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    Fundamentos Fenomenolgico-Existenciais Para a Clnica

    Psicolgica1

    Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo2

    RESUMO

    Trabalho apresentado no primeiro Simpsio de Psicologia Fenomenolgico

    Existencial que se concretizou no livro de mesmo nome, sob organizao da

    Professora Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo. Realizado no dia 18 de outubro de

    2008 pela Fundao Guimares Rosa e o Instituto de Psicologia Fenomenolgico -

    Existencial do Rio de Janeiro IFEN, o Simpsio contou com a participao de

    ilustres e renomados profissionais da Psicologia.

    Palavras-Chave: Psicologia Fenomenolgico-Existencial. Tdio e Finitude.

    Artigo Original:Elaborado em: outubro / 2008.Recebido em: outubro / 2008.

    Publicado em: outubro / 2008.

    1Artigo publicado em: SIMPSIO DE PSICOLOGIA FENOMENOLGICO EXISTENCIAL, 1., 2008,Belo Horizonte.Anais...Belo Horizonte: Fundao Guimares Rosa, 2008. p. 07-18.2 Doutora em Psicologia pela UFRJ, Mestre em Psicologia da Personalidade pela FGV/ISOPE,Especialista em Psicologia Clnica pelo Instituto de Psicologia Fenomenolgico-Existencial do Rio deJaneiro IFEN, Scia Fundadora, Presidente, Responsvel Tcnica, Professora, Supervisora eOrientadora de monografia do Curso de Especializao em Psicologia Clnica do Instituto dePsicologia Fenomenolgico-Existencial do Rio de Janeiro IFEN e Professora Adjunta do Instituto dePsicologia e do Programa de Ps-graduao em Psicologia Social e membro da comisso editorial daRevista Estudos e Pesquisas em Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

    Professora, supervisora e coordenadora de Pesquisa no Instituto de Psicologia Fenomenolgico-Existencial do Rio de Janeiro. Ps-doutoranda em filosofia. Autora de livros, captulos e artigos naabordagem fenomenolgico-existencial. Atua como Psicloga Clnica na perspectiva fenomenolgico-existencial.

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    Cabe iniciar este trabalho com a seguinte questo: por que buscar na filosofia da

    existncia e na fenomenologia os fundamentos para uma prtica clnica; a cincia

    psicolgica com suas diversas teorias j no dispe de uma grande amplitude de

    fundamentaes? Para responder a questo proposta, recorrer-se- aos filsofos da

    existncia: Kierkegaard, Heidegger e Sartre.

    Os psiclogos clnicos que atuam na perspectiva fenomenolgico-existencial

    freqentemente, referem-se a termos tais como possibilidade, liberdade, angstia,

    morte, prprio e imprprio, entre outros, no entanto precisam buscar fundamentos

    em filsofos que refletem sobre estas temticas, denominados de filsofos da

    existncia, j que a cincia no se interessa por estes temas e quando se refere a

    eles, explanam de forma causalista e determinista.

    Kierkegaard, Heidegger e Sartre posicionam-se frente ao desenrolar de seus

    pensamentos sobre a existncia humana em uma posio bem distanciada da

    perspectiva cientfica, acreditam que nesta forma de abordar o existir, a existncia

    mesma escapole as elaboraes seja da filosofia idealista, seja da cincia. Cada um

    a seu modo, vai tentar deslocar-se dos parmetros cientficos e propor o como ir a

    busca do existir mesmo. Kierkegaard refere-se ao abandono da realidade abstratarumo a busca da realidade concreta; Heidegger prope-se a no mais pensar o ser,

    mas o seu sentido; Sartre contesta as verdades eternas da tradio filosfica e

    prope-se a um exame detalhado da realidade humana tal como ela se manifesta.

    Estes trs pensadores da existncia humana consideram como temas: a existncia,

    a deciso, a angstia, a liberdade e a finitude entre outros. Cada um a seu modo vai

    problematizar estas questes. Para exemplificar a tematizao dos trs filsofos,iniciar-se- com a questo do euexistncia.

    Kierkegaard refere-se ao eu como desespero, logo, constituindo-se paradoxalmente,

    portanto, escolhendo-se e ao mesmo tempo lanado s contingncias prprias do

    existir. Alerta para o grande mal que aprisiona o homem, a iluso, levando-o a

    acreditar que o que em ato no . Afirma que libertar-se consiste em reconhecer

    as suas iluses e estar certo de sua finitude e vulnerabilidade.

    Heidegger para escapar da idia do eu como substncia encapsulada tal como o fez

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    a cincia, refere-se ao dasein, ser-a, abertura, ausncia dinmica; e com tal

    constituindo-se no jogo do imprprio e do prprio. Discute sua constituio na

    duplicidade ser e ente, em que a no liberdade consiste em que o dasein se tome

    como ente, esquecendo-se da sua condio de ser, e reconhecer tal condio

    implica em liberdade de tomar para si outras possibilidades.

    Sartre refere-se conscincia constituindo-se na duplicidade do em-si e para-si. Diz

    que o homem est condenado a ser livre e, portanto torna-se responsvel pelo seu

    destino.

    Os trs filsofos ao seu modo trazem importantes contribuies para a

    fundamentao e a prtica clnica em psicologia com relao ao modo que refletemsobre a angstia e o desespero.

    Kierkegaard refere-se ao equivoco dos psiclogos de sua poca por no tomarem

    como elementos de sua reflexo nem a angstia nem o desespero. Afirmava ainda

    que o desespero estava para a psicologia, assim como as doenas do corpo

    estavam para os mdicos. E que estes deveriam diagnosticar e tratar as

    enfermidades do corpo, assim como cabia ao psiclogo diagnosticar e tratar odesespero.

    Heidegger, nos seus seminrios realizados em Zollikon, sob a coordenao de

    Medard Boss, dirige-se aos mdicos psiquiatras e psicoterapeutas, tentando libert-

    los da idia mecanicista pela qual o sofrimento psquico era conduzido at ento e,

    afirma que tal sofrimento uma questo de restrio da liberdade, bem como afirma

    o quo desnecessrias so as teorias psicolgicas.

    Sartre critica a psicanlise, bem como sua mxima do inconsciente e prope a

    psicanlise existencial, na qual o que interessa a m-f como a mentira que se

    prega a si mesmo. E considera o inconsciente como uma atitude de m-f.

    A clnica fundamentada na filosofia da existncia parte do pressuposto que o homem

    se constitui na relao que estabelece com o mundo. Ao nascer, surge no mundo,

    pobre em determinaes e rico em possibilidades. Assim sendo no se pode partir

    da idia de nenhum apriori que determine a sua singularidade. De forma muito

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    particular, cada um destes filsofos da existncia vai abordar a temtica da

    singularidade, que no pode ser abordada por nenhuma teoria cientfica em

    psicologia, j que esta sempre pressupe uma lei geral acerca do psiquismo humano

    e, em conseqncia, as reflexes filosficas acerca da existncia particular se

    constituiro em um fator de extrema importncia na clnica, constituindo-se suas

    temticas como fundamentos do pensamento clnico na perspectiva existencial.

    Kierkegaard em suas obras j apontava para a insuficincia da cincia psicolgica

    com relao compreenso das situaes limites da existncia. Em seus diferentes

    escritos, levanta a possibilidade de se pensar a psicologia a partir dos pressupostos

    de sua filosofia. Ao referir-se angstia destaca o fato de que este tema deve sertratado pela psicologia, j que este fenmeno ocorre frente condio irremedivel

    da liberdade de escolha e afirma, tambm, que toda e qualquer justificativa do

    homem para no se apropriar de sua escolha trata-se de uma posio psicolgica de

    no liberdade. Com relao ao desespero, diz que este fenmeno deve ser

    diagnosticado e tratado pelo psiclogo, j que no desespero, o homem tenta

    estabelecer a sntese daquilo que no passvel de sntese ou de controle.

    Kierkegaard a todo o momento declarava a sua f no homem no sentido de resgatar

    sua individualidade, por dois motivos. Primeiro, j que a multido formada por

    indivduos, h o poder em cada homem de chegar a ser o que : o indivduo

    singular, exceto se esse homem no desejar assim e preferir escolher excluir-se a si-

    mesmo e continuar mantendo-se como multido. Segundo, por acreditar que a

    interioridade possibilidade para todo homem.

    O homem como indivduo fiel singularidade, no precisa se encaixar em nenhumenquadramento ou reduto. No precisa para tanto, atacar nem criticar um

    determinado grupo, e sim proceder a uma anlise sincera e poder assumir que no

    se identifica.

    A subjetividade se constitui incorporando existencialmente as verdades objetivas na

    singularidade. Manter-se no singular implica em no se perder no geral, porm sem

    abandon-lo. A singularidade se fortalece no geral, mantendo a verdade objetiva e

    assumindo as necessidades. preciso, no entanto, no confundir a necessidade

    com a moda ou com o universal. No entanto, quanto mais enfraquecida a

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    conscincia, mais fcil perder-se na multido. Na atualidade, atravs da forte

    expresso da publicidade, a multido se articula, de modo que o indivduo tenda a

    cauterizar a conscincia, fortalecendo o impulso inconsciente. E, o homem sem

    conscincia torna-se presa fcil da multido.

    S na singularidade, o indivduo torna-se responsvel por sua ao, compromete-se

    com a sua obra, assina a sua autoria. Para este os meios no justificam nenhum fim.

    O indivduo massa a multido, onde a verdade torna-se uma abstrao, portanto

    ningum responsvel, ningum assume a autoria e, ainda, os meios justificam o

    fim.

    Heidegger, em Ser e Tempo(1989) refere-se ao carter tardio da psicologia frente

    analtica existencial. Assim trata-se de poder, antes de qualquer pressuposto terico,

    ir buscar o fundamento da existncia mesma, em sua originalidade, antes mesmo

    desta ser retratada pela representao abstrata.

    Heidegger, repetidamente, afirmava que a psicologia na tentativa de estruturar-se

    cientificamente tratou de objetivar o psiquismo humano, com bases no conceitometafsico de substncia, recaindo na idia de uma interioridade psquica. Cabendo,

    desta forma, definir o psiquismo humano. Prope tratar a questo da existncia

    partindo da determinao essencial do homem que consiste no poder-ser, carter de

    abertura, que no admite nenhuma objetivao, substancializao, nem definio do

    homem, j que este no de incio coisa nenhuma.

    Considerando as reflexes heideggerianas, a psicologia e a psicoterapia partiriam deuma proposta meta-terica. Logo, prescindindo de qualquer teoria explicativa da

    existncia humana. Mesmo porque apreender tal existncia em um sistema

    implicaria em perder a vida tal como ela se d. clnica psicolgica caberia ento a

    tematizao das questes trazidas pelo cliente.

    Heidegger em Ser e Tempo(1989) aponta para o carter de ter de ser do dasein e

    de suas possibilidades da derivadas que colocam em jogo o seu ser: a propriedade

    e a impropriedade. O carter mais prprio do existente ser lanado as suas

    possibilidades. A impropriedade, no incio e na maioria das vezes, determina o que o

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    ser-a . Na impropriedade o ser-a completamente o seu mundo e a propriedade

    consiste em uma modelao da impropriedade. Logo o ser-a se constitui no jogo do

    imprprio e prprio. J que o ser-a se constitui neste jogo do imprprio e prprio,

    este corre sempre o risco de se perder no impessoal, e assim esquecer de suas

    propriedades. Porm como o jogo do prprio e imprprio jamais pra de cessar, h

    sempre a possibilidade da reconquista do prprio. a que cabe se falar da

    psicoterapia onde a atuao do psicoterapeuta se d na antecipao e na

    mobilizao no sentido da reconquista daquilo que mais prprio na existncia

    daquele que a angstia clama pela propriedade.

    Sartre em O ser e o nada (1997) constri uma ontologia fenomenolgica e estruturauma psicanlise existencial como um procedimento que pode ajudar o homem a

    conhecer-se a si mesmo e a apropriar-se de suas escolhas. O objetivo da

    investigao da psicanlise existencial alcanar a descoberta de uma escolha,

    cabendo ao psiclogo reivindicar como decisiva a intuio final do sujeito. Considera

    que a tarefa da psicanlise existencial consiste em levar o ser a se conhecer, e para

    isso faz-se necessrio que se faa um exame detalhado da realidade deste homem

    tal como essa realidade se manifesta.

    Ainda, para Sartre, a verdade humana de cada pessoa s pode ser revelada por

    uma fenomenologia ontolgica. Importa o sujeito da experincia. De nada vale fazer

    uma listagem das condutas, tendncias e inclinaes, o importante decifr-las,

    sabendo interrog-las.

    Sartre afirma que seu mtodo comparativo

    uma vez que, com efeito, cada conduta humana simboliza a sua maneira aescolha fundamental a ser elucidada, e uma vez que, ao mesmo tempo,cada uma delas disfara essa escolha sob seus caracteres ocasionais e suaoportunidade histrica, pela comparao entre tais condutas que faremosbrotar a revelao nica que todas elas exprimem de maneira diferente(SARTRE, 1997, p. 696).

    No considera que dados primordiais tais como hereditariedade, carter entre outros

    determinem as escolhas. A psicanlise existencial nada reconhece antes dosurgimento original da liberdade humana (Ibidem, p. 682). Portanto faz-se mister

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    encontrar o sentido, a orientao desta histria.

    Afirma ainda que existe uma conscincia especifica de liberdade e essa conscincia

    angstia, que em sua estrutura essencial consiste na conscincia de liberdade.

    Continua:

    A liberdade que se revela na angstia pode caracterizar-se pela existnciado nada que se insinua entre os motivos e o nada. No porque sou livreque meu ato escapa a determinao dos motivos, mas, ao contrrio, aestrutura ineficiente dos motivos que condiciona a minha liberdade(Ibidem, p. 78).

    A psicanlise existencial parte do principio de que

    o homem o ser que projeta ser Deus. O para-si um ser, cujo ser estem questo em seu ser em forma de projeto de ser. O para-si escolheporque falta. A liberdade identifica-se com esta falta. Liberdade nada mais do que uma escolha que cria suas prprias possibilidades. Logo, estapsicanlise vai buscar a escolha original, que se produz no mundo e seconstitui como totalidade. A escolha original conglomera em uma sntesepr-lgica a totalidade do existente, e, como tal, o centro de referencias deuma infinidade de significaes polivalentes (Ibidem,p.691).

    Na clnica, atravs da fala, o psicoterapeuta pretende resgatar aquele indivduo quese perde no todo mundo, esquecendo de seus critrios, referenciais e valores.

    Perdido como um barco deriva, segue o rumo que lhe ditado pela publicidade,

    pela moda, enfim pelo geral. Por fim, acaba por desconhecer-se a si mesmo, no

    conseguindo decidir-se, paralisa na dvida e justifica-se no exterior.

    Nesta perspectiva, cabe ao psiclogo clnico mobilizar e antecipar as possveis

    sadas atravs da singularidade. Cabe, ainda ampliar a conscincia de suasescolhas e de si mesmo.

    Eis a tarefa do psicoterapeuta existencial, resgatar o homem singular que se

    encontra perdido no geral, para tanto, utiliza-se do dilogo, que se d, na maior

    parte do tempo, de forma indireta. Para tanto, faz-se necessrio que o

    psicoterapeuta se reconhea no seu projeto, naquilo que lhe mais fundamental, e

    tambm que esteja atento para no se deixar perder no geral, nas demandas do

    mundo. Despende de todo esforo para identificar a iluso do outro, finge

    compartilhar dela de forma a introduzir o elemento dialtico e assim provocar no

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    outro a reflexo. Aquele que quer ajudar deve estar atento para no se deixar

    seduzir pela iluso do outro, mas para tanto deve reconhecer as chamadas do

    impessoal e no se deixar conduzir pelas suas prprias iluses.

    O psicoterapeuta que na sua produo, numa relao libertadora, em que a escuta e

    a fala se pronunciam como hermenutica do sentido ao modo do dilogo, pelo seu

    poder-ver traz transparncia aquilo que se mostrava e ao mesmo tempo se

    escondia, porm acima de tudo aprisionava aquele que clamava por sua verdade.

    Para tanto, utiliza-se do seu instrumental que faz aparecer aquilo que tinha

    possibilidades para ser. Seu poder-ver provoca perplexidade naquele que

    transparece a si mesmo ao seu modo.

    Kierkegaad denominaria a este psicoterapeuta com a sua tarefa clnica de ajudante,

    ou seja, quele que pretende ajudar ao outro a se desembaraar dos laos da

    iluso, a no deixar que o homem se perca no impessoal, esquecendo-se do

    caminho de volta a si mesmo. Diz que aquele que quer ajudar deve antes de tudo

    reconhecer que tem um diferencial em relao ao outro. Deve estar na adio, isto

    significa, reconhecer-se no seu projeto, naquilo que lhe mais fundamental, e nose perder no plural, nas demandas do mundo. S assim pode tentar identificar a

    iluso do outro, introduzindo o elemento dialtico, finge compartilhar da iluso de

    forma provocar no outro a reflexo. Aquele que quer ajudar deve estar atento para

    no se deixar seduzir pela iluso do outro, e isto s possvel porque h a adio,

    que no final das contas, consiste em um diferencial entre os dois: ajudante e

    ajudado.

    Aquele que ajuda deve saber dialogar atravs da comunicao indireta, que consiste

    em uma forma de se fazer chegar ao outro sem que este perceba que h a uma

    inteno de confront-lo, de question-lo ou intercept-lo em suas aes. Dentre os

    modos de comunicao indireta, o filsofo recomenda a ironia, que consistia em um

    mtodo de comunicao indireta, utilizado por Kierkegaard para que naquele que

    predomina o modo esttico de escolher surja primeiramente a inquietao, o

    impacto, de forma a que este homem, pelo menos, possa reconhecer-se no lugar em

    que se encontra. E assim abrir a possibilidade de se instaurar o conflito, a indeciso.

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    Como se pode constatar a partir desta exposio, a clnica psicolgica que assume

    uma postura fenomenolgico-existencial constitui-se em uma fundamentao bem

    elaborada, rigorosa e comprometida. Prescindindo das teorias e de qualquer critrio

    a priorstico de verdade, interioridade e essncia, edifica-se um modo de saber e

    fazer a clnica sem recair em um sistema lgico-causal e nem, em verdades do

    senso comum. Ao mesmo tempo em que desmistifica a prtica clnica com suas

    regras e determinaes corretas, destinada aos especialistas; no permite que esta

    recaia em um fazer da ordem do mistrio, como um fazer mgico; toma o dilogo

    clnico como um ofcio onde o aprendizado transmitido no ato de produzi-lo.

    REFERNCIAS

    HEIDEGGER, M. Ser e tempo. Petrpolis: Vozes, 1989.

    ______. Seminrios de Zollikon. Petrpolis: Vozes, 1987.

    KIERKEGAARD, S. Desespero: a doena mortal. Rio de Janeiro: LivrariaCames,1961.

    ______. O conceito de Angstia. So Paulo: Hemus, 1968.

    ______. preciso duvidar de tudo. So Paulo: Martins Fontes, 2003.

    SARTRE, J. O ser e o nada: Ensaio de ontologia fenomenolgica. Petrpolis: Vozes,1997.

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