Caderno de redações 2010.pmd

81

Transcript of Caderno de redações 2010.pmd

Page 1: Caderno de redações 2010.pmd
Page 2: Caderno de redações 2010.pmd

1

Maria Inês Ghilardi-LucenaTereza de Moraes

PUC-Campinas2010

Processo Seletivo 2010

Page 3: Caderno de redações 2010.pmd

2

FICHA CATALOGRÁFICAElaborada pela Sistema de Bibliotecas e Informação – SBI – PUC-Campinas

808 Ghilardi-Lucena, Maria Inês

G424c Caderno de redações PUC-Campinas: processo seletivo

2010 / Maria Inês Ghilardi-Lucena e Tereza de Moraes.-

Campinas: PUC-Campinas, 2010.

80p.

1. Redação. 2. Narrativa. 3. Língua Portuguesa – Composição

e exercícios. 4. Exame vestibular. I. Moraes, Tereza de. II. Pontifícia

Universidade Católica de Campinas. III. Título.

22.ed.CDD-808

Page 4: Caderno de redações 2010.pmd

3

Os atores da enunciação, imagens do enunciador e doenunciatário, constituem simulacros do autor e do leitorcriados pelo texto. São esses simulacros que determinamtodas as escolhas enunciativas, sejam elas conscientesou inconscientes, que produzem os discursos. Paraentender bem o conjunto de opções enunciativasprodutoras de um discurso e para compreender suaeficácia, é preciso apreender as imagens do enunciadore do enunciatário, com suas paixões e qualidades,criadas discursivamente.

José Luiz Fiorin (2008, p. 161)

Page 5: Caderno de redações 2010.pmd

4

Page 6: Caderno de redações 2010.pmd

5

PREFÁCIO

Escrever não é tarefa fácil. Principalmente quando de sua avaliaçãodepende, de maneira significativa, o resultado de um projeto rumo à futuracarreira profissional: a vaga no curso tão sonhado.

Tem a redação grande importância na classificação dos candidatosda maioria dos Processos Seletivos. Para alcançar o objetivo pretendido, épreciso escrever bem e de forma clara. Lógica e coerência permeando aintrodução, o desenvolvimento e a conclusão, consistente defesa de seu pontode vista, contribuição pessoal e formalidade da linguagem são requisitos básicosna produção de um texto.

Em 2000, na Coordenadoria de Ingresso Discente, aprendi muito com ocomplexo processo de avaliação das redações. À época, as coordenadorasacadêmicas dessa atividade, as professoras Maria Inês Ghilardi Lucena, MariaMarcelita Pereira Alves e Graciema Pires Therezo, já demonstravam interesseem apresentar as riquezas encontradas na avaliação dos textos, como oselementos constituintes da estrutura ou a linguagem que os diferenciavam dosdemais. Num estudo crítico, apresentaram explicações destacando asespecificidades de cada gênero textual e as técnicas empregadas na suaprodução.

Surgiu, assim, o Caderno de RedaçõesCaderno de RedaçõesCaderno de RedaçõesCaderno de RedaçõesCaderno de Redações, com publicação anual.Desde 2004, cumpre o objetivo de oferecer material importante para oaprendizado de novos postulantes aos cursos superiores e, também, paraprofessores da área de leitura e produção de textos, em suas salas de aula.

Este fascículo traz uma análise das propostas de dissertações e denarrativas. De cada uma delas são apresentados textos produzidos porcandidatos participantes do Processo Seletivo da PUC-Campinas, com o estudocrítico de sua adequação ao tema, ao tipo de texto solicitado e aos demaiscritérios de avaliação.

Cada texto demonstra ideias, reflexões e pensamentos registrados pormeio de palavras que concretizam a visão de mundo daquele que escreve.Vale a criatividade, a desenvoltura, as sensações, a emoção e a maturidade.Vale, principalmente, a demonstração da certeza e da segurança de quemse preparou em profundidade, não apenas para o Vestibular, mas para avida, para o futuro. É isso o que, de fato, importa.

Profª Drª Angela de Mendonça Engelbrecht

Page 7: Caderno de redações 2010.pmd

6

Page 8: Caderno de redações 2010.pmd

7

SUMÁRIO

Prefácio ........................................................................................................................... 5

Apresentação ............................................................................................................... 9

Introdução .................................................................................................................... 11

Textos dissertativos e narrativos ................................................................................. 13

Prova de Redação 2010 - Instruções gerais ........................................................... 15

Proposta I – dissertação ............................................................................................. 19

Comentário da Proposta I ......................................................................................... 20

Redação nº 1: Por um estilo de vida melhor ........................................................... 22

Redação nº 2: Esforços na promoção da saúde infantil .................................... 26

Redação nº 3: O valor da saúde das crianças ................................................... 29

Redação nº 4: Influência da família versus influência da mídia ....................... 33

Redação nº 5: Responsabilidade das empresas ................................................. 36

Proposta II – dissertação ............................................................................................ 41

Comentário da Proposta II ........................................................................................ 42

Redação nº 6: Crítica ou preconceito - onde está a imparcialidade? 43

Redação nº 7: O racional e o insensato ................................................................ 47

Redação nº 8: Senso crítico e preconceito ........................................................... 51

Redação nº 9: As relações entre crítica e preconceito ...................................... 55

Redação nº 10: Consciência crítica ....................................................................... 58

Proposta III – narração ............................................................................................... 63

Comentário da Proposta III ....................................................................................... 64

Redação nº 11: O inusitado ..................................................................................... 65

Redação nº 12: Nietzsche no elevador .................................................................. 68

Redação nº 13: Imprevisto ........................................................................................ 71

Redação nº 14: Interessante experiência .............................................................. 74

Redação nº 15: Tirem-me daqui .............................................................................. 77

Bibliografia para estudo ............................................................................................ 80

Page 9: Caderno de redações 2010.pmd

8

Page 10: Caderno de redações 2010.pmd

9

APRESENTAÇÃO

A PUC-Campinas dá continuidade à publicação do Caderno de

Redações que, desde 2004, objetiva orientar os vestibulandos nos estudos de

produção de textos e prepará-los para a prova de redação, a fim de que sesintam seguros e tenham sucesso ao pleitear uma vaga na Universidade.

Para isso, coloca ao alcance dos candidatos alguns dos textos dissertativos enarrativos efetivamente produzidos por aqueles que prestaram o Vestibular

2010. Os professores de redação poderão consultar o conteúdo desteCaderno para fundamentar a avaliação dos textos produzidos por seus

alunos, bem como para promover debates em torno dos aspectos maisrelevantes do material nele reunido.

Publicando exemplos de redações e justificando seus méritos em estudoscríticos, tem a intenção de oferecer parâmetros de qualidade para quem

imagina ter que escrever textos eruditos ou para aquele que acredita sersuficiente transpor a linguagem falada para o papel. Dissertações e narrativas

de candidatos aprovados no processo seletivo, mais do que os comentáriosteóricos, mostram, em si mesmas, de que modo adequar-se ao tema proposto,

ao tipo de texto escolhido, ao nível de linguagem, à coesão e à coerência.Objetividade, progressão de argumentos e clareza de raciocínio na dissertação;

inventividade, trabalho com a linguagem, poder de criação de personagense ações na narrativa; coerência em ambos os tipos de textos, todos esses

recursos ficam evidentes nessas amostras, embora não necessariamente atinjama excelência.

A prova do Processo Seletivo 2010 constou de três propostas de redação,

duas dissertativas e uma narrativa, aqui comentadas. As dissertativas diferementre si quanto à temática e à diversidade de textos de apoio, sendo a Proposta

I fundamentada em um único texto dissertativo, um editorial jornalístico, e a II,em dois verbetes de dicionário que circunscrevem um tema. A Proposta III

apresenta uma situação do cotidiano com sugestão de personagens paracompor um texto do gênero narrativo.

Para cada uma das propostas foram selecionadas cinco redações,assim distribuídas:

Page 11: Caderno de redações 2010.pmd

10

• Proposta I: redações de 1 a 5;

• Proposta II: redações de 6 a 10;

• Proposta III: redações de 11 a 15.

Este Caderno publica, portanto, as três propostas da prova de redaçãocomentadas e quinze redações seguidas, cada uma, de um estudo crítico,além de uma introdução sobre a questão da leitura e da produção detextos em prova de vestibular, considerações sobre dissertação e narração e,no final, uma bibliografia para estudo, relacionada à área de leitura eprodução de textos. O leitor perceberá que, para escrever, não basta saberpalavras. É preciso que elas expressem um olhar pessoal sobre o mundo queo cerca.

Page 12: Caderno de redações 2010.pmd

11

INTRODUÇÃO

A avaliação das redações no vestibular tem por objetivo verificar acapacidade de leitura e produção de textos dos candidatos, reveladora dereflexão crítica frente ao tema proposto. É a forma de a Universidade perceber,pelas capacidades linguísticas e cognitivas apresentadas, em que medidasão dominadas as habilidades esperadas. Tal trabalho, entretanto, nãodesconsidera a situação de artificialidade em que o vestibulando se encontra.

Ao se considerar a linguagem como interação social, em que o outrotem um papel fundamental na construção dos sentidos, é preciso levar emconta, neste caso, a falta de espontaneidade da relação de interlocução.Ambos, locutor e interlocutor, estão comprometidos com a situação tensa deum dia de exame, em que ao vestibulando compete ser avaliado e, ao corretor,avaliar. Disso decorre a artificialidade na construção das imagens que fazemde si, do outro e do assunto a ser discutido, o que interfere na produção dotexto e, também, na leitura. O candidato escreve para uma banca deavaliadores, o que confere a quem lê o seu texto uma responsabilidadeigualmente tensa, diferente da fruição do leitor genérico, que lê o que lheapraz dentre os textos que circulam socialmente, concordando oudiscordando, mas sem a intenção de atribuir nota.

Conforme colocações de Wanderley Geraldi sobre a tão discutidaavaliação de redações, trata-se de um problema da instituição educacionalaté hoje não solucionado, embora dimensionado e debatido. Em situação devestibular, adquire, ainda, maior carga de tensão do que no dia a dia escolar,em que o professor pode orientar e sugerir refeituras. O texto produzido não éaquele em que um sujeito diz a sua fala, pois ele visa atender às solicitaçõespropostas pela Universidade. Nesse caso, não há, propriamente, um sujeito dalinguagem, mas uma função-candidato que escreve para uma função-avaliador.

Nesse contexto, em que se fazem sentir pressões de diferentes ordens,desde a familiar e social até a pessoal (a auto-estima), a enunciação adquireum caráter ímpar, pondo em jogo a relação da interlocução. Assim, hánecessidade de, ponderados todos esses fatores, proceder-se a uma avaliaçãojusta, segundo critérios objetivos, muito bem definidos (adequação ao tema,ao tipo de texto, ao nível de linguagem, coesão e coerência) e rigorosamenteaplicados por uma banca de avaliação composta de professores altamentequalificados e suficientemente treinados para essa tarefa.

Page 13: Caderno de redações 2010.pmd

12

Page 14: Caderno de redações 2010.pmd

13

TEXTOS DISSERTATIVOS E NARRATIVOS

As questões de gênero e de tipologia textual têm motivado os estudosna área de leitura e produção de textos. As escolas de Ensino Médio preparamos alunos para a redação de variados gêneros textuais – editorial, artigo deopinião, dissertação expositiva e argumentativa, relato, notícia jornalística,narrativa de ficção, carta, anúncio publicitário, resumo, resenha, dentre outros– visando, fundamentalmente, à aprovação nos exames vestibulares dasfaculdades.

Para os futuros universitários, importa produzir e interpretar os gênerosque lhes possibilitem maior interação na vida comunicativa, no trabalho e nosestudos, o que exige, também, familiaridade com diferentes níveis de linguagem.

O Processo Seletivo da PUC-Campinas optou por apresentar trêspropostas de redação para a escolha de uma delas, duas dissertativas e umanarrativa, focalizando, assim, dois dos gêneros textuais mais trabalhados nasala de aula. Textos dissertativos e narrativos diferem entre si na medida em quepressupõem recursos específicos, pois dissertar é dizer ideias e narrar é dizerfatos. Enquanto a dissertação atua no plano lógico-racional, a narrativa atuano lógico-emocional. A primeira privilegia o intelecto e, se bem feita, leva àadmiração. A segunda, privilegiando a sensibilidade e a emoção, aoencantamento.

TEXTOS DISSERTATIVOS

Escrever uma dissertação supõe o exame crítico do assunto a ser discutidoe a elaboração de um plano de trabalho que garanta a progressividade deum raciocínio lógico. Além de coerentes, as ideias apresentadas devem serexpressas de modo articulado, em nível de linguagem padrão, que permita aoleitor apreender com clareza todos os sentidos.

O primeiro passo para a produção de um texto dissertativo, depois deescolhido o tema, isto é, o aspecto do assunto que se deseja abordar, éestabelecer um objetivo. Este será responsável pela tese do autor, isto é, seuponto de vista sobre o problema. É possível, então, redigir a frase-núcleo, que,na maioria das vezes, aparece na introdução. Esta deve conter um esboçodas ideias a serem discutidas nos parágrafos seguintes.

Page 15: Caderno de redações 2010.pmd

14

O desenvolvimento, o chamado “corpo” do texto, deve obedecer aoprojeto esquematizado pelo produtor, garantindo uma progressão dosargumentos. São as razões que sustentam a tese: explicações, exemplos,citações, dados numéricos etc. Elas são responsáveis pela objetividade dadissertação, cuja finalidade é convencer o leitor. Há várias formas de ordenaçãodos parágrafos, sempre constituídos de uma ideia básica seguida decomplementares, mas o importante é que eles devem ser encadeados uns aosoutros para constituir as relações que formam o tecido, que é o texto. Essaprogressividade das ideias apresentadas é que permite ao autor chegar auma conclusão, a qual não é, apenas, o último parágrafo, mas decorrênciade todos os argumentos apresentados e deve ser absolutamente coerentecom a tese.

Para a garantia da lógica e da coerência do texto dissertativo, éfundamental que apresente uma determinada estrutura – introdução,desenvolvimento, conclusão –, entretanto, não se trata, apenas, de três partesda redação, mas da sequência de um raciocínio planejado. Este será dedutivo,se apresentar a tese na introdução, seguida dos argumentos. Será indutivo, se,primeiro, aparecerem as fundamentações, para, só no final, ficar explícito oponto de vista do autor.

TEXTOS NARRATIVOS

Narrar é representar ideias através de fatos organizados numa linguagemespecífica que lhes dê forma e sentido, no intuito de sensibilizar o leitor parauma maior e melhor compreensão do homem e da vida.

A produção do texto narrativo pressupõe a construção de um enredobaseado em fatos que se modificam no tempo, a criação de personagensque vivenciam os fatos, num determinado espaço, e a instituição de umnarrador que, a partir de um ponto de vista, organiza todos esses constituintes.Um projeto narrativo deve, também, objetivar o emprego da linguagemenquanto matéria da construção formal e projetar os fatos narrados não comoum fim em si mesmos, mas como suporte de ideias que os transcendem.

Assim, não basta reproduzir ou inventar alguns acontecimentos,colocando-os em sequência linear e em linguagem gramaticalmente correta,ignorando que o objetivo da proposta está, sobretudo, no seu uso particularenquanto o objeto instaurador de uma realidade que só, e exclusivamente,por ela é criada. A inventividade se pauta pelo dizer muito mais do que peloimaginar. Portanto, não basta pensar uma história, é preciso criá-la em palavras.É da seleção, ordenação e imagística das palavras que resulta o trabalhocriativo. Na literatura, as palavras não são um meio, mas um fim em si mesmas,importando menos o que dizem e mais como dizem. É no modo de realizaçãoque reside a grandeza ou o fracasso do texto literário.

Page 16: Caderno de redações 2010.pmd

15

PROVA DE REDAÇÃO 2010

INSTRUÇÕES GERAIS

I. Dos cuidados gerais a serem tomados pelos candidatos:I. Dos cuidados gerais a serem tomados pelos candidatos:I. Dos cuidados gerais a serem tomados pelos candidatos:I. Dos cuidados gerais a serem tomados pelos candidatos:I. Dos cuidados gerais a serem tomados pelos candidatos:

1. Leia atentamente as propostas, escolhendo uma das três para sua provade Redação.

2. Escreva, na primeira linha do formulário de redação, o número da propostaescolhida. A colocação de um título é optativa, a não ser quandoexpressamente solicitada.

3. Redija seu texto a tinta (em preto).

4. Apresente o texto redigido com letra legível (cursiva ou de forma), em padrãoestético conveniente (margens, paragrafação etc.).

5. Não coloque o seu nome na folha de redação.

6. Tenha como padrão básico o mínimo de 30 (trinta) linhas.

II. Da elaboração da redação:II. Da elaboração da redação:II. Da elaboração da redação:II. Da elaboração da redação:II. Da elaboração da redação:

1. Atenda, com cuidado, em todos os seus aspectos, à proposta escolhida.Às redações que não atenderem à proposta (adequação ao tema e aotipo de composição) será atribuída nota zero.

2. Empregue nível de linguagem apropriado à sua escolha.

3. Estruture seu texto utilizando recursos gramaticais e vocabulário adequados.Lembre-se de que o uso correto de pronomes e de conjunções mantém acoesão textual.

4. Seja claro e coerente na exposição de suas ideias.

Page 17: Caderno de redações 2010.pmd

16

Page 18: Caderno de redações 2010.pmd

17

PROPOSTA I

DISSERTAÇÃO

Page 19: Caderno de redações 2010.pmd

18

Page 20: Caderno de redações 2010.pmd

19

PROPOSTA I – DISSERTAÇÃO

Leia o editorial abaixo procurando apreender o tema nele desenvolvido.Em seguida, elabore uma dissertação, na qual você exporá, de modo claro ecoerente, suas ideias acerca do tema tratado no editorial.

É um bom sinal que 24 empresas do setor alimentício tenham decididobanir a propaganda voltada para crianças de até 12 anos em programas deTV com audiência formada majoritariamente por esse público. A restrição seestende a seções de jornais e revistas, sites e programação de rádio comcaracterísticas semelhantes.

A proposta reconhece que crianças, mais vulneráveis, devem serprotegidas de alguns tipos de publicidade. Pena que a elogiável decisãocorra o risco de se revelar inócua, pois nenhuma atração da TV aberta ou doscanais por assinatura possui mais 30% de público dentro da referida faixaetária. Apenas a TV Cultura leva ao ar programas que se enquadram nostermos propostos, mas a própria emissora não aceita publicidade nesses casos.

É sintomático que a medida tenha sido anunciada no momento emque a Agência Nacional de Vigilância Sanitária coloca em consulta públicauma série de normas para cercear a propaganda de alimentos dirigida àscrianças.

O órgão quer proibir anúncios de itens com baixo valor nutricional evetar o recurso a brindes, desenhos e personagens admirados pelo públicoinfantil na divulgação desses produtos.

A autorregulamentação é a melhor resposta ao problema.Antecipando-se às demandas da sociedade, a indústria tem mais chancesde evitar a indesejável intervenção do Estado por meio de leis draconianas.Iniciativas como a da Anvisa representam uma ameaça de tutela indevidasobre a liberdade dos indivíduos e o discernimento dos pais acerca do que émelhor para os filhos.

Seria louvável se os próprios fabricantes pensassem em desativar linhasde produtos reconhecidamente prejudiciais à saúde infantil e se entendessema restrição à publicidade para crianças como algo efetivo, e não apenas umlance de marketing politicamente correto.

(Folha de S. Paulo, A2 opinião, domingo, 30 de agosto de 2009)

Page 21: Caderno de redações 2010.pmd

20

COMENTÁRIO DA PROPOSTA I

O editorial da Folha de S. Paulo de 30 de agosto de 2009 trata dapropaganda para crianças. O assunto delimita-se à restrição da propagandade alimentos, na mídia para crianças de até doze anos.

No momento em que a sociedade brasileira se depara com o problemada obesidade infantil, até então considerada pelas famílias como “robustez”,mas vista pelos serviços de saúde pública como doença a ser prevenida,nada mais oportuno do que levar a pensar sobre providências a serem tomadas.

O texto inicia-se com o elogio a 24 empresas que decidiram desistir dapropaganda, na mídia, de produtos alimentares para crianças, entretantoressalta a possível ineficácia da medida, uma vez que a TV não alcança maisdo que 30% do público infantil. Enfatiza, também, a coincidência de a iniciativasurgir no momento em que a ANVISA leva a cabo uma consulta pública sobreesse tipo de publicidade. O objetivo é impedir o consumo de produtos pouconutritivos e a sedução exercida por brindes e outros recursos atraentes para aingenuidade das crianças.

O texto realça a importância de atitudes restritivas que partam daspróprias empresas, desativando linhas de produção, evitando a imposição doEstado e a ingerência de órgãos autoritários sobre o papel dos pais na educaçãoalimentar dos filhos.

Aparentemente simples e objetivo, permite várias possibilidades decontribuição pessoal. O candidato pode dar exemplos de recursos utilizadospelos agentes de publicidade, como oferecimento de brindes em ovos depáscoa, lanches do Mc Donald, venda inescrupulosa de guloseimas de altovalor calórico em cantinas de escola, clubes etc. Pode tecer consideraçõessobre a vulnerabilidade não só das crianças, mas também dos pais às tentaçõesimpostas pelo mercado; sobre o direito de a criança ser protegida segundo oEstatuto da Criança e do Adolescente; sobre o papel da mídia na publicidadevoltada para a infância com vistas ao estímulo ao consumismo; sobre aintervenção do Estado como proteção ou censura e, sobretudo, sobre o papelfundamental da família.

Maior profundidade de reflexão, contudo, levaria à conclusão de queo editorial, a partir de um fato que remete ao cotidiano, em verdade, abordatrês poderes: o da mídia, o do Estado e o dos pais. Considerando que o primeiro

Page 22: Caderno de redações 2010.pmd

21

é avassalador e molda o comportamento da sociedade de hoje, e que asfamílias se comportam segundo modelos que a TV introduz em suas casas,bastará a intervenção do governo para modificar hábitos? Será proteção oututela? Considerando, ainda, que a mulher, hoje, trabalha fora o dia inteiro enão cozinha mais em casa, como evitar que nas lancheiras escolares apareçambiscoitos e guloseimas industrializados, que as crianças tomem lanche emcantinas e que os adolescentes sejam frequentadores assíduos de lanchonetes?

Como se vê, o candidato mais observador da realidade do dia a diapode chegar, até, a considerar que a ascensão das classes populares, comconsequente poder aquisitivo maior, promoveu maior consumismo de produtossedutores ao paladar, principalmente dos seus filhos, e aos pais cabe, também,a responsabilidade por suas escolhas.

Não estará fugindo ao tema aquele que, chegando às raízes doproblema, deparar com o capitalismo, a ganância de lucro e a decorrenteindiferença pela criança, motivos que impedem as empresas, em sua grandemaioria, de tomar a única iniciativa capaz de resolver o problema: a não-fabricação de produtos nocivos à saúde.

Page 23: Caderno de redações 2010.pmd

22

REDAÇÃO 1

Por um estilo de vida melhor

Lucas Penna Daraio

A preocupação das autoridades diante das medidas publicitáriasadotadas por empresas do setor alimentício é um fator relevante, principalmentediante de um mundo capitalista que, muitas vezes, reduz seres humanos acifras, de maneira feroz e mesquinha, ainda mais quando o público alvo daspropagandas é composto por crianças, que são bem mais vulneráveis.Contudo, medidas como as da ANVISA, que busca implementar uma série deregras para limitar, de forma exagerada, a propaganda de alimentosdirecionada às crianças, tornam-se prejudiciais à liberdade das empresas edos próprios pais responsáveis pela orientação de seus filhos e devem seranalisadas com cautela no tocante à eficiência de tais iniciativas.

Mesmo desprovidas de algumas de suas campanhas publicitárias, asempresas alimentícias fabricantes de produtos de baixo valor nutritivo, ou,ainda, com elevado número de calorias, não deixariam de expô-los à vendanas prateleiras de lojas e de supermercados. Portanto, a remoção de umacampanha publicitária voltada para crianças menores de doze anos duranteprogramas de TV é uma medida superficial, que pode até inibir o consumo,mas não elimina de vez e nem insere no seu estilo de vida uma dieta saudável.

Segundo a OMS, os índices de obesidade ainda na infância têmaumentado de maneira assustadora, o que exige das autoridades medidasmais eficientes no combate à alimentação inadequada. Contudo, certamente,não pode fazer parte de tais medidas a censura às empresas publicitárias, poisé prejudicial à sociedade tanto a norma que cerceia a liberdade dos indivíduosde se expressarem e de comercializarem seus produtos como bem entendem,quanto a limitação dos direitos que os próprios pais têm de direcionar a condutaalimentar de seus filhos.

O caminho mais adequado, portanto, englobaria tanto umafiscalização moderada e consciente das campanhas publicitárias cujo enfoquefosse a população infantil, quanto a promoção de palestras ou eventos

Page 24: Caderno de redações 2010.pmd

23

informativos, nos mais variados veículos de comunicação, que visassem orientaros pais sobre a importância de uma alimentação saudável, capaz de ofereceros recursos suficientes para o adequado desenvolvimento da criança. Criadasem um ambiente favorável à boa alimentação, crianças saudáveis de hojeseriam os pais conscientes do amanhã. E como necessita da resposta dasociedade, o mercado buscaria adequar-se às “novas regras”, podendoexpressar-se livremente, criando, quem sabe, “brindes verdes’, ou, até mesmo,personagens incentivadores de consumo de uma alimentação mais coerentee menos prejudicial.

É inegável a presença do setor publicitário no campo alimentício,principalmente naquele voltado às crianças, exigindo das autoridades a devidafiscalizacão com base nos preceitos éticos. Contudo, cercear a liberdade deempresas, bem como de pais responsáveis pela orientação da posturaalimentícia de seus filhos é medida superficial. Ela deve estar associada àpresença cada vez mais séria e efetiva dos órgãos de saúde competentes nainformação de pais e responsáveis da importância de uma alimentaçãosaudável e de um estilo de vida cada vez mais compromissado com a saúde.

Page 25: Caderno de redações 2010.pmd

24

REDAÇÃO 1 – ESTUDO CRÍTICO

Bem planejada, a introdução desta redação coloca o leitor “emsituação”, isto é, diante do tema, o que é importante para a devidacompreensão do texto. O candidato sabe que esse leitor genérico desconhecea proposta, não leu o texto-base, portanto, para poder compreender osargumentos elencados e ser por eles convencido, precisa estar a par doproblema. Frases como “A preocupação das autoridades diante das medidaspublicitárias adotadas por empresas do setor alimentício”, “público alvo daspropagandas é composto por crianças, que são bem mais vulneráveis”

delineiam a questão a ser discutida. O interessante, é que, em meio a essesesclarecimentos, deixa evidente a sua tese: “medidas como as da ANVISA,que busca implementar uma série de regras para limitar, de forma exagerada,a propaganda de alimentos direcionada às crianças, tornam-se prejudiciais àliberdade das empresas e dos próprios pais responsáveis pela orientação deseus filhos”. Acrescenta o que pretende seja matéria do desenvolvimento: aanálise cautelosa dessa iniciativa.

O segundo parágrafo vincula-se, de maneira coerente, ao primeiro, aoexemplificar, com a afirmação de que “as empresas alimentícias fabricantesde produtos de baixo valor nutritivo (...) não deixariam de expô-los à vendanas prateleiras de lojas e de supermercados”, uma constatação do início dosegundo parágrafo, a de que o mundo capitalista “muitas vezes, reduz sereshumanos a cifras, de maneira feroz e mesquinha”. A conclusão dessas duasideias é de que é improvável que a supressão de campanhas publicitáriaspara crianças, na TV, consiga mudar sua dieta para alimentos saudáveis.

O raciocínio seguinte parte da mais grave consequência de uma dietanão saudável – a obesidade infantil – a qual requer rigorosas medidaspreventivas, mas retoma a tese de que a censura proposta é prejudicial, porcercear não só a liberdade das indústrias, mas a dos pais responsáveis pelaalimentação de seu filhos.

Até este ponto do desenvolvimento, o leitor acompanha a análise dos

dois lados do problema e já aguarda uma conclusão que ou o considereinsolúvel, ou ofereça sugestões possíveis. Estas aparecem no parágrafo seguinte

e recusam medidas rápidas, drásticas e radicais. Partem do mais difícil edemorado: a conscientização social, por meio dos mais diferentes expedientes

Page 26: Caderno de redações 2010.pmd

25

como palestras e eventos, cujo alvo sejam os pais. Novamente um vínculocoerente com a responsabilidade da família apontada no primeiro e no terceiroparágrafos. Está-se falando da absorção pelas crianças e jovens de novosvalores relacionados à educação e saúde, mais amplos que simplesmentebanimento de publicidade de alimentos pouco nutritivos ou altamentecalóricos. Quanto a esta, a sugestão é “uma fiscalização moderada econsciente”. O resultado previsto, mesmo que a longo prazo, seria a adequaçãodo mercado alimentício a “um estilo de vida melhor” – título do texto –, passandoa fabricar produtos saudáveis.

O último parágrafo apenas reitera as sugestões principais do texto:competência dos órgãos da saúde para esclarecimento dos pais e fiscalizaçãoda publicidade no campo alimentício baseada em preceitos éticos.

De raciocínio dedutivo, o texto é argumentativo, e o candidato nãotemeu tomar posição, rejeitando a censura e optando pela educação. Nãose referiu agressivamente ao poder do Estado, nem desmereceu a importânciada propaganda, sabendo realçar o papel dos pais na formação dos filhos aocriar “um ambiente favorável” para “valores diferenciados” que serão levadosà próxima geração – “seriam os pais conscientes de amanhã”. Mais uma vez,a coerência se faz sentir diante da sugestão de orientação dos adultos e, não,imediatamente das crianças.

Boa linguagem e clareza de exposição são, também, qualidades dotexto.

Page 27: Caderno de redações 2010.pmd

26

REDAÇÃO 2

Esforços na promoção da saúde infantil

Mariana Albertinazzi de Souza

A proposta de regulamentação das propagandas do setor alimentíciovoltadas para o público infantil é válida. A Agência Nacional de VigilânciaSanitária – ANVISA – que coordena o projeto, intenciona proteger as crianças,mais vulneráveis, de elaboradas estratégias de marketing. Entretanto não bastaa imposição de normas no setor, também é fundamental a educação alimentarfornecida pelos pais para que a dieta seja adequada e nutritiva.

Esse projeto, uma vez em vigor, proíbe anúncios de itens prejudiciais àsaúde infantil, com elevados índices de gordura, por exemplo. Contudo,apesar de adequado, não é suficiente. Isso porque as propagandasveiculadas atualmente atingem apenas 30% do público dessa faixa etária.Dessa maneira, a pioneira regulamentação de algumas empresas tende aparecer um lance de marketing, ao invés de real preocupação. Vale ressaltar,afinal, que muitos dos produtos continuam com composição inadequada àalimentação das crianças.

A principal problemática, nesse contexto, é a “regulamentação doconsumo”, ou seja, a educação familiar. Como soberanos na criação dosfilhos, os pais ou responsáveis devem conduzi-los a uma correta e balanceadaalimentação. Ensinar a importância da ingestão de alimentos saudáveis, ricosem nutrientes essenciais ao metabolismo é fundamental para a conscientizaçãoe a criação de bons hábitos. É necessário estimular o consumo desses alimentosem detrimento de outros prejudiciais e alertar os filhos dos motivos de tal escolha.

Nota-se, pois, que a regulamentação e a educação alimentar são fatoresdeterminantes para a saúde, quando somados. Os efeitos da ausência deambos são evidenciados nos Estados Unidos. O país apresenta crescentes índicesde crianças com obesidade e carência nutricional, resultado da preocupantealiança entre hábitos alimentares inadequados e forte indústria alimentícia –redes de fast-food e produtos industrializados de elevado teor calórico.

A iniciativa da ANVISA em regulamentar a publicidade voltada amenores de doze anos é um avanço na promoção da saúde. Todavia sãonecessários esforços familiares em educação para que não sejam alvo demarketing e tenham alimentação balanceada. Preocupar-se com a dietainfantil é uma questão de saúde pública e evita os diversos males decorrentesde má alimentação.

Page 28: Caderno de redações 2010.pmd

27

REDAÇÃO 2 – ESTUDO CRÍTICO

A redação, de raciocínio dedutivo, inicia-se com a tese de que “aproposta de regulamentação das propagandas do setor alimentício voltadaspara o público infantil é válida”, uma vez que pretende a proteção das crianças,“entretanto não basta a imposição de normas no setor, também é fundamentala educação alimentar fornecida pelos pais para que a dieta infantil sejaadequada e nutritiva”. Posto isso, todo o trabalho do texto é argumentar afavor do papel da família, muito superior ao de outras instâncias, no caso.

O segundo parágrafo explica o projeto da ANVISA de proibir, na mídia,anúncios de produtos prejudiciais à saúde infantil, mas afirma não ser a iniciativasuficiente, pois, pela TV, eles atingem pequena porcentagem do público-alvo,e “muitos dos produtos continuam com composição inadequada”. Considera,também, um lance de marketing o fato de empresas alimentícias decidirem seautorregulamentar.

O ponto mais denso do texto aborda o papel da educação familiarnesse campo. Enfatiza que os pais são “soberanos na criação dos filhos” e cabea eles a responsabilidade de “conduzi-los a uma correta e balanceadaalimentação”. Explicita como conseguir isso, não por meio de imposições oucastigos, mas por meio do ensino e do estímulo em casa. Atitudes como explicar“a importância da ingestão de alimentos saudáveis, ricos em nutrientes essenciaisao metabolismo”, incentivar o seu consumo, sempre alertando para as razõesdessa escolha, são os passos necessários para as únicas armas capazes de fazerfrente à sedução das propagandas: “a conscientização e a criação de bonshábitos desde a infância”. Opondo-se à “regulamentação da publicidade”, oautor chama isso de “regulamentação do consumo”, no caso, normas familiares.

O parágrafo seguinte lembra o exemplo dos Estados Unidos, conhecidopor suas famosas redes de fast-food e pelo consumo de comida de elevadoteor calórico, país onde a falta de normas governamentais sobre as fortesindústrias do setor e a ausência de educação alimentar em casa resultaramem obesidade.

A conclusão retoma a tese da validade das normas da ANVISA, pois apreocupação “com a dieta infantil é uma questão de saúde pública”, masreitera que apenas somadas às atitudes familiares em prol de uma alimentaçãobalanceada surtirão efeito.

Page 29: Caderno de redações 2010.pmd

28

O texto evidencia um objetivo claro, naturalmente planejado pelocandidato. Ao invés de investir contra a propaganda, tão capaz de seduzirum público vulnerável como o infantil, ou contra o governo, considerando-ointerferente ao estabelecer regras que poderão ser consideradas sinais decensura, foca o papel dos pais na educação dos filhos em um campo poucocomentado: o da alimentação. Essa escolha do foco, que não resvala para osub-tema, pois o candidato tem sempre presentes o poder da mídia e o poderdo Estado, revela experiência familiar e observação da realidade. O implícitoque deixa para o leitor, o qual vive a rapidez e as exigências do mundomoderno, é de que o essencial para os filhos de hoje é a presença dos pais.

Boa linguagem e boa coesão permitem a clareza das ideias.

Page 30: Caderno de redações 2010.pmd

29

REDAÇÃO 3

O valor da saúde das crianças

Ana Cândida de Paula Ribeiro e Arruda Campos

Não é ousado afirmar que, no Brasil, a propaganda é um instrumentoque influencia, sobremaneira, o comportamento do dito homem médio, hajavista os investimentos despendidos pelas empresas com estratégias de marketinge a qualidade da propaganda nacional, internacionalmente reconhecida.

Frequentemente, bordões e “jingles” veiculados pela imprensa sãoexecutados e absorvidos pelo vocabulário e hábitos de pessoas dos maisvariados estamentos sociais, graus de escolaridade e faixas etárias. Diantedesse fato notório, cresce, cada vez mais, a preocupação com o conteúdodas propagandas de um modo geral, principalmente porque crianças – públicocativo dos veículos da mídia, sobretudo da TV, dotadas de incontestevulnerabilidade – podem ser as grandes vítimas do poder de persuasão dessesveículos.

Com a proibição da veiculação das propagandas de cigarro, porexemplo, muitas crianças se tornaram imunes às mensagens subliminares –como a de que o fumante é mais bonito, charmoso, galã – e terão maioreschances de não adquirir o vício tabagista.

Será que a proibição da propaganda do cigarro representa uma tutelaindevida sobre a liberdade dos indivíduos, ou representa um marco na políticade saúde pública preventiva?

Neste momento, em que as atenções se voltam para a questão darestrição de anúncios de alimentos de baixo teor nutricional relacionado comofertas de brindes e personagens admirados pelo público infantil, o que sebusca é a preservação da saúde das crianças. Assim, a consulta feita pelaANVISA, além de instrumento dotado de grande viés democrático, reflete,repita-se, a preocupação estatal com a saúde da população e em nadainterfere no discernimento dos pais sobre o que é melhor para seus filhos.

Não se está discutindo se alimentos de baixa qualidade nutricionalcontinuarão a ser oferecidos. O que se discute, isso sim, é a vulnerabilidade da

Page 31: Caderno de redações 2010.pmd

30

criança diante das propagandas que veiculam esses produtos e as possíveisconsequências que a ingestão desses alimentos poderá causar na sua saúde.

Ainda que a restrição submetida à consulta da ANVISA tratasse deuma tutela indevida – o que se cogita apenas para fins de argumentação – ovalor saúde teria de ser frontalmente desprezado em prol de produtos quenada agregam à formação de uma criança?

Felizmente, já há empresas que, por iniciativa própria, vêm adotandopostura semelhante à pretendida pela agência regulatória sanitária, ou seja,optaram por banir a propaganda cujo alvo são crianças de até doze anos emprogramas de TV voltados ao público infantil. Tal medida – inócua ou não – éde grande importância, por representar uma pioneira e espontânea mudançade paradigma, pois, ao abdicar de uma poderosa ferramenta de marketing,está pensando num valor deveras nobre, qual seja, a formação e a saúde dascrianças.

Page 32: Caderno de redações 2010.pmd

31

REDAÇÃO 3 – ESTUDO CRÍTICO

A constatação de que a propaganda brasileira, “internacionalmentereconhecida”, é “um instrumento que influencia, sobremaneira ocomportamento do dito homem médio”, uma vez que são altos os investimentosdas empresas em estratégias de marketing, é a ideia inicial do texto, queprepara o leitor para o problema de o destinatário da publicidade não serapenas o homem médio, mas um público específico e vulnerável: o dascrianças.

O segundo parágrafo as coloca em pauta, como “vítimas do poder depersuasão” da mídia, já que esta é capaz de exercer influência no “vocabulárioe hábitos de pessoas dos mais variados estamentos sociais, graus deescolaridade e faixas etárias”. O problema é o conteúdo de certos tipos depublicidade.

Para especificar que a preocupação maior é com a saúde das crianças,o candidato lembra, de antemão, que a proibição das propagandas decigarro livrou muitas delas de serem seduzidas pelas “mensagens subliminares”– justamente o maior incentivo ao consumo – de que o fumante se torna umjovem superiormente diferenciado. Por meio de uma pergunta retórica, deixaa afirmação de que a proibição representa não “uma tutela indevida sobre aliberdade dos indivíduos”, mas “um marco na política de saúde preventiva”.

A essa altura, já se infere que o seu posicionamento é a favor da “restriçãode anúncios de alimentos de baixo valor nutricional relacionado com brindese personagens admirados pelo público infantil”. O texto deixa claro que normasque reflitam a preocupação governamental com a preservação da saúdedas crianças são bem-vindas, e a consulta feita pela ANVISA, “instrumentodotado de grande viés democrático”.

O raciocínio prossegue com teor explicativo, realçando o fato de que oque se discute não é a oferta de alimentos de baixo valor nutritivo, mas, sim, asconsequências da publicidade desses produtos para a saúde das crianças.Uma segunda pergunta retórica prepara o parágrafo de conclusão: aafirmação implícita de que esta representa valor insuperável, superior aquaisquer lucros com vendas de produtos.

As ideias finais são de elogio a empresas que, “por iniciativa própria,vêm adotando postura semelhante à pretendida pela agência regulatória

Page 33: Caderno de redações 2010.pmd

32

sanitária, ou seja, optaram por banir a propaganda” de alimento cujo alvosão menores de doze anos. Tal iniciativa é vista como “uma pioneira eespontânea mudança de paradigma”.

O texto, centrado na criança, considera que o projeto da ANVISA édemocrático, reflete a preocupação do Estado com a sua saúde e não interferenas decisões dos pais. Entretanto não se fixa no poder governamental edemonstra, como contribuição pessoal, grande preocupação com avulnerabilidade física e psíquica do público infantil. Nesse sentido é que foca ainiciativa das empresas de responsabilidade ética que demonstram, com suasatitudes pioneiras, atender ao apelo implícito do autor do texto: que sejapriorizado o valor da formação e da saúde das crianças.

Page 34: Caderno de redações 2010.pmd

33

REDAÇÃO 4

Influência da família versus influência da mídia

Lucas Prata Feres

No mundo capitalista e globalizado em que se vive atualmente, não édifícil perceber a enorme influência que os meios de comunicação exercemsobre os hábitos de consumo das pessoas, apelando para todo tipo deestratégia de marketing que possa convencer determinada parcela dasociedade das vantagens de obter certo produto. Porém, quando tais recursosde persuasão atingem as mentes vulneráveis das crianças e, principalmente,quando tratam do gênero alimentício, o problema parece se agravar e atingir,de modo negativo, a vida de diversas famílias.

A propaganda de alimentos, quando aparece atrelada à participaçãode personagens e desenhos do gosto do público infantil, parece tornar oproduto exposto algo de extrema necessidade para essas crianças, de modoque elas passam a abrir mão de uma refeição nutritiva para se agarrar aalimentos industrializados, normalmente de baixo valor nutricional.

Essa realidade prejudica a própria vivência familiar, na medida em queos pequenos desprezam a experiência dos pais e buscam, a todo custo, osprodutos consumidos pelos colegas, o que incrementa as vendas e estimula oprocesso de produção, gerando um círculo vicioso de dimensões inestimadas.

Além de comprometer a saúde das crianças, a imposição exercidapelas propagandas incita a rivalidade como problema social no meio infantil,já que a busca por ter todo tipo de produto que a maioria tem pode levar àdecepção inúmeros jovens que possivelmente não têm condição financeirasuficiente para adentrar o mundo do consumo da alta sociedade. Asconsequências disso são óbvias e vão desde a formação de futuras pessoasrevoltadas até a disputa evidente entre crianças de diferentes padrões devida.

Esperar que as próprias empresas tomem a iniciativa de reduzir apublicidade de consumo não é algo indicado, embora algumas já tenhaminiciado esse processo. E isso por uma razão clara: há competitividade no

Page 35: Caderno de redações 2010.pmd

34

mundo dos negócios. Perder a base mais sólida de vendas, que é a influênciados meios midíáticos é uma atitude descabida, que pode acarretar enormesprejuízos. E, infelizmente, para esse mundo, o lucro ocupa um patamar maiselevado que a prática de valores éticos que respeitem as decisões de cadaum.

Diante dessa situação, é importante e necessária a ação do Estado naregularização de programas e propagandas destinadas ao público infantil,de tal forma que não haja neles intenções alienantes sobre telespectadores eque, como resultado dessa regulação, surjam veículos de comunicaçãointeressados em manter as tradições e os hábitos das famílias e entender ascrianças sem eliminar sua liberdade.

Page 36: Caderno de redações 2010.pmd

35

REDAÇÃO 4 – ESTUDO CRÍTICO

O capitalismo e a globalização formam o contexto no qual o produtorda redação coloca a influência da mídia sobre os hábitos de consumo daspessoas. Na consideração do apelo dos meios de comunicação a “todo tipode estratégia de marketing que possa convencer determinada parcela dasociedade das vantagens de obter certo produto”, deixa implícito que oobjetivo é o lucro. Mas vai além, ao considerar que, quando o público-alvo éo infantil, “o problema parece se agravar e atingir, de modo negativo, a vidade diversas famílias”.

Essa última ideia vai ser desenvolvida nos parágrafos seguintes. O segundomostra que, quando a propaganda de alimentos “aparece atrelada àparticipação de personagens e desenhos”, a sedução transforma-se emnecessidade, e as crianças passam a ingerir guloseimas pouco nutritivas. Oproblema se agrava quando desprezam os conselhos dos pais, preferindoaderir às preferências dos amiguinhos, igualmente vulneráveis à publicidade,a qual, desse modo, incrementa as vendas. E adquire ainda maiores proporções,quando essa adesão ao que o grupo consome prossegue durante aadolescência, momento em que passam a se fazer sentir diferenças sociais nospadrões de consumo.

O quarto parágrafo afirma a inutilidade de esperar que as própriasempresas tomem a iniciativa de reduzir a publicidade, pois há que se considerara competitividade no mundo dos negócios. A influência da mídia éimprescindível para a obtenção de lucro, valor para elas superior ao daresponsabilidade ética.

A conclusão contém a tese de que “é importante e necessária a açãodo Estado na regularização de programas e propagandas destinados aopúblico infantil”, na esperança de que a mídia passe a respeitar as “tradiçõese os hábitos das famílias e entender as crianças sem eliminar sua liberdade”.

Como se percebe, o candidato trabalha com uma realidadedesconfortável para as famílias brasileiras, a de que perdem seu papel naeducação alimentar dos filhos, diante da sedução dos meios de comunicação,os quais, por meio de publicidade compactuada com os objetivos dasempresas, exerce papel mais importante do que o dos pais na formação dajuventude. As crianças crescem e o desejo de, hoje, consumir alimentosindustrializados que os colegas compram, passará, no futuro, à rivalidade naaquisição e exibição de outros produtos comerciais, símbolos de estrato social.

A reflexão é interessante, pois ultrapassa o atual problema que o Estadopretende resolver, para entrar, com coerência, no campo do poder da família,hoje, rival do poder da mídia.

Page 37: Caderno de redações 2010.pmd

36

REDAÇÃO 5

Responsabilidade das empresas

Luciana Akemi Yasuda Suemitsu

A industrialização do setor alimentício aliada à propagação das redes

de fast-food provocou o aumento do índice de obesidade mundial e reduziu

a qualidade alimentar da população contemporânea. Esse quadro

preocupante leva a uma indagação necessária: até onde as indústrias e suas

estratégias propagandísticas são responsáveis por essa situação, em especial,

pela saúde das crianças?

O público infantil é muito vulnerável ao conteúdo das propagandas.

Por não terem, ainda, muita consciência sobre os males de uma alimentação

ruim, as crianças são facilmente seduzidas por produtos condimentados ou

exageradamente doces, com suas embalagens coloridas e brindes divertidos.

Essa fragilidade é, sem dúvida, explorada pelas indústrias alimentícias, que,

segundo a lógica capitalista, buscam lucrar o máximo possível com a venda

de seus produtos.

Todavia, a questão ética deve ser sempre considerada na atuação

das indústrias. Um empresário deve buscar atender às demandas da

sociedade, proporcionando o melhor para ela. Pode ser mencionado, por

exemplo, o sucesso da atuação de empresas que seguem a linha verde, visando

à preservação do meio ambiente. Com a adoção de medidas como utilização

de meios de transporte menos poluentes, como o hidroviário, e o aproveitamento

de matéria prima reciclável, essas empresas reduziram custos e se destacaram

no cenário global.

As indústrias alimentícias devem seguir lógica semelhante em relação à

saúde de seus clientes. A busca por uma vida saudável é constante no mundo

atual. Ela pode ser constatada pela expansão de academias e de lojas que

oferecem alimentos naturais como saladas variadas. Eis uma alternativa para

as indústrias em questão: a criação de linhas de produtos recomendados

Page 38: Caderno de redações 2010.pmd

37

para crianças, que contenham extratos de frutas e teor reduzido de açúcar,

por exemplo.

O papel dessas indústrias no controle de doenças causadas pela máalimentação infantil é central. As propagandas direcionadas a esse públicodevem ser reduzidas e as estratégias de “marketing”, como a anexação debrindes aos produtos, devem ser repensadas. Para compensar qualquerredução no lucro dessas empresas, causado por tais mudanças, as linhassaudáveis serão a alternativa. A postura adequada das indústrias do setoralimentício garantirá a saúde das crianças e será uma demonstração de éticafrente à lógica capitalista.

Page 39: Caderno de redações 2010.pmd

38

REDAÇÃO 5 – ESTUDO CRÍTICO

O texto, bem planejado, permite ao leitor perceber, já na introdução,que o autor pretende trabalhar, sem fugir ao tema, a responsabilidade dasempresas alimentícias pelo “aumento do índice de obesidade mundial”, pelaredução da “qualidade alimentar da população contemporânea” e pela“saúde das crianças”.

O segundo parágrafo mostra o quanto o público infantil é atraído pelaspropagandas dessas indústrias, que se valem de “embalagens coloridas ebrindes divertidos”, para vender produtos condimentados ou excessivamentedoces, indiferentes ao que possam causar. Acusa a lógica capitalista deexplorar a vulnerabilidade das crianças, imaturas e, portanto, ignorantes dosmalefícios de alimentos pouco nutrientes, apenas com o objetivo de “lucrar omáximo possível”.

O raciocínio prossegue com considerações sobre a necessidade deuma atuação ética das indústrias e de seu compromisso com o bem-estar dasociedade. Exemplos aparecem como argumentos de qualidade, lembrandoa existência de algumas que atuam com sucesso, na “linha verde”, procurandopreservar o ambiente, adotando meios de transporte menos poluentes eaproveitando matéria prima reciclável, o que as faz reconhecidas.

Feitas essas sugestões, o produtor do texto volta a insistir que as indústriasalimentícias devem seguir igual caminho, pois “a busca por uma vida saudávelé uma constante no mundo atual”. Explicita essa demanda social, lembrandoo aumento de academias de ginástica e de lojas de produtos naturais, já queexercícios e alimentação balanceada são os elementos imprescindíveis paraa saúde. Após esse argumento de presença, mais uma sugestão: a criação de“linhas de produtos recomendados para crianças, que contenham extratosde frutas e teor reduzido de açúcar”.

A dissertação centra-se na fabricação de produtos alimentíciosinadequados ao público infantil pelas empresas, focando sua responsabilidade,a qual, se assumida, solucionaria o problema. Essa insistência no papel dasindústrias, inclusive no de “controle de doenças causadas por má alimentaçãoinfantil”, deixa implícito para o leitor que, se exercido, evita a necessidade dainterferência do Estado nas propagandas. A conclusão do texto centra-se natese de que a elas cabe a redução das estratégias de marketing e que aredução dos lucros por estas trazidos pode ser compensada por mudançasnas linhas de produção. Estas garantirão “a saúde das crianças” e serão “umademonstração de ética frente à lógica capitalista”.

Page 40: Caderno de redações 2010.pmd

39

PROPOSTA II

DISSERTAÇÃO

Page 41: Caderno de redações 2010.pmd

40

Page 42: Caderno de redações 2010.pmd

41

PROPOSTA II - DISSERTAÇAO

crítica crítica crítica crítica crítica s.f 1 1 1 1 1 segundo a tradição, arte e habilidade de julgar a obra de um autor2 2 2 2 2 exame racional, indiferente a preconceitos, convenções ou dogmas, tendoem vista algum juízo de valor 3 3 3 3 3 p. ext. atividade de examinar e avaliarminuciosamente tanto uma produção artística ou científica quanto umcostume, um comportamento; análise, apreciação, exame, julgamento, juízo.

preconceito preconceito preconceito preconceito preconceito s.m. 1 1 1 1 1 qualquer opinião ou sentimento, quer favorável, querdesfavorável, concebido sem exame crítico 1.1 1.1 1.1 1.1 1.1 ideia, opinião ou sentimentodesfavorável formado a priori, sem maior conhecimento, ponderação ou razão2 2 2 2 2 atitude, sentimento ou parecer insensato, especialmente de natureza hostil,assumido em consequência de generalização apressada de uma experiênciapessoal ou imposta pelo meio; intolerância.

Levando em consideração as significações indicadas nos verbetes acima,transcritas do Dicionário Houaiss da Língua PortuguesaDicionário Houaiss da Língua PortuguesaDicionário Houaiss da Língua PortuguesaDicionário Houaiss da Língua PortuguesaDicionário Houaiss da Língua Portuguesa, redija uma dissertação,na qual você desenvolverá, com clareza e coerência, seu ponto de vistaacerca do seguinte tema:

Quem, ao julgar, baseia-se numa vivência ou numa experiência pessoal,Quem, ao julgar, baseia-se numa vivência ou numa experiência pessoal,Quem, ao julgar, baseia-se numa vivência ou numa experiência pessoal,Quem, ao julgar, baseia-se numa vivência ou numa experiência pessoal,Quem, ao julgar, baseia-se numa vivência ou numa experiência pessoal,dificilmente confunde crítica com preconceito.dificilmente confunde crítica com preconceito.dificilmente confunde crítica com preconceito.dificilmente confunde crítica com preconceito.dificilmente confunde crítica com preconceito.

Page 43: Caderno de redações 2010.pmd

42

COMENTÁRIO DA PROPOSTA II

A Proposta II da prova de redação dissertativa inicia-se com a colocaçãode dois verbetes do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, um com adefinição de crítica e outro, de preconceito. Assim determina-se o assunto daredação. O tema – delimitação do assunto – é a diferença entre esses conceitos,já que, em várias situações do cotidiano social, eles se confundem ou sesobrepõem. No dia a dia, as pessoas, muitas vezes, não se dão conta dasrelações entre os termos, ou não costumam se deter nessa questão.

A tese vem explicitada na proposta: “quem, ao julgar, baseia-se numavivência ou numa experiência pessoal, dificilmente confunde crítica compreconceito”. O redator da dissertação poderá aceitá-la totalmente, oucontradizê-la. Seu texto será adequado dependendo dos argumentos queexpuser como sustentação de seu posicionamento. É claro que, ao escolheruma tese, pode posicionar-se contra, no entanto, é pouco provável que issoocorra, visto que a forma como os verbetes são colocados induz a concordarcom as diferenças entre os dois conceitos.

A contribuição pessoal do produtor do texto estará estreitamentevinculada à percepção de que deve discutir uma afirmação que tanto podeser falsa como verdadeira, dependendo do ponto de vista. O operadorargumentativo “dificilmente” é o ponto-chave do sentido da frase. Quem sesente vítima de preconceito, devido a experiências anteriores traumatizantes,tende a encontrar hostilidade em críticas mesmo construtivas, portantofacilmente os confunde. Por outro lado, é possível que uma vivência pessoalenriquecedora traga a “habilidade crítica” que permita analisar e julgar comclareza uma determinada atitude.

Assim, estabelecendo-se um paralelo entre os dois conceitos – de acordocom o conteúdo da proposta –, a crítica, com maior objetividade, opõe-se aopreconceito, cuja carga de subjetividade costuma ser grande; da mesmaforma, a primeira é impessoal, enquanto o segundo é voltado para o ladopessoal; a crítica é indiferente ao preconceito, enquanto este supõe ausênciade exame crítico; naquela, predomina a razão, neste, o sentimento, a emoção.A crítica parte de uma avaliação minuciosa, ligada à sensatez, ao contráriodo preconceito, fruto da generalização apressada, de provável insensatez. Osobjetivos de ambos também diferem, pois a crítica pretende chegar a um juízode valor, a uma análise, ao passo que o preconceito gera hostilidade eintolerância. Uma é realizada a posteriori, em oposição ao outro, que ocorre apriori.

O tema é rico em possibilidades de exemplificação, de argumentação,visto que ninguém desconhece situações das mais variadas que ocorrem ànossa volta, vinculadas a críticas ou preconceitos.

Page 44: Caderno de redações 2010.pmd

43

REDAÇÃO 6

Crítica ou preconceito - onde está a imparcialidade?

Cesar Eduardo Zambon

Ao longo da história, um problema clássico que sempre se apresentou afilósofos, artistas, cientistas e demais acadêmicos foi o da possibilidade de seestabelecer um sistema de ideias completamente livre de qualquer conceitopré-concebido. Foi isso o que levou, por exemplo, Descartes a duvidar de tudoque os órgãos dos sentidos lhe forneciam e a buscar o princípio do conhecimentoem um juízo intelectual que estava, aparentemente, acima de qualquersuspeita – o “eu penso”. Foi isso também o que levou os cientistas revolucionáriosa duvidar dos sistemas de explicação da realidade por assim dizer vigentes emseus respectivos campos e a buscar uma nova explicação para essa mesmarealidade – uma explicação que não estivesse maculada por ideias pré-estabelecidas e mal esclarecidas. Buscavam-se princípios universais eindemonstráveis – verdades que se provam verdadeiras por si mesmas,independentes de fé, dogma ou qualquer tipo de preconceito.

Partindo-se dessa premissa, estabeleceu-se uma distinção entre críticaembasada e crítica preconceituosa. Essa distinção, com o tempo, passou avaler não apenas nos campos da ciência e da filosofia, como também nocampo moral e social. Criou-se, assim, o conceito de imparcialidade do examecrítico. De modo que, para ser considerado apto para criar ou julgar um sistemade idéias ou uma ação moral, o crítico deveria estar desprovido de qualquerpreconceito, ou seja, de qualquer pré-julgamento que fosse fruto de um oumais conceitos irrefletidos e inexplicados presentes em sua mente e quepudessem intervir no exame imparcial do objeto em questão. Com efeito, umacrítica deveria ater-se ao seu objeto e a princípios verdadeiros de julgamento.

Contudo, é nesse momento que nos deparamos com a chave doproblema: quais são esses princípios verdadeiros de julgamento? Será que elessequer existem? Deve-se notar que essa idéia de crítica imparcial suscita duasquestões. Primeira: é possível uma pessoa ser totalmente imparcial, isto é, deixarde lado todos os seus pré-conceitos e julgar algo de forma totalmente isenta?

Page 45: Caderno de redações 2010.pmd

44

Segundo: se tudo isso for possível, esse julgamento isento seria fundadoexatamente em quê?

Vemos que a ciência sempre esteve em uma busca incessante poraquele princípio básico, belo e bem fundado edifício do conhecimento, capazde explicar a realidade como um todo. E, assim sendo, toda crítica embasadadeveria se basear em tal princípio, fosse qual fosse o objeto em questão. Deforma análoga, todo julgamento moral deveria se fundar em um princípiomoral universal, que fosse verdadeiro e evidente por si só e independente dequalquer dogma ou crença.

Todavia, o que constatamos é que, até hoje, a ciência busca esseprincípio universal, sem sucesso. Tudo que se pôde encontrar até aqui foi umaverdade mutável – algo que se assume e que se aceita como verdadeiro.Portanto, a rigor toda a ciência se baseia em conceitos pré-estabelecidos nãoporque são verdadeiros, mas porque foram julgados como bons ou plausíveis.E, por mais que muitas e brilhantes mentes tenham refletido e meditado sobreeles, conceitos pré-estabelecidos são, em última instância, pré-conceitos.

Paralelamente, no campo moral, por mais que alguém tente ser imparcialao julgar uma ação, estará sempre se fundando em algum princípio. E talprincípio, por mais que seja aceito pela maioria, ou até mesmo por todos, serásempre algo aceito e nada mais do que aceito. De fato, muito se diz que aexperiência pessoal deve sempre ser levada em conta em qualquer julgamentomoral. Contudo, essa experiência se mostra muito mais como um fator depreconceito do que imparcialidade, visto que a vivência pessoal nada mais édo que o conjunto de idéias, crenças e dogmas que acumulamos ao longo denossa existência.

Portanto, devemos questionar se a dita crítica embasada não é elamesma preconceituosa, na medida em que assume princípios como sendoverdadeiros, mesmo que não sejam nossas ideias, mas ideias gerais. De fato,quando julgamos as atitudes de outrem baseados em nossos própriospreconceitos, estamos sendo evidentemente preconceituosos. Mas quandotentamos ser imparciais e nos desligar dos nossos próprios preconceitos,acabamos por assumir outros – os preconceitos que foram enraizados na nossamente pela sociedade em que vivemos, por algo que ouvimos aqui ou acoláou mesmo por princípios que parecem verdadeiros e inquestionáveis e que,contudo, nunca paramos para refletir sobre eles. Deste modo, ao que parece,ser imparcial não significa desprover-se de preconceitos, mas sim desprover-sedos nossos preconceitos. Pois, ao menos que exista uma verdade não reveladaque estabelece um princípio moral universal e irrevogável, quando julgamosmoralmente a ação de outra pessoa, em termos de imparcialidade, os conceitosde crítica e preconceito são intercambiáveis.

Page 46: Caderno de redações 2010.pmd

45

REDAÇÃO 6 – ESTUDO CRÍTICO

Logo de início, a redação “Crítica ou preconceito – onde está a

imparcialidade?” Busca, em fatores históricos, argumentos para ilustrar a

distinção entre “crítica embasada e crítica preconceituosa”. No primeiro

parágrafo, há menção ao pensamento de filósofos, artistas, cientistas e

acadêmicos que, em sua época, rejeitaram “ideias pré-estabelecidas e mal

esclarecidas” e procuraram novas explicações para a realidade vigente.

Procuraram as “verdades”, independentemente do que já havia se

estabelecido na sociedade.

No segundo parágrafo, o texto mostra que toda crítica, em princípio,

deveria ser imparcial, não só no campo científico e filosófico, “como também

no campo moral e social”. Assim, “o crítico deveria estar desprovido de qualquer

preconceito” ou pré-julgamento.

Duas questões são levantadas, em seguida, sobre a possibilidade de

alguém ser totalmente imparcial e sobre os fundamentos de um julgamento

isento de preconceitos. Seria, assim, baseado em princípios universais. No

entanto, a “verdade” é “mutável” e nem as ciências tiveram sucesso na busca

dos princípios universais. Também elas se baseiam em conceitos pré-

estabelecidos, o que é, afinal, um pré-conceito. A argumentação segue esse

raciocínio lógico e, depois, passa ao argumento de analogia, estabelecendo

um paralelo do campo científico com o campo moral. A ciência sempre esteve

em busca do “edifício do conhecimento” e o julgamento moral sempre buscou

o “princípio moral universal”.

Os dois parágrafos seguintes abordam o insucesso da ciência, que só

encontra a “verdade mutável” e o da moral, sempre fundada em algum

princípio simplesmente “aceito”.

Como conclusão, a redação aponta a impossibilidade de a crítica ser

totalmente imparcial – sendo, portanto, marcada por pré-conceitos ou

preconceitos –, visto que o ser humano vive em uma sociedade repleta de

princípios dados como verdadeiros ou inquestionáveis. Haverá, segundo o texto,

sempre preconceitos – individuais ou coletivos – nos julgamentos. Então, “em

termos de imparcialidade, os conceitos de crítica e preconceito são

intercambiáveis.

Page 47: Caderno de redações 2010.pmd

46

O texto revela um enunciador (poder-se ia dizer “pensador”) interessadopelo tema, já que tem embasamento teórico para discorrer sobre ele em seteparágrafos longos e muito bem estruturados a partir de seus tópicos frasais. Sedestacados do texto, estes compõem um exercício de progressividade queatende à coerência interna, além da coesão marcada por palavras detransição absolutamente adequadas: “Partindo-se dessa premissa”,“contudo”, “vemos que”, “todavia”, “paralelamente”, “portanto”. Vocabuláriopreciso e desembaraço de linguagem fazem-se notar, pois um texto teóricocomo esse requer propriedade vocabular da norma culta, sem contar aabsoluta correção gramatical.

O autor é ousado ao expor sua tese de que a crítica é, ela mesma,preconceituosa, mas confia na consistência de sua argumentação, que traduzinformatividade louvável em prova de vestibular.

Page 48: Caderno de redações 2010.pmd

47

REDAÇÃO 7

O racional e o insensato

Marina Zuccolotto Nogueira

Por definição, crítica é o julgamento racional e criterioso de algo. Sendolivre de convenções, a crítica se afasta muito do que vem a ser o preconceito,que se baseia numa análise generalizada e insensata. Aqueles que levarem asexperiências pessoais e cotidianas em conta, saberão diferenciar a crítica dopreconceito, pois a realidade e o bom senso encarregar-se-ão de mostrar oabismo que há entre eles e impedirão equívocos.

A crítica sempre é posterior a uma análise minuciosa que, geralmente,usa de critérios técnicos e artísticos para realizar o julgamento. Ela deve ser livrede pressupostos para cumprir com sua imparcialidade e agir com justiça. Dessejuízo de valor pode-se esperar um resultado que, se não verdadeiro, sejaaceitável, já que não se baseou em dogmas ou no senso comum. Sendo assim,mesmo quando a crítica condena e desqualifica, ela está cumprindo seupapel de examinadora imparcial.

Distante da racionalidade, o preconceito é insensato a ponto de fazerjulgamentos baseados em aparências e estereótipos. Ele se esquece doconfronto do ser “versus” parecer e não se preocupa em analisar a essência.Essa superficialidade torna o preconceito extremamente injusto, já que elenão estabelece um exame crítico, e sim um pré-julgamento sem critérios e atémesmo sem moral. Muitas vezes, o preconceito é hostil e bastante prejudicialpara seu alvo. Quem sofre com ele é excluído socialmente, marginalizado ediscriminado, sem ao menos ter a chance de revelar suas reais qualidades. Elejá foi usado diversas vezes durante a história da humanidade para que ospovos que se prejulgavam superiores dominassem, escravizassem esubordinassem aqueles que para eles eram inferiores. O próprio Imperialismo doséculo XIX sobre África e Ásia baseou-se no preconceituoso e fraudulentoDarwinismo Social, que propagava a missão civilizadora do homem branco,como pretexto para o domínio de territórios.

Se crítica e preconceito são tão diferentes e até mesmo opostos peladefinição exata, equívocos que igualem os dois são, na verdade, pretextos

Page 49: Caderno de redações 2010.pmd

48

para justificar a discriminação de minorias. Os conceitos divergem pelo

esclarecimento intelectual do indivíduo, já que o segundo parte de intolerância

e ignorância. Sendo assim, se alguém, ao julgar uma pessoa, utilizar suas

experiências reais como parâmetro, dificilmente confundirá crítica com

preconceito, pois as evidências lhe mostrarão que ser crítico envolve ética,

enquanto que ser preconceituoso é tão insensato quanto julgar de olhos

fechados.

Page 50: Caderno de redações 2010.pmd

49

REDAÇÃO 7 – ESTUDO CRÍTICO

O texto inicia-se com as definições de crítica e de preconceito, mostrando

que há grande diferença entre tais conceitos, o que poderia ser notado por

quem tem experiência e bom senso. Apresenta, portanto, a tese de que

“aqueles que levarem as experiências pessoais e cotidianas em conta, saberão

diferenciar a crítica do preconceito, pois a realidade e o bom senso encarregar-

se-ão de mostrar o abismo que há entre eles e impedirão equívocos”,

semelhante à da proposta de redação.

O segundo e terceiro parágrafos analisam minuciosamente, com

palavras próprias e muito bem adequadas, as diferenças entre crítica e

preconceito. No segundo, destacam-se os critérios para se fazer uma crítica,

ou seja, ela deve ocorrer após “uma análise minuciosa”, sem pressupostos e

com justiça. Aqui, há destaque à imparcialidade que toda crítica deve ter,

afastando-se do senso comum ou de dogmas.

Por seu turno, o preconceito caracteriza-se pela insensatez, pela

superficialidade das aparências e dos estereótipos, prejudicando seu alvo. O

terceiro oferece, também, uma ilusão histórica, ao mostrar os seus inconvenientes,

como, por exemplo, em situação de dominação de um povo sobre outro, ou

de um indivíduo sobre outro. Em todos os casos, a falta de critérios e de exame

crítico impera. Assim, o preconceito é uma atitude irracional que prejudica o

indivíduo alvo.

A conclusão retoma o parágrafo introdutório, que enfatiza a

racionalidade da crítica, e destaca a insensatez do preconceito, deixando

clara a oposição entre os conceitos. Dentre as principais diferenças entre crítica

e preconceito, o “esclarecimento intelectual” marca a primeira e a ignorância,

o segundo, assim como a ética de um lado e, subentende-se, a falta de ética,

de outro lado. Há a retomada da tese, desta vez, mais próxima daquela do

texto da proposta de redação: “se alguém, ao julgar uma pessoa, utilizar suas

experiências reais como parâmetro, dificilmente confundirá crítica com

preconceito”.

Um aspecto a destacar na redação é que o produtor do texto utilizou

os dados conceituais da coletânea sem fazer “colagem”, revelando ter clara

Page 51: Caderno de redações 2010.pmd

50

noção de crítica e de preconceito. A informatividade aparece não só no uso

da própria linguagem para descrever suas características, o que revela bom

repertório, mas no exemplo histórico da escravização do homem pelo homem

por preconceito dos dominadores. Também no início da conclusão, quando

afirma que igualá-lo à crítica não é apenas equívoco, mas pretexto para a

“discriminação de minorias”.

Simplicidade e clareza revelam maturidade que, no caso, serviu de

base à progressividade do raciocínio.

Page 52: Caderno de redações 2010.pmd

51

REDAÇÃO 8

Senso crítico e preconceito

João Carlos Saran

Ao dramaturgo e crítico brasileiro Nelson Rodrigues é atribuída a célebrefrase: “Não li e não gostei”. Intenções polêmicas à parte, é importante perceberque essa declaração ilustra a gênese do preconceito: a ausência deexperiências pessoais que permitam a consolidação do senso crítico. No casodo autor da citação em questão, é explícita, também, a recusa à possibilidadede viver a experiência. Provavelmente, ele julga-a desnecessária, pois devepossuir péssimas referências do objeto que condena sem conhecer. No entanto,analisar e condenar o consagrado crítico por essa curta declaração tambémdemonstra preconceito. Ou seja, a discussão é bastante complexa e apenasuma coisa é certa: uma boa análise não prescinde da visão do todo, devendoafastar-se de recortes e fragmentos.

É possível distinguir crítica e preconceito baseando-se nos critérios quemotivam e regem ambos. A atividade crítica pressupõe conhecimento completodo objeto julgado e é impregnada de um componente subjetivo, o juízo devalor, variável entre os indivíduos. O olhar preconceituoso baseia-se na impressãosuperficial e não busca conhecer para julgar. Antes disso, condena. Tambémé carregada de um componente subjetivo, diferente daquele presente nacrítica. Nesse caso, atuam impressões advindas, geralmente, de uma realidadecoletiva preconceituosa e absorvida pelo indivíduo, inconscientemente, emseu processo de formação.

É imperativo ressaltar, então, que o preconceito é algo ensinado. É frutode um processo longo e complexo, presente na vida em sociedade desde seusprimórdios. Todos convivem com ele em seus primeiros anos de vida. Um exemploclássico da maneira pela qual o preconceito pode ser fomentado por processosde educação e coerção de mentalidades é o nazismo. No entanto, esse tipode olhar pré-concebido raramente sustenta-se em experiências de vidapessoais. É, antes, algo absorvido nos discursos pautados em ideologias sociaisdegeneradas.

Page 53: Caderno de redações 2010.pmd

52

Consequentemente, os indivíduos podem, eventualmente, usar dasvivências pessoais para vencerem preconceitos. Os seres humanos tendem aingressar em situações desconhecidas. Assustados, costumam “fechar os olhos”e refugiar-se numa realidade própria, criada a partir dos fatores supostamentecertos e seguros que pautaram sua formação. Esse é o olhar do preconceito. Seconseguem superá-lo, escancaram a vista e enxergam as coisas comorealmente são. Aí descobrem o verdadeiro senso crítico. Nesse processo, saemtransformados de cada experiência vivida e registrada na memória.

Portanto, percebe-se que o julgamento sólido nunca pode conterpreconceitos. Por isso, deve ser pautado no olhar minimalista, possível apenasàqueles que têm proximidade com o que analisam. Ou seja, deve se superar oolhar de “estrangeiro assustado” ante a nova terra. Para tanto, é necessárioconhecê-la. Assim, nunca mesclar-se-ão crítica e preconceito.

Page 54: Caderno de redações 2010.pmd

53

REDAÇÃO 8 – ESTUDO CRÍTICO

Logo de início, a argumentação por exemplificação cita o dramaturgoe crítico brasileiro Nelson Rodrigues, a quem é atribuída a frase: “Não li e nãogostei”. O vestibulando, autor do texto, classifica a declaração como bastantepreconceituosa, justamente por não oportunizar o exame crítico do objetoalvo. Mas o interessante é que aproveita para mostrar que a “gênese dopreconceito”, ilustrado pela frase citada, está na “ausência de experiênciaspessoais que permitam a consolidação do senso crítico” e já de início, então,alude à tese oferecida pela proposta, aceitando-a, o que dá à dissertaçãoum caráter de raciocínio dedutivo. Levanta, ainda, a possibilidade de odramaturgo recusar-se a viver a experiência, mas não o condena, lembrandoque fazê-lo seria, também, uma forma de preconceito. Está pois, engendrada,na introdução do texto, a complexidade da discussão.

O segundo parágrafo esclarece o caráter subjetivo que impregna tantoa crítica (que não deve prescindir “da visão do todo”, afastando-se de “recortese fragmentos”) quanto o preconceito, (que se baseia na “impressãosuperficial”). Na crítica o caráter subjetivo é o “juízo de valor, variável entre osindivíduos”; no preconceito, é “a impressão advinda geralmente, de umarealidade coletiva preconceituosa e absorvida pelo indivíduo,inconscientemente” durante seu processo de formação.

O terceiro ressalta que o preconceito é ensinado, não natural e queninguém está imune às suas influências já que “está presente na vida emsociedade”. Exemplifica com o nazismo, “fomentado por processos deeducação e coerção de mentalidades”, em que o olhar preconceituoso nascedos “discursos pautados em ideologias degeneradas”.

O raciocínio prossegue, explicando a possibilidade de vivências pessoaisvencerem a força das citadas ideologias. O candidato volta, então, à tese daproposta, afirmando que a superação do preconceito, geralmente fruto domedo de enfrentar a realidade, só é possível quando esta é revelada pelo“escancarar da vista”. O verbo utilizado, que lembra amplitude, é coerentecom a última frase do parágrafo introdutório (“uma boa análise não prescindeda visão do todo”).

A progressividade no encadeamento das ideias não se perde com ametáfora de “estrangeiro assustado” diante do diferente, pois somente o

Page 55: Caderno de redações 2010.pmd

54

conhecimento total “da terra” permite o “julgamento sólido”. Interessante aescolha da palavra “estrangeiro”, pois o estranhamento é que assusta e criaa defesa do olhar preconceituoso, como fica explícito no parágrafo anterior. Aconclusão do texto, portanto, fecha a discussão, que revela interesse pelotema e pela busca de causas que levam o ser humano a perder “o verdadeirosenso crítico.”

O texto não é pessimista. Pelo contrário, termina com a convicção deque a passagem do preconceito para a crítica pode ser feita pela aproximaçãodo olhar, que permite conhecer. E conhecer de perto é analisar.

Page 56: Caderno de redações 2010.pmd

55

REDAÇÃO 9

As relações entre crítica e preconceito

Raissa Lago Romero

O homem diferencia-se dos outros habitantes do planeta Terra por suacapacidade intelectual. Essa habilidade, apesar das inúmeras transformaçõesque proporcionou – já que o homem, desde a Antiguidade, buscacontinuamente a evolução, a melhora através da crítica a modelospreexistentes –, também é responsável pela distinção, pela segregação entrea própria espécie humana, pois os que se julgam mais capazes intelectualmentetêm, tradicionalmente, subjugado os que consideram mais fracos. A partir disso,pode-se perceber a lacuna existente entre a crítica, que promove o progressohumano em diferentes âmbitos, e o preconceito, que demonstra as limitaçõesdo homem, o qual não consegue agir em conjunto, com união, mas somenteatravés da ascensão de uns que exercem domínio sobre outros.

Os benefícios alcançados a partir da capacidade humana de criticar,de não se acomodar, podem ser observados em diversos contextos históricos.O Renascimento é um dos melhores exemplos dessa característica dahumanidade, pois essa época corresponde ao início das transformações quepossibilitaram a passagem da Idade Média – período de quase completadominação sobre a capacidade criativa do homem exercida pela Igreja –para a Era Moderna, que representou uma verdadeira “ebulição” de ideias,descobrimentos, invenções, do pleno exercício da intelectualidade humana.Essa passagem, no entanto, só foi possível por causa do espírito indagador dohomem que não conseguiu aceitar por tanto tempo as verdades absolutasimpostas pela Igreja, a qual condenava qualquer iniciativa transformadoraque questionasse a ordem vigente.

Em oposição à crítica, aparece o preconceito. A própria palavra jáindica seu significado, ou seja, a formação de uma opinião pré-concebida,sem fundamento racional. Este surge da necessidade humana de se diferenciardo outro, ao contrário da crítica que procura melhorar o outro. Um exemplo depreconceito, talvez o mais difundido em todo o mundo, é o da cor da pele.Objetivando a expansão de suas nações, alguns países europeus criaram a

Page 57: Caderno de redações 2010.pmd

56

ideia de que os africanos eram seres inferiores por serem negros e, por isso,precisavam de sua ajuda. Essa foi a justificativa para respaldar a colonizaçãodesses povos. O imperialismo europeu ainda se reflete na miséria existente nospaíses da África negra. Além disso, esse julgamento sem qualquer embasamentocientífico, sem qualquer prova concreta se disseminou em todo o mundo, sendoresponsável pelas dificuldades sócio-econômicas impostas a qualquer pessoaque sofra o “azar” de nascer com a pele negra.

Portanto, a maior diferença entre crítica e preconceito está nos efeitosque elas exercem sobre os homens. Não há como confundir os dois conceitos,pois um busca o progresso, a melhora da humanidade e o outro objetiva adiminuição do ser humano e a distinção entre os homens. Assim, enquanto ahumanidade não consegue usar a sua intelectualidade por meio da crítica,superando os julgamentos preconceituosos, não conseguirá desenvolver umaevolução plena, abrangendo o todo e não só as partes.

Page 58: Caderno de redações 2010.pmd

57

REDAÇÃO 9 – ESTUDO CRÍTICO

Em seu primeiro parágrafo, a redação “As relações entre crítica epreconceito” ressalta a capacidade intelectual dos seres humanos, que lhespossibilita transformar a sociedade, por meio da crítica ao já estabelecido,mas que, ao mesmo tempo, provoca a segregação e o preconceito de unscontra os outros. A tese do texto, ao final desse parágrafo, mostra exatamenteisso: há uma lacuna “entre a crítica, que promove o progresso humano emdiferentes âmbitos, e o preconceito, que demonstra as limitações do homem, oqual não consegue agir em conjunto, com união, mas somente através daascensão de uns que exercem domínio sobre outros”.

A seguir, argumentos históricos demonstram que as conquistas dassociedades através do tempo foram devidas à capacidade humana de criticar,de inovar e, assim, melhorar as condições de vida em geral. Desde oRenascimento até a Era Moderna, as transformações ocorridas foram possíveisdevido ao espírito “indagador” dos homens, que questionaram as “verdadesabsolutas” muitas vezes impostas a eles.

O parágrafo seguinte expõe o negativismo gerado pelo preconceito,em oposição à crítica. Uma diferença clara e importante entre esses doisconceitos é que o “preconceito surge da necessidade humana de se diferenciardo outro, ao contrário da crítica que procura melhorar o outro”. Como exemplofundamental de preconceito, o texto cita o racial, que gerou grandesempecilhos ao progresso da humanidade como um todo. Ele é responsávelpelas mazelas de parte da população, a negra.

Na conclusão, estabelece-se a argumentação por raciocínio lógico,próxima de um silogismo, com proposições das quais se extrai uma conclusãonecessária: a) crítica e preconceito têm efeitos diferentes; b) a crítica busca oprogresso e o preconceito objetiva a “diminuição do ser humano e a distinçãoentre os homens”; então, c) “enquanto a humanidade não consegue usar asua intelectualidade por meio da crítica, não conseguirá desenvolver umaevolução plena, abrangendo o todo e não só as partes”, pois tem permitido odomínio do preconceito.

O texto, crítico e bem posicionado, usa linguagem clara em parágrafosexplicativos, de acordo com a proposta de redação.

Page 59: Caderno de redações 2010.pmd

58

REDAÇÃO 10

Consciência crítica

Natália Rodrigues de Girolamo

A violência humana pode ser medida em várias esferas. Se no passadoa luta armada e as revoluções estavam no centro da questão, atualmentenota-se o aumento da violência moral, que permeia todas as classes sociais eatende pelo nome de preconceito. Com toda a liberdade concedida, entreoutros fatores, aos meios de comunicação, os indivíduos passaram a ter maiordificuldade em discernir criticamente, visto que o pensamento livre tende aultrapassar limites e causar ignorância.

Em uma sociedade em que os julgamentos são constantes, tal qual aaproximação das pessoas – fato acelerador do processo devido à revoluçãotecnológica –, possuir consciência crítica afastada de pré-conceitos configura-se uma complicada tarefa. Entretanto, tal atividade pode ser feita com êxitose houver o seguinte encadeamento lógico: conhecer, entender, pensar arespeito e, por fim, julgar. Mais além, é inegável a importância de aliar a esseprocesso a noção experimental, ou seja, possuir “bagagem” sobre determinadoassunto, agir positivamente, pois isso faz com que não haja confusão acercade pré-conceitos. As etapas de conhecimento e entendimento não podemser puladas, sem deixar espaço para as reflexões. Logo, só há crescimentoquando ocorre assimilação de erros e acertos, pois o ser humano precisaconstantemente desse exercício, devido ao caráter fundamental das análisesinteriores.

Não obstante, convém observar o papel de outros agentes na formaçãocrítica de cada um, como por exemplo, a televisão ou a internet, fatores externosprimordiais. Com a intensa exposição a tais meios comunicativos, a população– em especial os jovens – torna-se parte da massificação, em que todos sãoinduzidos a pensarem e consumirem de forma igual, ocasionando um surto degeneralizações apressadas e, por consequência, de preconceito. Percebe-se,novamente, o quão essencial é poder proferir um julgamento embasado por

Page 60: Caderno de redações 2010.pmd

59

experiência pessoal, de modo a identificar o mundo real daquele transmitidovia computador e/ou TV, de modo a ratificar a existência de manipulação, demodo de pensar, no seu sentido completo.

Assim sendo, a sociedade deve moldar sua vivência em um modelo noqual o exame racional de ações seja privilegiado, sempre atrelado a parâmetrospalpáveis, reais. Os avanços industriais, científicos e tecnológicos não podemser favorecidos em detrimento do intelectual, até porque sem este último osoutros não aconteceriam. Só há progresso onde o pensamento crítico, em suaplenitude, desconhece, por inteiro, o preconceito.

Page 61: Caderno de redações 2010.pmd

60

REDAÇÃO 10 – ESTUDO CRÍTICO

O texto “Consciência crítica” focaliza a força do pensamento críticocomo fundamental ao crescimento do ser humano. Inicia-se mencionando aviolência que faz parte tanto do passado quanto do presente das sociedades,com o detalhe de que houve alguma mudança no tempo: de física,basicamente, esta passou a ser, sobretudo, moral. Essa é causada pelopreconceito que “permeia todas as classes sociais”. É citada como umas dascausas da propagação do preconceito a liberdade advinda dos meios decomunicação.

O segundo parágrafo mostra a pressa com que são feitos os julgamentos,na atualidade. Ao invés de “conhecer, entender, pensar a respeito e, por fim,julgar”, como seria o ideal, as pessoas, hoje, partem para a decisão final,pulando as etapas necessárias ao conhecimento e à avaliação sem domíniodos pré-conceitos. Fica, então, comprometido o crescimento da humanidade,que somente ocorre com a “assimilação de erros e acertos, pois o ser humanoprecisa constantemente desse exercício, devido ao caráter fundamental dasanálises interiores”.

A dissertação apresenta argumentos de causa e consequência,especificando que a televisão e a internet são fatores que têm levado àmassificação, ao fazer pensar e consumir “de forma igual, ocasionando umsurto de generalizações apressadas e (...) de preconceito”. Daí a importânciade se levar em conta as experiências pessoais, em vez de somente valorizaraquilo que já vem pronto, preparado para manipular e determinar o modo depensar de cada um. Neste ponto, a redação acompanha exatamente a teseda proposta de redação: “Quem, ao julgar, baseia-se numa vivência ou numaexperiência pessoal, dificilmente confunde crítica com preconceito”.

Finalmente, ao concluir, o autor defende o desenvolvimento dopensamento crítico, oposto ao preconceituoso, pois, somente assim, haveráprogresso. Diz, ainda, que os “avanços industriais, científicos e tecnológicosnão podem ser favorecidos em detrimento do intelectual, até porque sem esteúltimo os outros não aconteceriam”.

Com linguagem clara, coerência de raciocínio e coesão entre osparágrafos, o texto demonstra a maturidade de seu autor, que temcapacidade de aplicar os conceitos a serem discutidos à vivência real.

Page 62: Caderno de redações 2010.pmd

61

PROPOSTA III

NARRAÇÃO

Page 63: Caderno de redações 2010.pmd

62

Page 64: Caderno de redações 2010.pmd

63

PROPOSTA III - NARRAÇÃO

Com a interrupção da energia elétrica, um elevador parou entre andares, eassim ficará por uns longos minutos.

Dentro dele encontram-se uma babá com uma criança de três anos, umaprofessora de português aposentada, um casal de namorados adolescentes,o síndico do edifício... e você.

Aproveitando a situação e as personagens acima referidas, desenvolva umanarrativa, explorando o potencial das personagens em suas diferentes reações.

Page 65: Caderno de redações 2010.pmd

64

COMENTÁRIO DA PROPOSTA III

A proposta III do Vestibular 2010 da PUC-Campinas tem como baseuma situação definida que delineia alguns dos elementos estruturais danarrativa a ser desenvolvida: a) o local onde os acontecimentos ocorrerão –dentro do elevador; b) o decurso temporal da história – por uns longos minutos;c) os personagens – babá, criança de três anos, professora de portuguêsaposentada, casal de namorados adolescentes, síndico do edifício e d) onarrador, que será, portanto, personagem da história a ser criada. Conhecidosesses elementos, uma leitura atenta da proposta permite a utilização dacriatividade para a excelência da redação. No que se refere aos recursosnarrativos indicados, elementos expansivos podem ser empregados: a) cenário– traçá-lo desde a cidade onde está o edifício, ou a rua, a praça, incluindoelementos espaciais importantes e significativos para os personagens a seremcaracterizados; b) decurso temporal – delimitado pelos tempos verbaisexpressos, pretérito perfeito e futuro do presente, também pode ser expandidoao tempo anterior a um elevador parou, abrangendo os acontecimentosprévios; c) personagens – podem ser caracterizadas do ponto de vista físico,moral, psicológico, observando que estão reunidas diferentes faixas etárias,segmentos sociais, possibilitando que esse microcosmo possa representar omacrocosmo, a nossa sociedade; d) narrador – esse é o elemento de maiorcriatividade, pois é responsável pela tessitura de todos os componentesestruturais. Nesse caso, a narrativa em primeira pessoa pode apresentar umnarrador protagonista, vivenciando e narrando a sua própria história, ou umnarrador testemunha, narrando, como testemunha, a história vivida peloprotagonista. Outro aspecto criativo a ser observado é que o personagemnarrador não precisa ser necessariamente uma pessoa, mas pode ser um animal,ou um objeto.

Observe-se que as exigências são norteadoras e não, restritivas, poisdeixam ampla liberdade para explorar os recursos narrativos, sobretudo noque se refere ao enredo, pois a única indicação é a da observação dopotencial das personagens em suas diferentes reações. Há liberdade para acriação do conflito, sua complicação e, sobretudo, sua solução. Trata-se,portanto, de uma proposta bem elaborada, com critérios norteadoresexplicitados, mas, ao mesmo tempo, com abertura para a inventividade docandidato, que, certamente, será bem sucedido se utilizar com eficiência osprincipais recursos de linguagem narrativa.

Page 66: Caderno de redações 2010.pmd

65

REDAÇÃO 11

O inusitado

Silvana Gonçales Romani

Foi com meu “olá” tímido que, naquele início de tarde, entrei no elevador

do meu prédio. Um dos tantos inconvenientes de se morar em andares inferiores

de edifícios altos é encontrar o elevador cheio. Não foi diferente naquela

segunda-feira. Apertei-me no metro quadrado do elevador com mais seis

pessoas que mal responderam meu cumprimento. Apenas Rafinha, o filhinho

da vizinha do quinto andar, carregado pela babá, sorriu ao me ver entrar.

Éramos amigos! Minha timidez sempre me aproximou mais das crianças que

dos adultos.

Em segundos, ocorreu aquilo que, embora previsto, é inusitado: o

elevador parou bruscamente. A reação imediata de todos foi de espanto.

Rafinha, apertado pela babá e sentindo o seu desespero, começou a chorar.

Um casal de adolescentes, que se abraçava no fundo do elevador, transformou-

se em uma só pessoa, tamanho o medo que os acometeu. O primeiro a

pronunciar palavra foi o seu José Manuel, síndico do prédio, que, em tom

autoritário, disse:

– Mantenham a calma, deve ser um problema de falta de energia.

– Ou um problema de falta de manutenção nesse equipamento –

completou Maria Margarida, a professora que, dizem as más línguas do

condomínio, já viveu um romance frustrado com o síndico e, por vezes, deixa

que essa mágoa do passado se sobressaia em questões triviais como qual o

tom de amarelo deve ser usado nas faixas que separam as vagas da garagem...

– Senhor José, misericórdia! gritou a babá em aflição, sem se dar conta

da discussão entre os dois.

Eu apenas pedi para segurar o Rafinha e mostrei a ele as imagens de

um livro que carregava comigo. Tão logo ele se distraiu, a discussão voltou.

– Tinha que ter menas gente aqui dentro – falou a garota nos braços do

amado.

Page 67: Caderno de redações 2010.pmd

66

– Menos”, garota, “menos” gente, é assim que se fala – interveio a

professora.

– Vai dar aula pro seus alunos e deixe a gente em paz – defendeu onamorado.

– Falta luz! É o apocalipse – gritou a babá.

– Ah, não. Agora falou a pastora do prédio – completou o síndico.

– Respeite a religião dos outros, seu José Manuel.

– Ih, falou a Dona Margarida, defensora dos oprimidos – ironizou o garoto.

De repente, Rafinha interrompe a balbúrdia dos adultos com uma simplespalavra: “cocô”! Em seguida, o odor confirma o que o garoto havia anunciado.

Diante disso, todos se unem em uma gargalhada democrática. Osadolescentes deliram em risadas, a babá mexe no short do garotinho paraconfirmar e piorar a situação, o síndico e a professora, rindo pelo mesmo motivo,talvez se lembrassem quando, outrora, também riam juntos.

Nesse instante, o elevador voltou a funcionar e a porta se abriu. Diantedela, muitos moradores, aglomerados no hall do térreo, espantaram-se aoverem essa cena inimaginável. Todos nós saímos do elevador entre risadas.

Saí do prédio, desviando-me de tantos adultos, e ganhei a rua.Caminhando para a faculdade, fiquei pensando no ocorrido. Pensei: “quebom iniciar a semana assim, isso me será um rico relato para minha aula desociologia”.

Page 68: Caderno de redações 2010.pmd

67

REDAÇÃO 11 – ESTUDO CRÍTICO

Esse texto atende a proposta, pois se trata de uma narrativa com coesãoe coerência, explorando a reação dos personagens indicados. Pode-seconstatar a presença tanto dos elementos obrigatórios norteadores da propostaquanto de alguns elementos livres, a saber: o narrador, os personagens, odecurso temporal, o espaço e o enredo.

O narrador é personagem protagonista, em primeira pessoa, narrandoos acontecimentos nos quais está envolvido juntamente com os demaispersonagens. As suas reações são pouco exploradas, limitando-se a narrar ahistória. Apenas é mencionada sua timidez e sua reação ao término das ações,aproveitando os acontecimentos para pensar nas relações humanas e sociais.Trata-se de um narrador que mais observa que atua ou reage.

Os personagens propostos são: babá, criança de três anos, professorade português aposentada, casal de namorados adolescentes, síndico doedifício. Há pouca caracterização dos personagens, a alguns é atribuídaidentificação nominal a outros não. São todos os personagens tipos, previsíveis,estereotipados. Há pouca exploração de suas reações, que também sãotipificadas: choro da criança, desespero da babá, chatice da professoraaposentada, autoritarismo do síndico. A novidade fica por conta do fanatismoreligioso da babá, mas também é caracterização típica. A melhor reação é aespontaneidade da criança que não é movida pela censura social, mas pelasnecessidades fisiológicas.

O decurso temporal é de alguns minutos, a partir do início da tarde,numa segunda-feira.

O espaço fica definido a um elevador em um prédio residencial.

O enredo caminha da exposição para a complicação com a discussãoentre os personagens, culminando com a situação hilariante motivada pelacriança de três anos. Chega-se ao desenlace natural e a reflexão do narrador.

Alguns elementos livres contribuem para a qualidade do texto, sobretudoa inclusão de diálogos explorando o nível de linguagem dos personagens.

Page 69: Caderno de redações 2010.pmd

68

REDAÇÃO 12

Nietzsche no elevador

Tássia Lima Fernandes Monteiro

De repente, um breu assustador tomou conta daquele local, o silêncioque se instalou foi quebrado apenas pelo choro de uma criança até que,segundos mais tarde, a luz de emergência acendeu. Ótimo, era tudo de queeu precisava: ficar preso no elevador. Quando eu encontrar aquele malditosíndico... Oh, espere! Ele está bem na minha frente tentando se comunicarpelo interfone, sem sucesso. Bom, ao menos ele está sentindo o infortúnio napele.

– “Aquilo que não me mata, fortalece-me” – recitou uma senhora aomeu lado, que eu reconheci como a professora aposentada do 320.

– Perdão?

– Nietzsche – ela respondeu simplesmente.

Seja lá quem for este homem, pensei, com certeza ele não deve terficado preso num elevador às seis da tarde de uma sexta-feira após umexaustivo dia no escritório.

Como companhia, para melhorar, eu ainda contava com uma estridentecriança e sua assustada babá, que não sabia o que fazer para acalmá-lo;com um casal de jovens que parecia interessado demais em conhecer afisiologia do corpo humano com seus indecorosos beijos; um incompetentesíndico que não saberia ligar uma lâmpada, nem se Thomas Edson lhe ensinassee, como se não bastasse, uma vovó com tendências filosóficas. Sem dúvida,esse dia não podia ficar pior.

– Precisamos aguardar alguns minutos, o interfone não funciona – osíndico informou.

É claro que eu estava errado e as coisas podiam sim ficar piores.

Assim, constatei que o tempo foi passando e nada da energia voltar. Acriança, agora, divertia-se com um boneco que a babá tirara da bolsa e esta

Page 70: Caderno de redações 2010.pmd

69

havia se juntado ao casal de namorados e ao síndico para passar o tempocom um baralho que o rapaz levava no bolso. Todos estavam sentados nochão e eu não podia acreditar que agissem assim tão calmamente. Céus,estávamos presos numa caixa de metal e todos pareciam desfrutar o momento.Será que ninguém precisa ir para casa tomar um banho ou assistir à televisão?!Parece que não...

Inesperadamente, a senhora do 320 se aproximou de mim e me entregouum livro:

– Ajuda a passar o tempo – explicou.

– Ecce homo?

– Nietzsche – ela sorriu.

Eu apenas suspirei, talvez ela estivesse certa e eu pudesse sair daqueletormento mais forte.

Minutos mais tarde eu não saía daquele elevador apenas mais forte,mas sorrindo diante da perspectiva do conhecimento adquirido. Não obstante,ainda ganhei o livro e um convite para discuti-lo depois com um pedaço debolo e uma xícara de café na companhia de minha mais nova e sábia amigado 320.

Page 71: Caderno de redações 2010.pmd

70

REDAÇÃO 12 – ESTUDO CRÍTICO

A ação tem início de forma abrupta, não havendo exposição detalhadaprévia. A colocação do leitor em plena ação confere dinamismo ao texto,deixando-o atraente. A impressão inicial, ao descrever o ambiente, é denarrador de terceira pessoa, mas logo surge o personagem protagonista deprimeira pessoa, exigido pela proposta. Surgem, em uma linha progressiva,paulatinamente, os personagens indicados: inicialmente, o síndico, depois aprofessora de português aposentada, seguida pelos outros obrigatórios. Nãohá uma caracterização minuciosa de cada um, mas as característicasessenciais surgem naturalmente, em suas ações e reações. São personagenstipos, mas não são estereótipos da sociedade vigente, são mais espontâneos,mais autênticos, demonstrando sabedoria. Isso demonstra a boainformatividade do redator. A professora de português não é recalcada, massim afeita à filosofia, o casal tem interesse em “conhecer a fisiologia do serhumano”, assim por diante.

O decurso temporal é delimitado a alguns minutos e a ação se passano reduzido espaço do elevador, não havendo expansões espaço-temporais,que poderiam ser empregadas livremente. O enredo é conciso, poucaexposição, desenvolvimento sem grandes complicações, solução inexplicadae desfecho natural (o retorno da energia). O texto apresenta elementos dehumor – “Ótimo, era tudo de que eu precisava: ficar preso no elevador” – ereflexão positiva do narrador-personagem – “eu não saía daquele elevadorapenas mais forte, mas sorrindo diante da perspectiva do conhecimentoadquirido” – o qual, a princípio, apenas queria descansar do exaustivo dia detrabalho, no entanto, aproveita o episódio para aquisição de conhecimento– um pouco inverossímil, aprender filosofia no elevador – e de novos amigos.Não há recursos excepcionais, mas boa adequação de ingredientes narrativosinclusive o emprego de diálogos e a propriedade vocabular.

Não há recursos excepcionais, mas um bom texto também se faz com aadequação de recursos narrativos. Também contribui para sua qualidade oemprego de diálogos e a propriedade vocabular. A atribuição de um títulocertamente tornaria o produto final mais adequado.

Page 72: Caderno de redações 2010.pmd

71

REDAÇÃO 13

Imprevisto

Raquel Murari Scarazzato

Primeiro o choro. Não há quem consiga conter uma criança de trêsanos quando ela é pega de surpresa na escuridão de um elevador que acabade parar. Mais alguns instantes e aquela fraca e amarela luzinha de emergênciaolha para nós, de forma tão desanimada quanto nossas expressões. Ospersonagens em cena? Quase todos moradores de meu prédio: a criançamora no apartamento ao lado do meu, filho de uma bancária atarefada; suababá a acompanha; uma garota de treze anos do andar de cima e seunamorado de longa data, acho que umas três semanas...; a D. Cecília, dosétimo andar, uma excelente professora de português aposentada da escolade ensino fundamental do nosso bairro; o síndico, sempre sério, Sr. Carlos; e eu,finalmente eu, tão cansada após um longo dia de trabalho.

Procura aqui e ali e logo a babá encontra uma solução para o seuproblema (não tão só seu): brinquedo que toca música, distração na certa.Para a criança. Todos os outros ficaram divididos entre a idéia de ter que aturaro choro ou a musiquinha repetitiva. D. Cecília até que tentou iniciar umahistória para trocar a distração, mas logo a criança achou sua mamadeira desuco e não percebeu quando o brinquedo silenciou, ou não reclamou. D.Cecília deve ter tentado agradar a criança assim como faz até hoje com seusalunos (ex) quando a visitam, ou quando ela mesma comparece a um eventoou festa na escola.

A escuridão propícia, a relativa liberdade dos olhares dos adultos e,digamos, os hormônios bastaram para que minha jovem vizinha e seu namoradoaproveitassem para se aproximar mais e “curtir” a situação. Pelo menos osminutos iniciais, até que o Sr. Carlos tratou de estabelecer uma reuniãoextraordinária de condomínio ali mesmo, colocando-se quase que entre ocasal, intencionalmente é lógico. Aliás, na falta dos pais ou responsáveis, osíndico mostra seu lado paternalista e sente-se, conscientemente ou não, naobrigação de “manter a ordem”.

Não citei ainda, mas tão esperado quanto o choro da criança foiminha tentativa de tocar a campainha de alarme do elevador, para poder

Page 73: Caderno de redações 2010.pmd

72

sair dali o mais rápido possível. Nem o Sr. Carlos, com sua conversa de que osporteiros estavam preparados para atuar em situações de emergência comoessa, de como iriam chamar os técnicos do elevador brilhantemente e osprocedimentos revistos no último treinamento de funcionários do prédio – oque mais pareceu um discurso de campanha de reeleição ao cargo de síndico– pôde conter minha ansiedade contra o pobre botão de alarme. Banhoquente, comida, cama; banho quente, comida, cama. Era só no que eu eracapaz de pensar.

Sim! Estamos aqui! O uníssono na resposta ao chamado dos técnicos. Emais alguns gritinhos de “manhê” da criança, com choro reiniciado, despertadopela agitação dos demais. Mais uns minutos e fomos retirados dali, quandoconseguiram descer o elevador e alinhá-los com a porta do andar de baixo.

Completamos o trajeto de escada e fomos nos despedindo entre osandares. Claro que só após parabenizar o Sr. Carlos (ele não sossegaria se nãofosse elogiado); desejar boa sorte para a babá (ela ainda teria que ouvir ochoro da criança, sabe-se lá por quanto tempo); agradecer a D. Cecília (semprepaciente) e recomendar juízo ao jovem casal (tão feliz com a perspectiva deprivacidade recém conquistada). Banho quente, comida e cama. Finalmente.

Page 74: Caderno de redações 2010.pmd

73

REDAÇÃO 13 – ESTUDO CRÍTICO

O parágrafo inicial da redação nos insere em plena ação,contextualizando os acontecimentos, de maneira dinâmica e interessante.Somente no final do parágrafo é que encontramos o narrador protagonista,em primeira pessoa, uma das exigências da proposta. Também são introduzidosos demais personagens, todos moradores do prédio residencial. São bemcaracterizados, com inteligência e dinamismo, o que os torna atraentes aoleitor. Há irreverência na caracterização, mas não há tipificação, o que ostorna mais humanos e plausíveis. Uma vez todos reunidos no espaçodeterminado, o elevador, inicia-se a complicação do problema. Aqui não hágrande criatividade: choro da criança, autoridade do síndico, alienação docasal de adolescentes, a intervenção professoral de Dona Cecília, impaciênciado narrador, após um longo dia de trabalho. Nesse sentido, a previsibilidadeindica que houve limitada exploração das reações das personagens.

A novidade ocorre na solução do problema, a interferência dos técnicos,alinhando o elevador no andar e retirando os aprisionados. O decurso temporalé atendido plenamente, pois o episódio dura poucos minutos.

O encerramento também é criativo, pois terminam o trajeto pelasescadas e o narrador pode dirigir um pensamento a cada participante doepisódio e finalmente conquistar seu objetivo de descanso ao fim do dia detrabalho. Os elementos livres mais eficientes do texto referem-se à linguagemcomo matéria da construção formal e, sobretudo, à atribuição do título, emperfeita consonância semântica com o conteúdo explorado, construindo umproduto final completo.

Page 75: Caderno de redações 2010.pmd

74

REDAÇÃO 14

Interessante experiência

Giovanna Chinellato

Nunca gostei de andar de elevador, aliás, nunca conheci outro cãoque gostasse. Minha dona, professora de português (uma das milhares de

línguas humanas) aposentada, leva-me para passear todas as manhãs. E, aocontrário da cabine que nos ergue até nosso apartamento, passear é tudo de

bom.

Foi voltando de um desses passeios e entrando na tal cabine, lotada

como sempre, que ficamos presos, enjaulados, encaixotados, isolados ou, parausar o termo humano, parados no elevador.

De início, quando as luzes se apagaram, silêncio. Levou algum tempopara percebermos que não nos movíamos. Uma criancinha começou a chorar,um homem de sapatos caros soltou uma palavra que acredito não ser muitobonita, a babá da criancinha passou-lhe um pito, minha dona puxou a pontada guia para certificar-se de minha presença e dois humanos, que pareciammal separados como duas bolotas de ração grudadas, começaram a dizerque se amavam (estranho isso de namoro humano).

Gostaria de dizer que após tamanha infantilidade por parte da espéciede duas patas a cabine começou a se mexer. Porém, como eu sabiamenteprevira, isso não aconteceu. Pretendia esticar as patas e tirar um cochilo, masos sapatos caros me pisotearam e o homem que os vestia começou a falar.

Imagino que tenha dito algo moralizante como “o bom de um banhoem pet shop é que em algum momento ele acaba”. Minha dona afirmou coma cabeça, as bolotas de ração (ainda coladas uma na outra) forçaram umsorriso e a babá... bem, ele não fez nada além de repetir que a criança seaquietasse.

Tolas babás humanas... desisti de meu cochilo e fui abrindo espaçoentre pés e pernas até a choradeira (era uma fêmea). Como eu esperava, ela

me apertou, puxou o rabo, coçou minhas orelhinhas (com os dedos escapulindo

Page 76: Caderno de redações 2010.pmd

75

vez ou outra até meus olhos), deu tapinha nas minhas costas e... parou de

chorar. Ótimo. Missão cumprida.

O homem dos sapatos perguntou meu nome, minha dona respondeu e

perguntou o nome dele. As bolotas de ração também se apresentaram. E,

como toda conversa de ser humano, uma coisa levou a outra. Meu limitado

vocabulário humano deu a entender que pareciam felizes.

Interessante experiência. Entramos estranhos e mudos; trinta minutos

empacados e viramos amigos e conversadores. Na minha modesta opinião, o

que mais falta aos humanos é elevadores parados.

Page 77: Caderno de redações 2010.pmd

76

REDAÇÃO 14 – ESTUDO CRÍTICO

A criatividade desse texto está na escolha do personagem protagonista,narrador em primeira pessoa. Ao selecionar um cachorro para contar a história,toda a previsibilidade é destruída, pois os acontecimentos e as reações dospersonagens serão analisados pela ótica canina, estabelecendo um paraleloao olhar humano. Esse narrador, um cão, é propriedade da professora deportuguês aposentada, uma das personagens exigida. Excelente opção poresse recurso estrutural, pois o foco narrativo é diretamente responsável pelodesenvolvimento dos demais elementos estruturais da narrativa, possibilitandogrande criatividade ao produtor do texto.

O espaço é descrito pelo olhar do cão, transformando-se em uma cabine,onde os personagens – não nomeados, pois fazem parte da espécie de duaspatas – estão enjaulados. O lugar de onde o cachorro olha só lhe permite verbem os sapatos, avaliando o seu custo. Os adolescentes são comparados arações grudadas. Torna-se bastante criativa e atraente a caracterização dospersonagens, assim como as reações: ser pisoteado, ração, as delícias de umbanho em pet shop, entre outras possibilidades. O decurso temporal édelimitado a trinta minutos, em consonância com a temporalidade proposta.

Muito interessante é a sua missão, ao distrair a criança (designadacomo fêmea), pois a reação infantil é típica do envolvimento criança/cão.Também contribui para a qualidade do texto a menção à importâncialingüística da comunicação entre os seres. Compreende a linguagem humana,faz uma leitura da importância da conversação para a conquista da felicidade.Relacionamento humano ou canino é a grande meta para uma vida feliz.

Além do foco narrativo selecionado, também contribui para a qualidadedo texto a utilização da linguagem como matéria da construção formal,restando somente o pecado de não ter atribuído título ao produto final.

Page 78: Caderno de redações 2010.pmd

77

REDAÇÃO 15

Tirem-me daqui

Thaís Michelle Pinho da Rocha

Eu estava voltando do acampamento, podia ouvir os raios, mas minha

mala estava pesada e não pensei duas vezes para pegar o elevador. Tampoucoo fez Dona Marta, Julieta, Wagner e o simpático casal jovem do prédio. Fábio,

o pirralhinho que era o motivo da presença de Julieta, mostrou a língua e seescondeu atrás da babá. Cada um apertou seu número e aguardou. Era

perceptível o receio de todos em relação às trovoadas:

– Talvez não tenha sido uma boa idéia – disse Marta, de braços cruzados

e olhos arregalados.

– Não se preocupe – disse o síndico – a manutenção do elevador foi

feita ontem à tarde.

Logo após esse infeliz comentário, o elevador, preguiçosamente,

começou a desacelerar e, antes que parasse por completo, a luz apagou.Fábio começou a chorar, o casal deu umas risadinhas íntimas, Marta afirmou

que não merecia aquilo, o síndico disse que aquilo era um absurdo e que amanutenção tinha sido uma farsa.

– Acalme essa criança!! – exclamou Marta.

Dona Marta foi professora de português, mas não parece que um dia

tenha gostado disso, só fica satisfeita quando corrige os outros.

Julieta se pôs a chorar e gritava:

– Me perdoe, Senhor, não tenho sido uma boa filha, mas não é minha

hora.

Comecei a rir, o nervosismo me traz o riso. A situação era hilária. Não

podíamos ver, apenas ouvir. A professora tentava acalmar Fábio ensinandocomo as vogais são belas, mas ele chorava ainda mais. O casal não se

expressava; a menina apenas disse:

Page 79: Caderno de redações 2010.pmd

78

– Relaxa aí, galera!

Wagner achou um insulto, quis dar lição de vida, falou sobre quantashoras trabalha por dia, sobre tudo o que se passou na sua longa existência,mas foi tudo inútil, pois a garota continuou a dar suas risadinhas de namoradapara seu namorado.

A criança aquietou-se, Julieta ainda rezava baixinho e Wagner estavatentando ligar para a empresa que fez a manutenção. Comecei a conversarcom Pati e Lucas, o casalzinho, sobre assuntos variados e, de vez em quando,Marta interrompia para correções, também variadas. Passados alguns minutos,Wagner é atendido e simultaneamente o elevador volta a funcionar. O síndicosolta vários palavrões e quebra o telefone em pedaços.

Julieta agradece a todos os santos e abraça um por um de nós, carregaFábio, que está adormecido, e é a próxima a sair. No próximo andar é minhavez, acompanhado de Pati e Lucas. Poucos segundos depois, a luz falha eapaga. É possível ouvir o elevador parando e:

– Não! Me tira daqui – gritou Wagner.

– Tirem-me daqui. Ti-rem-me daqui – corrigia uma voz exaltada.

Page 80: Caderno de redações 2010.pmd

79

REDAÇÃO 15 – ESTUDO CRÍTICO

O narrador em primeira pessoa, protagonista, não surpreende o leitor,pois o primeiro parágrafo inicia-se com o sujeito representado pelo pronomepessoal do caso reto, atendendo à exigência da proposta. Contextualizado oepisódio, através da dimensão espacial, um elevador, em um prédio residencial,em um tempo indeterminado, vão sendo introduzidos os personagens exigidospela proposta: o síndico do edifício, a babá, a criança de três anos, a professorade português aposentada e o casal de namorados adolescentes. Sãoatribuídos nomes a eles, mas não são minuciosamente caracterizados, nemfísica nem psicologicamente. Ademais, suas reações demonstram a tipificaçãoe os estereótipos sociais. O síndico é irritadiço, nervoso, grosseiro; a professora érecalcada, gosta de corrigir os erros; a babá é beata; o casal de namoradosadolescente é alienado. São pouco exploradas suas reações e, quando onarrador o faz, são destacadas as típicas reações desses personagens emfunção de seu contexto sócio-cultural-profissional: o síndico solta palavrões,quebra o telefone; a professora ensina a beleza das vogais, corrige os erros delinguagem; o casal não se expressa. Há, ainda, algumas incoerências, pois ocasal não se expressa, mas conversa com o narrador assuntos variados.

O desfecho é criativo, mas perde parte de seu efeito, pois há umproblema de construção textual que o minimiza. Se a professora fosse maisbem construída, a partir de sua introdução, com intromissões engraçadasdurante a permanência no elevador, esse desenlace seria mais bem absorvidopelo leitor, quando ela e síndico continuam presos, após a descida dos outrospersonagens.

Consta-se, portanto, que o texto atende aos elementos obrigatórios daproposta, mas explora limitadamente os elementos livres, tornando o produtofinal razoável e não excelente. Cumpre ressaltar que a avaliação regular aindaadvém da não atribuição de título ao texto final.

Page 81: Caderno de redações 2010.pmd

80

BIBLIOGRAFIA PARA ESTUDO

CHARAUDEAU, Patrick. Linguagem e discurso: modos de organização. Coord.Tradução: Angela M.S. Corrêa e Ida Lúcia Machado. São Paulo: Contexto,2008.

GHILARDI, Maria Inês, PEREIRA; Maria Marcelita e THEREZO, Graciema Pires.Redação para o vestibular. 3. ed. revisada e atualizada, Campinas, SP: Alínea,2006.

GOLDSTEIN, Norma; LOUZADA, M. Silvia; IVAMOTO, Regina. O texto sem mistério:leitura e escrita na universidade. São Paulo: Ática, 2009.

KÖCHE, Vanilda; BOFF, Odete; MARINELLO, Adiane. Leitura e produção textual:gêneros textuais do argumentar e expor. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.

MARCUSCHI, Luiz A. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. SãoPaulo: Parábola, 2008.

FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, F. Platão. Para entender o texto: leitura e redação. 17.ed. São Paulo: Ática, 2007. Série Ática Universidade.

FIORIN, José Luiz e SAVIOLI, Francisco Platão. Lições de texto: leitura e redação.5. ed. São Paulo: Ática, 2006.

FIORIN, José Luiz. Em busca dos sentidos: estudos discursivos. São Paulo: Contexto,2008.

THEREZO, Graciema Pires. Como corrigir redação. Campinas, SP: Alínea, 5.ed.,2006.

THEREZO, Graciema Pires. Redação e leitura para universitários. 2.ed. Campinas,SP: Alínea, 2008.