Editorial_fev2016.rtf.pdf

Post on 23-Feb-2018

213 views 0 download

Transcript of Editorial_fev2016.rtf.pdf

 

Editorial

Avisos à navegação política

As eleições são sempre importantes para os partidos, quaisquer que elas sejam, uma vezque é através do voto expresso nas urnas que os partidos políticos verificam como estãoa ser vistos pelo eleitorado.Mesmo as eleições presidenciais, que são as únicas onde quem vai a votos são pessoas enão partidos políticos, no fundo, existe sempre uma ligação entre os pessoas e os

 partidos, daí a sua importância. Nas últimas eleições presidenciais as candidaturas deEdgar Silva e de Marisa Matias eram claramente resultado de uma decisão partidária enão de uma decisão individual, enquanto as candidaturas de Marcelo Rebelo de Sousa,Sampaio da Nóvoa e Maria de Belém, apresentaram-se como candidaturas individuais,mas dentro de um determinado espaço do espetro político, logo, mais ou menos coladasaos partidos que os apoiavam. Por isso, as vitórias e as análises que resultam daseleições presidenciais, são também uma vitória ou uma derrota dos partidos políticos enão apenas dos candidatos.

 Neste sentido, o desfecho das eleições presidências, no concelho de Montemor-o-Novono passado dia 24 de janeiro, foi um resultado histórico em que ninguém acreditava que

 poderia vir a acontecer: a vitória do candidato da direita, Marcelo Rebelo de Sousa. Écerto que esta vitória contou com o ‘apoio’ da divisão existente no partido socialista que

impediu a vitória de Sampaio da Nóvoa, mas mesmo assim não deixa de sersurpreendente, num concelho até aqui dominado politicamente pelo partido comunista,

 

que um candidato do espetro político da direita vença claramente, deixando o candidatoapoiado pelo PCP a dez pontos percentuais de distância. Isto nunca aconteceu aquidesde a revolução que teve lugar a 25 de abril de 1974. Em mais de 40 anos dedemocracia, as derrotas eleitorais do PCP aqui foram muito poucas e apenas em favordo partido socialista.Mas para além do fenómeno que foi a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa, um outrocandidato marcou também a diferença: Marisa Matias. A candidata apoiada pelo Blocode Esquerda ficou em quarto lugar neste concelho, mas provou algo que já se estava asentir: existe em Montemor um conjunto de pessoas que se identificam com os valoresde esquerda, mas não pretendem votar no PS ou no PCP. E este eleitorado está a crescer,tanto no país como neste concelho. Mais, não é apenas uma situação a ter em conta nazona urbana, é algo transversal a todas as freguesias. Considerando que Marisa Matiasfoi capaz de ultrapassar o resultado do Bloco de Esquerda nas eleições legislativas de 4de outubro em 16 por cento, está a ficar claro que aquela força política está a fixar umdeterminado eleitorado que necessita de uma mensagem de esperança que o Bloco estáa conseguir passar de forma eficaz.Esta situação pode ser vista como o resultado da crise que está em cima desta sociedade

 praticamente desde 2008, sem que se vejam resultados palpáveis e sem que se consigater esperança no futuro. No fundo, o Bloco de Esquerda, tal como o Syriza na Grécia ouo Podemos em Espanha, está a combater esta situação e a tentar passar uma mensagemdiferente que está a agarrar um determinado eleitorado que está farto das mesmassoluções para os problemas existentes.Esta situação significa que a sociedade vai mudando lentamente, e como tal, oeleitorado também está a mudar, por isso, os partidos existentes neste concelho tambémtêm de se adaptar à mudança porque certamente existirão no futuro oportunidades eameaças que é necessário ter em consideração. Com as eleições autárquicas a

 praticamente um ano e meio de distância, convém ir preparando as estratégias para quenão existam surpresas em 2017, e o eleitorado do Bloco de Esquerda neste concelho temde passar a ser considerado, face à sua crescente dimensão.

A.M. Santos NaboFevereiro 2016