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.'] 15 - De 31 de janeiro a 6 de fevereiro de 1972 RIO - CrS 2,00 mmmmmmmmmmmmmmmmaaammmammmmmmaammmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm^i^^^^—Êl^»Mmm . O PECADO E O BIPARTIDARISMO 0 NEONACNNAUSMO BRAS1ER0 ' O padre que enfrentou a Coluna Prestes MILITARISMO E ANTIMILITARISMO

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  • .']N° 15 - De 31 de janeiro

    a 6 de fevereiro de 1972 RIO - CrS 2,00

    mmmmmmmmmmmmmmmmaaammmammmmmmaammmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm^i^^^^—Êl^»Mmm

    .

    O PECADO E O

    BIPARTIDARISMO

    0 NEONACNNAUSMOBRAS1ER0

    '

    O padre queenfrentou a

    Coluna Prestes

    MILITARISMO E

    ANTIMILITARISMO

  • POLITIKA

    X 2kolunaaberta

    >P^P *.,•.* ",A-**. tf*~&lg8t«*5a

    ^*m t( '* wSt^lWÊÊmm^^^^^^Kf^^Mm^mmmmmmi

    Mauritonio

    Meira

    Miguel Guttãvo

    Lembrai-vos de Cabo Frio!

    Tudo começou com uma boa intmção

    do jornalista José Amádio. Dirigia ele a

    redação de "O

    Cruzeiro", dos tempos

    dos 700 mil exemplares, e descobriu Ca-

    bo Frio para o grande público: aquela

    pracinha de casas antigas, o Canal de

    águas calmas, a praia agreste, os peixes.ali à mão - um paraíso à margem da civi-

    lização do consumo deliciando os que fu-

    giam da badalacão em busca da natureza

    não contaminada. Da boa intenção e do

    faro jornalístico de Amádio deflagrou-se

    a tempestade: a corrida de todo mundo

    para aqueles lados, os loteamentos, a ex-

    ploração comercial, os prédios de aparta-

    mentos, as cabeças-de-porco, o desfigura-

    mento que transformou Cabo Frio em-

    lugar insuportável, campo de loucas cor-

    ridas dos "play

    boys", do "fumacê"

    dos

    cabeludos, da sofisticação da grã-fina-

    gem. Amádio nunca mais foi lá, e noto,

    quando relembra, até uma ponta de re-

    morso por ter sido o responsável, por ter

    feito as águas (poluídas) da civilização

    (? ) correrem sobre a sua descoberta.

    Parece que o mesmo destino está re-

    servado para um dos mais belos lugares

    deste país: a Ilha Bela (oficialmente: Ilha

    de São Sebastião), no litoral norte de

    São Paulo, onde acabo de passar uma se-

    mana de férias. É o ideal para quem dese-

    ja se refugiar na calma da natureza e vi-

    ver e gozar o panorama vivo de um pas-sado colonial, pois tudo ali é tranqüilida-

    de e paz. Éo Cabo Frio dos tempos da

    reportagem de "0

    Cruzeiro" de José

    Amádio. De um lado, as águas calmas (e

    limpas) do canal que separa a ilha do

    Continente; do outro, o mar bravo com

    suas ondas gigantescas batendo nos ro-

    chedos, mas permitindo, aqui e ali, praias

    que exibem o mesmo panorama dos tem-

    pos em que os piratas faziam da região

    seu esconderijo e base de operações. As

    casas, antigas (algumas tombadas peloPatrimônio Histórico), guardam a fisio-

    nomia dos velhos tempos, preservadas,restauradas, tratadas com o bom gostodas pessoas sensíveis

    - mesmo as mais

    humildes. Até mesmo os hotéis, poucosmas bom, foram construídos levando em

    consideração a harmonia do conjunto.

    Uma preciosidade inacreditável: na

    Ilha Bela você descobre que existe uma

    grande brecha de exceção naquela frase

    de Nelson Rodrigues de que a "pior

    soli-

    dão é a companhia de um paulista". En-

    contramos lá três casais paulistas que são

    a negação da frase do Nelson: Eduardo

    (Ana Maria) Halim, Luís (Ivone) Morais,

    Stéfano (Elaine) Setani e o advogado Ge-

    raldo Orlando - Jndustriais, comercian-

    tas ou fazendeiros , como todo mundo

    em São Paulo, mas que, ao chegarem à

    Ilha, como* todo mundo, deixaram paratrás os negócios, as ações, a Bolsa de Va-lores, em troca do violão, das serestas,

    das madrugadas de batepapo e do bom

    conviver. Um morador antigo da Ilha me

    explicou: aquilo era outro Mundo, cada

    um na Ilha é "somente

    gente", sem os

    rótulos, sem as preocupações, sem os ve-

    zos e os vícios da guerra da sobrevivência

    das grandes cidades.

    Mas, vem o pior: começa a desfigura-

    ção lamentável: já são visíveis os sinto-

    mas da contaminação; os loteamentos, os

    motéis para as levas de pessoas da classe

    média despejadas como manadas, as

    construções modernosas, a multipotente

    sanha dos devastadores das matas, dos in-

    vaso es da praia —

    patrimônio comum -

    construindo quistos de segregação, com a

    arrogância do quero-e-faço sobre a impo-

    tência da administração local.

    é uma pena que isso aconteça - e quecontinue a acontecer. E é uma pena quea gente não possa fazer nada para impe-dir que aconteça. Mas enquanto nãoacontece, de vez, o pior, fujamos, vez.

    por outra, para lá, para gozar o melhor.

    José Amádio

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    btf^^^^^^^^^^^^^^^^^B ***** Wm^ ^H wÊmt—^^

    I. ' \ 1 mr

    MIGUEL

    De volta ao Rio, a notícia

    desagruuavtíi: a morte de Mi-

    guel Gustavo, rio auge desua capacidade de criação

    como compositor.

    Os jornais estão falando

    de suas músicas, dos suces-

    sos - sobretudo do "Pra

    frente, Brasil" que 90 mi-

    lhões de brasileiros sabemde cor. Para quem não sabe:Miguel Gustavo deixa umaobra conhecida por poucos,de prosa e de poesia eróticada melhor qualidade e domelhor bom gosto, que eledizia para os amigos, nas ro-das de uísque no

    "Le Bis-

    trô" e nas festas de casaisamigos. Toda essa obra estámimeografada nas mãos dosamigos - que vão fazendoPrlirÕPÇ nartin tlor-no *-,*-,**

    sando adiante, na impossibi-lidade de passar a barreirada censura para edições pú-blicas.

    CALMON

    De uns tempos para cá,acabou-se, para a televisão,

    a exposição de problemasimportantes para o país. Asentrevistas, poucas, só mes-mo as de Ministros, descolo-ridas como toda entrevista

    de Ministro. Os debates —

    Jarbas Passarinho

    acabaram. E mesmo os no-

    ticiosos, no que se refere

    aos assuntos nacionais, são

    contidos, a não ser quando

    se referem a planos e reali-

    zações do Governo.

    É por isso que enche de

    alegria a qualquer um ver,

    como vimos todos, no ulti-

    mo domingo a explicação

    feita no Flavio Cavalcanti

    pelo Senador João Calmon

    sobre os problemas da edu-

    cação no país. Isento, claro,

    documentado,valendo-se dos

    dados oficiais e de declara-

    ções do Presidente Mediei e

    de Ministros de Estado, o

    Senador revelou um quadro

    muito nítido (e muito tris-

    te) das deficiências e omis-

    soes que estão ocorrendo

    nesse campo.

    Seria o caso de fazer uma

    sugestão ao próprio Flavior**xa ,-,\s.r*.e-s +

    * +a-\l*rx-*xirir*\r-X t-,nr hfl-

    OUVUIOUMU, HJIHÜIIUÜ t*i*-" --¦

    se a exposição do Senador:

    por que não fazer um deba-

    te entre o Senador João Cal-

    mon e o Ministro da Educa-

    ção, Jarbas Passarinho, tam-

    bém Senador e muito bom

    de palavra? Creio que ne-

    nhum dos dois se negaria -

    e todos teríamos a lucrar,

    consideradas a penetraçãodo programa, a grandeza

    do

    tema e a posição e qualida-

    des dos personagens.

  • POLITIKA

    OliveiraBastos

    Se os jornalistas políticosfossem chamados a eleger um

    presidente da República é

    quase certo que Prudente de

    Moraes, neto estaria eleito.

    3debate

    Prudente

    de Moraes

    Neto a

    Etelvino

    Lins

    Í *a\t^**Wml**ms*m _Bl ___B* TWÊ»%\>%m\\m\ H$4H\f__\_\_m

    WSÈÈ fl•4_____. * !____ ¦ _B_9**M_^_h__^_m __E^^B ___r. tPPBH

    r / *a_i Bfl flÉ~* ILl w - ilB fl

    H^^. /fl ____P«^ "^B-^rl KHfti^ B______ «I --'^B Ew^l I

    _____________________ '____! ______: -__l __»• _iH _B

    i ______ >$§¦____* nfl h 'flpyyfl

    fl fl

    IPrudente de Moraes

    PECADO ESTA NO

    BIPARTIDARISMO__^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^_^Bk" _l__f^^__l

    Bw_»_h§« B_^- ____

    "O bipartidarismo, e não o Al-5,

    é o verdadeiro impecilho à

    redemocratização do país".Quem chegou a esta conclusão foi

    Prudente de Moraes, neto, e

    acrescenta: "Não

    o bipartidarismo

    em si mesmo, mas o

    bipartidarismo arbitrariamente

    imposto e mantido desde o AI-2.

    Se a Revolução tivesse deixado

    que os partidos se formassem

    livremente, segundo os movimentos

    de opinião, de afinidade e

    afetividade do povo brasileiro,

    estaríamos vivendo uma outra

    realidade política. Mesmo que

    aparecessem somente dois

    partidos, seria diferente.

    O que truncou todo o processo

    político brasileiro foi a

    imposição de dois partidos,

    um dos quais - o da Revolução

    - não pode, por definição, perder

    eleições, nem deixar o poder".

    Etelvino Uns

    \\

  • POLITIKA

    debate

    O grande perigo

    das portas

    de emergência é não serem

    usadas quando necessário.

    Ou

    de serem usadas a tôda

    hora

    por todos, sem

    motivo algum.

    PECADO ESTÁ NO

    BIPÂRTIDÂRISMO

    mas

    sua formula não aponta

    vordadoiro caminho"

    Em 1954, quando já estava arma-

    da a batalha pela sucessão de Var-

    gas, e nos bastidores políticos só se

    cuidava de lançar e queimar candi-

    datos, perguntaram, um dia, ao jor-

    nalista Carlos Castelo Branco quem,

    na sua opinião, deveria ser o futuro

    presidente da República.

    "Quem

    será, eu não sei; mas se dependesse

    de mim, e só de mim, o presidente

    seria Prudente de Moraes, neto".

    Nós, jornalistas políticos, temos em

    Prudente de Moraes, neto, uma es-

    pécie de patrono, anjo da guarda e

    conselheiro. Dele se pode dizer,

    também, que foi uma espécie de

    confidente dos grandes líderes

    militares que, a exemplo de Canro-

    bert Pereira da Costa, sempre so-

    nharam com a regeneração dos cos-

    tumes políticos brasileiros. Como

    conciliar a aparente contradição

    que ressalta da sedução exercida pe-

    Io velho Prudente simultaneamente

    sobre os jornalistas políticos e tan-

    tos chefes militares? A resposta es-

    tá na própria vida de Prudente, na

    raiz de sua herança familiar, na

    orgânica fusão de um pensamento

    que se faz radical para operar

    o mi-

    lagre de instituições autênticas, com

    um exemplo de conduta pessoal"inflexivelmente

    flexível". Um libe-

    ral completo, capaz de tôdas as to-

    lerâncias, no plano da convivência,

    Prudente de Moraes, neto é -- como

    eu o vejo-- intolerante com o faz-

    de-conta político, com as falsas so-

    luções de emergência, com os re-

    mendos constitucionais. No entan-

    to, essa intolerância (que o fez com-

    bater, como se fossem inimigos

    pessoais, Vargas, Juscelino e Jango),

    que muitos dirão

    "reacionarismo"

    esteve sempre posta a serviço da im-

    plantação de instituições democrá-

    ticas autênticas, no País. O que ele

    sempre, combateu foi a fraude do

    sistemá representativo que vivemos

    até 1964, e os expedientes que

    eram vícios de origem do poder

    assim constituído- Recebeu, com

    um sentimento de alívio, a revolu-

    ção de 1964. Desde o começo hipo-

    tecou solidariedade à política eco-

    nômico-financeira implantada por

    Campos e Bulhõôs. Mas não quis es-

    conder (não é de seu feitio) a sua

    decepção com os primeiros movi-

    mentos do presidente Castelo Bran-

    co para instaurar uma ordem

    nova

    com os mesmos elementos salvados

    '

    W m ' -¦ A

    IB W: *

    Kubitschek

    Ele queria

    fechar tude

    logo em 64.

    do incêndio. Nos dois jornais em

    que escrevia (o Diário de Notícias e

    O Estadão), escreveu uma série de

    artigos exigindo o fechamento su-

    mário dos partidos políticos e do

    Congresso. Foi tido como um radi-

    cal e chamado para uma conversa

    com o presidente da República.

    Nem Castelo convenceu Prudente,

    nem Prudente convenceu Castelo. A

    diferença é que Prudente está vivo e

    pode dizer hoje:

    "Foi ali que a Re-

    vokjção perdeu a sua primeira gran-

    de oportunidade de construir uma

    nova e democrática ordem poli-

    tica". E a nós, numa análise profun-

    da dos desafios que se apresentam,

    nesta hora, confiou a explicação de

    sua atitude, de sua posição, de seu

    pensamento.

    O Al—5

    Nosso objetivo era ouvir a opi-

    nião de Prudente sôbre a proposta

    de Etelvino Lins para se incorporar

    o AI-5 à Constituição como solu-

    ção para o impasse institucional.

    -- "Eu

    gosto muito do Etelvino

    Lins. Tenho muito apreço, muita

    admiração por Sle. Reconheço mes-

    mo que sua proposta constitui um

    esforço sincero e alto para encon-

    trar um caminho, um atalho para a

    redemocratização do país. Mas não

    estou convencido da adequação de

    sua fórmula ao problema concreto

    brasileiro. Diga que eu sou ligeira-

    mente cético. Não é de hoje qye ele

    vem tentando apoio nniít:^0 e mili-

    tar para essa fórmula. Creio que há

    um ano atrás ele concedeu uma en-

    trevista à revista "Veja",

    expondo o

    mesmo pensamento. Eu li apenas

    resumos dessa entrevista, divulgados

    pelos jornais. Na ocasião, escrevi

    um comentário cético sobre a pro-

    posta, não sem antes reconhecer to-

    dos os méritos de quem a lançava.

    Recebi de Etelvino uma carta afe-

    tuosa, agradecendo as referências

    elogiosas, mas pedindo-me que pro-

    curasse ler a sua entrevista, na ínte-

    gra. Não consegui o exemplar da re-

    vista "Veja"

    e os dias foram se pas-

    sando. Agora, no "Jornal

    do Brasil"

    encontrei o mesmo pensamento ex-

    posto e colhido por um mestre do

    jornalismo político que é o Wilson

    Figueiredo. Li, então, a entrevista

    com o máximo de cuidado e com o

    máximo de interesse".

    -- E, então?

    -- "Então,

    eu posso dizer que

    apenas reforcei a minha convicção

    de que a fórmula é inadequada. Tal-

    vez seja um caminho, talvez ela ve-

    nha a ser viável. Mas a minha opi-

    nião é que não é adequado encarar

    o Al—5 como a fonte única de to-

    dos os problemas nacionais. Conti-

    nuo na mesma posição do meu co-

    mentário cético ...

    -- O que foi exatamente que o sr.

    escreveu nesse comentário cético?

    FORMULA

    ETELVINO

    LINS

    O deputado Etelvino Lins acha

    que é chegada a oportunidade

    para um esfòrço de

    conciliação política e

    sustenta que 6 hora de se

    pensar num sucedâneo para o

    AI-6, através da incorporação

    de sua essência ao texto

    constitucional. Sua fórmula

    consiste numa emenda

    constitucional que determine

    a adoção do Estado de

    Segurança e do Estado de

    Emergência."No

    primeiro caso,

    isto é( o Estado de Segurança,

    seria decretado pelo

    Presidente da República, com

    a anuência do Conselho de

    Segurança Nacional,

    e sem necessidade de

    consulta ao Congresso.

    Nele, o governo disporia de

    um instrumento de fácil

    manuseio, suficiente para

    fazer face, por exemplo, à

    onda delituosa que já

    declina mas não se esgotou.

    Em Portugal, decretando o

    Estado de Subversão, o governo

    enfrenta situações

    semelhantes criadas

    pelo terrorismo.

    Já o Estado de Emergência

    corresponderia à figura do

    Estado de Sítio, devidamente

    modernizado e atualizado.

    Ele poderia ser decretado

    pelo Presidente da

    República, depois de ouvir

    o CSN, mas a iniciativa

    estaria sujeita ao referendo

    do Congresso. Não se trata

    de mera formalidade, mas

    sim de uma necessidade

    importante, porque estariam

    em jogo as imunidades

    parlamentares e as

    prerrogativas do Judiciário,

    sujeitas a ficar suspensas.

    O remédio do Estado de

    Emergência seria reservado

    para a hipótese de ocorrer

    crise institucional grave".

    (Transcrito do "Jornal

    do

    Brasil de 17/1/1972).

    Uma vez inscritas essas

    medidas na Constituição, o

    Presidente da República

    revogaria o Al-5.

  • POLITIKA

    PECADO ESTA NO

    BIPARTIOARISMO

    AI-5 não é a arma adequada

    para impedir o terror. Sua

    meta é impedir que políticos

    exerçam atividade políticanormal e necessária. Apenas.

    I5y debate g

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    Prudente do Monos Noto

    Teoricamente sempre estivemos

    armados para combater crises.- "Eu contei um episódio que

    me foi narrado, anos atrás, peloBraga Filho e que não sei dizer se éautêntico ou não. De qualquermodo, trata-se de uma fábula extra-ordinariamente bem urdida. 0 epi-sódio teria se passado com o nove-lista Ghiaroni, que ficava trabalhan-do até altas horas da noite na

    "Rá-

    dio Nacional". Numa das madruga-das em que voltava para casa, naTijuca, foi surpreendido, dentro dolotação, por uma tempestade quelogo inundou as ruas da cidade. 0motorista do lotação foi tocando,devagar, até que o volume e o impe-to das águas obrigaram-no a parar.Ficaram ali, os poucos passageiros,mais o motorista e o trocador, a veraquele rio avassalador correr poronde antes era uma rua tranqüila.Nisso, avistam um clarão sobre aságuas. E perceberam que se tratava

    de óleo derramado e que, por

    qualquer motivo havia pegado fogo.

    Era uma grande bola de fogo que

    deslizava no sentido do lotação, la

    necessariamente atingir o lotação.

    Todos pensaram no tanque de gaso-

    lina e na explosão que se seguiria.

    Houve logo pânico dentro do carro/

    com todos se precipitando para a

    .porta de saída e se atirando dentro

    d'água. Ghiaroni, que estava no

    banco de trás, percebeu que não

    conseguiria sair pela porta, em tem-

    po. Mas a seu lado, colocado ali

    como por providência divina, estava

    uma porta de emergência, com os

    tradicionais dizeres: "Em

    caso de

    perigo, quebre o vidro e puxe a

    alavanca". Ora, o perigo./ estava a

    cinco metros e o Ghiaroni não vaci-

    lou: partiu logo para. quebrar o vi-

    dro e puxar a alavanca. No que deu

    a primeira porrada no vidro, foi

    violentamente seguro pelo trocador

    que, com o rosto cheio de ódio o

    sacudia e gritava: "Seu

    estúpido,

    veja o que está fazendo! Não vê que

    isso é uma porta de emergência? "

    E impediu o Ghiaroni de" usar a

    porta porque não era uma simples

    porta, mas uma "porta

    de emergên-

    cia". É desse episódio que nascem

    as minhas dúvidas a respeito da

    fórmula do dr. Etelvino. Se a gentecria uma porta de emergência, há

    sempre o risco de haver uma reação

    como essa do trocador, mesmo

    diante do maior perigo, e há, por

    outro lado, o risco inverso de se

    converter a porta de emergência na

    saída normal".-O sr. acha, então, inviável a

    fórmula Etelvino?- "Não digo que seja inviável.

    Aparentemente, deve dar certo, fc

    uma das soluções possíveis. Mas não

    O que vejoé o beco enado mais*coincide com a minha análise da

    situação".'Qual seria, então, a saída?"Eu não estou vendo saídas. O

    que eu vejo é o beco. O impasse. E

    grande perplexidade tanto entre ci-

    vis, como entre militares".

    Em que ponto .a sua análise

    não coincide com a do deputado

    Etelvino Ljns?

    No que diz respeito à função

    do AI-5. Nós sempre tivemos, em

    nossas Constituições, armas teórica-

    mente aptas para debelar os proble-mas que surgiam. E na hora em que

    os problemas surgiam quase nunca

    foram usadas essas armas. 0 único

    fato novo e que não tinha sido

    previsto é a guerrilha urbana, o

    banditismo político e o terrorismo.

    Positivamente, não sei até que pon-to o AI-5 ou a fórmula Etelvino

    Lins poderão concorrer para debe-

    lar esse problema, que não é de

    natureza institucional. Os poderes

    constituídos já proscrevem esses

    ;atos. 0 que é importante fixar é

    que o Al—5 não se destina a comba-

    ter a subversão na sua forma atual,

    de desafio armado. O AI-5 se desti-

    na a defender a ordem instituída

    pela Revolução contra a ação poNti-

    ca partidária, do tipo das crises que

    tivemos depois do governo Dutra, e

    que possam levar disfarçadamente,

    sob a falsa aparência de cumprimen-

    to da lei, ao solapamento e à des-

    truição o regime. A ninguém pode

    .ocorrer que o Al—5 seja arma capaz

    de impedir intervenções como a de

    Lamarca, a de Marighela e de outros

    terroristas fanáticos. O AI-5, por-

    tanto, é arma contra a ação da

    política, de políticos no domínio

    político normal. Ora, contra este

    üitimo tipo de atividade não se

    invocará, jamais, pelo menos legiti-

    mamente, o "Estado

    de Emergên-

    cia" e o "Estado

    de Segurança"

    propostos pelo deputado Etelvino

    Lins".

    Militares-.Nesse caso, como o sr. inter-

    pretaria o discurso do General Ma-lan, que também propõe uma libe-ração programada e cautelosa do

    poder pol ítico?

    >• i\

  • POLITIKA

    6debata

    O Congresso foi fechado em

    1889, em 1930 e em 1937 sem

    ser desmoralizado. Muitas e

    muitas vezes só se pode ter

    Congresso íntegro fechando-o.

    PECADO ESTÁ HO

    BIPARTIDARISMO

    Muitas oportunidades foram perdidas mas

    a Revolução ainda pode reencontrar-se."0

    general Malan é um homem

    de grande vivência militar e de gran-de sensibilidade política. 0 seu dis-

    curso não chega a ser uma proposta,mas a exteriorização de um anseio,legítimo em quem tem o direito e o

    dever de se preocupar com a posi-

    ção das Forças Armadas dentro do

    processo político. Os militares bra-

    sileiros estão diante do mesmo pro-blema suscitado pela retirada das

    tropas americanas do Vietnam. É-

    coisa que todo mundo deseja e não

    sabe como fazer, por temor de quea retirada importe em ceder terreno

    ao inimigo. Este é o drama de todas

    as ocupações. A Europa, até hoje,

    vive os efeitos da vitória americana

    na guerra. A dificuldade dos milita-'

    res, em casos como esses, é o senti-

    mento de que podem perder na pazo que se conquistou na guerra",

    ECONOMISTAS

    Na mesma linha de proposi-

    ções devem ser interpretados os

    diversos pronunciamentos de eco-

    nomistas ligados ao regime, quantoà necessidade de abertura política.

    A falta de debate sobre as grandesdecisões nacionais pode se transfor-

    mar, no entender desses economis-

    tas, em obstáculo ao desenvolvi-

    mento, pela obstrução ao caminho

    de outras alternativas. O sr. concor-

    da com isso?

    "Sim, todo mundo entende e

    percebe que a normalização políticaé a solução definitiva e verdadeira.

    O problema é como chegar a ela.

    Também é verdade que os êxitos

    alcançados no terreno econômico

    só foram possíveis em conseqüência

    do poder incontrastável de decisão

    do governo. O Roberto Campos

    usou vastamente desse poder, sem o

    qual não teria conseguido o que

    conseguiu".

    OPORTUNIDADES

    PERDIDAS j

    Um dos temores do deputado

    Etelvino Lins é que o governo perca

    a oportunidade que, no seu enten-

    der, se apresenta para a conciliação

    política. O sr. acha que existe, nb

    momento, essa oportunidade?

    Não acredito em conciliação

    política, assim, sem mais nem me-

    _______________________________________________¦"' '^____r Üfl * !________________________________________________________¦

    mk \ V t ^^ I

    Bà -.^w ______________^_______________fl I

    Pedrq Aleixo

    Partido dePedro podeser a via.nos. O que tinha de haver, em mate-

    ria de conciliação política, já houve.

    Muitos cassados estão hoje integra-

    dos na vida brasileira, alguns em

    posição financeira e social até me-

    lhor do que ostentavam antes da

    Revolução. Não há mais o que con-

    ciliar. Quanto ao problema da opor-

    tunidade eu entendo que muitas

    oportunidades já foram perdidas,

    não de conciliação, mas de soluções

    radicais e de preservação de valores

    .que hoje se apresentam distorcidos

    por um longo processo de desgas-

    te".

    Explique melhor essa história

    de oportunidades perdidas. . .

    "Por exemplo: eu era favorá-

    vel, em 1964, ao fechamento dos

    partidos políticos e do Congresso,

    não por ser contra, mas porque amo

    Pedrq Aleixo

    e respeito o Congresso. Considero

    que o Congresso, fechado, não

    perde autoridade, nem se desmora-

    liza — o que não ocorre com o Con-

    gresso ceifado e desvirtuado na sua

    função, vivendo num regime em

    que é apenas tolerado. O que se vê é

    o Congresso sob ameaça perma-nente de cassações individuais, quesão muito mais graves e o atingem

    muito mais profundamente do quea providência revolucionária, curial,

    e de expressão meramente política,de seu fechamento. Veja que o Con-

    gresso foi fechado quando caiu a

    monarquia, foi fechado em 1930,

    em 1937, e a instituição não se des-

    morãl.ZOU, nãu peiueu piesiiyio,

    porque depois de todos esses fecha-

    mentos, quando se falava em Con-

    gresso o que se tinha em mente era

    o Congresso íntegro, poder sobe-

    rano da República. Essa foi a pri-meira oportunidade que se perdeu".

    PARTIDOS

    Teve outra oportunidade per-dida?

    "Sim. Perdemos outra oportu-

    nidade, não de congraçamento ou

    de conciliação, mas de criar as con-

    dições necessárias para o pleno res-

    tabelecimento da normalidade poli-

    tica, quando da edição do AI-2. Foi

    um grave erro de perspectiva poli-

    tico que o governo revolucionário

    não se limitasse a extinguir os parti-

    dos existentes.

    Em vez de deixar que outros par-tidos se formassem livremente,

    impôs o sistema bipartidário, de

    partidos criados por decreto. Parti-

    dos criados por decretos são inviá-

    veis, ilegítimos e jamais poderão ser

    efetivamente representativos. Se

    houver força e disposição para man-

    ter a ARENA e o MDB como parti-

    dos únicos, ficaremos cem anos sem

    ver os mesmos mergulhados na rea-

    lidade e no sentido popular. Sob

    este aspecto, entendo que o partido

    que o Pedro Aleixo está tentando

    criar, se o conseguir, será o primeiro

    a nascer como nascem as coisas des-

    tinadasà vida".

    Quer dizer que o senhor não vê

    saída enquanto perdurar o esquema

    bipartidário?

    Não é o bipartidarismo que

    obstrui o processo. 0 problema nas-

    ceu com a imposição do bipartida-

    rismo e com a fixação de um deles

    como expressão da Revolução. Isto

    significa que a Arena não disputa o

    poder, verdadeiramente. 0 poder

    não está em disputa. O bipartidaris-

    mo, como o AI-5 foram criados pa-

    ra impedir a atividade política.

    Então, não há porque desejar che-

    gar à atividade política através do

    bipartidarismo e do AI-5.

    Veja bem: um regime que fixa o

    número de partidos e determina

    qual o partido que deve ficar éter-

    namente no poder, não pretendenem pode (mesmo que sinceramen-

    te pretenda) ser democrático. A

    meu ver, o que se pode e deve ten-

    tar é a liquidação do bipartidaris-

    mo. 0 aprofundamento da vida

    política, que só pode ocorrer com

    partidos autênticos e representa-

    tivos, tornará o AI-5 ocioso. Então,

    é o bipartidarismo e não o AI-5 o

    verdadeiro impecilho à normaliza-

    ção democrática".

  • POUT1KA

    Sebastião

    Nery

    VERBETE: Holanda (Francisco Camilo de) nasceu na Paraíba

    em 1862. Formado em 1887 pela Faculdade de Medicina

    da Bahia, coronel-médico do Exército, foi preso no golpe

    de Estado de Floriano Peixoto. Deputado Federal pela Paraíba

    durante muitos anos, governou o Estado de 1916 a 1920.

    Morreu em 1946, deixando duas heranças perenes: a fama de homem

    terrivelmente esperto e a neta Henrieta, hoje professora Henrieta Amado,

    ex-diretora do Colégio André Maurois e glória da educação nacional.

    7ffolklore

    polítiko

    .

    CAMILO DE HOLANDA1Ferreira Dantas, amigo

    de infância do Presidente

    Camilo de Holanda (na

    quela época, governador

    era Presidente, hoje é que

    é Proconsul), era jornalista

    e lhe fazia violenta oposi-

    ção. Camilo respeitava.

    Uma manhã bem cedo,

    Camilo encontrou Ferreira

    Dantas na rua, parou o car-

    ro, ofereceu-lhe carona.

    Ferreira Dantas agradeceu,

    ele insistiu, o jornalistaaceitou. Carro em João

    Pessoa, naqueles s tempos

    (1918) era como helicóp-

    tero hoje. Coisa de gover-nador.

    O adversário no carro,

    Camilo rodou a manhã in-

    teira. Correu a cidade, pra-

    ças e subúrbios. Humilde-

    mente, deu explicações,

    anotou providências, con-

    cordou com muitas críti-

    cas, prometeu consertar

    coisas e pediu que ele con-

    tinuasse apontando os er-

    ros do governo.

    Meio-dia, quando volta-

    ram para o Palácio, a cida-

    de toda já comentava, sem

    entender, o passeio do go-vernador com seu mais ter-

    rível adversário. Camilosaltou, viu o olhar assus-

    tado dos auxiliares, man-dou o carro oficial levar o

    jornalista até o jornal e dis-se apenas isto:

    - NSo me largou a ma-nha todinha.

    2Ferreira Dantas denun-

    ciou torturas contra presosna cadeia de João Pessoa.Atacou violentamente Ca-

    milo de Holanda. "Presi-

    dente do Estado e, portan-to, responsável". E ressal-t ou a posição do Chefe dePolícia, "homem de cate-

    9pria, incapaz de convivên-cia com essas barbarida-

    O Chefe de Pol ícia man-

    dou abrir inquérito, Cami-

    lo não gostou, "porque

    ele

    está querendo é fazer mé-

    dia com a oposição". Umamanha, chamou o Chefe

    de Polícia e tocaram os

    dois para a cadeia:

    Cabo Chico Diabo, o

    que é que está havendo

    aí? Que negócio é esse de

    tortura aí na cadeia?Não é tortura não,

    Presidente. São uns ladrões

    de cavalos, uma escuma-

    lha. Eu dei uns bolos neles

    para eles aprenderem quecavalo tem dono.

    Vá buscar os ladrões.

    Vieram os ladrões:Cabo Chico Diabo,

    meia dúzia de bolos neste

    aqui. Depois, meia dúzia

    nesse aí. E meia dúzia na-

    quele ali também.

    O Chefe de Pol ícia ficou

    pálido e calado. Camilo de

    Holanda, de pé, cara fecha-

    da, espiava o teto. E os

    pobres homens gemendona palmatória grossa de fu-

    rinho no meio.

    Quando os bolos termi-

    na ram, Camilo bateu a

    mão no ombro do Chefe

    de Polícia, já branco e

    suando, sem entender na-

    da:« - Doutor Chefe de Pol í-

    cia, prossiga com o inqué-

    rito. E com rigor. Com

    todo o rigor!

    3Camilo de Holanda ti-

    nha um pecado. Só que

    sua namorada era mulher

    de um sargento da Polícia

    Militar. Uma vez por sema-

    na, já de propósito, o te-

    nente-comandante dava

    prontidão noturna no

    quartel. E o velho Camilo,

    sem sustos, saía do Palácio

    e ia ver seu amor.

    Uma noite, Camilo vai

    chegando à casa dela e vê,

    pendurado na cadeira da

    sala, o dol men do sargen-

    to. Voltou furioso ao quar-tel:

    Tenente, e minhas or-

    dens?

    Que ordens* Presiden-te?

    Prontidão rigorosa,

    que a ordem pública está

    ameaçada.

    O tenente mandou tocar

    a corneta, dentro de poucotpmpo o batalhão estava

    todo lá. De prontidãoabsoluta. Não faltava nin-

    guém.Meia-noite, Camilo vol-

    tou lépido:- Tenente, relaxa a

    prontidão que o perigo já

    passou.O perigo era ele.

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    POLITIKA

    Como está o Brasil ? Para onde

    vai o Brasil ? Esse é o campo

    de indagações e estudos do

    professor Octavio lanni

    que

    POLITIKA começa a divulgar

    Octávio

    lanni

    BRASILEIRO

    uerw ruruniu

    OCTAVIO IANNI, paulista

    de Itu (1926), professor de

    sociologia da Universidade de

    SSo Paulo e professor-visitante

    das Universidades de Oxford,

    Columbia e México,

    6 um pesquisador social de reputação

    nos mais famosos centros

    internacionais

    de ensino de sociologia.

    Seus livros estão traduzidos

    em inglês, francês, italiano e

    espanhol e com várias edições no

    Brasil "Civilização

    Brasileira") :

    "As Metamorfoses do

    Escravo" (1Ô62)

    "Industrialização e

    Desenvolvimento Social

    no Brasil" (1963)"Estado

    e Capitalismo" (1965)"Raças

    e Classes Sociais

    no Brasil" (1966)"O

    Colapso do Populismo no '

    Brasil" (1968).

    "Imperialismo Y Cultura de Ia

    Violência en America Latina"

    (México, 1970)

    "Sociologia da Sociologia

    Latino-americana" (1971)"Estado

    e Planejamento Econômico

    no Brasil: 1930 a 1970" (1972).

    Como está o Brasil? Para onde vai

    o Brasil? Esse é o campo de

    indagações, de pesquisas e de

    estudos de professor Octavio

    lanni. A partir desta edição,

    POLITIKA divulgará alguns

    trabalhos do sociólogo paulista,

    cuja obra ó indispensável

    para toda tentativa de compreensão,

    em nivel universitário,

    dos caminhos nacionais.

    E não ó outro o campo de

    POLITIKA : a análise permanente

    dos caminhos nacionais

    4

    kultura

    /

    Octavio

    lanni

  • POLITIKA

    0 neonacionalismo

    brasileiro

    A história econômica do

    Brasil orientada no sentido

    da interdependência, pouco

    a pouco

    começa a desenvolver

    seus objetivos nacionalistas

    i

    I

    I kultura

    A história econômica do Brasil,

    nos anos 1930-70, revela flutuações

    que lembram um movimento pen-

    dular. Em um dos pólos estaria o

    projeto de criar um capitalismo na-

    cional, ao passo que no outro esta-

    ria o projeto de desenvolver um sis-

    tema capitalista associado. Em

    graus variáveis, segundo as condi-

    ções políticas e econômicas vigentes

    em cada período, a política econô-

    mica governamental tem indicado

    uma ou outra direção. Mesmo quan-

    do as flutuações foram contraditó-

    rias, ou obscuras (quanto ao seu

    sentido, quanto aos pólos possíveis)

    sempre pareciam estar em jogo os

    projetos de capitalismo nacional ou

    capitalismo associado.

    A análise da política econômica

    governamental dos anos1964—70 re-

    vela o predomínio da tendência

    internacionalista. Ou seja, révela um

    conjunto de alvos, diretrizes, técni-

    cas e decisões orientado no sentido

    de impulsionar e consolidar um

    sub-sistema econômico associado

    (ou melhor, dependente). Isto é, as

    diretrizes e os objetivos econômicos

    adotados pelos Governos Castello

    Branco, Costa e Silva e Garrastazu

    Mediei implicaram na recomposição

    das relações da economia brasileira

    com a economia mundial. De fato,

    o que ocorreu foi uma reintegração

    da economia brasileira, enquanto

    sub-sistema econômico, no âmbito

    do capitalismo mundial, sob a égide

    dos Estados Unidos. Esse processo

    foi facilitado e acelerado pelas dire-

    trizes governamentais (econômicas,

    fiscais, monetárias, cambiais, sala-

    riais, etc.) que impulsionaram a

    concentração e a internacionali-

    zaçao do capital aplicado nos diver-

    sos setores da economia brasileira.

    Em conseqüência das condições fa-

    voráveis, criadas pelos governos dos

    anos 1964-70, as empresas multi-

    nacionais adquiriram importância

    relativa e absoluta ainda maior, no

    conjunto da* economia do País.

    Assim, nos anos 1964-70 o movi-

    mento pendular revelado pelas

    flu-

    tuações da política econômica

    governamental brasileira orientou-se

    na direção da "interdependência".

    Entretanto, as relações e as técni-

    cas de complementaridade e inter-

    dependência não predominaram de

    modo absoluto. Ou melhor, ao lon-

    go desses anos, pouco

    a pouco, a

    política econômica governamental

    incorporou e desenvolveu também

    diretrizes e objetivos de tipo nacio-

    nalista. Pouco a pouco, começaram

    a repetir-se nos documentos e dis-

    cursos produzidos na esfera gover-

    na mental expressões tais como:

    indústria nacional, empresário na-

    cional, poder nacional, projeto

    na-

    cional, soberania nacional, priorida-

    des nacionais, desenvolvimento

    autopropulsionado, etc. No interior

    da linguagem comprometida com a

    doutrina de interdependência surgi-

    ram, aos poucos, indícios de uma

    doutrina nacionalista.

    Assim, nesses anos, dentro e fora

    do governo, realizaram-se quatro

    debates particularmente significati-

    vos, quanto às suas conotações

    ideológicas nacionalistas: café solú-

    vel, energia nuclear, mar territorial

    e integração nacional (Amazônia).

    Note-se entretanto, que essas mani-

    festações de nacionalismo político e

    econômico estavam ocorrendo sem

    bases polítiCo-partidárias especiais,

    nem massas populares politicamen-

    te organizadas. Vejamos um exem-

    pio.

    O problema do café solúvel ilus-

    tra, em parte, a peculiaridade do na-

    cionalismo brasileiro dos anos

    1964-70. Em poucas palavras, o que

    ocorreu foi o seguinte: Em junho de

    1966 a National Coffee Associa-

    tion, dos Estados Unidos, manifes-

    tou a inquietação dos seus associa-

    dos, relativamente .ao crescimento

    do consumo norte-americano do

    café solúvel produzido no Brasil. Os

    comerciantes norte-americanos de

    café solicitavam a interferência do

    governo dos Estados Unidos, por

    intermédio dò Departamento de

    Estado, para que se pusesse fim à

    "concorrência desleal do café solú-

    vel brasileiro no mercado ameri-

    cano". De fato, o café solúvel pro-

    duzido 'por

    empresas localizadas no

    Brasil estava sendo cada vez mais

    preferido pelo consumidor norte-

    americano, devido à qualidade e ao

    preço do produto. Em conseqüên-

    cia, os comerciantes norte-ameri-

    canos de café iniciaram uma campa-

    nha em que se reclamavá contra o

    "subsídio" do governo

    brasileiro às

    exportações do café solúvel. E pas-

    sou-se a falar em dumping, promo-

    vido pelos exportadores brasileiros,

    com apoio governamental. Em

    seguida, estabeleceu-se um amplo e

    longo debate no Brasil e nos Esta-

    dos Unidos. O governo e os comer-

    ciantes de café norte-americanos

    exigiam que o governo

    brasileiro

    criasse uma taxa especial sobre o

    preço do café solúvel brasileiro,

    a

    fim de que este produto

    não conti-

    nuasse a entrar com preço demasia-

    do vantajoso no mercado interno

    dos Estilos Unidos. Ao mesmo

    tempo, o governo e os exportadores

    de café solúvel, no Brasil, procura-

    vam resistir. Alegavam que o preço

    e a qualidade eram vantagens relati-

    vas que não deveriam ser anuladas.

    E diziam que não era compreensível

    que o governo e os comerciantes de

    café norte-americanos estivessem a

    combater justamente uma manifes-

    tação positiva da economia brasilei-

    ra. Afinal de contas, dizia-se, o País

    estava industrializando, para consu-

    mir e exportar, o seu principal pro-

    duto. Dizia-se mesmo que estava em

    jogo toda uma concepção sobre

    as

    condições e as possibilidades de

    desenvolvimento de uma economia

    "subdesenvolvida".

    ^¦1 IRK BP®

    A

    0 neonacionalismo

    brasileiro

  • kultura

    O Brasil adotou uma série de

    medidas nacionalistas e não

    tem resistido às

    pressões

    exercidas de fora

    para dentro

    como no caso do café solúvel

    0 neonacionalismo

    brasileiro

    Nos debates realizados no Brasil

    lembrou-se que a Carta de Punta dei

    Este, de 1961 f recomendava a in-

    dustrialização de produtos primá-

    rios, pelos próprios países produto-

    res, como meio de superar o subde-

    senvolvimento, ou a dependência.

    Em pouco tempo, pois, apareceram

    mensagens do tipo nacionalista.

    A submissão do Brasil a pressões de

    caráter colonialista, como a que ora se

    articula contra a nossa indústria, rompe-

    ré nossas tradições de soberania e criará

    para o empresariado nacional a certeza

    de que não poderá dedicar-se a atividade

    aco.tõmica alguma que possa competir

    eficientemente com poderosos grupos

    econômicos estrangeiros, frustrados esta-

    rão os legítimos anseios de progresso e

    de independência do povo brasileiro.

    Esse debate foi levado também à

    reunião da Organização Internado-

    nal do Café, em Londres, no mes de

    setembro de 1967. E prosseguiu nos

    anos de 1968 e 1969, na imprensa,

    nas associações de classe ligadas è

    produção e comercialização do café

    solúvel e, é óbvio, nos círculos go-

    vornamentais norte-americanos e

    brasileiros. Entretanto, no dia 23 de

    abril de 1969 o governo brasileiro

    assinou decreto estabelecendo a

    taxa de 13,98% para cada libra-peso

    de café solúvel exportado para o

    mercado norte-americano.

    A decisão do Governo brasileiro de

    taxar em 13% a exportação do café solú-

    vel brasileiro deve ser recebida com tris-

    teza, pois assinala, incontestável mente,

    uma capitulação. Pode reconhecer-se que

    conseguimos reduzir consideravelmente

    as pretensões extremas do lobby norte-

    americano. Todavia, a decisão fere dire-

    tamente os princípios de soberania

    nacional e representa um recuo diante de

    ideais que temos de defender como

    Nação das mais importantes do Terceiro

    Mundo. (.. .)

    O fato indiscutível, é que, sob a pres-

    são de um grupo industrial dos Estados

    Unidos, o governo de Washington conse-

    guiu impor ao Brasil um imposto de

    exportação sobre produto industria-

    lizado. (1)

    Mas a taxa de 13,98% não satis-

    fez aos comerciantes e ao governo

    norte-americanos. Por isso, prosse-

    guiram as pressões sobre o governo

    e os exportadores do Brasil. 0 café

    solúvel produzido no País continua-

    va a desfrutar de uma posição relati-

    va vantajosa no mercado interno

    dos Estados Unidos. Em maio de

    1970, entretanto, surgiu um fato

    novo.A National Coffee Association

    aprovara resolução desaconselhando

    qualquer incremento daquela taxa,

    já estabelecida pelo governo brasi-

    leiro. E, ainda, desaconselhando a

    criação, por parte do governo norte-

    americano, de qualquer imposto

    para gravar as importações de café

    solúvel brasileiro. (2)

    Em poucos meses, no entanto,

    ressurgiu a pressão dos interesses de

    uma parte do comércio norte-ameri-

    cano de café solúvel. A General

    Foods voltou ao assunto, exigindo

    que o govôrno e o Congresso dos

    Estados Unidos forçassem o gover-

    no brasileiro a elevar, mais uma vez,

    a taxa sobre a exportação desse café

    para o mercado daquele país.

    A Comissão de Meios e Arbítrios da

    Câmara dos Representantes dos Estados

    Unidos, presidida peto democrata Wilbur*

    Wills, apresentou hoje uma espécie de ul-

    timdto ao Brasil, exigindo a maciça eleva-

    ção da taxa sobre a exportação de café

    solúvel até o dia 1 de abril do próximo

    anü. o mais tardar. (3)

    é revelador que a "General

    Foods", o

    gigante do café solúvel, que detém cerca

    de 50% do mercado do café solúvel nos

    Estados Unidos, tenha sido a única com-

    panhia que pediu um .aumento da taxa

    de exportação brasileira. (4)

    Note-se, entretanto, que o debate

    sobre o café solúvel, no Brasil, ficou

    restrito aos próprios círculos cafeei-

    ros e governamentais. A imprensa

    diária do País parece té-lo registra-

    do apenas nesses termos. Mesmo

    quando houve referências à

    "indus-

    trialização do setor agrícola", reco-

    mendada na Conferência de Punta

    dei Este, de 1961, mesmo nesse

    caso não se verificou a intenção de

    popularizar o debate.

    O mesmo fenômeno ocorreu com

    as discussões relativas à energia nu-

    clear, ao mar territorial e à integra-

    ção amazônica. O debate não foi às

    ruas e, muito menos, às praças pú-

    blicas. Isto teria sido considerado

    "demagogia".

    O neonacionalismo característico

    dos anos 1964—70 surgiu em decor-

    rência de alguns problemas

    xeconô-

    micos, políticos e militares, tais

    como: a comercialização do café

    industrializado; o aproveitamento

    econômico dos recursos minerais e

    piscosos do mar territorial; a pes-

    quisa e os usos da energia atômica;

    a expansão da fronteira econômica

    interna na região amazônica; a afir-

    mação da hegemonia do Estado bra-

    sileiro sobre as zonas marítimas li-

    torâneas do País; o fortalecimento

    dos núcleos militares nas regiões

    limítrofes com países sujeitos a

    convulsões sociais. A propósito des-

    sas questões, os Governos Castello

    Branco, Costa e Silva e Garrastazu

    Mediei (principalmente os dois últi-

    mos) começaram a enfatizar noções

    tais como: segurança e soberania

    nacionais; prioridades nacionais;

    fundamentos geopolíticos da nacio-

    nalidade; projeto brasileiro; Brasil:'

    grande potência. A elaboração e

    reelaboração dessas noções foram

    facilitadas#elá crescente internado-

    nalização da economia brasileira.

    Isto é, na medida em que as políti-

    cas econômicas governamentais im-

    plicavam na criação de condições

    vantajosas para a expansão das fi-

    liais e associadas das empresas mui-

    tinacionais, manifestavam-se ten-

    dências nacionalistas com relação a

    alguns problemas reais, tais como os

    mencionados. Ou seja, à medida

    que se concretizava a política eco-

    nômica fundada na doutrina da as-

    sociação e interdependência entre o

    Brasil e os Estados Unidos, torna-

    vam a criar-se novas condições para

    a manifestação e o ressurgir da ideo-

    logia e soluções nacionalistas. As-

    sim, voltava-se a pensar em "solu-

    ções brasileiras para problemas bra-

    sileiros". Essa foi a ocasião em que

    o Gen. Emílio Garrastazu Mediei

    afirmou, entre outras coisas:

    O nosso País se recusa a crer que a

    História se desenrola, necessariamente,

    em benefício de uns e em prejuízo de*outros;

    não aceita que o poder seja fonte

    de posições irremovíveis; e reafirma o di-

    reito de forjar, dentro das fronteiras, o

    seu próprio destino e de escolher, fora

    delas, as suas alianças e os seus rumos.

    (...)

    Repelimos qualquer tentativa seja qual

    for o ^pretexto invocado, de restauração

    da tese de zonas de influência ou de im-

    posição da vontade política de um país,

    ou grupo de países a outros. (. . .)

    Para os povos da América a indepen-

    déncia política representou no século

    XIX. (. . .)

    O ciclo de negociações decorrentes do

    consenso de Vina dei Mar é, por indício

    claro de que a firmeza e a tenacidade

    podem lograr por si só, indício claro de

    que a firmeza e a tenacidade podem lo-

    grar esse objetivo. (5).

    *

    "Café Solúvel: Triste Solução", edi-

    torial de O Estado de São Paulo,

    25.4.1969, conforme transcrição de

    Hélio Duque, A Guerra do Café Solú-

    vel. Editora Leitura, Rio de Janeiro,

    1970, pp. 135 e 136. Consultar tam-

    bém: William G. Tyler, "A

    Política

    Norte-Americana e o Impasse do Café

    Solúvel", Revista Civilização Brasileira,

    nfi 18, Rio de Janeiro, 1968; "As

    pres-

    sões da General Foods", O Estado de

    São Paulo, 16.1.1970, p. 29; Fator, nQ

    2 , Rio de Janeiro, 1968."Brasil

    Vence "Guerra

    do Solúvel","Solúvel:

    Regozijo pela Vitória" e

    "Vi-

    tória no Café", notícias e comentários

    publicados em O Estado de São Paulo,

    edições de 7, 8 e 10 de maio de 1970.

    Consultar também: Mundo Econômico,

    S. Paulo, março-abril de 1970, pp. 75-6.

    Solúvel enfrenta novas pressões", em

    O Estado de Sêo Paulo, S. Paulo, 1 de

    dezembro de 1970, p. 52.

    Pronunciamento de Edward Kenne-

    dy, no Senado dos Estados Unidos. Cf.

    "Kennedy defende o Brasil", o Estado

    de S8o Paulo, S. Paulo, 5 de janeiro de

    1971, p. 46.

    Discurso pronunciado no Palácio

    Itamarati, nas solenidades do Dia do

    Diplomata. Cf. "Cooperação Deve

    Respeitar Soberania", O Estado de São

    Paulo. 21.4.1970, p. 9. Alguns comen-

    tários e reações ao neocolonialismo bra-

    sileiro encontram-se em* A. Delfim

    Netto, "A

    Lógica e o Desenvolvi-

    mento", O Estado de São Paulo,

    29.4.1970, p. 25; Roberto de Oliveira

    Campos, "Intenções

    Nobres... Pr*

    missas Equivocadas", dois artigos publi-

    cados em O Estado de São Paulo, 13 e

    20 de maio de 1970; Roberto de Olivei-

    ra Campos, "La

    Rage de Vouloir Con-

    clure", quatro artigos publicados em 0

    Estado de São Paulo, 15 e 22 de julho e

    5 e 12 de agosto de 1970; Roberto de

    Oliveira Campos, "Modelo

    Brasileiro de

    Desenvolvimento", quatro artigos pu-

    bliçados em O Estado de São Paulo, 17

    e 24 de junho e 1 e 8 de julho de 1970.

    Ainda quanto à vulnerabilidade dos

    governos militares latino-americanos ao

    "nacionalismo extremado", consultar

    The Rockefeller Report on the Ameri-

    cas, Quadrangle Books, Chicago, 1969,

    esp. pp. 32-33.

    /

    "Yi .

    o

    0 neonacionalismo

    brasileiro

  • O neonacionalismo

    brasileiro

    Costa e Silva preocupou-se

    com a interdependência, que

    estava acelerando a redução

    da importância relativa do

    setor brasileiro na economia

    POUTIKA

    kultura

    Ocorre que durante o Governo

    Costa e Silva já se manifestara (de

    nôvo e de modo mais aberto que no

    Gov&rno Castello Branco) a preocu-

    pação com a crescente e acelerada

    internacionalização da economia

    brasileira. Ao mesmo tempo crescia

    a preocupação de alguns setores do

    govêrno com o conseqüente fortale-

    cimento dos centros de decisão

    externos, sobre as diretrizes e as

    possibilidades da economia do País.

    De fato, a política econômica fun-

    dada na doutrina da interdependén-

    cia estava provocando uma acelera-

    da redução da importância relativa

    e absoluta do setor brasileiro da

    economia do País. Tanto assim que

    o Programa Estratégico de Desen-

    volvimento, forjmilado para os

    anos - 1968-70, preconizava

    uma

    política econômica governamental

    destinada, entre outros fins, a supe-

    rar o estrangulamento tecnológico

    da indústria nacional e a aumentar a

    participação da oferta nacional na

    oferta global.

    Portanto, teria sido a própria po-

    lítica econômica apoiada na doutri-

    na da interdependência, adotada de

    modo ortodoxo durante o Governo

    Castello Branco (1964-67) que pro-

    vocou o aparecimento de novo sur-

    to nacionalista. Em pouco tempo

    evidenciava-se que os governantes

    brasileiros pretendiam evitar ou

    controlar algumas conseqüências

    econômicas, políticas e militares da

    doutrina da interdependência e da

    segurança hemisférica. Além disso,

    recolocava-se, para os govffmos des-

    ses anos, o problema do papel que a

    liderança brasileira poderia e/ou de-

    veria exercer na América Latina.

    Uma parte dessa problemática

    transpareceu nos debates realizados

    a propósito do

    "Projeto Brasil:

    Grande Potência". Chegou-se a di-

    zer, então, que os governantes brasi-

    leiros estavam tentando formular

    "nôvo modêlo político" para

    o de-

    senvolvimento econômico acelera-

    do, modêlo esse diverso dos euro-

    peus e norte-americano.

    Sob certo aspecto, o nacionalis-

    mo expansionista inerente ao proje-

    to de criação de uma "Grande

    Po-

    tência" reapareceu na linguagem do

    programa de Metas e Bases para a

    Ação do Governo, apresentado pelo

    Governo Mediei, em outubro de

    1970. Esse programa não foi lança-

    do como um novo "plano

    global",

    pois que era

    "orientação do gover-

    no evitar a linguagem das promes-

    sas". Tratava-se de uma sistematiza-

    ção das realizações principais proje-

    tadas para os anos 1970-73. Assim,

    ao mesmo tempo que* se lançou o

    Programa de Metas e Bases, divulga-

    ram-se cerca de 230 projetos de

    "alta

    prioridade". Eles se referiam

    aos vários setores da economia bra-

    sileira, e davam continuidade à poli-

    tica econômica e social que vinha

    sendo executada pelo governo: inte-

    gração nacional; integração social;

    energia nuclear; modernização e

    dinamização do setor agrícola; in-

    centivo à exportação de minerais e

    manufaturados; transferência de

    excedentes de mão-de-obra do Nor-

    deste para a Amazônia etc. Dentre

    os objetivos nacionais programados

    pelo governo, destacava-se o seguin-

    te, pelo seu significado ideológico:

    Como Objetivo-Síntese, ingres-

    so do Brasil no mundo desen-

    volvido, até o final do século.

    Conforme já se esclareceu,

    construir-se-á, no País, uma so-

    ciedade efetivamente desenvol-

    vida, democrática e soberana,

    assegurando-se, assim, a viabili-

    dade econômica social e políti-

    ca do Brasil como grande po-

    tência.

    Em verdade, a política econô-

    mica adotada nos anos 1964-67, pe-

    Io Governo Castello Branco, já ha-

    via colocado em evidência a contra-

    dição entre Estado Nacional e

    Empresa Multinacional. À medida

    que se punham em prática

    os objeti-

    vos econômicos e políticos ineren-

    tes à doutrina da segurança hemisfé-

    rica e interdependência econômica

    dos países das Américas (formulada

    pelos governantes dos Estados

    Unidos, segundo as exigências da

    Guerra Fria) iam-se evidenciando os

    riscos a que se expunha o princípio

    da soberania nacional. Isto é, as

    conseqüências reais (econômicas e

    políticas) da política

    econômica

    governamental recolocavam o pro-

    blema da alienação de centros ae

    decisão sôbre a política econômica

    do País. Assim, à medida que a

    política econômica governamental

    favorecia e estimulava a concentra-

    ção de capital, em nível nacional

    e

    internacional, necessariamente

    ocorria a concentração de capital,

    em nível nacional e internacional,

    necessariamente ocorria a interna-

    cionalização de capitais e decisões.

    Ministério do Planejamento e Coor-

    de nação Geral. Programa Estratégico de

    Desenvolvimento: 1968-1970 (À Indus-

    trialização Brasileira: Diagnóstico e

    Perspectivas), Serviço Gráfico do IBUfc,

    1969, esp. pp. 56-57.

    Consultar: "Projeto

    Brasil, Grande

    Potência", Visão, S. Paulo, 7-11-1969.

    pp. 23-25; Brazil 1969 (An unedited

    compilation of articles from the news-

    weekly Latin America), Center for In-

    ter-American Relations, New York,

    1970, esp. pp. 125-127; "Frente

    Úni-

    ca", resumo de análise sobre Brasil e

    América Latina, do Financial Times.de

    Londres, em O Estado de São Paulo,

    8.5.1970, p.36.

    Presidência da República, Metas e

    Bases para a Ação do Governo (Sfn-

    tese), setembro, 1970, p.15. Grifos no®-

    sos. Consultar também: "Médici

    lança

    plano de metas e bases do governo".

    Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 2 de

    outubro de 1970, pp. 12, 13 e 20.

    Conforme declarou o Ministro do Tra-

    balho, Júlio Barata, em palestra profe-

    rida na Confederação Nacional do Co-

    mércio: "A

    Intenção do atual governo é

    criar condições para que, no ano 2000,

    o Brasil se imponha ao mundo como

    grande potência, conquistando o mer-

    cado internacional". Cf. "Meta

    é forjar

    Brasil Grande", em O Estado de São

    Paulo, S. Paulo, 28 de novembro de

    1970, p. 46. Grifado por nós.

    IP jr* jr^

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  • POLITIKA

    12baciadas almas

    Teófilo, o Indispensável

    Os jornais do Rio não sabem o que vão fazer em fevereiro.

    As editorias estão em pânico. 0 professor Teófilo Azeredo Santos

    vai passar todo o mes nos Estados Unidos.

    De cada três fotografias nos jornais cariocas, uma é do

    ilustre multi-funcional. Sem Teófilo aqui, como é que os

    diagramadores vão se arranjar?

    Eis como a viagem de férias de um lider empresarial pode

    transformar-se em grave problema para o desenvolvimento.

    Ao menos das empresas jornalísticas.

    Editorial - I"É

    preciso arriscar-se

    a dizer coisas contestáveis,

    desde que se levantem

    questões vitais".

    (Dietrich Benhaeffer,

    pastor).

    Luis. o

    desencarna vel

    w^__^_mT^ ^^B

    ¦Bjr^BBBB

    Na última viagem aoRio, o governador AntônioCarlos Magalhães (Bahia)se queixou a amigos:

    — O Luis (Luiz VianaF i lho, ex-governador)nãodesencarna. Está como seainda fosse governador.Não tem uma solenidade,oficial ou particular, queele não esteja lá. E é aque-la coisa chata: dois gover-nadores, eu e ele. Porqueninguém vai chamá-lo deex-governador; é governa-dor mesmo. Os oradores,os locutores, o pessoal datelevisão, meus própriossecretários e outros auxi-liares, na hora de fazerema saudação, não podemdeixar de se referir ao"governador

    Antônio Car-los Magalhães" e ao

    "go*

    vernador Luis Viana"» Atéeu. Ficaria deselegante di-rigir-me a ele chamando de"ex-governador".

    Resulta-do: a Bahia está com dois

    governadores. É o Luis, to-do tranqüilo, sorridente,bancando o simpático, não

    perde uma solenidade. Es-tá em todas. Vou ter quearranjar um jeito de afasta-lo de lá. Não sei como,mas é preciso. Enquanto

    ele estiver lá, não desencar-na.

    Lomanto. o**

    desfrutavel

    No fim do ano passado,um grupo de deputados re-

    solveu organizar um almo-

    ço de confraternização no

    Hotel Nacional, em Brasi-

    lia. Para facilitar o proble-

    ma do pagamento, decidi-ram transformá-lo em"homenagem"

    ao deputa-do Lomanto Júnior ^ARE-NA-Bahia), que financiariaas despesas.

    Naquele mesmo dia, oministro Dias Leite tinhaum depoimento na Comis-são de Minas e Energia daCâmara e foi almoçar noHotel Nacional. Vai en-trando no restaurante, en-contra o

    "almoço de

    Lomanto". Lomanto se.levanta, ainda de bocacheia, mastigando e pas-sando o guardanapo norosto suado, e improvisaum discurso:

    "Senhor ministro, es-ta é uma homenagem, ime-recida mas sincera, a umdos mais humildes congres-sistas, prestada por seuscompanheiros de Câmara.Mas o que mais me como-ve hoje é a presença deV.Excia. neste almo-

    ço" .. .O ministro olhou para

    os lados, assustado, e, páli-do de irritação, disse ape-nas:

    Sr. deputado, há umengano. Eu não vim para ahomenagem a V. Excia.Vim almoçar com a dire-

    ção da Comissão de Minase Energia da Câmara. Mi-nha mesa está reservada, láno canto, só quatro luga-res. Muito obrigado peloconvite, mas não possoaceitar.

    E foi sentar-se na mesadele. Lomanto caiu na ca-deira,

    "desfigurado e pas-

    mo", como nos romancesdos falsos heróis medie-vais.

    Jesus, o (in)

    dispensável

    O hippie, muito na delee muito viajor entrou naloja de objetos religiosospara comprar um Cruci-fixo:

    Bicho, quanto é aque-

    le amizade ali?Mais respeito. Nem

    sou bicho nem aquilo sechama amizade. É um cru-cifixo.

    QMas quanto é?100,00.E sem o atleta?

    Otávio, o

    «¦nbatível

    á\m~%W»m¥r*!lí*. *4t**a\m

    *****aJa\***m\ A

    A "Veja"

    conta "a

    lendaforense segundo a qualOtávio Mangabeira, quan-do era estudante de Direi-to, entrou num tribunal,defendeu um criminoso econseguiu-lhe a absolviçãosem nunca ter ouvido falarnem dele nem de seu deli-to".

    Tudo errado. Otávio Man-

    gabeira nunca entrou emTribunal nenhum comoadvogado. Só como réu de

    processos políticos. Poruma razão muito simples:ele nunca foi advogado,nem estudante de direito.Era engenheiro, formado

    pela antiga Escola Politéc-nica da Bahia, da qual foicatedrático de Astrono-mia. (Ver o no. 13 de PO-LITIKA, página 17,

    "Foi-

    klore Politiko").

    Talvez ele tenha consegui-do, nas longas noites dolongo exílio (de 1930 a.1945), defender alguma le-viana estrela fazendo tro-toir na Via Láctea. Mas ab-solver ele só absolveu umréu: Getulio Vargas, de

    quem dizia, depois de1954, haver perdoado os

    pecados. "Mas

    só os politi-cos e os administrativos.Os pecados contra a liber-dade, jamais. Porque essesa história já catalogou co-mo imperdoáveis"

    Editorial- 2"Estamos

    todos à busca derazões razoáveis para a-creditar no absurdo" (Lau-rence Durrell, em "Jus

    tine ).

    Orlando. <

    disponível

    Hta^^^a

    Talvez já seja trabalho

    do governador Antônio

    Carlos Magalhães para ten-

    tar afastá-lo da Bahia ("elenão desencarna" —vejam

    outra nota nesta mesmaBacia). O certo é que os

    jornais começam a falar,

    insistentemente, no nome

    do ex-governador Luis

    Viana Filho para o Supre-^mo Tribunal Federal, na'vaga do ministro Adalicio'Nogueira, que vai aposen-tar-se no dia 13 de feverei-ro, por cair na compulsória

    (70 anos). A alegação é :"Para

    a vaga de um baiano,nada melhor que outrobaiano".

    Acontece que a Consti-tuição exige, para o STF,"notável

    saber jurídico". Eo doutor Luis Viana, ilus-tre biógrafo de Ruy Nabu-co, Rio Branco e outrosmenos biografáveis, mem-bro da Academia Brasileirade Letras, escritor de portade livraria e coquetéis

    granfinos, desde que seafastou da Faculdade deniroita->

  • Editorial-:}

    "Eu bem sei que muitas vezes

    açode o desejo de desesperar",

    disse São Paulo aos corintios

    (nâo confundir com a torcida do

    Coríntians), sem saber que

    nos estava dando, vinte séculos

    depois, um editorial de graça.

    Gladiador sal da Arena

    Carlos Imperial resolveu abandonar a Arena, não a arena das

    feras da TV. 0 mundo artístico. A Arena do governo, a que reúne

    todo o zoo, a fauna política do sim senhor. 0 Imperial, a par de seus

    múltiplos afazeres ainda encontra tempo para a política,

    e apesar de ter sido "cantado"

    pelo Erasmo, o Martins Pedro,

    lógicamente, decidiu-se pelo partido do Dr. Pedro. "A

    onda agora é PDR meu

    chapinha. Vamos fazer dele o partido dos jovens.

    Mil bolações e badalações. Vamos motivar a moçada".

    bacia

    Ldas

    almas

    J

    Produto

    Do Japão, o ministro

    Reis Veloso anuncia que

    novos empréstimos foram

    acertados. Daqui mesmo

    de Brasília, o ministro da

    Fazenda anuncia que o

    BID já vai liberar a primei-

    ra parte do empréstimo pa-

    ra financiar o plano de ex-

    pansão do setor siderúrgi-

    co. Não há dúvida: em ma-

    téria'de endividamento ex-

    terno também estamos ba-

    tendo recordes. E a taxa

    do endividamento é bem

    maior do que a taxa de

    crescimento do PIB. Nessa

    marcha vai chegar a hora

    em que será indiferente di-

    zer Produto Interno ou

    Produto Externo Bruto.

    Unidade

    pMKi oflpL

    I

    0 professor Cândido Men-

    des levantou, aqui, uma te-

    se importante. Diz ele que

    a nova unidade político-

    administrativa do país não

    é mais o Estado, e sim a

    região. Isto ficou patente

    quando o ministro Mário

    David Andreazza, com um

    bem bolado plano viário,

    mostrou que a integração

    da Guanabara e do Estado

    do Rio pode ser feita e

    Para já. Se o Andreazza

    '•zer isso, ele terá contri-

    buido para a viabilidade da

    Guanabara muito mais que

    o Chagas Freitas que, não

    temos dúvida, acabará fa-

    zendo também grandes

    obras. Em têrmos burocrá-

    ticos, quem está governan-

    do o Rio é o Chagas, mas

    em têrmos de viabilidade

    econômica, quem irá re-

    descobrir o Rio será o

    Andreazza.

    Editorial-4

    Estrangeiro —

    Que nome,

    então daríamos a essa ciên-

    cia, Teeteto? Por Zeus,

    não estaremos, sem o sa-

    bermos, çlirigindo-nos para

    a ciência dos homens livres

    e correndo o risco, nós que

    procuramos o sofista, de

    haver, antes de encontrá-

    Io, descoberto o filósofo?

    Teeteto —

    Que queres di-

    zer?

    Estrangeiro — Dividir as-

    sim por gêneros, e não to-

    mar por outra uma forma

    que é a mesma, nem pela

    mesma uma forma que é

    outra, não é essa, como

    diríamos, a obra da ciência

    dialética?

    Teeteto —Sim,

    assim di-

    ríamos.

    Estrangeiro —

    Aquele que

    assim é capaz discerne, em

    olhar penetrante, uma for-

    ma única desdobrada em

    todos os sentidos, através

    de uma pluralidade de for-

    mas, das quais cada uma

    permanece distinta; e mais:

    uma pluralidade de formas

    diferentes umas das outras

    envolvidas exteriormente

    por uma forma única re-

    partida através da plurali-

    dade de* todos e ligada à

    unidade; finalmente, nu-

    merosas formas inteira-

    mente isoladas e separadas;

    e assim sabe discernir, gê-

    neros por gêneros, as asso-

    ciações que para cada um

    deles são possíveis ou im-

    possíveis.

    Teeteto —

    Perfeitamente.

    Atenção, gente. Isto é de

    Platão. Que fazia editoriais

    dialogados.

    Arenista

    Depois da autobiografia a

    quatro mãos, em que pro-

    va que sempre lutou con-

    tra os comunistas, o famo-

    so Mourão Filho, ganhador

    de eleições no subúrbio da

    Leopoldina, considera-se

    pronto para ingressar na

    Arena. Exige apenas uma

    coisa: que o convite lhe se-

    ja feito lá de cima, bem de

    cima, para evitar certas in-

    certas.

    Modêlo

    Insólito

    O governo faz tudo para

    cumprir a Constituição.

    Cumpre até o excesso

    de Constituição que é

    o AI-5. Apesar disso,

    sucedem-se, como se

    fossem programados, os

    pronunciamentos a favor

    de eleições diretas

    nos Estados, em 1974.

    Ora, se a Constituição

    diz que serão diretas,

    para que e porque

    especular? Isso dá

    o que pensar, gente.

    Então, para fazer o

    jogo dos especuladores,

    digamos que uma

    situação anormal íssima

    (esconjuro!)

    recomendasse a

    realização de eleições

    indiretas para os

    governos estaduais.

    Seria cômico.

    Chegaríamos, então,

    a um novo e insólito

    modelo economico e

    político que poderia

    ser assim descrito:

    democracia sem votos e

    capitalismo sem lucro

    (para nós). Já

    pensaram? Pelo amor de

    Deus, não pensem, não.

    Refrigeração

    Central

    0 Banco Central está

    abrindo concorrência para

    a venda, a seus funcioná-

    rios, de apartamentos si-

    tuados em Botafogo, La-

    ranjeiras e Leblon. 0 pes-

    soai se cuida. 0

    vmesmo

    Banco Central está com

    um soberbo canteiro de

    obras em Teresópolis, jun-

    to à Granja Comary, para a

    construção de residências.

    A palavra de ordem é:

    refrescar-se.

    Agressão

    Matéria paga no

    "J.B."

    em que um tal de Luiz /

    Pedó (Pedó mesmo? ),

    diretor da COSIGUA,

    afirma: "A

    Companhia

    Siderúrgica da

    Guanabara está com

    sérias intenções de

    agredir o mercado

    internacional".

    Se o grupo Gerdau usar

    no mercado internacional

    as mesmas táticas

    que usou para se

    apossar da COSIGUA,

    não há dúvida que vai

    ser agressão para

    valer. Falou e Pedó.

    Folklore

    dos cabos

    Paulo Branco, repórter

    da "Tribuna

    da Impren-

    sa" resolveu apresentar-se

    candidato a deputado esta-

    dual, no Estado do Rio,

    nas eleições passadas. Pelo

    MDB, logicamente. Obteve

    mais de 3 mil votos não

    conseguindo, mesmo

    assim, eleger-se. Mas reco-

    lheu um extraordinário

    folclore dos cabos eleito-

    rais fluminenses. Está es-

    crevendo um livro sobre o

    assunto. Pelo depoimento

    dele se percebe que a poli-

    tica, no interior, continua

    a mesma. O cabo eleitoral

    negocia votos como uma

    mercadoria qualquer. Sob

    esse aspecto é o dono, o

    proprietário dos eleitores.

    Mas para chegar a isso, tor-

    na-se um escnvo do eleito-

    rado. O vereador Manuel

    Macedo, de Vassouras, tem

    uma mercearia e uma

    "Pick UP". No carro ve-

    lho, transporta todo mun-

    do de graça e não cobra

    carreto. Na mercearia, ven-

    de sempre fiado e quando

    o freguês não paga ele até

    agora gosta, pois é voto

    certo. Quando chegam as

    eleições, Manuel Macedo

    vai à. forra. Negocia seus

    400 votos à vista e para

    quem der mais.

    Maximiano Fraga, tam-

    bém de Vassouras, é mais

    sofisticado. Tendo ganho

    um cartório, da Política,

    reserva um milhão e qui-

    nhentos mil cruzeiros, to-

    dos os meses, para gastar

    com o eleitorado. Não per-

    de dia de visita a hospitais

    e cadeias, para confortar

    os infelizes. Pára em tudo

    quanto é botequim, sem-

    pre pagando batidas para

    quem estiver lá.

    "Xani-

    nho", como é conhecido,

    dispõe de mil votos. Já o

    deputado José Vaz de Mi-

    randa passa quatro anos

    prometendo colocações no

    Banco do Brasil e na Petro-

    brás e nas vésperas das elei-

    ções enche um carro com

    lápis, cadernos e sabone-

    tes, para o eleitorado rural.

    Seus votos cheiram a Euca-

    lol.

    Mas existe também o ca-

    bo eleitoral neurótico, que

    entra na luta apenas para

    conferir a sua superiorida-

    de sobre os outros. Cons-

    tantino Santos, de Pati do

    Alferes, não recebe dinhei-

    ro de ninguém. Também

    não apóia candidato forte"porqueassim

    não dá para

    eu mostrar minha força".

    Sua luta é contra os "mer-

    cenários". Basta saber que

    um cabo eleitoral papou

    tantos milhões de um can-

    didato, para o Constantino

    apoiar um anônimo e der-

    rotar o candidato dinheiru-

    do.

    Mas Constantino pode

    ser considerado um neuró-

    tico. O normal é aquele

    que vende votos. E não dá

    troco. Muitas vezes, nem

    dá voto.

    ¦¦

  • POLITIKA

    |dokuiwHo

    Êste é um documento que vai

    ficar para

    a História: é da

    Coluna vista pelo

    lado mais

    amargo dos que

    tinham lares

    e bens invadidos e tomados.

    Frei

    Jose M.

    Audrin, OP

    ^P3^j?V && i *¦»•'' '»' '

    '- JB|W^8kmH^WK^^^MB^B^III^BBB '.•.•^^M^T'.k*V. '. "

    i: *'A^BtJBF-^7**£.

    COMO ENFRENTEI

    *

    CARLOS

    PRESTES,

    CORDEIRO DE FARIA*

    E MREZ TA VORA

    Coluna Prestes

    Estamos em plenas

    "Bodas de

    Ouro da Conspiração", que

    POLITIKA relembrou no número 12,

    em reportagem sobre o

    cinqüentenário das Cartas

    Atribuídas a Arthur Bernardes

    e que constituíram o instrumento

    inicial da luta que depois se

    lanizou e se espraiou

    :ionalmente, nas

    oluções

    ue 1922,1924, "Coluna

    Prestes",

    até a vitória de 1930.

    Esses 50 anos foram o tempo

    de plantio do Brasil de hoje.

    O que o País é agora foi semeado^

    a partir de 1922, onde a Revolução

    dos Tenentes e a Semana Modernista

    foram passos diversos de uma

    esma caminhada que começou dando

    .; costas, pela primeira vez,

    .• Europa colonizadora, para

    construir aqui, com nosso sangue,

    nosso suor e nossas lágrimas,

    o País que está aí e que não foi,

    como muita gente imagina,

    descoberto de oito anos para cá.

    O documento que publicamos hoje

    é da maior importância. Os

    principais atores ainda estão

    por aí, no palco nacional:

    Luis Carlos Prestes, Cordeiro

    de Farias, Juarez Távora, muitos

    outros. É bom saber como um Frade,

    dirigente de um convento lá em

    Porto Nacional, no Norte de Goiás,

    enfrentou, viu e julgou os

    jovens tenentes guerrilheiros

    da "Coluna

    Prestes". Wy

    'Zv,

    ?

    o

    En

    r I

    IOI

  • POUTIKA

    COMO ENFRENTEI

    CARLOS PRESTES,

    CORDEIRO DE FARIAS

    E JUAREZ TÁVORA

    Bandidos do sertão uniam-se

    à Coluna para

    melhor roubar

    e aterrorizar os camponeses.

    A Coluna, entretanto, tinha

    conduta exemplar e cristã.

    dokumento

    Os matutos pensavam que a Coluna Prestes

    era

    um exército que matava e desonrava

    famílias

    "Setembro de 1925 ... em Por-

    to-Nacional, cidade do norte de

    Goiás, distante cento e sessenta lé-

    guas da velha capital. Vivíamos lá

    quase segregados do mundo, sem rá-

    dio, sem telégrafo, recebendo ape-

    nas semanalmente notícias velhas

    de dois meses pelos estafetas vindos

    do sul, viajando vagarosos em costas

    de muares. E eis que, de repente,

    começam a espalhar-se boatos alar-

    mantes, embora ainda confusos.

    Dos Estados do Sul, para onde ha-

    viam sido repelidos no ano anterior,

    os Revoltosos de São Paulo vinham

    saindo novamente com fortes con-

    tingentes gaúchos e, depois de te-

    rem atravessado Parao \ e Mato

    Grosso, penetravam já em Goiás,

    apesar da resistência valorosa das

    tropas legalistas.

    Fossem mesmo exatas as notí-

    cias, achávamos difícil acreditar que

    a Coluna Revolucionária sonhasse

    em invadir nossos recantos tão afas-

    tados, onde aliás nenhuVn interesse

    político podia atraí-la. Por isso

    mantinha-se em nós a esperança de

    vê-la rumar para os sertões da

    Bahia, deixando assim em paz nossa

    cidade e seu município. Não demo-

    ramos, porém, em perder essa

    ilu-

    são. Em conseqüência' de encontros

    infelizes com as forças do Governo

    em São Romão, primeiro, e depois

    em Taguatinga, a Coluna via-se obri-

    gada a voltar para o interior do

    Goiás, e, para evitar a vila do Duro,

    onde estacionava um forte contin-

    gente da polícia goiana, tinha que

    dirigir-se para o norte. A decisãç era

    infalível e, portanto, não havia inais

    para nós dúvida possível. Mais uns

    dias de ansiedade e teríamos que re-

    ceber a visita tão temida.

    Dificilmente poderíamos descre-

    ver o terror que se apoderou do

    nosso povo sertanejo. Em nossos re-

    cantos os boatos costumam chegar

    a espalhar-se com rapidez prodígio-

    sa. Passando de boca em boca, as

    notícias engrossam, tornam-se terrí-

    ficas, avivadas pelas recordações

    de

    muitas brigas e carnificinas passa-

    das. "Agora,

    diziam os matutos,

    nao é mais um bando de jagunçosarmados

    de punhais e bacamartes,

    mas um exército dotado de metra-

    '•"•adoras e até de canhões. Os ho-

    mens que o ano passado incendia-

    ram São Paulo, vêm agora nos ata-

    car, queimar casas, roubar, desonrar

    ¦ .

    ***-¦• 'zi.'J*.'

    £•*

    Wmk,4- A

    O temor

    precedia

    a Coluna

    famílias, matar gado, carregar cava-

    los e burros ....

    "

    Embora exagerados, os boatos

    não eram, contudo, destituídos de

    uma grande parte de verdade. Os

    Revoltosos, acossados pelos solda-

    dos do Governo e pelos grupos

    de

    patriotas, não podiam

    conduzir

    camboios de mantimentos. Tinham

    que matar numerosas

    reses para ali-

    mentar-se e, desse gado tomado à

    força, sem explicação ou desculpa,

    mal aproveitavam algumas carnes,

    deixando o resto para os urubus.

    Precisavam de farinha de mandioca,

    sal, açúcar, fumo, roupas e arreios,

    que tomavam, naturalmente

    sem

    pedir, onde encontrassem.

    As casas

    abandonadas ao longo das estradas

    eram arrombadas e depois de limpas

    de tudo o que nelas se guardava, in-

    cendiadas quase sempre.

    Ora, no sertão, mais do que em

    qualquer oCrtça parte, a propriedade

    é respeitada. (Ninguém, a não ser la-

    drão, penetra numa casa na ausên-

    cia do dono. O sertanejo dá genero-

    samente o que tem a quem lhe

    pede; não admite, porém, e nem

    compreende, a ladroagem. Sabemos

    ,de mais de um que pagou caro e até

    com a vida a justa resistência às exi-

    gências dos homens da Coluna.

    O que mais indignava o povo era,

    além da matança arbitrária do gado,

    a tomada violenta dos animais. Um

    sertanejo sem seu cavalo, seu burri-

    nho ou seu jumento, fica desam-

    parado, perdendo o único meio de

    transporte e de trabalho. Ora, nos-

    sos Revoltosos, constrangidos a cor-

    rer dia e noite, precisavam renovar

    amiúde sua cavalaria. Pegavam, en-

    tão, tudo o que encontravam à

    mão, largando cada dia pelos cami-

    nhos um sem número de animais fo-

    gosos na véspera e hoje inutilizados

    para sempre. Lembramos ter visto

    soldados da Coluna puxando pelos

    cabrestos quatro e até cinco animais

    de uma vez. Tudo, aliás, lhes servia,

    desde o sendeiro fogoso ou a mula

    de estima do fazendeiro até o ju-

    mentinho e burro de mão torta e o

    potrinho ainda não amansado.

    Enfim, a causa principal das quei-

    xas e dos terrores suscitados pela

    aproximação da Coluna era a pre-

    sença, no meio dos bravos soldados

    gaúchos, de certos grupos de verda-

    deiros bandidos do sertão, que se

    juntavam a eles para roubar à vonta-

    de. Andando sempre à margem e

    distantes do grosso do exército,

    aterrorizavam os pobres moradores

    sob a ameaça da carabina e estra-

    gavam com perversidade o que não

    podiam utilizar ou carregar. Muitos

    desses tipos sem consciência nem

    dos oficiais eram conhecidos; entre-

    tanto, contribuíam para fazer-se de-

    bitar à Coluna em geral seus abusos

    e crimes individuais.

    mm®

    a

  • POLITIKA

    dokumento

    As autoridades e famílias se

    escondiam no mato para

    melhor

    fugir dos membros da Coluna.

    Foi êste, sem dúvida, um dos

    maiores dramas da

    jornada.

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  • POLITIKA

    18korreio

    flHP^^Hflm - áj|

    ,'I^^^^M* Gilberto Freyre

    A editoria

    poiítikaSalvador, 14 de janeiro de

    1972.limo. Sr. Diretor de

    POLITIKA

    O objetivo da presente é

    comunicar a V.S. e a toda

    equipe deste excelente PO-LlTIKA a existência doCentro de Estudos e Ação

    Social - CEAS, instituição

    voltada para o estudo dos

    grandes problemas sociais

    de nosso país, principal-mente para os de sua re-

    gião crítica - O Nordeste.

    Tal comunicação se deve

    ao fato de termos consta-

    tado nestes primeirosexemplares de POLITIKA

    numerosos pontos de con-

    tacto com a nossa revista

    bimestral "Cadernos

    de

    CEAS", pelo que julgamos

    que seria de grande provei-to a permuta de nossas pu-blicações ou assinatura,

    bem como as críticas e su-

    gestões que nos fossem fei-

    tas por V.S.. Acompanhan-

    do a presente seguem os

    cinco últimos números de

    nossa revista.

    Sendo o que se nos

    , apresenta para o momen-

    to, e certos de contar com

    a sua receptividade, subs-

    crevemo-nos cordialmente

    Pe. Cláudio Perani —

    Coordenador.

    - Gostamos muito, padreVamos mesmo nos louvar nas pesquisas doCEAS para algumas re

    portagens. Já em nosso

    próximo número o srverá que os

    "Cadernos'

    precisam de uma caixade ressonância POLITIKA. Pelos correios estamos lhe enviando umacarta mais detalhadacom uma proposta concreta de trabalho emconjunto. O CEAS che-

    ga numa hora oportunaem que estamos nosa prox i mando doIUPERJ (Escola Candi-do Mendes) e do melhor

    grupo de sociólogos daUniversidade de SãoPaulo. Vai ser um ba-

    nho. Um mergulho em

    piscina, como disse omelhor Drummond.

    AoJornal POLITIKA

    Rio de Janeiro—GB

    Prezados Senhores

    Causou-me profunda sa-

    tisteção o aparecimento do

    jornal POLITIKA. Há mui-

    to sentia-me apreensivo

    por não ter ainda a nossa

    imprensa um jornal quecolocasse de maneira bri-

    Ihante problemas pol iti-

    cos, principalmente brasi-

    leiros. Desde o primeironúmero, à medida que ve-

    nho acompanhando a evo-

    lução deste jornal, POLI-

    TIKA tem superado todas

    as minhas expectativas.

    Tenho recomendado aos

    meus alunos do curso de

    História, da Universidade

    Estadual de Mato Grosso,

    como leitura obrigatória,

    as análises e interpretações

    contidas neste jornal.Atualmente resido em

    Corumbá-MT, e lá Jemosenfrentado dificuldades

    quanto à distribuição deste

    jornal, assim como de inú-

    meros outros periódicos.Pclanto, gostaria que me

    m_ Hassem o exemplar no.

    6 c*.a referido jornal e, porest..r passando férias em

    Sao Paulo, peço que o

    mesmo seja remetido parao seguinte endereço: Rua

    Ezequiel Ramos, no.

    498 - Mooca - São Paulo- Capital.

    Certo de ser atendido,

    agradeço antecipadamente.

    São Paulo, 17 de janeirode 1972

    VALMIR BATISTA

    COURÊA

    Remessa providên-. .% Como o POLITIKAv J leitura obrigatória

    p. a seus alunos, informe-

    nos sobre a (i) rregulari-

    dade da distribuição.

    Bek Horizcrvte, 15/1/72

    Sen. or Diretor

    Leio e cc eciono Politi-

    ka. Os senhores estão cum-

    prindo uma tarefa extre-

    mamente importante. Con-

    tinucm!

    alW HI^B _B_^_K ______________

    *mW^** ^fl ^^^H^^éb^^. ^1

    ________ ^KlfâBtóà^ __fl _P% Jfl _____¦

    [^""^ílfl^i .____ £r\' NPbllil ¦ÜI______* ___________a_B^&VÍL f_H_^_rf___Hi_P^*' H^fl _H_^_l **m\~ flfl Ba

  • Paulo

    de Castro

    6olpes da esquerda ou golpesda direita no terceiro mundo

    assinalam uma variedade de

    situações e intenções que não

    permitem falar e