursos de Economia oferecidos naquele ano, atualmente só funcionam sete. É provável que passem a ser apenas seis em 2006. O principal motivo parece ser a queda de demanda do mercado de trabalho desses profissionais. No caso dos economistas, o fe-nômeno é nacional, devido ao fechamento, nos últimos oito anos, do principal segmento da demanda, que é o Serviço Públi-co, além da crise econômica dos últimos quatro anos. Por outro lado, o segmento privado, tanto das empresas econômicas como financeiras, não está absorvendo

pesquisa sejam utilizados como subsídio para o presente estudo, o perfil do economista desejado pelo mercado de trabalho é di-ferente do administrador, tanto pelas suas atribuições como pelas exigências de sua capaci-dade de trabalhar em contextos multidisciplinares e de enfrentar situações inusitadas de risco e de incerteza no meio econômico e social.

Assim, este trabalho se pro-põe fazer uma pesquisa quanti-tativa e qualitativa sobre a de-manda do mercado de trabalho do economista. Os resultados poderão trazer importantes sub-sídios para a gestão do ensino de Economia, e sua constante reformulação, principalmente

os economistas recém-formados. Cabe verificar os reais motivos dessa retração.

O Conselho Federal de Administração realizou uma pesquisa, em 1998, de âmbito nacional, quantitativa e qualita-tiva, para verificar as demandas de mercado de administrado-res, entrevistando empresá-rios/executivos, empregadores, professores de cursos de Ad-ministração e administradores formados. Os dados e resultados forma publicados por Tachizawa (2002), sendo que, segundo o autor, ¨os resultados poderiam ser perfeitamente estendidos às demais categorias profissionais¨ afins. Embora os dados daquela

“A demanda por vagas em cursos

de Administração, Contabilidade

e Economia, entre outros, vem

declinando em Brasília desde 2002.

Dos nove cursos de Economia

oferecidos naquele ano, atualmente

só funcionam sete. È provável que

passem a ser apenas seis em 2006. O

principal motivo parece ser a queda

de demanda do mercado de trabalho

desses profissionais”.

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Revista de conjuntura jul/set de 200533

para as IES que estão enfrentan-do o problema da diminuição das margens de lucro, devido à queda na demanda de vagas nos cursos, e que estejam necessitan-do diminuir os custos unitários operacionais, ao mesmo tempo mantendo um ensino de qualida-de e adequado às necessidades da sociedade e do mercado.

3. Revisão da literatura

A relação entre escolaridade, mercado de trabalho e renda tem sido estudada no Brasil, princi-palmente pela equipe técnica do IPEA. Essas pesquisas têm utili-zado muitos dados das pesquisas mensais de emprego (PME) pu-blicadas pelo DIEESE e IBGE nas décadas de 80/90. Assim, pesquisadores como BARROS (1997 e 2004), CORSEUIL (...), REIS e IRANI (1996), SOARES (2001) e outros, procuram de-terminar os fatores relacionados com o emprego, desemprego e renda no Brasil. Com base nos resultados dos estudos desses autores, bem como publicações de RAMOS (2003), foi feita uma síntese por RICHTER (2003 e 2004), mostrando, entre outros dados, que, como a rela-ção entre taxa de desemprego e o nível educacional (anos de escolaridade) tem a forma de U invertido, o trabalhador com maior escolaridade e experiência apresenta um taxa de desempre-go menor. Também ele alcança postos de trabalho mais bem re-munerados. BARROS (2004), ao reunir e sintetizar a maior parte

dessas pesquisas realizadas pela equipe do IPEA, mostrou que existe uma associação altamente positiva entre qualificação dos trabalhadores e qualidade dos postos de trabalho. Entretanto, uma vez que esteja desempre-gado, sua volta ao mercado de trabalho leva mais tempo, o que mostra o crescente estreitamen-to do mercado de trabalho para pessoas com maior nível educa-cional. Assim, se estudar não é uma total garantia de emprego, não estudar significa piores con-dições e posições de emprego, ou mesmo desemprego.

A pesquisa mais específica sobre demanda de profissionais de nível superior em nível na-cional foi realizada com o apoio do Conselho Federal de Admi-nistração em 1998. Responde-ram a essa pesquisa 300 empre-gadores, 783 administradores

formados e 246 profissionais em Administração.

Os empregadores apontaram muitas deficiências na formação escolar dos recém-formados em Administração, devido a cinco principais problemas do curso de Administração:

a) curso teórico e pouco prá-tico; b) muito repetitivo e com ma-térias inúteis; c) generalista, não proporcio-nando especializações; d) currículo mal-adaptado; e) não proporciona uma visão geral da organização empre-sarial.

As sugestões principais dos empregadores para as IES, visando à adequação da estrutura do curso às necessidades desse segmento de mercado, foram as seguintes:

“A relação entre escolaridade,

mercado de trabalho e renda

tem sido estudada no Brasil,

principalmente pela equipe técnica

do IPEA. Essas pesquisas têm

utilizado muitos dados das pesquisas

mensais de emprego (PME)

publicadas pelo DIEESE e IBGE nas

décadas de 80/90”.

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Revista de conjuntura jul/set de 200534

a) aproximar-se das empresas para conhecer o dia-a-dia das mesmas; b) ampliar a especialização em certas áreas durante o curso de graduação; c) ensinar mais o aluno a pensar; d) investir mais na qualifica-ção dos professores; e) fazer convênios e parcerias com organizações empresariais.

A pesquisa com os profis-sionais formados entrevistados evidenciou que:

a) o currículo é genérico, desatualizado e não prepara para o mercado de trabalho; b) as IES não acompanham as mudanças do mercado;

c) as deficiências na forma-ção do ensino básico repercu-tem negativamente na quali-dade do aluno e do ensino; d) os professores não se atua-lizam (conseqüência do baixo nível salarial); e) há diferenças entre os alunos do curso diurno e no-turno; f) o mercado está exigindo especialização.

As sugestões desses adminis-tradores formados, face ao apon-tado, foram:

a) as IES devem manter uma constante consulta às institui-ções empregadoras, para co-nhecerem suas necessidades; b) devem manter cursos de

especialização dentro da graduação ou além da gradu-ação; c) precisam estimular ou apoiar a atualização dos pro-fessores; d) convém acompanharem o desempenho dos ex-alunos; e) devem desenvolver a em-presa-júnior e laboratórios para estimular o empreededo-rismo; f) precisam manter um siste-ma de avaliação interna e de consulta aos alunos.

Na pesquisa com os profes-sores, cuja maioria (79,4%) era oriunda de IES particulares, os principais problemas apontados foram:

a) deficiência de infra-estru-tura nas IES; b) classes superlotadas, la-boratórios insuficientes e bibliotecas com acervo insu-ficiente; c) fraco desempenho dos alu-nos ingressantes (baixo nível de conhecimento); d) baixa remuneração e ine-xistência de plano de cargos e salários; e) falta de integração entre a teoria e a prática, ocasio-nando formação deficiente, em relação ao perfil desejado pelo mercado; f) falta de investimento na atualização e reciclagem dos docentes; g) ausência de apoio pedagó-gico suficiente.O estudo não registrou as sugestões dos professores.

“As IES devem manter uma constante consulta às instituições empregadoras,

para conhecerem suas necessidades e devem manter

cursos de especialização dentro da graduação ou além

da graduação”.

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Revista de conjuntura jul/set de 200535

Em complementação a essa pesquisa, estudo divulgado pelo MEC/INEP (1988) mostra a opi-nião dos alunos sobre a eficácia dos seus cursos, quanto ao seu aperfeiçoamento profissional. A maior parte dos formandos sente que o curso deveria ter exigido mais deles e que o mesmo não contribuiu para qualificá-lo, em relação às exigências do mercado.

4. Objetivos

4.1 Objetivo geral

Determinar o perfil do eco-nomista desejado pelo mercado de trabalho em Brasília.

4.2 Objetivos específicos

Determinar as críticas e su-gestões dos empregadores em relação ao curso de Ciências Econômicas;

Determinar as críticas e sugestões dos economistas for-mados, em relação ao curso que fizeram;

Determinar as críticas e su-gestões dos professores do curso de Ciências Econômicas.

Identificar as necessidades dos empregadores e atribuições exigidas de conhecimentos, cria-tividade, habilidade e atitudes dos economistas;

Identificar as áreas de es-pecialização profissional, de interesse dos empregadores, em nível de pós-graduação;

Comparar os dados e resul-tados desta pesquisa com outras

pesquisas, bem como com as diretrizes curriculares do Minis-tério da Educação;

Gerar subsídios para o pla-nejamento estratégico e a gestão das IES e do MEC, visando ao aperfeiçoamento profissional do economista.

5. Metodologia

5.1 Pesquisa qualitativa

Representa a primeira fase da pesquisa, devendo oferecer subsí-dios na formulação da segunda fase.

Organizar 4 (quatro) grupos de discussão sobre aspectos rela-cionados ao tema desta pesquisa, ou seja:

• empregadores, envolvendo empresários/administradores e dirigentes de instituições públicas e privadas;• economistas que estejam ativos no mercado;• professores de Economia;

• estudantes de Economia.

Cada grupo, coordenado por um moderador, irá fazer uma discussão livre, seguindo o conteúdo de um roteiro prees-tabelecido, abordando aspectos relacionados:

• às oportunidades de traba-lho para os economistas;

• ao perfil desejado do econo-mista, quanto a conhecimentos, criatividade, habilidades e ati-tudes;

• a uma avaliação da qualidade dos cursos de Economia (ou Ci-ências Econômicas) oferecidos no Distrito Federal e Entorno;

• à perspectiva profissional do docente de Economia;• à avaliação dos programas de educação continuada;• à legislação sobre a profis-são de economista;• à visão dos estudantes do ensino médio sobre a profis-são de economista;• ao nível de conhecimentos dos alunos ingressantes.

“Estudo divulgado pelo MEC/INEP

(1988) mostra a opinião dos alunos

sobre a eficácia dos seus cursos,

quanto ao seu aperfeiçoamento

profissional. A maior parte dos

formandos sente que o curso

deveria ter exigido mais deles”.

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Revista de conjuntura jul/set de 200536

5.2 Pesquisa quantitativa

Será realizada por meio da aplicação de questionários que serão distribuídos aos quatro grupos estudados: empregado-res/instituições; economistas formados; professores de Econo-mia; alunos.

A elaboração dos questio-nários tomará como base os resultados obtidos da pesquisa qualitativa. Esses questioná-rios serão pré-testados para sua maior eficácia na obtenção fide-digna das respostas e sugestões formuladas.

A composição dos quatro grupos amostrais levará em con-ta as populações prováveis dos quatro grupos a serem questio-nados e/ou entrevistados.

5.3 Modelo estatístico para o tratamento e análise dos dados

A estratégia de tratamento

dos dados consistirá na análise quantitativo-descritiva dos da-dos, a ser conduzida por meio de processo univariado e multiva-riado de tratamento de dados.

A descrição dos dados será elaborada por meio da análise da distribuição de freqüências das questões sobre informações pes-soais, profissionais etc; contidas nos questionários aplicados e tabulação cruzada dos mesmos.

Para a obtenção das relações

* Humberto Vendelino RichterMestre em Economia pela UCB, Assessor Técnico

do DIEESE na CONDSEF e Conselheiro do CORECON/DF

Fabio Nogueira CarlucciEconomista

de causa e efeito, os dados se-rão analisados com o auxílio do software EXCEL 2000, da Microsoft, e o software estatís-tico SPSS v.13 for Windows. O processamento será realizado de acordo com técnicas estatísticas adequadas a cada objetivo da pesquisa.

As técnicas que serão utiliza-das são as apresentadas a seguir:

• análise exploratória dos dados;

• teste de independência de qui-quadrado;

• cálculo e análise das medi-

das de associação; • testes de homogeneidade e

para diferença das médias entre os quatro grupos (empregadores/instituições, economistas forma-dos, professores de Economia e alunos de cursos de Economia);

• análise de variância para a igualdade das médias populacio-nais dos quatro grupos amostrais a serem questionados e avalia-dos;

• gráficos e estatísticas biva-riadas, tais como: diagramas de dispersão, correlação e regressão para dados contínuos e regressão logística para dados categóricos.

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Revista de conjuntura jul/set de 200537

M A N I F E S T O

A Crise da RepúblicaManifesto dos Economistas por uma Nova Política Econômica

Todos afirmam que a Repú-blica está em crise. Nós tam-bém consideramos que a crise é profunda. Mas sobre qual crise falamos? Nós acreditamos que a Nova República, nascida sobre os escombros da ditadura em 1985 prometendo um país melhor, finalmente sucumbiu diante dos interesses das classes dominantes no País, e morreu. A crise atual - política, econômica, social e ética - somente pode ser resolvida se os pilares do acordo que sustentou a transição da ditadura para a de-mocracia, e que foram protegidos e alimentados por todos os go-vernos posteriores a ela até o mo-mento, forem substituídos por um programa que atenda as demandas mais sentidas da população e resgatem a soberania nacional e popular que toda República digna deste nome deve possuir.

A estratégia econômica, que elegeu o combate à inflação como principal objetivo político, fracassou por completo e está esgotada, não obstante ainda te-nha muitos defensores dentro e fora do governo. Após inúmeros planos, o povo está mais pobre: o Brasil não é o país do mundo com maior concentração de ren-da, porque um país africano nos supera (Serra Leoa). Somente no

ano passado, o número de milio-nários - pessoas com ativos supe-riores a U$ 1 milhão de dólares - cresceu 7%; atualmente, quase 100 mil pessoas controlam 50% da riqueza do País.

O programa econômico e polí-tico concebido e aplicado inicial-mente no governo de Fernando Henrique Cardoso, e que ainda nos comanda, necessita ser súbita e urgentemente substituído. Este programa - conhecido original-mente como Plano Real, e que na atualidade atende pelo nome de “estabilidade econômica” - não somente gerou milhões de pobres, mas segue comprometendo o fu-turo de várias gerações, ao alienar o território, multiplicar o endivi-damento estatal e aprofundar a dependência do País.

A austeridade aplicada sobre o povo, com cortes sistemáticos no investimento social e crescentes recursos destinados ao pagamento das dívidas - interna e externa - aprofundou a relação parasitária e predatória do empresário nacio-nal e estrangeiro com o Estado brasileiro. O aumento de impostos é para pagar os juros da dívida, e esta garante lucros seguros a todos aqueles que investem nos títulos da dívida pública: ban-queiros, empresários, rentistas de

toda ordem. A corrupção de par-tidos e políticos é apenas a face mais visível de um processo mais profundo que somente pode ser corrigido com eficácia se o Estado for fortalecido e desprivatizado. A privatização e a debilidade do Estado são as principais fontes de corrupção no Brasil!

Os donos do poder afirmam que as exportações podem salvar o País, mas a verdade é que esta opção esquece a vitalidade do mercado interno e mantém os salários baixos como condição para competir no mercado mun-dial. A dependência tecnológica é crescente, e as medidas tomadas ao longo deste ano, para fortale-cer a saída exportadora, somente aumentaram a vulnerabilidade externa, produtiva, monetária e financeira do Estado brasileiro.

Mas nosso principal inimigo é aquele que afirma a idéia de que não existem alternativas. Abaixo, estamos propondo um conjunto de medidas que indicam o início de uma alternativa nacional e popular para a crise atual. Elas podem e devem ser tomadas neste momen-to, em que amplas maiorias ainda defendem mudanças estruturais para nosso País e apoiariam com valentia e intensa mobilização um programa de natureza popular.

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Se aplicadas, elas inauguram um novo tempo para as maiorias, que travarão sem vacilar uma longa luta para construir uma Repú-blica democrática, destinada a fortalecer a soberania nacional e superar para sempre o subdesen-volvimento.

1. Baixar as taxas de juro real (Selic) para o mesmo nível pra-ticado nos Estados Unidos e em países vizinhos da América do Sul, como Venezuela e Argentina, ou seja, ao redor de 2,5% ao ano, e não os atuais 19,75%. Controlar as taxas de juros cobradas pelos bancos aos comerciantes e con-sumidores que chegam a mais de 100% ao ano.

2. Mudar a atual política de superávit primário no orçamento da União, que destina vultosos recursos públicos apenas para pagar juros. Aplicar os 80 bilhões de reais, recolhidos pelo governo neste ano, em investimentos que gerem emprego, em educação, agricultura familiar, reforma agrá-ria, saúde e moradia.

3. Estabelecer uma política planejada de elevação sistemática do valor real do salário mínimo e do piso das aposentadorias, como fator indutor a um modelo de pro-dução e consumo popular no País.

4. Recuperar o controle go-vernamental e público sobre o Banco Central e sobre a política monetária. Impedir a autonomia do Banco Central, que já está sen-do adotada pelos seus diretores, em conluio com os interesses dos banqueiros e do capital financeiro internacional.

5. Não assinar acordo da Alca, e não aceitar regras da OMC (Or-

ganização Mundial do Comércio) que afetem a economia brasileira e os interesses do povo.

6. Realizar uma auditoria pública da dívida externa, como determina a Constituição, e rene-gociar seu valor, já pago diversas vezes. Usar os recursos enviados para o exterior, em seu pagamen-to, para investir em educação e direitos sociais.

7. Mudar as atuais regras de reajuste das tarifas de serviços públicos fundamentais como ener-gia elétrica, água, telefone e trans-porte público. Revisar e reduzir as atuais tarifas, que alcançaram valores proibitivos e espoliantes para todo o povo brasileiro, em prol de grupos oligopólicos que passaram a dominar o setor depois da privatização.

8. Paralisar de imediato as rodadas dos leilões de exploração de áreas de petróleo. Mudar a Lei n° 9478/97 e garantir a na-cionalização do Petróleo com a

exclusividade da exploração pela Petrobrás.

9. Garantir a participação de representantes da sociedade brasi-leira e dos próprios trabalhadores em todos os conselhos de admi-nistração das empresas públicas e autarquias, em todos os níveis: federal, estaduais e municipais.

10. Adotar uma política que proteja a riqueza nacional, comba-tendo a remessa de dólares para o exterior, em forma de transferên-cias, superfaturamento das trans-nacionais, lucros, royalties etc., garantindo sua aplicação no Bra-sil. Promover a repatriação dos recursos enviados de forma legal, porém ilegítima. Adotar medidas que protejam nossa economia da vulnerabilidade externa.

Assinam este manifesto os CORECONs Regionais

e economistas.

Rio de Janeiro, 25 de julho de 2005

“Mudar as atuais regras de reajuste das

tarifas de serviços públicos fundamentais

como energia elétrica, água, telefone e

transporte público. Revisar e reduzir as

atuais tarifas, que alcançaram valores

proibitivos e espoliantes para todo o povo

brasileiro, em prol de grupos oligopólicos

que passaram a dominar o setor depois

da privatização”.

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