Catalogação e Descrição de Documentos

download Catalogação e Descrição de Documentos

of 181

Transcript of Catalogação e Descrição de Documentos

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    1/181

    unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTAJLIO DE MESQUITA FILHO

    Faculdade de Filosofia e Cincias

    ANA CRISTINA DE ALBUQUERQUE

    CATALOGAO E DESCRIO DE DOCUMENTOSFOTOGRFICOS EM BIBLIOTECAS E ARQUIVOS:

    uma aproximao comparativa dos cdigosAACR2 e ISAD (G).

    Marlia2006

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    2/181

    unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTAJLIO DE MESQUITA FILHO

    Faculdade de Filosofia e Cincias

    ANA CRISTINA DE ALBUQUERQUE

    CATALOGAO E DESCRIO DE DOCUMENTOSFOTOGRFICOS EM BIBLIOTECAS E ARQUIVOS: uma

    aproximao comparativa dos cdigos AACR2 e ISAD (G).

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao daFaculdade de Filosofia e Cincias da UniversidadeEstadual Paulista como requisito para a obtenodo ttulo de Mestre em Cincia da Informao.

    Orientador:Dr. Eduardo Ismael Murguia

    Marlia2006

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    3/181

    Albuquerque, Ana Cristina de.

    A345 Catalogao e descrio de documentos fotogrficos: umaaproximao comparativa dos cdigos AACR2 e ISAD (G)/

    Ana Cristina de Albuquerque. Marlia, 2006.

    188 f. ; 30 cm.

    Dissertao (Mestrado em Cincia da Informao )

    Faculdade de Filosofia e Cincias, Universidade EstadualPaulista, 2006.

    Bibliografia: f. 183-195Orientador: Eduardo Ismael Murguia.

    1. Descrio Bibliogrfica. 2. Descrio Arquivstica. 3.

    Documento Fotogrfico. I. Autor. II. Ttulo.CDD 025.3

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    4/181

    ANA CRISTINA DE ALBUQUERQUE

    CATALOGAO E DESCRIO DE DOCUMENTOSFOTOGRFICOS EM BIBLIOTECAS E ARQUIVOS: uma

    aproximao comparativa dos cdigos AACR2 e ISAD (G).

    BANCA EXAMINADORA:

    DEFESA

    ________________________________________Dr. Eduardo Ismael Murguia (Orientador)

    Faculdade de Filosofia e Cincias Unesp/Marlia

    ________________________________________Dr. Solange Ferraz de Lima

    Museu Paulista USP/So Paulo

    ________________________________________Dr. Maringela Spotti Lopes Fujita

    Faculdade de Filosofia e Cincias Unesp/Marlia

    Marlia, 29 de agosto de 2006.

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    5/181

    Dedico este trabalho minha famlia, Antonio, Olivia eKarina, pelo apoio de sempre e por todos os momentos que

    passamos durante a realizao deste trabalho.

    Ao Jefferson, pelo amor em todos os momentos.Com amor, a vocs.

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    6/181

    Agradecimentos

    As pessoas a quem agradeo aqui so companheiros que vm trilhando um

    caminho onde estamos juntos desde que entrei na faculdade. Fico feliz de, ao finaldesse trabalho, perceber que estou perto de minhas melhores amizades, pessoas

    que compartilharam comigo muitas alegrias, dificuldades, momentos ruins, e

    outros muito bons, e que ainda somos amigos, mais maduros, talvez diferentes,

    mas estamos sempre juntos. Pessoas que tornaram minha vida em Marlia mais

    feliz. Agradeo ento a todos e em especial:

    CAPES, pelo apoio financeiro para o desenvolvimento dessa dissertao de

    mestrado.

    banca, Solange Ferraz, uma feliz surpresa que contribui muito com o trabalho e

    Maringela Spotti Lopes Fujita, minha professora durante a graduao e por

    quem tenho muita admirao e respeito.

    Ao meu querido orientador Eduardo, que tive a imensa sorte e alegria de conviver

    todos esses anos no s como orientanda, mas tendo a oportunidade de construiruma amizade que, se depender de mim, ainda vai durar muito tempo. Obrigada

    pelo apoio, pela amizade e principalmente por acreditar em mim. Voc sabe que

    eu te amo...

    Especialmente minha irm Karina, pela compreenso, companhia, amizade e

    cuidados nas horas que mais precisei.

    Llian, por sempre estar pronta a ajudar, pela amizade e pelos bons momentos

    morando juntas.

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    7/181

    Aos meus amigos e companheiros de UNESP, Tatiane Pacanaro e Rodrigo

    Rabelo, acima de tudo por poder contar com vocs, por serem to amigos e por

    termos passado juntos uma graduao e agora a ps. bom ter vocs aqui.

    minha amiga de sempre Ligia, e toda sua famlia, pelo apoio e carinho.

    Bia, pelo carinho, por ser uma pessoa linda e por tambm ainda estar aqui, as

    coisas ficam mais fceis quando temos amigos por perto.

    Ludmilla, sempre presente quando pode, pelo carinho e amizade.

    Tininha, por ser uma pessoa maravilhosa.

    todos da biblioteca (que a minha casa tambm) pela ajuda sempre que

    precisei: Luzinete, Ilma, Vnia e Lair, adoro vocs.

    minha querida amiga Lourdes, que tive a felicidade de conhecer no mestrado e

    que um exemplo de mulher.

    Mara, pelas conversas, amizade e ser essa pessoal to boa que .

    Lilica, pelas risadas, ajuda, sempre mando um e-mail desesperado e sempre

    tenho a resposta rapidinho.

    Ao Willy, por quebrar o gelo quando estvamos nervosssimos, pelas risadas e por

    ser moleco.

    Ao Rogrio, Vera, Jane, Fabinho, por t-los conhecido e convivido com vocs.

    A Silvia, pela ateno de sempre.

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    8/181

    s meninas da ps, Mrcia, Edna, Aline por sempre me ajudarem e serem to

    atenciosas.

    E especialmente ao meu amor Jefferson, que passou por uma monografia e por

    uma dissertao ao meu lado. Por todos os momentos bons, pelo amor, carinho e

    apoio, pela compreenso e companheirismo. Como nos nossos planos iniciais,

    estamos passando por mais uma etapa juntos e sua presena foi fundamental

    para que eu conseguisse chegar aqui.

    Obrigada.

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    9/181

    EXEMPLOS

    Exemplo 1 Formato de entrada. Descrio de um documento fotogrfico. Banco

    de dados ATHENA UNESP/SP.Exemplo 2 Pesquisa no Guia de Fundos do Arquivo Pblico do Paran.

    Exemplo 3 Resultado da pesquisa no Guia de Fundos do Arquivo Pblico do

    Paran.

    Exemplo 4 Informao de uma ficha catalogrfica.

    Exemplo 5 Estrutura com informaes contidas na ficha catalogrfica.

    Exemplo 6 Base de dados ATHENA, rea do ttulo.

    Exemplo 7 Descrio da Unidade Documental.

    Exemplo 8 Descrio do documento fotogrfico. Ttulo.

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    10/181

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    11/181

    LC Library of Congress

    MAD2 Manual of Archival Description

    NISO National Information Standards Organization

    PGI Programa Geral de Informao

    RAD Rules of Archival Description

    RAMP Programa de Gesto de Documentos de Arquivo

    RIEC Reunio Internacional de Especialista em Catalogao

    SAA Society of American Archivists

    USMARC US Machine Readable Cataloging

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    12/181

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Campo 245 referente ao ttulo.

    Figura 2: Campo 260, posio de indicadores.Figura 3: Uso de sistemas com o protocolo Z39.50. Fonte: (ROSETTO, 1997).

    Figura 4: Formato de entrada. Base de dados ATHENA. UNESP Marlia/SP.

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    13/181

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 Quadro Estrutura da Descrio do AACR2 (RIBEIRO,

    2004, p. 1-6).

    Quadro 2 Forma Estrutural da ISAD(G).

    Quadro 3 rea de descrio fsica na estrutura do AACR2.

    Quadro 4 rea de condio de acesso e de uso da ISAD (G).

    Quadro 5 Visualizao das reas em arquivos e bibliotecas.

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    14/181

    LISTA DE FOTOGRAFIAS

    Fotografia 1: Exemplo de fotografia em estdio com fundo e luz artificial.

    Fotografia 2: Retrato em plano mdio, de cor spia, estdio, com luz artificial.Fotografia 3: ngulo contraplongee, foto PB.

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    15/181

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    16/181

    ALBUQUERQUE, Ana Cristina de. Catalogao e descrio de documentosfotogrficos em bibliotecas e arquivos: uma aproximao comparativa doscdigos AACR2 e ISAD (G). 2006. 188f. Dissertao (Mestrado) Faculdade deFilosofia e Cincias, Universidade Estadual Paulista, Marlia, 2006.

    Resumo

    A presente pesquisa aborda o documento fotogrfico no mbito de sua descrioem arquivos e bibliotecas. Tem o objetivo de fazer uma possvel comparao entreas normas AACR2, utilizadas para a descrio bibliogrfica nas bibliotecas e anorma ISAD (G) que, por sua vez, o conjunto de regras para que seja obtida adescrio arquivstica. Para tanto, parte-se do conceito de documento, passandopor seu papel nos arquivos e bibliotecas e transitando pela histria da fotografia.Inicialmente o objeto contextualizado para se passar apresentao das regrasdo AACR2 e da ISAD (G), at a catalogao eletrnica que possvel atravs da

    utilizao do formato MARC 21. Desse modo, so descritos alguns dos elementosque o documento fotogrfico traz em sua composio e em seu suporte, pois atravs de suas diversas caractersticas fsicas que se encontram parte daspeculiaridades que instigam inmeras discusses a seu respeito. Diante dareferida base terica, uma anlise panormica das regras expostas durante otrabalho feita a partir dos modos de representao de cada uma: para abiblioteconomia, sua ficha que materializa o ato da descrio e disponibiliza o itemno acervo e, para a arquivologia, seus instrumentos de pesquisa que, da mesmaforma, oferecem aos usurios um quadro no s do material como de todo ocontexto de seu acervo. Por fim, chega-se a uma aproximao de pontos nas duasnormas que merecem ateno e aprofundamento por parte de pesquisadores e de

    profissionais que lidam com o documento fotogrfico. Sob a luz dos princpiosarquivsticos e da teoria do tratamento biblioteconmico, reflete-se sobre adescrio de forma geral e nesta quando aplicada a um documento que carregaparticularidades e alvo de debates que repercutem na sua disponibilizao paraos usurios e em seu estudo de forma geral.

    Palavras-chave: Documento fotogrfico; Descrio bibliogrfica; Descrioarquivstica; Normalizao.

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    17/181

    ALBUQUERQUE, Ana Cristina de. Catalogao e descrio de documentosfotogrficos em bibliotecas e arquivos: uma aproximao comparativa doscdigos AACR2 e ISAD (G). 2006. 188f. Dissertao (Mestrado) Faculdade deFilosofia e Cincias, Universidade Estadual Paulista, Marlia, 2006.

    Abst rac t

    This work boards the photographic document in the scope of its description inarchives and libraries. The objective is to make possible the comparison betweenthe AACR2 rules, utilized for bibliographic description in libraries and the ISAD (G)norm, which are the rules to obtain an archivist description. Departing fromdocument concept, passing by his function in archives and libraries and passing byphotography history. This is the object context in a first moment, leading to thepresentation of AACR2 rules and ISAD (G), until the electronic cataloguing which ispossible by the use of MARC 21 format. This way, some elements of photographicdocument bring in its composition and support is described, because through hisvarious physical characteristics we found part of the particularities that instigatecountless discussions about it. In front of the referred theoric basis, a panoramicanalysis of the present rules is made following the representation ways for eachone: for the librarianship, its cards materialize the description act and makeavailable the item in the collection and, to archival science, its tools of researchwhich, in the same way, offer to the users a view not only of the material but hiscontext in the collection. At last, is reached an approach of points in the two normsworthily attention and a profound study by researchers and professionals workingthe photographic document. Under archivists principles and librarian treatmenttheory, there is a consideration about description in general form and its applicationin a document with peculiarities and when the document is target of discussionsthat reflect in availability to the users an its studies generally.

    Keywords: Photographic document; Bibliographic description; Archivisticdescription; Normalization.

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    18/181

    Sumrio

    INTRODUO...................................................................................................... 20

    CAPTULO I: O conceito de documento e o documento fotogrfico

    1.1 O conceito de documento............................................................................... 27

    1.2 Documentos de arquivos e documentos de biblioteca .................................. 31

    1.3 O documento fotogrfico................................................................................. 38

    1.4 Os caminhos documento fotogrfico .............................................................. 47

    1.5 A crtica do documento fotogrfico ................................................................. 54

    CAPTULO II: O percurso da descrio em arquivos e bibl iotecas

    2.1 A descrio ..................................................................................................... 61

    2.2 A descrio em bibliotecas ............................................................................. 63

    2.3 Catlogos, catalogao e cdigos: distinguindo em um breve histrico ........ 64

    2.4 As regras do AACR2 ...................................................................................... 80

    2.5 A atividade de descrio em arquivos ............................................................ 84

    2.6 Em busca de uma padronizao para a descrio arquivstica ...................... 89

    2.7 As regras e elementos de descrio da ISAD(G) ............................................97

    2.8 A era eletrnica: o formato MARC 21 ........................................................... 104

    2.9 A estrutura do MARC 21 ............................................................................... 110

    2.10 As normas utilizadas pelo formato MARC 21.............................................. 115

    2.10.1 A norma ISO 2709 ................................................................................... 115

    2.10.2 A norma ANSI Z 39.2 ............................................................................... 117

    2.10.3 O Protocolo de comunicao Z 39.50 ...................................................... 117

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    19/181

    2.11 As facetas do formato MARC 21 ............................................................... 119

    CAPTULO III: A descrio dos elementos da fotografia

    3.1 Caractersticas fsicas da fotografia ............................................................. 126

    3.2 Conotao e denotao em documentos fotogrficos ................................. 137

    CAPTULO IV: Um intento de comparao: as normas AACR2 e ISAD (G)

    4.1 Os instrumentos de divulgao da informao ............................................. 144

    4.1.1 Na biblioteconomia: a ficha catalogrfica .................................................. 146

    4.2 Na arquivologia, os instrumentos de pesquisa ............................................. 149

    4.2.1 O guia ........................................................................................................ 150

    4.2.2 O inventrio ................................................................................................ 154

    4.2.3 O catlogo .................................................................................................. 155

    4.3 Elementos constitutivos das normas AACR2 e ISAD (G). Uma possvel

    comparao. ........................................................................................................158

    CONSIDERAES FINAIS ............................................................................... 170

    REFERNCIAS .................................................................................................. 177

    BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................185

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    20/181

    20

    A apresentao da fotografia aos nossos olhos se faz refletindo dois modos

    de realidade: a realidade que se mostra integralmente e sem artifcios, e a

    realidade a que nos remetemos quando olhamos uma fotografia.

    A imagem exterior, essa realidade que vemos estampada em duas

    dimenses em uma fotografia uma busca constante do homem, inicialmente com

    suas tentativas de gravar em paredes de cavernas e em pedras, imagens de

    animais e de si prprios, contornando da maneira que lhes cabia no momento

    suas silhuetas e tendo ali representadas manifestaes que eram reais em suas

    vidas. Durante muitos sculos isso bastou aos homens. At que a perspectiva veio

    para tomar definitivamente o lugar desses desenhos e nos dar a iluso de cenas

    cada vez mais reais exercidas com tcnicas cada vez melhores, onde pintores

    superavam seu talento. O sculo XIX veio trazendo avanos em todas as reas e

    o realismo das pinturas se depara com o novo aparelho que pode produzir e

    reproduzir imagens mais reais e mais exatas, pois capta, atravs de processos

    qumicos e pticos desencadeados pela luz, a mxima realidade, a realidade que

    aconteceu, a realidade que acontece aos olhos do fotgrafo e do fotografado, a

    realidade quase palpvel que a fotogrfica. A partir da a iluso de que tudo o

    que fotografado real passou a fazer parte da vida cotidiana, tanto que olhamos

    e consumimos fotografias por vezes sem pensar nelas, apenas as aceitamos. No

    entanto, diversos fatores foram desencadeados a partir desse importante invento.

    O papel do fotgrafo no neutro, nem o do fotografado, muito menos o de quem

    a observa.

    Aliados ao seu carter documentrio, a fotografia apresenta aspectos

    fsicos e de composio que permitem seu devido tratamento de acordo com

    regras da instituio que designada. Com base em alguns elementos que

    permitem sua descrio, desenvolvemos a presente pesquisa, analisando o

    documento fotogrfico luz das normas utilizadas pela arquivologia e

    biblioteconomia.

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    21/181

    21

    Esta pesquisa um primeiro exerccio para a discusso do documento

    fotogrfico dentro das reas da biblioteconomia e arquivologia. As motivaes

    para as dvidas e reflexes incipientes que fazem parte da construo deste texto

    foram suscitadas pelo gosto e curiosidade a respeito do documento fotogrfico e

    da teoria da fotografia, pelo maior aprofundamento nas questes da Cincia da

    Informao e pelas observaes feitas no tratamento da fotografia em ambientes

    informacionais.

    Dentro de nossa linha de pesquisa, Organizao da Informao, o projeto

    se fez vivel e se insere na abordagem do tratamento de contedos

    informacionais para o conhecimento, que, por sua vez uma das temticas de

    estudo que vem despertando grande interesse de pesquisa dentro da Cincia da

    Informao. De acordo com estudiosos do tema como Esteban Navarro e Garcia

    Marco (1995), citados por Nascimento (2002, p.27), essa temtica se dedica ao:

    estudo e desenvolvimento dos fundamentos e tcnicas deplanejamento, construo, gesto, uso e evoluo dos sistemasde descrio, catalogao, ordenao, classificao,armazenamento, comunicao e recuperao dos documentoscriados pelo homem para testemunhar, conservar e transmitir seusaber e seus atos, a partir de seu contedo, com a finalidade degarantir sua conservao em informao capaz de gerar novoconhecimento.

    Dessa maneira, o tema encontra sua relevncia no sentido de estar

    discutindo o documento fotogrfico como importante testemunho para

    conhecermos fragmentos de fatos passados e, ao analisar sua descrio, parte do

    princpio de que as informaes ali contidas possam se transformar ou servir

    construo do conhecimento.

    O objetivo propostos para o desenvolvimento da pesquisa foi uma possvel

    comparao entre as normas utilizadas para a descrio de documentos da

    biblioteconomia (AACR2) e as normas descritivas da arquivologia (ISAD(G)),

    entendendo antes, como essas normas foram desenvolvidas, qual o conceito de

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    22/181

    22

    documento para as duas reas e de que forma o documento fotogrfico fez seu

    progresso adquirindo dimenses diversas durante a sua histria.

    Nos ltimos anos houve um crescente nmero de discusses voltadas ao

    estudo da fotografia, desta como documento, de modelos de indexao e

    resumos, de como organizar acervos fotogrficos porm, a principal justificativa

    para a escolha do tema foi a percepo de que o documento fotogrfico ainda tem

    um caminho a percorrer dentro da metodologia de seu tratamento e que esse

    tratamento suscita dvidas tais que pretendemos compreender dentro das

    normas, a fim de inferir uma discusso que possa encontrar contribuies junto a

    outros trabalhos e debates.

    Uma importante questo permeou o trabalho durante sua realizao: o fato

    de que uma fotografia pode ter muitos significados. Nunca tem apenas uma

    interpretao, tem tambm sua realidade interior. Dependendo do contexto onde

    est inserida tem muitas funes e sentidos. No entanto, preferimos, no momento,

    que fossem nos dadas todas as bases para desenvolver um trabalho acerca das

    questes que esto explcitas nos cdigos de descrio, para assim, num prximo

    trabalho, fazermos uma anlise com base nos elementos subjetivos e implcitos

    que sabemos existir em um documento fotogrfico. Passamos rapidamente por

    este assunto, mas no chegamos a desenvolv-lo. Acreditamos que tais

    elementos: a realidade que um documento fotogrfico emana e ao mesmo tempo

    seu carter dbio, ou seja, sua subjetividade, tema para outras anlises, e a

    base que temos a partir dessa dissertao nos d melhores fatores para seu

    futuro desenvolvimento, portanto no entramos em0 reas como a Anlise

    Documentria, Indexao, etc., e sim analisamos as normas que pretendem

    suprir as necessidades informacionais de pesquisadores e usurios em geral,

    optando pela catalogao e descrio arquivstica.

    A partir do objetivo de contrastar as formas de descrio de uma e outra

    instituio, apresentamos a estrutura que foi seguida na dissertao.

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    23/181

    23

    Quanto estrutura dos captulos, primeiramente, no Captulo I buscou-se

    fazer um rastreamento do conceito de documento e do prprio documento

    fotogrfico. Assim, temos no primeiro e segundo itens, o conceito de documento

    em sua forma geral e restrita, ou seja, para a biblioteconomia e arquivologia. Aqui

    contemplamos a viso da historiografia, que perpassa por todo o trabalho, pois

    alm de ser uma das primeiras reas junto ao Direito a pensar o conceito de

    documento tambm tem com a fotografia uma relao intrnseca, pois esta fonte

    irrefutvel de pesquisas para a rea.

    No terceiro item temos a contextualizao de nosso objeto, acompanhamos

    um pouco de sua histria e desenvolvimento, haja vista que para se entender o

    documento fotogrfico h que visualizar sua trajetria. No quarto item temos

    alguns apontamentos sobre a forma como o documento fotogrfico foi

    negligenciado pela historiografia e essa situao mudada com a crtica do

    documento elaborada pela escola historiogrfica francesa, assim construmos

    nosso objeto no ngulo de sua histria, no seu sentido amplo e o restringimos ao

    momento em que aberta a discusso sobre fontes de todos os tipos. Por fim, a

    ambigidade fotogrfica e sua tenso entre o referencial e o subjetivo so

    expostas no ltimo item. Assim, tentamos demonstrar a complexidade e por vezes

    a facilidade de trabalhar com o documento fotogrfico que foi sendo levado e

    percebido pela sociedade e pelos meios cientficos de formas diferentes durante a

    histria.

    Passamos ao Captulo II, onde procedemos com a abordagem do conceito

    de descrio e da norma a ser seguida pelas instituies estudadas. Assim, temos

    no primeiro item o conceito de descrio, que colocado de forma mais tcnica e

    mais abrangente. No segundo e terceiros itens temos a descrio em bibliotecas,

    onde nos detemos, para entender sobre as normas de catalogao descritiva no

    histrico de seus cdigos e no AACR2, que servir de base para nosso estudo,

    resgatando um pouco de sua histria, tentamos entender a necessidade de

    normalizar os parmetros para a descrio em bibliotecas. No quarto item

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    24/181

    24

    demonstramos, com alguns exemplos, a estrutura do AACR2. No quinto e sexto

    itens, acompanhamos da mesma forma como as regras de normalizao e

    padronizao surgiram e se desenvolveram na arquivologia tendo a estrutura de

    sua descrio. E, por fim, no stimo item do segundo captulo, temos a estrutura

    da ISAD(G), que foi exposta com o mesmo propsito acima referido, afim de

    conhecer e entender seus campos.

    Devido alta demanda de documentos nas instituies e aos avanos

    tecnolgicos, foram desenvolvidos os formatos, com a finalidade de agilizar o

    trabalho dos profissionais da informao, diminuir custos e permitir o intercmbio

    de informaes. A digitalizao de acervos fotogrficos tambm uma realidade

    em nossa rea, portanto, nos itens que seguem, nos concentramos no formato

    MARC 21. Primeiro, falamos de sua histria e de como foi o processo de seu

    desenvolvimento. Passamos ento para a estrutura do formato que mostrada e

    logo a seguir, as normas em que os profissionais se basearam para tornar

    possvel que informaes de uma ficha catalogrfica pudessem ser transpostas

    para o meio eletrnico. Por ltimo, falamos das facetas do MARC 21, e damos o

    exemplo de uma descrio de documento fotogrfico na planilha do formato.

    No Captulo III, vamos diretamente aos elementos que compe o

    documento fotogrfico e o que aparece e pode aparecer no momento de uma

    descrio. Nesse sentido, no primeiro item, nos atemos estritamente aos detalhes

    fsicos como suporte, dimenso, formato e aos detalhes que compe uma imagem

    como luz, cores, ngulo, etc. No segundo item passamos conotao e

    denotao, pois o profissional que est descrevendo o documento tem suas

    impresses particulares e influncia de seu meio, ou seja, sua cultura, e pode se

    deparar, em algum momento, com a conotao, assim como com uma legenda e

    anotaes que existem nos documentos.

    O Captulo IVest totalmente voltado para as normas e colocados lado a

    lado os instrumentos que cada uma usa para a materializao das informaes

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    25/181

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    26/181

    27

    1.1 O conceito de documento

    Falar sobre conceito de documento tentar transitar por entre reas

    que, ao longo do tempo, modificaram, ampliaram e restringiram seu sentido,

    adaptando-o e definindo-o de acordo com suas perspectivas. Destacaremos o

    conceito de documento nas reas de historiografia, arquivologia e

    biblioteconomia, pois, para nossa pesquisa, esses so os campos de maior

    importncia, mas, apesar de nos concentrarmos nessas reas, no

    pretendemos excluir outras de grande participao em sua construo e sim

    restringi-lo a nossos interesses.

    Ao iniciarmos um rastreamento pelo conceito de documento, nos

    remetemos s expresses de cultura do homem, em seus diversos sentidos e,

    desse modo, podemos verificar as reas que contriburam para a construo

    desse conceito, Segundo Lpez Yepes (1997, p.13):

    Con la invencin del documento y, sobre todo, con susposibilidades de multiplicacin el ser humano satisfaca sutendencia a poner fuera l mismo sus sensaciones y susideas y a reproducir los fragmentos de la realidad que leinteresaban. Con la permanencia de los documentos ms alldel espacio y del tiempo, el ser humano volva a utilizarloscomo fuente de informacin para obtener nuevos

    conocimientos y as lograr el progreso de la sociedad. Porquedesde su condicin limitada, desde la radical imposibilidad decrear ideas ex novo, el ser humano tiene la forzosa necesidadde documentarse.

    Sendo um ser que cria a cultura a seu redor um ser cultural e tem o

    desejo de transmitir essa cultura um ser comunicativo o homem deixa

    documentados seus atos, assim dando os subsdios para que sua histria seja

    preservada e vista pelos olhos de pesquisadores que tentaro entender como e

    porqu aquele fato registrado aconteceu, onde se relaciona com a histria ecom interesses diversos, enfim, construir, em volta de um objeto, uma

    fotografia, ou um rolo de papiro uma perspectiva que d elementos a geraes

    futuras de saber um pequeno ponto do fato retratado. Os suportes usados pelo

    homem ao longo do tempo nos mostram vestgios e imagens contendo

    informaes que conseqentemente documentam alguma ao ou algum

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    27/181

    28

    saber. Para que esses saberes documentados sejam utilizados para a

    produo de novos conhecimentos, os pesquisadores tm como base

    procedimentos metodolgicos que fazem com que novos paradigmas surjam

    ou que sejam mudados. No entendimento do que um documento essa

    mudana tambm aconteceu, dando espao para novos tipos de documentos erenovando seu sentido.

    O termo documento tem muitos sinnimos:testemunho, fonte, vestgio,

    marca, sinal, (VALENTE, 1978, p.177), ou seja, tudo o que o homem construiu

    e deixou como vestgio pode ser usado com um desses significados. O

    documento passou por etapas que fundamentaram seu modo de ser entendido

    como objeto cientfico. Em meados do sculo XVII pesquisadores e religiosos

    comeavam a duvidar do valor de um documento escrito. Contriburam para talfato os estudos de teologia, histria e filologia, pois, por ser o elemento

    principal desses estudos, o diplomadeveria ser verdadeiro e ter informaes

    confirmadas pela cincia.

    Fazemos uma ressalva nesse ponto, pois, aqui marcamos o sculo XVII,

    porque quando se institui a investigao da autenticidade e veracidade dos

    documentos, mas, bem antes disso, essas dvidas j eram assunto de

    discusses e a causa eram as falsificaes que sempre existiram por diversos

    interesses, assim, podemos dizer que h presena de trabalhos anteriores ao

    referido sculo que explicitam os documentos falsos e falam como identificar

    esses fatos (VALENTE, 1978).

    Depois das indagaes de Lutero quanto validade de textos bblicos

    originais e da tentativa de Descarte de estabelecer um mtodo cientfico para

    reconhecer documentos verdadeiros, um beneditino de nome Dom Mabillon,

    que durante seis anos trabalhou incessantemente em arquivos eclesisticos

    franceses, alemes, italianos e, pacientemente, usou mtodos cientficos que

    cabiam aos documentos, publicou, em 1681, De Re Diplomtica, manual que

    tentava distinguir documentos verdadeiros de documentos falsos, fato que

    ocorria por, com o decorrer do tempo, cpias desses documentos serem feitas

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    28/181

    29

    e misturadas s verdadeiras (BORGES, 2003, p. 20), o que Valente tambm

    afirma (1978, p.180), quando diz que:

    Essa crtica documental, encontrou a sua justificativa, emprimeiro lugar, na necessidade de distino de documentos

    falsos que, no raro, se misturavam aos verdadeiros; emsegundo lugar, pela necessidade de aferir a veracidade dasinformaes dos documentos, mesmo os autnticos, quandose notava que, alguns deles, carregavam consigo suspeiosuficiente pelo que veio designar-se de ingenuidadedocumental.

    Assim estava criada uma forma de averiguar a veracidade e

    autenticidade dos documentos, a Diplomtica. Na poca esses documentos

    eram manuscritos, mas esta tcnica se estendeu e hoje uma cincia auxiliar

    de diversas reas do conhecimento. E o documento passou por mais uma

    etapa rumo a sua funo de retratar os fatos. A Diplomtica tem a funo de

    entender como o documento estruturado no momento de sua produo, isso

    implica em um estudo desde seu nascimento.

    A diplomtica ocupa-se da estrutura formal dos atos escritosde origem governamental e/ou notarial. Trata, portanto, dosdocumentos que, emanados das autoridades supremas,delegadas ou legitimadoras (como o caso dos notrios), sosubmetidos, para efeito de validade, sistematizao impostapelo direito. Por isso mesmo, esses documentos tornam-se

    eivados de f pblica, que lhes garante a legitimidade dedisposio e a obrigatoriedade da imposio e utilizao nomeio sociopoltico regido por aquele mesmo direito(BELLOTTO, 2004, p. 45).

    Uma considerao acerca do documento tem de ser feita: para alguns

    autores o documento caracterizado em trs partes: suporte, meio e contedo.

    Segundo Lpez Yepes (1997), o suporte seria a parte material do documento,

    ou seja, papel, CD-Rom, parede, tela, qualquer lugar onde a informao possa

    ser registrada. O meio seria a forma como se ir expressar a informao, ou

    seja a linguagem e o contedo que seria a prpria materializao do que o

    produtor do documento quis mostrar, a informao contida no documento e

    passvel de anlise o contedo.

    O termo documento/documentum da forma que o entendemos hoje,

    conforme observa Valente (1978), em sentido global, s se revelou na poca

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    29/181

    30

    contempornea. Le Goff (1982, p.536), nos explica sua raiz etimlogica e j a

    ampliao de seu sentido a partir do sculo XIX:

    O termo latino documentum, derivado de docere ensinar,evoluiu para o significado de prova e amplamente usado no

    vocabulrio legislativo. no sculo XVII que se difunde, nalinguagem jurdica francesa, a expresso titres et documentseo sentido moderno de testemunho histrico data apenas dosculo XIX. O significado de papel justificativo,especialmente no domnio policial, na lngua italiana, porexemplo, demonstra a origem e a evoluo do termo. Odocumento que, para a escola histrica positivista do fim dosculo XIX e do incio do sculo XX, ser o fundamento do fatohistrico, ainda que resulte da escolha, de uma deciso dohistoriador, parece apresentar-se por si mesmo como provahistrica. A sua objetividade parece opor-se intencionalidadedo monumento. Alm do mais afirma-se essencialmente comotestemunho escrito.

    Anteriormente o termo documento era muito utilizado e restringido ao

    vocabulrio jurdico, como, por exemplo, nos fala Bauer (1957, p.354), onde,

    para este autor documentos so:

    aquellos monumentos escritos, con existencia propia eindependiente, mediante los cuales quedan garantizados loshechos jurdicos, con arreglo a formas determinadas quecambian segn la persona, el tiempo, el lugar e el contenido,de tal manera que estos testimonios escrityos resultan idneos

    para el cumplimiento de fines jurdicos.

    Podemos perceber nas citaes acima que, enquanto Le Goff d ao

    documento um esboo do que viria a ser hoje seu sentido no nosso

    entendimento, Bauer o restringe s funes probatrias e jurdicas onde

    devemos considerar que o direito e a historiografia foram as primeiras reas a

    pensar o conceito de documento, pois este uma das matrias primas de seus

    trabalhos.

    Em sentido amplo, o documento adquire importncia e diferenas pelo

    prisma de reas distintas. Segundo Foucault (1986, p.05), que usa como

    modelo as anlises de G. Canguilhem, mostra-nos que:

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    30/181

    31

    a histria de um conceito no , de forma alguma, a de seurefinamento progressivo, de sua racionalidade continuamentecrescente, de seu gradiente de abstrao, mas de seusdiversos campos de constituio e de validade, a de suasregras sucessivas de uso, a dos meios tericos mltiplos emque foi realizada e concluda sua elaborao.

    Observamos que com o passar do tempo foram-lhe atribudas diferentes

    caractersticas e elementos s formas de perceb-lo, isto , ampliando ou

    restringindo o seu conceito, ou seja, a dinmica dos acontecimentos sociais

    influenciaram no entender do que seja um documento (NASCIMENTO, 2002,

    p.21). Essas atribuies foram camadas de significaes e conceitos

    concretizados em diferentes espaos, aos quais a sociedade lhes atribuiu

    funes, dando lugar reas como a biblioteconomia e arquivologia.

    Passaremos, dessa forma, ao entendimento do que seja documento paraessas reas.

    1.2 Documentos de arquivo e documentos de biblioteca

    Dentre esses campos de constituio do conceito de documento como

    anunciados por Foucault (1986), constata-se que, na arquivologia este

    conceito est atrelado historiografia e aos significados jurdicos.

    Com a Revoluo Francesa comea um modo de administrao

    diferente, onde O documento j no desempenha apenas o papel jurdico, mas

    constitui um instrumento cujo acesso sinal do poder do povo (ROUSSEAU;

    COUTURE, 1998, p.31), poder que comea a ser exercido pela comprovao

    de um passado que sustentava os prprios passos da Revoluo Francesa,

    assegurando assim, a proteo desses documentos e tendo em vista seu valor

    administrativo e histrico. Com a instituio do Arquivo Nacional da Frana,

    tem-se a criao de uma administrao orgnica para trabalhar com a rede dereparties pblicas geradoras de documentos. O Estado, dessa maneira,

    reconhece que deve ter a responsabilidade de preservar o patrimnio

    documental do passado e os documentos que ele prprio produziu

    (JARDIM;FONSECA, 1992), assim como proclama o direito pblico de acesso

    aos arquivos.

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    31/181

    32

    Anteriormente, as instituies que tinham o encargo de guardar e

    preservar os documentos produzidos pela sociedade, confundiam-se em seus

    objetivos, pois as trs arquivos, bibliotecas e museus armazenavam os

    materiais tidos como importantes. At o incio do sculo XIX os arquivistasreagrupavam e misturavam documentos de acordo com concepes prticas

    ou intelectuais, fazendo dessa maneira uma classificao de arquivos de forma

    ideolgica, que tratava o documento arquivstico pelo seu valor intrnseco,

    deixando-o independente de seu contexto e da relao com o ambiente

    (instituio, famlia, Estado) que o produziu (DUCHEIN, 1986).

    De acordo com Heredia Herrera (1991, p.165):

    En la antiguedad no hubo una separacin tajante entreBibliotecas y Archivos. Si parece que en los conventos ymonasterios exista un armario que guardaba los documentosy otro los libros. El invento de la imprenta determinar laprimera separacin fsica entre unos y otros.

    Com o tempo e os novos tipos de documentos, as diferenas foram se

    acentuando e cada uma dessas instituies definindo seus objetivos. Um

    arquivo, segundo Paes (2004, p.16):

    a acumulao ordenada dos documentos, em sua maioria,criados por uma instituio ou pessoa, no curso de suaatividade, e preservados para a consecuo de seus objetivos,visando utilidade que podero oferecer no futuro.

    Nesse mbito, passamos definio, segundo alguns autores, de

    documento de arquivo, que tambm teve seu significado ampliado e

    modificado. Em um arquivo, so armazenados documentos que tm valor de

    prova e autenticidade, geralmente documentos que vm de uma instituio ou

    de acervos pessoais, ou seja, suas funes perpassam pela idia de serem

    materiais produzidos para alm de preservarem a memria de uma instituio

    ou de uma pessoa, atestar fatos e valid-los juridicamente. Fuster Ruiz (1999,

    p. 104), divide o documento de arquivo em duas classes: uma de natureza

    jurdica, com finalidade de justificar perante a lei, por exemplo, os feitos de uma

    empresa, e outra de natureza administrativa, que, mesmo no sendo usados

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    32/181

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    33/181

    34

    Belloto (2004, p.37), d a sua definio de documento de arquivo com

    semelhanas entre os dois primeiros autores, para ela:

    Os documentos de arquivo so produzidos por uma entidade

    pblica ou privada ou por uma famlia ou pessoa no trasncursodas funes que justificam sua existncia como tal, guardandoesses documentos relaes orgnicas entre si. Surgem, pois,por motivos funcionais administrativos e legais. Tratam,sobretudo de provar, de testemunhar alguma coisa. Suaapresentao pode ser manuscrita, impressa ou audiovisual;so em geral exemplares nicos e sua gama variadssima,assim como sua forma e suporte.

    Diante dessas definies o conceito de documento de arquivo se mostra

    amplo no sentido em que um produto dos atos humanos com funes

    probatrias, de conhecimento ou testemunho e que se confunde com o prprioconceito de arquivo. Os documentos sendo armazenados em um arquivo

    podero ou no ser usados com fins jurdicos, porm, em qualquer um dos

    casos, conservam sua relao com todos os outros documentos da instituio,

    de modo a se constituir uma cadeia.

    A arquivologia tem o conceito de ciclo vital dos documentos, ou seja,

    todo documento tem at trs fases de vida: fase corrente, intermediria e

    permanente, ou melhor dizendo a teoria das trs idades. De acordo comBellotto (2004), os documentos tm, desde o momento de sua produo, uma

    fase corrente, onde esto sendo constantemente utilizados. Geralmente esses

    documentos ficam na prpria instituio onde foram produzidos. Num segundo

    momento, quando o documento j foi utilizado nas atividades para que foi

    criado, sua permanncia no local de trabalho no mais necessria, mas,

    mesmo assim, por motivos legais ou referentes atividade que se relaciona, o

    documento mantido em um arquivo centralizador, onde ser submetido a

    uma tabela de temporalidade que determinar seu destino, o descarte ou oarquivo permanente. Na fase permanente, o documento enviado a um

    arquivo que assegurar seu valor informativo, probatrio e memorial2.

    2Para um melhor entendimento das questes referidas ver Bellotto (2004) e Heredia Herrera(1991).

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    34/181

    35

    Diferentemente do documento de arquivo, um documento de biblioteca

    tratado individualmente e os elementos de seu acervo no precisam ser

    necessariamente ligados a todos os outros, so independentes, assim como

    no existe uma idade para que os documentos fiquem disposio do

    pblico, num acervo de biblioteca so usados constantemente de acordo com anecessidade de seus usurios.

    O valor probatrio que os documentos em um arquivo tm, em uma

    biblioteca no to evidente, sendo que seu acervo tem fins educativos,

    informativos e culturais, alm de servir para pesquisas. O material adquirido

    de diversas formas como doao ou compra e no proveniente de uma nica

    instituio ou fundo. Segundo Belloto (2004, p.37):

    Os documentos de biblioteca so resultado de uma criaoartstica ou de uma pesquisa; e podem ainda objetivar adivulgao tcnica, cientfica, humanstica, filosfica etc. material que trata de informar para instruir ou ensinar. Osdocumentos so grficos, sejam eles impressos oumanunscritos, desenhos, mapas, plantas, ou so materialaudiovisual. Sua forma usual a impressa e mltipla, isto , amesma obra pode existir em mais de uma biblioteca. So osdocumentos mais acessveis e os mais conhecidos do grandepblico.

    No Dicionrio Tcnico de Biblioteconomia (1973), documento definido

    como:

    Escrito con que se prueba, acredita o hace constar uma cosa.Los escritos papeles, archivos y publicacionesgubernamentales o de negcios, bien sea en forma impresa,de mquina, manuscrita, etc.

    essa definio bem curiosa, pois, apesar de estar num dicionrio de

    biblioteconomia, se liga totalmente ao conceito de documento arquivstico.

    Talvez porque at para a biblioteconomia o documento seja visto como provaou com valor jurdico, mas aqui cabe a pergunta de como fica a situao do

    documento de biblioteca, que no tem esse valor, mas que tambm um

    documento e est ensinando e informando igualmente.

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    35/181

    36

    Nascimento (2002, p.22) em seu captulo sobre documentos analgicos

    e digitais observa o que diz a Association of Law Libraries:

    na viso da Biblioteconomia, observa-se por se tratar deunidade essencial para o desenvolvimento das suas

    atividades, o documento registra sua importncia alm doslimites do armazenamento e organizao de conhecimentoregistrado para o uso da sociedade. Tambm destaca-se umapreocupao com a competncia que os profissionais daBiblioteconomia necessitam assimilar e desenvolver paraavaliar a qualidade, autenticidade, acuracidade e os custosdas fontes tradicionais e eletrnicas de informao para o usoda sociedade.

    J Heredia Herrera (1991), escreve que a finalidade do livro a de

    relatar, informar, instruir e que em nenhum caso testemunho de uma gesto,

    sempre fruto da vontade de algum, seja uma obra de fico ou deinvestigao.

    Por outro lado, os documentos de arquivo so um reflexo de funes e

    atividades do homem, mas no so apenas testemunhos voluntrios, so

    produtos de uma gesto. No so produzidos com uma finalidade histrica,

    mas a partir de certas designaes e de certo tempo, se convertem em

    indispensveis fontes histricas.

    Diante desses conceitos dados tanto a documentos de arquivo quanto a

    documentos de bibliotecas passamos reflexo de Smit (2000), onde a autora

    nos chama a ateno para o fato de que a viso tradicional que temos a de

    que as bibliotecas guardam seus livros e os arquivos documentos vindos de

    uma instituio, mas essa viso tradicional, segundo a autora, cai por terra

    quando pensamos no documento audiovisual e no documento eletrnico, pois

    estes esto disponveis nas duas instituies. Ento devemos, segundo Smit

    (2000), nos centrar na informao e na utilidade dada ao documento dentro decada instituio, dessa forma afirma:

    A diversificao entre as 3 Marias existe, mas no deve serfundamentada nos tipos de documentos, e sim na funoatribuda informao pelos diferentes tipos de instituies.Na tica arquivstica a informao fala sobre as instituies,suas atribuies e suas relaes com os demais segmentos

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    36/181

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    37/181

    38

    No entanto, a simples identificao de seus elementos nos revela

    tambm um outro aspecto, a permanncia do que a sociedade gostaria que

    fosse guardado de sua imagem, desta forma o documento fotogrfico

    ultrapassa o documento e se torna monumento:

    Concebida como monumento a fotografia impe umaavaliao que ultrapasse o mbito descritivo. Neste caso ela agente do processo de criao de uma memria que devepromover tanto a legitimao de uma determinada escolhaquanto, por outro lado, o esquecimento de todas as outras.(CARDOSO; MAUAD, 1997, p. 147)

    O documento fotogrfico a representao de uma poca e reflexo do

    desenvolvimento da sociedade. Como monumento ultrapassa certos valores e

    assume outros que o fazem intocvel e elemento para sempre cultuados. Umafina linha separa esses dois valores dados ao documento fotogrfico, no

    entanto, a fotografia como documento est presente em nossas aes e o

    documento histrico importante pea para complementar e reconhecer o

    passado escrito.

    Para termos uma base sobre o documento fotogrfico, o melhor

    entender inicialmente como foi a sua histria e quais os fatores que influenciam

    at hoje nossa perspectiva a respeito de seu desenvolvimento dentro dasociedade e no mundo da cincia.

    1.3 O documento fotogrfico

    A histria da fotografia vista na maioria das vezes pelo seu

    desenvolvimento tcnico e, considerando este fato, acreditamos que para se

    entender e trabalhar com uma fonte documental temos de destacar a

    importncia de um rpido olhar por seu percurso e produo que,especialmente no caso da fotografia, um ponto fundamental pelo fato de seu

    desenvolvimento estar intrinsecamente atrelado s mudanas sociais que

    ocorreram em seu incio.

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    38/181

    39

    O documento fotogrfico est presente em diversas reas do

    conhecimento e em algumas se torna um elemento quase que indispensvel

    para pesquisas. usado para observaes de culturas e povos juntamente a

    dirios de campo pela antropologia, para diagnosticar doenas com fotografias

    cientficas no caso da medicina, verificar as mudanas numa cidade, suasconstrues e urbanizao na arquitetura, como objetos de valor histrico pela

    sociologia e historiografia. Estes so apenas alguns exemplos da importncia

    do documento fotogrfico para, junto textos escritos, ajudar a entender fatos

    do presente ou do passado.

    Desde seu aparecimento a fotografia foi imposta com um carter

    documentrio, baseado no princpio de prova e realidade que a caracterizam.

    Seu cerne est ligado a valores probatrios usados pela historiografia e pelodireito. Um documento fotogrfico pode ser usado tanto para pesquisas sobre

    fatos passados e dar subsdios para perceber fragmentos de cenas que apenas

    narradas seriam imaginadas, como para provar esse mesmo fato juridicamente.

    Fabris (1991,p.25) d o exemplo da descrio de um crime atravs de uma

    fotografia e de como essa fotografia incitou a uma descrio terrvel da morte,

    levando o ru condenao.

    A sociedade burguesa do sculo XIX, com o advento da industrializao,

    estava pronta cultural e economicamente para que os experimentos

    fotogrficos tivessem as condies necessrias para o seu desenvolvimento e

    aperfeioamento. O aparecimento da mquina e as formas de representao

    do real atravs da perspectiva j desenvolvida deram elementos para que a

    cmara fotogrfica fosse aperfeioada. A mquina d a possibilidade para que

    muitas coisas sejam produzidas em srie, o que, com a fotografia se tornou ao

    longo de sua histria, um fato irrefutvel, visto que seus poderes de seduo

    aliados reprodutibilidade em massa fizeram dela objeto industrial. Para

    Flusser (2002, p.21), a cmara fotogrfica um aparelho que, sendo

    prolongamento do olho humano, tem o poder de alcanar a natureza de forma

    mais profunda e por isso mais poderosa e eficiente do que o prprio olho.

    Com a revoluo industrial, os aparelhos e mquinas vo adquirir funes e ter

    lugares prprios, sendo que o homem ir viver em funo desses lugares que

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    39/181

    40

    lhes so destinados e ao redor dessas mquinas que so desenvolvidas

    rapidamente. Portanto, o advento da fotografia veio para consolidar em

    imagens a forma mecnica de se mostrar o mundo.

    O que teve incio no Renascimento o anseio de reproduzir fielmente anatureza permeava os sonhos dos homens de engenho e arte daquela

    poca, e se tornava possvel atravs da fotografia. A hora da fotografia havia

    chegado e estava sendo sentida por vrios pesquisadores, homens que,

    segundo Benjamin (1977, p.219):

    Independentemente uns dos outros, buscavam a mesmameta: fixar imagens na cmera obscura, conhecida ao menosdesde Leonardo. Assim que, aps mais ou menos cinco anosde esforos de Nipce e Daguerre, isto se tornou possvel mesma poca, o Estado, favorecido pelas dificuldades de

    patenteao encontradas pelos inventores, tomou conta dissoe, indenizando-os, transformou-o em coisa pblica. Estavamdadas, assim, as condies para um contnuo e aceleradodesenvolvimento que, por longo tempo, excluiu qualquerretrospectiva.

    A primeira vez que uma imagem foi fixada em uma placa de metal foi em

    18263, por Nicphore Niepce, que reuniu os princpios pitcos conhecidos e

    conseguiu a partir de processos qumicos, dar incio ao que seria a habilidade

    mecnica e no mais manual de o homem retratar o seu meio. Qualquer

    inveno condicionada, por um lado, por uma srie de experincias e deconhecimentos anteriores e por outro, pelas necessidades da sociedade.

    (FREUND, 1995, p.37). Naquele momento, Niepce reuniu estas duas

    condies e conseguiu, atravs de estudos que estavam sendo feitos h

    muitos anos, resultados como construir cinco cmaras fotogrficas que hoje se

    encontram no Museu Niepce, na Frana. Essas cmeras ainda eram bem

    amadoras quanto ptica, mas deram os passos para o desenvolvimento da

    tcnica fotogrfica.

    A fotografia era a juno da automao de um lado e do

    desenvolvimento de tcnicas para sua fixao de outro. Santaella (1998, p.307-

    308) explica que:

    3 A cronologia referente histria da fotografia seguir nesta dissertao FREUND, G.Fotografia e sociedade. Mafra: Veja, 1995. 214p. (Comunicao & Linguagem).

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    40/181

    41

    a fotografia no nasceu de uma inveno sbita, pois ela afilha mais legtima da cmara obscura, to popular noQuatrocento, cujo aperfeioamento permitiu estender aautomatizao at a prpria inscrio da imagem, afastandodo pintor a tarefa de nela colocar a sua mo. O que faltava

    cmara obscura eram um suporte sensvel luz para acaptura automtica da imagem, de um lado, e o negativo paraa automatizao da reproduo dessa imagem original, deoutro. Ambos chegaram com a fotografia.

    Os resultados conseguidos por Niepce foram aperfeioados por seu

    scio Daguerre4 que, com o instrumento que levava o seu nome,

    daguerretipo, soube adentrar com sua inveno nos meios burgueses e

    intelectuais franceses e, aps quinze anos da primeira imagem ser fixada por

    Nipce (FREUND, 1995, p.38), a fotografia tornou-se conhecida do pblico. Por

    um projeto de lei o Parlamento francs adquiriu a inveno e seguindo o curso

    de interesse pelo progresso, a fotografia foi disposta humanidade, podendo

    ser explorada e aperfeioada por qualquer pessoa que possusse condies

    para isso. A obra de Niepce por um tempo foi totalmente posta na autoria de

    Daguerre que, por sua vez, soube mostrar ao mundo o que tinha conseguido.

    Segundo Sougez (2002, p. 57):

    Daguerre, diametralmente oposto ao calado e tmido Niepce,trouxe o lado mercantilista e espectacular, com um processocuja originalidade lhe era prpria e no teria muito futuro, jque se tratava de algo dispendioso, de difcil manipulao eque produzia apenas uma nica prova, no multiplicvel.Apesar dos seus defeitos, o daguerretipo que no era maisque uma variante do processo propagou-se pelo mundo,abrindo definitivamente o caminho fotografia.

    O daguerretipo, conforme escreve Sougez (2002), abriu caminho para

    as aspiraes da burguesia liberal da poca e foi adotado justamente por

    satisfazer alguns de seus desejos. O desenvolvimento da fotografia caminhou

    de forma rpida e muitas vezes, simultaneamente em diversos lugares5. A

    4Daguerre se associou a Niepce em 1829, segundo Sougez (2001). Fizeram experimentosjuntos at a morte de Niepce, em 1833. Daguerre era conhecido por seu diorama, espcie deteatralizao de cenas onde usava-se jogos de luzes e conhecimentos de perspectiva para dara impresso de que se contemplava cenas reais de lugares.5 Um exemplo dessa simultaneidade a descoberta da fotografia no Brasil, maisespecificamente na vila de So Carlos, atualmente Campinas SP, por Hrcules RomualdFlorence, um desenhista francs que chegou ao Brasil em 1824. Florence um caso de

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    41/181

    42

    necessidade que a nova burguesia, como classe, tinha de ser representada

    contribuiu imensamente para que a fotografia fosse um dos elementos

    preferidos afirmao de poder material. Na Grande Exposio da Indstria

    em 1855, na Frana, a fotografia foi levada para camadas sociais diferentes, j

    que at aquele momento era conhecida do pblico, mas esse pblico seresumia a intelectuais, artistas e cientistas. Pessoas famosas conhecidas

    apenas do grande pblico distncia, podiam ser vistas ali congeladas em um

    momento que acontecera, um momento de suas vidas. Segundo Freund (1995,

    p.68):

    Nas exposies o pblico comprimia-se face s inmerasfotografias de gente eminente e de celebridades. Devecompreender-se o que significava, para a poca, o facto de se

    ter face aos olhos, de repente, personalidades que at entoapenas de longe era possvel admirar.

    A fixao da imagem em um suporte bidimensional na sociedade

    industrial tornava-se definitiva no sentido de um novo modo de conhecimento,

    olhar-se a si mesmo e ao mundo com os olhos da realidade, do progresso que

    transforma a natureza. Com o desenvolvimento do sistema capitalista, as

    cidades foram inundadas por gente de todas as partes buscando vender sua

    mo-de-obra e fazendo mover a mquina econmica e industrial, organizando-

    se de forma homognea ao novo sistema urbano. Como em todas astransformaes, as classes dominantes tinham como objetivo impor suas

    formas de olhar o mundo. A se inclui a fotografia e seu carter de veracidade.

    H muito tempo o homem vinha buscando um modo de gravar fielmente o que

    via. O que apenas era feito atravs da pintura perpetuar uma imagem

    conforme era almejava-se fazer sem esta, ou seja, usar uma nova tcnica e

    uma nova tecnologia. Este anseio foi suprido pela fotografia a partir do

    momento em que as pessoas perceberam que atravs dela poderiam se

    apropriar de um pequeno instante do mundo, assim como se tornarem imortaisem um pedao de papel.

    investigador autodidata que, entre suas invenes est a zoophonie, que o estudo das vozesdos animais. Em 1832 , procurando recursos para impresso grfica, realizou pesquisas paraencontrar alternativas de impresso atravs da luz solar para reproduzir de forma mais fcil eeconmica textos e imagens. Denominou seu invento de Photografie. Sobre Florence, BorisKossoy fez um trabalho intitulado Hrcules Florence 1833: a descoberta isolada da fotografiano Brasil,publicado em 1976.

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    42/181

    43

    Adaptando-se sociedade moderna do sculo XIX, a fotografia reunia

    num s elemento o poder de o homem comum ver-se a si mesmo, e o poder de

    o fotgrafo intervir no meio em que atuava. Nesse mbito, a fotografia expressa

    os anseios da poca a partir da relao fotgrafo/fotografado. Para Costa &Silva (2004, p.17):

    A situao da fotografia no sculo XIX foi realmente invulgar.A natureza transformava-se constantemente, impulsionadapelas necessidades do capital. A fotografia referendouinternamente essa dinmica, na medida em que o projeto dedesenvolvimento da perspectiva, subjacente ao cdigofotogrfico, encontrou identidade nos rumos impostos natureza.

    A indstria da fotografia se instalava a cada dia em todos os lugares daEuropa e da Amrica e reuniu a arte da pintura e seus cdigos estticos com a

    nova tcnica e arte que estavam surgindo e, num primeiro momento, pintores e

    fotgrafos tinham espaos muito prximos, um, usando a fotografia como

    modelo para suas pinturas e outro copiando poses da pintura para agradar a

    seus clientes. A fotografia desde sempre foi o que o fotgrafo queria mostrar, e

    o que queria o desejo das pessoas, o que fez seguir ainda mais a lgica de

    grande reprodutibilidade que a cercava, segundo Granjeiro (2000, p.17):

    a vontade de reproduo da prpria imagem ajudou a difundire legitimar a tcnica fotogrfica pela sociedade. A fotografiapassou, assim, a fazer parte de um campo milenar designificados; a figurar como tcnica para as representaes davida ao lado dos bustos esculpidos, das moedas cunhadascom a esfinge de seu proprietrio, das telas a leo e daspinturas no fundo das cavernas.

    Os estdios e atelis fotogrficos funcionavam com enorme fora, mas o

    objeto to desejado ainda era possudo por poucos por causa de seu preo,conseqncia das dificuldades encontradas para reproduzir uma imagem. A

    fotografia encontrou um grande popularizador na figura de Disderi, um

    comerciante que, tendo adquirido seu estdio fotogrfico, como muitos outros

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    43/181

    44

    em busca de fortuna na poca, reduziu o formato das cpias criando o carte de

    visite6

    Substituiu a placa de metal pela de vidro, o que o permitiu fazer vrias

    cpias e como conseqncia, os preos das fotografias foram reduzidos, dandoaos menos abastados o poder de tambm se sentirem importantes e imortais

    atravs de um retrato (FREUND, 1995). Disderi prope em seu trabalho um

    tratamento totalmente comercial s fotografias. Eram adaptadas ao gosto dos

    clientes, sendo usados muitos artifcios para que as atenes se voltassem

    para seu comrcio.

    Disderi representa [...], o prottipo do fotgrafo industrial,disposto a usar todos os truques ao seu alcance para adular eseduzir a clientela. A relao pessoal fotgrafo/fotografado,que est na base das obras dos artistas fotgrafos, substituda pela relao puramente mecnica entre o homeme a mquina instaurada por Disderi. (FABRIS, 1991, p.20).

    A fotografia que at aquele momento era produzida com toques

    artsticos por fotgrafos como Le Gray e Nadar7, substituda pela fotografia

    comercial e estes artistas fotgrafos ou se adaptavam nova realidade ou

    perderiam como houve casos seus estabelecimentos e clientela. Portanto,

    Disderi e sua inveno mudaram significativamente o papel da fotografia

    quando:

    coloca ao alcance de muitos o que at aquele momento foraapangio de poucos e confere fotografia uma verdadeiradimenso industrial, quer pelo barateamento do produto, quer

    6De formato reduzido, 6X9, o carto de visita d a possibilidade ao fotgrafo de, numa mesmachapa, poder fazer oito cpias de preo muito reduzido para a poca, sobre este fato Fabris(1991, p. 20) comenta: O carto de visita supre a ausncia de retrato nas classes menosfavorecidas, mas sua difuso capilar a alta burguesia ope uma srie de estratgias dediferenciao, negadoras da multiplicidade. Alm de dirigir-se aos artistas fotgrafos, a elite

    social continua a privilegiar o daguerretipo at a dcada de 60 e passa a preferir em seguida afotografia pintada, que garante a fidelidade da fotografia e a inteligncia do artista, comoafirma uma revista contempornea.7Nadar foi um jornalista, caracaturista e intelectual que viveu na segunda metade do sculoXIX em Paris. Montou seu estdio fotogrfico que era recanto de intelectuais e gente influente,pois era bastante famoso entre eles. Seus retratos em especial no eram feitos com artifcios esim em fundo branco, mostrando o carter de quem est sendo fotografado e a viso dofotgrafo ao dispo-lo de tal maneira. Le Gray tambm primava suas fotografias com expressesartsticas, talvez por estar mais ligado pintura e arquitetura e seu estdio era moda entre osintelectuais franceses assim como o de Nadar, que alis ficavam prximos. Sobre Le Gray eNadar ver: SOUGEZ, M.L. Histria da fotografia. Rio de janeiro: Relume Dumar, 2002, 314p.

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    44/181

    45

    pela vulgarizao dos cones fotogrficos em vrios sentidos(FABRIS, 1991, p.17).

    Disderi utilizava acessrios para que as fotografias fossem compostas

    ao gosto do cliente, assim, ele tinha cenrios para cada tipo, cada arqutipo

    como o artista, o escritor, o militar, a dama etc. Dessa maneira, ao contrrio deNadar que privilegiava a expresso, os retratos de Disderi contavam com a

    aparncia, a cena montada para mostrar no o carter mas o que havia de

    externo, ou seja, uma cena a fim de forjar uma determinada aparncia. Os

    cartes de visita foram usados durante muitas dcadas e, segundo Sougez

    (2002), alm das fotografias particulares um enorme comrcio de fotografias de

    pessoas famosas tambm foi montado usando a facilidade do carto de visita.

    O ateli de Disderi no durou muito tendo este ficado pobre, porm, seus carte

    de visite tiveram fundamental importncia comercializao e propagao defotografias.

    O poder informativo e propagandstico da fotografia cada vez mais vo

    sendo utilizados, tanto que, por volta de 1855, usada para registrar pela

    primeira vez uma guerra, a Guerra da Crimia, por Roger Fenton8. Suas

    funes documentria e manipuladora so nitidamente percebidas, pois as

    fotografias de Fenton no se pareciam em nada com os relatos de crueldade

    da guerra e sim mostravam uma guerra limpa, sem retratar realmente oconflito ao pblico (FABRIS, 1991, p.24)9.

    Se havia dvidas quanto importncia do aparecimento da fotografia,

    elas foram elucidadas quando as inovadoras possibilidades de informao,

    expresso artstica e formas de comercializao comearam, num rpido

    processo, a dar vistas de que funcionam atravs desta. Podia-se explicitar as

    vrias culturas, povos, modos de viver e vestir, arquitetura, atravs de um

    simples pedao de papel, e esse poder de ter o mundo em suas mos de forma

    miniaturizada, dado vertiginosamente pelo carto postal ilustrado que, num

    8Roger Fenton considerado o primeiro reprter que fotografou uma guerra. Estudou pintura eadvocacia e depois da guerra se dedicou a retratar paisagens buclicas. (SOUGEZ, 2002).9Ver ESSUS, Ana Maria Mauad de Souza Andrade. O olho da Histria: anlise da imagemfotografia na construo de uma memria sobre o conflito de Canudos. Acervo: revista doArquivo Nacional, v.6, n.1/2, jan./dez., 1993. p.25-40.

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    45/181

    46

    mundo onde tudo se modificava rapidamente deu a sensao ao homem de

    poder colecion-lo antes de desaparecer e de poder visualizar lugares antes

    apenas narrados oralmente ou atravs da escrita10. Com os cartes postais o

    suposto processo de auto conhecimento atravs da imagem foi mais

    aprofundado, podendo-se tambm conhecer o seu meio e t-lo a seu lado aqualquer momento. Segundo Fabris (1991, p.35):

    Instrumento de democratizao do conhecimento numasociedade liberal, que acredita no poder positivo da instruo,o carto postal leva s ltimas conseqncias a missocivilizadora, conferida fotografia pela sua capacidade depopularizar o que at ento fora apangio de poucos. Aviagem imaginria e a posse simblica so as conquistas maisevidentes de uma nova concepo de espao e de tempo, queabole as fronteiras geogrficas, acentua similitudes edissimilitudes entre os homens, pulveriza a linearidadetemporal burguesa numa constelao de tempos particulares e

    sobrepostos.

    Embora se sabendo tratar apenas de uma representao do real, a

    fotografia adquire verdadeira credibilidade quanto a suas imagens e, graas

    aos registros constantes e experincias fotogrficas, grande parte do que

    conhecemos hoje de pequenos e breves momentos passados cidades,

    povos, ou seja, tudo o que foi registrado a partir do aparecimento da fotografia

    so, alm de recordaes, documentos histricos que nos mostram, aliados a

    outras formas de expresso, importantes momentos que devem ser conhecidos

    para se tornarem objetos que preservem a memria ou sirvam de estudos para

    esta ser construda. Diante disso, sua funo documental era exercida

    deliberadamente pela sociedade oitocentista, onde, Costa & Silva (2004, p.18)

    comentam que:

    No de estranhar, portanto, que a preocupao com adocumentao transparea na maior parte da produofotogrfica do sculo XIX. Havia a inteno explcita dedocumentar o mundo e represent-lo em suas variveis

    sociais e materiais. O espao urbano e os tipos humanosforam os principais temas registrados.

    10Segundo Sontag (1981, p.15): A cmara comeou a duplicar o mundo no momento em quea paisagem humana passou a experimentar um ritmo de transformao vertiginoso: enquantoum nmero incontvel de manifestaes da vida biolgica e social est sendo destrudo embreve espao de tempo, surge um invento capaz de registrar o que est desaparecendo.

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    46/181

    47

    Dentro da histria da tcnica fotogrfica, esta continuou se

    desenvolvendo rapidamente chegando ao lanamento da Kodak, famosa

    mquina porttil que prometia e realmente cumpria o desejo de sem a ajuda de

    um fotgrafo profissional, que as pessoas comuns pudessem apenas apertar o

    boto para eles fazerem o resto. Era a popularizao do registro fotogrficoem esfera pblica e privada, tornando-se documentos, lembranas e objetos

    ideolgicos de forma massificada. A partir desse momento a fotografia j no

    era sonho para alguns e sim poder de todos e isso o que vemos hoje. Uma

    forma de comunicao visual que se estende por todos os lugares e nos faz ver

    a todo momento imagens comuns, elaboradas, cruis, feitas por profissionais e

    amadores, com intenes definidas ou por acaso. A histria da fotografia,

    enfim, ainda no terminou, pois tem-se a tecnologia e os novos modos de se

    construir e preservar imagens. uma histria que est sendo contada todos osdias e por isso merece ateno e devida importncia. So registros, que vo

    sendo produzidos e acumulados e por vezes perdidos, mas quando ls so

    dados o valor de documento, tornam-se valiosos objetos que, ao longo de sua

    histria, vo se tornar afetivas recordaes de famlias ou importantes

    documentos que expliquem um pouco de cada poca.

    Seguindo pela trilha da historiografia, esta nos leva, dentro de nossa

    discusso, a considerar o entendimento dos caminhos do documento

    fotogrfico que , sem sombra de dvidas, um elemento que pode trazer para o

    presente vestgios do passado.

    1.4 Os caminhos do documento fotogrfico

    A contribuio da fotografia para a historiografia tamanha,

    considerando que desde seu incio ela foi vista como uma forma de registrar a

    realidade e os acontecimentos e, durante seu desenvolvimento econsequentemente toda a sua histria, esteve totalmente atrelada

    cientificidade tanto dos experimentos como de suas imagens produzidas

    atravs de processos qumicos. No entanto, em alguns momentos a fotografia

    foi posta de lado como testemunho e foi utilizada apenas com o intuito de

    ilustrar o que estava escrito.

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    47/181

    48

    Apresentando-se em forma de registro de uma realidade humanizada

    pela presena do ser humano no ato fotogrfico sua referencialidade versus

    subjetividade a fotografia apresenta seu carter contraditrio, ambguo e at

    mesmo precrio, como aponta Scharffer (1996). Sua produo e recepo deum lado nos levam a uma abordagem subjetiva e de outro, prtico, o que a faz

    agir de vrios modos na histria, sendo uma delas como documento,

    transpondo para um suporte bidimensional a realidade e atestando fatos e

    pessoas.

    Historiadores e pesquisadores que trabalham com documentos

    fotogrficos nos do alguns motivos para a rejeio em usar a fotografia como

    um documento histrico pleno de informaes e significados. Kossoy ( 2001,

    p.30), expe duas razes para este fato sendo a primeira de ordem cultural

    ou seja, a supervalorizao de nossa tradio escrita impediria que se visse a

    fotografia como fonte confivel de estudos e a segunda seria que:

    A informao registrada visualmente configura-se num srioobstculo tanto para o pesquisador que trabalha no museu ouarquivo como ao pesquisador usurio que freqenta essasinstituies. O problema reside justamente na resistncia em

    aceitar, analisar e interpretar a informao quando esta no transmitida segundo um sistema codificado de signos emconformidade com os cnones tradicionais da comunicaoescrita. (KOSSOY, 2001, p.30).

    O no uso da fotografia como documento viria, portanto, para Kossoy,

    de uma tradio livresca e resistncia como se resiste a tudo que novo

    por parte tanto dos pesquisadores como dos usurios. Essa resistncia no

    seria estranha se considerarmos o medo e a insegurana que a imagem

    fotogrfica trouxe em seus primrdios. A opinio de Kossoy pode ser

    contraposta justificativa de Miguel (1993, p.122), onde afirma que:A ausncia da utilizao da fotografia em seus primrdioscomo documento decorreu, por um lado, dos limitesdeterminados pelo seu desenvolvimento tecnolgico querestringiam as chamadas fotografias espontneas e impunhamas fotografias posadas, renegadas por historiadores queconsideravam meros instantes congelados da realidade, semvalor informativo de prova e decorreu, por outro lado, da

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    48/181

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    49/181

    50

    escrito na produo de suas narrativas. O uso daemblemtica, sada da filatelia e da numismtica, bem como oemprego das pinturas de histria ajudaram-lhes a sustentaruma noo de Histria calcada na idia de verdade semmcula.

    Mas, sabendo que uma imagem muitas vezes no o que mostra, sua

    subjetividade e ambigidade so fatos que no passam despercebidos,

    historiadores resolveram usar como documento, segundo Borges (2003, p.28),

    apenas aqueles cujas imagens fossem fruto do aprendizado das academias de

    pintura , como acima j visto, isto tambm confirma que tudo o que representa

    a natureza numa superfcie que tenha altura e largura, a verdade absoluta e

    incontestvel, pois comprovada pela cincia.

    A fotografia possua caractersticas que no iam de encontro ao conceitode documento histrico do grupo tradicional na historiografia positivista, sua

    capacidade de registro aliada ambigidade e subjetividade das imagens no

    permitiam ainda que fosse inclusa no rol de documentos e dependia de uma

    nova viso sobre o mtodo e o paradigma histrico.

    Entretanto, ao final do sculo XIX vrias transformaes acerca do

    pensamento filosfico e cientfico formulam dvidas e inquietaes a respeito

    do conceito de documento e acabam abrindo portas para uma crtica culturado documento escrito e iniciando um debate que contempla outras fontes

    documentais, inclusive a fotografia. As mudanas que estavam acontecendo na

    sociedade de forma geral, se fechavam cada vez mais aceitao sem

    perguntas dos documentos em seu carter verdico e se abriam para

    interpretaes e reflexes que no aceitavam os fatos como eles eram e sim

    buscavam significados atrelados s aes dos homens com seu meio e com o

    prprio homem, o que deixa a objetividade e o racionalismo tambm poderem

    visualizar a subjetividade e interpretao dos fatos, considerando posiessociais, crenas, mitos, relaes culturais, etc. Segundo Borges (2003, p.35):

    Com essas alteraes no e do pensamento, estavam abertasalgumas portas para o estabelecimento de um novo conceitode realidade, de cincia histrica, de mtodo de pesquisa e,sobretudo de documento histrico. As imagens visuais

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    50/181

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    51/181

    52

    estava muito diferente de apenas cinco dcadas atrs. Na viso de

    pesquisadores e historiadores a fotografia estava sendo considerada pela

    participao e registro das mudanas sociais, polticas e industriais de todas as

    pocas, funo j desenvolvida em seu incio, mas que somente naquele

    momento adquiria reconhecimento.

    Amplamente veiculada pela imprensa, a fotografia entrou de modo

    definitivo na vida e no cotidiano de todas as pessoas com um enorme poder de

    comunicao e, principalmente, fazendo com que participemos dos

    acontecimentos tanto mundiais quanto particulares, sendo usada para criar e

    fazer a seu modo e com sua linguagem uma memria fotogrfica.

    E, o mundo imagem como explica Sontag (1981), se consolidou.Atravs da cmara podemos escolher entre o real e o imaginrio, entre a

    representao e o concreto:

    uma sociedade torna-se moderna quando uma de suasprincipais atividades passa a ser a produo e o consumo deimagens, quando as imagens, que possuem poderesextraordinrios para determinar nossas exigncias comrespeito realidade e so elas mesmas substitutas cobiadasda experincia autntica, tornam-se indispensveis boasade da economia, estabilidade poltica e busca dafelicidade individual. (SONTAG, 1981, p.148).

    O desejo de consumo daquelas pessoas dos primeiros tempos por suas

    imagens em retratos parece muito simples se compararmos com a facilidade e

    o consumo exagerado de imagens que temos disposio atualmente. A

    lgica de reprodutibilidade incessante e massificao se consolidou totalmente

    atravs da fotografia a tal ponto de nossos desejos serem realizados ou ao

    menos expurgados atravs de uma foto. O efeito catrtico produzido com

    muitas finalidades e objetivos.

    Estes fatos fizeram com que pesquisadores refletissem muito mais sobre

    as representaes fotogrficas existentes, procurando metodologias e modos

    de decifr-las para com isso obterem uma contribuio rica em significados e

    informao, como nos explica Borges (2003, p.80):

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    52/181

    53

    Hoje no mais se duvida da natureza polissmica da imagem,da variabilidade de sentidos de suas formas de produo,emisso e recepo. Sabe-se que uma imagem visual umaforma simblica cujo significado no existe per si, quer dizer,l dentro, como coisa dada que pr-existe ao olhar, inteno de quem o produz. Vista sob essa tica, ela deixa deser espelho ou a duplicao do real, como queriam oshistoriadores da historiografia metdica. Apresenta-se comouma linguagem que no nem verdadeira nem falsa. Seusdiscursos sinalizam lgicas diferenciadas de organizao dopensamento, de ordenao dos espaos sociais e de mediodos tempos culturais. Constituem modos especficos dearticular tradio e modernidade. Por tudo isso, sabe-se queuma dada imagem uma representao do mundo que variade acordo com os cdigos culturais de quem a produz.

    Vemos, desse modo, que no s a fotografia, mas todos os documentos

    so fragmentos do real, representaes que correspondem realidade, mas

    tambm tm a ver com as intenes, com o contexto e com o momento e as

    condies em que foram produzidos. Esses caminhos oferecidos para a

    construo do passado, nos levam a considerar fatores como a

    contextualizao do documento fotogrfico e o saber interrog-los (BLOCH,

    1965), para que estes nos possam ser teis com suas informaes histricas.

    Possibilitando fragmentos visuais, a fotografia serviu e serve para

    inmeros interesses por parte de seus produtores, pesquisadores econsumidores. O avano tecnolgico com que se desenvolveu, proporcionou

    diferentes objetivos e ideologias que se concretizaram atravs dela. Hoje, mais

    do que nunca, uma fotografia nos conecta com o mundo, com diferentes temas,

    e quase sempre nos faz acreditar no que nos mostram. Essa herana de

    credibilidade, que para sempre ser carregada e a manipulao a que

    instrumento suas legendas, textos, informativos nos do um amplo leque de

    exemplos de sua utilizao e mostram a sua consolidao tambm como um

    documento em nossa sociedade. Quase tudo fotografado e mostrado pelasimagens nos dando a possibilidade de confirmamos e atestarmos fatos atravs

    delas.

    Para no ser meras ilustraes como no passado foram,

    fotografias tm de ser contextualizadas e, consideradas importantes

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    53/181

    54

    documentos que, como todos os documentos foi tendo seu sentido e conceito

    modificado e ampliado ao longo do tempo e que, junto a outras fontes, um

    elemento de construo da memria, da ideologia, de revolues culturais, que

    devem ser decifradas adequadamente.

    1.5 A crtica do documento fotogrfico

    Lembrana de fatos passados, objeto de pesquisa, instrumento para

    construo de memria, documento. Tudo isso a fotografia pode ser e, ao

    mesmo tempo, anular essas caractersticas e servir a outros objetivos. Em suas

    mltiplas facetas, a fotografia nos d o que est ali, imvel, retrata exatamente

    o seu referente agindo como espelho e sendo objetivamente passvel de uma

    identificao imediata. O documento fotogrfico sempre ir representar algo,

    a imagem de um objeto concreto que est muito prximo de quem a est

    analisando e, por este motivo passvel de manipulao por parte de quem fez

    a fotografia e de quem a v. Procurar um significado prprio de um documento

    fotogrfico implica em a todo o momento se deparar com a referencialidade e

    com a subjetividade. Dentro de uma perspectiva totalmente objetiva a fotografia

    identificada no momento em que vista, proporciona a sensao de que a

    compreendemos totalmente com um rpido olhar, o referencial est

    inteiramente mostrado e no se precisa de um intermedirio para compreend-lo. Contudo, existe o contedo dessa fotografia, a interpretao que se torna

    latente e, s vezes de forma quase imperceptvel a estamos interpretando e

    dando nossa opinio, vendo o que est de acordo com nossas experincias,

    quando olhamos uma fotografia, no ela que vemos, mas sim outras que se

    desencadeiam na memria, despertadas por aquela que se tem diante dos

    olhos, (LEITE, 2001, p. 145). Assim, se estabelece um duplo conceito do que o

    documento fotogrfico pode mostrar e principalmente informar ao pesquisador

    e a quem est trabalhando com ele para disponibiliza-lo. Sontag (1981, p.220),explicita de um modo bem particular essa tenso que se desloca ora ao objeto

    como referencial ora interpretao que se faz de forma subjetiva: A

    fotografia, na verdade incapaz de explicar o que quer que seja, um convite

    inexaurvel deduo, especulao e fantasia.

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    54/181

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    55/181

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    56/181

    57

    lado, a fotografia enquanto algo que se oferece ao nosso afeto (BARTHES,

    1984), como um detalhe que nos transpassa existencialmente. A importncia

    da descrio de uma fotografia est em que sempre ser ambgua, levando

    quem a analisa a descrever objetivamente seus elementos (studium), mas

    tambm ser influenciado por sua cultura, suas influncias e por seussentimentos no momento em que olhar a foto (punctum). O punctum seria,

    portanto dentro da prpria obra de Barthes o obtuso e conseqentemente o

    studium o bvio de uma fotografia.

    Atuando como um meio onde podem ser reestruturados os

    comportamentos e as representaes sociais de indivduos de diferentes

    pocas, os documentos fotogrficos necessitam de contextualizao e mtodos

    que dirijam a uma interpretao correta face s pessoas que precisam e

    trabalham com eles. Kossoy (1993, p.14) nos alerta que:

    Assim como as demais fontes de informao histricas, asfotografias no podem ser aceitas imediatamente comoespelhos fiis dos fatos. Assim como os demais documentoselas so plenas de ambigidades, portadoras de significadosno explcitos e de omisses pensadas, calculadas, queaguardam pela competente decifrao. Seu potencialinformativo poder ser alcanado na medida em que esses

    fragmentos forem contextualizados na trama histrica em seusmltiplos desdobramentos (sociais, polticos, econmicos,religiosos, artsticos, culturais) que circunscreveu no tempo eno espao o ato da tomada do registro. Caso contrrio essasimagens permanecero estagnadas em seu silncio:fragmentos desconectados da memria, meras ilustraesartsticas do passado.

    O trabalho com documentos fotogrficos suscita dvidas e adaptaes

    que exigem dos profissionais empenho e uma busca pelo melhor caminho a

    seguir. De acordo com as reflexes de Barthes, Smit (1987, p. 102) afirma que

    A descrio de uma imagem nunca completa pois quem trabalha comfotografias sempre ir se deparar com a conotao, sua interpretao e

    herana cultural, que influem em muito na descrio de um documento. No

    entanto, o profissional envolvido na tarefa de tratar o documento fotogrfico

    tem de ser muito objetivo para que suas informaes no sejam

    desperdiadas. Segundo Smit (1987, p. 106):

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    57/181

    58

    O bibliotecrio acostumado a analisar documentos escritostende, invariavelmente, a analisar fotografias atravs determos abstratos preponderantemente, esquecendo que aimagem dificilmente significa, de forma unvoca, um termoabstrato. Se, em documentao escrita, a utilizao de termos

    abstratos geralmente significa uma medida de economia geral(um termo abstrato resume vrios concretos), a imagem nosleva a uma realidade diametralmente oposta: o termo abstratolimita o significado de uma imagem, fixando uma leitura emdetrimento de inmeras outras.

    Ou seja, ao se passar o documento fotogrfico de imagem para palavras

    h o que Smit (1987) chama de transcodificao, a passagem de uma

    linguagem para outra. A linguagem verbal muito mais abstrata do que a

    imagem em si, pois fala da imagem ou fala a imagem, verbalizando-a e

    induzindo o consulente a pensar a imagem conforme sua legenda. Aopensarmos na imagem de forma verbal damos incio ao tratamento desta para

    que tenha um sentido, para que seja traduzida, mas, esse tratamento no

    passvel de revelar, de forma completa sua visualidade. A palavra em si no

    consegue manter o visvel e sim o imaginvel do documento fotogrfico.

    Contudo, no se consegue pensar uma imagem sem verbaliz-la e isso o que

    sustenta sua representatividade e referencialidade.

    Muito foi acrescido e mudado desde os primrdios da fotografia atagora mas os fatos que marcaram seu desenvolvimento fez com que no

    presente entendssemos como a busca pelo momento perdido e sua

    eternizao so as misses da fotografia, com isso passamos a outros tantos

    usos e funes (FABRIS, 1991) que lhe so atribudas. A imagem fotogrfica

    informa e comunica como qualquer outro documento mas, tem de ser

    contextualizada e utilizada com um objetivo para que possa oferecer o mximo

    de seus sentidos. O documento fotogrfico, atravs do processo de descrio

    e, podemos nos arriscar a falar de leitura de seus elementos, torna-se visvelde forma verbal, diferente da visibilidade em sua forma original, e essa troca

    de linguagem que tentamos entender no mbito da descrio desses

    documentos. Como as normas vigentes em bibliotecas e arquivos podem

    englobar objetos to singulares como as fotografias. Ela se diferencia das

    demais representaes grficas e pictricas por uma srie de fatores e, para o

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    58/181

  • 7/25/2019 Catalogao e Descrio de Documentos

    59/181

    61

    2.1 A descrio

    A credibilidade que o pensamento cientfico alcanava no sculo XIX foi

    um dos alicerces para que a Revoluo Cientfica fosse feita. Os inventos que

    surgiam na poca, como as mquinas, eram palpveis e assim poderiam

    confirmar o sucesso que as atividades cientficas estavam tendo em

    desenvolver tcnicas que ajudassem a controlar e superar a natureza. No final

    do sculo XIX aflorou-se um caminho amplo para o progresso cientfico, dessa

    forma, a cincia tornou-se um conjunto de descries, interpretaes, teorias,

    etc, que visam o conhecimento de uma