Apresentação
Bruno César Araújo
- Pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) desde 2004
- Atualmente Diretor Adjunto de Estudos Setoriais, Inovação e Infraestrutura
- Analista de Comércio Exterior (MDIC) entre 2003-2004
- Doutor em Engenharia de Produção pela Poli/USP (2016)
- Mestre em Economia do Setor Público pela Esaf/UnB (2005)
- Economista pela UnB (2002)
- Linhas de pesquisa: inovação, comércio internacional, produtividade,
economia da defesa, economia criativa
Roteiro
O que é competitividade?
Como mensura-la?
Quais as principais críticas aos índices mais
populares?
Como aperfeiçoar esses índices?
Afinal, para que serve tudo isso?
O que é competitividade?
Primeiro dilema: competitividade de firmas ou
nações?
Primeiras definições de competitividade de nações:
Baseadas em saldos comerciais, market shares, relativos ou
não ao tamanho do país
Visão essencialmente mercantilista
Visão errada => decisões erradas: protecionismo, desvalorizações
Nações competem pelo que, enfim?
A abordagem de Michael Porter
“A competitividade de uma nação não pode ser medida como um
bloco, uma vez que nenhuma nação pode ser competitiva em todas
as indústrias. Assim, a única medida relevante (...) é o nível de
produtividade, que é determinado pela alocação de recursos,
acumulação de capital e avanço tecnológico.”
Neste sentido, "a prosperidade é criada, não herdada.”
A vantagem competitiva das empresas baseia-se na inovação,
em sentido mais amplo: novas formas de fazer as coisas
A ligação as estratégias empresariais baseada em inovação e a
vantagem competitiva das nações é o "Diamante do Porter".
O que é competitividade?
Indústrias
associadas e de
suporte
(sistema
produtivo)
Disponibilidade
e qualidade dos
fatores
Características
da demanda
Governo
Estratégias das
firmas, estrutura
da indústria e
rivalidade
Estágios de desenvolvimento de Porter
4 fases:
Factor Driven - base em recursos naturais ou mão-de-obra não
qualificada barata;
Investment-Driven - acumulação de capital através de poupança
doméstica e internacional e aumento de produtividade;
Innovation-Driven - inovação como estratégia competitiva. De
acordo com Porter, o estágio mais próspero;
Wealth-Driven - concorrência é menos intensa, manutenção de
posições, algum rente-seeking e aspirações não econômicas.
A controvérsia Krugman-Dunning
A crítica mais famosa: “Competitiveness: a
dangerous obsession”, de Paul Krugman.
Principais argumentos:
O conceito está errado: nações não competem, pelo menos
não como empresas, superávits não significam prosperidade
e o comércio internacional não é um jogo de soma zero;
O uso de conceitos dúbios como “setores de alto valor
agregado”, e confusão de vantagem absoluta com vantagem
comparativa.
Então, por que competitividade é tão popular?
É linguagem de negócios, tem apelo junto à opinião pública;
Alguns problemas domésticos são colocados em contexto
internacional.
A controvérsia Krugman-Dunning
Resposta do Prof. Dunning (3 pontos básicos):
Competitividade => benchmarking de políticas e produtividade.
Competitividade é importante na presença de falhas de
mercado, como externalidades de inovação, vantagens
proprietárias, imobilidade de capital e comércio intra-firma.
Competitividade só não importa no “mundo Heckscher-Ohlin”
(onde os diferenciais de produtividade são inevitáveis).
Krugman: “eu nunca disse que benchmarking não era
importante, e nunca reneguei falhas de mercado”.
A controvérsia Krugman-Dunning
Outras críticas teóricas
Porter não define o que ele significa exatamente por
competitividade e seu alcance:
Nível da indústria, nacional ou internacional?
Produtividade ou participação de mercado dos bens
nacionais? Afinal, o que é um “bem nacional”?
A metodologia é claramente indutiva, mas não
especifica quais os critérios para selecionar os casos.
Outras críticas teóricas
Hipótese de que sempre haverá mercado para produtos diferenciados
A teoria não se preocupa com escassez de fatores ou más alocações
na produção de produtos diferenciados.
A teoria deve ser seriamente modificada para lidar com empresas
transnacionais.
O comércio do "mundo real" e as exportações de commodities são
importantes para a sustentabilidade da estratégia de bens
diferenciados.
A validade empírica da teoria é altamente questionável (condições ex-
ante, explicações concorrentes etc).
Finalmente, como operacionalizar o conceito?
IMD
“[os analistas da] competitividade
avaliam como as nacoes e as
empresas administram a totalidade
de suas competências a fim de
atingir prosperidade e lucro”
WEF
“O conjunto de fatores, politicas e
instituicoes que determinam o nivel
de produtividade de um pais”.
“Made in Switzerland”
Índices ex-ante
“Pilares” e “sub-pilares”
“Hard Data” e “Soft Data”
Extraído de CHO, D. S. & MOON, H.C. (2010), A New Framework for Assessing National Competitiveness.
Como mensurar a competitividade?
Uma olhada nesses rankings...
http://reports.weforum.org/global-competitiveness-index-
2017-2018/competitiveness-rankings/#series=GCI
https://www.imd.org/globalassets/wcc/docs/release-2017/wcy-
2017-vs-2016---final.pdf
Alta correlação entre eles: 0,88 (Spearman)
Principais críticas a essas métricas
Fraquezas práticas dos índices:
Não há correlação entre a taxa de crescimento e a posiçãono Ranking. De fato, parece haver correlação com a rendaper capita (que pode ser proxy para vários “pilares”)
United StatesSingapore
Netherlands
Ireland
Finland
Canada
Hong Kong
United Kingdom
Switzerland
Taiwan
Australia
Sweden
DenmarkGermanyNorway
BelgiumAustria
Israel
New Zealand
Japan
France
Portugal
IcelandMalaysia
Hungary
SpainChile
Korea, Dem. Rep.Italy
Thailand
Czech RepublicSouth Africa
Greece
Poland
Mauritius
Philippines
Costa Rica
Slovak Republic
Turkey
China
Egypt
Mexico
Indonesia
Argentina
Brazil
Jordan
Peru
India
El Salvador
Bolivia
Colombia
Vietnam
Venezuela
Russia
Zimbabwe
Ukraine
Bulgaria
Ecuador
-40,00
-30,00
-20,00
-10,00
0,00
10,00
20,00
30,00
40,00
50,00
60,00
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
44
45
46
47
48
49
50
51
52
53
54
55
56
57
58
59
60
United States
Singapore
Netherlands
Ireland
Finland
CanadaHong Kong
United Kingdom
Switzerland
Taiwan
AustraliaSweden
Denmark
Germany
Norway
Belgium
Austria
Israel
New Zealand
Japan
France
Portugal
Iceland
MalaysiaHungary
Spain
Chile
Korea, Dem. Rep.
Italy
Thailand
Czech Republic
South Africa
Greece
Poland
Mauritius
Philippines
Costa Rica
Slovak Republic
Turkey
ChinaEgypt
Mexico
Indonesia
Argentina
Brazil
JordanPeru
India
El Salvador
Bolivia
Colombia
Vietnam
Venezuela
Russia
Zimbabwe
Ukraine
Bulgaria
Ecuador
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
10
11
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17
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19
20
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26
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30
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32
33
34
35
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48
49
50
51
52
53
54
55
56
57
58
59
60
Os países trocam de posição bastante de um ano para ooutro, o que é um problema se competitividade é entendidacomo algo mais estrutural
Conjuntura afeta muito o índice
Fraquezas teóricas:
Não há intertemporalidade na análise
Balanços fiscal e comercial devem ser analisados intertemporalmente
Há muitas variáveis que representam a mesma coisa (deforma que, na prática, aquela variável tem seu pesomultiplicado)
O mix entre hard e soft data e suas ponderações não é claro
O que significa a distância de um país “nota 5” para um país“nota 7” no caso do GCI, por exemplo?
Principais críticas a estas métricas
Global Federation of Competitiveness Councils(GFCC)
Definição: “Competitividade nacional é crescimento delongo prazo dos padrões de vida através de melhoriasna produtividade.”
Abordagem estrutural, com base em:
130 métricas, em 8 dimensões
100 países, durante 37 anos (62% de cobertura dos dados)
“Hard data” comparável, de fontes confiáveis
Agrupamento dos países em cada dimensão por fatorial/cluster,para comparabilidade
Uma proposta alternativa
Dimensões:
Performance geral
Complexidade econômica
Infraestrutura (transporte e TICs)
Talentos
Capital
Inovação
Qualidade de vida
Crescimento futuro (sustentabilidade e economia criativa)
Usos: fonte de dados, comparações entre clusters,comparações temporais
http://decoder.thegfcc.org/
Uma proposta alternativa
Afinal, pra que serve tudo isso?
“Não adianta tentar baixar a febre quebrando o termômetro”
(Anônimo)
+
“Não importa se um gato é preto ou branco, contanto que ele cace
ratos.”
(Deng Xiaoping)
=
Útil ferramenta retórica para atacar o grande problema brasileiro:
PRODUTIVIDADE!
O grande problema é a produtividade…
Os ganhos de produtividade obtidos no Brasil depois dos anos 70 foram
insuficientes, e a renda per capita cresceu pouco mais de 30% em 20 anos
0,2
6
3,3
0,8
-1,1
1,41,1
6,3
4,3 4,6
1,7 1,92,5
11
6,3
2,9
0,8
2,6
0,6
7,1
3,2
4,3
1,52
1,1
7,7
4,3
3
0,6
1,9
BRASIL CHINA ÍNDIA CHILE MÉXICO GLOBALAVERAGE
1981-90 1991 - 2000 2001-10 2011-13 1981-20013
Taxa de crescimento do PIB/Habitante
O grande problema é a produtividade…
E não adianta mudar de termômetro!
Trajetória da PTF no Brasil e no mundo,
com ajuste pelo capital humano, (1960=100)
Fonte: Mation (2014)
E o momento demográfico é desafiador
Evolução da taxa de dependência (pop. Idosa/pop. Jovem) 1950-2100
Fonte: Arbache (2012)
Renda per capita no momento do turning point
(taxa de fecundidade de 2 filhos por mulher – no Brasil, ocorreu em 2006)
Fonte: Arbache (2012)
E o momento demográfico é desafiador
Taxa de investimento
(taxa de fecundidade de 2 filhos por mulher – no Brasil, ocorreu em 2006)
Fonte: Arbache (2012)
E o momento demográfico é desafiador
Produtividade do trabalho (US$ de 2012)
(taxa de fecundidade de 2 filhos por mulher – no Brasil, ocorreu em 2006)
Fonte: Arbache (2012)
E o momento demográfico é desafiador
Uma agenda ampla de reformas
Reforma fiscal: rever vinculações e processo orçamentário =>“orçamento de qualidade”
Abertura econômica: comércio e investimentos (interessante:https://goo.gl/xrez8S)
Focalizar os investimentos em inovação: P&D orientado àmissão
Financiar o desenvolvimento: reorientar os bancos públicos,desenvolver o mercado de seguros
Mercado de trabalho: processo contínuo de reforma, com vistas amelhorar as relações de trabalho e reduzir a rotatividade
Reforma previdenciária: garantir estabilidade do regime e justiçasocial
O que fazer então?
Uma agenda ampla de reformas
Reforma tributária: melhorias administrativas, busca de isonomiae adaptação aos “novos tempos”
Educação: combater a evasão, melhorar a qualidade, repensar omodelo de educação superior (interessante: https://goo.gl/Lz8gvT)
Saúde: aperfeiçoar o mix público-privado, fortalecer atençãobásica
Infraestrutura: rever modelos de concessões, mitigar riscosregulatórios, aperfeiçoamento institucional das Agências
Sustentabilidade: desenvolver o uso de energias renováveis efortalecer a governança pública
O que fazer então?
O que fazer então?
Cenário Hipóteses Resultados – PIB per capita
Taxa de
investimento
em 2041-50
(%PIB)
Investimento
infraestrutura
(% total)
Capital
humano
(%a.a.)
Produtividade
geral (%a.a.)
Crescimento
anual médio
(%a.a.)
Crescimento
acumulado
2016-2050 (%)
Básico 18,2 10,0 0,73 0,0 1,00 38,3
Reformas pró-
investimento
22,0 20,0 0,73 0,0 1,49 65,2
Aumento do
capital humano
18,2 10,0 1,48 0,0 1,42 61,4
Aumento da
produtividade
18,2 10,0 0,73 0,5 1,53 67,8
Reformas
amplas
22,0 20,0 0,73 0,5 2,08 101,5
O cenário de reformas amplas permite o maior crescimento da renda per capita a
partir de um melhor equilíbrio entre seus fatores