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unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTAJLIO DE MESQUITA FILHO
Faculdade de Filosofia e Cincias
ANA CRISTINA DE ALBUQUERQUE
CATALOGAO E DESCRIO DE DOCUMENTOSFOTOGRFICOS EM BIBLIOTECAS E ARQUIVOS:
uma aproximao comparativa dos cdigosAACR2 e ISAD (G).
Marlia2006
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unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTAJLIO DE MESQUITA FILHO
Faculdade de Filosofia e Cincias
ANA CRISTINA DE ALBUQUERQUE
CATALOGAO E DESCRIO DE DOCUMENTOSFOTOGRFICOS EM BIBLIOTECAS E ARQUIVOS: uma
aproximao comparativa dos cdigos AACR2 e ISAD (G).
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao daFaculdade de Filosofia e Cincias da UniversidadeEstadual Paulista como requisito para a obtenodo ttulo de Mestre em Cincia da Informao.
Orientador:Dr. Eduardo Ismael Murguia
Marlia2006
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Albuquerque, Ana Cristina de.
A345 Catalogao e descrio de documentos fotogrficos: umaaproximao comparativa dos cdigos AACR2 e ISAD (G)/
Ana Cristina de Albuquerque. Marlia, 2006.
188 f. ; 30 cm.
Dissertao (Mestrado em Cincia da Informao )
Faculdade de Filosofia e Cincias, Universidade EstadualPaulista, 2006.
Bibliografia: f. 183-195Orientador: Eduardo Ismael Murguia.
1. Descrio Bibliogrfica. 2. Descrio Arquivstica. 3.
Documento Fotogrfico. I. Autor. II. Ttulo.CDD 025.3
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ANA CRISTINA DE ALBUQUERQUE
CATALOGAO E DESCRIO DE DOCUMENTOSFOTOGRFICOS EM BIBLIOTECAS E ARQUIVOS: uma
aproximao comparativa dos cdigos AACR2 e ISAD (G).
BANCA EXAMINADORA:
DEFESA
________________________________________Dr. Eduardo Ismael Murguia (Orientador)
Faculdade de Filosofia e Cincias Unesp/Marlia
________________________________________Dr. Solange Ferraz de Lima
Museu Paulista USP/So Paulo
________________________________________Dr. Maringela Spotti Lopes Fujita
Faculdade de Filosofia e Cincias Unesp/Marlia
Marlia, 29 de agosto de 2006.
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Dedico este trabalho minha famlia, Antonio, Olivia eKarina, pelo apoio de sempre e por todos os momentos que
passamos durante a realizao deste trabalho.
Ao Jefferson, pelo amor em todos os momentos.Com amor, a vocs.
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Agradecimentos
As pessoas a quem agradeo aqui so companheiros que vm trilhando um
caminho onde estamos juntos desde que entrei na faculdade. Fico feliz de, ao finaldesse trabalho, perceber que estou perto de minhas melhores amizades, pessoas
que compartilharam comigo muitas alegrias, dificuldades, momentos ruins, e
outros muito bons, e que ainda somos amigos, mais maduros, talvez diferentes,
mas estamos sempre juntos. Pessoas que tornaram minha vida em Marlia mais
feliz. Agradeo ento a todos e em especial:
CAPES, pelo apoio financeiro para o desenvolvimento dessa dissertao de
mestrado.
banca, Solange Ferraz, uma feliz surpresa que contribui muito com o trabalho e
Maringela Spotti Lopes Fujita, minha professora durante a graduao e por
quem tenho muita admirao e respeito.
Ao meu querido orientador Eduardo, que tive a imensa sorte e alegria de conviver
todos esses anos no s como orientanda, mas tendo a oportunidade de construiruma amizade que, se depender de mim, ainda vai durar muito tempo. Obrigada
pelo apoio, pela amizade e principalmente por acreditar em mim. Voc sabe que
eu te amo...
Especialmente minha irm Karina, pela compreenso, companhia, amizade e
cuidados nas horas que mais precisei.
Llian, por sempre estar pronta a ajudar, pela amizade e pelos bons momentos
morando juntas.
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Aos meus amigos e companheiros de UNESP, Tatiane Pacanaro e Rodrigo
Rabelo, acima de tudo por poder contar com vocs, por serem to amigos e por
termos passado juntos uma graduao e agora a ps. bom ter vocs aqui.
minha amiga de sempre Ligia, e toda sua famlia, pelo apoio e carinho.
Bia, pelo carinho, por ser uma pessoa linda e por tambm ainda estar aqui, as
coisas ficam mais fceis quando temos amigos por perto.
Ludmilla, sempre presente quando pode, pelo carinho e amizade.
Tininha, por ser uma pessoa maravilhosa.
todos da biblioteca (que a minha casa tambm) pela ajuda sempre que
precisei: Luzinete, Ilma, Vnia e Lair, adoro vocs.
minha querida amiga Lourdes, que tive a felicidade de conhecer no mestrado e
que um exemplo de mulher.
Mara, pelas conversas, amizade e ser essa pessoal to boa que .
Lilica, pelas risadas, ajuda, sempre mando um e-mail desesperado e sempre
tenho a resposta rapidinho.
Ao Willy, por quebrar o gelo quando estvamos nervosssimos, pelas risadas e por
ser moleco.
Ao Rogrio, Vera, Jane, Fabinho, por t-los conhecido e convivido com vocs.
A Silvia, pela ateno de sempre.
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s meninas da ps, Mrcia, Edna, Aline por sempre me ajudarem e serem to
atenciosas.
E especialmente ao meu amor Jefferson, que passou por uma monografia e por
uma dissertao ao meu lado. Por todos os momentos bons, pelo amor, carinho e
apoio, pela compreenso e companheirismo. Como nos nossos planos iniciais,
estamos passando por mais uma etapa juntos e sua presena foi fundamental
para que eu conseguisse chegar aqui.
Obrigada.
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EXEMPLOS
Exemplo 1 Formato de entrada. Descrio de um documento fotogrfico. Banco
de dados ATHENA UNESP/SP.Exemplo 2 Pesquisa no Guia de Fundos do Arquivo Pblico do Paran.
Exemplo 3 Resultado da pesquisa no Guia de Fundos do Arquivo Pblico do
Paran.
Exemplo 4 Informao de uma ficha catalogrfica.
Exemplo 5 Estrutura com informaes contidas na ficha catalogrfica.
Exemplo 6 Base de dados ATHENA, rea do ttulo.
Exemplo 7 Descrio da Unidade Documental.
Exemplo 8 Descrio do documento fotogrfico. Ttulo.
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LC Library of Congress
MAD2 Manual of Archival Description
NISO National Information Standards Organization
PGI Programa Geral de Informao
RAD Rules of Archival Description
RAMP Programa de Gesto de Documentos de Arquivo
RIEC Reunio Internacional de Especialista em Catalogao
SAA Society of American Archivists
USMARC US Machine Readable Cataloging
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Campo 245 referente ao ttulo.
Figura 2: Campo 260, posio de indicadores.Figura 3: Uso de sistemas com o protocolo Z39.50. Fonte: (ROSETTO, 1997).
Figura 4: Formato de entrada. Base de dados ATHENA. UNESP Marlia/SP.
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Quadro Estrutura da Descrio do AACR2 (RIBEIRO,
2004, p. 1-6).
Quadro 2 Forma Estrutural da ISAD(G).
Quadro 3 rea de descrio fsica na estrutura do AACR2.
Quadro 4 rea de condio de acesso e de uso da ISAD (G).
Quadro 5 Visualizao das reas em arquivos e bibliotecas.
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LISTA DE FOTOGRAFIAS
Fotografia 1: Exemplo de fotografia em estdio com fundo e luz artificial.
Fotografia 2: Retrato em plano mdio, de cor spia, estdio, com luz artificial.Fotografia 3: ngulo contraplongee, foto PB.
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ALBUQUERQUE, Ana Cristina de. Catalogao e descrio de documentosfotogrficos em bibliotecas e arquivos: uma aproximao comparativa doscdigos AACR2 e ISAD (G). 2006. 188f. Dissertao (Mestrado) Faculdade deFilosofia e Cincias, Universidade Estadual Paulista, Marlia, 2006.
Resumo
A presente pesquisa aborda o documento fotogrfico no mbito de sua descrioem arquivos e bibliotecas. Tem o objetivo de fazer uma possvel comparao entreas normas AACR2, utilizadas para a descrio bibliogrfica nas bibliotecas e anorma ISAD (G) que, por sua vez, o conjunto de regras para que seja obtida adescrio arquivstica. Para tanto, parte-se do conceito de documento, passandopor seu papel nos arquivos e bibliotecas e transitando pela histria da fotografia.Inicialmente o objeto contextualizado para se passar apresentao das regrasdo AACR2 e da ISAD (G), at a catalogao eletrnica que possvel atravs da
utilizao do formato MARC 21. Desse modo, so descritos alguns dos elementosque o documento fotogrfico traz em sua composio e em seu suporte, pois atravs de suas diversas caractersticas fsicas que se encontram parte daspeculiaridades que instigam inmeras discusses a seu respeito. Diante dareferida base terica, uma anlise panormica das regras expostas durante otrabalho feita a partir dos modos de representao de cada uma: para abiblioteconomia, sua ficha que materializa o ato da descrio e disponibiliza o itemno acervo e, para a arquivologia, seus instrumentos de pesquisa que, da mesmaforma, oferecem aos usurios um quadro no s do material como de todo ocontexto de seu acervo. Por fim, chega-se a uma aproximao de pontos nas duasnormas que merecem ateno e aprofundamento por parte de pesquisadores e de
profissionais que lidam com o documento fotogrfico. Sob a luz dos princpiosarquivsticos e da teoria do tratamento biblioteconmico, reflete-se sobre adescrio de forma geral e nesta quando aplicada a um documento que carregaparticularidades e alvo de debates que repercutem na sua disponibilizao paraos usurios e em seu estudo de forma geral.
Palavras-chave: Documento fotogrfico; Descrio bibliogrfica; Descrioarquivstica; Normalizao.
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ALBUQUERQUE, Ana Cristina de. Catalogao e descrio de documentosfotogrficos em bibliotecas e arquivos: uma aproximao comparativa doscdigos AACR2 e ISAD (G). 2006. 188f. Dissertao (Mestrado) Faculdade deFilosofia e Cincias, Universidade Estadual Paulista, Marlia, 2006.
Abst rac t
This work boards the photographic document in the scope of its description inarchives and libraries. The objective is to make possible the comparison betweenthe AACR2 rules, utilized for bibliographic description in libraries and the ISAD (G)norm, which are the rules to obtain an archivist description. Departing fromdocument concept, passing by his function in archives and libraries and passing byphotography history. This is the object context in a first moment, leading to thepresentation of AACR2 rules and ISAD (G), until the electronic cataloguing which ispossible by the use of MARC 21 format. This way, some elements of photographicdocument bring in its composition and support is described, because through hisvarious physical characteristics we found part of the particularities that instigatecountless discussions about it. In front of the referred theoric basis, a panoramicanalysis of the present rules is made following the representation ways for eachone: for the librarianship, its cards materialize the description act and makeavailable the item in the collection and, to archival science, its tools of researchwhich, in the same way, offer to the users a view not only of the material but hiscontext in the collection. At last, is reached an approach of points in the two normsworthily attention and a profound study by researchers and professionals workingthe photographic document. Under archivists principles and librarian treatmenttheory, there is a consideration about description in general form and its applicationin a document with peculiarities and when the document is target of discussionsthat reflect in availability to the users an its studies generally.
Keywords: Photographic document; Bibliographic description; Archivisticdescription; Normalization.
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Sumrio
INTRODUO...................................................................................................... 20
CAPTULO I: O conceito de documento e o documento fotogrfico
1.1 O conceito de documento............................................................................... 27
1.2 Documentos de arquivos e documentos de biblioteca .................................. 31
1.3 O documento fotogrfico................................................................................. 38
1.4 Os caminhos documento fotogrfico .............................................................. 47
1.5 A crtica do documento fotogrfico ................................................................. 54
CAPTULO II: O percurso da descrio em arquivos e bibl iotecas
2.1 A descrio ..................................................................................................... 61
2.2 A descrio em bibliotecas ............................................................................. 63
2.3 Catlogos, catalogao e cdigos: distinguindo em um breve histrico ........ 64
2.4 As regras do AACR2 ...................................................................................... 80
2.5 A atividade de descrio em arquivos ............................................................ 84
2.6 Em busca de uma padronizao para a descrio arquivstica ...................... 89
2.7 As regras e elementos de descrio da ISAD(G) ............................................97
2.8 A era eletrnica: o formato MARC 21 ........................................................... 104
2.9 A estrutura do MARC 21 ............................................................................... 110
2.10 As normas utilizadas pelo formato MARC 21.............................................. 115
2.10.1 A norma ISO 2709 ................................................................................... 115
2.10.2 A norma ANSI Z 39.2 ............................................................................... 117
2.10.3 O Protocolo de comunicao Z 39.50 ...................................................... 117
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2.11 As facetas do formato MARC 21 ............................................................... 119
CAPTULO III: A descrio dos elementos da fotografia
3.1 Caractersticas fsicas da fotografia ............................................................. 126
3.2 Conotao e denotao em documentos fotogrficos ................................. 137
CAPTULO IV: Um intento de comparao: as normas AACR2 e ISAD (G)
4.1 Os instrumentos de divulgao da informao ............................................. 144
4.1.1 Na biblioteconomia: a ficha catalogrfica .................................................. 146
4.2 Na arquivologia, os instrumentos de pesquisa ............................................. 149
4.2.1 O guia ........................................................................................................ 150
4.2.2 O inventrio ................................................................................................ 154
4.2.3 O catlogo .................................................................................................. 155
4.3 Elementos constitutivos das normas AACR2 e ISAD (G). Uma possvel
comparao. ........................................................................................................158
CONSIDERAES FINAIS ............................................................................... 170
REFERNCIAS .................................................................................................. 177
BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................185
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A apresentao da fotografia aos nossos olhos se faz refletindo dois modos
de realidade: a realidade que se mostra integralmente e sem artifcios, e a
realidade a que nos remetemos quando olhamos uma fotografia.
A imagem exterior, essa realidade que vemos estampada em duas
dimenses em uma fotografia uma busca constante do homem, inicialmente com
suas tentativas de gravar em paredes de cavernas e em pedras, imagens de
animais e de si prprios, contornando da maneira que lhes cabia no momento
suas silhuetas e tendo ali representadas manifestaes que eram reais em suas
vidas. Durante muitos sculos isso bastou aos homens. At que a perspectiva veio
para tomar definitivamente o lugar desses desenhos e nos dar a iluso de cenas
cada vez mais reais exercidas com tcnicas cada vez melhores, onde pintores
superavam seu talento. O sculo XIX veio trazendo avanos em todas as reas e
o realismo das pinturas se depara com o novo aparelho que pode produzir e
reproduzir imagens mais reais e mais exatas, pois capta, atravs de processos
qumicos e pticos desencadeados pela luz, a mxima realidade, a realidade que
aconteceu, a realidade que acontece aos olhos do fotgrafo e do fotografado, a
realidade quase palpvel que a fotogrfica. A partir da a iluso de que tudo o
que fotografado real passou a fazer parte da vida cotidiana, tanto que olhamos
e consumimos fotografias por vezes sem pensar nelas, apenas as aceitamos. No
entanto, diversos fatores foram desencadeados a partir desse importante invento.
O papel do fotgrafo no neutro, nem o do fotografado, muito menos o de quem
a observa.
Aliados ao seu carter documentrio, a fotografia apresenta aspectos
fsicos e de composio que permitem seu devido tratamento de acordo com
regras da instituio que designada. Com base em alguns elementos que
permitem sua descrio, desenvolvemos a presente pesquisa, analisando o
documento fotogrfico luz das normas utilizadas pela arquivologia e
biblioteconomia.
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Esta pesquisa um primeiro exerccio para a discusso do documento
fotogrfico dentro das reas da biblioteconomia e arquivologia. As motivaes
para as dvidas e reflexes incipientes que fazem parte da construo deste texto
foram suscitadas pelo gosto e curiosidade a respeito do documento fotogrfico e
da teoria da fotografia, pelo maior aprofundamento nas questes da Cincia da
Informao e pelas observaes feitas no tratamento da fotografia em ambientes
informacionais.
Dentro de nossa linha de pesquisa, Organizao da Informao, o projeto
se fez vivel e se insere na abordagem do tratamento de contedos
informacionais para o conhecimento, que, por sua vez uma das temticas de
estudo que vem despertando grande interesse de pesquisa dentro da Cincia da
Informao. De acordo com estudiosos do tema como Esteban Navarro e Garcia
Marco (1995), citados por Nascimento (2002, p.27), essa temtica se dedica ao:
estudo e desenvolvimento dos fundamentos e tcnicas deplanejamento, construo, gesto, uso e evoluo dos sistemasde descrio, catalogao, ordenao, classificao,armazenamento, comunicao e recuperao dos documentoscriados pelo homem para testemunhar, conservar e transmitir seusaber e seus atos, a partir de seu contedo, com a finalidade degarantir sua conservao em informao capaz de gerar novoconhecimento.
Dessa maneira, o tema encontra sua relevncia no sentido de estar
discutindo o documento fotogrfico como importante testemunho para
conhecermos fragmentos de fatos passados e, ao analisar sua descrio, parte do
princpio de que as informaes ali contidas possam se transformar ou servir
construo do conhecimento.
O objetivo propostos para o desenvolvimento da pesquisa foi uma possvel
comparao entre as normas utilizadas para a descrio de documentos da
biblioteconomia (AACR2) e as normas descritivas da arquivologia (ISAD(G)),
entendendo antes, como essas normas foram desenvolvidas, qual o conceito de
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documento para as duas reas e de que forma o documento fotogrfico fez seu
progresso adquirindo dimenses diversas durante a sua histria.
Nos ltimos anos houve um crescente nmero de discusses voltadas ao
estudo da fotografia, desta como documento, de modelos de indexao e
resumos, de como organizar acervos fotogrficos porm, a principal justificativa
para a escolha do tema foi a percepo de que o documento fotogrfico ainda tem
um caminho a percorrer dentro da metodologia de seu tratamento e que esse
tratamento suscita dvidas tais que pretendemos compreender dentro das
normas, a fim de inferir uma discusso que possa encontrar contribuies junto a
outros trabalhos e debates.
Uma importante questo permeou o trabalho durante sua realizao: o fato
de que uma fotografia pode ter muitos significados. Nunca tem apenas uma
interpretao, tem tambm sua realidade interior. Dependendo do contexto onde
est inserida tem muitas funes e sentidos. No entanto, preferimos, no momento,
que fossem nos dadas todas as bases para desenvolver um trabalho acerca das
questes que esto explcitas nos cdigos de descrio, para assim, num prximo
trabalho, fazermos uma anlise com base nos elementos subjetivos e implcitos
que sabemos existir em um documento fotogrfico. Passamos rapidamente por
este assunto, mas no chegamos a desenvolv-lo. Acreditamos que tais
elementos: a realidade que um documento fotogrfico emana e ao mesmo tempo
seu carter dbio, ou seja, sua subjetividade, tema para outras anlises, e a
base que temos a partir dessa dissertao nos d melhores fatores para seu
futuro desenvolvimento, portanto no entramos em0 reas como a Anlise
Documentria, Indexao, etc., e sim analisamos as normas que pretendem
suprir as necessidades informacionais de pesquisadores e usurios em geral,
optando pela catalogao e descrio arquivstica.
A partir do objetivo de contrastar as formas de descrio de uma e outra
instituio, apresentamos a estrutura que foi seguida na dissertao.
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Quanto estrutura dos captulos, primeiramente, no Captulo I buscou-se
fazer um rastreamento do conceito de documento e do prprio documento
fotogrfico. Assim, temos no primeiro e segundo itens, o conceito de documento
em sua forma geral e restrita, ou seja, para a biblioteconomia e arquivologia. Aqui
contemplamos a viso da historiografia, que perpassa por todo o trabalho, pois
alm de ser uma das primeiras reas junto ao Direito a pensar o conceito de
documento tambm tem com a fotografia uma relao intrnseca, pois esta fonte
irrefutvel de pesquisas para a rea.
No terceiro item temos a contextualizao de nosso objeto, acompanhamos
um pouco de sua histria e desenvolvimento, haja vista que para se entender o
documento fotogrfico h que visualizar sua trajetria. No quarto item temos
alguns apontamentos sobre a forma como o documento fotogrfico foi
negligenciado pela historiografia e essa situao mudada com a crtica do
documento elaborada pela escola historiogrfica francesa, assim construmos
nosso objeto no ngulo de sua histria, no seu sentido amplo e o restringimos ao
momento em que aberta a discusso sobre fontes de todos os tipos. Por fim, a
ambigidade fotogrfica e sua tenso entre o referencial e o subjetivo so
expostas no ltimo item. Assim, tentamos demonstrar a complexidade e por vezes
a facilidade de trabalhar com o documento fotogrfico que foi sendo levado e
percebido pela sociedade e pelos meios cientficos de formas diferentes durante a
histria.
Passamos ao Captulo II, onde procedemos com a abordagem do conceito
de descrio e da norma a ser seguida pelas instituies estudadas. Assim, temos
no primeiro item o conceito de descrio, que colocado de forma mais tcnica e
mais abrangente. No segundo e terceiros itens temos a descrio em bibliotecas,
onde nos detemos, para entender sobre as normas de catalogao descritiva no
histrico de seus cdigos e no AACR2, que servir de base para nosso estudo,
resgatando um pouco de sua histria, tentamos entender a necessidade de
normalizar os parmetros para a descrio em bibliotecas. No quarto item
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demonstramos, com alguns exemplos, a estrutura do AACR2. No quinto e sexto
itens, acompanhamos da mesma forma como as regras de normalizao e
padronizao surgiram e se desenvolveram na arquivologia tendo a estrutura de
sua descrio. E, por fim, no stimo item do segundo captulo, temos a estrutura
da ISAD(G), que foi exposta com o mesmo propsito acima referido, afim de
conhecer e entender seus campos.
Devido alta demanda de documentos nas instituies e aos avanos
tecnolgicos, foram desenvolvidos os formatos, com a finalidade de agilizar o
trabalho dos profissionais da informao, diminuir custos e permitir o intercmbio
de informaes. A digitalizao de acervos fotogrficos tambm uma realidade
em nossa rea, portanto, nos itens que seguem, nos concentramos no formato
MARC 21. Primeiro, falamos de sua histria e de como foi o processo de seu
desenvolvimento. Passamos ento para a estrutura do formato que mostrada e
logo a seguir, as normas em que os profissionais se basearam para tornar
possvel que informaes de uma ficha catalogrfica pudessem ser transpostas
para o meio eletrnico. Por ltimo, falamos das facetas do MARC 21, e damos o
exemplo de uma descrio de documento fotogrfico na planilha do formato.
No Captulo III, vamos diretamente aos elementos que compe o
documento fotogrfico e o que aparece e pode aparecer no momento de uma
descrio. Nesse sentido, no primeiro item, nos atemos estritamente aos detalhes
fsicos como suporte, dimenso, formato e aos detalhes que compe uma imagem
como luz, cores, ngulo, etc. No segundo item passamos conotao e
denotao, pois o profissional que est descrevendo o documento tem suas
impresses particulares e influncia de seu meio, ou seja, sua cultura, e pode se
deparar, em algum momento, com a conotao, assim como com uma legenda e
anotaes que existem nos documentos.
O Captulo IVest totalmente voltado para as normas e colocados lado a
lado os instrumentos que cada uma usa para a materializao das informaes
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1.1 O conceito de documento
Falar sobre conceito de documento tentar transitar por entre reas
que, ao longo do tempo, modificaram, ampliaram e restringiram seu sentido,
adaptando-o e definindo-o de acordo com suas perspectivas. Destacaremos o
conceito de documento nas reas de historiografia, arquivologia e
biblioteconomia, pois, para nossa pesquisa, esses so os campos de maior
importncia, mas, apesar de nos concentrarmos nessas reas, no
pretendemos excluir outras de grande participao em sua construo e sim
restringi-lo a nossos interesses.
Ao iniciarmos um rastreamento pelo conceito de documento, nos
remetemos s expresses de cultura do homem, em seus diversos sentidos e,
desse modo, podemos verificar as reas que contriburam para a construo
desse conceito, Segundo Lpez Yepes (1997, p.13):
Con la invencin del documento y, sobre todo, con susposibilidades de multiplicacin el ser humano satisfaca sutendencia a poner fuera l mismo sus sensaciones y susideas y a reproducir los fragmentos de la realidad que leinteresaban. Con la permanencia de los documentos ms alldel espacio y del tiempo, el ser humano volva a utilizarloscomo fuente de informacin para obtener nuevos
conocimientos y as lograr el progreso de la sociedad. Porquedesde su condicin limitada, desde la radical imposibilidad decrear ideas ex novo, el ser humano tiene la forzosa necesidadde documentarse.
Sendo um ser que cria a cultura a seu redor um ser cultural e tem o
desejo de transmitir essa cultura um ser comunicativo o homem deixa
documentados seus atos, assim dando os subsdios para que sua histria seja
preservada e vista pelos olhos de pesquisadores que tentaro entender como e
porqu aquele fato registrado aconteceu, onde se relaciona com a histria ecom interesses diversos, enfim, construir, em volta de um objeto, uma
fotografia, ou um rolo de papiro uma perspectiva que d elementos a geraes
futuras de saber um pequeno ponto do fato retratado. Os suportes usados pelo
homem ao longo do tempo nos mostram vestgios e imagens contendo
informaes que conseqentemente documentam alguma ao ou algum
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saber. Para que esses saberes documentados sejam utilizados para a
produo de novos conhecimentos, os pesquisadores tm como base
procedimentos metodolgicos que fazem com que novos paradigmas surjam
ou que sejam mudados. No entendimento do que um documento essa
mudana tambm aconteceu, dando espao para novos tipos de documentos erenovando seu sentido.
O termo documento tem muitos sinnimos:testemunho, fonte, vestgio,
marca, sinal, (VALENTE, 1978, p.177), ou seja, tudo o que o homem construiu
e deixou como vestgio pode ser usado com um desses significados. O
documento passou por etapas que fundamentaram seu modo de ser entendido
como objeto cientfico. Em meados do sculo XVII pesquisadores e religiosos
comeavam a duvidar do valor de um documento escrito. Contriburam para talfato os estudos de teologia, histria e filologia, pois, por ser o elemento
principal desses estudos, o diplomadeveria ser verdadeiro e ter informaes
confirmadas pela cincia.
Fazemos uma ressalva nesse ponto, pois, aqui marcamos o sculo XVII,
porque quando se institui a investigao da autenticidade e veracidade dos
documentos, mas, bem antes disso, essas dvidas j eram assunto de
discusses e a causa eram as falsificaes que sempre existiram por diversos
interesses, assim, podemos dizer que h presena de trabalhos anteriores ao
referido sculo que explicitam os documentos falsos e falam como identificar
esses fatos (VALENTE, 1978).
Depois das indagaes de Lutero quanto validade de textos bblicos
originais e da tentativa de Descarte de estabelecer um mtodo cientfico para
reconhecer documentos verdadeiros, um beneditino de nome Dom Mabillon,
que durante seis anos trabalhou incessantemente em arquivos eclesisticos
franceses, alemes, italianos e, pacientemente, usou mtodos cientficos que
cabiam aos documentos, publicou, em 1681, De Re Diplomtica, manual que
tentava distinguir documentos verdadeiros de documentos falsos, fato que
ocorria por, com o decorrer do tempo, cpias desses documentos serem feitas
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e misturadas s verdadeiras (BORGES, 2003, p. 20), o que Valente tambm
afirma (1978, p.180), quando diz que:
Essa crtica documental, encontrou a sua justificativa, emprimeiro lugar, na necessidade de distino de documentos
falsos que, no raro, se misturavam aos verdadeiros; emsegundo lugar, pela necessidade de aferir a veracidade dasinformaes dos documentos, mesmo os autnticos, quandose notava que, alguns deles, carregavam consigo suspeiosuficiente pelo que veio designar-se de ingenuidadedocumental.
Assim estava criada uma forma de averiguar a veracidade e
autenticidade dos documentos, a Diplomtica. Na poca esses documentos
eram manuscritos, mas esta tcnica se estendeu e hoje uma cincia auxiliar
de diversas reas do conhecimento. E o documento passou por mais uma
etapa rumo a sua funo de retratar os fatos. A Diplomtica tem a funo de
entender como o documento estruturado no momento de sua produo, isso
implica em um estudo desde seu nascimento.
A diplomtica ocupa-se da estrutura formal dos atos escritosde origem governamental e/ou notarial. Trata, portanto, dosdocumentos que, emanados das autoridades supremas,delegadas ou legitimadoras (como o caso dos notrios), sosubmetidos, para efeito de validade, sistematizao impostapelo direito. Por isso mesmo, esses documentos tornam-se
eivados de f pblica, que lhes garante a legitimidade dedisposio e a obrigatoriedade da imposio e utilizao nomeio sociopoltico regido por aquele mesmo direito(BELLOTTO, 2004, p. 45).
Uma considerao acerca do documento tem de ser feita: para alguns
autores o documento caracterizado em trs partes: suporte, meio e contedo.
Segundo Lpez Yepes (1997), o suporte seria a parte material do documento,
ou seja, papel, CD-Rom, parede, tela, qualquer lugar onde a informao possa
ser registrada. O meio seria a forma como se ir expressar a informao, ou
seja a linguagem e o contedo que seria a prpria materializao do que o
produtor do documento quis mostrar, a informao contida no documento e
passvel de anlise o contedo.
O termo documento/documentum da forma que o entendemos hoje,
conforme observa Valente (1978), em sentido global, s se revelou na poca
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contempornea. Le Goff (1982, p.536), nos explica sua raiz etimlogica e j a
ampliao de seu sentido a partir do sculo XIX:
O termo latino documentum, derivado de docere ensinar,evoluiu para o significado de prova e amplamente usado no
vocabulrio legislativo. no sculo XVII que se difunde, nalinguagem jurdica francesa, a expresso titres et documentseo sentido moderno de testemunho histrico data apenas dosculo XIX. O significado de papel justificativo,especialmente no domnio policial, na lngua italiana, porexemplo, demonstra a origem e a evoluo do termo. Odocumento que, para a escola histrica positivista do fim dosculo XIX e do incio do sculo XX, ser o fundamento do fatohistrico, ainda que resulte da escolha, de uma deciso dohistoriador, parece apresentar-se por si mesmo como provahistrica. A sua objetividade parece opor-se intencionalidadedo monumento. Alm do mais afirma-se essencialmente comotestemunho escrito.
Anteriormente o termo documento era muito utilizado e restringido ao
vocabulrio jurdico, como, por exemplo, nos fala Bauer (1957, p.354), onde,
para este autor documentos so:
aquellos monumentos escritos, con existencia propia eindependiente, mediante los cuales quedan garantizados loshechos jurdicos, con arreglo a formas determinadas quecambian segn la persona, el tiempo, el lugar e el contenido,de tal manera que estos testimonios escrityos resultan idneos
para el cumplimiento de fines jurdicos.
Podemos perceber nas citaes acima que, enquanto Le Goff d ao
documento um esboo do que viria a ser hoje seu sentido no nosso
entendimento, Bauer o restringe s funes probatrias e jurdicas onde
devemos considerar que o direito e a historiografia foram as primeiras reas a
pensar o conceito de documento, pois este uma das matrias primas de seus
trabalhos.
Em sentido amplo, o documento adquire importncia e diferenas pelo
prisma de reas distintas. Segundo Foucault (1986, p.05), que usa como
modelo as anlises de G. Canguilhem, mostra-nos que:
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a histria de um conceito no , de forma alguma, a de seurefinamento progressivo, de sua racionalidade continuamentecrescente, de seu gradiente de abstrao, mas de seusdiversos campos de constituio e de validade, a de suasregras sucessivas de uso, a dos meios tericos mltiplos emque foi realizada e concluda sua elaborao.
Observamos que com o passar do tempo foram-lhe atribudas diferentes
caractersticas e elementos s formas de perceb-lo, isto , ampliando ou
restringindo o seu conceito, ou seja, a dinmica dos acontecimentos sociais
influenciaram no entender do que seja um documento (NASCIMENTO, 2002,
p.21). Essas atribuies foram camadas de significaes e conceitos
concretizados em diferentes espaos, aos quais a sociedade lhes atribuiu
funes, dando lugar reas como a biblioteconomia e arquivologia.
Passaremos, dessa forma, ao entendimento do que seja documento paraessas reas.
1.2 Documentos de arquivo e documentos de biblioteca
Dentre esses campos de constituio do conceito de documento como
anunciados por Foucault (1986), constata-se que, na arquivologia este
conceito est atrelado historiografia e aos significados jurdicos.
Com a Revoluo Francesa comea um modo de administrao
diferente, onde O documento j no desempenha apenas o papel jurdico, mas
constitui um instrumento cujo acesso sinal do poder do povo (ROUSSEAU;
COUTURE, 1998, p.31), poder que comea a ser exercido pela comprovao
de um passado que sustentava os prprios passos da Revoluo Francesa,
assegurando assim, a proteo desses documentos e tendo em vista seu valor
administrativo e histrico. Com a instituio do Arquivo Nacional da Frana,
tem-se a criao de uma administrao orgnica para trabalhar com a rede dereparties pblicas geradoras de documentos. O Estado, dessa maneira,
reconhece que deve ter a responsabilidade de preservar o patrimnio
documental do passado e os documentos que ele prprio produziu
(JARDIM;FONSECA, 1992), assim como proclama o direito pblico de acesso
aos arquivos.
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Anteriormente, as instituies que tinham o encargo de guardar e
preservar os documentos produzidos pela sociedade, confundiam-se em seus
objetivos, pois as trs arquivos, bibliotecas e museus armazenavam os
materiais tidos como importantes. At o incio do sculo XIX os arquivistasreagrupavam e misturavam documentos de acordo com concepes prticas
ou intelectuais, fazendo dessa maneira uma classificao de arquivos de forma
ideolgica, que tratava o documento arquivstico pelo seu valor intrnseco,
deixando-o independente de seu contexto e da relao com o ambiente
(instituio, famlia, Estado) que o produziu (DUCHEIN, 1986).
De acordo com Heredia Herrera (1991, p.165):
En la antiguedad no hubo una separacin tajante entreBibliotecas y Archivos. Si parece que en los conventos ymonasterios exista un armario que guardaba los documentosy otro los libros. El invento de la imprenta determinar laprimera separacin fsica entre unos y otros.
Com o tempo e os novos tipos de documentos, as diferenas foram se
acentuando e cada uma dessas instituies definindo seus objetivos. Um
arquivo, segundo Paes (2004, p.16):
a acumulao ordenada dos documentos, em sua maioria,criados por uma instituio ou pessoa, no curso de suaatividade, e preservados para a consecuo de seus objetivos,visando utilidade que podero oferecer no futuro.
Nesse mbito, passamos definio, segundo alguns autores, de
documento de arquivo, que tambm teve seu significado ampliado e
modificado. Em um arquivo, so armazenados documentos que tm valor de
prova e autenticidade, geralmente documentos que vm de uma instituio ou
de acervos pessoais, ou seja, suas funes perpassam pela idia de serem
materiais produzidos para alm de preservarem a memria de uma instituio
ou de uma pessoa, atestar fatos e valid-los juridicamente. Fuster Ruiz (1999,
p. 104), divide o documento de arquivo em duas classes: uma de natureza
jurdica, com finalidade de justificar perante a lei, por exemplo, os feitos de uma
empresa, e outra de natureza administrativa, que, mesmo no sendo usados
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Belloto (2004, p.37), d a sua definio de documento de arquivo com
semelhanas entre os dois primeiros autores, para ela:
Os documentos de arquivo so produzidos por uma entidade
pblica ou privada ou por uma famlia ou pessoa no trasncursodas funes que justificam sua existncia como tal, guardandoesses documentos relaes orgnicas entre si. Surgem, pois,por motivos funcionais administrativos e legais. Tratam,sobretudo de provar, de testemunhar alguma coisa. Suaapresentao pode ser manuscrita, impressa ou audiovisual;so em geral exemplares nicos e sua gama variadssima,assim como sua forma e suporte.
Diante dessas definies o conceito de documento de arquivo se mostra
amplo no sentido em que um produto dos atos humanos com funes
probatrias, de conhecimento ou testemunho e que se confunde com o prprioconceito de arquivo. Os documentos sendo armazenados em um arquivo
podero ou no ser usados com fins jurdicos, porm, em qualquer um dos
casos, conservam sua relao com todos os outros documentos da instituio,
de modo a se constituir uma cadeia.
A arquivologia tem o conceito de ciclo vital dos documentos, ou seja,
todo documento tem at trs fases de vida: fase corrente, intermediria e
permanente, ou melhor dizendo a teoria das trs idades. De acordo comBellotto (2004), os documentos tm, desde o momento de sua produo, uma
fase corrente, onde esto sendo constantemente utilizados. Geralmente esses
documentos ficam na prpria instituio onde foram produzidos. Num segundo
momento, quando o documento j foi utilizado nas atividades para que foi
criado, sua permanncia no local de trabalho no mais necessria, mas,
mesmo assim, por motivos legais ou referentes atividade que se relaciona, o
documento mantido em um arquivo centralizador, onde ser submetido a
uma tabela de temporalidade que determinar seu destino, o descarte ou oarquivo permanente. Na fase permanente, o documento enviado a um
arquivo que assegurar seu valor informativo, probatrio e memorial2.
2Para um melhor entendimento das questes referidas ver Bellotto (2004) e Heredia Herrera(1991).
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Diferentemente do documento de arquivo, um documento de biblioteca
tratado individualmente e os elementos de seu acervo no precisam ser
necessariamente ligados a todos os outros, so independentes, assim como
no existe uma idade para que os documentos fiquem disposio do
pblico, num acervo de biblioteca so usados constantemente de acordo com anecessidade de seus usurios.
O valor probatrio que os documentos em um arquivo tm, em uma
biblioteca no to evidente, sendo que seu acervo tem fins educativos,
informativos e culturais, alm de servir para pesquisas. O material adquirido
de diversas formas como doao ou compra e no proveniente de uma nica
instituio ou fundo. Segundo Belloto (2004, p.37):
Os documentos de biblioteca so resultado de uma criaoartstica ou de uma pesquisa; e podem ainda objetivar adivulgao tcnica, cientfica, humanstica, filosfica etc. material que trata de informar para instruir ou ensinar. Osdocumentos so grficos, sejam eles impressos oumanunscritos, desenhos, mapas, plantas, ou so materialaudiovisual. Sua forma usual a impressa e mltipla, isto , amesma obra pode existir em mais de uma biblioteca. So osdocumentos mais acessveis e os mais conhecidos do grandepblico.
No Dicionrio Tcnico de Biblioteconomia (1973), documento definido
como:
Escrito con que se prueba, acredita o hace constar uma cosa.Los escritos papeles, archivos y publicacionesgubernamentales o de negcios, bien sea en forma impresa,de mquina, manuscrita, etc.
essa definio bem curiosa, pois, apesar de estar num dicionrio de
biblioteconomia, se liga totalmente ao conceito de documento arquivstico.
Talvez porque at para a biblioteconomia o documento seja visto como provaou com valor jurdico, mas aqui cabe a pergunta de como fica a situao do
documento de biblioteca, que no tem esse valor, mas que tambm um
documento e est ensinando e informando igualmente.
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Nascimento (2002, p.22) em seu captulo sobre documentos analgicos
e digitais observa o que diz a Association of Law Libraries:
na viso da Biblioteconomia, observa-se por se tratar deunidade essencial para o desenvolvimento das suas
atividades, o documento registra sua importncia alm doslimites do armazenamento e organizao de conhecimentoregistrado para o uso da sociedade. Tambm destaca-se umapreocupao com a competncia que os profissionais daBiblioteconomia necessitam assimilar e desenvolver paraavaliar a qualidade, autenticidade, acuracidade e os custosdas fontes tradicionais e eletrnicas de informao para o usoda sociedade.
J Heredia Herrera (1991), escreve que a finalidade do livro a de
relatar, informar, instruir e que em nenhum caso testemunho de uma gesto,
sempre fruto da vontade de algum, seja uma obra de fico ou deinvestigao.
Por outro lado, os documentos de arquivo so um reflexo de funes e
atividades do homem, mas no so apenas testemunhos voluntrios, so
produtos de uma gesto. No so produzidos com uma finalidade histrica,
mas a partir de certas designaes e de certo tempo, se convertem em
indispensveis fontes histricas.
Diante desses conceitos dados tanto a documentos de arquivo quanto a
documentos de bibliotecas passamos reflexo de Smit (2000), onde a autora
nos chama a ateno para o fato de que a viso tradicional que temos a de
que as bibliotecas guardam seus livros e os arquivos documentos vindos de
uma instituio, mas essa viso tradicional, segundo a autora, cai por terra
quando pensamos no documento audiovisual e no documento eletrnico, pois
estes esto disponveis nas duas instituies. Ento devemos, segundo Smit
(2000), nos centrar na informao e na utilidade dada ao documento dentro decada instituio, dessa forma afirma:
A diversificao entre as 3 Marias existe, mas no deve serfundamentada nos tipos de documentos, e sim na funoatribuda informao pelos diferentes tipos de instituies.Na tica arquivstica a informao fala sobre as instituies,suas atribuies e suas relaes com os demais segmentos
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No entanto, a simples identificao de seus elementos nos revela
tambm um outro aspecto, a permanncia do que a sociedade gostaria que
fosse guardado de sua imagem, desta forma o documento fotogrfico
ultrapassa o documento e se torna monumento:
Concebida como monumento a fotografia impe umaavaliao que ultrapasse o mbito descritivo. Neste caso ela agente do processo de criao de uma memria que devepromover tanto a legitimao de uma determinada escolhaquanto, por outro lado, o esquecimento de todas as outras.(CARDOSO; MAUAD, 1997, p. 147)
O documento fotogrfico a representao de uma poca e reflexo do
desenvolvimento da sociedade. Como monumento ultrapassa certos valores e
assume outros que o fazem intocvel e elemento para sempre cultuados. Umafina linha separa esses dois valores dados ao documento fotogrfico, no
entanto, a fotografia como documento est presente em nossas aes e o
documento histrico importante pea para complementar e reconhecer o
passado escrito.
Para termos uma base sobre o documento fotogrfico, o melhor
entender inicialmente como foi a sua histria e quais os fatores que influenciam
at hoje nossa perspectiva a respeito de seu desenvolvimento dentro dasociedade e no mundo da cincia.
1.3 O documento fotogrfico
A histria da fotografia vista na maioria das vezes pelo seu
desenvolvimento tcnico e, considerando este fato, acreditamos que para se
entender e trabalhar com uma fonte documental temos de destacar a
importncia de um rpido olhar por seu percurso e produo que,especialmente no caso da fotografia, um ponto fundamental pelo fato de seu
desenvolvimento estar intrinsecamente atrelado s mudanas sociais que
ocorreram em seu incio.
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O documento fotogrfico est presente em diversas reas do
conhecimento e em algumas se torna um elemento quase que indispensvel
para pesquisas. usado para observaes de culturas e povos juntamente a
dirios de campo pela antropologia, para diagnosticar doenas com fotografias
cientficas no caso da medicina, verificar as mudanas numa cidade, suasconstrues e urbanizao na arquitetura, como objetos de valor histrico pela
sociologia e historiografia. Estes so apenas alguns exemplos da importncia
do documento fotogrfico para, junto textos escritos, ajudar a entender fatos
do presente ou do passado.
Desde seu aparecimento a fotografia foi imposta com um carter
documentrio, baseado no princpio de prova e realidade que a caracterizam.
Seu cerne est ligado a valores probatrios usados pela historiografia e pelodireito. Um documento fotogrfico pode ser usado tanto para pesquisas sobre
fatos passados e dar subsdios para perceber fragmentos de cenas que apenas
narradas seriam imaginadas, como para provar esse mesmo fato juridicamente.
Fabris (1991,p.25) d o exemplo da descrio de um crime atravs de uma
fotografia e de como essa fotografia incitou a uma descrio terrvel da morte,
levando o ru condenao.
A sociedade burguesa do sculo XIX, com o advento da industrializao,
estava pronta cultural e economicamente para que os experimentos
fotogrficos tivessem as condies necessrias para o seu desenvolvimento e
aperfeioamento. O aparecimento da mquina e as formas de representao
do real atravs da perspectiva j desenvolvida deram elementos para que a
cmara fotogrfica fosse aperfeioada. A mquina d a possibilidade para que
muitas coisas sejam produzidas em srie, o que, com a fotografia se tornou ao
longo de sua histria, um fato irrefutvel, visto que seus poderes de seduo
aliados reprodutibilidade em massa fizeram dela objeto industrial. Para
Flusser (2002, p.21), a cmara fotogrfica um aparelho que, sendo
prolongamento do olho humano, tem o poder de alcanar a natureza de forma
mais profunda e por isso mais poderosa e eficiente do que o prprio olho.
Com a revoluo industrial, os aparelhos e mquinas vo adquirir funes e ter
lugares prprios, sendo que o homem ir viver em funo desses lugares que
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lhes so destinados e ao redor dessas mquinas que so desenvolvidas
rapidamente. Portanto, o advento da fotografia veio para consolidar em
imagens a forma mecnica de se mostrar o mundo.
O que teve incio no Renascimento o anseio de reproduzir fielmente anatureza permeava os sonhos dos homens de engenho e arte daquela
poca, e se tornava possvel atravs da fotografia. A hora da fotografia havia
chegado e estava sendo sentida por vrios pesquisadores, homens que,
segundo Benjamin (1977, p.219):
Independentemente uns dos outros, buscavam a mesmameta: fixar imagens na cmera obscura, conhecida ao menosdesde Leonardo. Assim que, aps mais ou menos cinco anosde esforos de Nipce e Daguerre, isto se tornou possvel mesma poca, o Estado, favorecido pelas dificuldades de
patenteao encontradas pelos inventores, tomou conta dissoe, indenizando-os, transformou-o em coisa pblica. Estavamdadas, assim, as condies para um contnuo e aceleradodesenvolvimento que, por longo tempo, excluiu qualquerretrospectiva.
A primeira vez que uma imagem foi fixada em uma placa de metal foi em
18263, por Nicphore Niepce, que reuniu os princpios pitcos conhecidos e
conseguiu a partir de processos qumicos, dar incio ao que seria a habilidade
mecnica e no mais manual de o homem retratar o seu meio. Qualquer
inveno condicionada, por um lado, por uma srie de experincias e deconhecimentos anteriores e por outro, pelas necessidades da sociedade.
(FREUND, 1995, p.37). Naquele momento, Niepce reuniu estas duas
condies e conseguiu, atravs de estudos que estavam sendo feitos h
muitos anos, resultados como construir cinco cmaras fotogrficas que hoje se
encontram no Museu Niepce, na Frana. Essas cmeras ainda eram bem
amadoras quanto ptica, mas deram os passos para o desenvolvimento da
tcnica fotogrfica.
A fotografia era a juno da automao de um lado e do
desenvolvimento de tcnicas para sua fixao de outro. Santaella (1998, p.307-
308) explica que:
3 A cronologia referente histria da fotografia seguir nesta dissertao FREUND, G.Fotografia e sociedade. Mafra: Veja, 1995. 214p. (Comunicao & Linguagem).
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a fotografia no nasceu de uma inveno sbita, pois ela afilha mais legtima da cmara obscura, to popular noQuatrocento, cujo aperfeioamento permitiu estender aautomatizao at a prpria inscrio da imagem, afastandodo pintor a tarefa de nela colocar a sua mo. O que faltava
cmara obscura eram um suporte sensvel luz para acaptura automtica da imagem, de um lado, e o negativo paraa automatizao da reproduo dessa imagem original, deoutro. Ambos chegaram com a fotografia.
Os resultados conseguidos por Niepce foram aperfeioados por seu
scio Daguerre4 que, com o instrumento que levava o seu nome,
daguerretipo, soube adentrar com sua inveno nos meios burgueses e
intelectuais franceses e, aps quinze anos da primeira imagem ser fixada por
Nipce (FREUND, 1995, p.38), a fotografia tornou-se conhecida do pblico. Por
um projeto de lei o Parlamento francs adquiriu a inveno e seguindo o curso
de interesse pelo progresso, a fotografia foi disposta humanidade, podendo
ser explorada e aperfeioada por qualquer pessoa que possusse condies
para isso. A obra de Niepce por um tempo foi totalmente posta na autoria de
Daguerre que, por sua vez, soube mostrar ao mundo o que tinha conseguido.
Segundo Sougez (2002, p. 57):
Daguerre, diametralmente oposto ao calado e tmido Niepce,trouxe o lado mercantilista e espectacular, com um processocuja originalidade lhe era prpria e no teria muito futuro, jque se tratava de algo dispendioso, de difcil manipulao eque produzia apenas uma nica prova, no multiplicvel.Apesar dos seus defeitos, o daguerretipo que no era maisque uma variante do processo propagou-se pelo mundo,abrindo definitivamente o caminho fotografia.
O daguerretipo, conforme escreve Sougez (2002), abriu caminho para
as aspiraes da burguesia liberal da poca e foi adotado justamente por
satisfazer alguns de seus desejos. O desenvolvimento da fotografia caminhou
de forma rpida e muitas vezes, simultaneamente em diversos lugares5. A
4Daguerre se associou a Niepce em 1829, segundo Sougez (2001). Fizeram experimentosjuntos at a morte de Niepce, em 1833. Daguerre era conhecido por seu diorama, espcie deteatralizao de cenas onde usava-se jogos de luzes e conhecimentos de perspectiva para dara impresso de que se contemplava cenas reais de lugares.5 Um exemplo dessa simultaneidade a descoberta da fotografia no Brasil, maisespecificamente na vila de So Carlos, atualmente Campinas SP, por Hrcules RomualdFlorence, um desenhista francs que chegou ao Brasil em 1824. Florence um caso de
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necessidade que a nova burguesia, como classe, tinha de ser representada
contribuiu imensamente para que a fotografia fosse um dos elementos
preferidos afirmao de poder material. Na Grande Exposio da Indstria
em 1855, na Frana, a fotografia foi levada para camadas sociais diferentes, j
que at aquele momento era conhecida do pblico, mas esse pblico seresumia a intelectuais, artistas e cientistas. Pessoas famosas conhecidas
apenas do grande pblico distncia, podiam ser vistas ali congeladas em um
momento que acontecera, um momento de suas vidas. Segundo Freund (1995,
p.68):
Nas exposies o pblico comprimia-se face s inmerasfotografias de gente eminente e de celebridades. Devecompreender-se o que significava, para a poca, o facto de se
ter face aos olhos, de repente, personalidades que at entoapenas de longe era possvel admirar.
A fixao da imagem em um suporte bidimensional na sociedade
industrial tornava-se definitiva no sentido de um novo modo de conhecimento,
olhar-se a si mesmo e ao mundo com os olhos da realidade, do progresso que
transforma a natureza. Com o desenvolvimento do sistema capitalista, as
cidades foram inundadas por gente de todas as partes buscando vender sua
mo-de-obra e fazendo mover a mquina econmica e industrial, organizando-
se de forma homognea ao novo sistema urbano. Como em todas astransformaes, as classes dominantes tinham como objetivo impor suas
formas de olhar o mundo. A se inclui a fotografia e seu carter de veracidade.
H muito tempo o homem vinha buscando um modo de gravar fielmente o que
via. O que apenas era feito atravs da pintura perpetuar uma imagem
conforme era almejava-se fazer sem esta, ou seja, usar uma nova tcnica e
uma nova tecnologia. Este anseio foi suprido pela fotografia a partir do
momento em que as pessoas perceberam que atravs dela poderiam se
apropriar de um pequeno instante do mundo, assim como se tornarem imortaisem um pedao de papel.
investigador autodidata que, entre suas invenes est a zoophonie, que o estudo das vozesdos animais. Em 1832 , procurando recursos para impresso grfica, realizou pesquisas paraencontrar alternativas de impresso atravs da luz solar para reproduzir de forma mais fcil eeconmica textos e imagens. Denominou seu invento de Photografie. Sobre Florence, BorisKossoy fez um trabalho intitulado Hrcules Florence 1833: a descoberta isolada da fotografiano Brasil,publicado em 1976.
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Adaptando-se sociedade moderna do sculo XIX, a fotografia reunia
num s elemento o poder de o homem comum ver-se a si mesmo, e o poder de
o fotgrafo intervir no meio em que atuava. Nesse mbito, a fotografia expressa
os anseios da poca a partir da relao fotgrafo/fotografado. Para Costa &Silva (2004, p.17):
A situao da fotografia no sculo XIX foi realmente invulgar.A natureza transformava-se constantemente, impulsionadapelas necessidades do capital. A fotografia referendouinternamente essa dinmica, na medida em que o projeto dedesenvolvimento da perspectiva, subjacente ao cdigofotogrfico, encontrou identidade nos rumos impostos natureza.
A indstria da fotografia se instalava a cada dia em todos os lugares daEuropa e da Amrica e reuniu a arte da pintura e seus cdigos estticos com a
nova tcnica e arte que estavam surgindo e, num primeiro momento, pintores e
fotgrafos tinham espaos muito prximos, um, usando a fotografia como
modelo para suas pinturas e outro copiando poses da pintura para agradar a
seus clientes. A fotografia desde sempre foi o que o fotgrafo queria mostrar, e
o que queria o desejo das pessoas, o que fez seguir ainda mais a lgica de
grande reprodutibilidade que a cercava, segundo Granjeiro (2000, p.17):
a vontade de reproduo da prpria imagem ajudou a difundire legitimar a tcnica fotogrfica pela sociedade. A fotografiapassou, assim, a fazer parte de um campo milenar designificados; a figurar como tcnica para as representaes davida ao lado dos bustos esculpidos, das moedas cunhadascom a esfinge de seu proprietrio, das telas a leo e daspinturas no fundo das cavernas.
Os estdios e atelis fotogrficos funcionavam com enorme fora, mas o
objeto to desejado ainda era possudo por poucos por causa de seu preo,conseqncia das dificuldades encontradas para reproduzir uma imagem. A
fotografia encontrou um grande popularizador na figura de Disderi, um
comerciante que, tendo adquirido seu estdio fotogrfico, como muitos outros
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em busca de fortuna na poca, reduziu o formato das cpias criando o carte de
visite6
Substituiu a placa de metal pela de vidro, o que o permitiu fazer vrias
cpias e como conseqncia, os preos das fotografias foram reduzidos, dandoaos menos abastados o poder de tambm se sentirem importantes e imortais
atravs de um retrato (FREUND, 1995). Disderi prope em seu trabalho um
tratamento totalmente comercial s fotografias. Eram adaptadas ao gosto dos
clientes, sendo usados muitos artifcios para que as atenes se voltassem
para seu comrcio.
Disderi representa [...], o prottipo do fotgrafo industrial,disposto a usar todos os truques ao seu alcance para adular eseduzir a clientela. A relao pessoal fotgrafo/fotografado,que est na base das obras dos artistas fotgrafos, substituda pela relao puramente mecnica entre o homeme a mquina instaurada por Disderi. (FABRIS, 1991, p.20).
A fotografia que at aquele momento era produzida com toques
artsticos por fotgrafos como Le Gray e Nadar7, substituda pela fotografia
comercial e estes artistas fotgrafos ou se adaptavam nova realidade ou
perderiam como houve casos seus estabelecimentos e clientela. Portanto,
Disderi e sua inveno mudaram significativamente o papel da fotografia
quando:
coloca ao alcance de muitos o que at aquele momento foraapangio de poucos e confere fotografia uma verdadeiradimenso industrial, quer pelo barateamento do produto, quer
6De formato reduzido, 6X9, o carto de visita d a possibilidade ao fotgrafo de, numa mesmachapa, poder fazer oito cpias de preo muito reduzido para a poca, sobre este fato Fabris(1991, p. 20) comenta: O carto de visita supre a ausncia de retrato nas classes menosfavorecidas, mas sua difuso capilar a alta burguesia ope uma srie de estratgias dediferenciao, negadoras da multiplicidade. Alm de dirigir-se aos artistas fotgrafos, a elite
social continua a privilegiar o daguerretipo at a dcada de 60 e passa a preferir em seguida afotografia pintada, que garante a fidelidade da fotografia e a inteligncia do artista, comoafirma uma revista contempornea.7Nadar foi um jornalista, caracaturista e intelectual que viveu na segunda metade do sculoXIX em Paris. Montou seu estdio fotogrfico que era recanto de intelectuais e gente influente,pois era bastante famoso entre eles. Seus retratos em especial no eram feitos com artifcios esim em fundo branco, mostrando o carter de quem est sendo fotografado e a viso dofotgrafo ao dispo-lo de tal maneira. Le Gray tambm primava suas fotografias com expressesartsticas, talvez por estar mais ligado pintura e arquitetura e seu estdio era moda entre osintelectuais franceses assim como o de Nadar, que alis ficavam prximos. Sobre Le Gray eNadar ver: SOUGEZ, M.L. Histria da fotografia. Rio de janeiro: Relume Dumar, 2002, 314p.
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pela vulgarizao dos cones fotogrficos em vrios sentidos(FABRIS, 1991, p.17).
Disderi utilizava acessrios para que as fotografias fossem compostas
ao gosto do cliente, assim, ele tinha cenrios para cada tipo, cada arqutipo
como o artista, o escritor, o militar, a dama etc. Dessa maneira, ao contrrio deNadar que privilegiava a expresso, os retratos de Disderi contavam com a
aparncia, a cena montada para mostrar no o carter mas o que havia de
externo, ou seja, uma cena a fim de forjar uma determinada aparncia. Os
cartes de visita foram usados durante muitas dcadas e, segundo Sougez
(2002), alm das fotografias particulares um enorme comrcio de fotografias de
pessoas famosas tambm foi montado usando a facilidade do carto de visita.
O ateli de Disderi no durou muito tendo este ficado pobre, porm, seus carte
de visite tiveram fundamental importncia comercializao e propagao defotografias.
O poder informativo e propagandstico da fotografia cada vez mais vo
sendo utilizados, tanto que, por volta de 1855, usada para registrar pela
primeira vez uma guerra, a Guerra da Crimia, por Roger Fenton8. Suas
funes documentria e manipuladora so nitidamente percebidas, pois as
fotografias de Fenton no se pareciam em nada com os relatos de crueldade
da guerra e sim mostravam uma guerra limpa, sem retratar realmente oconflito ao pblico (FABRIS, 1991, p.24)9.
Se havia dvidas quanto importncia do aparecimento da fotografia,
elas foram elucidadas quando as inovadoras possibilidades de informao,
expresso artstica e formas de comercializao comearam, num rpido
processo, a dar vistas de que funcionam atravs desta. Podia-se explicitar as
vrias culturas, povos, modos de viver e vestir, arquitetura, atravs de um
simples pedao de papel, e esse poder de ter o mundo em suas mos de forma
miniaturizada, dado vertiginosamente pelo carto postal ilustrado que, num
8Roger Fenton considerado o primeiro reprter que fotografou uma guerra. Estudou pintura eadvocacia e depois da guerra se dedicou a retratar paisagens buclicas. (SOUGEZ, 2002).9Ver ESSUS, Ana Maria Mauad de Souza Andrade. O olho da Histria: anlise da imagemfotografia na construo de uma memria sobre o conflito de Canudos. Acervo: revista doArquivo Nacional, v.6, n.1/2, jan./dez., 1993. p.25-40.
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mundo onde tudo se modificava rapidamente deu a sensao ao homem de
poder colecion-lo antes de desaparecer e de poder visualizar lugares antes
apenas narrados oralmente ou atravs da escrita10. Com os cartes postais o
suposto processo de auto conhecimento atravs da imagem foi mais
aprofundado, podendo-se tambm conhecer o seu meio e t-lo a seu lado aqualquer momento. Segundo Fabris (1991, p.35):
Instrumento de democratizao do conhecimento numasociedade liberal, que acredita no poder positivo da instruo,o carto postal leva s ltimas conseqncias a missocivilizadora, conferida fotografia pela sua capacidade depopularizar o que at ento fora apangio de poucos. Aviagem imaginria e a posse simblica so as conquistas maisevidentes de uma nova concepo de espao e de tempo, queabole as fronteiras geogrficas, acentua similitudes edissimilitudes entre os homens, pulveriza a linearidadetemporal burguesa numa constelao de tempos particulares e
sobrepostos.
Embora se sabendo tratar apenas de uma representao do real, a
fotografia adquire verdadeira credibilidade quanto a suas imagens e, graas
aos registros constantes e experincias fotogrficas, grande parte do que
conhecemos hoje de pequenos e breves momentos passados cidades,
povos, ou seja, tudo o que foi registrado a partir do aparecimento da fotografia
so, alm de recordaes, documentos histricos que nos mostram, aliados a
outras formas de expresso, importantes momentos que devem ser conhecidos
para se tornarem objetos que preservem a memria ou sirvam de estudos para
esta ser construda. Diante disso, sua funo documental era exercida
deliberadamente pela sociedade oitocentista, onde, Costa & Silva (2004, p.18)
comentam que:
No de estranhar, portanto, que a preocupao com adocumentao transparea na maior parte da produofotogrfica do sculo XIX. Havia a inteno explcita dedocumentar o mundo e represent-lo em suas variveis
sociais e materiais. O espao urbano e os tipos humanosforam os principais temas registrados.
10Segundo Sontag (1981, p.15): A cmara comeou a duplicar o mundo no momento em quea paisagem humana passou a experimentar um ritmo de transformao vertiginoso: enquantoum nmero incontvel de manifestaes da vida biolgica e social est sendo destrudo embreve espao de tempo, surge um invento capaz de registrar o que est desaparecendo.
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Dentro da histria da tcnica fotogrfica, esta continuou se
desenvolvendo rapidamente chegando ao lanamento da Kodak, famosa
mquina porttil que prometia e realmente cumpria o desejo de sem a ajuda de
um fotgrafo profissional, que as pessoas comuns pudessem apenas apertar o
boto para eles fazerem o resto. Era a popularizao do registro fotogrficoem esfera pblica e privada, tornando-se documentos, lembranas e objetos
ideolgicos de forma massificada. A partir desse momento a fotografia j no
era sonho para alguns e sim poder de todos e isso o que vemos hoje. Uma
forma de comunicao visual que se estende por todos os lugares e nos faz ver
a todo momento imagens comuns, elaboradas, cruis, feitas por profissionais e
amadores, com intenes definidas ou por acaso. A histria da fotografia,
enfim, ainda no terminou, pois tem-se a tecnologia e os novos modos de se
construir e preservar imagens. uma histria que est sendo contada todos osdias e por isso merece ateno e devida importncia. So registros, que vo
sendo produzidos e acumulados e por vezes perdidos, mas quando ls so
dados o valor de documento, tornam-se valiosos objetos que, ao longo de sua
histria, vo se tornar afetivas recordaes de famlias ou importantes
documentos que expliquem um pouco de cada poca.
Seguindo pela trilha da historiografia, esta nos leva, dentro de nossa
discusso, a considerar o entendimento dos caminhos do documento
fotogrfico que , sem sombra de dvidas, um elemento que pode trazer para o
presente vestgios do passado.
1.4 Os caminhos do documento fotogrfico
A contribuio da fotografia para a historiografia tamanha,
considerando que desde seu incio ela foi vista como uma forma de registrar a
realidade e os acontecimentos e, durante seu desenvolvimento econsequentemente toda a sua histria, esteve totalmente atrelada
cientificidade tanto dos experimentos como de suas imagens produzidas
atravs de processos qumicos. No entanto, em alguns momentos a fotografia
foi posta de lado como testemunho e foi utilizada apenas com o intuito de
ilustrar o que estava escrito.
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Apresentando-se em forma de registro de uma realidade humanizada
pela presena do ser humano no ato fotogrfico sua referencialidade versus
subjetividade a fotografia apresenta seu carter contraditrio, ambguo e at
mesmo precrio, como aponta Scharffer (1996). Sua produo e recepo deum lado nos levam a uma abordagem subjetiva e de outro, prtico, o que a faz
agir de vrios modos na histria, sendo uma delas como documento,
transpondo para um suporte bidimensional a realidade e atestando fatos e
pessoas.
Historiadores e pesquisadores que trabalham com documentos
fotogrficos nos do alguns motivos para a rejeio em usar a fotografia como
um documento histrico pleno de informaes e significados. Kossoy ( 2001,
p.30), expe duas razes para este fato sendo a primeira de ordem cultural
ou seja, a supervalorizao de nossa tradio escrita impediria que se visse a
fotografia como fonte confivel de estudos e a segunda seria que:
A informao registrada visualmente configura-se num srioobstculo tanto para o pesquisador que trabalha no museu ouarquivo como ao pesquisador usurio que freqenta essasinstituies. O problema reside justamente na resistncia em
aceitar, analisar e interpretar a informao quando esta no transmitida segundo um sistema codificado de signos emconformidade com os cnones tradicionais da comunicaoescrita. (KOSSOY, 2001, p.30).
O no uso da fotografia como documento viria, portanto, para Kossoy,
de uma tradio livresca e resistncia como se resiste a tudo que novo
por parte tanto dos pesquisadores como dos usurios. Essa resistncia no
seria estranha se considerarmos o medo e a insegurana que a imagem
fotogrfica trouxe em seus primrdios. A opinio de Kossoy pode ser
contraposta justificativa de Miguel (1993, p.122), onde afirma que:A ausncia da utilizao da fotografia em seus primrdioscomo documento decorreu, por um lado, dos limitesdeterminados pelo seu desenvolvimento tecnolgico querestringiam as chamadas fotografias espontneas e impunhamas fotografias posadas, renegadas por historiadores queconsideravam meros instantes congelados da realidade, semvalor informativo de prova e decorreu, por outro lado, da
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escrito na produo de suas narrativas. O uso daemblemtica, sada da filatelia e da numismtica, bem como oemprego das pinturas de histria ajudaram-lhes a sustentaruma noo de Histria calcada na idia de verdade semmcula.
Mas, sabendo que uma imagem muitas vezes no o que mostra, sua
subjetividade e ambigidade so fatos que no passam despercebidos,
historiadores resolveram usar como documento, segundo Borges (2003, p.28),
apenas aqueles cujas imagens fossem fruto do aprendizado das academias de
pintura , como acima j visto, isto tambm confirma que tudo o que representa
a natureza numa superfcie que tenha altura e largura, a verdade absoluta e
incontestvel, pois comprovada pela cincia.
A fotografia possua caractersticas que no iam de encontro ao conceitode documento histrico do grupo tradicional na historiografia positivista, sua
capacidade de registro aliada ambigidade e subjetividade das imagens no
permitiam ainda que fosse inclusa no rol de documentos e dependia de uma
nova viso sobre o mtodo e o paradigma histrico.
Entretanto, ao final do sculo XIX vrias transformaes acerca do
pensamento filosfico e cientfico formulam dvidas e inquietaes a respeito
do conceito de documento e acabam abrindo portas para uma crtica culturado documento escrito e iniciando um debate que contempla outras fontes
documentais, inclusive a fotografia. As mudanas que estavam acontecendo na
sociedade de forma geral, se fechavam cada vez mais aceitao sem
perguntas dos documentos em seu carter verdico e se abriam para
interpretaes e reflexes que no aceitavam os fatos como eles eram e sim
buscavam significados atrelados s aes dos homens com seu meio e com o
prprio homem, o que deixa a objetividade e o racionalismo tambm poderem
visualizar a subjetividade e interpretao dos fatos, considerando posiessociais, crenas, mitos, relaes culturais, etc. Segundo Borges (2003, p.35):
Com essas alteraes no e do pensamento, estavam abertasalgumas portas para o estabelecimento de um novo conceitode realidade, de cincia histrica, de mtodo de pesquisa e,sobretudo de documento histrico. As imagens visuais
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estava muito diferente de apenas cinco dcadas atrs. Na viso de
pesquisadores e historiadores a fotografia estava sendo considerada pela
participao e registro das mudanas sociais, polticas e industriais de todas as
pocas, funo j desenvolvida em seu incio, mas que somente naquele
momento adquiria reconhecimento.
Amplamente veiculada pela imprensa, a fotografia entrou de modo
definitivo na vida e no cotidiano de todas as pessoas com um enorme poder de
comunicao e, principalmente, fazendo com que participemos dos
acontecimentos tanto mundiais quanto particulares, sendo usada para criar e
fazer a seu modo e com sua linguagem uma memria fotogrfica.
E, o mundo imagem como explica Sontag (1981), se consolidou.Atravs da cmara podemos escolher entre o real e o imaginrio, entre a
representao e o concreto:
uma sociedade torna-se moderna quando uma de suasprincipais atividades passa a ser a produo e o consumo deimagens, quando as imagens, que possuem poderesextraordinrios para determinar nossas exigncias comrespeito realidade e so elas mesmas substitutas cobiadasda experincia autntica, tornam-se indispensveis boasade da economia, estabilidade poltica e busca dafelicidade individual. (SONTAG, 1981, p.148).
O desejo de consumo daquelas pessoas dos primeiros tempos por suas
imagens em retratos parece muito simples se compararmos com a facilidade e
o consumo exagerado de imagens que temos disposio atualmente. A
lgica de reprodutibilidade incessante e massificao se consolidou totalmente
atravs da fotografia a tal ponto de nossos desejos serem realizados ou ao
menos expurgados atravs de uma foto. O efeito catrtico produzido com
muitas finalidades e objetivos.
Estes fatos fizeram com que pesquisadores refletissem muito mais sobre
as representaes fotogrficas existentes, procurando metodologias e modos
de decifr-las para com isso obterem uma contribuio rica em significados e
informao, como nos explica Borges (2003, p.80):
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Hoje no mais se duvida da natureza polissmica da imagem,da variabilidade de sentidos de suas formas de produo,emisso e recepo. Sabe-se que uma imagem visual umaforma simblica cujo significado no existe per si, quer dizer,l dentro, como coisa dada que pr-existe ao olhar, inteno de quem o produz. Vista sob essa tica, ela deixa deser espelho ou a duplicao do real, como queriam oshistoriadores da historiografia metdica. Apresenta-se comouma linguagem que no nem verdadeira nem falsa. Seusdiscursos sinalizam lgicas diferenciadas de organizao dopensamento, de ordenao dos espaos sociais e de mediodos tempos culturais. Constituem modos especficos dearticular tradio e modernidade. Por tudo isso, sabe-se queuma dada imagem uma representao do mundo que variade acordo com os cdigos culturais de quem a produz.
Vemos, desse modo, que no s a fotografia, mas todos os documentos
so fragmentos do real, representaes que correspondem realidade, mas
tambm tm a ver com as intenes, com o contexto e com o momento e as
condies em que foram produzidos. Esses caminhos oferecidos para a
construo do passado, nos levam a considerar fatores como a
contextualizao do documento fotogrfico e o saber interrog-los (BLOCH,
1965), para que estes nos possam ser teis com suas informaes histricas.
Possibilitando fragmentos visuais, a fotografia serviu e serve para
inmeros interesses por parte de seus produtores, pesquisadores econsumidores. O avano tecnolgico com que se desenvolveu, proporcionou
diferentes objetivos e ideologias que se concretizaram atravs dela. Hoje, mais
do que nunca, uma fotografia nos conecta com o mundo, com diferentes temas,
e quase sempre nos faz acreditar no que nos mostram. Essa herana de
credibilidade, que para sempre ser carregada e a manipulao a que
instrumento suas legendas, textos, informativos nos do um amplo leque de
exemplos de sua utilizao e mostram a sua consolidao tambm como um
documento em nossa sociedade. Quase tudo fotografado e mostrado pelasimagens nos dando a possibilidade de confirmamos e atestarmos fatos atravs
delas.
Para no ser meras ilustraes como no passado foram,
fotografias tm de ser contextualizadas e, consideradas importantes
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documentos que, como todos os documentos foi tendo seu sentido e conceito
modificado e ampliado ao longo do tempo e que, junto a outras fontes, um
elemento de construo da memria, da ideologia, de revolues culturais, que
devem ser decifradas adequadamente.
1.5 A crtica do documento fotogrfico
Lembrana de fatos passados, objeto de pesquisa, instrumento para
construo de memria, documento. Tudo isso a fotografia pode ser e, ao
mesmo tempo, anular essas caractersticas e servir a outros objetivos. Em suas
mltiplas facetas, a fotografia nos d o que est ali, imvel, retrata exatamente
o seu referente agindo como espelho e sendo objetivamente passvel de uma
identificao imediata. O documento fotogrfico sempre ir representar algo,
a imagem de um objeto concreto que est muito prximo de quem a est
analisando e, por este motivo passvel de manipulao por parte de quem fez
a fotografia e de quem a v. Procurar um significado prprio de um documento
fotogrfico implica em a todo o momento se deparar com a referencialidade e
com a subjetividade. Dentro de uma perspectiva totalmente objetiva a fotografia
identificada no momento em que vista, proporciona a sensao de que a
compreendemos totalmente com um rpido olhar, o referencial est
inteiramente mostrado e no se precisa de um intermedirio para compreend-lo. Contudo, existe o contedo dessa fotografia, a interpretao que se torna
latente e, s vezes de forma quase imperceptvel a estamos interpretando e
dando nossa opinio, vendo o que est de acordo com nossas experincias,
quando olhamos uma fotografia, no ela que vemos, mas sim outras que se
desencadeiam na memria, despertadas por aquela que se tem diante dos
olhos, (LEITE, 2001, p. 145). Assim, se estabelece um duplo conceito do que o
documento fotogrfico pode mostrar e principalmente informar ao pesquisador
e a quem est trabalhando com ele para disponibiliza-lo. Sontag (1981, p.220),explicita de um modo bem particular essa tenso que se desloca ora ao objeto
como referencial ora interpretao que se faz de forma subjetiva: A
fotografia, na verdade incapaz de explicar o que quer que seja, um convite
inexaurvel deduo, especulao e fantasia.
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lado, a fotografia enquanto algo que se oferece ao nosso afeto (BARTHES,
1984), como um detalhe que nos transpassa existencialmente. A importncia
da descrio de uma fotografia est em que sempre ser ambgua, levando
quem a analisa a descrever objetivamente seus elementos (studium), mas
tambm ser influenciado por sua cultura, suas influncias e por seussentimentos no momento em que olhar a foto (punctum). O punctum seria,
portanto dentro da prpria obra de Barthes o obtuso e conseqentemente o
studium o bvio de uma fotografia.
Atuando como um meio onde podem ser reestruturados os
comportamentos e as representaes sociais de indivduos de diferentes
pocas, os documentos fotogrficos necessitam de contextualizao e mtodos
que dirijam a uma interpretao correta face s pessoas que precisam e
trabalham com eles. Kossoy (1993, p.14) nos alerta que:
Assim como as demais fontes de informao histricas, asfotografias no podem ser aceitas imediatamente comoespelhos fiis dos fatos. Assim como os demais documentoselas so plenas de ambigidades, portadoras de significadosno explcitos e de omisses pensadas, calculadas, queaguardam pela competente decifrao. Seu potencialinformativo poder ser alcanado na medida em que esses
fragmentos forem contextualizados na trama histrica em seusmltiplos desdobramentos (sociais, polticos, econmicos,religiosos, artsticos, culturais) que circunscreveu no tempo eno espao o ato da tomada do registro. Caso contrrio essasimagens permanecero estagnadas em seu silncio:fragmentos desconectados da memria, meras ilustraesartsticas do passado.
O trabalho com documentos fotogrficos suscita dvidas e adaptaes
que exigem dos profissionais empenho e uma busca pelo melhor caminho a
seguir. De acordo com as reflexes de Barthes, Smit (1987, p. 102) afirma que
A descrio de uma imagem nunca completa pois quem trabalha comfotografias sempre ir se deparar com a conotao, sua interpretao e
herana cultural, que influem em muito na descrio de um documento. No
entanto, o profissional envolvido na tarefa de tratar o documento fotogrfico
tem de ser muito objetivo para que suas informaes no sejam
desperdiadas. Segundo Smit (1987, p. 106):
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O bibliotecrio acostumado a analisar documentos escritostende, invariavelmente, a analisar fotografias atravs determos abstratos preponderantemente, esquecendo que aimagem dificilmente significa, de forma unvoca, um termoabstrato. Se, em documentao escrita, a utilizao de termos
abstratos geralmente significa uma medida de economia geral(um termo abstrato resume vrios concretos), a imagem nosleva a uma realidade diametralmente oposta: o termo abstratolimita o significado de uma imagem, fixando uma leitura emdetrimento de inmeras outras.
Ou seja, ao se passar o documento fotogrfico de imagem para palavras
h o que Smit (1987) chama de transcodificao, a passagem de uma
linguagem para outra. A linguagem verbal muito mais abstrata do que a
imagem em si, pois fala da imagem ou fala a imagem, verbalizando-a e
induzindo o consulente a pensar a imagem conforme sua legenda. Aopensarmos na imagem de forma verbal damos incio ao tratamento desta para
que tenha um sentido, para que seja traduzida, mas, esse tratamento no
passvel de revelar, de forma completa sua visualidade. A palavra em si no
consegue manter o visvel e sim o imaginvel do documento fotogrfico.
Contudo, no se consegue pensar uma imagem sem verbaliz-la e isso o que
sustenta sua representatividade e referencialidade.
Muito foi acrescido e mudado desde os primrdios da fotografia atagora mas os fatos que marcaram seu desenvolvimento fez com que no
presente entendssemos como a busca pelo momento perdido e sua
eternizao so as misses da fotografia, com isso passamos a outros tantos
usos e funes (FABRIS, 1991) que lhe so atribudas. A imagem fotogrfica
informa e comunica como qualquer outro documento mas, tem de ser
contextualizada e utilizada com um objetivo para que possa oferecer o mximo
de seus sentidos. O documento fotogrfico, atravs do processo de descrio
e, podemos nos arriscar a falar de leitura de seus elementos, torna-se visvelde forma verbal, diferente da visibilidade em sua forma original, e essa troca
de linguagem que tentamos entender no mbito da descrio desses
documentos. Como as normas vigentes em bibliotecas e arquivos podem
englobar objetos to singulares como as fotografias. Ela se diferencia das
demais representaes grficas e pictricas por uma srie de fatores e, para o
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2.1 A descrio
A credibilidade que o pensamento cientfico alcanava no sculo XIX foi
um dos alicerces para que a Revoluo Cientfica fosse feita. Os inventos que
surgiam na poca, como as mquinas, eram palpveis e assim poderiam
confirmar o sucesso que as atividades cientficas estavam tendo em
desenvolver tcnicas que ajudassem a controlar e superar a natureza. No final
do sculo XIX aflorou-se um caminho amplo para o progresso cientfico, dessa
forma, a cincia tornou-se um conjunto de descries, interpretaes, teorias,
etc, que visam o conhecimento de uma
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