Post on 15-Dec-2018
V Conferência REDLAS
Turismo Sustentável em Meios de Hospedagem com enfoque na
Materialidade dos Serviços
Yuli Della Volpi, Sônia Regina Paulino
Escola de Artes, Ciências e Humanidades
Universidade de São Paulo (EACH/USP)
RESUMO
1. Objetivo: Esclarecer a materialidade dos serviços de hospedagem, com ênfase no enfoque
do ciclo de vida do produto.
2. Relevância: Busca-se contribuir para melhorar a compreensão das fontes de materialidade
dos serviços, integrando diferentes fases do ciclo de vida e considerando entradas e saídas
(desdobramentos potenciais das entradas) associadas ao aspecto ambiental do produto
fornecido em meios de hospedagem.
3. Principais aspectos metodológicos: Utiliza-se a estrutura analítica do Guia para
consideração de questões ambientais em normas de produtos, para abordar as entradas e
saídas relacionadas ao ciclo de vida do produto (ABNT ISO Guia 64, 2010).
4. Síntese dos principais resultados: A abordagem baseada no conceito de vida do produto
permite interpretar as fontes de materialidade do serviço considerando diferentes estágios e
enfocando questões ambientais. As entradas identificadas são: energia elétrica, água,
alimentos/bebidas produtos de higiene pessoal, produtos de limpeza e produtos químicos para
controle de pragas. As saídas identificadas, que são relacionadas ao serviço de meios de
hospedagem e representam seus aspectos ambientais, se referem a descargas de efluentes,
emissões atmosféricas, emissão de ruídos e geração de resíduos, com destaque para os
resíduos orgânicos.
5. Principais considerações: A compilação de entradas e saídas auxilia na interpretação
ampla de fontes de materialidade e também na melhor compreensão dos fatores essenciais à
avaliação do desempenho ambiental de serviços, relevantes na promoção da sustentabilidade
do setor. Trabalhos futuros alinhados a essa abordagem enfrentarão um desafio em relação à
necessidade de disponibilização de bases dados quantitativos para mensurar entradas e saídas
do ciclo de vida do serviço.
Palavras-Chave: materialidade, serviços de hospedagem, conceito de ciclo de vida,
requisitos ambientais
ABSTRACT
1. Objective: The paper aims to clarify the materiality of accommodation services with
emphasis on the life cycle concept.
2. Relevance: The research seeks to contribute for a better comprehension of the services
materiality sources, integrating different stages of the life cycle and considering inputs and
outputs (input’s potential unfolding) associated to the environmental aspects of the product
offered by accommodation businesses.
3. Main methodological aspects: The accommodation services analysis uses the analytical
framework proposed in the Guide for addressing environmental issues in product standards
to approach the inputs and outputs related to the product’s life cycle (ISO Guide 64, 2008).
4. Summary of the main results: The approach based on the product’s life cycle concept
allows to interpret the service’s materiality sources considering different stages (production
and consumption) and focusing on environmental issues. The inputs identified are: electricity,
fossil fuels, water, food/beverages, personal care products, cleaning products, and pest control
chemicals/pesticide. The identified outputs that are related to accommodation services and
represent their environmental aspects refer to discharge of effluents, air emissions, noise
emissions and waste generation – especially organic waste.
5. Main considerations: The inputs and outputs compilation assists the interpretation of
materiality sources and also contributes for a better understanding of the factors that are
necessaries to assess the services environmental performance. Future researches aligned to
this approach will face a big challenge regarding to the need of available quantitative
databases in order to measure the inputs and outputs of a service life cycle.
Key-Words: materiality, accommodation service, life cycle concept, environmental
requirements.
1. INTRODUÇÃO
A promoção da sustentabilidade no turismo tem sido tema de diversos eventos ao redor do
mundo e na América Latina; assim como alvo de estudos e pesquisas (Miller, 2001; Gossling,
2002; Font e Harris, 2004; Ayuso, 2007; Sims, 2009; Bramwell, 2011; Buckley, 2012;
Weaver, 2014;Pulido-Fernández, Andrades-Caldito e Sánchez-Rivero, 2015).
Um segmento do turismo que tem recebido bastante atenção nessas discussões é o de meios
de hospedagem. Os meios de hospedagem são definidos como estabelecimentos destinados a
prestar serviço temporário de acomodação, assim como outros serviços destinados a satisfazer
as necessidades dos hóspedes (Brasil, 2008). Esses estabelecimentos contam com critérios e
normas de sustentabilidade desenvolvidos especificamente para eles (GSTC, 2016; MTA,
2016; ABNT NBR 15401, 2014). Esses critérios e normas são importantes ao destacarem os
meios de hospedagem (e, evidentemente, os serviços prestados por eles) como potenciais
causadores de impactos ambientais significativos.
No Brasil, o setor de serviços já responde por mais de 70% do Produto Interno Bruto (PIB)
(The World Bank, 2016) e o país se encontra entre as 10 primeiras nações em que o setor de
viagens e turismo apresenta maior contribuição para o PIB, em termos absolutos (WTTC,
2016).
Em abordagens teóricas da economia de serviços, as atividades de serviços vêm sendo
tratadas, por meio da discussão sobre a materialidade, como geradoras de impactos
ambientais. Afinal, reconhecer que a tangibilidade também é uma característica presente nos
serviços (Gadrey, 2000 e 2010; Gallouj e Savona, 2009; Djellal e Gallouj, 2015a e 2015b)
contraria a ideia de que os serviços causam poucos impactos negativos ao meio ambiente
(Djellal e Gallouj, 2015a). É necessário considerar os fatores materiais de produção
(edificações, sistemas de calefação, equipamentos de informática, energia etc.) para
compreender a pressão ecológica exercida pelos serviços (Gadrey, 2010).
O trabalho analisa os serviços de hospedagem como fontes de impactos ambientais, com
ênfase no enfoque do ciclo de vida do produto. Busca-se esclarecer, por meio de pesquisa
bibliográfica e da estrutura analítica do Guia para consideração de questões ambientais em
normas de produtos (ABNT ISO GUIA 64, 2010), as entradas e saídas associadas ao aspecto
ambiental do produto fornecido pelos meios de hospedagem, que são geradas nos estágios de
produção e consumo dos serviços de hospedagem.
Para tal, após essa introdução a seção 2 aborda as discussões em torno da sustentabilidade no
turismo e o surgimento de critérios e normas de certificação para os serviços de hospedagem;
a seção 3 aborda a materialidade dos serviços, e a seção 4 traz uma interpretação das
características de materialidade do serviço de hospedagem a partir do conceito de ciclo de
vida. Em seguida, são feitas as considerações finais.
2. TURISMO SUSTENTÁVEL EM MEIOS DE HOSPEDAGEM
O turismo, de modo geral, e as atividades dos meios de hospedagem, de modo específico, são
parte do setor de serviços, que representa uma parcela importante da atividade econômica
atualmente. No Brasil, os serviços como um todo respondem por mais de 70% do Produto
Interno Bruto (PIB) (The World Bank, 2016).
O Conselho Mundial de Viagens e Turismo produz relatórios e previsões anuais sobre os
impactos econômicos do setor, para 184 países. Esses relatórios deixam evidente a
importância do turismo para a economia mundial. Em 2015, o setor apresentou crescimento
contínuo pelo sexto ano consecutivo, passando a representar 9,8% do Produto Interno Bruto
(PIB) mundial e contribuindo para a existência de 284 milhões de empregos (um para cada
onze postos de trabalho no mundo). No Brasil, estima-se que o setor de viagens e turismo
contribui para 8,0% do total de empregos e o país aparece entre as 10 nações em que o setor
apresenta maior contribuição para o PIB, em termos absolutos (WTTC, 2016).
Indo além de sua importância para a economia, o turismo também é reconhecido como uma
atividade complexa que abrange recursos sociais, culturais e ambientais, além dos econômicos
(Beni, 1990).
Assim, as discussões em torno da sustentabilidade no turismo decorreram da constatação de
que a atividade não regulamentada, de massa ou alternativa, tem efeitos negativos para as
comunidades locais e para o meio ambiente. É preciso destacar que as empresas de turismo
competem pela utilização dos recursos dos locais em que estão inseridas, ao mesmo tempo em
que os produtos turísticos dependem da qualidade do meio ambiente (Rattan, 2015).
Desse modo, não se pode dizer que a atividade turística, por si só, é boa ou ruim. O que define
suas características positivas ou negativas é o modo como se dá o planejamento, o
desenvolvimento e o manejo da atividade (Rainforest Alliance, s/d). Logo, se não contar com
bom planejamento e gestão, o turismo também pode se tornar um motor para a degradação
(OMT, 2004). Por esse motivo, surgem cada vez mais iniciativas que buscam promover o
desenvolvimento da atividade turística de forma a evitar seus potenciais impactos negativos.
Desde o início do uso do termo turismo sustentável, vários esforços já foram destinados ao
estabelecimento de princípios para o turismo sustentável e, apesar de apresentarem diferentes
redações, é possível verificar a existência de uma essência comum a todos eles (ABNT NBR
15401, 2014).
Em 1995, foi realizada, nas Ilhas Canárias, a Primeira Conferência sobre Turismo
Sustentável, copatrocinada pelo Programa Ambiental da Organização das Nações Unidas
(ONU), pelo Programa sobre o Homem e a Biosfera, da Unesco, e pela Organização Mundial
do Turismo (OMT). Pouco depois, em 1996, o Conselho Mundial de Viagens e Turismo, a
OMT e o Conselho da Terra divulgaram um documento, baseado na Agenda 21 Global,
voltado especificamente para o setor de turismo: a “Agenda 21 para a Indústria de Viagens e
Turismo” que definiu dez áreas de ação prioritárias para as empresas e nove áreas de ação
para autoridades governamentais.
Assim, as áreas que foram consideradas fundamentais para atuação das empresas são: 1)
diminuição de resíduos, reutilização e reciclagem; 2) conservação, gestão e eficiência
energética; 3) gestão de recursos hídricos; 4) gestão de águas residuais; 5) substâncias
perigosas; 6) transportes; 7) planejamento e gestão do uso do solo; 8) envolvimento da
equipe, dos clientes e da comunidade local nas questões ambientais; 9) projetos para a
sustentabilidade; 10) parcerias para a promoção do desenvolvimento sustentável (Council of
Europe, 2002).
Já as áreas de ação para autoridades governamentais são: 1) avaliar a capacidade do quadro
regulamentar, econômico e voluntário existente para garantir o desenvolvimento do turismo
sustentável; 2) avaliar as implicações econômicas, sociais, culturais e ambientais das
operações das organizações; 3) formação, educação e sensibilização do público; 4)
planejamento para o desenvolvimento do turismo sustentável; 5) facilitar o intercâmbio de
informações, competências e tecnologias relacionadas ao turismo sustentável entre países
desenvolvidos e em desenvolvimento; 6) promover a participação de todos os setores da
sociedade; 7) conceber novos produtos turísticos que tenham a sustentabilidade em sua
essência; 8) medir o progresso no desenvolvimento sustentável do turismo a nível local; 9)
estabelecer parcerias para o desenvolvimento do turismo sustentável (Middleton e Hawkins,
1998).
Em novembro do ano 2000, durante o primeiro workshop internacional sobre certificações em
ecoturismo e turismo sustentável, realizado no Mohonk Mountain House, em Nova Iorque, foi
elaborado o Acordo Mohonk. O evento contou com participantes de 20 países, dentre eles
profissionais de programas de certificação e acreditação em turismo sustentável ou ecoturismo
que já estavam em funcionamento ou ainda em fase de planejamento. A participação do Brasil
se deu por meio das organizações SOS Mata Atlântica e Imaflora (Instituto de Manejo e
Certificação Florestal e Agrícola) (Honey e Rome, 2001). Nesse acordo, se definiu o turismo
sustentável como aquele que procura minimizar impactos socioculturais e ambientais ao
mesmo tempo em que proporciona benefícios econômicos para as comunidades e países em
que se inserem, sendo, portanto, distinto do ecoturismo, que deve se referir ao turismo
sustentável que possui foco nas áreas naturais e beneficia o ambiente e as comunidades,
promovendo conscientização e apreciação ambiental e cultural (Mohonk Agreement, 2000).
Mais recentemente, um documento da Organização Mundial do Turismo e do Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA e OMT, 2005) define que o turismo
sustentável não corresponde a uma tipologia de turismo já que toda forma de turismo deveria
se esforçar para ser sustentável. Segundo o documento, o turismo é uma atividade capaz de
beneficiar socialmente e economicamente as comunidades locais, além de conscientizar e
apoiar a conservação ambiental.
Assim, o turismo sustentável, em sua complexa abrangência, envolve a compreensão dos
impactos causados pelas atividades que o setor comporta. Há um consenso mundial de que o
turismo tem de firmar-se em quatro pilares (ambiental, social, econômico e político), sendo o
ambiental reconhecido como principal fonte de matéria-prima dos atrativos (Beni, 2003).
Assim, estudos acerca dos impactos do turismo vêm sendo amplamente desenvolvidos
(Espinha, 2010; Felix e Santos, 2013; Sealey e Smith, 2014) e destacam as práticas de gestão
como um enfoque que contribui para avançar na investigação da sustentabilidade no setor.
Pode-se verificar que o segmento de meios de hospedagem tem recebido bastante atenção nas
discussões acerca da promoção da sustentabilidade no turismo. Os meios de hospedagem são
estabelecimentos destinados a prestar serviço temporário de acomodação, assim como outros
serviços destinados a satisfazer as necessidades dos hóspedes (Brasil, 2008). Esses
estabelecimentos representam uma importante parte das atividades turísticas, já que a própria
definição de turista exige que o visitante passe pelo menos uma noite no destino (OMT,
2008).
Assim, devido a relevância dos meios de hospedagem para o turismo, um dos conjuntos dos
Critérios Globais do Turismo Sustentável (GSTC Criteria) foi criado especificamente para
hotéis e operadoras de turismo (GSTC, 2016).
Esse conjunto dos Critérios Globais do Turismo Sustentável (GSTC Criteria) voltados para
hotéis e operadoras de turismo são organizados em torno de quatro temas principais:
planejamento eficaz para a sustentabilidade, maximização de benefícios sociais e econômicos
para a comunidade local, melhoramento do patrimônio cultural e redução de impactos
negativos no ambiente. Eles fazem parte da resposta do setor de turismo para os desafios
globais dos objetivos de desenvolvimento do milênio da ONU e já são apresentados junto de
indicadores de desempenho que podem ser tomados como base pelos usuários no
desenvolvimento de seus próprios conjuntos de indicadores. Essas ferramentas (indicadores)
são importantes ao mostrar um caminho possível para a adequação aos critérios e, também,
para avaliar se os objetivos foram alcançado (GSTC, 2013).
Já com relação a criação de normas para fomentar a sustentabilidade do turismo, é importante
ressaltar que, foi ainda na década de 90, época de importantes marcos nas discussões que
envolvem o meio ambiente, que começaram a se destacar certificações ambientais passíveis
de serem aplicadas ao turismo – como é o caso da ISO 14001 - e, também, certificações de
sustentabilidade especificamente voltadas ao setor ou a alguns de seus segmentos.
É possível contribuir para promover o turismo sustentável ao se discutir normas para os meios
de hospedagem e a inserção de aspectos ambientais na gestão desses empreendimentos (Beni,
2003). No sentido de realizar essa discussão, foi realizada no Brasil, em 2003, a Conferência
Regional das Américas, impulsionada pela OMT em parceria com o Instituto de
Hospitalidade, com o tema central Certificação da Sustentabilidade das Atividades Turísticas.
De acordo com Font (2002), as certificações ambientais foram introduzidas no turismo como
um método mais formal na busca pela eficiência ambiental e, devido aos sistemas que
estavam sendo desenvolvidos se mostrarem factíveis apenas para grandes empresas, a
exemplo da ISO 14001, criaram-se outras opções. Torna-se relevante, portanto, desenvolver
padrões de certificação que considerem as características setoriais. O desenvolvimento de
critérios de avaliação para empresas de turismo permite que as partes diretamente interessadas
na atividade exerçam influência, o que não seria possível com certificações como a ISO
14001, que poderia permitir que uma empresa obtivesse certificação mesmo que estivesse em
disputa legal ou em conflito com ambientalistas e comunidades locais do destino turístico, por
exemplo (Sasidharan, Sirakaya e Kerstetter, 2002). Afinal, não são raros os desentendimentos
com a comunidade local que possui um conhecimento ecológico tradicional divergente do
conhecimento científico especializado, sendo necessária a compreensão, por parte dos
tomadores de decisão, do contexto cultural local, a fim de evitar a criação de novos problemas
ao tentar solucionar uma questão (Lamers et al, 2016).
Merece destaque, também, o surgimento de certificações nacionais. Estas têm se mostrado
fundamentais, pois as certificações presentes em países em desenvolvimento que são
provenientes de organismos internacionais e adequadas aos empreendimentos de países
desenvolvidos são criticadas por deixarem de tratar de problemas socioculturais locais e
trazerem mais vantagens para o setor privado do que para o país em desenvolvimento no qual
o empreendimento é instalado (Rattan, 2015).
Assim, de acordo com Rattan (2015), as certificações voltadas para a sustentabilidade do
turismo devem envolver questões internas, ou seja, relacionadas estritamente com a empresa;
questões externas, relacionadas com o meio ambiente e com a comunidade local, além de
outras questões de equidade econômica e sociocultural, visando sempre a redução de danos.
Com relação às iniciativas de países; no Brasil, a elaboração de certificações ambientais
específicas para o turismo é ainda recente. O país merece destaque pelo desenvolvimento de
uma certificação nacional específica para o segmento de meios de hospedagem. Trata-se da
NBR 15401 – Meios de Hospedagem – Sistemas de Gestão da Sustentabilidade – Requisitos,
publicada pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (Espinha, 2010). Essa norma,
publicada em 2006 e atualizada em 2014, define um modelo de gestão de meios de
hospedagem que envolve política de sustentabilidade, atribuição de responsabilidades,
identificação dos aspectos ligados à sustentabilidade, e definição de requisitos a cumprir
(ABNT NBR 15401, 2014). Ao trabalhar com sistemas de gestão da sustentabilidade, possui
requisitos que vão além da dimensão ambiental, levando em consideração aspectos culturais,
econômicos e sociais.
A NBR 15401 visa apresentar requisitos para a sustentabilidade que sejam passíveis de ser
verificados, tanto para fins de certificação quanto para avaliações realizadas pelos próprios
estabelecimentos. O meio de hospedagem deverá cumprir com estes requisitos ao desenvolver
um sistema de gestão da sustentabilidade que atenda aos Princípios do Turismo Sustentável,
definidos pelo Conselho Brasileiro para o Turismo Sustentável (ABNT NBR 15401, 2014).
A acreditação de organismos de certificação de sistemas de gestão na área do turismo,
conforme a norma NBR 15401, é realizada pelo INMETRO (Instituto Nacional de
Metrologia, Qualidade e Tecnologia), assim como acontece com a NBR ISO 14001.
É necessário destacar que, com relação aos padrões de certificação de turismo sustentável,
cada vez mais normas estabelecem requisitos de sustentabilidade voltados para meios de
hospedagem, como, por exemplo: Green Globe, Green Key, Green Hospitality Award, Eco
Certification, Green Certificate etc.
As normas de certificação definem padrões de gestão a serem implantados nos
empreendimentos certificados. Contudo, a formulação de critérios e indicadores a partir das
definições de turismo sustentável, ecoturismo e gestão ambiental é um desafio, sendo a
vertente social da sustentabilidade uma questão particularmente complexa (Font e Harris,
2004).
Assim, iniciativas como a NBR 15401 são importantes por reconhecerem os meios de
hospedagem como potenciais causadores de importantes impactos ambientais e que precisam
ser atenuados ou evitados.
Colocando o foco nos meios de hospedagem, é necessário ressaltar que estes têm sua
localização definida de acordo com as necessidades dos clientes. Por esse motivo, no Brasil,
muitos desses empreendimentos estão em regiões de delicado equilíbrio ambiental, áreas de
beleza natural e cidades históricas, influenciando o meio em que se encontram (Gonçalves,
2004).
Desse modo, a questão ambiental deve continuar recebendo cada vez mais atenção,
especialmente em destinações de equilíbrio ambiental mais delicado, conforme se adquirem
maiores informações sobre os possíveis impactos negativos decorrentes dos serviços dos
meios de hospedagem. Um exemplo de contribuição nesse sentido é a de Sealey e Smith
(2014) que, durante um estudo sobre reciclagem em empreendimentos turísticos localizados
em uma ilha das Bahamas, revelou que apenas um resort era capaz de gerar até 35% do total
de resíduos sólidos produzidos, direta e indiretamente, na ilha de Exuma, em um período de
três anos.
3. A MATERIALIDADE DOS SERVIÇOS
Os serviços têm sido, durante muito tempo, alvo de diversas concepções errôneas. Desse
modo, a própria definição do setor de serviços parece ter se dado a partir de um processo de
exclusão; ou seja, as atividades que não se ajustavam às características do setor primário
(agricultura, extrativismo) ou secundário (industrial) – setores mais importantes para a
economia mundial no século XIX e primeira metade do século XX - foram classificadas como
serviços (Gummesson, 2010; Metters, 2010).
A partir disso, algumas definições foram se consolidando. Além da ideia de que todos são
imateriais – em oposição aos bens tangíveis - os serviços também passaram a ser
considerados inseparáveis (de produção e consumo simultâneos), perecíveis (impossíveis de
serem armazenados para uso posterior), variáveis (devido à imprevisibilidade das interações
entre produtores e consumidores), não requerentes de grandes investimentos (Gummesson,
2010; Metters, 2010). Assim, o entendimento sobre os serviços com base nessas
características tem predominado durante muito tempo em pesquisas sobre o setor (Kon, 2004;
Howells, 2010).
Contudo, até mesmo pesquisas que reforçam algumas dessas características (como a da
imaterialidade) tendem a reconhecer que o setor engloba atividades muito diversificadas, de
modo que os contrastes dentro do próprio setor se tornam tão significativos quanto aqueles
que distinguem os serviços da indústria (Miles, 2005).
Tether e Metcalfe (2004) afirmam que embora muitos serviços envolvam alto grau de
interação e interdependência entre provedor e usuário – como é o caso de várias atividades de
turismo - essa característica é relativa ao tipo de serviço prestado e não inerente a todos eles.
Além disso, vale destacar que a utilização da informática e dos meios de comunicação
também tem alterado a forma do contato entre o produtor e o consumidor de determinados
serviços, algo que pode ser bem visualizado no comércio, em que o pedido de uma
mercadoria pode ocorrer online (Kon, 2004).
Já de acordo com Gallouj e Djellal (2010), a convicção de que os serviços não fazem uso
intensivo de capital (equipamentos, recursos financeiros, instalações etc.) deve mudar,
pois estes têm sido os principais consumidores de tecnologias da informação e comunicação
(TIC). A partir desse maior uso das TIC (que envolve hardwares com curto ciclo de vida,
constituídos de metais) e, também, dos novos processos tecnológicos disponíveis, muitas
atividades do setor de serviços têm se tornado mais tangíveis (Djellal e Gallouj, 2015b).
Voltando a atenção para a suposta característica imaterial dos serviços, vale destacar que Hill
(1977) já reconhecia que, embora os serviços não correspondam por si só a objetos físicos,
sua produção envolve, com frequência, os mesmos processos de transformações físicas que
são utilizados na produção de bens. Lovelock (1983) apresenta um esquema de classificação
dos serviços em quatro categorias: ações tangíveis voltadas para as pessoas (como o
transporte aéreo), ações tangíveis para com os bens e outras posses físicas (como os serviços
de zeladoria), ações intangíveis direcionadas a mente das pessoas (como a educação) e ações
intangíveis voltadas para os ativos intangíveis das pessoas (como os investimentos bancários).
Além disso, o autor também admite a possibilidade de um determinado serviço transpassar
por duas ou mais categorias, apresentando alguns exemplos como o da educação, em que
pode-se notar tangibilidade na presença em uma sala de aula. Logo, deve-se atentar para o
fato de que existem aspectos tangíveis para grande parte - senão todos - dos serviços.
Contudo, apesar dessas indicações dos aspectos materiais dos serviços (Hill, 1977; Lovelock,
1983), o entendimento de que todos os serviços são imateriais foi consolidado e tem levado a
falhas no momento de se mensurar a performance econômica e ambiental do setor (Gallouj e
Savona, 2009, Fourcroy, Gallouj e Decellas, 2012).
Desse modo, abordagens recentes propostas pela economia de serviços buscam avançar na
compreensão da natureza dos serviços enfatizando seus aspectos materiais atrelados às
questões ambientais (Gadrey, 2000; Gallouj e Savona, 2009; Gadrey, 2010; Gallouj e Djellal,
2010; Gummesson, 2010; Fourcroy, Gallouj e Decellas, 2012; Djellal e Gallouj, 2013; Djellal
e Gallouj, 2015a; Djellal e Gallouj, 2015b).
Gadrey (2010) defende que há uma falsa ideia de que a economia está se tornando mais
desmaterializada devido à expansão do setor de serviços. Segundo o autor, o cálculo que
demonstra que, na média, os serviços consomem menos recursos naturais do que outras
atividades está equivocado por não levar em conta as características materiais da maior parte
dos serviços – o que, ainda de acordo com ele, precisa passar a considerar além dos fatores de
produção: os aspectos envolvidos nos deslocamentos (veículos, infraestrutura etc.), os fatores
materiais dos locais em que a relação de serviço ocorre (com relação não apenas àqueles
necessários para a construção de edifícios, como também aos fluxos materiais utilizados para
manter a área em funcionamento) e a materialidade das ferramentas técnicas que apoiam uma
relação de serviço. O autor explica, ainda, que a vantagem apresentada para os serviços com
relação às emissões de CO2 por setor da economia ocorre devido ao fato de que só são
levadas em consideração as emissões associadas às alterações de temperatura e iluminação
dos edifícios e, por vezes, o consumo de energia com ferramentas técnicas, o que não
representa a totalidade dos recursos materiais utilizados.
Dessa forma, ao levar-se em conta o desempenho ambiental, pode-se entender a
imaterialidade dos serviços como um mito, já que a característica interativa dessas atividades
(presente em muitos serviços, embora – como já mencionado anteriormente - não em todos)
exige sistemas de transporte e comunicação física. Os serviços, a partir de suas várias fontes
de materialidade, consomem mais energia do que as estatísticas oficiais demonstram, estando
uma das origens desse consumo relacionada à mobilidade necessária para a realização das
operações de serviços (Fourcroy, Gallouj e Decellas, 2012).
Esse aspecto também aparece na pesquisa de Djellal e Gallouj (2015b), que aponta algumas
estatísticas em que foram consideradas apenas as emissões de CO2 do setor de serviços
relacionadas ao aquecimento e iluminação de edifícios e a energia consumida por sistemas
técnicos, deixando de contabilizar aspectos como o consumo de energia proveniente da
fabricação e manutenção dessas tecnologias utilizadas. Os autores afirmam, também, que a
interatividade dos serviços implica uma dimensão tangível, que pode ocorrer devido ao
processo de coprodução ou de introdução e desenvolvimento das tecnologias de informação e
comunicação.
Essas questões se relacionam a outra concepção acerca do setor que deve ser superada: a de
que os serviços não causam impactos indesejados ao meio ambiente (Gallouj e Djellal, 2010).
Uma questão apresentada por Gadrey (2010), que contrapõe a ideia mais comum que se tem
sobre os serviços, mostra um cálculo baseado na combinação da emissão de CO2 por
habitante e na parcela de empregos gerados pelos serviços em uma economia, que demonstra
que os países economicamente mais orientados para o setor de serviços são, também, aqueles
que mais poluem.
Nesse sentido, um exemplo citado por Gallouj e Djellal (2010), e que converge com a
pesquisa de Fourcroy, Gallouj e Decellas (2012), é o de que a relação de serviços muitas
vezes envolve o deslocamento de consumidores até os prestadores do serviço ou o contrário,
impactando o meio ambiente.
Logo, deve-se compreender o turismo como uma atividade capaz de gerar efeitos adversos
para o meio ambiente. Djellal e Gallouj (2015b) apontam que o turismo tem apresentado
características de uma forma de industrialização - utilizando inclusive métodos de produção
industrial - a partir da padronização de pacotes turísticos, por exemplo. Ademais, deve-se
ressaltar que essa atividade envolve necessariamente o deslocamento de indivíduos. No
Brasil, o número de chegadas de turistas estrangeiros no país, em 2015, foi de 6.305.838.
Além disso, com relação ao turismo interno – principal forma de turismo do país - o número
de desembarques nacionais aéreos de passageiros, no mesmo ano, foi de 94.453.798 (Mtur,
2016). Todos esses deslocamentos, evidentemente, implicam em emissões que podem gerar
impactos indesejados.
4. CONCEITO DO CICLO DE VIDA APLICADO AOS MEIOS DE HOSPEDAGEM
Os serviços, assim como os bens, também requerem entradas de matérias-primas para que sua
provisão seja assegurada (Daly e Farley, 2004). Logo, a produção e consumo dos serviços
(que muitas vezes ocorrem simultaneamente) prestados pelos meios de hospedagem requerem
entradas e, consequentemente, geram saídas (emissões atmosféricas, efluentes, resíduos etc.)
que podem causar efeitos adversos ao meio ambiente.
O enfoque do ciclo de vida do produto vem sendo utilizado por se mostrar útil para o
entendimento da evolução dos produtos turísticos e destinações (Moss, Ryan e Wagoner,
2003; Weiermair, 2007). No presente trabalho, é sugerido que o conceito pode contribuir para
melhorar o entendimento sobre as características de materialidade do serviço.
A dimensão ecológica (ou ambiental) é um dos enfoques necessários ao turismo sustentável.
Porém, é necessário levar em conta também as dimensões social, cultural, econômica e
política (Beni, 2003). Vale ressaltar, ainda, que normas de certificação voltadas para os meios
de hospedagem, a exemplo da NBR 15401, trabalham com sistemas de gestão da
sustentabilidade. Isso significa que elas definem requisitos que vão além da dimensão
ambiental, sendo considerados também requisitos econômicos e socioculturais. Estes últimos
abordam comunidades locais, geração de trabalho e renda, inclusão de trabalhadores de
comunidades locais ou regionais, estímulo às atividades complementares às operações do
meio de hospedagem, condições de trabalho, aspectos culturais, saúde e educação, impactos
sobre as populações tradicionais.
O recorte do presente trabalho recai sobre os requisitos ambientais do turismo sustentável,
reconhecendo que outras questões são igualmente relevantes para a atividade turística
sustentável.
Propõe-se que os principais assuntos que afetam o desempenho ambiental dos meios de
hospedagem podem ser interpretados por meio do conceito de ciclo de vida do produto,
conforme estrutura analítica do Guia para consideração de questões ambientais em normas
de produtos (ABNT ISO GUIA 64, 2010), mostrada na figura 1. As entradas correspondem
ao consumo de recursos e as saídas são emissões atmosféricas, emissão de ruídos, descargas
de efluentes e geração de resíduos, ou seja, os aspectos ambientais do serviço.
Figura 1: CONCEITO DE CICLO DE VIDA DO PRODUTO
Fonte: ABNT ISO GUIA 64 (2010).
Para tanto, é necessário identificar as entradas e as saídas mais relevantes presentes nos
serviços de meios de hospedagem.
Com base em pesquisa bibliográfica, é possível identificar as entradas e as saídas mais
significativas geradas ao longo dos estágios de produção e consumo dos serviços de
hospedagem.
Assim, o consumo de energia elétrica é apontado como uma importante entrada de consumo
de recursos feito pelos meios de hospedagem. Segundo Chan (2012), por exemplo, a indústria
hoteleira consome quantidade significativa de energia.
O consumo de energia elétrica inclui o aquecimento dos edifícios ou ar-condicionado, cocção,
refrigeração, iluminação, limpeza e, ainda, a energia requerida para prover os bens
necessários para manter o fluxo de turistas (a exemplo de computadores, televisões etc.)
(Gossling, 2002; Cheung e Fan, 2013).
Desse modo, os meios de hospedagem devem planejar e minimizar o consumo de energia
necessário para a prestação do serviço, dando preferência para fontes renováveis (ABNT NBR
15401, 2014; Felix e Santos, 2013).
Assim como o consumo de energia elétrica, o consumo de água também aparece como uma
relevante entrada de recursos para a prestação de serviços nos meios de hospedagem. Essa
demanda por água doce está diretamente relacionada à prestação do serviço, sendo uma
função do número de quartos, taxa de ocupação provável, número de pessoas que trabalham
e/ou habitam o estabelecimento, presença e tamanho de piscinas, cozinha, lavanderia, entre
outros (Lamei, van der Zaag e Imam, 2009). Dessa forma, há uma necessidade de controle e
planejamento do uso da água pelos meios de hospedagem, a fim de evitar desperdícios
(ABNT NBR 15401, 2014).
Outra entrada necessária para a prestação dos serviços de hospedagem se refere ao consumo
de combustíveis fósseis, que deve ser minimizado sempre que possível. Como exemplos desse
consumo, pode-se citar o gás de cozinha, óleo diesel para geradores e combustíveis para
refrigeradores e veículos utilizados pelos meios de hospedagem (Cheung e Fan, 2013).
Deve-se ressaltar, ainda, os produtos químicos como entradas presentes nos meios de
hospedagem. De acordo com Zorpas et al (2012), os hotéis apresentam alto consumo de
produtos químicos relacionados à manutenção de piscinas e jardins. Além disso, também
consomem produtos de limpeza, de higiene pessoal e, ainda, produtos utilizados no controle
de pragas/ pesticidas (ABNT NBR 15401, 2014; ABNT SEBRAE, 2012).
Por fim, os alimentos e bebidas também representam uma entrada importante para os serviços
de hospedagem. Afinal, a maioria dos hotéis, dos simples aos mais luxuosos, oferece
alimentos e bebidas, além da acomodação (Subbiah e Kannan, 2011).
As saídas, por sua vez, representam os aspectos ambientais do serviço em foco e estão
diretamente relacionadas às entradas.
Com relação aos resíduos sólidos – que representa aspecto ambiental dos meios de
hospedagem - pode-se verificar que a utilização de alimentos higienizados gera o descarte de
diversos tipos de embalagens (Pistorello, Conto, e Zaro, 2015). Ademais, os resíduos sólidos
gerados pela prestação dos serviços de hospedagem incluem plástico, papel, madeira, vidro,
resíduos orgânicos, bens duráveis antigos, equipamentos elétricos e eletrônicos, entre outros
(Zorpas et al, 2012), que devem ser descartados corretamente.
Além disso, como já apresentado, muitos meios de hospedagem oferecem serviços de
alimentação. Sendo assim, os resíduos orgânicos aparecem como um
componente significativo dos resíduos gerados por esses estabelecimentos (Pirani e Araf,
2015).
A geração de efluentes representa outra saída relacionada aos serviços prestados pelos meios
de hospedagem. Parte dessa geração ocorre na lavanderia, nos banheiros e vestiários e na
cozinha, assim como nos serviços de arrumação das unidades habitacionais (ABNT SEBRAE,
2012). Estes efluentes precisam ser bem geridos. Ainda hoje, alguns meios de hospedagem
despejam o esgoto gerado no mar, sem qualquer tratamento (Kocasoy, Mutlu e Alagöz, 2008).
Outro exemplo de saída gerada pelos meios de hospedagem durante a prestação do serviço,
que pode ser identificada na literatura, são as emissões de ruídos. Essas emissões são
associadas à maquinaria e equipamentos, atividades de entretenimento e às próprias
instalações (ABNT NBR 15401, 2014).
Por fim, deve-se ressaltar as emissões atmosféricas como uma saída importante relacionada
aos serviços de hospedagem. Nesse sentido, as emissões atmosféricas aparecem atreladas aos
veículos utilizados, às instalações e aos equipamentos (ABNT NBR 15401, 2014). Além
disso, os resíduos orgânicos e molhados gerados pelos meios de hospedagem também
contribuem para as emissões de gases de efeito estufa (Singh, Cranage e Nath, 2013; Cheung
e Fan, 2013).
Com base nas entradas e saídas, pode-se adaptar a figura 1, proposta pela ANBT ISO GUIA
64:2010, a fim de focar a análise das fontes de materialidade dos serviços de hospedagem.
Essa adaptação pode ser verificada na figura 2.
Figura 2: CONCEITO DO CICLO DE VIDA ADAPTADO AOS SERVIÇOS DE
HOSPEDAGEM (ETAPAS DE PRODUÇÃO E CONSUMO)
Fonte: Adaptado de ABNT ISO GUIA 64 (2010).
As entradas e saídas identificadas possibilitam considerar os estágios de produção e consumo
do serviço de hospedagem.
CONCLUSÃO
As discussões sobre a sustentabilidade no turismo, decorrentes da constatação dos potenciais
efeitos negativos dessa atividade para as comunidades e o meio ambiente (Rattan, 2015),
deram origem a diversos eventos ao redor do mundo e na América Latina, com o intuito de
promover e incentivar a busca pela sustentabilidade do setor.
Os serviços oferecidos pelos meios de hospedagem são potenciais causadores de efeitos
adversos ao meio ambiente. Devido a isso, esses empreendimentos têm recebido bastante
atenção nas discussões acerca da sustentabilidade no turismo, com o desenvolvimento de
critérios voltados para os meios de hospedagem. Além disso, pode-se verificar, também, o
surgimento de padrões de certificação que definem requisitos de sustentabilidade para
serviços de hospedagem.
Procurou-se, assim, esclarecer as entradas e as saídas geradas ao longo do ciclo de vida dos
serviços de hospedagem. Essa abordagem baseada no conceito de vida do produto permite
interpretar as fontes de materialidade do serviço considerando diferentes estágios (produção e
consumo) e enfocando questões ambientais.
As entradas identificadas foram: energia elétrica, água, alimentos/bebidas produtos de
higiene pessoal, produtos de limpeza e produtos químicos para controle de pragas. As saídas
identificadas, que são relacionadas ao serviço de meios de hospedagem e representam seus
aspectos ambientais, se referem a descargas de efluentes, emissões atmosféricas, emissão de
ruídos e geração de resíduos, com destaque para os resíduos orgânicos, já que, embora a
essência dos meios de hospedagem esteja em prestar serviço de alojamento temporário,
muitos oferecem também serviço de alimentação. Esses resíduos orgânicos, por sua vez,
também colaboram para a geração de emissões atmosféricas.
A compilação de entradas e saídas auxilia na interpretação ampla de fontes de materialidade e
também na melhor compreensão dos fatores essenciais à avaliação do desempenho ambiental
de serviços, ambos relevantes na promoção da sustentabilidade do setor. Trabalhos futuros
alinhados a essa abordagem enfrentarão um grande desafio em relação à necessidade de
disponibilização de bases dados quantitativos para mensurar entradas e saídas do ciclo de vida
do serviço.
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Informação sobre os autores:
Yuli Della Volpi,
Aluna do curso de Pós-Graduação em Sustentabilidade da Escola de Artes Ciências e Humanidades
da Universidade de São Paulo/, Av Arlindo Bettio, 1000, São Paulo, SP, CEP: 03828-000, E-mail:
yuli.volpi@usp.br
Sônia Regina Paulino,
Docente do curso de Pós-graduação em Sustentabilidade da Escola de Artes Ciências e Humanidades
da Universidade de São Paulo/, Av Arlindo Bettio, 1000, São Paulo, SP, CEP: 03828-000, E-mail:
sonia.paulino@usp.br