II Simpósio de Ciências Biológicas
Universidade Católica de PernambucoRecife - Pernambuco
23 a 27 de agosto de 2010
28 - ELASMOBRÂNQUIOS DO LITORAL SERGIPANO: COLEÇÃO DIDÁTICA PARAUTILIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL A PARTIR DE VISITAÇÃO E EXPOSIÇÃO
Dismeire Vasco Oliveira Pereira1, Celia Waylan Pereira2 ,Fábio Neves Santos3
1Pesquisadora, 2Coordenadora Geral e 3Vice-presidente do Grupo de Estudo deElasmobrânquios de Sergipe – GEESq g p
RESUMO
O trabalho teve como objetivo a montagem de uma coleção biológica didática de
elasmobrânquios, com ocorrência no litoral sergipano, para utilização em visitas a sede do
grupo e na educação ambiental Em 2009 foram realizadas coletas de animais capturadosgrupo e na educação ambiental. Em 2009 foram realizadas coletas de animais capturados
que seriam descartados pelos pescadores. Foram coletados 46 exemplares, sendo 17
raias e 6 tubarões incorporados por inteiro à coleção, os demais exemplares foram
dissecados. O material foi incorporado ao acervo didático e catalogado em um banco de
dados específico para esse fim. A coleção possui atualmente 5 lotes formados por
l i t i ó ã di d tí l dé i b iõ A i it à l ãexemplares inteiros, órgãos diversos, dentículos dérmicos e embriões. As visitas à coleção
ocorreram em 2010 e durante as mesmas os estudantes tiveram uma “mini-aula” sobre a
biologia, pesca, peculiaridades dos elasmobrânquios, exposição do material e aplicação de
“mini-questionários” para avaliar o impacto das informações nos visitantes. Ao analisar as
respostas dadas aos questionários, podemos observar que inclusive os professores
acompanhantes afirmaram que nunca tinham tido acesso ao tipo de informação dada
durante a visita. Ações como essa são importantes com finalidade de educação ambiental,
a fim de estimular o entendimento do caráter complexo do meio ambiente e desfazer a
imagem negativa dos elasmobrânquios que foi ao longo dos anos fomentada pela mídia.
Palavras-chave: Coleção didática; educação ambiental; elasmobrânquios.
255
III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas
1. INTRODUÇÃO
A partir do século XVIII, o acelerado desenvolvimento industrial em todos os setores da
sociedade acarretou grandes transformações, contribuindo significativamente para o
acirramento da crise ambiental que perdura até hoje. Um dos instrumentos utilizados para
minimizar essa realidade é a Educação Ambiental (EA), que de acordo com Medina:
[...] é um instrumento imprescindível para a consolidação dosnovos modelos de desenvolvimento sustentável, com justiçasocial, visando à melhoria da qualidade de vida das populações
É de extrema necessidade construir uma sociedade mais consciente, em consonância
social, visando à melhoria da qualidade de vida das populaçõesenvolvidas, em seus aspectos formais e não-formais, comoprocesso participativo através do qual o indivíduo e a comunidadeconstroem novos valores sociais e éticos, adquiremconhecimentos, atitudes, competências e habilidades voltadaspara o cumprimento do direito a um ambiente ecologicamenteequilibrado em prol do bem comum das gerações presentes efuturas (2002, p.52).
,
com o manejo sustentável, que é segundo Boff,
Um desafio novo, uma nova situação da humanidade, da terra, obriga a uma nova atitude,
um novo conhecimento, novas práticas. Se desejarmos preservar essa herança que
recebemos ou se deixaremos que ela se degrade a ponto de atingir a nossa própria vidarecebemos ou se deixaremos que ela se degrade a ponto de atingir a nossa própria vida,
nossa própria casa. Ao chegar a uma situação dessas o ser humano percebe a
degradação da qualidade de vida e percebe a importância de ter uma relação boa com a
natureza, não agressiva, não destruidora com o meio ambiente (2003, p.2).
De forma que, a questão da biodiversidade tem recebido atenção crescente em todo
mundo e, em especial no Brasil, desde a realização da Conferência Mundial para o Meio
Ambiente e o Desenvolvimento, realizada em 1992. Nesse contexto, as coleções
biológicas passaram a adquirir importância crescente e neste particular, o Brasil, que
hospeda cerca de 20% da biodiversidade do planeta, mas detém somente 1% do acervo
biológico científico do mundo, tem um longo caminho a ser percorrido (KURY, 2006).
256
As coleções científicas constituem, de fato, uma fonte crucial de informação para todos os
que, por sua atividade, têm contato com seres vivos. Além disso, as coleções biológicas
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são arquivos que devem ser utilizados para o ensino e pesquisa, e possui importância
como registro da diversidade biológica de uma determinada área, oferecendo diferentes
tipos de informações técnico-científicas (KUNZ et. al., 2007).
Assim, toda a coleção biológica tem importância didática, uma vez que a sua utilização
sempre implica em atualização e geração de conhecimento, no entanto, não é possível,
manter uma coleção científica com finalidade didática devendo existir uma coleção
específica para isso, em razão da possibilidade de perda de materiais de valor
inestimável, pela manipulação inadequada de peças da coleção científica.
De forma que, diante da necessidade de se educar para o desenvolvimento sustentável,
uma coleção didática pode servir como uma importante ferramenta para que visitantes
possam aprender e transmitir conceitos relacionados aos elasmobrânquios (tubarões e
raias), de maneira que, as pessoas compreendam o caráter complexo do meio ambiente.), q , p p p
E nesse contexto, a apresentação formal das espécies, é um passo para o esclarecimento
de informações equivocadas e preconceituosas sobre os elasmobrânquios, principalmente
os tubarões (FRANCO, 2002).
A função dos tubarões no ambiente marinho é fundamental, pois eles auxiliam a manter
em equilíbrio as populações de suas presas e os níveis populacionais do zooplânctonem equilíbrio, as populações de suas presas e os níveis populacionais do zooplâncton,
uma vez que o aumento drástico de zooplâncton poderia resultar numa diminuição dos
níveis de fitoplâncton (MENESES, 2008). Por tudo isso, é necessário um trabalho de
conscientização para mudar a visão critica de jovens e adultos no que diz respeito aos
elasmobrânquios.
Assim, o objetivo do trabalho consistiu em montar uma coleção didática de
elasmobrânquios com ocorrência no litoral sergipano para utilização em visitação e
exposição, bem como aproveitar esses momentos de contato com o público, estudantes
do ensino médio, para ministrar ao público acerca dos elasmobrânquios apresentando
informações acerca de biologia, pesca, ecologia e conservação desses animais.
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III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas
2. MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho de montagem da coleção didática foi iniciado em março de 2009 e finalizado
em dezembro de 2009. A partir de acompanhamento de desembarques pesqueiros os
exemplares mortos pela captura e que seriam descartados pelos pescadores foram
coletados. Após a coleta, os animais foram levados ao laboratório do Grupo de Estudo de
Elasmobrânquios de Sergipe (GEES), onde foi processada a identificação segundo as
chaves de identificação pertinentes. Os elasmobrânquios foram acondicionados em
recipientes adequados e conservados em via úmida, por meio de imersão em solução
conservante (formol a 10%), ou via seca. Os exemplares de maior porte receberam
injeções de fixador nos músculos e cavidade abdominal para garantir a perfeita
conservação e o líquido conservante utilizado na imersão é periodicamente renovado
parcialmente ou totalmente (PEREIRA, et. al. 2009).p ( , )
Etiquetas com os dados de identificação (espécie, nome popular, número de identificação,
sexo, e comprimento total) e coleta (local e profundidade) foram confeccionadas e
colocadas nos recipientes onde os exemplares foram mantidos. Existe, ainda, a
identificação individual de cada elasmobrânquio, que é fixado em cada exemplar, no qual,
consta o acrônimo da coleção (GEES) e o número de identificação do animalconsta o acrônimo da coleção (GEES) e o número de identificação do animal.
Todas as informações referentes aos animais depositados na coleção também foram
registradas num livro de tombo, mantido no laboratório do GEES. Para informatização da
coleção foi utilizado um banco de dados desenvolvido no programa Microsoft Access© que
contém e registra todas as informações armazenadas no livro de tombo, de modo que, a
informatização da coleção é total e os dados são de fácil acesso e pesquisa, pois, a partir
do banco de dados é possível imprimir relatórios com os registros armazenados.
Por fim, complementado os objetivos do projeto foram realizadas visitas com alunos do 3º
ano do ensino médio, acompanhados de seus professores de biologia, onde durante a
visita foi ministrada uma mini-aula que abordou aspectos da biologia, pesca, aspectos
258
culturais e curiosidades envolvendo elasmobrânquios. Durante a visita, os alunos
puderam manusear os exemplares, utilizando equipamentos de biossegurança, ao mesmo
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tempo em que receberam orientações técnicas sobre os animais manuseados. Também
foram distribuídos folders com informações pertinentes sobre os elasmobrânquios. Todos
os participantes da visita receberam ao final um mini-questionário com algumas perguntas
para avaliarmos o sucesso do processo de conscientização.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a conclusão do projeto, o acervo da coleção didática do GEES totaliza 46
exemplares incluindo 17 raias, 6 tubarões e vários órgãos internos desses animais, de
forma que o acervo é formado por exemplares inteiros de tubarões e raias, como também
exemplares juvenis e alguns órgãos como o coração, fígado, estômago, assim como
dentículos dérmicos e embriões (Fig. 1).( g )
13%9%
36%42%
Tubarões Raias Órgãos Embriões
Durante a visita foi notável o interesse dos alunos em adquirir novos conhecimentos e tirar
dúvidas junto à ministrante presente. Dentre os participantes, 95% afirmaram que o
g
Figura 1. Distribuição percentual do material depositado na coleçãodidática de elasmobrânquios.
259
procedimento didático utilizado foi bom e 5% afirmaram que o procedimento didático foi
razoável.
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Outro dado impressionante é que 100% dos participantes afirmaram que nunca tinham
tido uma aula sobre elasmobrânquios a partir do enfoque dado. O que corrobora a
afirmação de Franco (2002) para quem uma coleção didática pode servir como uma
importante ferramenta para que visitantes possam aprender e transmitir conceitos. Nesse
caso, os conceitos apresentados quanto aos elasmobrânquios buscaram levar, a partir do
sentido amplo da educação ambiental, que os visitantes percebessem o caráter complexo
do meio ambiente e modificassem a imagem negativa dos elasmobrânquios que
possuíam. Pois, entende-se que os conhecimentos adquiridos ao longo de nossas vidas
devem ser acrescidos e fomentados aos relativos à Educação Ambiental em sentido
amplo, para que esta possa permear todo o arcabouço social, com o fito principal de
permitir a busca por uma visão holística do ambiente em que vivemos. Assim como
explica Reigota:p g
Hoje reconhece se que os impactos ambientais decorrentes das mais variadas
A educação ambiental na escola ou fora dela continuará a ser umaconcepção radical de educação, não porque prefere ser atendência rebelde do pensamento educacional contemporâneo,mas sim porque nossa época e nossa herança histórica eecológica exigem alternativas radicais, justas e pacíficas (1998, p.43).
Hoje, reconhece-se que os impactos ambientais decorrentes das mais variadas
intervenções antrópicas no meio tendem a causar efeitos imprevisíveis e até mesmo
possivelmente nocivos para a qualidade de vida das futuras gerações. Não é por outra
razão que a mídia vem se ocupando dos assuntos relacionados às alterações climáticas,
em contrapartida cometem erro ao fornecer informações equivocadas e preconceituosas
sobre os elasmobrânquios, principalmente no que diz respeitos aos tubarões.
Essas informações equivocadas ecoam na mente das pessoas e, a partir do contato, com
informações corretas e do contato com esses animais pode-se produzir uma mudança de
postura. Isso é demonstrado quando todos os participantes das visitações assinalaram no
questionário que adquiriram muitos conhecimentos com as aulas dadas durante as visitas
260
e que viram os elasmobrânquios, em especial, os tubarões, de uma forma diferente.
Assim, ressalta-se a importância da montagem de uma coleção didática de
III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas
elasmobrânquios e sua utilização em visitação e exposição, sempre acrescida de aulas
que agreguem conceitos úteis e essenciais sobre esses animais sobre o prisma da
educação ambiental, de forma, a combater a ética funcional ou utilitarista, que não
permite a reflexão das conseqüências dos atos humanos, mas que foi e continua sendo
motivadora de uma progressiva desvalorização dos processos integrativos em prol de
uma gritante racionalização decompositora de todos os processos subjetivos, sociais e
naturais (BRÜGGER, 2004).
4. CONCLUSÃO
Em suma, as coleções biológicas são de grande importância, pois devem ser utilizados
inicialmente para pesquisa, registrando a diversidade biológica de uma determinada área,
e em seguida transmitir esses conhecimentos aos jovens para, por exemplo, desmistificarg j p , p p ,
a visão ruim que a mídia transmite a cerca dos elasmobrânquios, notadamente dos
tubarões, para tanto é de fundamental importância demonstrar a função dos mesmos no
ambiente marinho.
5 REFERÊNCIAS5. REFERÊNCIAS
BOFF, L. Carta da Terra, II Fórum Mundial de Educação, janeiro 2003.
BRÜGGER, P. Educação ou adestramento ambiental? Florianópolis, LetrasContemporâneas, 2004.
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KURY, A. B.; ALEIXO, A.; BONALDO, A. B. Diretrizes e estratégias para a modernizaçãode coleções biológicas brasileiras e a consolidação de sistemas integrados de informaçãosobre biodiversidade.. Brasília: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos: MCT, 2006. v.1. 324 p.
KUNZ, T.S.; GHIZONI-Jr., I.R.; SANTOS, W.L.A. dos; HARTMANN, P.A. Nota sobre acoleção herpetológica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Biotemas 20
261
coleção herpetológica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Biotemas, 20(3): p. 127-132, 2007.
III Simpósio Nordestino de Ciências BiológicasMEDINA, N.M. Formação de multiplicadores para Educação Ambiental. In: O contratosocial da Ciência: unindo saberes na Educação Ambiental. PEDRINI, A.G. (org.).Petrópolis: Vozes, 2002.
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PEREIRA, C. W.; SANTOS, F. N.; MENESES, T. S.; SILVA, A. P.; SANTOS, S. M. dos.Inventário da Coleção Zoológica Científica do Grupo de Estudo deElasmobrânquios de Sergipe. In: 2º Congresso Brasileiro de Biologia Marinha, 2009,BúziosBúzios.
REIGOTA, M. Desafios à educação ambiental escolar. In: CASCINO, F.; JACOBI, P.;OLIVEIRA, J. F. (orgs.) Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões eexperiências. São Paulo: SMA/CEAM, 1998, pp. 43-50.
29 - FATORES SOCIOAMBIENTAIS QUE INFLUENCIAM NA INCIDÊNCIA DEVERMINOSES NA PERIFERIA DO MUNICÍPIO DE INGÁ – PB
Bartolomeu Garcia de S. Medeiros1, Maria José Tavares Gomes2, Leonor M. Jacy de Medeiros Nóbrega3
1Doutorando na pós-graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal dePernambuco (UFPE), 2Aluna da especialização em Gestão de Saúde Pública, Bacharel emEnfermagem pela União Superior de Ensino de Campina Grande (UNESC), 3Mestranda emUTI pelo Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva (IBRATI)
RESUMO
O meio ambiente tem sido alvo de várias ações prejudiciais, e isso têm provocado o
aumento da incidência de algumas doenças, as quais podem ser adquiridas através dos
ã h id i O bj ti d t d f i li
262
vermes e que são conhecidas como verminoses. O objetivo desse estudo foi analisar a
influência de fatores socioambientais na incidência de verminoses e também identificar as
III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas
que ocorrem com maior freqüência na periferia do município de Ingá, PB. A pesquisa foi
realizada utilizando-se prontuários cedidos pelas Unidades Básicas de Saúde da Família
(UBSF), localizadas na periferia de Ingá- PB. Os índices de escolaridade assim como
aqueles relacionados com a qualidade da água utilizada pelos moradores e a forma de
descarte de lixo não foram satisfatório. Foi constatado também, altos índices de diferentes
verminoses, principalmente a amebíase (49,25%), giardíase (38,8%) e ascaridíase
(35,82%). Sendo assim, os fatores socioambientais têm influenciado negativamente na
periferia de Ingá, fato este que sinaliza para a tomada de soluções que poderiam ser
iniciadas com obras de saneamento e educação sanitária nas escolas e nos centros de
saúde.
Palavras-chave: vermes; infecção; ambiente.
1. INTRODUÇÃO
As alterações que ocorrem no meio ambiente devido à ação antrópica podem ser
consideradas um dos temas que mais vêm preocupando entidades de vários setores da
sociedade. Uma das conseqüências dessas ações é o aumento da incidência de
verminoses que podem causar danos a saúde humana Dados da Organização Mundialverminoses, que podem causar danos a saúde humana. Dados da Organização Mundial
de Saúde (2002), afirmam que mais de dois milhões de pessoas hoje estão infectadas
com algum tipo de verme ou parasita. Além disso, 2/3 da mortalidade mundial tem relação
com doenças de veiculação hídrica, como as parasitoses. No Brasil estes índices são
preocupantes, acometendo mais de 1/4 da população, sendo as crianças os alvos
Ápreferidos (PROTÁSIO, 2006).
Esses altos índices de verminoses são uma resposta das alterações que o homem exerce
no meio ambiente à medida que os mesmos poluem e contaminam as águas e os solos
devido ao mau uso, a falta de política ou até mesmo pela falta de informação de como se
deve lidar com resíduos e dejetos produzidos na própria casa. Esses elevados índices de
263
verminoses ainda se agravam quando são consideradas as zonas rurais e as periferias
das cidades, cujas populações em geral têm baixo nível socioeconômico e vivem em
III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas
precárias condições de saneamento básico (LUDWIG, 1999 & UCHOA, 2001). Barreto
(2006) constatou que ações educativas e participativas da comunidade contribuem
substancialmente para a redução da prevalência das enteroparasitoses na periferia de
Porto Alegre. Neste contexto, o saneamento básico aliado a costumes, os quais podem
ser adquiridos também através de programas de educação ambiental, podem ser de
grande utilidade para a população, uma vez que estes poderão ficar mais informados
sobre as formas corretas de como se utilizar e descartar os produtos utilizados na própria
casa. Segundo Gomes (2007) a coleta de lixo e as deficiências nos serviços públicos de
saúde e no sistema de tratamento de água e esgoto sanitário têm uma grande influência
na prevalência de verminoses na população, onde as orientações de educação, saúde e
as condições de saneamento básico são deficientes e precárias. Nesse contexto, pode-
se citar a periferia do município de Ingá - PB, onde a realidade da sua periferia não ép p g , p
diferente das demais do Nordeste e, desta forma, uma pesquisa que mostrasse alguns
pontos entre a incidência de algumas verminoses e sua relação com alterações causadas
ao meio seria muito importante para a população daquele local.
Sendo assim, o objetivo da pesquisa foi analisar a influência de fatores socioambientais
na incidência de verminoses e sua identificação na periferia do município de Ingá PBna incidência de verminoses e sua identificação na periferia do município de Ingá, PB.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo referiu-se a uma pesquisa documental descritiva com abordagem
quantitativa nas Unidades Básicas de Saúde do município de Ingá – PB.
2.1 Material
Foram utilizadas todas as fichas padronizadas pela coordenação de Vigilância
Epidemiológica da Secretaria de Saúde do Município de Ingá, existente nas Unidades
Básica de Saúde da Família (UBSF) que estão localizadas na periferia para registros de
264
verminoses.
2.2 Métodos
Foi elaborado um formulário para coleta dos dados em que havia
III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas
questionamentos sobre: nível de escolaridade; tipo de tratamento que a água para o
consumo recebe; forma de descarte do lixo domiciliar e, também as principais verminoses
notificadas naquela unidade. Os dados coletados foram tratados em valores percentuais e
a análises dos mesmos foram feitas através de gráficos que foram construídos mediante o
uso dos programas Word e Excel 2003.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.1 Nível de escolaridade
28 36%
5,0%
10,0%
15,0%
20,0%
25,0%
30,0%28,36%
20,90%17,91% 19,40%
13,43%
0,0%
Figura 1. Nível escolar dos moradores da periferia do município de Ingá.
III Simpósio Nordestino de Ciências BiológicasDe acordo com a figura 1, pode-se perceber que os maiores índices correspondem às
pessoas que não tiveram acesso a escola em que 28,36% , representa os menores,
20,90% e 19,43% representam àquelas que não foram alfabetizadas e que possuem
apenas o ensino fundamental, respectivamente. As menores porcentagens, entretanto,
265
foram registradas em pessoas que são alfabetizadas (19,40%) e possuem o ensino médio
(13,43%). O analfabetismo ainda é um problema não apenas social, mas pode-se
estender até outras áreas em que a leitura, a compreensão e até mesmo a forma clara
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como o indivíduo se comunica se faz necessário. O analfabetismo, entre outros fatores
tem como conseqüência o aumento nos índices de doenças parasitárias (ROBBINS et al.,
1996; apud SANTOS et al.,2006). Santos et al. (2006) ainda comentam que a falta de
uma educação voltada para aspectos relevantes da saúde assim como a falta de
saneamento tem elevado os índices de parasitoses intestinais.
3.2 Qualidade da água e descarte do lixo
50,0%
60,0%
59,70%
70,0%80,0%90,0%
86,57%A B
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0% 34,32%
0,00%
8,95%
0,0%10,0%20,0%30,0%40,0%50,0%60,0%
4,48% 8,95%
De acordo com a Figura 2 (A) pode ser observado que uma grande parte dos moradores
Figura 2. Tipo de tratamento da água para o consumo (A) e forma do descarte do lixo domiciliar (B) dosmoradores da periferia de Ingá.
da região em estudo faz uso de água sem tratamento (59,70%) e ninguém faz uso de
água fervida (0%). Por mais que a água filtrada e clorada é utilizada por 34,32% e 8,95%
da comunidade, respectivamente, pode-se dizer que esses valores são preocupantes uma
vez que o maior índice ficou bem a frente dos outros e o mesmo corresponde a uma
prática não segura à saúde, principalmente no que diz respeito ao acometimento dos
266
indivíduos por diferentes verminoses. Segundo Leser et al. (1985), entre outros fatores, as
verminoses como amebíase, giardíase tem sido responsáveis por vários surtos
epidemiológicos e pelas elevadas taxas de mortalidade infantil, relacionadas à água de
consumo humano. Segundo Ministério da Saúde (2006) a qualidade dos serviços de
III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas
abastecimento tendem a diminuir do centro para a periferia. Analisando a Figura 2 (B),
percebe-se que o maior índice para o descarte do lixo se faz através da coleta pública
(86,57%), no entanto, ainda foi identificado o descarte a céu-aberto (8,95%) e queimados
ou enterrados (4,95%).Mesmo se apresentando em menores porcentagens, essas duas
últimas formas de descarte de lixo podem provocar problemas de contaminação não só
ao meio como também podem provocar o surgimento de doenças parasitárias. Estudo
realizado em Salvador-BA identificou ausência de coleta porta-a-porta em 44,0 % dos
domicílios, levando parte da população, particularmente aquela residente na periferia
urbana, a depositar os resíduos domiciliares em canais, encostas e pontos de lixo
(BARRETO et al., 1999).( , )
3.3 Principais verminoses identificadas no local
40 0%45,0%50,0%
35,82%
49,25%
38,80%
5,0%10,0%15,0%20,0%25,0%30,0%35,0%40,0% 35,82%
31,34%
2,98%
28,36%
1,49%
13,43%
0,0%
Figura 3. Principais verminoses notificadas nos moradores da periferia do município de Ingá.
267
De acordo com a Figura 3, com exceção da esquistossomose (2,98%) e tricuríase
(1,49%), foi observado alto índices das demais verminoses, sendo os índices mais
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elevados àqueles representados pela amebíase (49,25%), giardíase (38,8%) e
ascaradíase (35,82%). Mesmo comportamento foi observado por Cleudnei & Hudson
(2001) que observaram uma grande incidência dos vermes que causam essas
verminoses, principalmente do Ascaris lumbricóides, Giardia lamblia e Entamoeba coli.).
Esses altos índices observados podem ser mais bem entendidos levando-se em conta as
Figuras anteriores, já discutias, em que houve condições insatisfatórias com relação ao
nível escolar, qualidade da água para o consumo e, também, em um cenário menos
grave, para o descarte do lixo domiciliar.Todas essas ações antrópicas, seja por falta de
informação ou de uma política eficiente, causam um impacto negativo ao meio e,
principalmente a saúde humana. Benkel et al. (2006) observaram altos índices dep p ( )
endoparasitoses na periferia de Porto Alegre. Neves (1991), salienta que a deficiência de
princípios higiênicos, precárias condições de moradia, favorecem a disseminação e
podem levar a incidência de parasitas em determinadas regiões. Gomes (2007) comenta
que no Brasil, apesar da relevância do problema, principalmente no aumento dos índices
de verminoses ainda é pouca a importância dada ao assunto onde as questões relativasde verminoses, ainda é pouca a importância dada ao assunto, onde as questões relativas
ao saneamento básico são deixadas fora das principais pautas dos poderes públicos,
tendo como conseqüência um aumento na incidência de várias doenças, principalmente,
as denominadas verminoses.
Ã4. CONCLUSÃO
Os índices de escolaridade assim como os relacionados com a qualidade da água
utilizada pelos moradores de Ingá são insatisfatórios, o que pode significar futuros
problemas para a comunidade.
O descarte de lixo, por mais que apresentou elevados índices satisfatórios, no entanto, há
268
ainda,o descarte em locais indevidos.
Altos índices de diferentes verminoses foram observadas, principalmente a Amebíase
(49,25%), Giardíase(38,8%) e Ascaridíase (35,82%), o que sinaliza para a tomada de
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soluções que poderiam ser iniciadas com o saneamento e políticas que visem a educação
sanitária.
Pode-se dizer que esses dados poderão ser um importante indicador de algumas
condições social e de saneamento em que vive a população da periferia de Ingá, podendo
os mesmos ser alvos de políticas que visem mudanças benéficas sócio- ambientais da
comunidade.
5. REFERÊNCIASBARRETO, M. L. Avaliação do Impacto Epidemiológico do Programa de SaneamentoAmbiental da Baía de Todos os Santos (Bahia Azul), 9o Relatório Quadrimestral.S l d S t i d R Híd i S t H bit ã / I tit t d S údSalvador: Secretaria de Recursos Hídricos Saneamento e Habitação/ Instituto de SaúdeColetiva, Universidade Federal da Bahia. 1999.
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270
30 - FIRST OCCURRENCE OF Alitta succinea (POLYCHAETA; NEREIDIDAE) ATBACIA DO PINA, RECIFE-PE (BRAZIL)
Cristiana Sette Santos Clímaco¹; Thayanne Lima Barros¹; Cinthya Simone Gomes Santos2.
¹Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)/ Departamento de Zoologia/ Laboratório de Comunidades Marinhas; 2Universidade Federal Fluminense (UFF)/ Instituto de Biologia / ; ( ) gDepto. de Biologia Marinha.
ABSTRACT
Alitta succinea is a cosmopolitan species that may in fact represents a species complex.
The aim of this study was to document the first occurrence of A. succinea for estuarine
regions of Pernambuco. Samples were collected monthly at two sites, the first located at
Cabanga Iate Clube de Pernambuco, and the second at the base of the Aquaticos Diving
Center, both located at Bacia do Pina estuary. Specimens were collected from October
2009 to July 2010, in a 10x10 cm intertidal and subtidal areas, that were scraped with the
aid of a spatula. The organisms were stored in plastic bags in the field for posterior fixation
and identification. The species Alitta succinea is recorded for the first time for Pernambuco
state, in a very well established population in both study areas, with individuals present
throughout the sampling period.
Keys-words: Annelida; First occurrence.
1. INTRODUCTION
The Nereididae is among the most diverse of polychaete families, comprising over 540
species and 43 genera (HUTCHINGS et al. 2000). Nereidids are most common in shallow
marine habitats, but they occur in a wide range of environments, from the deep sea to
estuaries freshwater streams and even temporary rainwater puddles in moist terrestrial
271
estuaries, freshwater streams and even temporary rainwater puddles in moist terrestrial
environments (WILSON 2000). There are 70 species of nereidids recorded in Brazil, and 36
species in the northeastern (AMARAL et al. 2010). Khlebovich (1996) ressurrected Alitta for
a group of closely related species- A. virens, A. brandti and A grandis- a species complex,
characterized by enlarged notopodial ligulae in posterior parapodia. He stated that Alitta is
most closely related to Nectoneanthes, only differing in the shape of the dorsal notopodial
ligules (BAKKEN & WILSON 2005) Alitta succinea (Leuckart 1847) is a valid seniorligules (BAKKEN & WILSON, 2005). Alitta succinea (Leuckart, 1847) is a valid senior
synonym for Nereis succinea, Leuckart 1847; (Nereis) Neanthes succinea Imajima 1972;
Nectoneanthes oxypoda Imajima 1972; Nereis alatopalpis Wesenberg-Lund, 1949;
Nectoneanthes alatopalpis Wu et al. 1985.
Alitta succinea is considered cosmopolitan in distribution and is common in temperate and
tropical marine habitats. The putative native range is the Atlantic coast of the Americas, but
the species also occurs as an introduced organism along coastal Europe and Africa, in the
Black Sea, Caspian and Aral Sea, and southern Australia (ISSG 2007). The species also
occurs along the US Pacific coast as an introduced, non-indigenous species, from
Washington State to California (USGS 2008). Introduction pathways have included natural
dispersal, ship ballast water, and hull fouling (ISSG 2007). In Brazil there are records of
Alitta succinea for Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe and from Bahia to Santa Catarina
coast.
The aim of this study is to document the first occurrence of the Allita succinea for estuarine
regions of Pernambuco and provide morphological basis for further studies focused on thisg p p g
putative species complex.
2. MATERIAL AND METHODS
2.1 Sampling sites
Samples were collected at two intertidal sites the first located at Cabanga Iate Clube de
272
Samples were collected at two intertidal sites, the first located at Cabanga Iate Clube de
Pernambuco, and the second at the base of the Aquaticos Diving Center (Figure 1).
The first site is located in the southwestern part of the Port of Recife, at the side of the
Coroa dos Passarinhos at the Cais das Cinco Pontas, both located at Bacia do Pina
estuary. The Pina estuary is formed by the confluence of the rivers Tejipió, Jiquiá, Jordão,
Pina and south arm Capibaribe. Is located near the port of Recife (8º04'S and 34°52'16''W),
being separated from the ocean by a natural sandstone dikebeing separated from the ocean by a natural sandstone dike.
Figure 1. Sampling sites (Cabanga and Aquaticos).
2.1 Metodology
Samples were collected monthly, from October 2009 to July 2010. In the sampling sites,
has been detected a vertical zonation, as a consequence of the tidal regime in Cabanga
Iate Clube. The sampling was always made in the area of the middle shore (when exposed
to air under conditions of low tide) and sublittoral (permanently submerged). In the
273
Aquaticos Diving Center, the specimens were collected at the single zone detected, the
sublittoral.
The areas were delimited by a 10x10 cm sampler, that were scraped with the aid of a
spatula, and the organisms present in this area were stored in plastic bags in the field for
posterior fixation, screening and identification in the laboratory.
Samples were fixed with 4% formaldehyde saline, staying for 48 hours, and after that
period the samples were washed and sieved with a net of 0 5 mm mesh and the materialperiod, the samples were washed and sieved with a net of 0.5 mm mesh and the material
properly labeled and preserved with 70% alcohol in appropriate vials.
3. RESULTS AND DISCUSSION
A detailed analysis of morphological features used in the family was performed. Allita is
diagnosed by the presence of only conical paragnaths in the oral and maxillary ring of
pharynx and foliaceus dorsal ligule in the posterior chaetigers and Allita succinea differs
from other species described in the genus by the presence of the dorsal cirrus deslocated
for the subterminal region of the notopodial ligule enlarged, but this taxa is morphologically
very similar to others species in the genus.
A complete specimen was chosen (Figure 2a) to be described: frontal antennae present,
one pair, cirriform; palpostyles conical. Prostomium with entire anterior margin.Two pair of
eyes, one pair of short antennae, four pairs of tentacular cirrus, one pair of palps, maxillary
and oral ring of pharynx with conical paragnaths (Figure 2b-c), arranged in discrete areas:
Area I: 2 arranged vertically; II: 18 arranged in arches in two rows, III: 15 arranged in fourg y g g
transverse lines, IV: 24 arranged in diagonal rows; V: 4; VI: 9 arranged in circles; VII-VIII: 58
arranged in one regular transverse row and two irregular. During the period of this work,
several specimes were analysed and was detected a little variation in the number of
paragnaths in each region of pharynx, but their espacial organization is similar in all of
them
274
them.
Three parapodia were examined, from 6º chaetiger (Figure 2e), in anterior region of body,
from chaetiger 20º (Figure 2f), in mid-region and the from chaetiger 45º (Figure 2g) in
posterior region. The anterior parapodium showed the dorsal cirrus longer than dorsal
ligule; the median showed the dorsal ligule relatively expanded, dorsal cirrus inserted in the
notopodial ligule mid region and shorter than this; the posterior showed the notopodialnotopodial ligule mid-region and shorter than this; the posterior showed the notopodial
ligule markedly enlarged, dorsal cirrus reduced and inserted in apical region of notopodial
ligule.
275
Figure 2. a- Complete specimen, dorsal view; b- Maxillary and oral ring ofpharynx with conical paragnaths (ventral view); c- Maxillary and oral ring ofpharynx with conical paragnaths (dorsal view); e- the 6º parapodium; f- the 20ºparapodium; g- 45º parapodium with the notopodial ligule markedly enlarged.
4. CONCLUSION
The specimens, that represent population very well established in both study areas, with
individuals always present throughout the sampling period, corresponds well to Allita
succinea (Leuckart, 1867) description, and only differ in the number of paragnaths present
in the pharynx when compared to specimes from south and southern region of Brazil Thisin the pharynx, when compared to specimes from south and southern region of Brazil. This
difference might possibly represent an intrapopulational variation because is common to
found different number of paragnaths in the examined specimens. Even though, it is
important to emphasize that we might be dealing with a species complex and that material
from Brazilian coast may infact represent a new taxa, representing a subject for further
t distudies.
5. REFERENCESAMARAL, A.C.Z.; NALLIN S.A.H. E STEINER T.M. 2010. Catálogo das espécies deAnnelida Polychaeta do Brasil.http://www.ib.unicamp.br/projbiota/bentos_marinho/prod_cien/texto_poli.pdf (Consultadoem 28/VII/2010))
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31 - INFLUÊNCIA DA UTILIZAÇÃO DO NOME “CAÇÃO E TUBARÃO” NO CONSUMODE CARNE DE TUBARÃO PELOS ARACAJUANOS
Endrigo Leite Ribeiro Chaves1; Samia Priscila Castro Araujo2; Celia Waylan Pereira2; Dismeire Vasco Oliveira Pereira1; Fabio Neves Santos3; Thiago Silveira Meneses3
1Pesquisador (a) Júnior do Grupo de Estudo de Elasmobrânquios de Sergipe - GEES; q ( ) p q g p ;2Coordenadora Geral e 3Pesquisador do GEES.
RESUMO
Tubarão ou cação é o nome dado vulgarmente aos peixes de esqueleto cartilaginoso
pertencentes à classe dos Condrichtyes. Ocupam diversos nichos ecológicos desde os
mares tropicais aos oceanos Ártico e Antártico. São conhecidas cerca de 500 espécies em
todo planeta e no Brasil existem 84 espécies identificadas. O consumo da carne, bem
como a pesca predatória, tem agravado a situação de risco de extinção de várias espécies
de tubarão no litoral brasileiro. Com objetivo de informar que tubarão e cação são os
mesmos animais e que são ameaçados de extinção, foi feita uma pesquisa no municípioes os a a s e que são a eaçados de e ção, o e a u a pesqu sa o u c p o
de Aracaju, Sergipe, no período de Abril de 2009 à Abril de 2010, onde foram entrevistadas
90 pessoas, as quais consomem carne de pescado e também a carne de cação.
Observou-se que 86% dos entrevistados afirmaram que mesmo sabendo que tubarão e
cação são os mesmos, essa informação não influenciaria no consumo da carne e que 83%
não sabiam que os tubarões correm risco de extinção mas que mesmo assim nãonão sabiam que os tubarões correm risco de extinção, mas que mesmo assim não
deixariam de consumir sua carne. Conclui-se pela análise dos dados que alguns
aracajuanos não sentem receio em consumir a carne de tubarão mesmo que esse animal
esteja em situação de ameaça de extinção.
Palavras-chaves: Aracaju; cação; consumo.
277
III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas
1. INTRODUÇÃO
A Classe Chondrichtyes inclui os peixes que possuem um conjunto de caracteres
exclusivos, como por exemplo: esqueleto simples composto de cartilagens com alguns
pontos de calcificação, quatro a sete pares de fendas branquiais, ausência de pulmões e
bexiga natatória, condroneurocrânio, nadadeiras peitorais e pélvicas pares, nadadeiras
dorsais e anal não pareadas, órgãos copulares pares chamados mixopterígios ou
clásperes, superfície externa do corpo coberto por dentículos ou escamas placóides e
dentes da boca dispostos em séries que podem ser substituídos ao longo da vida do
animal (COMPAGNO,1999).
O potencial reprodutivo dos tubarões é baseado na produção de relativamente poucos
descendentes durante a vida de uma única fêmea e que depende de altas taxas de
sobrevivência dos animais jovens e de longas expectativas de vida para os adultos, masj g p p ,
foi uma estratégia bem sucedida durante milhões de anos. No entanto, as alterações do
habitat e a predação desenfreada, provocada pelos homens, ameaçam a sobrevivência
de muitas espécies. Os tubarões são comumente capturados em vários petrechos de
pescarias,tais como nos arrastos de fundo, espinhéis e redes de emalhar, seja de forma
intencional ou como fauna acompanhante na pesca dirigida a outras espécies Nesseintencional, ou como fauna acompanhante na pesca dirigida a outras espécies. Nesse
sentido, a pesca de arrasto de camarão é uma das modalidades pesqueiras que mais
impactam nas populações de tubarões, tendo em vista, que promove a captura de
tubarões em idade reprodutiva (POUGH; JANIS; HEISER,2003; SILVA, et. al., 2008).
Atualmente, cerca de 120 nações estão envolvidas nas atividades pesqueiras do tubarão,
incluindo o Brasil. Esse consumo insustentável dos tubarões (ou cações), ou partes deles,
como as nadadeiras (ou barbatanas) e a cartilagem, representa uma ameaça que está
levando muitas populações de tubarões ao declínio vertiginoso. A fauna de
elasmobrânquios no litoral brasileiro é representada por 84 espécies de tubarões e 76 de
raias (dulciaqüicolas e marinhas), sendo que 38 espécies estão nas listas de espécies
278
ameaçadas de extinção (SOTO, 2006; SZPILMAN, 2010).
III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas
A fauna de elasmobrânquios no estado de Sergipe foi previamente estudada por
ARAÚJO, SILVA e SILVA (1995) ao longo da Reserva Biológica de Santa Isabel e
posteriormente por SILVA e FRAGA (1998), que registraram nove espécies de
elasmobrânquios. MENESES, SANTOS e PEREIRA (2005) ampliaram o número de
espécies registradas para 27 espécies, sendo 20 de tubarões e 7 de raias com a
presença de exemplares típicos da fauna nordestina. Posteriormente, PEREIRA,
MENESES e SANTOS (2008) registraram a presença do tubarão-baleeiro, Carcharhinus
brachyurus, no litoral de Sergipe aumentando assim, para 28 o número de espécies
registradas, sendo 21 espécies de tubarões.
Os elasmobrânquios constituem recursos pesqueiros versáteis, sendo importante fonte de
renda para variados setores. A carne e as nadadeiras são utilizadas para o consumo
humano; o óleo do fígado é usado na produção de lubrificante, cosmético e vitamina A;; g p ç , ;
dentes e arcadas são vendidas como artefatos de decoração. Mais recentemente, a
cartilagem de tubarão tem sido explorada como complemento alimentar e como
tratamento para o câncer (ROSE, 1996).
No Brasil, a pesca de tubarão é liberada, sendo proibida pela portaria 121-N do IBAMA, a
prática do "finning" A pesca artesanal sempre esteve associada com os critérios deprática do finning . A pesca artesanal sempre esteve associada com os critérios de
exploração sustentável, não lhe sendo atribuída caráter predatório, contexto que, no
entanto, vem mudando em todo o mundo. A capturabilidade, a seletividade dos petrechos
utilizados e a produtividade das espécies envolvidas nas capturas influenciam no impacto
da pesca artesanal sobre os estoques de tubarões (WALKER, 1998). Em Sergipe,
tubarões dos gêneros Rhizoprionodon, Carcharhinus e Sphyrna são muito comuns nas
capturas da pesca artesanal com ocorrência elevada de indivíduos imaturos sexualmente
e fêmeas em período gestacional, o que sugere que a região é importante para
reprodução das espécies (PEREIRA, et. al. 2005; SANTOS, et. al. 2005).
A pesca para obtenção das barbatanas de tubarão (finning) é uma ação predatória
279
progressiva, constante e silenciosa. A Organização das Nações Unidas estimam que algo
em torno de 100 milhões de tubarões capturados e mortos anualmente em todos os
III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas
mares. Desses, cerca de 70%, ou 70 milhões de tubarões, são mortos só pra virar sopa
de barbatana. (SZPILMAN,2010).
Baseado no que foi descrito, o objetivo do presente trabalho é investigar a influência da
utilização dos nomes “tubarão e cação” no consumo de carne de tubarão além de buscar
identificar hábitos de consumo de pescados na cidade de Aracaju e traçar metas
educacionais e conscientização da população no controle do consumo da carne de
tubarão.
2. MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi desenvolvido em duas etapas: atividades de campo e análise integrada dos
dados. Para isso, se fez necessário um levantamento bibliográfico, um estudo exploratório
da situação atual do consumo da carne de tubarão no município de Aracaju e análise eç p j
interpretação dos resultados. A pesquisa foi realizada no centro da cidade de Aracaju, nas
imediações do mercado Albano Franco onde são vendidos gêneros alimentícios, e
pequenos animais vivos, além de roupas e calçados e que possui uma área extensa de
pescado e hortifrutigranjeiros.
A escala de auto avaliação utilizada foi o questionário criado pelo GEES (Grupo deA escala de auto-avaliação utilizada foi o questionário criado pelo GEES (Grupo de
Estudo de Elasmobrânquios de Sergipe) organização não governamental de pesquisa que
está localizado nas imediações da Universidade Tiradentes em Aracaju-SE. Devidamente
validado foi aplicado aos consumidoras de pescado que se aproximavam das bancas de
venda de peixes no mercado Albano Franco. Constando de 17 itens, sendo a maioria das
questões de respostas afirmativas ou negativas em relação ao consumo de pescado, o
questionário continha perguntas para obter informações sobre o conhecimento e consumo
de cação e a relação entre os termos cação e tubarão e se este conhecimento
influenciava no consumo das pessoas, informando também que algumas espécies
estavam ameaçadas de extinção e que o consumo era proibido.
280
Foram objeto de estudo 90 indivíduos consumidores de pescado. As entrevistas foram
realizadas no período de abril de 2009 a abril de 2010, abrangendo pessoas de ambos os
III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas
sexos numa faixa etária que variava entre 21 à 75 anos, pessoas de várias classes
econômicas.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A tabulação dos dados mostra que 90% dos entrevistados afirmam consumir carne
de pescado. A média do consumo de carne de pescado pelos aracajuanos pode ser
considerada elevada, sendo que 33,4% dos entrevistados consomem cerca de 1 a 2
vezes por semana, e que 23,3% dos entrevistados consomem 1 vez por mês (Figura1).
Gráfico1. Frequência de consumo de carne de pescado.
De acordo com a opinião das pessoas que consomem o pescado 73% dos entrevistados
acham a carne saborosa, 16% acham a carne barata e aproximadamente 11% consomem
por ser acessível Cerca 92% acham a carne de pescado saudável em termos depor ser acessível. Cerca 92% acham a carne de pescado saudável em termos de
nutrientes. Cerca de 52% dos entrevistados afirmaram não conhecer e nunca ter
experimentado carne de tubarão.
Essa informação foi obtida antes de saber se os entrevistados conheciam cação e aqui,
cabe aqui um esclarecimento sobre o uso dos termos tubarão e cação. As duas
d i õ d tili d é l t h d t b ã
281
denominações podem ser utilizadas, porém usualmente chamamos de tubarão as
espécies de grande porte, pouco comuns em nosso litoral, e de cação aquelas de
III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas
pequeno porte, cuja ocorrência em nossa costa é mais comum. No entanto, no meio
científico, a denominação utilizada é a de tubarão.
Como a intenção era saber se a população sabia a diferença entre cação e tubarão,
perguntamos logo após, sobre a carne de tubarão, se conheciam carne de cação.
Aproximadamente 75% dos consumidores afirmaram conhecer e já ter experimentado a
carne de cação. Perguntamos também aos consumidores de pescado o que significava
para eles a palavra “cação”, 35% responderam que era qualquer outro tipo de carne.
Ao chegarmos ao ponto crucial do questionário perguntamos se os aracajuanos sabiam
que cação e tubarão eram a mesma coisa, e a resposta de 54% dos entrevistados foi que
sim. Logo após informarmos que cação e tubarão eram os mesmos fizemos outras
perguntas para saber se essa informação influenciava no consumo. Na tabela 1 abaixo,
podemos verificar as demais perguntas feitas e as respostas dos entrevistados:p p g p
Tabela1. Perguntas e resultados do questionário.
De acordo com os dados da tabela acima é possível perceber que uma parte da
população tem conhecimento de que cação é tubarão e que isso não influencia no
d b l d t b õ tã d
282
consumo dessa carne e que saber que alguns desses tubarões que estão sendo
consumidos estão ameaçados de extinção, também não influencia no consumo.
III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas
Ao saber que sobre a prática finning os entrevistados ficaram compadecidos e não
consideravam correto esta atitude. Porém quando perguntamos se trocariam por definitivo
este tipo de carne uma parcela importante dos entrevistados disse que não, deixando
bem claro que a maioria não deixaria de comer a carne de tubarão.
O cação é uma espécie ameaçada, ou seja, em poucos anos, se nada for feito,
poderemos deixar de ter cação no nosso litoral. A carne de cação é relativamente barata
e as suas barbatanas podem custar 20 vezes mais que a carne por ser considerado uma
iguaria por alguns povos orientais, e alguns pescadores praticam o “finning” mesmo sendo
proibido no Brasil, por motivos meramente comerciais. Desse total, cerca de 50 a
70% são mortos só pra virar sopa de barbatana, uma ação predatória progressiva,
constante e silenciosa. Em conjunto, a pesca exagerada e a pesca predatória são
insustentáveis e estão ameaçando seriamente a sobrevivência das populações deç p p ç
tubarões __ 43% das espécies de tubarões em nosso litoral sergipano já estão ameaçadas
de extinção.
4. CONCLUSÃO
Cação ou tubarão? São exatamente o mesmo animal a diferença é que as pessoasCação ou tubarão? São exatamente o mesmo animal, a diferença é que as pessoas
costumam chamar de cação, os tubarões pequenos que são comercializados para o
consumo de pescados e usam a palavra tubarão para designar animais maiores, esse foi
um nome comercial e comum na culinária para se referir ao tubarão.
A análise dos dados obtidos pelo questionário revelou que a maioria dos aracajuanos que
foram ouvidos e que consomem pescado, mesmo sabendo que cação é o mesmo que
tubarão e que algumas espécies estão ameaçados de extinção, essa informação não
influenciaria no seu cardápio, na verdade as pessoas ficam compadecidas ao saberem da
extinção e da prática “finning”, mas quando se comenta em abdicar desse prato ocorre
uma negação, como se um cação a menos não fizesse diferença no ambiente natural.
283
É imprescindível conscientizar que os tubarões exercem duas funções primordiais na
manutenção do equilíbrio e da saúde da vida nos oceanos. Primeiro, como predadores
III Simpósio Nordestino de Ciências Biológicas
situados no topo da cadeia alimentar, os tubarões asseguram um tipo de ordem nos
oceanos. Mantêm o controle populacional de suas presas habituais e exercem importante
papel na seleção natural. Segundo, ao comerem os animais doentes, feridos ou mortos
exercem também função importante na manutenção da saúde dos oceanos.
Uma das justificativas do governo para a não colocação de diversas espécies de peixes
nas listas de animais ameaçados do IBAMA é evitar um problema social, já que milhares
de famílias vivem da pesca. Se proibirmos hoje a pesca de algumas espécies de peixes
criamos um problema social. Se deixarmos a questão por conta dessas famílias, em
pouco tempo os estoques se esgotarão e teremos não um, mas dois problemas: o
problema social e o problema ambiental da extinção e da perda de biodiversidade. É
necessário uma legislação de proteção que efetivamente venha a cercear a pesca
predatória e sobrepesca das espécies de tubarões no litoral sergipano, de modo a reprimirp p p g p , p
os atos e inconseqüentes dos pescadores comerciais, artesanais ou industriais.
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