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 Nova Era: Uma Manifestação de Fé da Contemporaneidade Fabiano Fernandes Serrano Birchal  _____ RESUMO  _____ O homem contemporâneo vive um mundo de incertezas, onde muitos dos antigos paradigmas que o senso comum considerava como absolutos se desmoronam com incrível velocidade. Esta volatilidade de sentidos é observada com ampla nitidez na busca do sagrado: as religiões tradicionais são deixadas de lado ou misturadas a práticas esotéricas, místicas e ocultas, tentativa humana de explorar o mundo através de um enfoque holístico, que reimprima na vida a magia outrora perdida. Neste contexto de construção de uma nova realidade, a percepção e manifestação do sagrado não desaparecem, mas, seguindo a mentalidade de seu tempo, transformam-se. A religiosidade assume um caráter individualista, imediatista e descompromissado, restaurando conceitos e práticas da antiguidade, em uma tentativa clara de reencantamento do mundo, agora sob a perspectiva da sociedade globalizada. Filosofias orientais invadem a dimensão religiosa do mundo ocidental, numa mistura explicitamente paradoxal. Deste epicentro nasce a cultura da Nova Era, movimento que busca restaurar a tradição sagrada do homem postulando um saber místico, pretendendo conectar o ser humano ao transcendente partindo não de instituições específicas, mas de conhecimentos e práticas do esoterismo, ocultismo e magia. Palavras-chave: Nova Era; Subjetivismo; Consumismo.  _____ ABSTRACT  _____ The contemporary man lives in a world of uncertainties, in which many of the old paradigms that common sense considers as absolutes are falling apart with incredible speed. This volatiliness of senses is observed with wide clearness in the search of sacred: traditional religions are left behind or mixed to esoteric, mystic and occult practices, in a human try of exploring the world through a holistic focus, that reprints on life the magic once lost by it. In this context of building a new reality, the perception and manifestation of sacred do not disappear, but, following the mentality of its time, changes. The religion aspect assumes an individualistic character, immediative and with no commitment, restoring concepts and practices of antiquity, in a clear try of making the world enchanted once more, now under the perspective of globalized society. Oriental philosophies invade the religion dimension of occidental world, in an explicit and paradoxical mixture. From this epicenter born the New Age culture, movement that tries to restore the human sacred tradition by claiming a mystical knowledge, trying to connect human being to the transcendent not by an specific institution, but by knowledge and practices of esoterism, occultism and magic. Key-words: New Age; Subjectivism; Consumerism.  _____ SECULARIZAÇÃO, SUBJETIVISMO E NOVA ERA: UM BREVE HISTÓRICO  _____ Vivemos um tempo de grandes e constantes mudanças. A sociedade contemporânea, em seu viver frenético, mutável e transnacional, tornou institucional a era do descartável, do imediato, do prazer e da estética. Paradigmas seculares, calcados na unidade nacional e cultural e, sobretudo, religiosa, caíram por terra, espalhando seus fragmentos pelas fronteiras do mundo globalizado. Neste contexto, a ausência de referências concretas e o relativismo dominaram o campo do sagrado, imprimindo-lhe a marca da pós-modernidade: um desespero espiritual, causado pelo vazio existencial. Esta crise, que abalou os fundamentos da crença e da ciência, teve origem na segunda metade do século XIX com a proclamação da “morte de Deus” e culmina na própria desconstrução espiritual do século XX, verificada no período comumente chamado de “pós-guerra”. O anúncio da “morte de Deus” por Zaratustra (Nietzsche), no século XIX, abriu uma chaga crônica no universo da consciência humana, que vai da exaustão do pensamento metafísico ao abrandamento dos valores éticos e morais do Ocidente. A morte de Deus, neste sentido, configura-se como a própria morte do eu, pois, “uma vez perdido o contato com o transcendente, a existência no mundo já não é mais possível” (ELIADE, 1996a). A conseqüência imediata desta constatação se dá na ausência de sentidos para o viver, crise da consciência que se estende até nossos dias. A falta de referências sólidas, que expliquem de forma convincente os porquês da vida e forneçam modelos mínimos de um viver que faça sentido, faz com que o homem se oriente, sobretudo, Página 1 de 5 Untitled Document 3/9/2009 http://www.cienciadareligiao.com.br/novaera.html

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  • Nova Era: Uma Manifestao de F da Contemporaneidade Fabiano Fernandes Serrano Birchal

    _____RESUMO

    _____O homem contemporneo vive um mundo de incertezas, onde muitos dos antigos paradigmas que o senso comum considerava como absolutos se desmoronam com incrvel velocidade. Esta volatilidade de sentidos observada com ampla nitidez na busca do sagrado: as religies tradicionais so deixadas de lado ou misturadas a prticas esotricas, msticas e ocultas, tentativa humana de explorar o mundo atravs de um enfoque holstico, que reimprima na vida a magia outrora perdida. Neste contexto de construo de uma nova realidade, a percepo e manifestao do sagrado no desaparecem, mas, seguindo a mentalidade de seu tempo, transformam-se. A religiosidade assume um carter individualista, imediatista e descompromissado, restaurando conceitos e prticas da antiguidade, em uma tentativa clara de reencantamento do mundo, agora sob a perspectiva da sociedade globalizada. Filosofias orientais invadem a dimenso religiosa do mundo ocidental, numa mistura explicitamente paradoxal. Deste epicentro nasce a cultura da Nova Era, movimento que busca restaurar a tradio sagrada do homem postulando um saber mstico, pretendendo conectar o ser humano ao transcendente partindo no de instituies especficas, mas de conhecimentos e prticas do esoterismo, ocultismo e magia.

    Palavras-chave: Nova Era; Subjetivismo; Consumismo.

    _____ABSTRACT

    _____The contemporary man lives in a world of uncertainties, in which many of the old paradigms that common sense considers as absolutes are falling apart with incredible speed. This volatiliness of senses is observed with wide clearness in the search of sacred: traditional religions are left behind or mixed to esoteric, mystic and occult practices, in a human try of exploring the world through a holistic focus, that reprints on life the magic once lost by it. In this context of building a new reality, the perception and manifestation of sacred do not disappear, but, following the mentality of its time, changes. The religion aspect assumes an individualistic character, immediative and with no commitment, restoring concepts and practices of antiquity, in a clear try of making the world enchanted once more, now under the perspective of globalized society. Oriental philosophies invade the religion dimension of occidental world, in an explicit and paradoxical mixture. From this epicenter born the New Age culture, movement that tries to restore the human sacred tradition by claiming a mystical knowledge, trying to connect human being to the transcendent not by an specific institution, but by knowledge and practices of esoterism, occultism and magic.

    Key-words: New Age; Subjectivism; Consumerism.

    _____SECULARIZAO, SUBJETIVISMO E NOVA ERA: UM BREVE HISTRICO

    _____Vivemos um tempo de grandes e constantes mudanas. A sociedade contempornea, em seu viver frentico, mutvel e transnacional, tornou institucional a era do descartvel, do imediato, do prazer e da esttica. Paradigmas seculares, calcados na unidade nacional e cultural e, sobretudo, religiosa, caram por terra, espalhando seus fragmentos pelas fronteiras do mundo globalizado. Neste contexto, a ausncia de referncias concretas e o relativismo dominaram o campo do sagrado, imprimindo-lhe a marca da ps-modernidade: um desespero espiritual, causado pelo vazio existencial. Esta crise, que abalou os fundamentos da crena e da cincia, teve origem na segunda metade do sculo XIX com a proclamao da morte de Deus e culmina na prpria desconstruo espiritual do sculo XX, verificada no perodo comumente chamado de ps-guerra. O anncio da morte de Deus por Zaratustra (Nietzsche), no sculo XIX, abriu uma chaga crnica no universo da conscincia humana, que vai da exausto do pensamento metafsico ao abrandamento dos valores ticos e morais do Ocidente. A morte de Deus, neste sentido, configura-se como a prpria morte do eu, pois, uma vez perdido o contato com o transcendente, a existncia no mundo j no mais possvel (ELIADE, 1996a). A conseqncia imediata desta constatao se d na ausncia de sentidos para o viver, crise da conscincia que se estende at nossos dias. A falta de referncias slidas, que expliquem de forma convincente os porqus da vida e forneam modelos mnimos de um viver que faa sentido, faz com que o homem se oriente, sobretudo,

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  • por aquilo que lhe impressiona e que lhe parece razovel em determinado momento: a sociedade do fantstico, das aparncias, ditadura da imagem alimentada pelo consumismo de massa global.

    _____Os avanos da fsica e da tecnologia possibilitaram, no sculo XX, uma nova revoluo industrial, que modificou radicalmente as bases da sociedade. O mundo ficou menor com o advento do automvel, das aeronaves e, sobretudo, com a exploso dos meios de comunicao de massa. A cincia e suas comprovaes, sob a insgnia mxima do cientificamente comprovado, foram elevadas ao posto de grandes detentoras da verdade, as reais depositrias dos conhecimentos e certezas humanos. Sigmund Freud, considerando que o ser humano atual busca, na religio, amparo, proteo e conforto para o seu mal estar, acreditava que o progresso da cincia faria com que a religio perdesse sua influncia sobre o homem. O pai da psicanlise considerava a religio como neurose obsessiva universal da humanidade. Contudo, todo este avano tecnolgico no foi suficiente para preencher o vazio existencial do homem e curar as feridas abertas com a secularizao do mundo: o homem permanecia um ser a vagar sem referncias de onde estava e, principalmente, de onde iria chegar. O mundo deixou aos poucos de ser um lugar encantado e sacralizado, para se tornar um local profano, comum. Muito embora tenha condies de explicar e dominar o espao natural de forma extraordinria, o ser humano continua a caminhar infeliz pela vida. Visto sob este referencial, o domnio cientfico, por si s, no conseguiu preencher o perptuo vazio existencial humano.

    _____Neste novo deserto da conscincia humana, a evoluo industrial e as aes mercadolgicas encontraram solo frtil para se desenvolverem. Frente a elas havia um potencial e vasto mercado consumidor, seres humanos vidos por algum contedo que lhes fornecesse sentido para o viver. Tem incio, pois, a corrida desenfreada pelo consumo, a filosofia do ter para ser, a idolatria do mercado. Paralelamente, o avano dos meios de comunicao permitiu ao mundo ocidental acessar o universo oriental, marcadamente mstico e pitoresco. Tradies e filosofias do budismo, hinduismo, xamanismo, druidismo, yga, hermetismo e tantas outras saltaram aos olhos dos novos consumidores, que enxergaram, nestes conhecimentos, uma possibilidade de ressignificarem sua existncia.

    _____A humanidade d incio, pois, a uma tentativa de ressacralizar a vida, construindo uma nova verdade a partir do subjetivismo religioso. Neste contexto surge o movimento intitulado Nova Era, um reencantamento do mundo que se d, em grande parte, atravs do mercado de consumo, conforme sustentado por Leila Amaral (2000a), ao afirmar que:

    os indivduos, com suas convices e crenas, recorrem a um mercado de bens simblicos, os centros holsticos, para satisfazer suas necessidades pessoais. Uma atitude pragmtica de aproveitar o aproveitvel para atingir fins particulares, sejam eles materiais sade, prosperidade ou espirituais de enriquecimento e fortalecimento interior, atravs da afirmao positiva do verdadeiro eu.

    _____A nova conscincia que emerge nas sociedades humanas apresenta-se, portanto, plural, resgatando tradies e prticas das mais diversas. a marca do holismo, que representa o desejo humano para a integrao de todas as coisas, valor coerente com o contexto globalizado. Tem-se a, mais uma vez, a contribuio de Leila Amaral (2000a), quando diz que:

    pelo juntar de foras vindas de outras culturas e da natureza, busca-se intensificar a fora do prprio desejo: o recompor de uma unidade que fora rompida e, por esse gesto, desencadear sentidos no previstos e descobrir vnculos que se tornaram invisveis com a modernidade.

    _____Esta concepo holstica, que integra todos os seres e perpassa todas as manifestaes culturais, tambm sustentada pelo fsico Fritjof Capra (2003a):

    _____Quanto mais estudamos os principais problemas de nossa poca, mais somos levados a perceber que eles no podem ser entendidos isoladamente. So problemas sistmicos, o que significa que esto interligados e so interdependentes.

    _____Nestas novas guas da construo histrico-social-espiritual humana, surgem diversas correntes Nova Era, que tambm se afirmam como holsticas ou universais, considerando que o conhecimento do sagrado est alm de uma religio em especfico, mas que rene a gnose de toda a humanidade. Estes conhecimentos no precisam necessariamente de ser

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  • comprovados empiricamente e tm como meta obter controle sobre o meio ambiente, de modo que objetivos especficos possam ser atingidos. O termo religio, inclusive, geralmente substitudo por magia neste contexto: o termo magia denota um complexo de crenas e aes sobre as bases e meios, atravs dos quais pessoas e grupos podem tentar controlar seu meioambiente para alcanar os seus fins (AMARAL, 2000a).

    _____O retorno religiosidade, neste sentido, ocorre atravs da difuso destas prticas econceitos esotricos, ocultos e mgicos. Sociedades iniciticas, ordens, confrarias e correntes espiritualistas passam a difundir um novo conhecimento religioso, que bebe de diversas fontes. Um retorno plural ao sagrado, dimenso transcendental, num movimento individual que tem por objetivo mover o coletivo rumo a nveis mais elevados de conscincia, ativando nos homens a idia de que tudo e todos esto intimamente conectados, preceito fundamental da Nova Era. A prtica de combinar tcnicas variadas, retiradas de seu contexto original e divorciadas desuas estruturas tericas, vai se tornando, assim, bem estabelecida no movimento (AMARAL, 2000a).

    _____Os errantes do subjetivismo New Age no demonstram a pretenso de encontrar uma unidade religiosa completa, posto que o prprio caminhar por diversas tradies que lhes permite vivenciar situaes que preencham sua porosidade religiosa dinmica. Esta pluralidade de experincias, fruto do processo de secularizao, construda na ausncia de sentidos,imediatismo, hedonismo, narcisismo, individualismo e consumismo, caractersticas prprias da mentalidade ps-moderna, profundamente introjetadas nos coraes contemporneos.

    _____NOVA ERA E O SUPERMERCADO RELIGIOSO

    _____O subjetivismo religioso, encarnado pelo modo Nova Era de ser no mundo, poderepresentar uma opo oferecida pelas sociedades de consumo para preencher a lacuna existencial do homem, a partir de produtos e servios que representam uma nova dimenso da busca pelo sagrado. O mercado de consumo aproveita-se deste enlace e cria elementos que vo de encontro a esta nova demanda do ser humano: um supermercado religioso, no qual h ofertas de todos os gneros, para os mais variados buscadores.

    _____Torna-se notvel, pois, o oferecimento de produtos e servios New Age . Nos shopping centers, os grandes templos do consumo onde ocorre a venerao ao mercado, no tarefa difcil encontrar lojas especficas de esoterismo, nas quais h uma enorme gama de produtos Nova Era: cristais para energizao, incensos, defumadores, pirmides, figuras da tradiohindu, imagens de Buda, crucifixos, smbolos chineses do Feng Shui, velas aromticas, livros, revistas, roupas indianas etc. A indstria cinematogrfica e a literatura de fico tambm se aproveitam deste mercado, lanando, em sua grande maioria, filmes e obras sensacionalistas e de grande impacto propagandstico, exaltando aos consumidores os enigmas de um mundo oculto. No se pode deixar de citar, ainda, a vasta coletnea de livros do tipo auto-ajuda, que se utilizam do vis esotrico para ilustrar a face mgica da vida e, tambm, alavancar cada vez mais vendas.

    _____Centros de terapia holstica misturam prticas da medicina ocidental a conhecimentosseculares do oriente: a acupuntura, a medicina ayurvdica, os tratamentos da aromaterapia (cura atravs da utilizao de leos e plantas) e cromoterapia (cura atravs de luzes coloridas), Reiki (cura atravs da imposio das mos, por meio de uma energia divina), Qiqong (chi kung chins), s a ttulo de exemplo. Os adeptos destas terapias alternativas so milhares em todo o mundo, assim como tambm so muitos os relatos, por parte dos mesmos adeptos, da eficcia destes tratamentos.

    _____Outro fator relevante o grande aumento do nmero de adeptos de sociedades secretas,ordens iniciticas e confrarias, evidenciando duas caractersticas comuns no mercado New Age : o trnsito religioso e o modismo. Pode-se citar, a ttulo de exemplo, vrias destas sociedades: em contexto internacional, a AMORC (Antiga e Mstica Ordem Rosa Cruz), aSociedade Teosfica , a Ordem da Aurora Dourada (Golden Dawn), a Grande Fraternidade Branca , o Movimento Gnstico ; no contexto brasileiro, a Sociedade Brasileira de Eubiose , a Unio do Vegetal , o Santo Daime e tantos outros.

    _____Altamente poroso e dinmico, o fenmeno espiritual da Nova Era torna-se tambm umfenmeno de mercado, uma oportunidade mpar de consolidao de um novo modo de viver baseado no consumo e no descartvel, na experincia e valorizao do novo e imediato. de

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  • se considerar, entretanto, que o mesmo mercado, se por um lado se aproveita da problemtica existencial humana, por outro fornece ao homem subsdios para preencher seus vazios e responder s suas questes, conforme sustenta Leila Amaral (2000a), quando diz que existe tambm a possibilidade de o consumo apresentar-se no somente como a oportunidade para a reproduo do capital econmico e social, mas tambm para produzir valores e significados, espirituais e morais.

    _____NOVA ERA, CINCIA E F

    _____A meta da cincia e da f a mesma: a busca da verdade. Ambas tentam descrever uma realidade, cada qual sob olhares distintos. A cincia considera que hipteses verificadas e comprovadas empiricamente e fundamentadas por modelos lgico-matemticos so a descrio mais fiel da realidade. A f considera que experincias particularizadas afirmam uma realidade que, antes de hiptese, uma verdade absoluta. A grande diferena, pois, no est no objeto de anlise, mas na linguagem e metodologia utilizadas para a compreenso. Uma distino de referenciais.

    _____A Nova Era abarca um novo contexto social, religioso e tecnolgico, no qual as linguagens utilizadas pela religio e pela cincia passam a se aproximar e at mesmo a se confundir: a subjetividade como manifestao de uma experincia que no pode ser descrita em palavras ou outros smbolos, mas apenas compreendida por quem a vivenciou; o pensamento como fonte de transformao da realidade; espao e tempo relativos; nveis alternativos de conscincia; f. A cincia abre espao para as possibilidades infinitas da existncia, admitindo os paradoxos da matria (a natureza dual da luz, por exemplo, que onda e partcula ao mesmo tempo, a depender do referencial) e tecendo suas consideraes sobre o no-ser, sobre a anti-matria. Se antes a razo era objetiva e determinista, agora ela relativa e aberta potencialidade das situaes.

    _____Pode-se observar que, hodiernamente, tanto nas manifestaes de f New Age quanto na cincia, o observador quem exerce um papel fundamental nas definies de certo e errado, de real e irreal. ele quem determina a natureza da existncia, ele quem circunscreve o mundo em que vive. o olhar particularizado do fragmento que lhe proporciona a idia do todo e a experincia da ausncia de sentidos ou simplesmente da ausncia de referenciais objetivos e racionais que lhe faz vislumbrar o no-existir. A expresso da vivncia se torna uma realidade deturpada, pois depende da utilizao de uma linguagem que simboliza o que foi experimentado, mas no compreende a experimentao em si. A palavra no o objeto descrito.

    _____Cincia e f, na perspectiva Nova Era, j no mais representam realidades diametralmente opostas. Com o avano da tecnologia na fsica e neurocincia e a evoluo das discusses e interpretaes religiosas e espiritualistas atravs das prticas esotricas e msticas, percebe-se que a linha que separa as duas grandes colunas de sustentao da humanidade cincia e f - , de fato, muito tnue. A linguagem, pura construo social, pode ao mesmo tempo afastar ou aproximar o dilogo entre estes dois fundamentais devaneios humanos, guiada pelo olhar de quem observa e pela dimenso daquilo que observado.

    _____DISPOSIES FINAIS

    _____A sociedade contempornea alimenta a busca espiritual do homem, apresentando-lhe uma vasta gama de produtos para o esprito, no intuito de lhe prover conforto fsico e mental momentneos, seguindo a lgica do mundo globalizado. Neste particular, compreender os porqus do fenmeno Nova Era, identificando suas origens, tendncias e manifestaes atuais, e vislumbrando seu futuro, pode permitir a compreenso da prpria existncia religiosa humana na contemporaneidade. Pode significar oferecer aos new agers como so chamados os andarilhos da Nova Era ferramentas para o auto-conhecimento do prprio movimento, uma alternativa que vai de encontro a um dos princpios fundamentais deste subjetivismo, o conhece-te a ti mesmo.

    _____Portanto, compreender este trnsito religioso compreender no apenas o indivduo, mas suas manifestaes atravs da criao de organismos coletivos que expressam carter individualista, atravs dos quais os andarilhos da Nova Era buscam referncias e prticas para alcanarem um tipo de iluminao: o interesse geral alcanar o sadhana, o caminho espiritual em direo auto-realizao, atravs de prticas transformadoras que proporcionam

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  • mudana moral e espiritual constante, numa busca relativamente individualizada (AMARAL, 2000a).

    _____A Nova Era pode no significar a soluo final para os problemas de sentido (ou de ausncia dele) da humanidade. Como a histria nos mostra com clareza, expresses religiosas e espiritualistas ao longo dos sculos no culminaram no esgotamento da sede de sentidos do homem, tampouco na satisfao de suas buscas pelo transcendente. Os new agers so sujeitos histricos, abarcados por uma cultura niilista que encontrou no mercado um acalanto, refgio temporrio para suas tenses. Deste movimento podem surgir novas tradies ou mesmo releituras consistentes e coerentes de conhecimentos outrora ditos como consolidados. A Nova Era no estabelece, contudo, novas certezas ao ser humano; pelo contrrio, ao mostrar que a verdade uma terra sem caminhos, contribui para que os homens observem com mais naturalidade a falta de garantias que a existncia lhes proporciona, ensinando-lhes que a natureza da vida pode ser, realmente, porosa e dinmica: um eterno movimento de ir e vir, de significar e reler uma troca casual e no-linear de olhares com o eterno.

    _____REFERNCIAS

    _____AMARAL , Leila . Carnaval da alma : comunidade, essncia e sincretismo na nova era. Petrpolis: Vozes, 2000a. 230p.

    _____AMARAL, Leila . Os errantes da nova era e sua religiosidade caleidoscpica . Cadernos de Cincias Sociais: [belo Horizonte], Belo Horizonte , v.3, n.4 , p. 19-32, dez. 1993.

    _____BLAVATSKY, H. P. Glossrio teosfico . So Paulo: Ground, [1988?]. 778p

    _____BOFF, Leonardo. Nova era : a civilizao planetria: desafios sociedade e ao cristianismo. 3.ed. So Paulo: tica, 2000. 87p.

    _____CAPRA, Fritjof. O tao da fsica . 20.ed. So Paulo: Cultrix, 2000. 274p.

    _____D`ANDREA, Anthony. O self perfeito e a nova era . So Paulo: Edies Loyola, 2000. 237p.

    _____ELIADE, Mircea. Ocultismo, bruxaria e correntes culturais : ensaios em religies comparadas. Belo Horizonte: Interlivros, 1979.

    _____ELIADE , Mircea . O sagrado e o profano : a essncia das religies. So Paulo: Martins Fontes, 1996a. 191p.

    _____ELIADE, Mircea . Tratado de histria das religies . 2. ed. So Paulo: Martins Fontes, 1998. 479p.

    _____LIBNIO, Joo Batista. Nova era : seus desafios f crist. Horizonte : Revista de Estudos de Teologia e Cincias da Religio da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais, Belo Horizonte , v.1, n.2 , p.7-16, 2 Sem. 1997.

    _____SUSIN, Luiz Carlos. O esprito e a nova era . Revista Eclesistica Brasileira : Reb, Petrpolis, RJ , v.56, n.222, p.308-330, jun. 1996.

    _____THOMAS, Keith. Religio e o declnio da magia . 1.ed. So Paulo: Companhia das Letras, 1991. 724p.

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