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Ecles. Leigos, 6: Os FIÉIS LEIGOS na IGREJA e no MUNDO Os Leigos são a Igreja no coração do mundo e são o mundo no coração da Igreja Documentos Eclesiais sobre o Laicato Decreto Conciliar Apostolicam Actuositatem do Vaticano II sobre a importância e atualidade da vida e da missão dos fiéis leigos na Igreja e no mundo, feitos sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5,13- 16); Exortação Apostólica pós-sinodal Christifideles Laici do Papa João Paulo II, sobre a Vocação e a Missão dos Leigos na Igreja e no Mundo (30/12/1988); Documentos da CNBB 105: Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade, Sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-14) . Palestra sobre o Doc. 105 da CNBB (https://www.youtube.com/watch?v=3ViSPy2SRBo ) CRISTÃOS LEIGOS E LEIGAS, NA IGREJA E NA SOCIEDADE SAL DA TERRA E LUZ DO MUNDO (Mt 5,13-14) Documento da CNBB – n.105

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Ecles. Leigos, 6: Os FIÉIS LEIGOSna IGREJA e no MUNDO

Os Leigos são a Igreja no coração do mundoe são o mundo no coração da Igreja

Documentos Eclesiais sobre o LaicatoDecreto Conciliar Apostolicam Actuositatem do Vaticano II sobre a importância e atualidade da vida e da missão dos fiéis leigos na Igreja e no mundo, feitos sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5,13-16);Exortação Apostólica pós-sinodal Christifideles Laici do Papa João Paulo II, sobre a Vocação e a Missão dos Leigos na Igreja e no Mundo (30/12/1988);Documentos da CNBB 105: Cristãos Leigos e Leigas na Igreja e na Sociedade, Sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-14).

Palestra sobre o Doc. 105 da CNBB(https://www.youtube.com/watch?v=3ViSPy2SRBo)

CRISTÃOS LEIGOS E LEIGAS, NA IGREJA E NA SOCIEDADESAL DA TERRA E LUZ DO MUNDO (Mt 5,13-14)

Documento da CNBB – n.105

O laicato como um todo é um “verdadeiro sujeito eclesial”O laicato como um todo é um “verdadeiro sujeito eclesial” (DAp, n. 497a). Cada cristão leigo e leiga é chamado a ser sujeito eclesial para atuar na Igreja e no mundo.

Por que sal? Por que luz?“ ‘Sal da terra e luz do mundo’ (Mt 5, 13-14), assim Jesus definiu seus discípulos e a missão que a eles conferiu. As imagens evangélicas do sal e

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da luz, embora se refiram indistintamente a todos os discípulos de Jesus, são particularmente significativas se aplicadas aos cristãos leigos e leigas“ (n. 13).“Os leigos também são chamados a participar na ação pastoral da Igreja” (DAp, n. 211).Assim como o leigo não pode substituir o pastor, o pastor não pode substituir os leigos e leigas naquilo que lhes compete por vocação e missão. Além disso, a ação dos cristãos leigos e leigas não se limita à suplência em situação de emergência e de necessidades crônicas da pastoral e da vida da Igreja. É uma ação específica da “responsabilidade laical que nasce do Batismo e da Crisma” (EG, n. 102).Por que o documento 105? 2018: Ano do Laicato - Período: 26/11/17 a 25/11/18.Por que 2017 e 2018? 30 anos Sínodo dos Leigos (1987) e da Exortação Apostólica Christifideles Laici (João Paulo II - 1988).

O que se pretende?“O que nós queremos atingir é a transformação da sociedade. Os cristãos leigos e leigas devem ser sal e luz no mundo, na sociedade. Purificar os mecanismos da sociedade que nós temos, que aí sim a graça do batismo seja, de fato, o sacramento que transforma, que ilumina. E que a graça de Deus perpasse e penetre em todas as camadas da sociedade” (Dom Severino Clasen).

CAPÍTULO I - O CRISTÃO LEIGO, SUJEITO NA IGREJA E NO MUNDO: ESPERANÇAS E ANGÚSTIAS

Cristãos Leigos nas conferências da América Latina.“Os leigos cumprirão mais cabalmente sua missão de fazer com que a Igreja ‘aconteça’ no mundo, na tarefa humana e na história” (Medellín, n. 10,2.6).“Homens e mulheres da Igreja no coração do mundo e homens e mulheres do mundo no coração da Igreja” (Puebla, n. 786 “Protagonistas da transformação da sociedade” (DSD, n. 98). “Maior abertura de mentalidade para entender e acolher o ‘ser’ e o ‘fazer’ do leigo na Igreja, que por seu batismo e sua confirmação é discípulo e missionário de Jesus Cristo” (DAp, n. 213).

A teologia do laicato: avanços- O Conselho Nacional do Laicato do Brasil – CNLB;- Cristãos leigos e leigas que exercem o ministério de teólogos;- Os grupos bíblicos de reflexão, CEBs, pequenas comunidades, a catequese, as celebrações da Palavra, as escolas de teologia;

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- As pastorais, os movimentos, as novas comunidades;- Organizações com a consciência missionária;- As crianças, os jovens, a mulher, o idoso, a família; - Leigos e leigos qualificados para a administração dos bens de suas dioceses;- Cristãos leigos e leigas comprometidos com os movimentos sociais, etc.

Recuos no campo do laicatoA consciência e a gratidão pelos avanços não impedem que vejamos também alguns recuos, seja na forma de retrocessos, seja na forma de indiferenças (n. 38).

Os rostos do laicatoDizem os Bispos: Queremos reconhecer os diferentes rostos dos cristãos leigos e leigas, irmãos e corresponsáveis na evangelização. São para nós motivo de alegria e de ânimo na vivência do ministério ordenado.

VER o MUNDO GLOBALIZADO- “Vivemos no mundo definitivamente globalizado. A postura dos cristãos nesse mundo tem por base o ensino do Concílio Vaticano II sobre as relações entre a Igreja e o mundo. Esse Concílio enfatizou a necessidade de abertura e de diálogo, a partir do olhar da razão e da fé” (n 66).

A necessária mudança de mentalidadeA Igreja é chamada a ser: - Comunidade de discípulos de Jesus Cristo;- Escola de vivência cristã; - Organização comunitária; - Comunidade inserida no mundo; - Povo de Deus com os sinais do Reino no mundo;- Comunidade que se abre para às urgências do mundo; - Comunidade de ajuda e serviço mútuo; - Igreja “em saída”, de portas abertas para a missão(n. 85).

CAPÍTULO II - SUJEITO ECLESIAL: DISCÍPULOS MISSIONÁRIOS E CIDADÃOS DO MUNDO

Jesus nos ensina a ser sujeitos de nossa vida: Ele é modelo para todo cristão, chamado a ser sujeito livre e responsável.A Igreja, comunhão na diversidade: A unidade da Igreja se realiza na diversidade de rostos, carismas, funções e ministérios.Identidade e Dignidade da vocação laical: “Os fiéis leigos estão na linha mais avançada da vida da Igreja. Eles devem ter uma consciência cada vez mais clara, não somente de que pertencem à Igreja, mas de que são Igreja, isto é, comunidade dos fiéis na terra sob a direção do chefe comum, o Papa, e dos bispos em comunhão com ele. Eles são Igreja” (Pio XII) – n. 109.O cristão leigo como sujeito eclesial: Ser sujeito eclesial significa ser maduro na fé, testemunhar amor à Igreja, servir os irmãos e irmãs, permanecer no seguimento de Jesus, na escuta obediente à inspiração do Espírito Santo e ter coragem, criatividade e ousadia para dar testemunho de Cristo.

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Âmbitos de comunhão eclesial e atuação do leigo como sujeito (n.136): * A Família; * A Paróquia e as comunidades eclesiais; * Os Conselhos pastorais e os Conselhos de assuntos econômicos; * As Assembleias e reuniões pastorais (n. 143); * As Comunidades Eclesiais de Base e as pequenas comunidades; * Movimentos eclesiais; * Associação de Fiéis e Novas Comunidades.Carismas, Serviços e Ministérios na Igreja: Por meio dos carismas, serviços e ministérios, o Espírito Santo capacita a todos na Igreja para o bem comum, a missão evangelizadora e a transformação social, em vista do Reino de Deus (n. 152).Serviço Cristão ao Mundo: É missão do Povo de Deus assumir o compromisso sócio-político transformador, que nasce do amor apaixonado por Cristo. Desse modo, se incultura o Evangelho (n. 161); Ser cristão, sujeito eclesial e ser cidadão não podem ser vistos de maneira separada (n. 164).

CAPÍTULO III - A AÇÃO TRANFORMADORA NA IGREJAe NO MUNDO

Igreja Comunidade Missionária: A Missão é o máximo desafio, é a primeira de todas as causas, é paradigma de toda a vida da Igreja (n. 173).A Igreja missionária é semeadora de esperança: “Não nos roubem o entusiasmo missionário” (EG, n. 80). * “Não nos roubem a alegria da evangelização” (EG, n. 83). * “Não nos roubem a esperança” (EG, n. 86).* “Não deixemos que nos roubem a comunidade” (EG, n.92). * “Não deixemos que nos roubem o Evangelho” (EG, n. 97). * “Não deixemos que nos roubem o ideal de amor fraterno” (EG, n. 101). * Eis o que significa ser missionário no mundo globalizado, consumista e secularizado (n. 177).Uma Espiritualidade Encarnada: “A espiritualidade responde ao desejo e à busca do rosto de Deus e da comunhão com ele. Uma espiritualidade encarnada caracteriza-se pelo seguimento de Jesus, pela vida no Espírito, pela comunhão fraterna e pela inserção no mundo” (n. 184).A presença e organização dos cristãos leigos e leigas no Brasil: A presença e organização dos leigos em função da sua ação apostólica, desde o século passado até os dias atuais, na Igreja do Brasil, buscou responder aos desafios da Igreja e da sociedade brasileira nos diferentes momentos e modelos existentes.A formação do laicato: Dever-se-á distinguir diferentes níveis de formação no âmbito da comunidade eclesial, de forma a oferecer aos distintos sujeitos o que for conveniente e necessário à sua compreensão e vivência da fé em sua faixa etária biológica ou eclesial, começando com a iniciação à vida cristã e continuando com a formação bíblico-teológica e com as diversas formações específicas (n. 227).

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Ação transformadora dos cristãos leigos e leigas no mundo: Modos de ação transformadora - * O testemunho, como presença que anuncia Jesus Cristo; * A ética e a competência, no exercício de sua própria atividade profissional; * O anúncio querigmático, nos diversos encontros pessoais; * Os serviços, pastorais, ministérios e outras expressões organizadas pela própria Igreja; * A inserção na vida social, através das pastorais sociais; * Os meios de organização e atuação na vida cultural e política (n. 244).A ação dos cristãos leigos e leigas nos areópagos modernos (n. 250): Os cristãos leigos são os primeiros membros da Igreja a se sentirem interpelados na missão junto a essas grandes áreas culturais ou “mundos” ou fenômenos sociais ou, mesmo, sinais dos tempos (n. 251).

C O M P R O M I S S O S* Envolver regionais, dioceses, paróquias, organismos, pastorais e as diversas expressões laicais na reflexão e aplicação deste documento.* Celebrar o Dia Nacional dos Cristãos Leigos e Leigas na solenidade de Cristo Rei, a cada ano.* Estimular que no decorrer do mês de novembro de cada ano, haja uma programação com momentos de reflexão, de espiritualidade e de gestos concretos envolvendo as comunidades, paróquias e todas as formas organizativas do laicato.* Celebrar o dia 1º de maio – São José Operário – e outras datas significativas para as diversas profissões, como valorização do trabalho e denunciando tudo o que contradiz a dignidade da pessoa.* Recuperar e divulgar o testemunho de cristãos leigos e leigas mártires e daqueles que viveram o seu compromisso batismal no cotidiano da vida e se tornaram ou são referências.* Criar e/ou fortalecer os Conselhos Regionais e Diocesanos de Leigos;Fortalecer e ampliar o diálogo e trabalho junto às diferentes formas de expressão do laicato.* Apoiar e acompanhar os encontros do laicato, organizados pelo CNLB, com a participação das diversas expressões do laicato.* Realizar o Ano do Laicato, iniciando na solenidade de Cristo Rei de 2017 e com término na solenidade de Cristo Rei de 2018. Comemoraremos assim os 30 anos do Sínodo Ordinário sobre os Leigos (1987) e 30 anos da publicação da Exortação Apostólica Christifideles Laici, de São João Paulo II, sobre a vocação e missão dos leigos na Igreja e no mundo (1988). O Ano do Laicato terá como eixo central a presença e a atuação dos cristãos leigos e leigas como “ramos, sal, luz e fermento” na Igreja e na sociedade.Quais as consequências práticas deste tema para a ação pastoral na Diocese?

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VIDA RELIGIOSA CONSAGRADA na Igreja em Missão(http://pt.slideshare.net/irsicris/vida-religiosa-31816560)

O tripé da vida religiosa consagrada(P. Alfredo J. Gonçalves, missionário scalabriniano)

Além das exigências relacionadas aos votos de pobreza, castidade e obediência – e sempre a partir da Boa Nova do Evangelho – a Vida Religiosa Consagrada (VRC) assenta-se sobre um tripé indissociável, como um casamento sem qualquer possibilidade de divórcio. O que vale, de resto, para o comportamento religioso e sociopolítico de todo cristão. Podemos ilustrá-lo com três alegorias que remetem à prática de Jesus e, ao mesmo tempo, estimulam seu seguimento, devendo por isso mesmo permear as diversas dimensões da vida consagrada.

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1. MontanhaNas páginas bíblicas, a montanha aparece como lugar privilegiado de oração, meditação, contemplação. Percorrendo os relatos evangélicos, por várias vezes Jesus se ausenta da multidão e dos discípulos. Onde está o Mestre? Num "lugar à parte”, "no deserto”, "subindo ou descendo de um monte” – expressões que representam momentos de oração assídua, intensa e perseverante junto do Pai (= Abba). De olho no Monte das Oliveiras ou Getsêmani, tomemos o termo montanha como metáfora do cultivo progressivo dessa intimidade, a qual chega ao ponto de Jesus afirmar que "Eu e o Pai somos um”. Numa visão panorâmica, em episódios como a sarça ardente, o encontro de Moisés com Deus no monte Sinai e a transfiguração, a montanha simboliza o lugar da epifania, onde Deus vela e revela sua face resplandecente, bem como sua palavra rica, viva e ativa, libertadora e criadora.Bastaria um exemplo para analisar mais de perto esse processo místico de profunda espiritualidade. Mais do que ritos, formalidades ou sacrifícios – tão presentes na religião de seu tempo – Jesus busca o diálogo silencioso com Deus, o que se poderia chamar de "oração mental”. Em linguagem socrática, pode ser vista como um espelho onde o autoconhecimento gradativo representa um método decisivo para uma transformação e superação constantes. Mas vamos ao exemplo (Lc 11,1-4): Jesus está em oração "em certo lugar”. Ao terminar, seu semblante provavelmente irradia tanta luminosidade que um dos discípulos não se contém: "Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou os discípulos dele”. E dessa pergunta herdamos a chamada oração do "Pai-Nosso”, menos como uma fórmula a ser repetida, e mais como uma atitude diante de Deus (primeira parte) e diante dos irmãos (segunda parte). Prece em que a linha vertical e a linha horizontal se entrelaçam em mútua interpelação.

2. Casa/mesaDa mesma forma que é comum encontrar Jesus na montanha (deserto ou lugar à parte) – como símbolo da oração – também o vemos constantemente à mesa, na casa de amigos e conhecidos. Inúmeras vezes come e bebe em companhia de outras pessoas, em geral convidadas de algum anfitrião. Casa e mesa, do ponto de vista humano, são lugares sagrados. A casa cobre, veste e envolve um grupo íntimo, que se quer bem e que se ama. É como se fosse a roupa da família. Sem ela, os membros desta ficariam expostos aos olhares e à curiosidade alheia, nus em meio à praça pública. Impossibilitados, portanto, de garantir a própria dignidade. Lar, refúgio, proteção, carinho – são todos sinônimos de "sentir-se em casa”.A mesa, por sua vez, é ponto de encontro. Nela nutrimos o corpo, através do alimento, mas também enriquecemos o espírito, com a presença dos

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outros. Em termos bem concretos: na mesa comemos e nos comemos uns aos outros. Alimentamo-nos do pão, por um lado, e, por outro, do olhar, sorriso, palavras, histórias, sonhos, lutas e fracassos dos que se encontram ao nosso redor. A mesa transforma o estranho em irmão, como vemos no episódio dos discípulos de Emaús. Mais ainda, transforma-o em anfitrião, alguém que tem algo a nos oferecer, algo a ser colocado em comum. Disso resulta que a mesa tem a sua liturgia: toalha, flores, luz de vela, pratos e copos enfeitados, prece de gratidão. Mesa que se converte em altar para a comunhão, a eucaristia! Tudo isso faz parte dos ingredientes da refeição, mas a pessoa do outro constitui o maior tempero do alimento. E quanto mais profunda, sincera e transparente a relação entre os comensais, mais saborosa será a comida. Diferentemente dos animais, os seres humanos tendem a comer juntos, fazendo desse momento um lugar de encontro.É o que os sociólogos denominam "comensalidade”: partilha do pão e da vida. Nos quatro Evangelhos, Jesus multiplica esses momentos de convivialidade, ao ponto de ser chamado "beberrão e comilão”. E o faz envolvendo os mais necessitados, os pequenos, os últimos, como diria o Papa Francisco. Especialmente os que não têm condições de retribuir o convite, disse o próprio Jesus, o que explica a dupla multiplicação dos pães. Mas a passagem evangélica mais significativa a esse respeito é, sem sombra de dúvida, os capítulos do Quarto Evangelho que formam a sequência da última ceia, do lava-pés, do diálogo com os discípulos e da oração sacerdotal do Filho ao Pai (Jo 13 – 17). Na linguagem, nos gestos e nas atitudes do Mestre, esse momento de despedida poderia ser chamado de "testamento espiritual de Jesus”, ou "a expressão viva de seu coração materno” e ainda "um evangelho dentro do Evangelho”.

3. CaminhoAlém da prática frequente da oração e da comensalidade – montanha e casa/mesa – Jesus é visto com igual frequência pelos caminhos da Galileia, passando pela Samaria e chegando à Judeia, onde será executado na capital, Jerusalém. Sua missão se desenvolve sobretudo pelos caminhos onde as pessoas se cruzam e recruzam, nas suas lutas e embates cotidianos. Mais do que no templo e na sinagoga, como que à espera dos "fiéis” a serem evangelizados, Jesus vai ao encontro dos pobres. E mais do que levar-lhes conforto, alegria e esperança, Ele mesmo se faz Boa Notícia. “O Verbo que se fez carne”: se faz olhar misericordioso, sorriso que perdoa, palavra que liberta, toque que cura, gesto solidário, presença vivificante.Duas passagens neotestamentárias corroboram a prática desse galileu como defensor incondicional dos pobres, por um lado, e, por outro, como um "profeta itinerante”. São elas: Lc 4, 16-20 e Mt 9, 35-38. No caso de Lucas, temos o que os estudiosos costumam chamar de programa de Jesus: "Anunciar a Boa Notícia aos pobres, proclamar a libertação aos presos e

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aos cegos a recuperação da vista, libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor” – palavras extraídas do Antigo Testamento, Livro do profeta Isaías (Is 61, 1-2).No chamado resumo das atividades de Jesus, Mateus afirma que Ele "percorria todas as aldeias e povoados, ensinando em suas sinagogas e pregando a Boa Notícia do Reino”. Ao encontrar "as multidões cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor”, revela uma compaixão humano/divina. Compaixão que, por mais de uma vez, faz estremecer-lhe as entranhas e chorar um pranto humano, "demasiado humano”. Compaixão neste caso equivale a um sentimento de quem está disposto não a oferecer coisas, mas de quem se doa a si mesmo, colocando seu tempo e sua vida a serviço de uma causa. No coração desta, como seu motor dinamizador, encontra-se a Boa Nova do Reino.

4. Montanha, casa/mesa e caminhoOs itens acima representam não três movimentos separados e estanques, mas três dimensões vivas e dinâmicas da mesma prática. Montanha, casa/mesa e caminho jamais se dissociam na trajetória de Jesus. Ao contrário, as três se complementam, integram e se interpelam reciprocamemente, através de vasos comunicantes invisíveis. Isso quer dizer que quanto mais Jesus sobe à montanha para encontrar-se com o Pai (oração), mais se vê atraído à presença dos pobres, órfãos, sós e perdidos pelos caminhos da exclusão social (missão). Entre ambas, trata de formar uma comunidade de apóstolos/discípulos para levar adiante sua obra, partilhando com eles o pão e a vida (casa/mesa). Inversamente, quanto mais Jesus aprofunda seu compromisso com os doentes e indefesos, frágeis e marginalizados no caminho (missão), mais sente a necessidade de voltar à presença do Pai, desenvolvendo uma espiritualidade de intensa intimidade e confiança (oração). Entre ambas, novamente, vê a necessidade de intercambiar a própria experiência com os amigos mais íntimos e companheiros (casa/mesa).Da mesma forma que a montanha/oração exige e interpela o caminho/missão, este necessita e se nutre daquela. Em meio a essas duas dimensões, a vida comunitária, casa/mesa, se apresenta como uma espécie de posto de gasolina. Ali o carro se abastece não para estacionar, e sim para retomar a estrada. A casa/mesa constitui, ainda, uma retaguarda segura e sólida para quem, a cada momento, tropeça com as adversidades da vida missionária (caminho) e com a noite escura da oração (montanha). Na aridez do processo místico-espiritual, por uma parte, e nos fracassos e desilusões da atividade sociopastoral, por outra, a comunidade religiosa é o lugar onde posso encontrar espaço para a escuta, o diálogo e a compreensão mútua. Se e quando podemos contar com essa retaguarda da casa e da mesa, lançamo-nos no caminho com muito mais coragem e confiança. E com igual confiança nos dispomos a atravessar o deserto do silêncio de

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Deus. Ao contrário, sem esse ponto de encontro e de recíproco reforço, pouco a pouco as forças nos abandonam e facilmente abandonamos a luta, tanto no processo de formação da espiritualidade quanto no processo de evangelização.A falta de um desses pilares pode explicar não poucos abandonos da VRC, marcadamente por parte dos jovens. De fato, a montanha (oração) sem a casa/mesa e o caminho, leva-nos a um deus feito à nossa imagem e semelhança, que deixa de nos interpelar e consequentemente de nos interessar; ou seja, um deus que se faz manipular, justificando todas as nossas atitudes e projetos personalizados. Por sua vez o caminho (ação missionária), sem a montanha e casa/mesa, pode conduzir à manipulação dos pobres em vista de interesses individuais ou de grupo, como o fazem muitos políticos, por exemplo. Enfim, a casa/mesa (vida comunitária), sem a montanha e o caminho, tende a criar um fã-clube centrado em si mesmo, utilizando às vezes o espaço religioso para o lazer puro e simples, sem maiores compromissos pastorais, sociais ou políticos.No ministério público de Jesus, as três dimensões se entrelaçam inextrincavelmente. Uma questiona e se deixa questionar pelas demais. Uma requer e reconduz às demais. Aliás, um voo de pássaro sobre as páginas da Bíblia bastará para dar-se conta que a oração verdadeira nos devolve à missão e esta àquela. Figuras como Moisés, Maria e Paulo – além do próprio Jesus – são testemunhas disso. As três dimensões, portanto, fazem parte de uma espécie de círculo virtuoso que cresce em espiral aberta, dinâmica e dialética, ampliando cada vez mais o raio de espiritualidade, vida em comum e ação evangelizadora.

Documentos Magisteriais

Sobre a Santidade de todos os fiéis na Igreja:Lumen Gentium 39 – 42 (Constituição Dogmática do Concílio Vaticano II),Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate (Papa Francisco);

Sobre a Vida Religiosa Consagrada:Lumen Gentium 43 – 47 (Constituição Dogmática do Concílio Vaticano II),- Perfectae Caritais (Decreto do Concílio Vaticano II),- Vita Consecrata (Exort. Apost. de Papa João Paulo II),- Alegrai-Vos (Carta Circ. de Papa Francisco);* Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, A Vida Fraterna em Comunidade - «Congregavit nos in unum Christi amor».

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Motivações para a Vida ConsagradaOlhar com gratidão o passado;Viver com paixão o presente;Abraçar com esperança o futuro.

EXORTAÇÃO APOSTÓLICA GAUDETE ET EXSULTATEDO SANTO PADRE FRANCISCO SOBRE O CHAMADO À

SANTIDADE NO MUNDO ATUAL

ÍNDICE

Introdução: «Alegrai-vos e exultai» [1-2].Capítulo I - A CHAMADA À SANTIDADE

a) Os santos que nos encorajam e acompanham [3-5]; b) Os santos ao pé da porta [6-9]; c) O Senhor chama [10-13]; d) A ti também [14-18]; e) A tua missão em Cristo [19-24]; f) A atividade que santifica [25-31];g) Mais vivos, mais humanos [32-34].

Capítulo II - DOIS INIMIGOS SUTIS DA SANTIDADEa) O gnosticismo atual [36] - Uma mente sem Deus e sem carne [37-39], - Uma doutrina sem mistério [40-42], - Os limites da razão [43-46]; b) O pelagianismo atual [47-48] - Uma vontade sem humildade [49-51], - Um ensinamento da Igreja frequentemente esquecido [52-56], - Os novos pelagianos [57-59], - O resumo da Lei [60-62]).

Capítulo III - À LUZ DO MESTRE:a) Contracorrente [65-66] - «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu» [67-70], - «Felizes os mansos, porque possuirão a terra» [71-74], - «Felizes os que choram, porque serão consolados» [75-76], - «Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados» [77-79], - «Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia» [80-82], - «Felizes os puros de coração, porque verão a Deus» [83-86], - «Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus» [87-89], - «Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu» [90-94];b) A grande regra de comportamento [95] - Por fidelidade ao Mestre [96-99], - As ideologias que mutilam o coração do Evangelho [100-103], - O culto que mais lhe agrada [104-109].

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Capítulo IV - ALGUMAS CARATERÍSTICAS DA SANTIDADE NO MUNDO ATUAL

a) Suportação; paciência e mansidão [112-121];b) Alegria e sentido de humor [122-128]; c) Ousadia e ardor [129-139]; d) Em comunidade [140-146];e) Em oração constante [147-157].

Capítulo V - LUTA, VIGILÂNCIA E DISCERNIMENTOa) A luta e a vigilância [159] - Algo mais do que um mito [160-161], - Despertos e confiantes [162-163], - A corrupção espiritual [164-165]); b) O discernimento [166] - Uma necessidade imperiosa [167-168], - Sempre à luz do Senhor [169], - Um dom sobrenatural [170-171], - Fala, Senhor [172-173], - A lógica do dom e da cruz [174-177].