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[email protected] Colabore com o VQ Ano IV, nº 35, Valença, 2009 Acesse o Blog do VQ, com atualizações diárias Banco Itaú – Agência 0380 – Conta Poupança 607 13-5/500 Academia Espaço do Corpo, Acquademia, Bar São Francisco, Banca do Jardim de Cima, FAA, Hollywood Vídeo Locadora, Miriam Lajes, Revistaria Vamos Ler, SEPE, www.valencavirtual.com.br Luiz Fernando Júnior

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Editorial

2 Ano IV, nº 35, Valença, 2009

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Onde encontrar o VQ

O Valença em Questão está sob licença Creative Commons. A cópia e a reprodução de seu conteúdo são autorizadas para uso não-comercial, desde que dado o devido crédito à publicação e aos autores. Não estão incluídas nessa licença obras de terceiros. Para reprodução com fins comerciais, entre em contato. Leia a íntegra dessa licença em http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.5/br/deed.pt

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<<<<<Projeto Gráfico: Thiago Xisto Capa: Arte sobre desenho de BanksyJornalista Responsável: Vitor Monteiro de Castro (30.325 Mtb)Conselho Editorial: Bebeto, Letícia Serafim e Vitor Monteiro de CastroColaboraram nesta edição: Danilo Serafim, Eduardo Granja Coutinho, Leandro Uchoas, Marianna Araujo, NIlo Sérgio Gomes, Paulo Roberto Figueira Leal e Sanger Nogueira.Tiragem: 3000 exemplares - Impressão: Gráfica RioflorenseO Valença em Questão circula no município de Valença, arredores e Rio de Janeiro, além de enviado via correio eletrônico.

Academia Espaço do Corpo, Acquademia, Bar São Francisco, Banca do Jardim de Cima, FAA, Hollywood Vídeo Locadora, Miriam Lajes, Revistaria Vamos Ler, SEPE, www.valencavirtual.com.br

Endereço para correspondência: Rua Coronel João Rufino, 11, sala 702, edifício Panorama, Valença-RJ – CEP 27600-000. Contatos: [email protected], [email protected] (Bebeto), [email protected] (Letícia) e [email protected] (Vitor). Ou pelos telefones (24) 2453-4888 (Recados) e (21) 8187 7533 (Vitor).

São quase quatro meses sem o Valença em Questão impresso. Ainda bem que temos o Blog, que com atualizações diárias, e sem custo financeiro, possibilita nossa interlocução com os leitores. Não a ideal, porque consideramos imprescindível a edição impressa, inclusive para atingir públicos diferentes.

O motivo pela ausência, como seria normal, não é agradável. Desde nossa última edição, especial sobre as eleições municipais, distribuída no final de setembro, passávamos por problemas financeiros. Mas logo após a edição, em solicitação via email, conseguimos arrecadar fundos para pelo menos três edições. Mas eis que de repente, no dia 31 de outubro recebemos um telefonema, solicitando minha presença – como jornalista responsável - na Justiça Eleitoral, para recebermos uma “correspondência”. No princípio, um estranhamento de porque a correspondência não poderia ser encaminhada via Correios, como seria feita naturalmente. No domingo, dia 2 de novembro, dirijo-me à Justiça Eleitoral para receber a tal “correspondência”. Na verdade se tratava de uma notificação de que a publicação estava sendo processada pela coligação “Valença de Cara Nova”, que elegeu o atual prefeito Vicente Guedes.

O dinheiro arrecadado, que daria para pelo menos três edições não foram suficientes para pagar os honorários do advogado. Mais dinheiro pessoal foi colocado para que pudéssemos (em até 48 horas) preparar a defesa, caso contrário seríamos – segundo o oficial de justiça – condenados sem direito de defesa. A condenação era pelo menos uma multa que variava de R$ 53.205,00 a R$ 106.410,00, além de suspensão imediata da publicação sob pena de multa diária.

A motivação do processo foi a enquete realizada pelo Blog do VQ durante o período eleitoral. Apesar de diversas vezes afirmarmos que não se tratava de uma pesquisa oficial, mas que apenas tinha o objetivo de alimentar o debate, que esquentava nas páginas do Blog no período pré-eleições. E ao usarmos a plataforma do Blog na edição impressa, em que a enquete aparecia ao lado, o Ministério Público acatou o pedido do advogado da coligação.

Nossa defesa, logicamente, considera o valor da multa absurdo – ainda mais para quem não tem qualquer tipo de financiamento e não tem o menor fim lucrativo. Mas pior do que ter que pagar a um advogado, ou até mesmo de ser condenado, o Valença em Questão acredita que a principal intenção do processo movido contra nós é muito mais uma tentativa de criminalizar um movimento que vem trabalhando há quase quatro anos na cidade de forma isenta, respeitosa, mas que por isso mesmo, incomoda ao poder político local.

Nesta edição demos destaque a textos de pessoas amigas que ao saberem do processo se solidarizaram e escreveram sobre o tema. Além disso, falamos da Ocupação Gisele Lima, omitida na imprensa local, que ocupa, ainda, algumas casas no bairro da Varginha, como acordado com a gestão municipal anterior. Após texto publicado no Blog do VQ, o então secretário de Assitência Social, Rogério Fort, respondeu, pela internet, à matéria. Aqui, colocamos suas respostas aos questionamentos. Também temos a contribuição de Francisco Lima, falando da luta dos trabalhadores em 2009, com foco no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra em nossa cidade e da desocupação da Fazenda do Vargas pelo MST.

Por falta de espaço, não colocamos em nossas páginas a nova equipe de governo, mas a lista completa pode ser vista em nosso blog na internet. Vale lembrar que o blog disponibiliza uma ferramenta em que o leitor pode comentar as notícias e matérias publicadas, dando seu ponto de vista e interagindo com o VQ.

Algo que o VQ não poderia deixar de abordar é a nossa total ojeriza ao genocídio do povo palestino que vem acontecendo na Faixa de Gaza. O Valença em Questão se coloca totalmente a favor de um cessar-fogo e que Israel respeite o acordo firmado em 1948 da existência de um Estado Palestino. Repudiamos também a Organização das Nações Unidas que não demonstrou vontade política de colocar fim ao massacre na Faixa de Gaza.

Uma boa leitura e até a próxima edição, podem ter certeza!

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Não adianta o slogan de ser o novo, a novidade, se quando a máscara cai, a face é a do coronelismo rioflorense. O pa-drinho político ou o Dom, que manda e desmanda em seus ventríloquos, deveria intervir e aconselhar o sr. Vicente Gue-des a recuar. Da mesma forma o pároco da cidade, Padre Me-doro, deveria fazer a mesma movimentação e apelar ao seu irmão prefeito. Não adianta dizer que é cristão. Cristianismo funciona na práxis e não na omissão de interesses escusos.

Por fim, a Conlutas, o SEPE e os demais movimentos sociais repudiam esta atitu-de de criminalizar o movimento social. O Valença em Questão já é um patrimônio cultural de nossa cidade e tem em sua juventude o futuro promissor, sem esquemas, sem corrupção. O movimento travará um luta longa e sem tréguas, até que tal atitude seja revisada.

Danilo Garcia Serafim, coordenador do Sindicato dos Profissionais da Educação do Estado do Rio de Janeiro

(SEPE-RJ) e membro da Secretaria Executiva Nacional da Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas)

3Ano IV, nº 35, Valença, 2009

Sepe e Conlutas apoiam VQ

O processo impetrado pelo prefeito eleito Vicente Guedes contra o informativo Valença em Questão não é um simples ataque a um jornal, mas sim a todo o movimento social. Va-lença em Questão é acima de tudo um movimento que reúne jovens filhos da cidade. Aliás, filhos ilustres da cidade que saíram daqui para entrar, cursar e terminar a universidade, mostrando que é possível tirar a juventude das drogas, do abandono e do desemprego.

Eu, Danilo Garcia Serafim, na condição de coordenador geral do SEPE-RJ e membro da Secretaria Executiva Nacional da Conlutas, gostaria também de ser processado pelo senhor Vicente Guedes, pois faço parte dessa rede, desse movimen-to que é o Valença em Questão. Aliás, diz o bom senso que o prefeito eleito deveria ter a grandeza e retirar o processo. Não mediremos esforços para que toda a sociedade organi-zada no Estado do Rio e no Brasil se manifeste contra esta criminalização do movimento social.

Na verdade, gostaria de desafiar o senhor prefeito eleito e seus pares para tornar público quanto custou cada voto que o elegeu. Isso sim seria salutar para a população, saber de onde veio toda a fortuna gasta na campanha eleitoral. Sabe-se que em alguns distritos os comerciantes nunca viram tantas notas de cinquenta reais. Esse dinheiro com certeza partiu de financiadores privados e que querem o retorno imediato, ou através de concorrências para serviços ou de esquemas como o empreguismo, para não dizer o pior!

Pe l a n e c e s s i d a d e d e s e expor outras visões de mundo que não a apresentada pelos grupos de poder tradicionais, e x p r e s s a m o s r e p ú d i o a qualquer tentativa de calar o jornal Valença em Questão, e s t e r e l e v a n t e m e i o d e expressão da comunidade de Valença.

Eduardo Granja Coutinho, professor adjunto da

Universidade Federal do Rio de Janeiro, membro do Laboratório de Estudos de

Comunicação Comunitária (LECC/UFRJ)

Não adianta o slogan

de ser novo, a novidade,

se quando a máscara cai

a face é a do coronelismo

rioflorense

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4Ano IV, nº 35 Valença, 2009

O direito à liberdade de imprensa

A imprensa, em nosso país, é repri-mida desde o seu nascedouro. Daí, ter surgido tão tardiamente e, pior, a partir de iniciativa da própria monarquia. É o caso da Gazeta do Rio de Janeiro, primeiro jornal impresso e a circular no país, a partir de junho de 1808, para divulgar os atos do rei. Ou é, então, uma imprensa que nasce no exílio, como no caso do jornal Correio Braziliense, edi-tado em Londres por Hipólito José da Costa, cujas edições levavam semanas para chegar ao Brasil.

É somente a partir da segunda década do século XIX que começam a surgir jor-nais realmente livres e independentes, no Brasil, e pensando o país a partir de suas próprias realidades e forças políti-cas. Gonçalves Ledo, Januário Barbosa, Cipriano Barata, Frei Caneca, são alguns dos “jornalistas” pioneiros que, a partir dos anos de 1820, começam a editar e im-primir jornais, defendendo e propagando ideais políticos e criticando, por vezes com acentuada acidez, a monarquia ainda absolutista no Brasil.

Os 200 anos da imprensa brasileira foram celebrados neste 2008. Contudo, talvez nos falte ainda um balanço mais crítico e profundo sobre o que é a liber-dade de imprensa no Brasil. Isto por-que não somente esta liberdade varia, dependendo de qual seja a imprensa, como ainda esta liberdade, em boa medida, é bem mais a das empresas po-derem publicar e transmitir o que inte-ressa aos poderes que as editam do que a liberdade como direito universal.

As eleições têm sido ocasiões privile-giadas para que a sociedade brasileira perceba o tratamento diferenciado que é dado a esta liberdade de imprensa. Jornais poderosos, como O Globo ou a Folha de S. Paulo, tudo podem, haja vista a campanha para as eleições presidenciais de 2010 que já está nas páginas destes jornais, desde o final da apuração das urnas, em 2006.

Não é por outra razão que a internet, com seus múltiplos espaços, vem sendo saudada como “ferramenta da liber-

dade”. Nova mídia, ela abre espaços cada vez mais amplos para a crítica à chamada mídia hegemônica, aquela comandada pelo grande capital. Nas eleições de 2006, foi através dos blogs e portais da internet que muita mani-pulação midiática foi denunciada e, em alguns casos, até mesmo desfeita.

Não é sem razão que crescem mo-vimentos como o do Fórum de Mídia Livre, que se organiza para dar vez, voz e imagem aos “sem-mídia”, que somos todos e todas nós que, diariamente, não temos a quem recorrer para nossa informação a não ser aos grandes jor-nais e redes de televisão – todos esses, espaços devidamente demarcados pelos interesses do capital.

A popularização da internet, com a chegada cada vez mais intensa de com-putadores e re-des nas favelas e comunidades pobres, tem per-mitido ao povo apropriar-se da informação e de sua difusão social, elabo-rando outros discursos da notícia, criando novos dizeres e novos lugares de fala . Com isso, colocan-do em xeque a surrada lingua-gem jornalísti-ca, que tantas vezes mais es-conde e oculta do que informa, bem como (co-locando em xe-que), também, o próprio poder que ela repre-senta e traduz, quase sempre de forma sutil.

Se antes, nos tempos de nossas avós, já se dizia que a mentira tem perna curta, nos dias de hoje, com o acesso cada vez maior da população à grande rede de computadores, a mentira tende cada vez mais a ter menor audiência e tempo de vida útil. Políticos, jornalis-tas, magistrados, todos têm, cada vez mais, sobre si mesmo, os olhares cada vez mais atentos e críticos de uma so-ciedade onde a informação e o conhe-cimento tendem a ser mais difundidos e socializados, tornando-se, enfim, direito de todos.

Nilo Sergio Gomes, jornalista e pes-quisador, doutorando em Ciência da Comunicação

Paulo Barbosa

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Mídia Livre e Fazendo Media se solidarizam com o VQ

Nos últimos anos, está se consoli-dando no Brasil uma grande articula-ção entre os veículos de Mídia Livre. Jornais, rádios, sites e canais de TV pequenos, com uma produção de con-teúdo mais transformadora e progres-sista, estão pouco a pouco se unindo numa grande rede, reforçando seu po-tencial político e elaborando formas novas de financiamento e ampliação.

Enquanto os órgãos da grande mí-dia, como a Globo e a editora Abril, seguem com a postura espúria de agir pela concentração de produção de infor-mação, os veículos de Mídia Livre agem pela diversificação e democratização da produção. No Brasil, e especialmente no Rio de Janeiro, estão cada vez mais fortes.

Esses veículos são construídos pelo tra-balho heróico de al-gumas pessoas, que muitas vezes tiram dinheiro do próprio bolso para sustentar um jornal ou uma rádio. É o caso do excepcional veículo sul-fluminense “Valença em Questão”, que surgiu a partir da in-dignação de alguns jovens com a es-tagnação política e econômica da ci-dade, e com a omissão e a pobreza da mídia local.

Pois essa publicação aparentemente foi vítima de um golpe conhecido contra a Mídia Livre: foi injustamente proces-sada. Esse método é antigo e conheci-do. Em geral, pessoas incomodadas com uma publicação afirmam na justiça que foram lesadas por ela. Assim, mesmo quando não têm nenhuma chance de vencer, essas pessoas levam a publica-ção a mobilizar suas forças para o en-frentamento jurídico.

As publicações que são vítimas desse golpe acabam perdendo tempo, energia e dinheiro com o processo ju-dicial. Tempo, energia e dinheiro que poderiam estar sendo investidos no conteúdo informativo justo e liber-tador que produzem. O processo que o “Valença em Questão” enfrenta na justiça tem todos os indícios de ser um caso desses.

A Mídia Livre carioca está atenta a cada desdobramento do caso, e a princípio está totalmente solidária à

luta do “Valença em Questão” por per-manecer produzindo uma informação rica e alternativa para a população da bela ci-dade sul-fluminense.

E nunca estivemos tão unidos. Na região, atualmente, começa a surgir um forte braço da luta pela comunica-ção alternativa, tão im-portante numa demo-cracia. Volta Redonda recentemente abrigou

o I Fórum Sul-fluminense de Mídia Livre. Cresce nessa região, portanto, a indigna-ção com a mídia grande, e a vontade de se construir uma mídia mais rica.

A constituição brasileira assegura o direito à informação, e a liberdade de expressão. Só construiremos uma na-ção verdadeiramente democrática se despendermos todos os esforços pela legitimidade desses direitos. Liberda-de de expressão é um direito de todos os indivíduos. No Rio de Janeiro, esta-mos muito atentos aos que não respei-tarem esses conceitos.

Leandro Uchoas, jornalista, editor de política do site Fazendo Media, compõe a célula carioca do Fórum de Mídia Livre

As publicações

vítimas desse golpe

acabam perdendo

tempo, energia e

dinheiro que poderiam

ser investidos no

conteúdo informativo

justo e libertador que

produzem

O Fazendo Media, assim como o Valença em Questão, se financia de colaborações de leitores e apoiadores da necessidade de uma mídia livre, descomprometida com os interesses estritamente comerciais.

Tentando levar adiante o projeto do Fazendo Media, há uma conta corrente disponibilizada para o depósito de qualquer quantia para colaborar com o jornal (vejam no pé da página). Além de contribuições, é possível fazer assinaturas anual e bianual do jornal, de periodicidade mensal, nos valores de R$ 45,00 (doze edições) e R$ 85,00 (vinte e quatro edições). A conta de depósito é a mesma. Eles pedem apenas que após o depósito seja enviado um email para o endereço [email protected] informando nome, telefone de contato e endereço completo (com CEP) para completar sua assinatura. O jornal é entregue em todo o território nacional.

No texto em que expõem o problema financeiro, o FM diz que recorrem “[...] à consciência de cada leitor, de cada amigo e simpatizante do nosso projeto. Faça uma assinatura, dê outra de presente ou faça uma doação de qualquer valor (...). Se possível, programe-se para colaborar mensalmente. Com a certeza de que esta é a melhor forma de manter vivo um veículo de comunicação independente e com as características do Fazendo Media”.

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6Ano IV, nº 35 Valença, 2009

meu assunto por enquanto é a desordem o que se nega à fala

o que escapa ao acurado apuro do dizer a borra a sobra a escória a incúria o não-caber

ou talvez pior dizendo o que a linguagem não disse por não dizer porque por mais que diga (...) não é da linguagem dizer tudo

Trechos do poema Desordem, de Fer-reira Gullar

Não raro, aqueles que se ocupam de di-zer o não dito e de descortinar o que não é mostrado, são perseguidos e por vezes pe-nalizados por suas ações. É assim porque infelizmente, e não podia ser diferente, vive-mos tempos sombrios - como disse Brecht.

Em tempos sombrios, como os nossos,

questionar a or-dem estabelecida não é nada aconse-lhável. À ordem e a seus condutores es-tão garantidos todo tipo de desmando. A ordem pode enga-nar, induzir, calar, roubar, oprimir. Diz a ordem, que um ci-dadão pode até ele-ger-se governante reiteradas vezes em cidades vizinhas. Mas a ordem não deve ser questiona-da, a pena de vir co-

brar sua réplica com custos altos. Ainda assim, surpreendentemente

e corajosamente, há aqueles que ques-tionam a ordem. Buscam introduzir a desordem, caminham pelos poros, pelos becos, e claro, mostram que há vida para além dela. Isso acontece em todo lugar.

No Brasil encontramos vários destes homens corajosos, constantemente cha-mados de invasores e baderneiros. Mun-do a fora também não é difícil achá-los. Estão nos carros queimados na França e na Grécia, caminham juntos com os esta-dunidenses que não aprovam a política belicista de seu país e em muitas outras partes do planeta.

Os desordeiros sabem que no mundo da globalização, onde o fluxo de tudo – capital, tecnologia, informação – é muito rápido, as margens são largas e acomodam bastante gente. Os desor-deiros se encantam com as possibili-dades que a pós-modernidade oferece, como todo mundo, mas não conseguem deixar de enxergar que essas possibi-lidades não estão colocadas para to-dos. Onde se vê o luxo, os desordeiros veem exploração. Onde muitos enxer-gam oportunidades, os desordeiros veem desigualdade. Na telinha que entretém, veem ignorância. Na ordem aparente, os desordeiros enxergam a violência.

Por isso, constantemente, a ordem persegue os desordeiros. Porque eles não admitem a desigualdade, a violência, a exploração e a ignorância. É assim em todo lugar, até em Valença.

O jornal Valença em Questão é um de-sordeiro legítimo. E como todo desordei-ro, não esconde isso. Estampa em suas páginas, orgulhoso, a busca pelo que não é dito. Cede espaço, todo pomposo, para a escória, os baderneiros e os malan-dros. Apóia sem vergonha associações de classes e trabalhadores. Questiona a ordem, a todo tempo e se entrega, de graça, mensalmente aos cidadãos de Va-lença, sem o menor pudor.

Não havia, então, como ser diferen-te. Uma hora, a ordem bateria à por-ta, para cobrar com altas cifras expli-cações deste tal Valença em Questão. Essa hora chegou, pois a ordem achou uma janela aberta.

Por conta de um enquete, que nunca quis ser pesquisa, ao jornal, hoje, é envia-da uma conta cara. Se não fosse preocu-pante, poderia ser uma história até en-graçada, dada a sucessão de absurdos. O absurdo da comparação de uma enquete em um blog com uma pesquisa oficial. O absurdo do Ministério Público acatar a denúncia – deve ser falta de outros casos mais interessantes. E finalmente, o ab-surdo das exigências feitas por aqueles que se sentiram lesados: pedir dinheiro a uma publicação gratuita que é feita sob regime de voluntariado.

É por isso, que os desordeiros não po-dem se calar, jamais. Porque a ordem traz consigo o absurdo. Absurdos cotidianos que tomam conta de nossas vidas, que nos imobilizam, enganam e oprimem. Aos desordeiros cabe a árdua tarefa de com-batê-los, inflados pela capacidade que os seres humanos têm de edificar uma socie-dade mais justa e livre. Certamente, o VQ não abrirá mão da parte que lhe cabe.

Marianna Araujo é desordeira e pouco corajosa. Diz-se jornalista e mestranda em Comunicação e Cultura na Universi-dade Federal do Rio de Janeiro

Manifesto à

desordemBanksy

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Imprensa que não

incomoda o poder não

serve à sociedadeQuando recentemente soube do pro-

cesso movido contra o Valença em Ques-tão fiquei duplamente preocupado: em primeiro lugar, porque estou convencido de que a publicação empreendeu uma cobertura absolutamente correta – o blog repetiu sistematicamente e deixou bem claro que lá não havia uma pesqui-sa eleitoral, mas somente uma enque-te; em segundo lugar, porque, ao lado do Jornal Local, o Valença em Questão desempenhou um papel relevantíssimo durante o período eleitoral, buscando refletir sobre a situação da cidade e abordando criticamente as práticas po-líticas do município.

A grande prova de que se fez ali um jornalismo descompro-metido com as forças que parti-cipavam da disputa (mas com-prometido com a cidade) foi o fato de que praticamente todos os caciques ou seus assessores reclamaram em algum momento da cobertura – sinal de que ela não esteve a serviço de nenhum deles, e sim a serviço do livre pensamento e da livre expres-são de importantes segmentos da sociedade civil.

Mas a questão de fundo mais relevante vai além do episódio em si: o que há de verdadeiramente preocupante no caso é a explici-tação da falta de disposição das elites políticas da cidade em con-viver com uma imprensa que pode até elogiar de vez em quando, mas que também tem o dever de cri-ticar. De uma imprensa que não está ali para sobreviver às custas da subserviência ao poder, mas luta exatamente para que exista controle social sobre ele. De uma imprensa que expõe o contraditó-rio, e não de uma que silencia so-bre os temas controversos.

O dramático é que parte de nossas lideranças políticas pode até fazer dis-cursos a favor da liberdade de expres-são, mas quer mesmo é uma imprensa domesticada que sempre diga sim a seus desígnios. Felizmente, há quem tenha a coragem de dizer não. E, para isso, ressalte-se, não é preciso desqua-lificar nem desmerecer quem quer que seja: trata-se simplesmente de criar canais para a exposição de outras po-sições e pontos de vista.

No caso do Valença em Questão, o que talvez incomode a alguns é a evi-dente e legítima escolha de se contra-por à mídia hegemônica, de recusar os

consensos apresentados pelos gran-des meios do país, a bem vinda dispo-sição em dar voz aos segmentos da so-ciedade civil que não costumam tê-la nos veículos tradicionais. Mas se essas características de combatividade po-dem trazer problemas aqui ou ali para os jovens redatores, trazem também apoio: estou certo de que todos os se-tores progressistas em Valença estão ao lado do VQ nesta luta, assim como estarão em muitas outras por vir.

Paulo Roberto Figueira Leal, professor da Universidade Federal de

Juiz de Fora

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8Ano IV, nº 35 Valença, 2009

Foram cinco entrevistas para a última edição. Apenas Luiz Antônio não quis ser entrevistado, talvez já antevendo que re-nunciaria à candidatura. Além das quatro que saíram na edição, o ex-prefeito Fábio Vieira também foi entre-vistado. Além das entre-vistas – todas dedicando o mesmo espaço aos can-didatos – o VQ especial sobre as eleições trouxe textos reflexivos sobre o processo eleitoral em nossa cidade. Trouxe também um outro processo, este contra o próprio VQ, sob a alegação de que fizemos uma pesquisa eleitoral sem registrá-la. Ela estava lá no Blog do VQ, e com a explicação de que não se tratava de pesquisa eleito-ral.

Além da surpresa de ser processado - e pela primeira vez -, o que também nos causou espanto foi que o advogado da coligação autor da representação con-tra a publicação – e hoje procurador do município – conhece o Valença em Ques-tão, e com apenas um telefonema teria alcançado uma eficiência infinitamente

O 1º processo a gente nunca esquece

O Valença em Questão não deve

nada a ninguém. Nem mesmo dinheiro

A coligação “Valença de Cara Nova” fez o seu papel, de uma

“política antiga”, na tentativa de calar uma voz destoante

maior em relação ao objetivo do proces-so, que era evitar a circulação da foto da enquete no jornal impresso. Com um tele-fonema o jornal tomaria as providências necessárias. Mas não, foi dado preferência

a entrar na justiça, e só to-mamos conhecimento do processo no dia 2 de no-vembro, mais de um mês depois do processo entrar na Justiça Eleitoral.

Como dito, eles alcan-çariam o objetivo do processo. E não sabe-mos se essa era a única intenção. Parece muito mais uma tentativa de calar um mo-vimento – porque o Valença em Questão é mais do que uma publicação – que luta por uma justiça que Valença está longe de alcançar. E luta sem se submeter à politicagem lo-cal. É no mínimo diferente do que os políticos regionais estão acostumados a ver, e isso, por si só, já preocupa. E real-mente deve preocupar a quem não tenha

o objetivo de uma Valença com mais justiça social. Se esse for o caso, eles estão certos.

Mas não é apenas isso. O processo contra nós cau-sa pelo menos dois grandes transtornos. O primeiro, além do susto de ser processado pela primeira vez, é ter apenas

48 horas para preparar uma defesa e a obri-gatoriedade de contratar um advogado nesse pouco espaço de tempo. E pagá-lo, obviamente, porque o Valença em Questão não deve nada a ninguém. Nem mesmo di-nheiro. O dinheiro que arrecadamos é de contribuição de leitores que acreditam na proposta do movimento, e de pessoas do grupo que se cotizam para bancar a impres-são do jornal. Portanto, dinheiro para nós faz falta. O pagamento ao advogado cus-tou mais de três edições, por exemplo.

Um outro transtorno é que o Valença em Questão ao longo de seus quase quatro anos de vida sempre procurou respeitar as pessoas que eram citadas em suas páginas. E nada mudou. Mesmo sendo processado

pelo agora atual prefeito de Valen-ça, isso não signi-fica, em hipótese alguma, que o tra-taremos de forma diferente. Mas a

perturbação é que esperávamos que esse respeito fosse recíproco. Mas não foi.

Por outro lado não é nenhuma surpre-sa, dentro da política regional que esta-mos acostumados a encontrar. A coligação “Valença de Cara Nova” fez o seu papel, de uma “política antiga”, na tentativa de calar uma voz destoante, que, por não se mos-trar nada subserviente, pode muito bem incomodar, questionando sem medo, nos próximos quatro anos.

Vitor Monteiro de Castro, jornalista

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Cara, cadê o meu salário?*

Recebemos um comentário no blog reclamando da falta de pagamento do décimo terceiro salário por parte da prefeitura de Valença. O autor do comentário questionou a ausência de uma postagem sobre tal tema no Va-lença em Questão. Vamos tentar ate-nuar o problema.

Foi em agosto do ano passado que conversava com um amigo, já bem ex-periente no funcionamento da máqui-na pública, sobre os acontecimentos de uma não vitória do prefeito Fábio Vieira nas eleições. Como éramos am-bos contratados, o teor da conversa não era nada reconfortante. Falta de merenda nas escolas, atraso nos pa-gamentos, não recebimento do décimo terceiro. Tudo era possível caso o pre-feito não fosse reeleito.

De agosto à Dezembro o meu salá-rio atrasou todos os meses, atrasava 7 dias, depois passou pra 14. A merenda foi caindo a qualidade pra não dizer que não tinha, afinal, sempre dá pra co-locar 1 litro de água a mais no feijão e a sopa sempre foi nutritiva... Qualquer critica é intriga da oposição.

E então, o que podemos esperar de

uma administração que não paga salá-rios? Hoje, sete de Janeiro e não recebi o décimo terceiro salário que, legalmente, deveria ter sido pago até o dia 20 de de-zembro. Assim como o autor do comentá-rio, estamos todos impressionados com a falta de responsabilidade da gestão. No entanto não podemos cair, enquan-to sociedade, num erro muito comum e muito bem utilizados pela politicagem: a culpabilidade de um só.

Aconteceram todos os problemas, to-das as safadezas e o culpado é apenas o prefeito. Como o mesmo fala publica-mente que não gosta da vida política, o problema, para quem acredita que o Senhor Fábio Vieira é o único culpado, está solucionado. Falar disso é coisa do passado, afinal todos sabemos que em ano eleitoral vale tudo, não é?

Quem acompanha minhas contri-buições ao blog sabe que defendo a in-terpretação que existe em nossa cida-de um aglomerado de famílias que se enriqueceram utilizando-se da máqui-na pública. Para tais famílias, a ma-nutenção no poder é o fim último. Eles apóiam aqueles que ganham a eleição. È muito comum a gente considerar isso

como algo desonesto: “olha, aquela fa-mília estava junto de um agora está com o outro”. Nada pessoal, apenas sobrevivência...

Contra a culpabilidade do prefeito, eu proponho a culpabilidade da admi-nistração. Vamos olhar para os cargos comissionados, os secretários, ninguém sabe de nada? Ninguém viu nada?

A revolta do comentarista é com-partilhada pelo autor da postagem. A lição que eu posso tirar disso é radical: não voto mais em nenhum membro que participou da administração que não pagou salários. Pode-se passar 10, 15, 20 anos. Ou então quando surgirem os cabos eleitorais falando que o governo não foi “tão ruim”. Sempre haverá um historiador para lembrar o que as pesso-as esqueceram. Hobsbawm, essa é pra você! Estaria eu sendo injusto? Com a palavra os leitores.

Sanger Nogueira, mestrando em His-tória pela Uerj, professor de História do

CEDERJ e da Rede Municipal de Ensino de Valença

* Direto do Blog do VQ www.blogdovq.blogspot.com

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10Ano IV, nº 35 Valença, 2009

Desde 2004 em poder do MST, a Fazenda Vargas foi leiloada no dia 13/02/2008, pelo Sr. Rafael Ferreira Ma-tos, que foi imitido na posse no dia 12 de dezembro de 2008, tudo em função da total inoperância do INCRA/RJ, um órgão que deveria estar voltado para atender aos interesses da Reforma Agrária e não de banqueiros, industriais e fazendeiros ligados ao agronegócio. O sonho de 12 famílias que seriam as-sentadas na área foi interrompido pela busca do lucro fácil de um investidor, que com toda certeza não depende da-quela área para garantir seu sustento e o de seus filhos. Vale dizer que 24 fa-mílias sem terra estavam naquela área e viviam de sua produção, mas só 12 se-riam nela assentados.

Sem a inexplicável cobertura da im-prensa Local, com exceção do Jornal Valença em Questão, aquelas famílias tiveram que sair da área no mesmo dia em que tomaram conhecimento da Car-ta de Ordem que imitia na posse da ter-ra o Sr. Rafael.

Tal fato nos remete aos seguintes questionamentos: QUAL O PAPEL DA IM-PRENSA HOJE? SERÁ QUE ELA TEM LADO? ONDE ESTA SUA IMPARCIALIDADE?

O despejo se constituiu em uma ver-dadeira injustiça, cumprida muito pro-vavelmente com muita satisfação por setores da Justiça.

Como pode prevalecer o “sagrado direito de propriedade”, exercido por uma única família em detrimento da produção da vida de tantas outras famílias, homens, mulheres e crian-ças, há quase cinco anos na fazenda?

Que direito é esse? Que justiça é essa? Quantas questões sociais envolvi-das!! Mais uma vez prevaleceu o po-der do capital.

Mas o movimento continua de pé, fir-me, inabalado.Com a saída da Fazenda Vargas, os ocupantes da comunidade Manoel Congo foram para a ocupação Mariana Crioula na Fazenda São Pau-lo, que se encontra em fase final de de-sapropriação por parte do INCRA, que inclusive já depositou em Juízo o valor de mercado da Fazenda.

Mas o processo, por não atender aos interesses dos capitalistas da nossa re-gião e do estado, encontra-se parado há exatamente um ano, aguardando decisão do JUDICIÁRIO, para imitir o INCRA na posse da área, dando início ao processo de implantação do Assen-tamento de cerca de 60 famílias .

Vale lembrar que a Fazenda São Paulo, assim como as demais, está sen-do desapropriada por ter sido conside-rada improdutiva após análise técnica do Incra/RJ, o que colocou a área como passível de desapropriação por não cumprir a função social estabelecida na Constituição Federal.

As famílias Sem Terra da região aguardam também a desapropriação da Fazenda São Fernando, em Cardoso, cujo processo administrativo de Ava-liação está em fase final de conclusão. Neste latifúndio improdutivo serão as-sentadas cerca de 100 famílias.

Com todos os limites, esses proces-sos de desapropriação são motivos de orgulho para os trabalhadores ru-rais sem terra de nossa região, prin-

cipalmente para aqueles que residem no Município de Valença, por serem frutos da mobilização e organização da Ocupação Manoel Congo, uma ocupação vitoriosa politicamente, que deu sentido de luta e de vida a seus militantes, uma ocupação que foi referência na região e no estado, uma ocupação que conquistou a sim-patia da maior parte do povo valen-ciano, que mesmo sem apoio político e financeiro dos nossos governantes, conseguiu dar resposta satisfatória em termos de produção, mostrando que a Reforma Agrária é capaz de atender as necessidades básicas do povo, sendo uma das poucas políticas viáveis para resolver os problemas de produção, alimentação e de trabalho do povo pobre da cidade.

Além disso, a Ocupação Manoel Con-go, deu voz a um setor da sociedade que nunca tinha se levantado contra o conservadorismo e as corrompidas po-líticas sociais praticadas ao longo dos anos no nosso Município, colocando na ordem do dia as questões sociais urbanas e rurais.

A Ocupação Manoel Congo produziu a Ocupação Urbana Gisele Lima, misto de unidade entre o campo e a cidade.

Eis um retrato vivo da luta socialis-ta da Comunidade Manoel Congo, que se une, hoje, à luta, também socialista, da Comunidade Mariana Crioula, na improdutiva Fazenda São Paulo.

Francisco Lima, advogado da Rede Nacional de Advogados e Advogadas

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A luta dos trabalhadores em 2009

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Ano IV nº 35, Valença, 2009

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Habitação em ValençaHá um ano e dez meses algumas fa-

mílias ocupavam as casas populares no bairro da Varginha. Até então, as casas estavam inacabadas e já em processo de destruição pelo tempo. Vendo essa situa-ção de descaso com o que é público, e que as obras estavam paradas desde 2004, um grupo de pessoas que não tinha onde mo-rar se articulou para ocupar o espaço. Esse grupo foi fundamental para pressionar o poder público para o reinício das obras.

No dia 10 de dezembro de 2008 o então secretário de Assistência Social Rogério Fort informou que as casas ficariam para os 100 sorteados em 2004, pela gestão do então prefeito Luiz Antônio. Antes disso, em 1999, quando Fernando Graça era o prefeito de Valença, foi realizado também um sorteio dos lotes, antes mesmo da construção das casas. Em 2004, o novo sor-teio era para as casas que estavam sendo construídas no local. O secretário Rogério Fort explica, pela internet, que em 1999, o prefeito “se achando o dono da cidade (...) distribuiu sem critério” 100 permissões de uso dos lotes e que em 2003, o prefeito “en-viou para a Câmara de Vereadores um pe-dido de autorização para iniciar um novo processo para conceder 100 novas permis-sões de uso”.

A entrega das chaves para algumas fa-mílias sorteadas demonstra que a gestão passada pretendeu colocar panos quentes na situação. De acordo com a coordenação da Ocupação Gisele Lima, o secretário Ro-gério Fort acordou com o movimento orga-nizado que ocupa 23 casas e construíram mais 30 barracas no local que seriam en-tregue 77 casas, e que as 23 ficariam com os ocupantes.

Não é o que diz para a imprensa e para os sorteados para as 23 casas já ocupadas. Segundo algumas pessoas contempladas para uma das 23 casas, o secretário Ro-gério Fort avisa que eles devem resolver o problema com as pessoas que estão nas ca-

sas, que a prefeitura não pode fazer mais nada. Para o grupo que ocupa as casas ele diz que é mentira, que o acordo de manter as 23 casas em posse do movimento está garantido. Em resposta, o secretário disse que iniciou a entrega das “chaves das ca-sas às pessoas que receberam em 2004 a permissão real de uso. Muito contrariadas (...) as 23 famílias que tiveram as suas casas ocupadas foram na secretaria que coorde-no, perguntar como iria ficar a situação de-las. A minha resposta foi que judicialmen-te as 23 casas pertencem às pessoas que tem a permissão de uso, mas que é preciso respeitar o acordo feito entre o atual pre-feito e o MST. Quando uma dessas pessoas me perguntou se podia tentar convencer a senhora Lúcia, que ocupava uma das 23 casas a lhe entregar a casa que tem a per-missão de uso [Lúcia não ocupa mais por ter direito a uma das 77 casas] respondi: se a senhora Lúcia quiser lhe entregar, em ofi-cializo a entrega das chaves, mas é preciso esperar e cumprir o acordo feito”.

Como ficou acordado que as 23 casas ficam com a Ocupação, uma das famílias que ocupam os barracos vai para a casa liberada por Lúcia. Ao todo são mais de 30 barracos, sendo grande parte construída na encosta do morro, com visível risco de desabamento. Com as chuvas recentes e o vento, um dos barracos já foi pelos ares.

Algumas casas já foram ocupadas pe-las pessoas sorteadas, mas muitas ainda estão vazias. Escutamos por exemplo re-lato de que uma sorteada que ao chegar ao local e ver a casa, disse que “quebraria a casa e faria uma nova”, que ali não era lugar para se morar.

O questionamento da ocupação, to-talmente relevante, é se algumas dessas pessoas precisam realmente de uma nova casa. “Eu te mostro quem são as pessoas que têm casa própria ali se quiser. Uma ainda falou que a casa não é dela, porque ela construiu nos fundos da casa do pai.

Ora, se foi ela que construiu, então é dela. Ali tem gente que nem precisa, en-quanto vários não tem pra onde ir e estão em barracas, com crianças, idosos e pessoas doentes”, afirma dona Creuza. Ela mora em uma barraca e estava

“correndo”, porque faz salgados para fora e tinha uma entrega às cinco da tarde.

Outra moradora de um dos barracos é Fátima. Na sua casa moram oito pessoas, entre elas um irmão cego que teve um der-rame recentemente, a mãe e três filhos. A situação do barraco dela é das mais peri-gosas. Uma das paredes é segura por uma estante.

Eliane, uma das coordenadoras de Nú-cleo da ocupação, está preocupada. “São famílias e mais famílias com crianças pe-quenas, recém-nascidas, nessa situação. São pessoas idosas, com doenças, que têm dificuldade de andar. Se alguém passa mal nesse barro, eles não conseguem descer e nem ambulância chega aqui”, comenta. Além disso, até mesmo as pessoas que moram mais próximas da entrada têm di-ficuldades de acesso. Logo na entrada, um lamaçal dificulta a passagem de pedestres e de carros.

Após a visita fica engasgado na gar-ganta as dificuldades enfrentadas pelas pessoas. Até onde vai o descaso do poder público com esses cidadãos? Até onde é correto fazer um sorteio para pessoas in-teressadas em ter uma casa, deixando de lado pessoas que realmente precisam de uma casa? Rogério Fort acredita que “na opinião, no mínimo de 95% das pessoas que não ganharam casas no sorteio, afir-mam até hoje que esse sorteio foi honesto. Duvido quem prove o contrário”. Eliana questiona não a honestidade do proces-so, mas a escolha dos contemplados. “No sorteio em 2004, feito pelo mesmo Rogério Fort, ele explicou que 70 casas seriam sor-teadas, e que 30 seriam entregues para pessoas que realmente necessitavam, e que seria feito um estudo minucioso par ver quem realmente precisava”, lembra Eliana, que esteve presente no primeiro sorteio.

Eu pergunto: não seria minimamente mais razoável oferecer casas para quem realmente precisa, visto a grande necessi-dade de habitação que passa a nossa cida-de? E as famílias que não têm pra onde ir, o que será delas? Para Eliana, o próximo pre-feito vai ter que “descascar esse abacaxi verde e azedo, embora não tenha culpa”. Veremos.

Vitor Monteiro de Castro, jornalista Veja fotos das casas e barracos, além da resposta na íntegra de Rogério Fort em www.blogdovq.blogspot.com

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12Ano IV, nº 35 Valença, 2009

O que a grande mídia tem propagado por todo mundo é a existência de um conflito entre o Estado de Israel e o Hamas, um grupo extremista e terrorista que representa e personifica o povo e o Estado palestino. Além de a todo momento ressaltarem o apoio do Hezbollah e, logo em seguida, obrigatoriamente, dizer que é apoiado e financiado pelo Irã e pela Síria. O que está longe de ser legítimo e verdadeiro.

Na verdade o que vemos por parte do estado de Israel é um exercício da barbárie, um genocídio, um massacre. Os ataques e bombardeios nazi/sionistas contra o povo palestino são assassinatos, que muito se aproximam das práticas hitleristas. Os sionistas que sempre reivindicaram ser os grandes perseguidos e massacrados por toda a história agora cobram essa “dívida” com sangue, dor e sofrimento.

Dor e sofrimento através do massacre com bombas proibidas por convenções internacionais, como já admitido por

Israel . Bombas essas que serviram como justificativa para legitimar a invasão dos terroristas da Casa Branca ao Iraque. “Erraram” feio. “Erraram” feio, as bombas estavam nas mãos do aliado ou nas suas próprias, já que o governo terrorista israelense se escora na maior potencia bélica do mundo, os EUA. Deveriam ter procurado em Tel-Aviv não em Bagdá.

Matam, torturam, estupram, destroem, violam direitos em nome de sua existência e da aniquilação do outro. Agem e sentem-se como uma “raça superior” e/ou um povo superior que detém o direito de eliminar os “inferiores” palestinos, seguindo a lógica dos seus defensores que acreditam ser o inseticida do mundo para limpar o planeta das “pragas” palestinas, africanas, asiáticas, latinas...

Dentre os principais defensores, justificadores e aliados está a mídia mundial, que em momento algum divulga que o governo do Terror (Israel)

não está aberto e nem disposto a discutir qualquer ponto que seja a respeito de um cessar-fogo ou um acordo de paz, além de não divulgar as imagens do massacre. Mas apregoam a todo instante que o Hamas atacou primeiro e Israel se defende com o que eles chamam de represália, ou seja, segundo eles,

os assassinatos de civis na Palestina cometidos por Israel são “legítima defesa”. Em momento algum explicitam que o governo israelense é financiado e sustentado belicamente pela Casa Branca e, quando mencionam Israel, são proibidas as expressões “Territórios ocupados”, “Resoluções da ONU”, “Violações dos Direitos Humanos” ou “Convenção de Genebra”.

Fazem com que o Hamas seja chamado de grupo terrorista e não percebem, ou na verdade percebem e omitem, que chamando o Hamas de grupo terrorista, chamam todo o povo palestino de terrorista. O Hamas é legítimo dentro da sociedade palestina por conta de sua resistência histórica à opressão, perseguições, violação e usurpação de direitos contra o povo e contra a soberania do estado da Palestina. E diante disso o que a grande mídia faz? Legitima e justifica o terrorismo de Estado praticado por Israel, este massacre nazi/sionista.

As milhares de crianças, mulheres e homens mortos passam longe de suscitar qualquer emoção, já que a mídia justifica sem a necessidade de refletir. Talvez seja mais conveniente se emocionar junto com o Willian Boner por um caminhoneiro carregar 20 passarinhos numa gaiola, e deixar que a suástica em forma de estrela de Davi continue exterminando aquele povo tão distante.

Eu não. Por que? Porque somos todos palestinos.

Danilinho Serafim, estudante de direito

Guerra? Conflito? Não,

é um massacre

Latu

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