Dalton MiranDa
Brasília, 2013.
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Miranda, Dalton+ 50. Dalton Miranda. - Brasília: LER Editora, 201360 p. 12,5 x 17,5 cm.
1. Literatura, Brasileira. 2. Poesia I. Título.
CDU 82 -1
5
Veado murmurou umVeado gritaram muitos
Um corre para danaOutro dá sem para
6
Xiii vai ter Copa aqui?C’umé que gringo vai chegar?Se o aeroporto tá pra saturar
Vai ter cama pra dormir?E se nos ‘branquelo’ der piriri?
7
Apaga a velinha, gritaram em uníssonoO estampido foi seco
A velhinha debruçada sobrea criança assustada
E, assim, acabou a festinha de cinco anos da primogênita
8
Norte, sudoesteSul, noroeste
Não, não é uma rosa dos ventosSou eu perdido em Brasília
9
Louco por uma balaCutuca, fustiga, embalaAté derrubarem o malaCom uma certeira bala
10
Minha mãe é igual a suaQue igual à dele
Parecida com a nossaQue é tudo mãe
11
Só te ouço quando queroQuando quero não te ouçoNão falo, mas te entendo
Entendo e não te compreendo
12
Vela a velhaA velha ao lado da vela
Que no barco a velaLançará as cinzas da velha
13
Porcaria,Faz a porcada
Porcaria,Também é coisa da garotada
14
Perdi!O que?
Aquilo que estava esquecidoO que era?
Não sei, pois estava perdido
15
Puta!Reclama a puta
Muito putaCom a outra puta
16
Ah, como doeuO chão crescendo em câmera lenta
A cara amassada contra o asfalto quenteO latejar ... Os dentes voando longe
Merda de cadarço desamarrado
17
Bolsa LV, óculos HermèLacoste, som para o apê
Um vem e vaiNa feira do Paraguai
18
A porta do armário desde sempreDesde sempre esteve entreaberta
O soprar do vento dos temposDevagar, e sempre, a escancarou
O mundo é gay
19
A palavra mal ditaNa boca do maldito
Torna-se malditaPelo mal dito
20
Torpe, cerro os olhosPensamentos em ti
Languida, oferecendo-te a mimIntempestivo, serro-te ao meio
21
Migo está comigoAponta o furo amigo
Comigo não está mais o MigoFoi só um toque no umbigo
22
Tirania de TiroTiro do mapaBala e o tiro
Tiro e vilania
23
Levanto e anotoAnoto e repouso
Descanso e reparoNo preparo para novo pouso
24
Converse, com seu AllStarIdas, com seu Adidas
Tênis com tênisNo laço ou descalço
25
As vontades, muitasOs desejos, enormes
As taras, tantasA realidade, pífia
26
CompartilhoCurtoSigo
Contudo, não há toque no virtual
27
Toco, você fogeEncoxo, você se assustaSussurro, você ronrona
Tomo-te nos braços, acabamos na cama
28
O concerto d’uma peçaNão é o conserto d’uma peça
Um toca a músicaOutro o negócio
29
Orar ajoelhadoRezar penitenciando-se
Suplicar aos prantosTrabalhar também ajuda
30
O fundo do poço não viSó o quase abraço de sua face escura
O fundo do poço não viFiquei a um passo dali
31
Flores, rosasDores, chorasAmores, gozas
Sabores, provas
32
Liberta as doresDores que liberta
Um só grito dantes engasgadoLibertadores!
33
Dita tenta a dicaDica pela tal dita
Dita a dicaBendita seja a Dita
34
Tic, tac, tic, tacSssssssshhhhh
3, 2, 1Bum …
35
A caça se confunde com o caçadorNa disputa de senador contra senador
O sujo e o mal lavadoSociedade, amordaçada,
deixe-nos continuar e chafurdar!
36
Mentes entre dentesQuando me fazes, com pudor
Juras de amorPois afora a nossa mesmice,
Queres mesmo é sem-vergonhice
37
Jô Onze e MeiaNão é as onze, nem meia
É para depois de meiaMuita noite e cheia ...
38
Não,Simples assim, não
Não,Complicado assim, não
39
Um amarelouOutro cansou
O dela o vento levouO ouro frustrou
40
Atitude rude, verdade cruaÉ minha e é tua, desnudaNão é apelativa, é regaço
Tapa na cara, com luva de aço
41
De puta, biscate, cortesãVirou dama, personalidade com fã
Nada comoum dia (trepando) atrás do outro
Muita perseverança e afã
42
Tudo bem?Sim, meu bem
Tudo bom,Sim, meu bombom
43
Cantam loas ao negroQue com a pena do justiceiroQuase transformou a Carta
Em papel d’uma pataca
44
A pedreirada no andaime assobiaA fera sente-se bela
A pedreirada no andaime assobiaA bela fica uma fera
45
Nem tudo que pensoEscrevo
Mas, escrevo tudo quePenso
46
Tomo poucas notasNotas muito tortas
Tortas e destrasDestras e canhestras
47
Construo, para que não destruamDestruo, para que não possuam
Possuo, para que dividamDivido, para que unam
48
Pobre cidadãoObrigado a levantar a mãoPara o ladrão, para o leãoNa caneta e no três oitão
49
PrimeiraUm, dois, ..., dez metros
SegundaUm metro, e, ..., primeira ...
50
Ai, gemem poucasAi, gritam muitas de dor
Ai, histéricas blasfemam algumasAi, ai, ai, lamentam os homens
51
Segue em desalinhoNo reto caminho
Passo ao paçoAo largo a passinho
52
Adolescentes são mais chatos que criançasCrianças, que são menos chatas que adultos
Que são tão chatos quantoAdolescentes e crianças
53
Não atices o biltrePois se tu esqueceres o alvitre
Prepara-te para enfrentarA ode bêbada e o drible
54
Peça um tempo ao tempoPois peca quem ao tempo
Não pede um tempoDeixando passar o tempo
55
O que é o tempoPara quem não se dá um tempoCom receio d’um contratempo
Antes do tempo
56
Não recebo afetoNem meio metro
Sem ao menos tetoTão pouco concreto
57
Estava esperandoEsperando e tomandoTomando e esperando
Aulas de esperanto
58
Letras jogadas aos cestosHá um bom punhado de textos
Provavelmente, fora de contextosPois em bons termos,
são meros sextos pretextos
59
Sou um putoSem um puto
Para comprar um putoO que me deixa puto!