A IMPORTÂNCIA DO ATO TERAPÊUTICO NA RECEPÇÃO · 2010-03-10 · ... terapeuta ocupacional...

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A IMPORTÂNCIADO ATO TERAPÊUTICO NA RECEPÇÃO

Autora: Maria Isabel Nóbrega de Almeida, terapeuta ocupacional especialista em Saúde Mental eSupervisora do 8Qano de graduação da Universidade de São Paulo (USP)

Rua Bela Cintra, 244 - SP - Cep: 01413-000 - Brasil

Palavras-chave: Crianças - Saúde Mental - Grupo

A IMPORTÂNCIA DOATO TERAPÊUTICONA RECEPÇÃO

Este trabalho relata o grupo de re-cepção que ocorre na segunda feira atarde no Hospiatal-Dia Infantil daMoóca. O objetivo do grupo de recep-ção é reinserir as crianças no Hospital-Dia após o final de semana.

Este grupo se iniciuo de maneira in-formal, onde no início nos permitiamosexperimentar atividades como recursosexpressivos onde não fosse privilegia-da a doença, mas os aspectos criativos.

Não se usava o recurso expressivopara arrancar coisas dos pacientes, aatividade em si é veículo de elaboraçãopessoal.

Não tinhamos claro quais eram asdemandas e necessidades das crianças.

O grupo era aberto e a nossa expec-tativa é que situações próprias vividasno lar durante o final de semana fos-sem comunicadas. Observamos situa-

ções como angústias, desconexões cor-porais e efetivas, sensações dedespedaçamento etc.

Após dois meses deste trabalho senti-mos a necessidade de rever nossas expec-tativas com relação ao grupo ejunto a istoo aumento do número de crianças novassendo matriculadas no serviço.

Fez-se premente a reestruturação dogrupo.

Observamos a necessidade de neste

momento oferecer um holding às cri-anças que além de propiciar suporte,incluía uma comunicação silenciosaentre terapeuta e criança. A coordena-ção do grupo era feita por uma terapeutaocupacional mais dois profissionais. Osetting do grupo era um local de aco-lhimento, continência, aconchegante.

Refletimos e sistematizamos novos

objetivos;I - Inclusão e apresentação das cri-

anças recém-chegadasao Hospital-Dia.2 - Estruturação de uma atividade e/

ou brincadeira dentro do contextoterapêutico.

3 - Diminuímos as variáveis - nú-mero grande de brinquedos - pois mos-trava-se ineficaz e inadequado, estimu-lando maior desorganização e angústi-as. Optamos por um tipo especial debrinquedo, composto por blocos demadeira que possibilitavam jogos deencaixe, construções, diferenças x se-melhanças, cores, formas e tamanhos,ordenação x desordenação, partes xtodo, enfim, composições e decompo-sições.

As crianças que frequentam o Hos-pital-Dia e assim o grupo de recepçãoapresentam grave desestruturação men-tal (pré-psicose, psicose e neuroses gra-ves).

Fixamos horários, espaço, coorde-nação, continuação e repeti cão de jo-gos e brincadeiras formando assimum arcabouço protetor específico aeste grupo.

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Cada criança utilizava os brinque-dos de acordo com suas possibilidades- ex: mordidas, atirando para fora, en-caixes...

Os coordenadores manejam as situ-ações apresentadas pelo grupo muitomais a partir de ações do que falas (in-terpretações) uma vez que entendemosque a ação é a linguagem do grupo. Oscoordenadores são incessantemente in-

vestidos, desinvestidos e investemafeti vamente nas crianças, tomando-seinterlocutores desses bebês que falamagindo.

Em alguns momentos do grupo ocor-rem angústias maciças, onde as crian-ças não vivem o "como-se" colocando-nos no "lugar de" como personagens,por exemplo: pai, mãe. Outros momen-tos ocorrem pedidos de ajuda, contatoscorporais, identificações. Os coordena-dores em narrativas sobre o grupo mui-tas vezes citavam sensações diversastais como: aversão-esgotamento-carinho...etc.

Exemplo:

Uma criança urina em quase todosos grupos. Uma vez nos disse, pergun-tando: "Sou pequeninona?", ao mesmotempo em que queria ser nenê, pedindocolo,querendomamar no peito, salivan-do muito e depois dormia no colchoneteque nomeou como bercinho.

Perguntava ao coordenador sobrenamorados repetidas vezes. Entende-mos que dentro do contexto da sessão

ela nos colocava no lugar de "mãe queamamenta" e de "namorado". Assimela se torna, como bem se definiu,"pequeninona" ou seja "pequena-nenê" e "grande-mulher" que desejanamorar.

Atualmente a constituição do grupoé: um sub-grupo formado por criançasmaiores que trazem questões sobre se-xualidade.

o que será que estas brincadeiras epedidos repetidos constantemente que-rem dizer?

Pensamos que expressam questõese vivências muito primitivas que pro-vavelmente não puderam ser nomea-das e elaboradas. A partir doexperenciar dentro do grupo podemosabarcar o não-saber, o inefável, o queno discurso é excluído.

Assim entendemos segundo as pa-lavras de Winnicott: "A experiência deum ambiente favorável, adaptado àsnecessidadesespeciaisda criançaé fun-damental, sem o que não pode encon-trar uma relação operacional com a re-alidade externa."

CONCLUSÃO

Procuramos trazer a experimentaçãopara dentro da clínica acabando com adicotomia laboratório x clínica.

o grupo de recepção como porta-de-entrada da criança no Hospital-Dia, pro-cura promover novas experiências, ondea criança possa rever sua potência ex-pressiva em um âmbito de comunica-ção mais ampla. Procuramos observaraonde está o "fio" que pode serconstruído. Optamos por criar um cli-ma transicional através das ações e brin-

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cadeiras e outros recursos simbólMeditados pelo próprio grupo.

Enfim, os encontros feitos à:o.

gundas-feiras procuram ser um dIpartilhar de vivênciasresignificações onde aos poucoc; Ipermitem nomear e organizar o filinguagem" das ciranças.

Para Winnicott, um dos mais jp'...

tantes sinais de saúde é o surgime"1a manutenção na criança do br ~~sonstruti vo.

BIBLIOGRAFIA

O brincar e a realidaele.- ::.

Winnicott- EeI. Imago - 1975Tudo começa em casa.- ::

Winnicott- EeI. Martins Fontes - .O ambiente e os processos ele

ração - Ed. AI1es Médicas - 1983

. -.