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Ano III, nº 25, Valença, agosto a outubro de 2007

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EditorialLeitor em Questão

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Expediente

Projeto Gráfico: Thiago XistoEditoração Eletrônica: Carolina LaraJornalista Responsável e Editor: Vitor Monteiro de CastroColaboraram nesta Edição: Bebeto, Daniele Dantas, Francisco Valdean,Kátia Berkowicz, Letícia Serafim, Luiz Americo Araujo Vargas,Marianna Araújo, Rafael Monteiro, Sadraque Santos, ToshTiragem: 2.000 exemplaresImpressão: Gráfica Rioflorense

Para anunciar, colaborar ou participar:[email protected] ou pelo

telefone (21) 8187-7533

Onde encontrar o VQ:Miriam Lajes, Roge Guts, Banca do Jardim de Cima, Revistaria Vamos Ler,Hollywood Vídeo Locadora, www.valencavirtual.com.br, Fundação DomAndré, Arcoverde, SEPE-RJ, www.blogdovq.blogspot.com.

Os textos publicados podem ser reproduzidos se citado a fonte eautoria do material e integralmente. O Valença em Questão é umapublicação mensal sem fins lucrativos, distribuída gratuitamente nomunicípio de Valença, municípios vizinhos, Rio de Janeiro e atravésde correio eletrônico.

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Fórum de CulturaFórum de CulturaFórum de CulturaFórum de CulturaFórum de CulturaSalve, galera!Em primeiro lugar, obrigado peloespaço aberto para disseminar umpouco minhas idéias.Parabéns pela edição! Rumo ao Fórumde Cultura! É isso aí...

Libório CostaLibório CostaLibório CostaLibório CostaLibório Costa

CelsinhoCelsinhoCelsinhoCelsinhoCelsinhoEstamos satisfeitos com a chegada do VQ,pois precisamos de veículos como essepara fazer a diferença em nossa cidade.Informo que o Jornal Local tem feito umtrabalho super legal, pois fala das feridaspolíticas colocando o dedo e esfregandocom areia, para fazer valer o direito dasinformações serem passadas à populaçãocom imparcialidade político-partidária.O evento onde o vereador Celsinho dizque trocou o voto sobre a concessão daágua por obras que o prefeito até hojenão fez, ficou claro que tem sempreinteresse pessoal em todas as votaçõesnaquela Casa. Temos que apoiar quemdefende a verdade e não se cala pordinheiro.Parabéns a vocês também, pois é com umtrabalho assim que iremos mudar asociedade de Valença. Grande abraço atodos,

Henrique LuthHenrique LuthHenrique LuthHenrique LuthHenrique Luth

Libório e YLibório e YLibório e YLibório e YLibório e Yasmin Iasmin Iasmin Iasmin Iasmin IParabéns pelo jornal e felicidades paraa Yasmim.Gostei de ver Liborinhoanimado. Tudo de bom! Abraços,

Ana VazAna VazAna VazAna VazAna Vaz

YYYYYasmin IIasmin IIasmin IIasmin IIasmin IIEstá desculpado [atraso na entrega dapublicação], afinal é por uma causa muitojusta: a Yasmin merece toda atenção.Desejamos que Deus a abençoe sempre eque toda a pureza de criança permaneçapor toda a vida dela. Parabéns aos paisda Yasmin!

Adriana, Rômulo e a nossaAdriana, Rômulo e a nossaAdriana, Rômulo e a nossaAdriana, Rômulo e a nossaAdriana, Rômulo e a nossaGabrielaGabrielaGabrielaGabrielaGabriela

YYYYYasmin IIIasmin IIIasmin IIIasmin IIIasmin IIIParabéns pela chegada da Yasmin parauma nova caminhada! Que a Luz do Cristoilumine seus caminhos! Um forte abraço,

Paulo de TarsoPaulo de TarsoPaulo de TarsoPaulo de TarsoPaulo de Tarso

YYYYYasmin IVasmin IVasmin IVasmin IVasmin IVBem-vindos ao reino das mamadeiras efraldas! Fique tranqüilo: criançascrescem e aos poucos vão deixando delado tão estranhas necessidades (risos).Vida longa à Yasmin! Muita luz no seucaminho.

Marilda VivasMarilda VivasMarilda VivasMarilda VivasMarilda Vivas

Carta à sociedade ICarta à sociedade ICarta à sociedade ICarta à sociedade ICarta à sociedade IAssino embaixo, pois Conservatóriatambém padece da falta de interesse daPrefeitura de Valença - e de sua Secretariade Cultura e Turismo - para prestigiar eincentivar eventos em nossa cidade.

Deolinda SaraivaDeolinda SaraivaDeolinda SaraivaDeolinda SaraivaDeolinda Saraiva

Carta à sociedade IICarta à sociedade IICarta à sociedade IICarta à sociedade IICarta à sociedade IIBem-vindos ao mundo real! Se nós do PTpudermos ajudar, estamos aí. Forteabraço,

Cláudio SarkisCláudio SarkisCláudio SarkisCláudio SarkisCláudio Sarkis

Carta à sociedade IIICarta à sociedade IIICarta à sociedade IIICarta à sociedade IIICarta à sociedade IIIPor Deus... Até militar com o MST? Qual afinalidade de se apoiar um �movimento�que não respeita o direito depropriedade e, embora recebaalimentação e subsídios dos governos(portanto pagos com nosso dinheiro),incita a ocupação violenta da terra dosoutros.Afinal, já que vcs mesmo dizem queapóiam este movimento, qual averdadeira finalidade do mesmo, quem éo mentor do mesmo e de onde vem odinheiro para tantas mobilizações earrebanhamento de inocentes úteis?

Ary BrandãoAry BrandãoAry BrandãoAry BrandãoAry Brandão

CartasCartasCartasCartasCartas

Ano III, nº 25, Valença, agosto a outubro de 2007

Depois de ouvirmos muitos boatos sobre boicotes a nossosprojetos, membros da Rede Jovem se reuniram com o prefeito FábioVieira. Tudo se confirmou: ele disse não ter conhecimento de ne-nhum Festival Gastronômico, de que a Secretaria de Cultura eTurismo já havia ultrapassado uma quantia grande de gastos e,finalmente, que não teria condições de apoiar esse evento. O pior éconstatar que mesmo com dinheiro, o Festival não ocorreria sob aorganização e execução da Rede Jovem. Por quê? Por causa daausência de espírito democrático para aceitar críticas, da desorgani-zação interna da PMV e do continuísmo em se contratar pessoasnão aptas tecnicamente para cargos de confiança.

A nossa prefeitura hoje (e há muitas décadas) passa por umaausência administrativa que assusta. E o ranço do coronelismo, queesperávamos ver acabar com um novo prefeito que não comparti-lhava desses �vícios�, acontece ainda em grande escala. Infeliz-mente.

O Valença em Questão, e posteriormente a Rede Jovem, surgi-ram com a missão de mobilizar diversos segmentos da sociedadepara, em parceria com instituições públicas e privadas, construir ese comprometer com uma agenda e um conjunto de metas (produzi-das coletivamente) visando uma cidade que não aceitasse injustiçase que fosse pautada em políticas públicas sustentáveis. E continua-mos com esse propósito.

Dessa forma mostramos mais uma vez que não somos impar-ciais, como os dominantes querem que pensemos. Temos o nossolado, o da democracia participativa, dos movimentos sociais e dasiniciativas que beneficiem a maioria. E por isso ocorrem retaliações.Alguns pontos de distribuição do VQ solicitaram que não continuás-semos a deixar a publicação em suas instalações (não distribuímosapenas em bancas de jornal), porque não ficaria bem se vincularema um jornal político (político que sempre foi, e nunca deixará de ser� mas longe de ser politiqueiro e partidário). Respeitamos estesposicionamentos, mas ao mesmo tempo nos entristecemos comeste tipo de atitude. Na nossa cultura local, infelizmente, é comumque isso aconteça. Resta-nos a certeza de que essa mentalidade setransformará e, um dia, a construção de uma cidade para todosestará mais tangível.

E para nós, uma nova Valença exige a extinção dos latifúndiosimprodutivos e que criemos políticas públicas de habitação popular,já que somos o segundo maior município em extensão territorial doEstado do Rio. Por isso voltamos à Fazenda do Vargas (acampa-mento Manoel Congo) e à Varginha (ocupação Gisele Lima).

Ao invés de fechar esta edição com chave de ouro, abrimos asportas de um presídio feminino para mostrar as preciosidades musi-cais e de iniciativas que possibilitam uma verdadeira reintegração àsociedade.

Uma ótima leitura e visite o nosso blog:www.blogdovq.blogspot.com

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Escrevo aqui para explicar quanto a um

posicionamento que tenho referente ao

problema da legalização ou não do aborto.

E, confesso desde já, sou contra a sua

legalização. No entanto, não pelo fato de

eu ser um insensível ao sofrimento destas

jovens que têm uma gravidez não

planejada; nem pelo fato de não

reconhecer que muitos destes filhos que

irão nascer não terão condições de ter uma

vida digna, uma vez que uma boa parte

das jovens que darão à luz a essas

crianças vivem em condições bastante

precárias; e muito menos porque sou um

fanático religioso.

Rafael Monteiro de Castro, estudantede Filosofia

[email protected]

AbortoAbortoAbortoAbortoAborto: : : : : quero me explicar

eu, que parto deste princípio, não posso

concordar com a legalização do aborto por

estas razões que geralmente são

apresentadas.

Quanto a não ser um fanático religioso,

digo apenas que partir de um princípio que

não pode ser explicado não me postula

como fanático de nada. Porque aqueles

que defendem o aborto o fazem partindo

de um outro princípio, o qual torna aqueles

argumentos, acima colocados, coerentes.

E por que eu digo que eles também partem

de um princípio? Pois estes que

discordam de mim também não podem

explicar de forma argumentativa o fato de

não existir vida num feto. E eu gostaria

que algum destes me apresentasse um

dia, caso descubram, um meio de explicar-

me de modo argumentativo, ou seja, não

fundamentado em crenças (o que eu

chamo aqui de princípio), que não existe

vida num feto. Tendo em vista isso, creio

que eu não possa ser chamado de um

fanático, a não ser que aqueles que de

mim discordam também o sejam, pois eles

também partem de um princípio.

Quis apresentar minha visão não para

convencer alguém, mas contribuir para

que a discussão deste tema tão importante

seja entendida em seu fundamento e não

encarada de forma superficial. Quero, por

fim, deixar claro que respeito a posição

contrária, exatamente porque sei que parte

do princípio do qual não se poderia tomar

outra posição, sob pena de serem

incoerentes. Espero, contudo, de que

também respeitem a minha, pelo fato desta

também ser coerente, tendo em vista o

princípio do qual parto.

Não queroconvencerninguém, mascontribuir para queessa discussão nãoseja encaradasuperficialmente

Mas porque parto do princípio de que

há vida no feto. E como o feto trata-se de

algo que é humano, só nos resta concluir

que há uma vida humana neste ser que ali

se faz na barriga dessas jovens. Agora,

devo admitir que não posso explicar este

princípio de forma argumentativa (isto é,

via uma dedução lógica). Todavia,

admitindo este princípio, eu não poderia

tomar outra decisão senão ser contra a

legalização do aborto.

Pois, muito embora estas jovens

sofram, não se pode admitir que elas

retirem uma outra vida – via o aborto – para

sanar seus sofrimentos, já que não se

pode conceber que a vida alheia seja

retirada porque você se sente melhor

assim, ainda mais quando sua vida não

corre nenhum risco.

E isso todos nós concordamos, pelo

fato de acreditarmos que a vida de um ser

humano não tem mais valor do que a de

outro. Inclusive fizemos questão – através

da representação que escolhemos para o

congresso à época – de colocar isto em

nossa constituição.

Não poderia eu também admitir a

prática do aborto com o argumento de que

estamos escolhendo o melhor para este

ser humano que estaria por vir. Afinal, se

admitirmos que temos poder de decidir o

que é o melhor para outro, ao ponto de

tirarmos a vida do outro como se fosse

para o “seu próprio bem”, abriríamos um

precedente que nos tornaria com

autoridade de impedir que algumas

crianças cheguem a adolescência ou a sua

fase adulta. Já que nos colocaríamos com

o poder de determinar o que é mais digno

para o outro e, assim, de extinguir aqueles

que notamos não ter dignidade em suas

vidas, devido à autoridade que sentiríamos

conter. E como tal poder creio não possuir,

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Após um período de três meses (para mim quase uma eternidade!), volteipara uma visita à Valença nos primeiros dias do mês de agosto. Retornei a minhacidade natal, da qual, há 12 anos me despedi como fazem alguns jovens embusca de alternativas de formação e trabalho. O leitor poderia se perguntar: quala novidade nisto? Bem, a princípio, nenhuma, já que para a realidade dessesjovens, essas idas e vindas são comuns. Por outro lado, nem sempre são tãocomuns, ou explícitos, os motivos que envolvem esse “retorno”. Sem deixardúvidas, a saudade da família e dos amigos justifica tal regresso e, sobretudo,mantêm as raízes fundadas, os sentimentos de pertença e afirmação das origense lembranças que nos forjam.

Ao andar pelas ruas, passando pelas casas, praças, jardins e, principalmente,ao encontrar com as pessoas, sempre sobos “olhares” atentos dos morros e montanhasque rodeiam a cidade, em um primeiromomento o pensamento que me assalta é(re)conhecido: nada mudou nessa cidade.Será? Estranhamente, como se eu fosse umturista (de fato, assim me sentia), as luzesbrilhavam em tons e cores distintas das queminha memória me permitia recordar. Ascasas, praças e jardins pareciam terassumido formas e detalhes até então nãopercebidos. Os contornos, ladeiras,travessas, árvores e morros pareciam quererme dizer algo que até aquele momento nãotinha parado para ouvir. Seguramente, acidade havia mudado, mas não apenas ela,também eu havia de ter experimentadotransformações.

Assim como a História, os homens emulheres que a fazem não são imutáveis.Inegavelmente, Valença não é mais a mesma.Tampouco o são os homens e mulheres queconstroem a história desta cidade. Jovenscontinuam indo e vindo, obviamente aquelesque podem ou ousam enfrentar as limitações

que cerceiam suas possibilidades de formação e trabalho. Poucas foram astransformações capazes de satisfazer suas necessidades, bem como as doconjunto da população valenciana.

Entretanto, mesmo aqueles que permanecem, por opção ou por necessidade,criam e recriam essas mesmas necessidades (e liberdades). Por exemplo, apraça ou Jardim da Glória, antes apenas mais um dos belos jardins da cidade,agora comporta um vibrante encontro de bandas de rock’n roll. Em conversas,pude constatar que militantes ambientalistas e do Sindicato dos Profissionais deEducação mantém-se mobilizados nos processos educativos e de valorizaçãodas lutas sociais, indispensáveis ao reconhecimento dos direitos dos valencianos/as. Direitos esses tão secundarizados em tempos neoliberais de “farinha pouca,

VVVVValença emalença emalença emalença emalença emtrtrtrtrtransformação?ansformação?ansformação?ansformação?ansformação?

meu pirão primeiro”, onde a diferença entreo cidadão e o marginal (o que está àmargem) se define meramente pelo acessoao consumo.

Na cidade em que muitos se orgulhamde ter sido a maior economia cafeeira dopaís, poucos se lembram de ter sido elatambém a que absorveu os maiorescontingentes de escravos africanos doBrasil, exatamente para produzir a riquezaque sustentou o baronato e as forçaspolíticas conservadoras que parecem teimarem serem abolidas, assim como aexploração que, verdadeiramente, ainda nãoo foi. Nesta cidade, felizmente ainda pulsaa memória viva dos negros reunidos noQuilombo São José, bem como em outrosespaços de resgate e celebração da culturanegra, de resistência e reprodução da vida.

Valença mudou, se para melhor ou pior,talvez tenhamos oportunidade de refletir emoutro momento. Valença continuarámudando, enquanto persistirem mulheres ehomens que coletivamente preparam osrumos da mudança. Não poderia serdiferente, caso contrário negaríamos opróprio movimento da história que permiteaos sujeitos atuar permanentemente sob osmarcos que definem o modo como se situamem suas relações, consigo e nos grupossociais.

Luiz Americo Araujo Vargas – Biólogo emestre em Educação pela UFRJ, pesquisadordo Laboratório de Políticas Públicas da UERJ.

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VVVVVarginha:arginha:arginha:arginha:arginha:tudo comotudo comotudo comotudo comotudo comocomeçou (?)começou (?)começou (?)começou (?)começou (?)

A imagem é a mesma de seis meses atrás. Uma decepção já que a prefeitura,naquele momento, havia se comprometido a terminar as obras das casas popularesocupadas no bairro da Varginha.

Aliás, nem tudo é igual. Há seis meses foram desocupadas 80 casas. E continuamdesocupadas. Outras foram construídas pelos sem-teto, com lonas e bambu combarro (o antigo pau-a-pique). As 20 que se mantêm ocupadas permanecem sem águae esgoto.”

As crianças brincam. Até gostam do local. “Tem mais espaço para brincar”, dizRaíssa da Silva, de sete anos. Não só as crianças gostam. Ana Paula, moradora dolocal e entrevistada na edição 22 do VQ, quando conversamos com ela por ocasião daocupação, continua lá. Muito mais feliz que na casa anterior. “Mesmo sem saneamento,aqui é muito melhor, é minha casa, não moro de favor”. Ana tem cinco filhos, todos naEscola. Raíssa cursa o CA, “aprendendo a família do J”, segundo a própria.

As obras nas casas, como acordado com a prefeitura, começaram. “Vinha um oudois funcionários aí de vez em quando”, diz um morador. “Há um mês não vem nenhum.”Nesse tempo, a mudança nas obras não é visível. Pouco foi feito. Colocaram-sealgumas bases de portas e janelas. Nada mais.

O prazo dado pela prefeitura foi de cinco meses para o término das obras, após as80 casas serem desocupadas. Já se passaram seis, as casas continuamdesocupadas, e a obra parada. Alguns moradores que estão em barracas de lona, eainda outros que por falta de moradia continuam morando de favor, perguntam para acoordenação do movimento “quando vamos voltar a ocupar essas casas? Vai ficarisso aí vazio, no tempo, estragando?”. Difícil tirar a razão deles.

Pior do que a prefeitura é a falta de compromisso do governo do Estado. Numainiciativa que talvez a maioria chamaria de louvável – mas nada mais é que obrigação

–, a prefeitura adiantou uma parcela pararetomar a obra. O nosso governo do Estadonão repassou nada para a retomada dasobras (lembrando, a construção das casaspopulares é uma parceria do governoestadual com o municipal).

Uma reclamação e preocupaçãoconstante é a questão do saneamentobásico. Polui o ambiente, já que não temtratamento. Causa mau cheiro e aindaincomoda a vizinhança. Um problema. Grave.

A prefeitura concede uma cesta básicapara cada família. A última diminuiu pelametade a quantidade de alimentos. Outrocomprometimento do governo municipal foide enviar um técnico para ver a viabilidadede construção de novas casas na parte decima do terreno. Nada ainda foi averiguado.O tempo passa, compromissos não sãocumpridos. O povo continua sofrendo.Reclama. Onde isso vai parar?

Vitor Monteiro de Castro

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Moradores da Ocupacao Gisele Lima, naVarginha, posam pra foto

'Aqui é melhor de morar porque tem mais espaço pra brincar�

Moradores contruíram casas com bambu ebarro, na falta da continuidade das obras

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Em 13 de maio de 2004 iniciava a ocupação na fazenda doVargas, o que seria o acampamento Manoel Congo, em Valença.São mais de três anos e muitas lutas do Movimento dosTrabalhadores Rurais Sem Terra (MST) especificamente nesseacampamento. Depois de muitas idas e vindas no processo dedesapropriação/venda da terra, a fazenda foi finalmente cedida aoInstituto Nacional de Seguridade Social (INSS). O antigo dono foifraudador do INSS, no famoso caso Georgina de Freitas. Essaterra foi então vendida ao Instituto Nacional de Colonização eReforma Agrária (Incra), que agora a destina para fins de reformaagrária.

Como a terra não foi desapropriada, mas comprada pelo Incra,antes da cessão ao MST é preciso a realização de um estudo depré-viabilidade econômica no local. O MST disponibilizou umtécnico e outros dois, ligados ao Incra, estão acompanhando. Jáfizeram uma primeira vista e parecem mostrar que há essaviabilidade. Os acampados aguardam. Ansiosos.

Em conversa com integrantes do MST no Rio de Janeiro eNova Iguaçu, comentando do andamento da compra da terra e dapossibilidade (grande) de se tornar o primeiro assentamento doMST em Valença, escutei: “eles tinham mesmo que serassentados. Eles são um exemplo, produzem diversos alimentos”.

Manoel Congo: depois de mais de dois anosManoel Congo: depois de mais de dois anosManoel Congo: depois de mais de dois anosManoel Congo: depois de mais de dois anosManoel Congo: depois de mais de dois anosde luta , resultados começam a aparecerde luta , resultados começam a aparecerde luta , resultados começam a aparecerde luta , resultados começam a aparecerde luta , resultados começam a aparecer

Vitor Monteiro de Castro

Produzem mesmo. Tanto que de vez emquando distribuem a produção excedente nacidade.

Agora também participam da FeiraPopular, organizada pelo Movimento PorAmor à Valença. A Feira acontece uma vezpor mês, às vezes no Adro da Catedral,outras no bairro Monte D´ouro. Acoordenação do MST quer ampliar para umafeira da Reforma Agrária em Valença. Terranão falta para produzir.

Atualmente estão 22 famílias noacampamento. Os que encontrei sorriram.As crianças posam para as fotos. Caíquefoi fotografado quando do início da ocupação,em 2004. Agora, em 2007, algunscentímetros mais alto e com um sorriso norosto, continua no acampamento. Pergunteido filhote de cachorro que me mostrou hádois anos. Disse que agora já tinha outro.Aquele tinha crescido. Como ele. Três anospassam rápido.

Caíque, à esquerda, agora emCaíque, à esquerda, agora emCaíque, à esquerda, agora emCaíque, à esquerda, agora emCaíque, à esquerda, agora em

2007, 2 anos depois, ainda no2007, 2 anos depois, ainda no2007, 2 anos depois, ainda no2007, 2 anos depois, ainda no2007, 2 anos depois, ainda no

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Caíque, à direita, mais novo, ainda no início doCaíque, à direita, mais novo, ainda no início doCaíque, à direita, mais novo, ainda no início doCaíque, à direita, mais novo, ainda no início doCaíque, à direita, mais novo, ainda no início do

acampamento Manoel Congoacampamento Manoel Congoacampamento Manoel Congoacampamento Manoel Congoacampamento Manoel Congo

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“Isso é uma oportunidade para pessoas em situação dedesvantagem.” Clara Pentagna tenta resumir a idéia da FeiraPopular, idealizada por ela, junto ao Movimento Por Amor àValença. Esse produtores rurais, com a Feira, conseguemdar vazão a suas produções. A idéia surgiu, segundo Clara,porque via muitas pessoas pedindo favor. “Muitos vivempedindo favor. Pensei: porque faltam oportunidades. Entãovamos arrumar um jeito dessas pessoas conseguiremtrabalhar”.

Em Valença, segundo Clara, não existe gente passandofome, “mas há uma mentalidade de dependência enorme”. Aidéia da Feira era fazer com que as pessoas parassem depedir favores, se emancipassem com a possibilidade deescoar o que produzem.

Mas nem tudo é perfeito. Clara lembra que as pessoasque participam da Feira são as pessoas que já produzem.“São pobres e querem aumentar um pouco a renda. Estãoem desvantagem e vêm aproveitar”. Por isso, Clara lamentaque ainda não atingiu a finalidade inicial: “que pobre estamosatingindo? Tem que se mudar a lógica de doação. Tem quetrabalhar”.

Mas exemplos positivos não faltam. Uma senhora quemora no bairro do Cambota, de mais de 70 anos, não vem àFeira, mas troca sua produção toda segunda-feira por arroz efeijão. Seriano, toda terça, leva verdura.

Na Feira, para comprar, tem que trocar o Real peloCoroados, moeda social. A proposta “é mostrar que o seuproduto vale mais que o real. A moeda social cumpre o papelda moeda para troca de valores, mas não para acumular,valorizando as pessoas que produzem”, explica Clara.

Seriano da Silva é um bom exemplo de um produtor queestá aproveitando a oportunidade. Com 56 anos, produz dentrodo Mutirão da Conquista. “Sou um dos que mais abasteço o

FFFFFeira Peira Peira Peira Peira Popular: exemplo deopular: exemplo deopular: exemplo deopular: exemplo deopular: exemplo dereconstrução da sociedadereconstrução da sociedadereconstrução da sociedadereconstrução da sociedadereconstrução da sociedade

mercado. Dou assistência semanal. Procuro trazer coisasque o povo sempre gosta”. E lembra “com higiene, capricho.Sempre preparo bem o solo, não uso agrotóxico”.

Trabalhando durante 23 anos como vigilante do Bancodo Brasil, em Valença, Seriano diz que seu sonho semprefoi voltar para a roça. Hoje vê seu sonho sendo realizado.“Esse pedaço de terra foi como ganhar na mega-sena”,comemora. Além da agricultura, Seriano ainda tem suasvacas, faz um queijo para consumo próprio “e pro amigoque visita”. Fui até um dos convidados para uma visita.Fiquei tentado, ainda mais depois que falou do queijo.

Sua produção é extensa. Começou a falar e demorou aparar: “pocã, caqui, mamão, laranja, mexerica, banana,inhame, batata, mandioca, vagem, abóbora, ervilha, repolho,brócolis, couve-flor, quiabo, jiló”, e lá continuou ele. Eu nãoconsegui acompanhar nas anotações. Depois aindaacrescentou: “faço rapadura, melado, açúcar mascavo”.

Segundo Seriano, uma vez pesaram a quantidade dealimentos que trouxe. Nas costas. Passou dos 50 quilos.“Um dia fizeram o cálculo aí”.

Clara não está plenamente satisfeita, queria que maispessoas se apropriassem da Feira. Mas já cumpre umpapel importante na economia valenciana. Uma outrapreocupação é o costume de acumulação do capital. Hojemais de mil Coroados estão em circulação pela cidade.Mas isso é um problema pequeno perto dos benefíciosque traz para esses pequenos produtores rurais. “Estoumais feliz agora que quando era segurança. E futuramentevou trazer peixe pro pessoal aí”, diz Seriano, pai de cincofilhos e já com cinco netos. Lembra ainda que a base paratudo isso é ter uma mulher ao lado: “um homem semmulher não é ninguém!”.

Vitor Monteiro de Castro

Cré

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Clara Pentagna , idealizadora do projeto

Cré

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: VM

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Seriano da Silva, 56 anos

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“Aproveite este momento para falar com oSenhor. Feche seus olhos... Oremos”. Duase meia da tarde, e assim se inicia o 3º Festi-val da Canção da Mulher Presidiária, realiza-do anualmente no Presídio Talavera Bruce,uma das unidades femininas do complexode presídios de Bangu. Isso na tarde deterça-feira, quatro de setembro. Dia anima-do.

“Esse tipo de evento é super importantepara valorizar a auto-estima dessas mu-lheres”, afirma Lila Mirtha, uma das or-ganizadoras do Festival e fundadora dojornal Só Isso!. E também detenta. Lilaé boliviana e em 2004, junto com ou-tras presas estrangeiras (uma da Ale-manha, outra da Finlândia) e uma bra-sileira fundou o Só Isso!, jornal quecircula até hoje, e faz sucesso entreas “mulheres encarceradas”.

Falando em estrangeiras, a vence-dora do concurso foi Maria Argenti-na Rocas Rojas, boliviana e nãoargentina, como o nome sugere.Compôs e cantou uma canção queexalta o Rio de Janeiro, “Clamor doRio”, onde pergunta enfaticamen-te, “e a paz, onde está?!”. Sua

música, feita em parceria com uma amiga que não quisse identificar, foi inspirada, segundo ela, na “beleza doRio e seu contraste com a violência crescente”. Sua penajá venceu. Se diz tímida, mas gosta de se “expressarcantando”. Agradou.

Maria Argentina venceu, “mas a vitória é de todas”,falou antes o diretor da penitenciária, Marcos Pinhei-ro. Com razão. A felicidade era geral, pelo menosnão parecia haver concorrência. Quem acabava desair do palco era quem mais aplaudia a “concorren-te” seguinte. Exemplo clássico disso foi Paulinha(Paula dos Reis Polito), que cantou um funk, de-pois tocou bateria, não levou nenhum prêmio,mas, além de ser muito aplaudida, foi das quemais aplaudiu as companheiras. Um exemplo.

“A vida não termina aqui”Patrícia, ou Baby MC, é outro exemplo. Por causa dela, todas essas presashoje participam e se divertem com o Festival. Foi ela que, há três anos procurou o diretorMarcos Pinheiro e pediu para que ele apoiasse sua idéia, de um festival de música. “Eu compunha, já tive10 músicas roubadas pela Furacão 2000 e outras 10 pela 98. gravava em fita K7 e entregava, não tinha nada registra-do”, lamenta.

“Ano que vem já não devo mais estar aqui, mas a idéia continua, todo mundo apóia”, diz, esperançosa, Baby MC. Talvez ela apareça, mas nãomais como detenta. “Voltaria para mostrar para elas que a vida não termina aqui”, complementa. Já tem planos de gravar um CD com o DJ Roger,

que animou a festa.

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3º F3º F3º F3º F3º Festival da Canção da Mulherestival da Canção da Mulherestival da Canção da Mulherestival da Canção da Mulherestival da Canção da MulherPresidiária no TPresidiária no TPresidiária no TPresidiária no TPresidiária no Talavera Brucealavera Brucealavera Brucealavera Brucealavera Bruce

Vitor Monteiro de [email protected]

Ano III, nº 25, Valença, agosto a outubro de 2007

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[email protected]

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As participantes e vencedoras:As participantes e vencedoras:As participantes e vencedoras:As participantes e vencedoras:As participantes e vencedoras:Maria Argentina Roca Rojas � 1º lugar com 77,5pontos, com a música Clamor do Rio, de autoria delae de N.B.

Dione Normando e Maria Cristina da Silva � 2º lugarcom 75 pontos, com a música O Grito, composta porJosé Ediberto Soares, de Bangu II.

Ana Paula Sanches � 3º lugar com 70 pontos, coma música Pagode da Liberdade, composta por C.M.

Ana Lúcia Dantas da Silva � 4º lugar com 69,5pontos, com a música Luz na Escuridão, de suaautoria.

Elisangela de Souza Felix � 5º lugar com 68 pontos,com a música Um Vencedor, composta por JoséEdiberto Soares, de Bangu II.

Elma Garcia de Freitas � 6º lugar com 67,6 pontos,com a música A Procura, de sua autoria.

Paula dos Reis Polito � com a música Lado Certo,de sua autoria

Degmara Cândido e Adriana Oliveira � com amúsica A Gata que Balançou Meu Coração, deautoria das duas.

Vandreia Silva � com a música O Outro, se suaautoria.

Érica Daniela Rodrigues � com a música Não VaiRolar, de sua autoria.

Além de Roger, acompanharam a festa, e trabalharam durante um mês antes, outros músicos da Cufa (Central Única das Favelas). MarcioBorges à frente, baterista e back vocal de MV Bill, Douglas Rafael, que ficou responsável pela bateria, Levi no baixo e Leonardo junto com Rogerno som. O resultado foi ótimo, alto entrosamento. Parabéns a eles. E a elas, claro. Márcio Borges lembra que é tudo “por amor”.

Canção, beleza, artesanato, informática...O diretor Marcos Pinheiro anda entre as presas, conversa, brinca, sorri. “O objetivo é envolvê-las em atividades pontuais, isso aumenta a auto-estima”, informa. No TB, como elas chama o presídio Tala-vera Bruce, além do Festival da Canção, tem o Garota TB(concurso de beleza) e oficinas de artesanato, cursos deinformática e pré-vestibular.

Entre os jurados, Tico Santa Cruz, do grupo Detonautas.Depois da morte do companheiro de banda, Neto, se en-volveu de forma mais ativa e montou um grupo, onde acon-tece saraus de música e poesia. Lá conheceu outros artis-tas “com a disposição de causar uma reflexão coletiva”,lembra. Era o grupo Voluntários da Pátria.

“Começamos a correr lugares para mostrar o quanto apolítica envolve as questões sociais. Só vamos mudar odia em que a sociedade se conscientizar politicamente”,afirma Santa Cruz. Atualmente está envolvido com o coletivoLiberdade de Expressão, que atua em presídio do Rio deJaneiro e arrecada livros para espaços populares e presídios.

“O Talavera é uma exceção à regra”Os convidados do Festival têm preferência para sentar. Sãoservidos ainda de água, café e chocolates, preparados pelasdetentas. Mas a animação mesmo vêm das presas, que aplaudem, gritam, assoviam, riem, enfim, se divertem. Muitas ainda se emocionam.Principalmente durante a abertura, com o coral da igreja Leão da Tribo de Judá (foto ao lado). Elas cantam de segunda à sexta, duas vezes aodia, pela manhã e à noite. Para elas o Festival é bom porque elas se interagem mais.

Emoção também no final, em especial das vencedoras. Foram premiadas as seis primeiras colocadas, de 14 inscritas. Emoção não muitocomum. Marcelo Freixo, hoje deputado estadual, presente no evento, diz que está acostumado a visitar presídios em situação ruins. “O Talaveraé uma exceção à regra das prisões femininas. Isso é mérito da equipe de trabalho. Este é o momento em que elas se reafirmam como9 mulheres,que mostram sua dignidade”, diz.

Além das participantes e do pessoal da Cufa que organizou o som, se apresentaram a cantora Taís Vilela, Rodrigo (da dupla Enzo e Rodrigo) eTico Santa Cruz. O festival teve patrocínio do Ateliê Novomarco, Fabritz, Fnac, Fotorio 2007 e L´Oreal. Os apoios foram realizados pela Cufa(Central Única das Favelas), Mãos à Arte, Observatório de Favelas e SEAP (Secretaria de Administração Penitenciária).

Tatiana Cristina dos Santos � com a músicaRenascendo das Cinzas, de sua autoria.

Patrícia Cristina dos Santos � com a música Eu JáFalei, de sua autoria.

Carla Simone de Souza � com a música De Volta àLiberdade, de sua autoria.

Bruna Cristina Rabelo � com a música Nesse Amoreu Gamo, de sua autoria.

E os jurados:E os jurados:E os jurados:E os jurados:E os jurados:

Secretário de Administração Penitenciária, CésarRubens Monteiro de Carvalho

Sub-secretário de Administração Penitenciária,Marcos Abreu

Coordenador da Defensoria Pública, EduardoQuintanilha

Presidente do Sindicato dos Inspetores,Franscisco Rodrigues

Representante da Loreal, Priscila Monteiro

Fotógrafo Fabritz

Cantor Tico Santa Cruz

Cantor Rodrigo (da dupla Enzo e Rodrigo)

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Valença, 10 de agosto de 2007

Prezados,

Recebemos com muita tristeza a notícia de que não serão possíveiso apoio e patrocínio da Prefeitura Municipal de Valença para arealização do II Festival Gastronômico de Valença, agendado para osdias 28, 29 e 30 de setembro de 2007 e organizado pela Rede JovemValenciana, Diretório Acadêmico da Faculdade de Filosofia – Faz +Daluja – e Secretaria Municipal de Cultura e Turismo.

Em março deste ano, apresentamos à secretária municipal deCultura e Turismo Daniele Dantas, o projeto deste Festival, queobjetivava comemorar os 150 anos da cidade de Valença e reunir naPraça Visconde do Rio Preto (Jardim de Cima) os diversos agentes efatores formadores de nosso povo e costumes, tendo na gastronomiao ponto focal e unificador dessas raízes e singularidades, uma vezque não conseguimos realizar em 2007 o nosso Festival de Inverno.

Enxergamos a necessidade de um olhar e ouvir diferenciados paraas etnias e culturas que contribuíram para a constituição de nossagente. Isto porque nosso presente apresenta-se como um grandenavio sem a intenção de navegar em novosmares, com timoneiros sem os mínimosconhecimentos de navegação, com a nauextremamente sobrecarregada e cobertade furos por onde escoam nossasoportunidades e esperanças. Afundamosrapidamente.

Não sentimos pesar apenas pelaquestão financeira, mas sim pela falta decompromisso, organização e capacidadede nossa secretária municipal de Cultura eTurismo. Como podemos acreditar etrabalhar em parceria com este órgão se,na primeira reunião que fazemospessoalmente com o Prefeito em 9 de agosto de 2007, ele nos informaque sua própria secretária não o havia comunicado sobre tal evento e- pasmem – que ela já tinha ultrapassado as cotas para o ano de2007 em 200 mil reais?!

Em quê a Secretaria de Cultura e Turismo conseguiu gastar tantodinheiro? Perguntando de outra maneira: como não pudemos notarnenhum melhoramento na política cultural e turística valenciana comuma verba tão significativa, já que ultrapassar um valor significa quejá havia uma destinação previamente orçada?!

Para esclarecer a parte dos recursos financeiros: os custos doprojeto do Festival Gastronômico não puderam ser aprovados pelaPMV, pois a verba designada às comemorações do aniversário dacidade já estava compromissada com um “mega show”, provavelmenteno Parque Municipal de Exposições. Então, por quê a senhora DanieleDantas e o senhor Fabrício Vieira nos deram a garantia da realizaçãodo Festival Gastronômico no Jardim de Cima no mesmo período?Aliás, para qual cargo foi eleito e/ou nomeado o filho do prefeito?

Durante as últimas semanas ouvimos muitos boatos que nosdeixaram um tanto quanto preocupados, mas principalmenteindignados. O principal deles, que nos foi repassado diversas vezes,é que estávamos fazendo uma oposição muito forte ao governo FábioVieira e que isto impediria a realização de parcerias, como a do FestivalGastronômico. Como estamos nos acostumando a conviver com os

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Carta aberta à sociedade valenciana, à Prefeitura Municipal deCarta aberta à sociedade valenciana, à Prefeitura Municipal deCarta aberta à sociedade valenciana, à Prefeitura Municipal deCarta aberta à sociedade valenciana, à Prefeitura Municipal deCarta aberta à sociedade valenciana, à Prefeitura Municipal deVVVVValença e à secretária municipal de Cultura e Talença e à secretária municipal de Cultura e Talença e à secretária municipal de Cultura e Talença e à secretária municipal de Cultura e Talença e à secretária municipal de Cultura e Turismo - Daniele Luzieurismo - Daniele Luzieurismo - Daniele Luzieurismo - Daniele Luzieurismo - Daniele Luzie

Dantas MazzêoDantas MazzêoDantas MazzêoDantas MazzêoDantas Mazzêo

boatos valencianos e não adotamos estes comentários comoinformação, preferimos continuar nosso trabalho e acreditar que osmesmos não representavam a verdade e a mentalidade de nossosdirigentes.

Porém, ficamos muito tristes em ouvir diretamente da DanieleDantas a “sugestão” de retirar o nome da Rede Jovem Valenciana daorganização do evento. Começamos a tirar nossas conclusões sobreas causas para isso, mas não desanimamos e continuamos a tocaro planejamento. Era o segundo aviso.

Sabíamos que portas seriam fechadas com nosso posicionamentoem dar voz e militar juntamente a movimentos sociais como MST eSEPE. Porém, o que não admitimos e ficamos indignados é ouvir demembros do poder público que não seria possível liberar verbas parao Festival Gastronômico porque um de nossos membros estava emum tipo de “lista negra”. Isto é democracia?! Será que veremos umdia em Valença um cartaz escrito “Valença: ame-a ou deixe-a”, como

vimos no país no período da ditadura militar?A Rede Jovem Valenciana surgiu com o

objetivo de colaborar na construção de umnovo município, realizando parcerias como poder público e instituições queapresentassem um posicionamento eatitudes éticas e comprometidas com obem público.

Quando da posse do atual governo,torcemos para que não caísse na culturacoronelista de seus antecessores.Infelizmente a torcida não deu certo. Nãoqueremos personificar a culpa apenas nosenhor Fábio Vieira, mas também em todos

os membros do poder público que não estão afins com os interessesde se construir um município melhor. Não acreditamos mais nas boasintenções! O que queremos são líderes e pessoas aptas tecnicamentea ocupar os órgãos do governo municipal.

Fazemos oposição à injustiça, à falta de capacidade técnica paracargos públicos, à prática paternalista de tratar Valença como curraleleitoral, ao nepotismo, à inexistência de políticas públicas e diálogoscom a sociedade. E esta oposição é feita para com o Executivo, oLegislativo e o Judiciário, em qualquer gestão que mantenha taispráticas.

Portanto, gostaríamos de acreditar que a não-realização do IIFestival Gastronômico de Valença, nas proximidades do aniversárioda cidade, seja “apenas” por irresponsabilidade e deficiência nacapacidade de gestão política.

Um de nossos lemas é que “juntos somos fortes”. E será assim,em consonância com todos aqueles que iriam participar deste IIFestival Gastronômico de Valença, que tentaremos realizar este eventoem outra data, independentemente da Secretaria Municipal de Culturae Turismo e da sua ingerência administrativa.

Atenciosamente,Rede Jovem Valenciana

[email protected]

Sabíamos que portasseriam fechadas com

nosso posicionamento emdar voz e militar

juntamente a movimentossociais

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[email protected]

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Carta enviada pela Secretária Daniele Dantas, via e-mail, para a Rede JovemCarta enviada pela Secretária Daniele Dantas, via e-mail, para a Rede JovemCarta enviada pela Secretária Daniele Dantas, via e-mail, para a Rede JovemCarta enviada pela Secretária Daniele Dantas, via e-mail, para a Rede JovemCarta enviada pela Secretária Daniele Dantas, via e-mail, para a Rede JovemVVVVValenacianaalenacianaalenacianaalenacianaalenaciana, no dia 11 de agosto. Uma de suas solicitações foi de que a, no dia 11 de agosto. Uma de suas solicitações foi de que a, no dia 11 de agosto. Uma de suas solicitações foi de que a, no dia 11 de agosto. Uma de suas solicitações foi de que a, no dia 11 de agosto. Uma de suas solicitações foi de que apublicássemos nesta edição do VQ, para esclarecimentos que ela julgapublicássemos nesta edição do VQ, para esclarecimentos que ela julgapublicássemos nesta edição do VQ, para esclarecimentos que ela julgapublicássemos nesta edição do VQ, para esclarecimentos que ela julgapublicássemos nesta edição do VQ, para esclarecimentos que ela julganecessários. Abaixo a carta, na íntegra.necessários. Abaixo a carta, na íntegra.necessários. Abaixo a carta, na íntegra.necessários. Abaixo a carta, na íntegra.necessários. Abaixo a carta, na íntegra.

Valença, 11 de agosto de 2007

Aos Integrantes da REDE JOVEM:

Ao ler a correspondência de vocês, fiquei pasma pelas acusaçõesque fazem a [sic] SECTUR.

Como �formadores deopinião� que são, deveriam

ser menos precipitados

Ano III, nº 25, Valença, agosto a outubro de 2007

Estou lançando umaprestação de contas das

realizações da Sectur

Por quê vocês não me consultaram, ou ao menos perguntaram so-bre a minha posição a respeito de tudo?

Vcs [sic] sabiam que eu tenho meios de conseguir verbas para oseventos culturais, com patrocinadores?

E que o Festival é prioridade, por ser aniversário da cidade?Só que eu em momento algum sinalizei valores para a Kátia, a não

ser do apoio logístico que já havia acertado, pois aguardo ainda o orça-mento oficial do festival.

Só com o ORÇAMENTO EM MÃOS posso tomar decisões a res-peito do evento.

O Sr. Prefeito sabia do Festival, pois eu sempre o informo, porémnão deve ter assimilado ser o mesmo evento, ao ver, antes de mim oorçamento.

O caminho usado não foi o mais correto, primeiramente tinha queser passado à SECTUR, e caso o pedido fosse negado, aí sim caberiaum pedido ao prefeito.

Palavras e decisões foram colocadas na minha boca.Vocês me acusam sem me ouvir.Tenho testemunhas de que nunca “sugeri” retirar nome da REDE

JOVEM do cartaz, pois nem sabia que a Kátia era integrante do grupo,e para minha surpresa, quem mencionou este assunto de alguma in-compatibilidade entre a PMV e a REDE JOVEM, foi ela.

Ela disse que vocês apenas APOIAVAM, não que eram organizado-res.

Eu estou acima de questões pequenas, em que a política seja colo-cada a frente da população...

Vocês realmente não me conhecem, e não conhecem a engrena-gem de uma secretaria.

Nós trabalhamos por etapa, de acordo com calendário.Finalizei a Festa da Glória e agora passo a trabalhar, efetiva-

mente nos próximos eventos, incluindo aí, o II Festival de Gastrono-mia.

Como “formadores de opinião”, que são, e eu sempre os admi-rei, e aceitei a crítica, de forma construtiva até hoje, deveriam sermenos precipitados antes que eu fosse ouvida.

Fui bastante atacada por vocês, como se eu não tivesse feitoabsolutamente nada nesta pasta e como se trocasse a Cultura porMEGA-SHOWS.

Aproveito a oportunidade para lhes dizer que estou lançandoesta semana [de 12 a 18 de agosto], uma prestação de contas dasrealizações da sectur, nas diversas áreas da Cultura e Turismo,através de um pequeno informativo, desde que assumi a mesma noano passado.

Também gostaria de esclarecer que a Exposição Agropecuária,foi totalmente executada pela Secretaria de Agricultura, e eu nãotive participação de expressão, a não ser oferecendo gratuitamenteos stands aos artesãos aos industriais e aos comerciantes deValença.

Continuo insistindo na pergunta inicial desta carta: Por quê nãome perguntaram algo?

O Juízo de valor da minha pessoa vocês podem fazer do jeitoque vocês quizerem [sic], porque isto depende da visão de mundode cada um.

Eu gostaria apenas que antes que este julgamento fosse feito,que eu fosse questionada pessoalmente por vocês.

Lamento que a Rede Jovem com uma proposta tão boa einovadora para a nossa cidade tenha agido desta forma tão ofensivaà secretaria e a minha pessoa.

Atenciosamente,Daniele Dantas

Secretária Municipal de Cultura e Turismo

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[email protected]

Desde o início de 2007 vínhamos trabalhando naconstrução do II Festival de Gastronômico de Valença.Em março, apresentamos o projeto à Secretaria deCultura e Turismo e, imediatamente, foi aprovado paraser realizado junto às comemorações do aniversario dacidade. Até aquele momento, não havia nenhuma outraproposta para a data, como nos informou Daniele Dantas.A partir de então, começamos a articular parcerias e afazer os contatos para que o evento tivesse a qualidademerecida.

Como coordenadora do Festival e conhecedora da áreade gastronomia, tive em todo o tempo a preocupação deouvir e procurar atender às sugestões, tanto daquelesque estariam com seu trabalho representado no evento,como também da SECTUR e Faz+Daluja (FAA). Portanto,estávamos caminhando juntos. Nossa secretária de

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Carta explicativa sobre as considerações daCarta explicativa sobre as considerações daCarta explicativa sobre as considerações daCarta explicativa sobre as considerações daCarta explicativa sobre as considerações dasecretária municipal de Cultura e Turismo -secretária municipal de Cultura e Turismo -secretária municipal de Cultura e Turismo -secretária municipal de Cultura e Turismo -secretária municipal de Cultura e Turismo -

Daniele Luzie Dantas MazzêoDaniele Luzie Dantas MazzêoDaniele Luzie Dantas MazzêoDaniele Luzie Dantas MazzêoDaniele Luzie Dantas Mazzêo

Ano III, nº 25, Valença, agosto a outubro de 2007

� A todos que compartilham denossas idéias e que trabalhamfirme para que elas seconcretizem, fica a certeza de queestaremos realizando nosso IIFestival Gastronômico em outraoportunidade.�

direito e dever de buscar resposta, pois nós simestávamos comprometidos com todos osenvolvidos. Nosso projeto foi elaborado para quetrouxesse benefícios para a comunidade econtasse com muito gosto a história dos 150 anosde Valença, criando oportunidades de geraçãode renda e integração entre diversos segmentosde nossa sociedade. Além disto, objetivamostambém o fortalecimento turístico da cidade,através da consolidação deste Festival nocalendário de eventos municipais.

Vejo com tristeza o fato de que, se valendodo cargo que ocupa, a secretária de Cultura eTurismo tenha se achado no direito de continuarna organização do II Festival Gastronômico paraas festividades de aniversário da cidade. Peçodesculpas a todos que comigo trabalhavam paratal realização. Mais do que nunca, nossos ideaiscontinuam vivos, outros caminhos iremospercorrer, outros projetos nascerão, semprealicerçados no nosso lema “juntos somos fortes”.A luta apenas continua.

A todos que compartilham de nossas idéias eque trabalham firme para que elas se concretizem,fica a certeza de que estaremos realizando nossoII Festival Gastronômico em outra oportunidade.

Sem querer culpar alguém ou colocar palavrasnão ditas, apenas vim através desta carta relataro acontecido, para que não acreditem haver faltade argumento para com a verdade.

A todos os envolvidos no projeto, ao povovalenciano e também aos contatos que temosfora de nossa cidade, agradecemos o apoio e aconfiança depositados em nosso trabalho, poisnos fazem acreditar que vale a pena continuar.

Kátia BerkowiczCoordenadora de Gastronomia da Rede

Jovem [email protected]

Cultura e Turismo era informada de tudo o que estavaacontecendo e permitiu que continuássemos os trabalhosnos dando a entender que o evento aconteceria conforme oque era discutido e ratificado. Abandonamos a idéia de queo evento poderia não acontecer, ou pior, não ter a qualidadeesperada.

Quanto ao orçamento, negociamos o que seriaresponsabilidade de cada um. Da nossa parte -Rede Joveme Faz+Daluja - faltavam apenas o preço de duas oficinas eo material para a ornamentação, que creio não seremimpedimento para a realização do Festival.

A partir do momento que surgiu a dúvida, e conseqüenteinsegurança da não-realização do evento, nos achamos no

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Envolvido em movimento estudantil en-quanto estudante de jornalismo na Universi-dade Federal Fluminense, Gustavo Gindre, nacriação da Enecos (Executiva dos Estudantesde Comunicação), se colocou o que faria davida. Surgiu então a idéia do Indecs (Institutode Estudos e Projetos em Comunicação eCultura), uma ONG no Rio de Janeiro. Essamesma inquietação de alguns jovens fez sur-gir o Intervozes, com o mesmo perfil do In-decs, mas de abrangência nacional. Gindreparticipa das duas iniciativas e ainda é mem-bro do Comitê Gestor da Internet até o final de2007, quando termina o mandato. Durante aconversa, Ele falou sobre a TV digital, seusimpactos (positivos e negativos) e do direito àcomunicação.

Três grandes impactos da TV Digital – ci-ência e tecnologia, possibilidade de criaçãode novas emissoras e interatividade

A TV digital tem três grandes impactos noBrasil nos próximos anos. Um, que talvez digamenos respeito a nós é na área de ciência etecnologia. A TV digital tem embarcado dentrodela duas tecnologias que são transversais aquase tudo que formos pensar hoje que noscerca: microeletrônica e software. É quaseimpossível você olhar ao seu redor, do sinalde trânsito ao carro popular, da televisão aotelefone celular. Tudo tem software e tem chip.Curioso que o Brasil não produz quase nadade nenhum dos dois, a gente importa a maiorparte. A gente gera emprego qualificado emTóquio, em Berlim, com nosso dinheiro, queacaba não ficando aqui. Então se o Brasil con-seguisse pegar uma carona no desenvolvi-mento da TV digital e desenvolvesse a indús-tria de microeletrônica e de software, teríamosuma chance de impactar o resto da econo-mia. Se você tem empresas produzindo sof-tware no Brasil para a TV digital, essas mes-mas empresas vão poder produzir para a Ae-ronáutica, para o setor petrolífero, automobi-lístico. Infelizmente, o caminho adotado pelogoverno brasileiro foi o de fazer um acordo in-ternacional com o Japão – e o problema não énem com o acordo com o Japão em si, já quenão conseguiríamos desenvolver todas as tec-nologias aqui, mas a forma como esse acor-do foi feito. Você terá pouquíssima tecnologiabrasileira. Até agora, tudo indica que a únicaparte da tecnologia brasileira que vai rodarnessa TV Digital é o middle, que é o principalsoftware que fica na caixinha.

Num primeiro momento não vamos com-prar uma TV digital, mas uma caixinha quevamos acoplar à nossa televisão analógica.Isso porque as TVs digitais vão ser muito ca-ras ainda durante alguns anos. Nessa caixi-nha vai ter um software principal que é o midd-le, que faz a interface entre a parte física dacaixinha e todos os outros softwares que vãoter ali. Agora todo o resto vai ser importado do

Japão, e no acordo não há a previ-

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Gustavo GindreGustavo GindreGustavo GindreGustavo GindreGustavo GindrePor Marianna Araújo e Vitor Monteiro de Castro

são de nenhuma transferência de tecnologia,que é comum nesses acordos internacionais.O ideal seria, ao longo do processo, o Brasildesenvolver os softwares. Esse parece umbonde que nós perdemos na TV digital.

Possibilidade de criação de novas emis-soras

A segunda possibilidade que a TV digitalabre é a possível criação de novas emisso-ras. Uma das formas de melhorar essa ges-tão do espectro era adotar o operador de rede.Vamos supor: a CNT não tem programaçãopara ocupar esse espaço todo. Ela não vaitransmitir em alta definição, por falta de estru-tura, não tem estúdio, não tem ilha de defini-ção. Aí podemos dizer que então ela pode apro-veitar o espaço para fazer cinco canais simul-tâneos com definição standard. Mas como seela não consegue fazer nem um? As TVs nãotêm estrutura, nem pessoal para fazer multiprogramação. Se a própria Globo já disse que

não vai fazer mais de um programa simultâ-neo, que ela vai ocupar a grade com um pro-grama só e é a maior produtora de audiovisu-al do Brasil, ela está dando a dica. A gentecorre o risco de ter uma TV ocupando umapequena parte no espaço dela e o resto nãoser usado para nada. O operador de rede per-mitiria fragmentar isto que sobra para produzirum maior número de programações. Mas issojá não vai acontecer.

Uma outra possibilidade é você utilizar oscanais que sobram. O problema é o seguinte,a gente vai ter um período de transição, cha-mado tecnicamente de simulteste, simultane-amente a mesma emissora vai transmitir emanalógico e digital. Supõe-se aí um períodode 10 anos, para a pessoa poder adquirir seuequipamento. Durante 10 anos a gente vai terum período que as TVs vão ocupar um espaçomaior do que elas ocupam hoje. Suponhamosque a Globo digital fique no canal 34. Então,poderemos assistir Globo digital no 34 e ana-lógico no 4. Então você vai dobrar o número decanais que as emissoras ocupam.

Então vários canais não poderão ser ocu-pados nesse período de transição, porque elesserão usados para evitar transferência analó-gico-analógico e analógico-digital. Daqui a 10anos teremos uma quantidade grande de ca-nais para serem ocupados. Os que as TVsvão devolver, esperando que elas vão devol-ver, claro.

InteratividadeA terceira grande inovação que a TV digital

introduz é interatividade. Esta interatividadepoderá ocorrer de três formas. A mais trivial,que já acontece por exemplo na TV digital, paraquem tem Sky, Net Digital, uma interatividadeque você tem a sensação de que está intera-gindo, mas o conteúdo está todo ali na suacaixinha, é sem canal de retorno.

A outra possibilidade que é mais difícil deacontecer, é a interatividade que não é perma-nente. Significa o seguinte: a TV manda umconteúdo pra mim e eu tenho que retornaresse conteúdo, só que como não há um canalpermanente pra isso, eu tenho que usar ou-tros meios. Por exemplo você manda pela te-levisão e eu respondo por sms, celular, portelefone. Algum meio de retornar. Repara quea televisão permanece no mesmo posto e ocanal de retorno é um outro meio. Em certosentido Big Brother e outros programas já fa-zem isso. Só que não é tão automático, eunão ligo e o cara imediatamente me dá umaresposta. O grande barato que a TV digitalpermite é você ligar sua TV num canal de re-torno, você ligar sua TV em algum serviço ban-da larga, que te permita aí sim ter interaçãoimediata e constante. Na verdade, nesse casonem usamos mais o termo canal de retorno, écanal de interatividade. Porque você tanto podemandar quanto receber. Aí sim a TV começa ase aproximar claramente da internet. Issopode vir a ser uma importante ferramenta parao ensino à distância. Não como é feito hoje,num telecurso do segundo grau, onde vocêtem um conteúdo que vai pra todo mundo damesma forma, você teria um conteúdo seg-mentado. Até no limite, você mudar da Globo ebotar no Youtube, por exemplo. Aí sim tería-mos um ambiente efetivamente interativo.

Não preciso dizer que os radiodifusoresquerem ver o diabo e não querem ver essenegócio, né? No conselho constitutivo da TVDigital quando se falava em TV interativa comcanal de retorno, eles falavam que isso eraficção científica, que nunca vai acontecer. Issoenfraquece o poder deles. Por exemplo, CUT,MST, Cufa, e qualquer outra instituição podecriar uma TV na internet e as pessoas teriamacesso em casa.

Essa é uma possibilidade. No entanto, paraque ela se realize você precisa de um canalde retorno, portanto você precisa de um servi-ço de banda larga acessível a todo cidadãobrasileiro. Aí você pode pensar que isso é im-possível. Afinal, hoje, quanto custa uma ban-da larga? Está fora da realidade do povo bra-sileiro. Isso é possível, casando três coisas eisso é a discussão que está nos bastidores enão aparece. Primeiro você precisa de umaestrutura básica de transmissão de dadosrobusta. Imagina cada usuário brasileiro que-rendo interagir com sua televisão. Aconteceque o governo hoje tem mais de 40 mil Km defibra ótica que percorrem o Brasil, capazes de

A gente geraemprego qualificado

em Tóquio, emBerlim, com nosso

dinheiro

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transmitir alguns Gigabytes por segundo, queestá parado.

Se você considerar que todo mundo pagatodo mês um negócio chamado fundo de uni-versalização dos serviços de telecomunica-ções, nas suas contas de telefone (1% da con-ta de telefone de todo mundo vai pra um fundoque foi criado para universalizar telefone. Sóque isso perdeu o sentido. Hoje, o ideal é queele seja usado para universalizar a banda lar-ga. Esse fundo arrecada por ano, entre 600 e700 milhões de reais. E nunca foi usado. Eletem hoje, ou deveria ter, 6 bilhões de reais.Vamos supor que não há como recuperar odinheiro arrecado, supondo que já foi gastocom outras coisas. Mas, todo ano arrecada600 milhões, é mais dinheiro do que o neces-sário para colocar banda larga na casa de todobrasileiro). Então repara, a gente tem infra-es-trutura, central, tem tecnologia para ligar a casadas pessoas à essa estrutura, e tem dinheiropara fazer isso. O que falta é vontade política.E aí teríamos um processo de inclusão digitalradical e a partir da televisão. Pedindo para aspessoas comprarem apenas uma caixinha.Muito mais barato do que um computador. Sãoessas três coisas que a televisão digital intro-duz de novidade: desenvolvimento científico-tecnológico, a possibilidade de aumentar onúmero de canais e a questão da interativida-de.

O direito à comunicaçãoA idéia do direito à comunicação é a idéia deque existem determinados elementos que nosconstituem como humanos, dos quais se for-mos despossuídos, somos despossuídos denossa própria humanidade. Você privar, porexemplo, um ser humano do direito à habita-ção, por mais precária que ela seja, em partevocê está despossuindo o ser humano daqui-lo que ele tem como constituidor de sua pró-pria humanidade.

Pensando assim, não tem nada, talvez, quenos diferencie mais dos outros animais doque a possibilidade de se comunicar. E foi issoque nos tirou das cavernas, a possibilidadede atuar em conjunto, fazer comunidade, tra-çar ações conjuntas e fazer com que essaação se prolongue no tempo para além danossa própria vida através da transmissão doconhecimento. Isso só acontece através dacomunicação. Se você destituir o ser humanodisso, dessa capacidade de trocar e acumu-lar conhecimento, se você trata o conhecimen-to como mercadoria e você portanto exclui umaparte da população de ter acesso ao conheci-mento, você está excluindo da capacidade deexercer sua própria humanidade. Por isso agente diz que o direito à comunicação é umdireito inalienável. Deve ser um direito coloca-do na categoria dos direitos pétreos. Só quenuma sociedade de massa, de milhões depessoas, esse direito não é só interpessoal.Estamos falando de um mundo que passoupor revoluções tecnológicas profundas. Então,como é que você faz para garantir o direito paraque todo ser humano tenha a possibilidade

de se comunicar com todos seres humanos?Garantindo que ele terá acesso aos meios decomunicação de massa, que hoje são meiosinterativos, digitais e tudo.Mas o acesso aos meios de comunicação demassa continua vedado no sistema america-no. Então você não está exercendo seu direitohumano na potência com que pode ser exerci-do. O direito humano à comunicação tambémse diferencia do direito à informação, porqueinformação é o direito de ser informado, umdireito passivo, de receber conteúdo. O direitoà comunicação é um processo dialógico, detroca, um processo interativo que é um pro-cesso pedagógico por excelência. Então eudiria que o direito à informação é um dos ele-mentos que constituem o direito à comunica-

ção. Mas o direito à comunicação é mais am-plo e compreende no seu interior a informa-ção.

Importância da comunicaçãoPor um lado, pela luta do direito humano àcomunicação, está claro que ela só vai ter al-guma chance de avançar se deixar de ser umaluta exclusivamente de quem faz comunica-ção. É a mesma coisa que se pensar a educa-ção, a saúde. A sociedade brasileira tem claroque a luta por uma saúde melhor não é umaluta de médico, mas uma luta do conjunto dasociedade. Para a comunicação isso aindanão existe. Enquanto não formos capazes deconstruir isso, nossa pauta não avança, por-que ela não ganha o apoio dos grandes movi-mentos sociais.Por outro lado está claro que você não vai con-seguir avançar na agenda da saúde, da edu-cação, da reforma agrária, a questão da segu-rança, se você não for capaz de fazer essedebate publicamente. E hoje o debate públicoé interditado. Você pega pro exemplo a agen-da dos grandes veículos de comunicação, vocêvai ver que só fala um lado. Têm setores quesão absolutamente excluídos. A economia tal-vez seja o mais evidente disso. Você pega osdiversos jornais e parece que é o mesmo caraque fala em todos.Enquanto você não conseguir ter outra visãode mundo que consiga ser confrontada, ir parao debate, a gente não avança com nenhumagrande pauta nacional. E os movimentos so-ciais não têm isso muito claro. No fundo elesainda estão brigando para aparecer na Globo.O grande momento de um movimento no Bra-sil hoje é conseguir uma pauta no Jornal Naci-onal, e não tem muito claro que deveriam es-tar lutando por uma outra comunicação.

Quem pauta quem? A mídia pauta a socieda-de, ou a sociedade pauta a mídia?Com certeza a mídia tem um papel enorme nadefinição de uma agenda social, isso não dápara negar. Ela traça o enfoque com que de-terminados assuntos vão ser abordados nocotidiano. Na questão da violência isso é cla-ro. Lembro de um estudo que analisava o pri-meiro governo Brizola e o governo MoreiraFranco, e mostrava que os índices de violên-cia eram mais ou menos os mesmos, masque a percepção das pessoas era muito mai-or no governo Brizola. Isso porque a Globo deuum destaque muito maior à violência no go-verno Brizola do que dava no governo MoreiraFranco, porque como a Globo era oposiçãoao governo Brizola e ela tinha ajudado a ele-ger o Moreira Franco, ela começou a tingirmenos as cores da violência. A violência conti-nuava a mesma, mas a percepção das pes-soas era diferente. Uma coisa é estar todosos dias nos jornais “morreu não sei quem,morreu outro”. Outra coisa é isso ir parar nofundo da página, a percepção não é a mes-ma.Mas faço duas ponderações em relação aisso. Primeiro que esse poder não é absoluto.Se fosse estávamos roubados. Sempre há acapacidade de mediar com isso, baseado emoutros fluxos que esse cidadão recebe.Família, educação, a inserção dele em outrosvínculos sociais, se ele tem militância política,se ele pertence a algum grupo socialespecífico. Assim ele desenvolve “anticorpos”a esse discurso da mídia, que pode ser maiorou menor dependendo do assunto, davinculação social e inclusive em algunsmomentos isso escapa ao controle da mídia.Ficou evidente, por exemplo, que a Globo, seela não massacrou o Lula, ela claramente fezcampanha contra ele nas últimas eleições. Eo Lula ganhou. Acho que a própria sociedadecomeça a olhar para a mídia de uma formadiferente. A televisão já começa, para umacamada da população, de deixar de ser a únicafonte de informação, a internet já cumpre umpapel, mesmo quem não tem computador vaiem Lan House.Uma outra ponderação que eu faço é que amídia tem dois poderes. Um é o de influenciaro debate. E outro que talvez seja até maisimportante e que em grande medida énegligenciado. É menos dizer o que aspessoas vão dizer sobre determinado assunto,e mais influenciar que assuntos serãodiscutidos. Por exemplo, se a Globo faz umamatéria sobre violência, mesmo que ela pautemassacrando, de que devemos ter reaçõesdo tipo prender o cara com 10 anos de idadeou a pena de morte, no dia seguinte, nobotequim, na fila do banco, nem todo mundovai estar concordando com a Globo. Mas comcerteza esse assunto será discutido na fila dobanco. Ou seja, a Globo conseguiu pautar odebate.

Se você trata o conhecimento comomercadoria, você exclui uma parte dapopulação de ter acesso ao conhecimento

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Sem o debate, agente não avança

com nenhumagrande pauta

nacional

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Filme

Disco

Livro

Notas

Paradise Now - Diretor Hany Abu-AssadParadise Now - Diretor Hany Abu-AssadParadise Now - Diretor Hany Abu-AssadParadise Now - Diretor Hany Abu-AssadParadise Now - Diretor Hany Abu-AssadO filme retrata a amizade de dois jovens, Said (Nashef) e Khaled (Suliman), que são selecionados por um grupo palestino para

realizarem um ataque suicida na capital israelense. O filme fala sobre as motivações dos homens-bomba, mas não tomapartido entre os caminhos de luta a seguir. Um filme surpreendente.

Homens e Caranguejos � Josué de CastroHomens e Caranguejos � Josué de CastroHomens e Caranguejos � Josué de CastroHomens e Caranguejos � Josué de CastroHomens e Caranguejos � Josué de CastroJosué de Castro narra a história - com traços autobiográficos - de um menino pobre que começa a descobrir o mundo

e logo se depara com a miséria do mangue. O livro mostra a realidade de uma comunidade imprensada entre a estruturaagrária feudal e estrutura capitalista � um cenário que até hoje persiste no Nordeste brasileiro. Único romance desterenomado cientista polític

Classe Média � YClasse Média � YClasse Média � YClasse Média � YClasse Média � You Tou Tou Tou Tou TubeubeubeubeubeA música de Max Gonzaga faz uma crítica mordaz e bem humorada à classe média, essa camada da sociedade brasileira que trabalha para

atender as necessidades do consumo capitalista, não �tá nem aí� para o que se passa nas favelas, mas repudia a pobreza que vê pelo vidro docarro e vive repetindo o discurso dos editores do Jornal Nacional e da Veja como se estivesse muito bem informada.

Esquina Carioca � Uma noite com a raiz do sambaEsquina Carioca � Uma noite com a raiz do sambaEsquina Carioca � Uma noite com a raiz do sambaEsquina Carioca � Uma noite com a raiz do sambaEsquina Carioca � Uma noite com a raiz do sambaCD ao vivo gravado durante show no Tom Brasil em 1999. Reúne a nata do samba como João

Nogueira, Dona Ivone Lara, Beth Carvalho, Walter Afaiate, Moacyr Luz e Luiz Carlos da Vila.

VQ famosoVQ famosoVQ famosoVQ famosoVQ famosoUm texto de nossa publicação deu caras

no Rio de Janeiro. Foi utilizado numa provade filosofia, para alunos do primeiro ano doensino médio do Colégio Pedro II, na unida-

de Humaitá. O texto, retirado da edição nú-mero 22, teve autoria de Bebeto e tratava da

questão do aquecimento global.

T r a b a l h oT r a b a l h oT r a b a l h oT r a b a l h oT r a b a l h oA Agência Estadual de Trabalho e Renda

está disponibilizando as vagas de carpintei-ro de fôrma, chefe de Departamento de Pes-

soal, costureira, torneiro mecânico, profes-sor de inglês e espanhol, vendedor, crediaris-ta, estoquista, fiscal de loja, mecânico de au-

tomóvel, cabeleireiro, motorista carreteiro,manicure, retificador de cilindro, serralhei-

ro, vendedor logista, representante comer-

Vídeo

cial autônomo, empregada doméstica e con-sultor de evento.�

Os interessados deverão cadastrar-segratuitamente no local, que fica na Rua NiloPeçanha, nº 971, Centro, e funciona de segun-

da à sexta-feira, das 08:30h às 16:30h. Para ocadastro, é necessário apresentar carteira

de trabalho, CPF, título de eleitor e cartão dePIS/PASEP.

Fã Clube RDBFã Clube RDBFã Clube RDBFã Clube RDBFã Clube RDBPara quem curte RDB em Valença, uma

boa notícia: nossa cidade é sede matriz do fãclube Eternamente RDB (que tem filiais emPorto Alegre-RS, Sorocaba-SP e Goiânia-GO.

�Nossos Fã-Clubes não possuem luxo, mastentamos com humildade expandir nosso

objetivo em comum: Amar Eternamente

RBD!!!�, afirmam as presidentes do fã clubeem Valença, Nathália, Anna e Renata. Elas

ainda complementam que o Fã Clube �temcompetência, responsabilidade e dedicaçãopara representar o nome do Grupo RBD�, e

que não o fundaram �para brincar, maspara demonstrarmos nosso amor e dedica-

ção aos nossos ídolos�.Para entrar em contato com o Fã Clube:

Rua: Antônio Augusto de Siqueira, n.º 352,São Jose das Palmeiras - CEP: 27.600 � 000 -

Valença � RJ. E-mail: [email protected] - MSN:

fceternamenterbd@ hotmail.comPresidentes: Nathália Vieira Campos ->

(nathynvc@yahoo. com.br), Anna Beatriz

Guimarães -> ([email protected]), Renata Gonçalves -

(renatinha_K3@ hotmail.com)

Ano III, nº 25, Valença, agosto a outubro de 2007