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Iñaki Gil de San Vicente Pág. 18 Pág. 43 Pág. 45 Pág. 12 Pág. 4 Este é o contexto em que a mi- litáncia de NÓS-Unidade Popular aceitou o repto de iniciar umha nova etapa à qual damos início com a necessária convocatória de umha manifestaçom independen- tista para o Dia da Pátria deste ano. Viva a Unidade Popular!

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X Aniversário

Dia da Galiza Combatente

Contra a constituiçom

espanhola

Galiza pola Independência

Greve Geral

Eleiçons Municipais

2001-2011Dez anos de luita

Telmo VarelaSecretário-Comarcal

da CUT de Vigo, atualmente

preso na Lama

Bildu na voragem capitalista

Iñaki Gil de San Vicente

editorialNeste ano, a nossa organizaçom cumpre umha década de existên-cia e de luita. Desde que em junho de 2001 a nossa Assembleia Na-cional Constituinte, último passo do Processo Espiral, deu forma a NÓS-Unidade Popular, o povo trabalhador galego tem encetado múltiplas luitas nas quais a esquer-da independentista e socialista ga-lega estivo presente. Nas greves gerais e no movimento obreiro, nas mobilizaçons em defesa da lín-gua, em defesa do território e do meio, no movimento feminista, na recuperaçom da memória históri-ca, argiculando candidaturas mu-nicipais de esquerda soberanista e anticapitalista... as e os militantes da Unidade Popular levamos dez anos mantendo em pé a bandeira da Galiza rebelde.

Porque, como lembrava o nosso porta-voz nacional, Alberte Moço, no ato político-romaria popular de 5 de junho em que celebramos estes dez primeiros anos de andai-na, se algo merece ser celebrado é o trabalho e a vontade demons-trados durante este tempo polas companheiras e companheiros que militam e militárom na Uni-dade Popular, e que nos permi-tírom chegar até aqui apesar das dificuldades e da repressom que acompanham todo movimento revolucionário.

Chegamos a este ponto num contexto social e político marca-do pola dura crise que o sistema capitalista está a viver e que os governos espanhol e autonómico, em maos de PSOE e PP respetiva-mente e às ordens da burguesia, estám a fazer pagar à classe tra-balhadora, às mulheres, à juventu-de e à naçom galega, um contexto que exige às organizaçons revo-lucionárias estarmos à altura das circunstáncias.

O descontentamento social tivo ainda umha resposta popular mui limitada, concretizada nas greves gerais do 29-S e do 27-J ou expre-ssada de maneira contraditória e desfocada polo movimento d@s indignad@s. A esquerda revolucio-nária galega ainda nom conseguiu ganhar confiança e apoios maciços das classe populares, de oferecer umha alternativa aos becos sem saída que oferece o reformismo.

Além do mais, o regime, que sabe que este descontentamento so-cial é o meio em que melhor se movem as organizaçons e movi-mentos que, como NÓS-Unida-de Popular, ponhem em questom o sistema capitalista e as insti-tuiçons impostas ao povo galego na Transiçom, está a endurecer a repressom com operaçons e castigos exemplarizantes contra os luitadores e as luitadoras mais entregad@s. O encarceramento dos obreiros e sindicalistas Miguel Nicolás e Telmo Varela pretende criminalizar a luita obreira con-seqüente e impedir o crescimento da consciência de classe e nacio-nal. Cumpre ter presente isto e denunciar e combater a repres-som espanhola.

Este é o contexto em que a mi-litáncia de NÓS-Unidade Popular aceitou o repto de iniciar umha nova etapa à qual damos início com a necessária convocatória de umha manifestaçom independen-tista para o Dia da Pátria deste ano.

Com efeito, este 25 de Julho deco-rrerám na capital da nossa Naçom três manifestaçons, expressom de três visons diferentes da realida-de galega atual. A do reformismo regionalista do BNG, auto-recon-hecido dique de contençom do mal-estar popular e, por tanto, cúmplice do sistema criminoso que padecemos; a do soberanismo de prática conciliadora com o Blo-que; e a do MLNG revolucionário, a manifestaçom independentista, socialista e feminista que convoca NÓS-Unidade Popular.

Superados polo tempo e as cir-cunstáncias os debates sobre re-formas estatutárias e os projetos de mínimos que nom questionam abertamente o sistema capitalista, é a nossa responsabilidade sermos capazes de dar à raiva popular umha saída política revolucioná-ria. Temos mais experiência que há dez anos e temos, sobretodo, a mesma vontade de luitar sem des-canso até atingirmos umha Pátria plenamente emancipada. Viva a Unidade Popular!

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X Aniversário

Cumprimos a primeira década de vida, desde a Assembleia Nacional Consti-tuinte decorrida na capital da Galiza em Junho de 2001.O Cámpus Sul compostelano acolheu 5 de junho a jornada lúdica e formati-va com que comemoramos os nossos primeiros 10 anos de vida como pro-jeto poltíco. Para isso, contamos com um programa apertado que se desen-volveu ao longo de toda a jornada, a partir do meio-dia. Antes, o trabalho militante encarregou-se de montar a infra-estrutura necessária para a reali-zaçom desta festa de confraternizaçom independentista, socialista e feminista.Antes do jantar coletivo, um grupo de companheiros e companheiras ameni-zou a conversa com música tradicional galega. Gaitas e percussom do País pu-gérom a trilha sonora ao encontro da militáncia velha e da nova. Também de simpatizantes que quigérom acompan-har-nos neste dia especial dentro de umha trajetória de luita que, com toda a legitimidade, nos permite deter-nos um instante para lembrarmos coletiva-mente a nossa história como corrente política original e específica no espaço soberanista e de esquerda galego.Com um dia ensolarado e sem exces-sivo calor, após o jantar, a pausa foi acompanhada pola música de inter-vençom de José Constenla, que trouxo música de Suso Vaamonde, de Fujam os Ventos e Zeca Afonso. Ao longo da tarde, realizárom-se campeonatos de

bilharda e de jogos populares (corda, corridas de sacos...), enquanto Servan-do Barreiro amenizava com música e jogos o grupo de crianças num espaço reservado para elas.

Num outro espaço, as palestras e de-bates sucedêrom-se também duran-te a tarde. Xurxo Martínez Crespo apresentou a obra do comandante Soutomaior ‘24 homens e mais nada’, da Abrente Editora; o historiador Dio-nísio Pereira expujo o sentido e os conteúdos da sua investigaçom sobre o mundo do trabalho no mar da Galiza durante o franquismo, ‘Luita de classes e repessom franquista no mar (1864-1939)’. Carlos Solla e José Manuel Bar-bosa protagonizárom umha ‘Crónica da desfeita do património cultural’, tanto material como imaterial. Mais tarde, o historiador Bernardo Máiz, o sindicalista da CIG Óscar Peres Vidal e a militante de BRIGA Luzia Leirós debatêrom sobre os mecanismos de resistência e luita do povo trabalha-dor galego, com perspetivas histórica, operária e juvenil, respetivamente.O momento central da jornada co-rrespondeu ao ato político decorrido no cenário principal da romaria con-duzido por Xavier Moreda quem deu a conhecer as razons desta iniciativa e a validez do projeto da Unidade Popular, lembrando a Miguel Nicolás e Telmo Varela, atualmente presos na Lama e Villabona.

Um grupo de militantes e ex-militan-tes apresentárom breves testemunhos sobre a militáncia particular de cada qual ao longo da última década, incluí-dos companheiros e companheiras de recente incorporaçom à luita organi-zada em NÓS-UP. Fôrom lembrados as já falecidas Helena Talho, Ramom Muntxaraz e José Manuel Sanmartim Bouça “Martinho”.

A seguir, o nosso porta-voz Nacional, Alberte Moço, dirigiu, em nome da Di-reçom Nacional, um discurso às pes-soas congregadas, fazendo um breve repasso a esta década de trabalho mi-litante, lembrando as companheiras e companheiros que tanto tenhem dado para a continuidade e avanço do pro-jeto e anunciando as linhas mestras da atuaçom política nos próximos meses.A partir de sucessivas assembleias co-marcais e nacionais e de discussons amplas da militáncia, Alberte Moço confirmou a validade da orientaçom anunciada no passado outono e que prevê, neste verao, avançar um passo mais na recuperaçom da iniciativa polí-tica de NÓS-UP e dos seus contornos políticos próprios, no quadro de um contexto de crise generalizada do ca-pitalismo e de imprescindível ativaçom de estratégias de luita ampla e firme nos objetivos. Explicitando a disponibilidade da nossa organizaçom para a coincidência nas luitas concretas com outras corren-

tes políticas mais ou menos próximas em parte dos objetivos políticos que perseguimos, Alberte Moço afirmou a iniciativa própria prevista para este Dia da Pátria em Compostela: umha manifestaçom independentista, anti-capitalista e feminista, convocada por NÓS-Unidade Popular.

Depois do discurso do companheiro Alberte Moço, aplaudido pola militán-cia e simpatizantes presentes, entre o som dos foguetes, Xavier Moreda deu a conhecer as adesons e saudaçons internacionalistas chegadas de Ara-gom (Puyalón de Cuchas), Argentina (Coletivo Amauta), Castela (Izquierda Castellana), Equador (MPD), Euskal Herria (Esquerda abertzale), Madrid (Iniciativa Comunista), Países Catalans (Endavant (OSAN) e MDT), Portugal (Política Operária), República Domini-cana (Movimento Camañista), além do Movimento Continental Bolivariano. Depois de agraceder a assistência e desejar longa vida e sucessos políticos à Unidade Popular, a festa continuou. Um concerto com Ixion e Kave GZ, junto ao Rapu, prolongou-se até a meia-noite, concluindo umha jornada satisfatoriamente avaliada pola nossa organizaçom como parte do calendá-rio político anual e do trabalho pola construçom de umha sólida corrente revolucionária e independentista na Galiza do século XXI.

Militantes e simpatizantes

da esquerda independentista

celebramos 10 anos de

NÓS-Unidade Popular

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Companheiras, companheiros, boa tarde,Antes de começar a minha interven-çom quero transmitir-vos em nome da Direcçom Nacional da Unidade Popular o nosso mais sincero agra-decimento por nos acompanhardes na comemoraçom deste décimo aniversário do nascimento da nossa organizaçom. Quando as mulheres e homens que fazemos parte da dire-çom política pensamos na organiza-çom deste ato, tínhamos claro que se algo é digno de homenagem na nossa intensa experiência militante dos últimos dez anos, se algo merece ser exaltado e celebrado é a abnega-çom, o duro trabalho, a constáncia e a vontade inquebrantável da mili-táncia revolucionária que levantastes este projeto e que hoje continuades a mantê-lo mais vivo do que nunca. Isto e a confiança, o carinho e o apoio de todas as amigas e amigos da Uni-dade Popular que, de umha ou outra forma, decidistes achegar-vos a este movimento, apesar dos inumeráveis obstáculos e seguides dando o que está na vossa mao para contribuir na construçom da ferramenta política de massas da esquerda independentista. Passados dez anos desde a nossa constituiçom, achamos que é o mo-mento de fazermos balanço, de sub-metermos a crítica o percurso que nos trouxo aqui e tomarmos decisons a respeito do nosso futuro. Esta tarefa deve começar por compre-endermos colectivamente o significa-do da Unidade Popular, o significado histórico deste projecto. Um projeto

que é fruto dumhas condiçons muito determinadas. Em concreto, de umha conjuntura a nível nacional marcada pola agudizaçom das contradiçons entre o regionalismo e umha esquer-da independentista imersa ainda na endémica fragmentaçom que nunca deixou de padecer. Fôrom estes os catalisadores para a apariçom dumha força subjetiva que cada vez em maior grau pressionava na direçom da uni-dade orgánica das diversas correntes. O nascimento de AGIR, a consituiçom das APCs e finalmente o Processo Es-piral fôrom conseqüência direta des-ta vontade que emergiu do seio do Movimento de Libertaçom Nacional Galego e que cristalizou, em Junho de 2001, na constituiçom da nossa Uni-dade Popular.Neste preámbulo do que hoje somos, aprendemos já umha liçom muito importante, umha liçom ante todo dialéctica: que a agudizaçom das con-tradiçons pode ter umha força esma-gadora capaz de criar unidades a cada lado da trincheira, mas que nem por isso vamos ficar à margem das nossas próprias contradiçons internas. Na-quele momento aprendemos isto após a impossibilidade de incorporar a to-talidade da esquerda independentista a um processo que parecia ineludível, mas com o passar dos anos tivemos muitas outras ocasions para compro-var a validez desta aprendizagem.Assim botou a andar a Unidade Popu-lar, com todos os olhos acima dela e todo por fazer. Fôrom anos de intensa acumulaçom de experiência nos quais sentamos as bases da nossa interven-çom política presente.

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Intervençom de Alberte Moço no X aniversário da Unidade PopularOferecemos a transcriçom do discurso de Alberte Moço, porta-voz nacional de NÓS-Unidade Popular durante o ato político do X aniversário.

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Foi o momento de enfrentarmo-nos a grandes mobilizaçons de massas nas sucessivas Greves Gerais, contra o as conseqüências do desastre do Pres-tige, na defesa do ensino público, ou contra a guerra imperialista. Tivemos que aprender a fazer trabalho político com os pés na terra, no ámbito mu-nicipal, no associativismo cultural, nos mais diversos movimentos populares e nos centros sociais, superando o consignismo estratégico em que nos criáramos e também tivemos que enfrentar as primeiras experiências eleitorais. Fôrom anos, em definitivo, de construirmos umha organizaçom capaz de pôr em movimento as hete-rogéneas forças com que contávamos e nessa tarefa recolhemos sucessos e fracassos a partes iguais, que ainda hoje estudamos como única forma de superarmos os erros do passado. Te-nhem sido anos, muito especialmente, de desatar a batalha ideológica interna imprescindível para transformar umha soma de correntes e individualidades num autêntico movimento socio-po-lítico coeso e firme. Este elemento, omnipresente durante os nossos pri-meiros anos de vida, foi quiçá o que determinou o nosso devir posterior. Gradualmente, e graças ao incansável

trabalho de muitas das companheiras e companheiros que hoje nos acom-panham, as posiçons socialistas e fe-ministas de clara orientaçom revolu-cionária alcançárom e consolidárom umha evidente hegemonia no nosso seio. Parte da Unidade Popular daque-la altura, situada em coordenadas dis-

tintas, foi incapaz de assumir a derrota e preferiu, antes de continuar a enfra-quecer-se, abandonar o projecto. Falamos do ano 2005, quando o aban-dono da organizaçom por parte dum número significativo de companheiras e companheiros nos deixou, da noite para a manhá, diante dumha realidade nova: por um lado, o objetivo inicial da Unidade Popular de reagrupar a toda a esquerda independentista, penden-te ainda desde os obstáculos do nosso nascimento, arredou-se ainda mais. Mas, por outro lado, sem termos tal intençom, posteriormente consegui-mos o que levávamos anos procu-rando: umha organizaçom realmente coesa, um corpo militante unido, dis-posto a trabalhar ombro com ombro

e a seguir aperfeiçoando as nossas ferramentas organizativas, agora sim, com um claro programa independen-tista, socialista e feminista.E foi possível na adversa conjuntura política daquele momento, carateri-zada pola agudizaçom da ofensiva fas-cista que criminalizou as organizaçons

revolucionárias e as luitas nacionais, com a implementaçom de políticas in-volucionistas como a Lei de Partidos. Fôrom anos duros, umha etapa difí-cil. Fomos submetidos ao apartheid político pola nossa coerência tática e estratégica, fomos condenados ao os-tracismo por exercermos a solidarie-dade internacionalista. Foi umha das nossas travessias polo deserto que conseguimos superar. O Estado aplicou o primeiro gran-de ataque repressivo contra o nos-so jovem movimento. É bem sabido que a repressom é umha inseparável companheira de viagem para todos os movimentos revolucionários que realmente som tal cousa e nós nom fomos umha exceçom, mas a chegada

das operaçons Cacharrom e Casti-nheira demonstrárom, por se alguém albergou dúvidas, que entre os planos de contingência do inimigo também se acha a repressom maciça e indiscri-minada contra nós. O facto é que soubemos sobrepor-

nos a este lapso crítico e pouco de-pois destes acontecimentos NÓS-UP já tinha um plano de intervençom de longo alcance adequado à nova rea-lidade interna e externa. Avaliamos naquela altura que o nosso sucesso passava por multiplicar a nossa capa-cidade de influência social e que para isso era imprescindível atingir um novo sujeito político mais amplo inci-dindo nas partes mais assumíveis so-cialmente do nosso programa. Umha parte significativa dos nossos esforços foi destinada a limpar o nosso país de simbologia fascista numha campanha de longo percurso e enorme alcance geográfico que será difícil apagar da memória do nosso povo. Em simul-táneo, decidimos reforçar iniciativas impulsionadas previamente por nós

como as Bases Democráticas Galegas e posteriormente Causa Galiza, que contavam com a virtude de gerar sim-patias em setores importantes do so-beranismo, ao tempo que se moviam num discurso facilmente digerível po-las massas, apesar de nom concorda-rem exatamente com o nosso progra-

Concha Roussia Afonso Pindoulo Kiko Neves Xurxo Martinez CrespoLuz Fandinho

José Dias Cadaveira, Iago Moreno, Anjo Torres Cortiço, Gema Branco, Lara Soto, Maurício Castro, Paulo Parga, Xavier Moreda, Alberte Moço, Ilduara Medranho, Sheila Fernandes e Bruno Lopes Teixeiro.

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ma estratégico. Nom descuidamos tampouco a nossa intervençom em multidom de mo-vimentos sociais e o reforçamento do nosso modelo de movimento em rede, participando no sindicalismo de classe, nos centros sociais, no feminis-mo organizado, no movimento nor-malizador, no ecologismo e, em geral, em todos os espaços onde houvesse vontade de questionar o sistema. Embora nom tenhamos atingido boa parte dos horizontes que procuráva-mos, embora nom tenhamos conse-guido avançar à velocidade desejada, embora ainda sejamos um movimento modesto e com enormes fragilidades, sim podemos dizer que acertamos em muitas cousas. Ninguém pode negar

que nos últimos anos fôrom operadas mudanças políticas na Galiza, nas quais a nossa marca é inegável. Hoje é assu-mido por qualquer galega ou galego com a mínima visom que existe neste país um movimento amplo e diverso situado à esquerda do regionalismo e que questiona a dependência na-

cional, o patriarcado e a escravatura assalariada. Hoje, ante qualquer con-flito social de certo calado podemos ter a certeza de que a esquerda inde-pendentista vai levar o seu discurso revolucionário às ruas sem medo ao enfrentamento.Acertamos em muitas cousas. Nom todas, porque apesar das liçons do passado, fomos incapazes de medir o peso das contradiçons internas que convulsionárom desde sempre o nos-so movimento, entendido em sentido amplo. Confiamos, companheiras e companheiros, em unidades aparentes atrás das quais as facas continuavam a ser afiadas. Desouvimos as liçons dos primeiros anos e tomamos por um simples obstácullo secundário o clima subjetivo de desconfiança e beligerán-

cia entre correntes. Esquecemos que os discursos de mínimos nom som ne-cessariamente a base sobre a qual as-sentar os programas revolucionários, que podem ser a antessala da degra-daçom política e ideológica.Por fortuna, a irrupçom da crise finan-ceira que em sinérgia com outras cri-

ses pré-existentes acelerou a crise sis-témica do Capitalismo, golpeou-nos com suficiente força para nos fazer ver as inegáveis limitaçons estratégi-cas do caminho que tomáramos, o es-gotamento palpável de determinadas iniciativas desenhadas para tempos de paz burguesa, mas inservíveis ante a expansom e radicalizaçom das luitas operárias.É por isto que, numha nova mostra de audácia coletiva, e com o garante da mais absoluta unanimidade, a esquer-da independentista representada pola Unidade Popular decidiu dar um novo golpe de leme e recuperar a direçom certa à independência, ao socialismo e à aboliçom do Patriarcado. Hoje nom fai nengum sentido ocultar o nosso programa revolucionário detrás de

reivindicaçons democraticistas porque o povo do qual fazemos parte está a deixar de acreditar na própria demo-cracia burguesa e começa a compre-ender que o Estado nom é mais que o braço político da classe dominante. Hoje nom nos leva a nengum lado dis-simular a nossa vontade de destruir o

Capitalismo porque nos centros de trabalho cada vez é mais clara a no-çom de que o trabalho assalariado nom tem umha versom aceitável, de que é sempre gerador de miséria, de incerteza e de submetimento. Nom é momento de se mostrar tolerante ante o esquecimento da luita das mu-lheres pola sua emancipaçom porque a reaçom machista se acha em plena ofensiva e porque a sobre-explora-çom feminina está a consolidar-se como a última saída para as necessi-dades expansivas do Capital. Hoje, companheiras e companheiros, nom há justificaçom para esconder a nos-sa aposta na independência nacional, porque está em jogo a nossa sobre-vivência como povo e porque os eu-femismos só nos achegam a quem é incapaz de assumir a necessidade de dotar a Galiza dum Estado obreiro.É desta perspetiva que assumimos a passagem a umha nova etapa, na qual por outro lado já estamos metidas até o pescoço, e é a partir desta perspe-tiva que devemos identificar as nossas tarefas. Algumhas delas som para nós como olhar e respirar, levamos cum-prindo-as desde que existimos. Falo de estarmos presentes em cada ex-pressom de rebeldia do nosso povo,

em cada mobilizaçom, em cada con-flito, em cada movimento nascido da negativa a baixar a cabeça ante o po-der, venha de onde vinher. Falo tam-bém de alimentar e enriquecer um movimento amplo com expressons setoriais múltiplas e diversas, mas com um mesmo horizonte estratégico, falo

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Xurxo Martinez Crespo Dionísio Pereira Calros Solla e Jose Manuel Barbosa Bernardo Máiz, Óscar Peres Vidal e Luzia Leirós

José Dias Cadaveira, Iago Moreno, Anjo Torres Cortiço, Gema Branco, Lara Soto, Maurício Castro, Paulo Parga, Xavier Moreda, Alberte Moço, Ilduara Medranho, Sheila Fernandes e Bruno Lopes Teixeiro.

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de continuarmos a desenvolver-nos do ponto de vista organizativo e con-vertermos as nossas organizaçons em ferramentas úteis e eficazes ao servi-ço da militáncia revolucionária, nunca ao contrário. Falo, em definitivo, de aproveitarmos o máximo da nossa experiência militante individual e co-letiva passada para afrontar os reptos futuros.Porém, entre as nossas tarefas tam-bém se encontram outras que som novas para nós e que vam requerer que desenferrugemos à nossa capa-cidade de aprendizagem como fige-mos desde Junho de 2001 em diante. Temos a obrigaçom de converter a Unidade Popular na organizaçom de referência para o Movimento de Li-bertaçom Nacional Galego e para o Movimento Obreiro, temos a obriga-çom de livrar mais umha vez a batalha política e ideológica contra o regiona-lismo e contra o reformismo, temos a obrigaçom, companheiras e com-panheiros, de colocar em cada punho que se alce no nosso país a bandeira da revoluçom. Para cumprirmos esta tarefa nom va-lem já certos esquemas aplicados nos últimos cinco anos, hoje NÓS-Unida-de Popular deve manter a iniciativa constante sem esperar por ninguém. É por isso que temos assumido com renovada vontade o papel de organi-zaçom dirigente em diversos ámbitos, é por isso, companheiras e compa-nheiros, que NÓS-Unidade Popular vai convocar no próximo 25 de Julho um Dia da Pátria independentista, so-cialista e feminista. Sim, companheiras e companheiros, no Dia da Pátria vamos percorrer as ruas de Compostela e ninguém vai protestar porque levedes bandeiras vermelhas. Dentro de mês e meio te-mos na Alameda umha cita ineludível que requer desde já de todo o nosso esforço implicaçom, tadas e todos nós sabemos que nom vamos falhar.E isto é só o começo, tal e como te-mos decidido coletivamente, debati-do até a saciedade e referendado em infinidade de assembleias, a Unidade Popular e o conjunto do nosso movi-mento temos a firme vontade de re-cuperar o papel mobilizador ao qual em determinado momento renun-ciamos. Vamos consegui-lo fazendo

como sempre figemos. A partir das localidades, dos bairros e dos centros de trabalho, mas com clara perspetiva nacional e de classe. Complicam-se as cousas a Espanha e aos patrons por-que vamos a sério.Vamo-lo fazer porque temos um pro-grama e uns objetivos estratégicos definidos. Nom porque pretendamos ir contra o resto de forças e correntes da esquerda soberanista e indepen-dentista que tenhem outra visom e interpretaçom da realidade. Legítima, mas nom plenamente coincidente com a nossa. Como sempre defende-mos, seguimos abertos a convergên-cias honestas e respeitosas com a plu-ralidade ideológica. Na rua e nas luitas coincidimos e coincidiremos, mas nom por isso devemos submeter-nos a umhas dialéticas minimalistas que nom colmatam as nossas expetativas nem facilitam o desenvolvimento do genuíno projeto revolucionário socia-lista de libertaçom nacional e social de género que a classe obreira, a juven-tude rebelde, a Pátria e as mulheres necessitam. Companheiras e companheiros, amigas e amigos, nom quero desa-proveitar esta ocasiom para lembrar o Miguel Nicolás e o Telmo Varela, dous presos políticos, dous operários e sindicalistas galegos encarcerados por luitarem polos direitos da classe obreira e da Galiza. Para eles dous, as-sim como para o conjunto dos presos independentistas, reclamamos a ime-diata liberdade.Companheiras e companheiros, ami-gas e amigos vou concluir já mas que-ro compartir convosco umha refle-xom pessoal. Som já dez anos durante os quais padecemos multas malheiras e calabouços; derrotas políticas, trai-çons e enganos; enfrentamos polícias, burocratas sindicais e patrons... e este é o resultado, aqui estamos, aqui se-guimos, a Unidade Popular procuran-do a forma de tingir o país de verme-lho, dispostas a dá-lo todo outra vez porque só temos umha razom para existir: fazer a Revoluçom! Viva Galiza Ceive! Viva Galiza socialista! Viva Galiza feminista! Avante com a Unidade Popular!

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Servando Barreiro

José Constenla

Ixiom

Rapu e KaveGz

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Dez anos depois de instituída como data de referência no calendário das luitas populares galegas, o Dia da Gali-za combatente foi dedicado nesta oca-siom a Lola Castro e José Vilar, militan-tes do EGPGC mortos numha noite de 1990 durante o desenvolvimento de umha série de ataques a interesses do narcotráfico no nosso país.Ligando o exemplo Lola e José com o de tantos e tantas compatriotas que durante o último século dérom a vida pola Galiza, NÓS-UP quijo também vincular aqueles anos de intensos ata-ques ao mundo do trabalho galego por parte do patronato e os governos es-panhóis com a actual crise do sistema capitalista, que abre novas perspetivas para a luita das massas exploradas ga-legas contra Espanha e o capital.O ato político, apresentado pola com-panheira Noa Rios Bergantinhos, co-meçou passadas as 13 horas, numha

ensolarada rua da Terra de Ferrol, no ponto onde cada 12 de Agosto as nossas companheiras e companheiros da Assembleia Comarcal de Trasancos homenageiam outro patriota galego caído na luita: Moncho Reboiras.A música das gaitas fundiu-se com a poesia e os discursos políticos num único anelo: dar novos folgos à mes-ma causa pola qual dérom todo tantos galegos e galegas ao longo da nossa história. O Hino do Antigo Hino da Galiza abriu o acto, enquanto as colo-ridas bandeiras da Pátria, vermelhas e feministas ondeavam empurradas polo vento mareiro ferrolano.Augusto Fontám, Belém Grandal, Ra-miro Vidal, Igor Lugris e Luz Fandinho lêrom poemas escritos para a ocasiom e dedicados à patriota e ao patriota homenageados. A seguir, Carlos Garcia Seoane falou em representaçom da organizaçom

juvenil da esquerda independentista, BRIGA, fazendo um apelo à consciên-cia e aos sentimentos da juventude trabalhadora para a luita radical pola independência nacional e o socialis-mo.A intervençom final correspondeu ao companheiro Alberte Moço, porta-voz Nacional de NÓS-Unidade Popular, que fijo um apelo à reflexom das e dos presentes sobre a importáncia do mo-mento histórico que vivemos, numha crise sistémica de grandes dimensons que abre grandes possibilidades para a proposta revolucionária que a nossa organizaçom representa. Alberte Moço sublinhou que NÓS-UP assumiu a mudança de ciclo no seio do soberanismo galego de esquerda, que obriga a avançar na socializaçom da mensagem central do nosso movi-mento, somando contingentes de tra-balhadores e trabalhadoras ao serviço

da Revoluçom Galega.As palavras do nosso porta-voz Na-cional fôrom interrompidas por aplau-sos das pessoas presentes quando reclamou que a corrente política que representamos dê passos à frente en-quanto tal, numha etapa histórica que vai exigir o melhor de cada um e cada umha de nós.No fim do discurso, as gaitas, os pun-hos e as vozes fundírom-se no canto coletivo do Hino da Internacional e, finalmente, do Hino Nacional da Ga-liza.Posteriormente ao ato político, o Cen-tro Social da Fundaçom Artábria acol-heu um jantar de confraternizaçom de militantes e simpatlizantes da esquerda independentista e das diferentes enti-dades que a integram, num ambiente de grande camaradagem e otimismo nos tempos de luita que aí venhem.

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Vinte anos depois, um ato político

de NÓS-Unidade Popular no centro

de Ferrol lembrou a luita de Lola e José

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NÓS-Unidade Popular manifestou em Vigo o seu rejeitamento à Constituiçom espanhola

Passadas as 13 horas de 4 de dezem-bro de 2010 começou na central praça da Vila, baptizada polo espanholismo como da Constituiçom, o acto na-cional convocado por NÓS-Unidade Popular para manifestar a oposiçom da esquerda independentista à carta magna espanhola e em prol da inde-pendência nacional.Sob ameaça de chuva, Abraám Alonso Pinheiro apresentou o acto lembran-do o exemplo de entrega militante do independentista galego José Manuel Sanmartim Bouça “Martinho”. Abraám Alonso continuou agradecendo a Mini

e Mero a sua assistência e o seu contributo para o acto e para a luita de libertaçom nacional.

O membro da Direcçom Nacional, que definiu a Constituiçom espanhola como “umha das cadeias que cumpre quebrar” deu leitura a umha breve notícia publicada hoje mesmo polo jornal espanhol El Mundo, que fai eco das declaraçons do Tenente-General do exército espanhol Agustín Muñoz-Grandes Galilea na passada terça-feira durante o discurso de entrada na Real Academia de Ciências Morales y Polí-ticas. O militar espanhol e filho dum dos mais destacados generais da “Divi-sión Azul”, afirmava

p u b l i c a m e n -te que “umha das causas da presente crise de consciência nacional é o ego-centrismo autonómico, as tendências separatistas que vem nos exércitos

um muito importante obstáculo para os seus fins independentistas. Frente à unidade de Espanha que se reafirma na Constituiçom de 1978, aparecem os aventureiros do independentismo de al-gumhas comunidades da nossa naçom. O repúdio destes agorerios costuma exprimir-se em muitas conversas pri-vadas. Contodo, o importante é que se afirme num solene acto académico que os exércitos, enquanto garantes da in-tegridade territorial de Espanha

(art.8.1 CE), nunca consentirám semelhante fractura”.

Novamente a música patriótica e combativa Mini e Mero deu passagem à intervençom de Luzia Leirós Come-

sanha em representaçom de BRIGA. Luzia Leiros afirmou na sua alocuçom que a “juventude trabalhadora foi e é gravemente prejudicada pola imposiçom desta constituiçom”. Recordou que hoje na Galiza a juventude trabalha-dora galega sofre na sua pele umhas condiçons materiais de miséria, um índice de desemprego de 34% com a taxa de siniestraliedade mais alta do Estado espanhol,

além de cobrar os salários mais baixos. Em palavras da jovem dirigente, a ju-ventude rebelde e combativa “é cons-ciente da necessidade de esforçar-se, trabalhar e entregar o seu tempo e as suas melhores qualidades para comba-ter todos e cada um dos golpes que o

Capital, Espanha e o Patriarcado lancem contra nós” afirmando que nestes tem-pos de crise e luita a “juventude inde-pendentista aposta numha nova jornada de Greve Geral” tendo que interromper o seu discurso antes os berros de “avan-te já a Greve Geral”. Luzia Leirós finalizou a sua inter-vençom

mostrando a disponibili-dade da juventude revolucionária para luitar até a consecuçom de mha Galiza livre, socialista e feminista. Pola sua parte o porta-voz nacional de NÓS-Unidade Popular manifestou que “dá que pensar que um texto legal necessite ser legitimado dedicando-lhe um dia feriado anual, para além do bom-bardeamento sistemático e implacável

nos meios de comunicaçom a que já es-tamos afeitas”. A seguir, Alberte Moço afirmou que “nom podemos deixar de denunciar o nefasto papel histórico de um regiona-lismo que transitou da negativa a aceitar as imposiçons da Res-

tauraçom bour-bónica para a aceitaçom como inevitável do actual quadro jurídico-político, re-duzindo as aspiraçons emancipadoras do nosso povo a umha burda caricatura”. Alberte foi contundente denunciando o abandono de “um programa trans-formador para abraçar a perversa lógica do “peso em Madrid”, do “Estatuto de Naçom” e da sorridente foto oficial junto a Juan Carlos Primero”.O dirigente de NÓS-UP manifestou

a necessidade de “devolver ao nosso Povo a confiança em que a libertaçom nacional, a aboliçom do Patriarcado e a construçom do Socialismo som hoje tam possíveis como sempre e mais ne-cessá-

rias do que nunca e, sobretodo, que o único caminho para avançarmos nestes objectivos é a luita organizada das trabalhadoras e dos trabalhadores” e para isso é preciso “o compromisso de dotar a Galiza de umha ferramenta de luita eficaz para defender os nossos in-teresses nacionais e de classe”.Alberte Moço finalizou a sua inter-vençom afirmando que “enquanto eles cantam as glórias do seu atrofiado simu-lacro de democracia, nós renovamos a nossa declaraçom de guerra contra a in-

justiça e a opressom que a Constituiçom espanhola institucionaliza”.

O ato-concen-traçom política, silenciada pola tota-lidade dos meios de comunicaçom sistemáticos, finalizou com o canto do Hino Nacional e a queima simbólica de umha montagem em grande tamanho da Constituiçom espanhola.A jornada de reivindicaçom nacional findou com um jantar de confraterni-zaçom no Centro Social Lume!

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rep

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NÓS-Unidade Popular manifestou em Vigo o seu rejeitamento à Constituiçom espanhola

Passadas as 13 horas de 4 de dezem-bro de 2010 começou na central praça da Vila, baptizada polo espanholismo como da Constituiçom, o acto na-cional convocado por NÓS-Unidade Popular para manifestar a oposiçom da esquerda independentista à carta magna espanhola e em prol da inde-pendência nacional.Sob ameaça de chuva, Abraám Alonso Pinheiro apresentou o acto lembran-do o exemplo de entrega militante do independentista galego José Manuel Sanmartim Bouça “Martinho”. Abraám Alonso continuou agradecendo a Mini

e Mero a sua assistência e o seu contributo para o acto e para a luita de libertaçom nacional.

O membro da Direcçom Nacional, que definiu a Constituiçom espanhola como “umha das cadeias que cumpre quebrar” deu leitura a umha breve notícia publicada hoje mesmo polo jornal espanhol El Mundo, que fai eco das declaraçons do Tenente-General do exército espanhol Agustín Muñoz-Grandes Galilea na passada terça-feira durante o discurso de entrada na Real Academia de Ciências Morales y Polí-ticas. O militar espanhol e filho dum dos mais destacados generais da “Divi-sión Azul”, afirmava

p u b l i c a m e n -te que “umha das causas da presente crise de consciência nacional é o ego-centrismo autonómico, as tendências separatistas que vem nos exércitos

um muito importante obstáculo para os seus fins independentistas. Frente à unidade de Espanha que se reafirma na Constituiçom de 1978, aparecem os aventureiros do independentismo de al-gumhas comunidades da nossa naçom. O repúdio destes agorerios costuma exprimir-se em muitas conversas pri-vadas. Contodo, o importante é que se afirme num solene acto académico que os exércitos, enquanto garantes da in-tegridade territorial de Espanha

(art.8.1 CE), nunca consentirám semelhante fractura”.

Novamente a música patriótica e combativa Mini e Mero deu passagem à intervençom de Luzia Leirós Come-

sanha em representaçom de BRIGA. Luzia Leiros afirmou na sua alocuçom que a “juventude trabalhadora foi e é gravemente prejudicada pola imposiçom desta constituiçom”. Recordou que hoje na Galiza a juventude trabalha-dora galega sofre na sua pele umhas condiçons materiais de miséria, um índice de desemprego de 34% com a taxa de siniestraliedade mais alta do Estado espanhol,

além de cobrar os salários mais baixos. Em palavras da jovem dirigente, a ju-ventude rebelde e combativa “é cons-ciente da necessidade de esforçar-se, trabalhar e entregar o seu tempo e as suas melhores qualidades para comba-ter todos e cada um dos golpes que o

Capital, Espanha e o Patriarcado lancem contra nós” afirmando que nestes tem-pos de crise e luita a “juventude inde-pendentista aposta numha nova jornada de Greve Geral” tendo que interromper o seu discurso antes os berros de “avan-te já a Greve Geral”. Luzia Leirós finalizou a sua inter-vençom

mostrando a disponibili-dade da juventude revolucionária para luitar até a consecuçom de mha Galiza livre, socialista e feminista. Pola sua parte o porta-voz nacional de NÓS-Unidade Popular manifestou que “dá que pensar que um texto legal necessite ser legitimado dedicando-lhe um dia feriado anual, para além do bom-bardeamento sistemático e implacável

nos meios de comunicaçom a que já es-tamos afeitas”. A seguir, Alberte Moço afirmou que “nom podemos deixar de denunciar o nefasto papel histórico de um regiona-lismo que transitou da negativa a aceitar as imposiçons da Res-

tauraçom bour-bónica para a aceitaçom como inevitável do actual quadro jurídico-político, re-duzindo as aspiraçons emancipadoras do nosso povo a umha burda caricatura”. Alberte foi contundente denunciando o abandono de “um programa trans-formador para abraçar a perversa lógica do “peso em Madrid”, do “Estatuto de Naçom” e da sorridente foto oficial junto a Juan Carlos Primero”.O dirigente de NÓS-UP manifestou

a necessidade de “devolver ao nosso Povo a confiança em que a libertaçom nacional, a aboliçom do Patriarcado e a construçom do Socialismo som hoje tam possíveis como sempre e mais ne-cessá-

rias do que nunca e, sobretodo, que o único caminho para avançarmos nestes objectivos é a luita organizada das trabalhadoras e dos trabalhadores” e para isso é preciso “o compromisso de dotar a Galiza de umha ferramenta de luita eficaz para defender os nossos in-teresses nacionais e de classe”.Alberte Moço finalizou a sua inter-vençom afirmando que “enquanto eles cantam as glórias do seu atrofiado simu-lacro de democracia, nós renovamos a nossa declaraçom de guerra contra a in-

justiça e a opressom que a Constituiçom espanhola institucionaliza”.

O ato-concen-traçom política, silenciada pola tota-lidade dos meios de comunicaçom sistemáticos, finalizou com o canto do Hino Nacional e a queima simbólica de umha montagem em grande tamanho da Constituiçom espanhola.A jornada de reivindicaçom nacional findou com um jantar de confraterni-zaçom no Centro Social Lume!

análise

análise

13

reportagem

4 Dezembro

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análise

GZ pola Independência

O facto de vivermos no seu interior dificulta-nos vermos na sua autêntica dimensom o caráter ar-bitrário e antidemocrático dos princí-pios e os preceitos que fundamentam a atual Constituiçom monárquica es-panhola, filha de 40 anos de ditadura e da negaçom violenta das naçons presas desse cárcere de povo chama-do Espanha.

Com efeito, é importante destacar-mos o facto incontestável de que a Constituiçom bourbónica actual é só umha concessom feita polos mesmos que protagonizárom umha das mais brutais ditaduras do século XX, res-ponsável pola morte de milhares de pessoas: a ditadura franquista.

A melhor prova do que dizemos é a absoluta impunidade que essa Cons-tituiçom, aprovada meses depois da assinatura dos infames Pactos da Moncloa, outorgou a todos respon-sáveis do bárbaro regime franquista. Uns pactos e umha constituiçom que integrárom boa parte dos dirigentes do que tinha sido exemplar oposiçom antifranquista nos anos anteriores.

O peso da propaganda sistemática provoca que importantes setores do nosso povo considerem normal esse facto, mas basta dar umha vista de ol-hos ao acontecido noutros processos similares para comprovar que nom é assim: No Uruguai ou na Argentina, por exemplo, produzírom-se proces-sos judiciais, nem que fossem parciais, contra integrantes do aparelho de po-der das respetivas ditaduras militares, que em muitos casos os sentenciou com pesadas condenas.

N o caso do Estado espan-hol, nom só nom houvo processos contra os criminais franquistas, como se produziu umha “continuidade natural” nos mesmos cargos políticos, administra-tivos, judiciais, policiais... dos próprios franquistas e dos seus filhos, desde a morte do ditador e até hoje.

Também a aprovaçom da atual Cons-tituiçom espanhola, continuadora da legalidade franquista e negadora da legitimidade republicana de 1936, foi umha prova da farsa em que se fun-dou o atual regime: a imposiçom da economia capitalista de mercado, a unidade sagrada e indivisível do Esta-do e a negaçom dos direitos nacionais de povos como o nosso, todo sob a tutela do exército e da Igreja Cató-lica.

As mais de três décadas que o povo galego tem permanecido, até hoje, sob domínio do regime pós-franquis-ta certificárom as bases capitalistas, corruptas e patriarcais que caracte-rizam a mal chamada “democracia espanhola”, baseada na negaçom antidemocrática do direito do nosso povo à livre determinaçom e à inde-pendência nacional.

Na atualiadde, os três partidos do re-gime atuantes nas instituiçons da au-tonomia galega, PP, PSOE e BNG, pas-sam o tempo a discutir se mantenhem, restringem ou alargam a atual auto-nomia, num debate que nom vai além de umha maior ou menor descentrali-

zaçom ad-min i s t ra t i va . Nom som esses jogos de distraçom os que abrirám um futuro livre ao povo trabalhador galego.

Por isso, e frente ao franquismo e à mascarada que se seguiu e ainda hoje subsiste, os setores que reivindica-mos os direitos nacionais e de classe do nosso povo devemos sair à rua neste dia em que a classe dominan-te espanhola celebra a continuidade dessa farsa que denomina “Estado das Autonomias”. Em tempos de cri-se do sistema a nível mundial, como o que na atualidade atravessamos, é fundamental mantermos em alto o programa pola emancipaçom da Ga-liza, caminho à independência e ao socialismo, numha sociedade de ho-mens e mulheres livres.

É essa necessidade que leva NÓS-Unidade Popular e o conjunto da es-querda independentista galega a re-vindicar, frente a umha constituiçom negadora dos nossos direitos indivi-duais e coletivos, umha verdadeira constituiçom democrática ao serviço da independência galega.

Fora a Constituiçom espanhola!

Viva Galiza ceive, socialista e nom patriarcal!

Por umha Constituiçom galega, democrática e socialista!

Direcçom Nacional de NÓS-UP

Galiza, 6 de dezembro de 2010

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Contra a constituiçom espanhola, Galiza pola independência

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análise

Engano estatutário

A 21 de d e z e m b r o deste ano, cum-pre-se o trigésimo aniversário do referén-dum sobre o Estatuto de au-tonomia atualmente vigente na maior parte da Galiza. Ao abrigo da Consti-tuiçom espanhola aprovada em 1978 e que marcava os estreitos limites que Espanha nos impunha, o nosso povo era chamado a votar um projeto de Estatuto cozinhado polo espanholismo e que contava com o rejeitamento do nacionalismo popular e ruturista da al-tura. O resultado foi umha abstençom de 71,8% da populaçom chamada a

votar mas, apesar da nula legitimi-dade de um plebiscito em que só

participou 28,2% das galegas e gale-gos (e no qual votou afirmativamente ainda menos) o novo Estatuto foi con-siderado legítimo polo regime e abriu as portas ao sistema autonómico e às

suas instituiçons.

O resultado da aplicaçom do quadro constitucio-

nal e estatutário para o nosso

país só p o d e

ser qualificado de desastroso. Nestas três décadas, a Galiza nom viu resolvido nengum dos seus pro-blemas estruturais e, ao contrário, foi afundando numha situaçom de crise nacional que pom em risco a continui-dade material e simbólica da Naçom Galega. Os nossos setores produtivos sofrêrom umha agressom após outra,

sem que a Junta nem o Parlamento tenham servido para o evitarem. Espe-cialmente desde a entrada do Estado espanhol na Uniom Europeia, a nossa língua nacional tem vivido um retro-cesso acelerado, o território galego destruído sem contemplaçons, para benefício de uns poucos, os nossos di-reitos coletivos como povo negados e a nossa pertença forçada à monarquia espanhola reafirmada.

Cumprírom-se por completo as pre-diçons do independentismo e de toda a esquerda nacionalista, que apostava na rutura democrática e na soberania nacional. Mas a direçom política do

nacionalismo maioritário, repre-sentada desde 1982 polo BNG,

foi-se integrando aos poucos no regime autonómico,

no jogo reformis-ta e eleitoralista,

na procura de “peso em Ma-drid” e de mais competências,

acabando por

defender e legitimar o que antes comba-tia e por desmobilizar os setores mais conscientes do nosso povo. Só o independentismo tem mantido a chama da luita nacional, sem com-

plexos nem renúncias. Hoje, de novo, o independentismo socialista que NÓS-Unidade Popular representa quer denunciar e combater esta fraude. O Estado das Autonomias continua a ser a armadilha que Espan-ha nos impujo para evitar o recon-hecimento dos nossos direitos e dar continuidade à economia de mercado e ao patriarcado. Nengumha reforma estatutária servirá para nos dotarmos do quadro necessário que permita a nossa sobrevivência como Povo e a construçom de umha sociedade justa e igualitária que supere o patriarcado. O recente processo de reforma do Estatuto da Catalunha exemplifica os limites que Espanha pode tolerar.

Por isso nom podemos perder tempo em falsos debates sobre possíveis re-formas que só serviriam para aprofun-dar e legitimar a nossa situaçom de de-pendência e de crise nacional. É tempo de apostarmos sem ambigüidades na Independência Nacional, na República Galega, como única alternativa para a sobrevivência da Naçom e para a su-peraçom de um criminoso capitalismo em permanente crise. Para esta luita, o povo trabalhador galego sempre con-tará com o compromisso e a determi-naçom de NÓS-Unidade Popular.

Nem Estatuto nem Constituiçom, Galiza pola Independência!

Direçom Nacional de NÓS-Unidade Popular

Galiza, 18 de dezembro de 2010

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30 anos de engano estatutário, nem um mais

Galiza pola Independência!

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análise

Greve Geral 2�-J

NÓS-Unidade Popular valoriza positi-vamente a jornada de greve geral na-cional decorrida 27 de janeiro. A gre-ve, apesar do silenciamento mediático, do despregamento e repressom poli-cial, e do boicote ativo do sindicalismo amarelo espanhol, tivo incidência em setores da indústria, transporte e dos serviços das principais cidades e co-marcas do país. Também foi mui desta-cável a elevada participaçom obreira e popular nas manifestaçons convocadas, expressom do descontentamento e da oposiçom do povo trabalhador galego à reforma das pensons e à política anti-popular do PSOE.Esta greve demonstrou mais umha vez a especificidade nacional da Galiza, a existência de dinámicas próprias e a maior combatividade da classe obreira galega. Existe umha base e força suficiente para continuar com a luita, fagam o que fagam os desacreditados “sindi-catos” CCOO e UGT, cuja traiçom e cumplicidade com o poder ficou (de novo) patente depois do seu apoio à reforma das pensons, cozinhada com o PSOE e o patronato, e acordada em troca do mantenimento dos privilégios para a sua corruta casta de burocratas e liberados. Mas esta valorizaçom positiva nom deve fazer-nos esquecer que o modelo de sindicalismo imposto pola direçom da CIG impossibilitou um maior êxito da greve geral. O seu setarismo impe-diu umha resposta unitária e mais forte, aglutinando as múltiplas organizaçons sindicais, políticas e sociais que, como NÓS-UP, apoiárom a greve a participá-rom ativamente na mesma. As suas dúvidas e o facto de esperar pola decisom de CCOO e UGT retras-sárom a campanha prévia da greve. A sua dependência política do BNG e a

utilizaçom da greve para favorecer os interesses eleitorais dessa força políti-ca nas municipais de maio desvirtuou e rebaixou a combatividade desta jorna-da de luita obreira. Todos estes erros e eivas tenhem de ser superados para dar umha resposta acaída às novas agressons que a bur-guesia prepara.É necessário continuar com a dinámica de luita e mobilizaçom, procurando a unidade obreira e popular, para en-frentar as reformas e recortes deste neoliberalismo selvagem. Há que proseguir na luita, alargá-la, acumular mais forças para fazer fren-te à bateria de agressons já aprovadas, mas também às que previsivelmente pretenderám aprovar nos vindouros meses os governos de Compostela e Madrid, independentemente de quem ocupe a presidência. É preciso politizar e radicalizar as luitas, criarmos consciência e demonstrarmos que a soluçom a todos estes ataques nom está em nengum parlamento nem chegará através do voto a supostas “al-ternativas”. A única alternativa é a luita aberta contra o capitalismo, o patriar-cado e Espanha, a construçom da Re-pública Galega e do Socialismo.Finalmente, queremos exprimirr a nossa solidariedade e apoio às pessoas repressaliadas pola sua participaçom ativa e combativa nos piquetes e, do mesmo jeito, denunciar a repressom do Estado espanhol e a utilizaçom da polícia ao serviço da burguesia para impedir o direito à greve das trabalha-doras e trabalhadores.E umha vez mais solicitar a liberdade de Miguel Nicolás Aparício.

Direçom Nacional de NÓS-UP

1 de fevereiro de 2011

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Após o 2�-J, a luita deve continuar

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análise

Crise

Os motivos alegados para as sucessivas contra-reformas laborais impostas nos últimos anos e, especialmente, a últi-ma aprovada por decreto do governo espanhol do PSOE, apresentam-se agora como monumentais falácias, com a publicaçom dos dados oficiais sobre desemprego e precariedade. É neste contexto de claro fracasso da receita neoliberal contra a crise que NÓS-Unidade Popular quer difundir a sua análise da situaçom atual, com o objetivo de ajudar a abrir vias de luita unitárias pola superaçom das causas estruturais da profunda crise que so-fremos:1. Esta democracia dos banqueiros, empresários e corruptos impujo à maioria, com a cumplicidade das cú-pulas sindicais maioritárias espanho-las, umha reforma que precarizou ainda mais o mercado laboral, reduziu salários, suprimiu ajudas sociais e ca-rregou nas costas públicas as escassas indenizaçons por desemprego e por uns despedimentos que hoje som mais baratos que nunca.2. Todo isso foi apresentado, meses atrás, como receita para frear a crise e promover a contrataçom e o empre-go. Desde a sua aprovaçom no pas-sado mês de junho, temos suficiente trajetória para poder afirmar que os parámetros sociolaborais nom deixam de piorar de mês para mês, ratificando a absoluta inutilidade das medidas im-postas na última reforma laboral, com já tinha acontecido com as anteriores.3. Assim, o desemprego subiu no úl-timo mês (0,39% relativamente a fe-vereiro) e a instabilidade continua a hegemonizar a paisagem laboral (só 9,8% dos contratos formalizados ten-hem caráter indefinido). A juventude e as mulheres continuam a ser os seto-

res mais agredidos por umha crise ca-pitalista que a reforma de junho nom detivo, porque o seu objetivo nom era esse e sim garantir que os de sempre mantenham os seus lucros inclusi-ve num panorama de crise sistémica como o atual.4. Agora sabemos que o desemprego atingiu no último mês o teito histórico de 249.246 desempregados e desem-pregadas, com umha taxa de cober-tura de 70,4%, 3,3 pontos abaixo da existente no Estado espanhol, sendo 48% de caráter assistencial, segundo apontárom os sindicatos. Som dados oficiais, que sem dúvida a realidade deixa curtos, mas que indicam a gravi-dade da situaçom e a tendência negati-va que a contrarreforma nom detivo.5. Se vivêssemos numha democracia digna de tal nome, os responsáveis polas agressons aos direitos sociais e laborais da maioria, os que precari-zam as nossas vidas com a escusa de combater a crise e nom fam mais que aprofundá-la, seriam processados e as

suas receitas neoliberais iriam parar ao lugar que lhes corresponde: o bal-de do lixo.�. No entanto, o empobrecimento ge-neralizado e o enriquecimento das cú-pulas financeiras e empresariais nom só nom provoca mudanças nas políti-cas socioeconómicas, como ratifica a conveniência de aplicar novos “planos de ajuste”. A lógica infernal do capita-lismo nunca se detém, se nom for pola açom das massas nas ruas, forçando umha mudança real contra os interes-ses dos banqueiros, empresários e dos partidos políticos e cúpulas sindicais ao seu serviço.�. Em conclusom, NÓS-Unidade Po-pular, como parte da esquerda inde-pendentista galega, fai um apelo ao povo trabalhador galego para retirar-mos legitimidade aos partidos do sis-tema (PP, PSOE, BNG, IU...) evitando entregar-lhe os nossos votos e fortale-cendo as opçons da esquerda revolu-cionária e, quando nom existir essa al-ternativa, da abstençom em cada nova

convocatória eleitoral. Os partidos do sistema estám claramente ao serviço das diferentes famílias das burguesias espanhola e galega, nengum deles responde aos interesses da maioria, porque os interesses da maioria nom cabem neste sistema injusto. �. A única saída virá imposta pola auto-organizaçom e a luita da maioria con-tra o capitalismo espanhol, pola pres-som das massas que sofrem a crise, aumentando a luita sindical e política pola ruptura democrática e pola cons-truçom de umha democracia socialista na Galiza, protagonizada de maneira ativa e participativa polo nosso povo trabalhador.

Contra a crise, unidade e luita popular até derrotar o capitalismo espanhol!Pola independência, o socialismo e a libertaçom da mulher!

Direçom Nacional de NÓS-UP

Galiza, 4 de abril de 2011

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NÓS-Unidade Popular considera a ruptura com Espanha e o capital a única receita válida para deixar atrás a crise

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análise

Eleiçons municipais

As votaçons do passado domingo dia 22 de maio confirmárom várias tendências palpáveis em relaçom ao panorama político-institucional galego, no quadro de um Estado espanhol que continua a marcar a evoluçom do voto na Galiza. Comecemos por dizer que a vitó-ria do PP nom seria tal se fossem contabilizados na configuraçom das maiorias e minorias os votos nom emitidos, os nulos e os bran-cos. A abstençom, se bem foi seis pontos menor que há quatro anos, representa mais de 700.000 pessoas (30,52%), mais do que qualquer candidatura das apresentadas e mi-lionariamente financiadas com din-heiro público e privado. O aumen-to dos votos nulos (de 0,88% para 1,71%, 27.463 votos) e dos brancos (de 1,62% para 2,35%, 37.808 vo-tos) só pode ser interpretado como voto conscientemente contrário ao atual sistema. O descrédito da corrupta partitocracia e a carência de umha alternativa política revolu-cionária com dimensom de massas som factores a nom desconsiderar à hora de interpretar esta tendência ao incremento do voto protesto.

Contodo, a prevista queda do PSOE e a sua substituiçom polo PP em qua-se todas as instituiçons que elegiam representantes é umha evidência que confirma o resultado das polí-ticas anti-sociais dos primeiros, que assumírom o trabalho sujo de carre-gar na conta do povo trabalhador a mais profunda crise do sistema ca-pitalista a nível mundial. Tal como já tinha feito o PSOE na década de 80 com a reconversom industrial, ago-

ra voltou a servir de grande ajuda ao capital para aplicar políticas neo-liberais extremistas que, se fossem aplicadas polo PP, teriam tido umha mais forte contestaçom social.

No caso do nosso país, a Galiza, cumpriu-se essa tendência geral, se bem atenuada pola manutençom de importantes cámaras municipais com maioria PSOE-BNG (nomeada-mente Lugo, Ourense, Vigo e Ponte Vedra), com perda de influência do

BNG nos três primeiros e do PSOE no quarto. O PP reafirma o seu domínio eleitoral incrementando 53.000 votos e, apesar da profun-da crise e descrédito que o PSOE atravessa, só desce 66.000, o BNG perde 53.766 votos (de 315.279 para 261.513) em relaçom a 2007 e confirma o seu progressivo es-morecimento como alternativa ao bipartidarismo espanhol instalado na Galiza. Tampouco o tímido as-censo de IU (passando de 22.000 a

30.00 votos) consegue aglutinar o descontentamento do eleitorado de esquerda com as políticas das forças reformistas.Como dado positivo, convém des-tacar o absoluto fracasso da UPyD no nosso país.

No caso da esquerda independen-tista, a apresentaçom de 11 candi-daturas de algumha maneira vincu-ladas com umha ou outra corrente do espaço soberanista de esquerda

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NÓS-Unidade Popular avalia o resultado das

eleiçons de 22 de maio

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iseanálise

Eleiçonsmunicipais

supujo um facto sem precedentes que, junto ao resultado globalmen-te positivo, merece umha pequena análise específica.

Seguramente haveria que distinguir, nessa tendência positiva de aumen-to, entre os casos em que nom ha-via precedentes (Salvaterra, Porrin-ho, Redondela, Compostela, Ames e Mugardos) dos casos em que a apresentaçom de listas derivou da recente ruptura no interior do BNG, que levou a que os coletivos afastados voltassem a se apresentar nos respetivos concelhos, agora sob novas siglas (Nigrám e Minho). Um terceiro grupo é o dos concelhos em que já existiam precedentes de can-didaturas soberanistas de esquerda (Vigo, Cangas e Ponte Areias).No primeiro caso, o facto de todas as candidaturas ultrapassarem a ba-rreira de 1%, e nalguns casos inclu-sive a dos 3,5%, deve ser avaliado muito positivamente.

Também foi um resultado elevado o das candidaturas de Nigrám (3,5%) e Minho (4,62%), se bem aí a inicia-tiva correspondia a pessoas já inte-grantes destacadas das candidaturas do BNG em anteriores eleiçons. Isso matiza a consideraçom dos resultados, se bem conseguírom manter um número importante de apoios.

No terceiro grupo, a ACE mantivo a sua representaçom em Cangas (três representantes), apesar da ligeira perda de votos. Ponte Areias de Esquerda nom conseguiu avançar no seu número de apoios, apesar do pequeno avanço percentual. Em Vigo, a FPG conseguiu o pior resul-tado, obtendo a percentagem habi-tual inferior a 1% (0,39%).

Quanto às candidaturas em que NÓS-Unidade Popular participou de maneira direta, devemos ava-liar positivamente os resultados de Salvaterra de Minho e do Porrinho, ficando acima de 1% na sua primei-ra participaçom eleitoral, ao mesmo tempo que constatamos a dificul-dade existente para fazer crescer essa mesma base de apoio no caso de Ponte Areias. Neste caso, nom atingimos o principal objetivo de in-

crementar o apoio nas urnas, polo que a avaliaçom do resultado deve ser negativa.

A tarefa de dar dimensons de mas-sas ao movimento independentista, de esquerda e feminista no campo eleitoral confirma-se como muito complicada, e nom só pola frag-mentaçom do espaço, pois essa cir-cunstáncia deve ter influído menos numha votaçom local como esta. Haverá que analisar essa realidade mais profundamente, para além dos obstáculos extra que enfrentamos polo discurso abertamente anti-sistema que representamos e do boicote total dos meios de comuni-caçom do sistema.

Essa análise é fundamental nom só para afrontar novos desafios no ámbito eleitoral, mas para ajudar a estender o projeto revolucionário que representamos no seio do povo trabalhador galego numha época de crise generalizada que abre novas oportunidades de crescimento e in-fluência das forças revolucionárias.

Finalmente, NÓS-UP quer transmi-tir os parabéns à esquerda abertzale e às companheir@s das CUP polos seus resultados no conjunto de Eus-kal Herria e no Principat de Cata-lunha respetivamente.

Direçom Nacional de NÓS-UP

Galiza, 29 de maio de 2011

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análi-se

reportagem

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20DOSSIER CENTRAL

Nesta ocasiom, o dossier do Voz Pró-pria é dedicado a fazer um percurso polos dez anos de Unidade Popular. Por meio de algumhas das imagens gráficas (cartazes, murais, fotografias) que fam parte da nossa história como organizaçom política plural e de massas do MLNG, mas também reproduzindo umha seleçom de posicionamentos e análises emitidas nesta década, quere-mos contribuir para manter viva entre a militáncia de recente incorporaçom e evitarmos o esquecimemto entre a mais veterana, a memória de luita co-letiva que com acertos e erros, mas de forma constante e continuada, vem realizando NÓS-UP.

Breve introduçomUmha década nom é nada nas dinámi-

cas e processos sociais de umha luita do calibre que a esquerda indepen-dentista e socialista galega livra contra o capitalismo imperialista espanhol. Porém, cumpre, com a limitada pers-petiva que permite a comemoraçom de dez anos de NÓS-Unidade Popular, realizar um balanço público autocríti-co do que significou para a nossa histó-ria mais recente a andaina organizada emanada do Processo Espìral.

Do Processo Espiral à ANCCom a constituiçom a 3 de junho de 2001 de NÓS-UP, emerge umha nova ferramenta organizativa plural e de massas para ocupar um espaço tam necessário como orfo após a crise dos noventa.

O seu nascimento marcou um antes e um depois na esquerda independentis-ta, pois foi a mais séria tentativa para fechar um turbulento ciclo de incons-táncia organizativa e erráticas estraté-gias que impossibilitárom, durante as décadas prévias, o abandono do resi-dualismo auto-satisfatório.

Se bem a Assembleia Nacional Cons-tituinte (ANC) nom conseguiu o seu pleno objetivo, pola negativa a aderir de umha das partes que se tinha vo-luntariamente negado a fazer parte do Processo Espiral, sim conseguia unifi-car -de forma precária e inestável- o mais dinámico da militáncia e ativistas que naquela altura tinham a firme de-terminaçom de avançar abrindo umha nova fase. Mas o tom adquirido por alguns dos

debates da ANC e irresponsáveis ati-tudes que questionárom princípios e partes do programa previamente consensualizados, fôrom um mal início que prognosticava as enormes dificul-dades posteriores.

Qualquer análise que pretender in-terpretar as causas da parcial implo-som nom pode obviar que no plano subjetivo nom se dérom cristalizado as imprescindíveis doses de confiança mútua que permitissem facilitar a con-vergência de tradiçons políticas dife-rentes e a complementaçom de méto-dos e estilos de trabalho diversos.

Na primeira metade dessa década, a Unidade Popular estivo imersa num constante debate político-ideológico, saldado no segundo semestre de 2005

2001-2011

Dez anos de luita

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com a auto-exclusom de umha das partes que tinha promovido a unidade orgánica da esquerda independentista, após o período de unidade de açom iniciado com o 25 de julho de 1999.

A tensom dialética entre luita de clas-ses, luita de libertaçom nacional e emancipaçom da mulher foi perma-nente, tal como se constatou nos de-bates da ANC e posteriormente na II Assembleia Nacional (Corunha, 21 e 22 de junho de 2003) e na III Assem-bleia Nacional (Ferrol, 2 e 3 de julho de 2005). O questionamento do pluralismo ideológico e do genuíno projeto de classe com as suas naturais políticas de alianças fôrom os outros dous princi-pais focos de presom centrífuga que impedírom -por rigidezes e inflexibili-dade mútuas- continuarmos a viagem no mesmo meio de transporte.

Nom podemos negar responsabilida-des coletivas na hora de nom darmos mantido a unidade interna com base num programa de mínimos previa-mente pactuado, mas permanente-mente questionado por umha prática e cultura política pouco respeitosa com a diversidade.

Sem pretendermos analisar a fundo as causas que provocárom o abando-no de um setor nada desprezível de companheiras e companheiros após a III Assembleia Nacional, sim queremos manifestar a nossa satisfaçom pola serôdia, embora bem-vinda, decisom de adesom às teses da estratégia da luita de libertaçom nacional e social de género, por umha das partes dessa corrente que mantivo posiçons refra-tárias, causando acalorados debates e apaixonados confrontos.

A IV Assembleia Nacional (Teio, 1 de

dezembro de 2007) e posteriormente a de Vigo (12 de dezembro de 2009) fôrom as da consolidaçom política e da coesom ideológica após umha revisom a fundo de alguns dos paradigmas vi-gorantes desde a ANC.

Principais carênciasA Unidade Popular nom atingiu a dimensom quantitativa aguardada, como tampouco a expansom territo-rial e a referencialidade desejada entre o povo trabalhador galego.Continuamos sendo umha organi-zaçom muito modesta, com fraca implantaçom e enormes dificuldades para acumular forças políticas e sociais à volta de um programa socialista e fe-minista de libertaçom nacional.

Nom conseguimos superar a divisom e o fracionalismo endémico que cara-teriza a etapa mais contemporánea da esquerda independentista desde prati-

camente a sua génese, na metade da década de setenta do século XX. Fra-cassamos pois no objetivo de procurar convergências orgánicas (2001-2005) e posteriormente unidades de açom estáveis (2007-2010).

Mantemos dificuldades para manter plenamente ativadas as duas geraçons que conformam o grosso da militáncia organizada nas nossas fileiras.

As peculiares caraterísticas da nosa composiçom popular, com grande peso de trabalhadoras e trabalhadores com contratos precários e no desem-prego, dificulta manter umha estável estrutura de quadros, assim como umhas finanças saneadas sem as quais é inviável avançar ao ritmo desejado e atender as necessidades que geram as dinámicas de expansom.

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Alguns acertos e contributosEmbora a divisom siga sendo um las-tro, muitas vezes mais sobredimensio-nada no plano psicológico-social que no ámbito mais estritamente da inter-vençom política, a esquerda indepen-dentista sim conseguiu umha tangível, embora insuficiente, acumulaçom de forças, que nom possuia na mudança de século. Somos um movimento pe-queno, mas dinámico e com peso e certa referencialidade nalguns ámbitos sociais.

Conseguimos sentar as bases de umha nova cultura sociopolítica rebelde que, com umha prática transgressora, re-colhe parte do melhor das nossas mais combativas tradiçons de luita política e social.

Somos umha força caraterizada pola audácia política, com vocaçom perma-nente de superaçom, de quebrar com as rotinas e o acomodamento, com umha prática baseada na tensom mi-litante, na entrega e no compromisso individual, que procura experimentar vias novas e nom deixar-se condicionar por conceçons arcaicas e obsoletas.

Temos contribuído para a depuraçom do estrategismo e ideologismo que condicionava e hipotecava o desenvol-

vimento da esquerda independentista. A política com maiúsculas foi assente como epicentro da nossa açom, em-bora ainda nom tenhamos atingido as metas marcadas nem desejáveis.

O nosso persistente combate do cul-to à marginalidade e auto-isolamento serviu para depurar o nosso movimen-to de práticas alheias ao corpo social -o povo trabalhador galego- do qual fazemos parte e o qual queremos or-ganizar para a sua emancipaçom.

Contra vento e maré mantivemos como indiscutível o caráter genuina-mente de esquerda anticapitalista do projeto revolucionário galego. Esta coerência estratégica tem-se batido permanentemente com toda forma de conciliaçom de classes e alianças com o autonomismo.

Recuperamos o eixo antipatriarcal que o binómio APU-EGPGC introduziu na arquitectura ideológica do indepen-dentismo galego, aperfeiçoando-o ao longo da década.

Com coragem e rigor, temos realizado as necessárias revisons e atualizaçons críticas da açom teórico-prática sobre a que se vinha construindo a esquer-da independentista. A imprescindível

ruptura com as inércias das heranças do autonomismo fôrom fundamentais para superarmos os dogmas do colo-nialismo como forma que adoptaria na Galiza a opressom nacional espan-hola; ou a antidialética teorizaçom da ausência de burguesia autótone na for-maçom social galega.

Popularizamos e demos dimensom de massas à simbologia nacional que o autonomismo ou bem nunca empre-gou por cobardia, ou abandonou por complexos inconfessáveis. Desde o primeiro momento, empregamos os limites territoriais da Naçom Galega -nom as da Comunidade Autónoma- e, posteriormente, editamos (2003) o primeiro e único mapa nacional da Galiza, com o conjunto de territórios amputados polo espanholismo.

Recuperamos e divulgamos com os mais variados soportes -entre os quais destaca a bandeira- o Escudo Nacio-nal desenhado por Castelao em 1937, popularmente conhecido como Se-reia. Ambos factores fundamentais para a construçom nacional da Galiza e ruptura com o universo simbólico espanhol que tem penetrado a fundo no seio do corpo social do conjunto do soberanismo.

Defendemos com firmeza os princí-pios estratégicos do monolingüismo social e o reintegracionismo lingüisti-co, frente às vacilaçons que acompan-ham outras práticas.

Dez anos maisSomos um projeto emergente, em plena construçom, com enormes ca-rências, mas também com grandes virtudes, mas fundamentalmente com suficientes energias e vontade para continuar avançando na luita.

Às portas da 6ª Assembleia Nacional, NÓS-UP aposta na recuperaçom da visibilidade que tinha voluntariamente cedido a iniciativas que previamente promovêramos, mas com as quais já nom compartilhamos objetivos táti-cos.Apostamos num novo impulso que nos permita sermos umha ferramenta útil à Pátria, à classe trabalhadora e as mulheres galegas no caminho da Revo-luçom Galega. As nossas portas estám abertas a todas aquelas pessoas que com honestidade estiverem dispostas a contribuir para umha Galiza livre, vermelha e lilás.

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23DOSSIER CENTRAL

ASSEMBLEIAS NACIONAIS

VOZEIROS COMARCAIS

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reportagem

JACOBEU NOM

24DOSSIER CENTRAL

Bom dia a todos e todas. Antes do mais, recebede umha saudaçom fra-terna em nome da Direcçom Nacional de NÓS-Unidade Popular neste pri-meiro Dia da Galiza Combatente. Quando a Direcçom Nacional de NÓS-Unidade Popular decidiu datar o 11 de Outubro como Dia da Galiza Combatente, fôrom basicamente três as razons para fazê-lo:

Em primeiro lugar, com a olhada pos-ta no País. Após 20 anos de autono-mia dentro do quadro constituicional espanhol, a naçom galega como tal continua imersa num processo global de desestruturaçom materializado na destruiçom da sua base económica e material e na liquidaçom progres-siva da língua e identidade nacionais. Esta realidade é tam visível e evidente que podemos aforrar desenvolver a sua demonstraçom. Unicamente assi-nalemos o facto de que o estátus polí-tico de comunidade autónoma espan-hola -vendido em 1981 como panaceia aos problemas do país- só tem servido para a profundizaçom e aceleraçom desse processo de desestruturaçom. Parte inseparável e necessária do mes-mo é, sem dúvida, a falta de autoestima nacional que o colonialismo tem injec-tado em galegas e galegos, o descon-hecimento e a manipulaçom da nossa própria memória histórica e -desde esse estado de indefensom colectiva- a interiorizaçom dos tópicos, tam falsifi-cados como degradantes e xenófobos, que o espanholismo atribui ao nosso povo e que operam como verdade nas consciências de milhares de cidadáns: mansedume, individualismo, falta de coragem, espírito de resignaçom, etc. Combater esta mentalidade auto-destrutiva e paralisante e dignificar a condiçom de cidadáns e cidadás desta naçom, nom ressolve por si só a questom, mas deve ser um ob-jectivo de urgência na agenda de tra-balho da esquerda independentista: este resgate da nossa memória his-tórica e a assunçom de um impres-cindível orgulho nacional som ele-mentos fundamentais no processo de construçom nacional da Galiza. A celebraçom nacional do Dia da Gali-za Combatente quer ser umha modes-ta achega nom partidista nesta luita p o l a

memória histórica e a dignificaçom do país; sem esquecermos que esta ba-talha se ganhará tam só com um per-sistente trabalho quotidiano em cada recuncho do país, ou nom se ganhará.

Em segundo lugar, existe objectiva-mente, tanto ao longo da nossa histó-ria como na actualidade, umha parte maior ou menor, mais massiva ou mais minorizada do nosso corpo social, que se nega sistematicamente a aceitar a imposiçom espanhola e a das clas-ses dirigentes autóctonas -quando as houver-. Umha fracçom do país que, em distintas etapas históricas, mantém viva a perspectiva estratégica de umha Galiza libertada contra vento e maré.Dizem que nom se perde um direito enquanto houver alguém que o recla-ma. Quando em Junho passado cons-tituíamos em Compostela esta emer-gente organizaçom de massas para a libertaçom nacional, sabíamos que nom partíamos de zero: desde os tex-tos dos cronistas da Antigüidade, que nos falam de um povo combativo e de mulheres indomáveis, até a morte num operativo militar de Lola e José em 1991, ou a luita em prisom dos presos e presas independentistas em 2001, a nossa história foi a de um povo capaz de impulsionar as primeiras revoltas populares da Europa moderna, capaz de desenvolver resistências para en-frontar o processo de Doma y Castra-ción del Reino de Galicia impulsionado pola Coroa de Castela. Um povo que, já bem entrado o século XIX, tinha militares insurgentes que afirmavam, de jeito provavelmente rudimentário, a existência da Galiza como sujeito de direitos nacionais.Esse mesmo povo sustivo política e materialmente desde 1936 umha

guerrilha urbana e rural antifascista cujo últi-mo resistente caía em 1965, articulou desde a clandestinidade orga-nizaçons nacionalistas de massas e desenvol-veu, no último quartel do século XX, três projectos político-

militares para a sua própria libertaçom nacional e social.Som demasiadas as evidências históri-cas contrárias como para falarmos da Galiza só como o país submisso e re-signado de que nos fala umha História contada por outros.

Existe umha terceira, evidente e úl-tima razom para datarmos em 11 de Outubro o Dia da Galiza Combaten-te: na madrugada dessa jornada de 1991, Lola Castro Lamas e José Vilar Regueiro, militantes independentistas e membros do Exército Guerrilheiro do Povo Galego Ceive, morriam ao fa-zer-lhes explosom acidentalmente um artefacto destinado a combater os in-teresses do narcotráfico na Galiza. En-quanto outros luitadores e luitadoras passárom à nossa História por direito próprio, sobre Lola e José semelha pairar um manto de silêncio e esque-cimento. Manto que é a nossa obriga destruir para restituí-los ao lugar que se merecem.Nom vamos louvar aqui as suas pes-soas. Os seus factos falam por si pró-prios e em todo o caso corresponderá fazê-lo a aquelas pessoas que os con-hecêrom em vida e que compartilhá-rom com ele e com ela sonhos, mili-táncias e instrumentos de luita.A nós unicamente nos corresponde a homenagem, o reconhecimento polí-tico à sua generosidade e combativi-dade nesta luita que continuamos e, finalmente, o compromisso colectivo de que as suas vidas, como a de Mon-cho, as de Amador e Daniel, as de “O Piloto”, Zélia, “O Foucelhas”, Benigno Álvares, Alexandre ou os fusilados em Carral, nom cairám no esquecimento nem passarám a fazer parte das últi-mas expressons de rebeldia de um povo que existiu.

Estas som as três fundamentais razons para impulsionar a existência e, num futuro próximo, a celebraçom popu-lar, de um Dia da Galiza Combatente.Digamo-lo com claridade: estas três e mais nengumha. Nom está na nossa intençom consolidar umha data para um calendário reservado a indepen-dentistas com cartom de militante. Nom procuramos umha escusa para a autoafirmaçom partidista deste ou aquele projecto político com siglas.Finalmente, e reconhecendo a legiti-midade e a validade de todos os mé-todos de luita no processo de Liber-taçom nacional e social da Galiza, nom

estamos a postular mecanicamente a traslaçom à cojuntura actual dos meios de intervençom política que outros ga-legos e galegas empregárom em con-textos que nom som o presente.

Nom quereria concluir a minha inter-vençom sem umha última anotaçom:a Galiza combatente, o país que se afirma a si próprio e que resiste, nom é um recurso épico ao passado para esquivar as dificuldades do presente. Existem hoje dúzias de exemplos ao longo do território nacional de como a cidadania galega se autoorganiza para a defesa dos seus interesses imediatos e estratégicos. Desde cada um dos con-flitos vicinais hoje abertos até as per-manentes mobilizaçons em defesa da dignidade do posto de trabalho, desde a insubmissom quotidiana e firme às tramas caciquis ao recurso às Greves Gerais, ou desde o anónimo trabalho de consciencializaçom e construçom nacional à nossa capacidade para sus-tentar e regenerar o movimento pola autodeterminaçom logo de cada fase repressiva, contam-se por centos as expressons de vitalidade e rebeldia deste país. Dessa vontade de resis-tência som hoje mostra os vizinhos e as vizinhas dos Prazeres, sustendo um conflito colectivo frente à ocupaçom policial da sua paróquia e a diária in-tervençom repressiva; os vizinhos de Merça, em situaçom semelhante, as fixas-discontínuas da conserva na co-marca de Vigo, o povo de Camarin-has, os marinheiros de Bueu, Cangas ou A Guarda, etc., etc. Estes e muitos outros som exemplos reais e imedia-tos da capacidade deste país, como também o som as respostas contun-dentes e combativas do MLNG ao nom respeitar com a sua praxe a lega-lidade vigente.À aposta política que constituímos em 2 e 3 de Junho deste ano corresponde impulsionar e favorecer estas e outras expressons de um povo insubmisso que encara o seu futuro com optimis-mo. Só assi poderemos dizer-lhes mais umha vez aos espanhóis, e no nome dos e das que já nom estám, que con-tinuam a ser uns imperialistas fracas-sados.

Viva o Dia da Galiza Combatente!!!Viva Galiza ceive, socialista e antipa-triarcal!!!Alexandre, Moncho, Lola e José, Pre-sentes!!!A Luita Continua!!!

Dia da Galiza Combatente

Outubro 2001

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análise

25DOSSIER CENTRAL

Os evidentes avanços a nível formal lo-grados polas mulheres nas últimas dé-cadas estám muito longe de qualquer situaçom que se aproxime da igualda-de real, por muito que os diferentes aparelhos de reproduçom ideológica do capitalismo teimem em transmitir o contrário. A nível laboral é umha evidência a discriminaçom da mulher sobre o ho-mem em todos os sectores e terrenos. Porém, esta tradicional situaçom tem piorado em relaçom com as últimas décadas. O neoliberalismo, como fase actual do capitalismo, caracteriza-se por umha ofensiva machista e patriar-cal cujas conseqüências mais evidentes som um incremento generalizado da exploraçom da força de trabalho fe-minina, o incremento da exploraçom sexo-reprodutiva, o reforçamento da exploraçom sexo-afectiva e o au-mento da identidade grupal machista e sexista.

Assim, se analisarmos a situaçom da imensa maioria das mulheres galegas, desse 90% que pertencemos às classes trabalhadoras, comprovaremos como a marginalizaçom, a discriminaçom, a sobre-exploraçom, as agressons sexuais,

fam parte da nossa crua realidade.As diversas reformas laborais impul-sionadas desde 1982 polos governos do PSOE-PP tivérom e tenhem como principais vítimas as mulheres trabalha-

doras, pois, entre outros objectivos, pretendem devolver-nos a “casa”. Como um dos sectores mais desprotegidos dumha sociedade, -agravado no nosso caso pola opressom nacional que so-fremos, somos as

primeiras em padecer os expedien-tes de regularizaçom de emprego, o embaratecimento do despedimento, a descida de salários, o recorte de direi-tos, o deterioramento das condiçons laborais, a escravatura das ETT´s, os empregos lixo, os contratos em prá-tica e a tempo parcial, a privatizaçom dos serviços públicos, na imensa maio-ria dos casos com a cumplicidade dum sindicalismo sob a hegemonia da ideo-logia patriarcal.

A imensa maioria das mulheres que pertencemos às camadas populares sofremos umha discriminaçom de gé-nero claramente patente no mercado laboral. Na Galiza a taxa de desem-prego feminino no último trimestre de 2001 ascendia a 17% frente a 9.3% da masculina. A precarizaçom laboral é muito superior nas trabalhadoras que nos trabalhadores. 17.2% das mulheres trabalhadoras estám ocupa-

das a tempo parcial frente a 2.8% de homes, incrementando-se até 21.2% no sector privado. 78% d@s destina-tári@s desta modalidade contratual som mulheres, supondo 32% do total da contrataçom feminina. As trabalha-doras galegas somos as pior pagas de todos os estados da Uniom Europeia, e as pior pagas do conjunto do Esta-do espanhol, 228 euros menos se nos compararmos com as trabalhadoras espanholas, e 625 euros relaçom com @s trabalhadores/as espanhóis/las. Realizamos parte dos trabalhos pior valorizados e poir pagos em sectores

fundamentais da economia nacional como a conserva, indústria têxtil, ali-mentaçom, já sem abordarmos a si-tuaçom dessas milhares de mulheres, umha parte das quais emigrantes, que em situaçom de escravatura ou semi-escravatura devem prostituir-se para poderem sobreviver. Umha considerável parte d@s pobres do nosso país, dessas 350.000 pessoas que vivem com menos de setenta mil pesetas ao mês, está constituída polas mais de cinqüenta mil viúvas do rural que sobrevivem com penssons de 192 euros mês, e as 14.000 do mar com 288 euros. Todo isto num país onde a percentagem de populaçom de 65 ou mais anos é de 16.5%, agravada nas províncias de Lugo e Ourense onde já supera 22%.

A todo isto temos que acrescentar as agressons sexuais e o maltrato (Unicef denunciou que 20% das mulheres do mundo sofre violência machista), a acossa sexual (duas de cada dez trabal-hadoras do Estado espanhol tem pa-decido algum tipo de acossa no trabal-ho) que provoca entre muitas outras cousas que mais da quarta parte das vítimas abandone o seu emprego.Nom se trata exclusiva, nem funda-mentalmente, de um problema vincu-lado com o nosso escasso peso polí-tico, senom à aliança simbiótica entre patriarcado e capitalismo, agravado num estrutura social sob a opressom colonial, totalmente irreformável se-nom vai enquadrada numha estratégia política que aposte sem ambigüidades por umha transformaçom radical da sociedade. Daí a necessidade que tem a esquerda independentista e o con-junto do MLNG de construirmos um movimento político revolucionário que combine os objectivos estratégi-cos da emancipaçom nacional e social de género.

Na Galiza a igual trabalho, igual salário. Contra a discriminaçom laboral das mulheres

Março 2002

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2�DOSSIER CENTRAL

A classe trabalhadora galega deve de-monstrar no 20 de Junho, -aderindo e participando activamente na greve geral-, a sua imensa capacidade de lui-ta e mobilizaçom para poder parar e derrotar a política reaccionária da oli-garquia espanhola.Há agora um ano, os principais secto-res produtivos da Galiza ficavam prati-camente paralisados por mor da greve geral nacional de 15 de Junho que em-bora exitosa nom se converteu, pola traiçom do sindicalismo reformista, no necessário ponto de arranque de

umha ofensiva operária e popular con-tra o governo do PP, responsável da destruiçom das conquistas sociais e as liberdades democráticas.Para NÓS-Unidade Popular, esta greve persegue vários objectivos concretos: lograr que a grande burguesia es-panhola

retire a reforma do desemprego apro-vada por decreto há umhas semanas porque obriga os/as desempregad@s com subsídios a aceitar tanto empre-gos lixo quanto trabalhos distantes até 30 quilómetros ou duas horas da mo-rada, com o conseguinte enfraqueci-mento do salário real que suporám os gastos em transporte e o aumento do horário laboral que implica o tempo de deslocamento, e com a possibilidade, no nosso caso, de que se nos obrigue a trabalhar no estrangeiro; facilita e embaratece ainda mais o despedimen-

to; exclui o subsídio a colectivos em situaçom de precariedade; precariza ainda mais a contrataçom por meio do “contrato de inserçom”; obstaculiza receber prestaçom aos/às trabalha-dores/as com indenizaçom por des-

pedimento; transforma um direito conquistado numha esmola assisten-cial; estigmatiza os/as desempregados /as convertendo-os em preguiceiros, corrup-tos e parasitas sociais; pretende privatizar o INEM.

Umha greve para atingir igualdade de direitos e salários entre as trabal-hadoras e os trabalhadores, contra a ofensiva machista e patriarcal do capi-talismoUmha greve polos direitos e contra a brutal criminalizaçom da mocidade galega.Umha greve contra a involuçom fas-cista do PP que me-diante a Lei de Partidos Políticos pretende ilegalizar as organizaçons populares e as forças políticas revolucionárias, independen-tistas e anti-capitalistas, ou median-te

a Lei da Qualidadde do Ensino conti-nuar com a privati-zaçom, espanholi-zaçom e destruiçom do ensino público. Umha greve contra a pobreza, a mar-ginalizaçom e a exclusom social.Umha greve polos direitos nacionais da Galiza, contra a destruiçom da naçom galega polo imperialismo espanhol.O êxito do 20 de Junho só vai ser pos-sível mediante a massiva participaçom da classe trabalhadora, a mocidade e as mulheres numha jornada de luita caracterizada pola combatividade e a firme vontade de paralisar todos os sectores produtivos do país. A esquer-da independentista galega considera

imprescindível desmascarar qualquer tentativa do reformismo e o autono-mismo de encarar a greve como um mero facto pontual e administrativo que evite o conflito social e seja pac-tista e respeitoso com as medidas adoptadas polo PP para fazer fracassar a greve.O 20 de Junho deve ser umha grande vitória das classes trabalhadoras gale-gas, o início dumha estratégia de luita e mobilizaçom de massas, único me-canismo para poder evitar mais recuos nas nossas condiçons de vida e mais recortes nas liberdade e os direitos democráticos.Som horas de passar à ofensiva, radi-calizar as luitas, dar-lhes sentido global, para podermos evitar que o grande capital continue a acumular ano após

ano mais lucros à custa do empobre-cimento da classe trabalhadora e os sectores populares.O 20 J deve ser concebido como umha grande jornada de luita obreira e na-cional polos direitos laborais da classe trabalhadora, contra o fascismo, polas liberdades individuais e colectivas da Galiza.

Tod@s à greve geral!Adiante coa luita obreira e popular!Paremos o fascismo!Independência, socialismo e antipa-triarcado!

20 de Junho Greve Geral. Paremos a ofensiva do PP. Luita obreira e nacional

Junho 2002

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análise

análise

reportagem

JACOBEU NOM

2�DOSSIER CENTRAL

Após mais de duas décadas de Autono-mia, a situaçom da naçom galega e do seu povo trabalhador tam só tem piorado. Desde 1978, data da aprovaçom da Constituiçom espanhola continuadora do franquismo, nom se tem resolvido nengum dos problemas que padece o nosso povo: desemprego, precarieda-de laboral, acesso à vivenda, pobre-za e exclusom social, -agravado nas mulheres-, perda de galego-falantes e espanholizaçom, destruiçom dos sectores estratégicos da economia nacional. Hoje, a Galiza e o conjunto d@s galeg@s somos mais pobres, mais dependentes, mais atrasados a respei-to de Espanha e a UE que em 1980. Trabalhamos mais horas e ganhamos menos. A exploraçom, saque e mar-ginalizaçom do país polo capitalismo espanhol e transacional é superior ao que padecíamos há vinte anos. A situaçom é tam grave que mesmo os índices estatísticos oficiais já nom po-dem evitar constatar que a convergên-cia com Espanha e com a UE está cada vez mais longe de ser umha realidade. O actual Estatuto de Autonomia e a Constituiçom espanhola da qual ema-na, nom só nom fôrom aprovados pola maioria do povo galego, senom que som instrumentos legais impostos por um regime, a democracia espanhola, carente de qualquer legitimidade de-mocrática ao ser continuadora directa da ditadura fascista, encabeçada polo rei imposto por Franco.

A causa desta situaçom deriva da ausência de soberania do povo galego para decidir em liberdade e democra-ticamente o seu futuro, para poder governar-se em funçom dos seus inte-resses e necessidades. Espanha nega o legítimo direito de autodeterminaçom. Um direito permanente, inalienável e irrenunciável de qualquer povo para poder escolher o seu destino, decidir o seu futuro sem interferências exter-nas ou limites para o seu exercício. A Espanha de Aznar, Zapatero, Lla-mazares, Amáncio Ortega, em plena ofensiva fascista, nega a nossa existên-cia como povo diferenciado, conculca os nossos direitos elementares, nega que o povo galego e a Galiza somos o único sujeito e ámbito soberano de decisom. O capitalismo espanhol leva cinco séculos tentando anquilar-nos

utilizando todo o tipo de violência. Até agora, por mor da resistência colecti-va, nom tem consumado o genocídio.Mas por primeira vez, na milenária his-tória do nosso povo, está em perigo a sobrevivência de Galiza como naçom. Parte dos mecanismos defensivos que as classes populares galegas cons-truírom ao longo da história para fazer frente à permanente agressom a que nos vemos submetidos por Espanha tenhem renunciado à luita. As suas eli-tes vendêrom-se por um prato de len-telhas. O nacionalismo oficial, perante a ofensiva fascista, definitivamente optou por claudicar confomando-se com as migalhas da comodidade ins-titucional e os privilégios que concede o regime.Defender, exigir e exercer no dia a dia o direito de autodeterminaçom é umha necessidade para podermos construir a naçom galega ao serviço das suas classes trabalhadoras. Sem

autodeterminaçom nom é viável umha sociedade justa e igualitária, nom é possível superar as desigualdades, as opressons que impom o capitalismo, nom há a mais mínima possibilidade de construir umha democracia socialista.As evidentes responsabilidades e a criminosa atitude das autorida-des espanholas no afundamento do Prestige confirmam a imperiosa necessidade de sermos livres para decidirmos por nós próprios. Es-panha é a ruína do povo galego. O povo trabalhador galego ne-cessita por mera sobrevivên-cia reivindicar e luitar pola auto-determinaçom e a democracia. A esquerda independentista or-ganizada em NÓS-UP tem a fir-me decisom de continuar adian-te luitando pola independência nacional, para construir umha socieda-de socialista superadora do patriarcado.

Espanha é a nossa ruína. AUTODETERMI-NAÇOM

Outubro 2003

A Direcçom Nacional de NÓS-Unidade Popular quer fazer chegar à sociedade galega umha série de consideraçons em relaçom com os graves acontecimentos acontecidos na capital espanhola a 11 de Março de 2004.

1.- O ataque múltiplo com explosivos contra objectivos civis nos comboios de proximidades em diversas áreas de Madrid, que figérom por volta das duas-centas mortes e ferírom várias centenas mais de pessoas, tivo umha natureza in-discriminada e atingiu grande número de trabalhadores/as, imigrantes e estu-dantes. Além da sua grande magnitude, nom se produziu qualquer aviso prévio, o que confirma que tencionava produ-zir o maior número possível de vítimas de maneira aleatória.

2.- Os dados anteriores tornárom cla-ro desde o primeiro momento o para-lelismo entre o ataque de Madrid e os que nos últimos anos tenhem aconte-cido em Nova Iorque, Bali, Moscovo, Istambul e outros pontos ao longo do Planeta, todos eles efectivados por organizaçons da resistência árabe em países cujos Governos estám envolvi-dos em agressons contra povos árabes e/ou mussulmanos como o checheno, o iraquiano, o afegao, ou o caxemir, en-tre outros. Também o Estado espanhol tem participado e participa activamente em guerras e ocupaçons de territórios como o iraquiano na actualiade, que fi-gérom e fam vítimas mortais a diário. Era e é Espanha por isso objectivo de-clarado das organizaçons armadas ára-

bes de resistência.

3.- A ETA, organizaçom armada basca, apon-tada desde o primeiro momento como sendo responsável polo ata-que do dia 11 de Mar-ço, nunca nos seus 40 anos de existência re-

alizou um de características semelhan-tes, umha vez que os seus costumam ter objectivos militares claros e sempre avisa da colocaçom de artefactos em espaços públicos, o que neste caso nom aconteceu. Além disso, as dimensons da acçom do dia 11 ultrapassam em muito as de qualquer acçom armada da ETA.

4.- Apesar das evidências anteriores, a jornada do próprio dia 11 de Mar-ço activou-se umha campanha de lin-chamento contra o independentismo basco, acusando-o de estar por trás do ataque de Madrid “sem nengumha dúvida”, em palavras do ministro espa-nhol do Interior. Acebes chegou a cha-mar “miseráveis” aos representantes da esquerda independentista basca que declarárom em conferência de impren-sa a sua convicçom de que a ETA nom tinha relaçom com a acçom armada na capital espanhola. A coro com Acebes, Aznar e o próprio rei espanhol, todos os responsáveis políticos institucionais apoiárom a tese oficial, dando por feita a origem basca do ataque e agitando as alienadas massas espanholas contra o bode expiatório basco.

PSOE, IU, PNB, CiU, BNG, EA, Ara-lar, ERC e outras formaçons políticas do sistema figérom o jogo em todo o momento à táctica do PP, que desde o primeiro momento apontou para o Norte aproveitando as circunstáncias para assegurar a vitória eleitoral no próximo dia 14.Na Galiza, NÓS-Unidade Popular tivo ocasiom de comprovar o ambiente de excitaçom anti-independentista pro-vocada polos meios e organizaçons do sistema, vendo proibido polos respon-

PAREMOS A INTOXICAÇOM FASCISTA. NÓS-UP perante os graves acontecimentos de 11 de Março em Madrid

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JACOBEU NOM

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sáveis institucionais do local um acto em prol da autodeterminaçom que ia decorrer no próprio dia 11 de Março numha sala de actos do cámpus uni-versitário de Ourense.

5.- Quando já todo parecia dito e comprovado, à tardinha do próprio dia 11 começárom a trascender novos indícios da origem árabe dos ataques. Mas, apesar da reivindicaçom e outros elementos indiciários, o discurso oficial nom mudou. Os meios demonstrárom mais umha vez a sua obediência aos di-tados políticos da oligarquia e a direi-ta espanhola, e mantivo-se a “opçom basca” que tam bem serve aos inte-resses do Partido Popular, graças à co-nivência das restantes forças políticas institucionais. Entretanto, os meios de outros estados como Portugal falavam na noite do dia 11 já da origem islamis-ta das acçons armadas, como “acerto de contas” árabe contra a implicaçom espanhola na coligaçom imperialista na guerra contra o Iraque.

�.- Mais umha vez, a esquerda abert-zale foi a única a manter umha certa

equidade e racionalidade nas horas que se seguírom ao ataque de Madrid, resultando também ser a única fonte fiável frente à intoxicaçom informativa cuspida polos diversos meios de comu-nicaçom e representantes políticos. A versom apresentada polos porta-vozes da esquerda independentista basca foi a única que acabou por ver-se con-firmada

pola realidade dos factos que nesta altura conhecemos, apesar dos insul-tos com que foi contestada por parte de indivíduos como José María Aznar, Eduardo Zaplana ou Miguel Ángel Acebes.

�.- Contodo, é previsível que o Esta-do espanhol e o Partido Popular con-

tinuem a promover a confusom nos próximos dias como melhor forma de favorecer a sua própria estratégia eleitoral, que lhe permita manter as rédeas do Governo espanhol graças à submissom das restantes forças políti-cas. Inclui-se entre elas a autonomista galega, o BNG, mais umha vez prota-

gonista de um acto de servilismo simbolizado pola obediência com que cumpriu a ordem espanhola de mudar o horário da manifesta-çom “contra o terro-rismo” na Galiza para a fazer coincidir com a que o Governo do

PP organiza na tarde do dia 12 em Ma-drid. Nom se admitem desvios nem de horário na unanimidade espanhola e reaccionária.

�.- Frente à manipulaçom generaliza-da e promovida por umhas instáncias políticas e económicas bem concretas, as controladas pola direita espanhola, e assumidas por umha oposiçom que nom existe; frente ao servilismo dis-cursivo e factual com que o conjunto de forças políticas do regime servem os interesses da oligarquia espanhola e reaccionária; frente à mentira mil ve-zes repetida por uns e outros, preten-dendo assim convertê-la em verdade; frente a todo isso, NÓS-Unidade Po-pular quer manifestar a sua mais enér-gica condenaçom da suja estratégia com que o Estado espanhol e os seus servos políticos e mediáticos preten-dem deslegitimar a luita independen-tista das naçons presas nesse cárcere de povos chamado Estado espanhol. Manifestamos também a nossa soli-dariedade com as famílias d@s traba-lhadoras/es, imigrantes e estudantes mortos no dia 11 em Madrid, bem

como também com a esquerda inde-pendentista basca, vítima de um lin-chamento mediático só comparável com o acontecido em Julho de 1987 após a morte de um vereador basco do Partido Popular.

�.- Para além de todo o dito, e quan-to ao próprio ataque de Madrid, lem-bramos a responsabilidade do Partido Popular e outros sectores do núcleo duro do Estado espanhol polo seu en-volvimento na estratégia imperialista e genocida contra o povo iraquiano líde-rada polo Pentágono norte-americano ao longo de anos de guerra, bloqueio económico e umha nova guerra de ocupaçom que já causou muitos mi-

lhares de vítimas inocentes no Iraque. A Aznar e companhia corresponde agora explicar qual é a segurança que dizia procurar e garantir com a impli-caçom numha guerra criminosa como a que ainda hoje se prolonga na ocu-paçom e rapina dos recursos do povo iraquiano.Se as forças ditas “da oposiçom” as-sumissem o papel opositor que dim representar, denunciariam desde o primeiro momento a responsabilida-de do PP e dos aparelhos do Estado polo ataque do dia 11 de Março em Madrid, em lugar de alimentar os de-lírios espanholistas e reaccionários de incriminaçom compulsiva da resistên-cia basca. Mas a realidade é que todas elas preferírom fazer o fim de cam-panha eleitoral que o Partido Popular necessitava.

10.- Pola nossa parte, e como força política unitária da esquerda inde-pendentista galega, NÓS-Unidade Popular continuará a luitar pola liber-dade da nossa Pátria, a emacipaçom da classe trabalhadora e a superaçom do patriarcado, e a manter o combate

político contra o imperialismo espa-nhol e os seus cúmplices, confirmando também todo o nosso apoio à luita da resistência iraquiana e contra a ocupa-çom desse país polas forças do impe-rialismo sob liderança ianque.Para o 14 de Março, frente o fascis-mo espanhol representado polo PP, e os seus cúmplices do PSOE, IU e o BNG; NÓS-UP reitera a necessidade de nom participar no processo eleito-ral. A abstençom activa e consciente é a melhor arma da classe trabalhadora para denunciarmos a natureza antide-mocrática do Regime, evitarmos mais retrocessos nos nossos direitos labo-rais e sociais, e defendermos a auto-determinaçom.

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1- Após mais de um quartel de século da aprovaçom da Constituiçom espan-hola, continuadora do franquismo e da qual emana a actual Espanha autonó-mica, as luitas nacionais impulsionadas polas diversos povos oprimidos polo Estado espanhol, nom só nom des-aparecêrom, como mantenhem vigor e vitalidade.

2- A negativa a reconhecer o direi-to de autodeterminaçom da Galiza, Catalunha, Euskal Herria e de todos aqueles povos que assim o desejarem, tem sido e continua sendo um dos fios condutores das políticas das diver-sas forças que ocupárom a Moncloa. UCD, PSOE e PP aplicárom com tác-ticas diversas a mesma política centra-lista e antidemocrática.

3- O capitalismo espanhol acha-se numha situaçom de fraqueza, e cons-ciente do irrecuperável golpe que para a burguesia significaria a independên-cia dos povos oprimidos, interessada em manter a toda a custa o mercado denominado Espanha, optou nos úl-timos oito anos por aplicar um plano de choque para aniquilar as esquer-das independentistas. A involuçom da era Aznar com a aprovaçom de leis de excepçom que provocárom a ilegalizaçom de forças políticas e fe-chamento de meios de comunicaçom foi acompanhada por umha reforma laboral permanente, por contínuos ataques aos direitos da classe trabalha-dora, por recortes das liberdades, no quadro de umha estratégica de carác-ter fascista. A mobilizaçom social da classe obreira, das mulheres, da juven-tude, mas também as reivindicaçons nacionais, fôrom determinantes para o seu fracasso.

4- Porém, a chegada do PSOE ao go-verno de Madrid nom tem suposto, nem vai supor, mudanças substanciais à hora de modificar as políticas neo-liberais e centralistas aplicadas nas últimas três décadas de democracia burguesa espanhola. Zapatero tam só vai aplicar, com outro estilo e outro talante, idênticas “soluçons”.

5- O capitalismo espanhol necessita com urgência assegurar a estabilidade do regime. Por este motivo, após te-rem fra-

cassado as políticas de confronto directo do PP, apoia o pacto com as burguesias periféricas mediante um novo acordo autonómico que actua-lize o de 1979-81, baseado numha nova descentralizaçom administrativa emanada da previsível reforma consti-tucional que satisfaga as demandas das direitas catalá e basca, mas também as das elites autonómicas.

�- Para o sucesso deste novo acordo, deve desactivar algumhas das reivin-dicaçons do PNB, plasmadas no de-nominado Plano Ibarretxe, e realizar as mudanças oportunas, as reformas necessárias da arquitectura institucio-nal do Estado que, sem ques-tionar a sua essência, podam neutralizar as aspiraçons pseu-doindependentistas de forças como ERC ou EA, e incorporar ao novo consenso as forças re-gionalistas de direita e diversos reformismos autonomistas. A nova Espanha plural que Zapa-tero incorpora da proposta de Maragall é a palavra de ordem do novo regeneracionismo autonómico do espanholis-mo consistente em mudar al-gumhas cousas para que todo siga na mesma.

�- As burguesias nacionalistas desejam apenas umha maior

d e s c e n t r a l i -zaçom. Nom querem exercer a autodetermi-naçom. Temem as conseqüên-cias do recon-h e c i m e n t o deste direito na hora de

manter os seus privilégios de classe. O exercício da autodeterminaçom tam só interessa objectivamente às classes trabalhadoras das naçons orimidas, mas também às do Estado opressor.

�- As forças políticas da oposiçom ins-titucional ao governo Fraga, carentes de umha alternativa diferenciada e tan-gível à extrema-direita regionalista, à medida que se aproximam as eleiçons autonómicas, buscam desesperada-mente títulos de imprensa para atingir protagonismo. Aqui devemos situar as propostas do BNG e do PSOE de modificar o Estatuto de Autonomia da Comunidade Autónoma Galega. PSOE e BNG nom questionam a situaçom de dependência da Galiza. Nom reclamam poder exercer a autodeterminaçom nacional. A popostas de Tourinho e Quintana nom som propostas sobera-nistas. Unicamente procuram praticar tunning autonómico. A Espanha plural é umha nítida aposta por negar a liber-dade nacional da Galiza, Catalunha e Euskal Herria. A Espanha plurinacional é umha acomplexada e inconfessa de-fesa do estatus quo dum BNG que leva anos capitulando e buscando a melhor forma de encaixar no regime da mo-narquia borbónica.

�- Umha parte fundamental dos pro-blemas que padece a classe trabalhado-ra galega só se podem resolver exerci-tando a autodeterminaçom. Sem que a Galiza se dote de um Estado próprio, nom podemos construir umha naçom

ao serviço das classes trabalhadoras e sectores populares. Nas naçons sem Estado, a autodeterminaçom é o instrumento para a transformaçom social. @s trabalhadoras e trabalhado-res galeg@s nom podemos deixar-nos seduzir por frases sonoras e ocas pro-messas. Nos vindouros meses, vamos assistir novamente, vamos ver-nos bombardeados por umha bateria de enganos, jogos de artifício, propostas virtuais que tam só procuram os nos-sos votos para que todo siga igual. A unidade de Espanha é a principal arma com que conta a oligarquia para per-petuar e incrementar a exploraçom e dominaçom a que nos vemos sub-metidos como homens e mulheres do mundo do Trabalho. Por muita renda de camarinhas que nos queiram vender o BNG e o PSOE a nossa liberdade e emancipaçom nacional e social de gé-nero nom é possível no actual quadro jurídico-político. A Galiza nom pode ser livre na Espanha. A nossa luita nom se pode cingir ao quadro estatal. E no espaço europeu onde temos que luitar polo reconhecimento dos direitos do Povo Trabalhador Galego.

10- A esquerda independentista galega tem a firme determinaçom de seguir facilitando a construçom de um amplo espaço soberanista galego, -suprapar-tidário, plural e heterogéneo-, em que podamos coincidir quem considera-mos imprescindível, vital e urgente, que a autodeterminaçom nacional seja um dos epicentros da política galega.

Nem Autonomia, nem Constituiçom: Autodete-minaçom.

Decálogo a respeito do debate autonómico

Agosto 2004

2�DOSSIER CENTRAL

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JACOBEU NOM

30DOSSIER CENTRAL

As naçons sem Estado oprimidas polo Estado espanhol enfrentamos um mo-mento fulcral. Após um quartel de século de marasmo e repressom, de promessas incumpridas e de cínicos enganos, após este tempo, voltam a ressurgir os problemas de fundo, his-tóricos, irresolvidos apesar dos anos transcorridos. Os oito anos de gover-no do PP nom figérom mais do que agravá-los ao ponto de que o PSOE, com um oportunismo hipócrita, pudo apresentar-se como o corajoso refor-mador de Espanha. Mas de coragem nada. O governo de Zapatero preten-de refazer o gasto nó com que o dita-dor Franco deixou todo atado e bem atado. Mas os nós afrouxam e soltam-se ou, simplesmente, som desfeitos pola pressom popular. Nada é eterno.

O governo espanhol, consciente de que se lhe amontoam problemas cru-ciais agudizados por um PP corrupto e fascista, começou por tomar medidas mais chamativas e superficiais do que profundas e estruturais. A cacarejada reforma constitucional e autonómica

servirá para virar do avesso a meia e ocultar a sua podrémia fedorenta. Mais nada. No grau actual de crise do Esta-do, é impossível pretender mudá-lo a sério sem o situar à beira da extinçom. É um vetusto edifício que nom admi-te reformas em profundidade porque desabaria sobre os seus alicerces. Por isso, o governo do PSOE advertiu que, primeiro, qualquer adaptaçom será realizada sempre dentro do quadro constitucional, e para melhorar a sua eficácia; segundo, nom será rápida e intensa,

mas lenta e suave; e, terceiro, contará com o visto do PP.A razom é muito simples. Duas das quatro grandes crises que minam Es-panha, o atraso da sua indústria e a periódica resistência das classes tra-balhadoras, estas duas, podem ser re-solvidas com algumha facilidade, tendo em conta a submissa integraçom do sindicalismo reformista ante os custos sociais de ambas crises e a fraqueza

das esquerdas. Mas nom acontece igual nem com a fraqueza estrutural da burguesia espanhola nem com a força reivindicativa das naçons sem Esta-do oprimidas e das culturas regionais com forte personalidade. Estes dous problemas podem mesmo agravar os dous anteriores. Por esta razom, o PSOE age com tento e com tempo, mobilizando as suas bases para que aparentem ser mais autonomistas do que ninguém, sempre com o olhar nas

próximas eleiçons.Mas o governo de Ma-drid sabe que pode contar com o apoio directo e indirecto das burguesias ditas “periféricas” e de boa parte das medianas e pequenas burgue-sias. Trata-se de re-

fazer o chamado “pacto autonómico” de há um quartel de século, que na situaçom actual tem semelhanças com a de aquela altura: hoje, como há vinte e cinco anos, a promessa de “voltar à Europa” funciona como a de “vol-tar à democracia”; hoje, a incerteza económica mundial pressiona a favor dos pactos claudicantes como entom a crise económica; hoje, a ameaça de umha volta do PP é semelhante à de umha “volta dos fachas” de aquela al-tura; e, hoje, a promessa de oficializar as “línguas regionais” é semelhante à legalizaçom das “bandeiras regionais” de entom.

Mas o futuro vai por um outro camin-ho, nom admite já os muros estatais. As naçons sem Estado oprimidas nom queremos continuar numha cadeia re-pintada e, no máximo, com direito a vistas europeias. Nada disso. Avança-mos polos espaços livres da autocons-truçom nacional e social sem esperar em modo nengum os permissos ou ameaças de Madrid. Agimos e pensa-mos em chaves próprias, e a nossa in-

dependênica nom é apenas de palavra, mas de prática, de facto, porquanto damos passos directos em direcçom a ela. O fim é o meio e o meio é o fim. Esta dialéctica é inadmissível polo Estado espanhol.Erra estrategicamente quem acreditar que existe qualquer possibilidade de-mocrática dentro do Estado, tal seria o mesmo que acreditar que o lume nom queima. As necessidades dos nossos povos resolvem-se já num outro es-paço diferente, ainda sobrevivendo a terrível e custosa herança e presen-te repressivos. Umha vez que vários de nós temos parte do território sob dominaçom francesa, isso fai-nos mo-ver numha outra dimensom, que de nengum modo é monoestatal, quer espanhola quer francesa. Um limite in-superável do autonomismo é que pen-sa com as cadeias mentais dos Estados

dominantes. Tem Espanha e França no seu mealheiro e na sua cabeça. Um limite do independentismo de boca para fora é que tem medo dessas ca-deias mentais, e nom só das materiais. Tem Espanha e França na sua cabeça e nas suas sedes.Avançamos por umha outra senda; a partir dos Povos sem Estado construí-mos alternativas e assim fazemo-nos a nós próprios com o nosso próprio pensamento. Ninguém nos vai dizer o pouco que se nos permite fazer ou impor o muito que se nos proíbe fazer. Navegamos sem amarras, com o nos-so barco e com o nosso rumo.

Por todo isso, as organizaçons políti-cas independentistas e socialistas das naçons sem Estado submetidas à do-minaçom do Estado espanhol afirma-mos contundentemente que qualquer possível reforma do Estado espanhol que nom incluir o reconhecimento do direito de autodeterminaçom dos nossos Povos por meio de consultas populares estará abocada ao mais ro-tundo fracasso.

Nom podemos esquecer que a Cons-tituiçom Europeia que se submeterá a referendo no próximo mês de Feve-reiro de 2005 unicamente reconhe-ce como sujeitos políticos de pleno Direito as naçons que disponhem de Estado. Nom se trata, portanto, de reformar o Senado espanhol, nem de garantir a presença dos nossos repre-sentantes nacionais nas delegaçons espanholas. Trata-se de reconhecer a existência das nossas naçons na Euro-pa e de todos os nossos direitos em condiçons de igualdade.

Barcelona 16 de Outubro de 2004

Batasuna [Euskal Herria], NÓS-Unida-de Popular [Galiza], Endavant (OSAN) [Países Catalans]

Pola independência dos Povos numha Europa dos Povos

Outubro 2004

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JACOBEU NOM

31DOSSIER CENTRAL

Nestes dias, assistimos a factos históri-cos na história institucional da Comu-nidade Autónoma Galega. Pola primei-ra vez, e após a derrota eleitoral da direita franquista pró-espanhola, umha organizaçom autoproclamada nacio-nalista galega fai parte de um Governo autónomo de coligaçom com o PSOE, no que tem vindo a ser chamado “al-ternativa progressista e galeguista”. NÓS-UP, que concorreu à cita elei-toral de 19 de Junho com um progra-ma independentista e de esquerda, já exprimiu a sua satisfaçom polo fim da era Fraga, ao tempo que advertiu das limitadas perspectivas que abre a nova etapa.O programa de Governo e a compo-siçom do executivo, juntamente com as primeiras declaraçons e gestos rea-

lizados polos principais gestores da anunciada “mudança” nas últimas se-manas, reafirmam as nossas previsons quanto às estreitas margens previstas polos novos gestores de Rajoi para o avanço na construçom nacional galega com conteúdos realmente progressis-tas.- No programa, porque o excesso de gran-

des palavras vai acompanhado da falta de concreçom, o que as limita a sim-ples fogos de artifício que nom com-prometem quem as escreve. Assim, nom se comprometem medi-das que outorguem poder de decisom ao povo galego, limitando as suas as-piraçons ao “Estado plurinacional” e a

um autonomismo que já demonstrou a sua invia-bilidade para resolver os principais problemas que a Galiza afronta. Tampouco se avança nengumha medida es-tratégica para subver-ter a lógica neolibe-ral, de exploraçom

e precarizaçom absoluta do mercado laboral galego, e que afecta especial-mente as mulheres e a juventude.

Em definitivo, tampouco se propon-hem cauces que nos encaminhem para umha verdadeira democracia partici-pativa, mantendo-se os mesmos me-canismos e receitas de antidemocráti-co funcionamento do sistema actual.Todo anterior fai-nos temer que a chegada de PSOE e BNG ao poder autonómico se limite a umha simples alternáncia que mude as formas e os talantes para que o fundo de injustiça, assimilaçom e exploraçom gerado polo sistema constitucional espanhol de 1978 se mantenha no fundamental, em todo aquilo que realmente impor-ta à classe dirigente espanhola e aos

seus sócios da burguesia espanholista galega. - Na composiçom, porque o sector mais espanholista do PSOE consegue um importante poder de influência no novo Executivo, com o “vazquista” Mendes Romeu à frente da Conselha-ria da Presidência, à qual se adscreve nada menos que a nova Secretaria Ge-ral de Política Lingüística. Também porque o BNG cedeu outros departamentos fulcrais para a defi-niçom de umha política de compro-misso real no plano nacional, como a Conselharia da Educaçom, e também no plano social, como as conselharias da Economia ou da Sanidade.

- Nas declaraçons e os gestos, porque o novo presidente já avançou que “go-vernará para todos”, grande falácia que indica a sua vontade de governar para os de sempre, ao tempo que marca como horizonte para a Galiza limitá-la a ser “umha nacionalidade histórica, umha comunidade nacional compro-metida com o projecto comum dos espanhóis dentro de um Estado demo-crático descentralizado, plurirregional e plurinacional”. Quer dizer, Tourinho, em nome do novo Governo, limita as aspiraçons nacionais galegas a umha vulgar “descentralizaçom”, reafirman-do o compromisso do seu executivo com o projecto nacional espanhol. Nom sai nem um passinho de fora do guiom previsto para a Galiza polo es-panholismo, no mais genuíno espírito do “café para todos”, mas agora com o aval do algum dia rupturista e sobe-ranista BNG.A presença de ministr@s e outros al-tos cargos do Estado espanhol na ceri-mónia de toma de posse de Tourinho, bem como a proliferaçom de bandei-ras espanholas nos actos institucionais já desenvolvidos, confirmam um ce-nário que nem no programa, nem nas declaraçons, nem na iconografia, rom-pe com a linha espanholista anterior.Pola nossa parte, NÓS-Unidade Po-pular sabe que o novo Executivo nom assume um programa rupturista nem menos ainda revolucionário. Nom é a nossa intençom, portanto, pedir peras ao olmeiro, senom unicamente exigir um mínimo de compromisso na trans-formaçom real do País nos parámetros social e nacional.

Por isso, a esquerda independentista por nós representada está firmemente decidida a exercer a oposiçom con-seqüente que a nova situaçom exige. Umha oposiçom soberanista, socia-lista e feminista que acompanhe cada acçom de governo denunciando as medidas lesivas para o nosso povo tra-balhador e apoiando sem reservas, se houver ocasiom, sem o mais mínimo sectarismo, cada decisom favorável aos interesses da maioria social gale-ga.Com esse objectivo, a nossa organi-zaçom apresentará ante o nosso povo, nas próximas semanas, um documen-to de mínimos que inclua as principais reivindicaçons ao novo Governo au-tonómico, e que sirva de referência para a oposiçom independentista, de esquerda e feminista que NÓS-UP exercerá de maneira firme nas ruas da nossa naçom.

NÓS-Unidade Popular perante a investidura de Peres Tourinho e a formaçom do novo Governo autonómico

Julho 2005

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JACOBEU NOM

32DOSSIER CENTRAL

Trinta anos depois da morte de Fran-co, o nosso país permanece inçado de simbologia fascista. Centenas de placas, escudos, e diversos monumen-tos em forma de estátuas, monólitos e bustos continuam presentes nas ruas, praças, edifícios, e nos mais variados espaços públicos, privados, e religio-sos.

Esta ignominiosa situaçom é con-seqüência do vergonhoso acordo político que reformou o franquismo na actual “democracia espanhola”, a denominada Transiçom, fazendo tábua rasa do passado, ocultando os crimes e responsáveis pola ditadura fascista que padeceu a Galiza entre 1939-1976, condenando ao esquecimento as dezenas de milhares de homens e mulheres que morrêrom, sofrêrom repressom, represálias, exílio, por de-fenderem a liberdade e a democracia.

A presença de simbologia fascista pom de manifesto o lamentável estado de saúde da democracia espanhola. Per-

mitir a sua presença é equiparável a que nas ruas da Alemanha, Por-tugal ou Itália, Hitler, Salazar e Mussolini contassem a dia de hoje com monumen-tos. A continuidade destes vestígios é um

insulto, umha humilhaçom às vítimas e às suas famílias.

Mas também é umha ilegalidade, um flagrante incumprimento dos acordos adoptados polas instituiçons espanho-las. A Lei 33/1981 publicada no BOE de 19 de Outubro obrigou a substituir o escudo franquista polo constitucio-nal. Posteriormente, a 19 de Dez-embro desse mesmo ano, o Decreto 2964/1981 instou novamente a retirar o escudo da ditadura. Porém, este símbolo continua ainda presente em cámaras municipais, edifícios oficiais, quartéis, esquadras policiais, etc.

A Comissom de Administraçons Públi-cas do Congresso dos Deputados de Espanha aprovou a 3 de Novembro de 2004 umha Proposta nom-de-Lei pola qual se insta a impulsionar as “medidas necessárias para favorecer a desapa-

riçom de símbolos inconstitucionais”. Previamente, o XXXVI Congresso do PSOE aprovou a 3 de Julho de 2004 umha resoluçom exigindo aos seus presidentes da Cámara a retirada da simbologia franquista.

Mas, na Galiza de Novembro de 2005, as instituiçons e os partidos institucio-

nais fam ouvidos moucos a estes acor-dos. A Corunha, com um presidente da cámara socialista, é a cidade galega com mais símbolos franquistas. Mas também noutros grandes concelhos governados polo PSOE-BNG conti-nuam presentes todo o tipo de home-nagens à ditadura e aos seus crimino-sos protagonistas.

Perante este estado de cousas, NÓS-UP acaba de apresentar novamente moçom municipal em diversos con-celhos, e enviar umha carta ao Presi-dente e Vice-Presidente da Junta da Galiza, e à Conselharia da Presidência, requerendo a imediata retirada desta simbologia.

Levamos anos denunciando esta grave situaçom perante a passividade insti-tucional. Por higiene, justiça e digni-dade democrática, levamos excessivo

tempo, tal como outros sectores de-mocráticos, retirando símbolos e ac-tuando contra eles. Seis lustros após a morte de Franco, a continuidade do seu imaginário é umha provocaçom que a esquerda independentista nom está disposta a continuar aturando.

Simbologia fascista fora da Galiza: Higiene, justiça e dignidade democrática

Novembro 2005

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re-

33DOSSIER CENTRAL

A Europa do Capital, que a esquer-da independentista denunciou na campanha polo Nom à Constituiçom Europeia há agora um ano, está pre-parando umha nova ofensiva contra a classe trabalhadora a escala de toda a Uniom Europeia.

As medidas em curso procuram fle-xibilizar e desregularizar ainda mais o mercado laboral, alargar a jornada de trabalho e privatizar os sectores públicos que ainda permanecem sob titularidade estatal. Estas receitas pró-prias do neoliberalismo mais duro e intransigente tenhem como objecti-vo procurar endurecer ainda mais as condiçons de trabalho, a exploraçom que padecemos as trabalhadoras e tra-balhadores, para alargar ainda mais a taxa de ganho e os privilégios do bur-guesia.

O Capital vê necessário seguir en-fraquecendo a resistência obreira, e que melhor que permitir a instalaçom de empresas de qualquer estado da Uniom noutro estado aplicando as legislaçons laborais, fiscais, ambientais do estado de origem. Desta forma, empresas de estados c o m

condiçons mais duras do que as nos-sas: salários mais baixos, menores direitos laborais, etc, poderám esta-belecer-se aplicando a sua legislaçom. Empresas da Polónia, Lituánia, Grécia ou Portugal poderám, segundo a Di-rectiva Bolkestein, instalar-se na Galiza aplicando as suas condiçons laborais, a dia de hoje claramente inferiores às nossas. Assim, dividem e enfrentam a classe obreira enfraquecendo a nossa capacidade de resistência e luita.

É esta a Europa social que prometia a propaganda polo Sim à Constituiçom Europeia?É este o modelo de Europa solidária e social da que falam Zapatero e Tourin-ho?É esta a Europa que um sector do BNG “criticou” com a boca pequena recomendado um acomplexado e tí-mido Nom?

É evidente que as razons contra a Constituiçom Europeia defendidas por NÓS-UP e o conjunto da esquer-da independentista nom eram fanta-sias radicais, estám sendo plasmadas polo Capital.

A carência de soberania da Galiza, a ausência de um Estado próprio, enfraquece muito mais a nossa capa-cidade como classe para fazer frente às novas medidas que pretendem aplicar

a UE. Sem independência nacional, o povo trabalhador galego nom pode-rá construir o modelo social socialis-ta que deixe atrás as cada vez piores condiçons de vida a que nos condena o capitalismo.

Mas a nova ofensiva nom se reduz às decisons adoptadas em Bruxelas. O governo espanhol está preparando umha nova reforma laboral para em-baratecer o despedimento, potencia-lizar os contratos lixo, incrementar o financiamento dos empresários, pro-mocionar as ETT´s, e privatizar ser-viços públicos. Para o sucesso deste objectivo, conta com o apoio do sindi-calismo corrupto e burocratizado.

Mas também a actual Junta da Galiza mantém umha política económica se-melhante à etapa do PP. Até o momen-to, nom adoptou nem umha só medida de choque para paliar o desemprego, reduzir a precariedade laboral, frear a emigraçom juvenil, reduzir os aciden-tes laborais,... todo, seis meses depois, continua na mesma.

É urgente voltar a sair à rua, explicar nos centros de trabalho em que con-siste a escala europeia, estatal e nacio-nal, os novos planos do Capital, quais som as medidas que estám a preparar contra nós, adoptar todas as formas de pressom oportunas contra o Governo espanhol e a Junta. Porque seguir depositando confiança e expectativas no governo de Zapatero, ou em Tourinho-Quintana, nom deixa

de ser a dia de hoje mais do que umha superstiçom.

A classe trabalhadora nom pode de-legar sobre os políticos do sistema a soluçom dos nossos problemas, a mel-horia das nossas condiçons de trabal-ho e de vida. Eles governam para as grandes empresas e as grandes fortu-nas. Incrementam os seus milionários salários à nossa custa.

Só a organizaçom, a luita e a mobili-zaçom obreira e popular poderám evi-tar mas retrocessos, mais derrotas.

Unidade e luita obreira contra as novas medidas do Capital: Nem Directiva Bolkestein, nem nova reforma laboral

Fevereiro 200�

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análise

análise

reportagem

JACOBEU NOM

O Dia da Pátria deste ano tem lugar numha conjuntura política caracteri-zada polos primeiros sintomas da de-cepçom popular perante o continuís-mo do Governo PSOE-BNG na Junta da Galiza, pola encenaçom da fraude que pretendem impor-nos com o de-bate dos novos Estatutos, e pola nova agressom contra a classe trabalhadora que supom a reforma laboral pactuada polo Governo de Zapatero, o corrupto sindicalismo espanhol e o patronato. Há agora pouco mais dum ano, o fra-guismo era derrotado eleitoralmente. Umha boa parte d@s trabalhadores/as, da juventude e das mulheres que parti-ciparam activamente nas grandes luitas desenvolvidas neste primeiro quinqué-nio do século XXI (greves gerais, LOU, guerra imperialista, Prestige) optaram por emprestar o seu apoio eleitoral às duas grandes forças da oposiçom institucional, possibilitando deste jeito umha ajustada vitória sobre o PP.

Porém, este primeiro ano de governo progressista e galeguista nom adoptou, -tal como prognosticara a esquerda independentista-, a nova política que prometera e que demandava umha boa parte do eleitorado.Na Comunidade Autónoma, PSOE e

BNG dedicárom-se a negociar, pactuar e encenar essa monumental fraude política que supom a reforma do ac-tual Estatuto de 1981, para facilitar o encaixe do nosso país na imprescindí-vel reestruturaçom do Estado espan-hol perante as cada vez mais amplas demandas de liberdade dos povos que oprime. Agora só necessitam conven-cer o PP das bondades do vergonhoso rascunho que define metafisicamente ao nosso país como um simples “ca-rácter nacional”.Nos territórios nacionais sob admi-

nistraçom asturiana e castelo-leonesa, -no Návia-Eu, Berzo, Cabreira e Se-abra-, o bipartidismo espanhol preten-de, com as modificaçons dos actuais respectivos estatutos, perpetuar a divisom territorial da Galiza e seguir esmagando a identidade galega hege-mónica em muitas dessas comarcas.

O debate estatutário que as três forças do regime (PSOE, PP e BNG) preten-dem impor nega o direito de autode-terminaçom ao povo galego e nega a Galiza como único sujeito e ámbito soberano de decisom. Perante esta situaçom, é imprescindível reforçar os espaços plurais de confluên-cia em defesa e demanda dos direitos nacionais da Galiza. Por este motivo, NÓS-UP saúda e apoia a mobilizaçom convocada polas Bases Democráticas Galegas contra os Estatu-tos e em prol da autodeterminaçom da Galiza. Consideramos que esta iniciati-va social, tal como a posiçom da CIG a respeito do debate estatutário, abrem o caminho a percorrer polo conjunto das forças, colectivos e pessoas que a partir da esquerda defendemos a liber-dade e a soberania da Galiza.

A nova reforma laboral que flexibiliza,

precariza e desregulariza ainda mais o mercado laboral, facilitando o des-pedimento, potencializando as ETT´s e concedendo mais isençons e facili-dades fiscais à burguesia, foi preme-ditadamente ocultada. O debate das reformas estatutárias também contri-buiu para ensombrar os termos desta nova agressom contra a classe trabal-hadora.Mas ambas iniciativas estám interli-gadas: sem soberania, nom é posivel defender plenamente os interesses de classe, e somos as classes populares que padecemos directamente sobre as nossas condiçons materiais a opres-som nacional da Galiza polo Estado imperialista espanhol.

Embora consideremos prioritário re-clamarmos o direito de autodetermi-naçom, como organizaçom política de massas do MLNG, defendemos a posiçom estratégica da Independên-cia, -construir um Estado galego ao serviço exclusivo do povo trabalhador, e o Socialismo, umha sociedade galega alicerçada na justiça social.

Nem estatutos, nem reforma laboralIndependência e Socialismo

Julho 200�

34DOSSIER CENTRAL

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JACOBEU NOM

35DOSSIER CENTRAL

Mais um ano, arde o país polo fogo florestal, mas nesta ocasiom nom po-demos dizer que polos quatro pontos cardeais. Chama a atençom que os in-cendiários estejam a concentrar a sua actividade terrorista no sul-oeste do território nacional, das Rias Baixas às serras costeiras, nas zonas mais den-samente povoadas, onde os lumes som percebidos de jeito directo por mais de metade da populaçom do País. Também é salientável a vaga incendiá-ria concentrada na capital e na sua co-marca.

Estes dados objectivos levam a pensar que os incendiários procuram que a sensaçom de caos chegue directamen-te à maioría da populaçom. Mas nom só se procura gerar alarme e pánico.

Os interesses especulativos que pre-tendem marbelhizar umha boa parte da costa galega, assim como comarcas inteiras como a da Maía, nas proximi-dades de Compostela, estám por trás da maior vaga incendiária que padece a Galiza nos último quarenta anos.

O lume florestal é utilizado para arra-sar com a massa florestal e com todo o tipo de terrenos rústicos, com o fim de facilitar a construçom desaforada que define o urbanismo na Galiza. A mor-na legislaçom da “Lei de Montes” nom só permite estas práticas, senom que o seu incumprimento pola maioria das Cámaras Municipais facilita que, todos os anos, umha boa parte da superfí-cie florestal galega passe a ser cinza para depois levantar prédios e urbani-zaçons.

Mas, se aqui radica a principal causa da queima do monte, esta nom é unívoca. Sem dúvida, a política tendente a mu-dar as práticas caciquistas e clientelares de muitos concelhos na contrataçom do pessoal das quadrilhas pola sua ges-tom centralizada a nível autonómico, sementou ressentimento entre tantos “estômagos agradecidos”. Algumha detençom nos últimos dias aponta nes-te sentido.

De resto, o problema responde a causas estruturais que pouco ou nada mudá-rom. Em primeiro lugar, a política flores-tal de culto ao cultivo florestal-in-dustrial

curto-prazista, iniciada com a expro-priaçom dos montes comunais durante o franquismo, e continuada na era Fraga, é apoiada polos oligopólios da madeira triturada e a celulose (ENCE, TAFISA, FIMSA), e impulsionada polo círculo de influência do PP (Jovens Agriculto-res, Silvanus, Associaçom Florestal da Galiza), e do PSOE (AFRIFOGA), que insiste na confusom interessada entre bosque e massa florestal. Pois enquan-to o primeiro nom deixa de diminuir, a segunda nom deixa de aumentar em

forma de monocultivos de espécies alóctones (pinheiros e eucaliptos), que ocupam os agros onde esmorece a acti-vidade agrícola.

O novo governo au-tonómico carece de valentia para desafiar

os interesses dos grupos económicos que obtenhem a madeira a baixíssimo preço e cujos porta-vozes aparecem nos média laiando-se cinicamente des-ta “lacra”.

As políticas das Conselharias atin-gidas seguem a estar influídas por concepçons que nom questionam o modelo herdado. Assim, há poucos meses, anunciavam-se subsídios às repovoaçons de pinheiros, e exigia-se a “limpeza” do mato, medida tam difícil como custosa e indesejável, de nefastas conseqüências ecológicas, fruto dumha anacrónica focagem que pretende substituir o aproveitamento integral do monte no passado, e dar saída à massa orgánica “sobrante”,

num cenário completamente distinto, onde a populaçom rural vive em gran-de parte alheia e desligada do meio, e desordenadamente estabelecida, com massas arbóreas plantadas arredor das casas e casas “plantadas” no meio de massas arvóreas. As soluçons a este grave problema ecológico e socioeconómico que arrasta a Galiza desde há mais de três décadas som de carácter estrutural: passam por umha nova política integral que recupere o rural, viabilizando-o económica e socialmente, que modi-fique radicalmente a política florestal imposta polo grande capital. Porém, é necessário fazer frente agora e aqui à destruiçom planificada do monte.

O actual governo bipartito PSOE-BNG tem responsabilidades directas no actual desastre que padece a Gali-

za, com mais de cem incêndios diários, que já provocárom três mortes, a des-truiçom de mais de 25.000 hectares, a angústia e o terror em milhares de famílias que vem ameaçaads as suas vivendas e propriedades, o corte de estradas, caminhos de ferro e outras vias de comunicaçom.

O País continua sem meios terres-tres e aéreos suficientes para paliar a acçom dos incendiários. Sem recursos profissionalizados para combater o fogo. A improvisaçom e carência de meios, e sobretodo a continuaçom da estratégia aplicada polo PP nos 15 anos de fraguismo, dam como resulta-do a actual catástrofe.

NÓS-UP solicita responsabilidades di-rectas, pola actual situaçom que vive umha boa parte da populaçom galega, ao governo de Tourinho-Quintana, que se move entre o vitimismo e a resig-naçom paralisante de Soares Canal e o triunfalismo de Tourinho, que afirma que todo está sob controlo.

Há que agir com firmeza e determi-naçom, sem negar as evidêncais que todo o mundo sabe e conhece.

NÓS-UP apela à movimentaçom social para denunciar e pressionar às autorida-des autonómicas na mudança radical de políticas que perpetuam a destruiçom dos nossos montes, e a adopçom de medidas excepcionais para cortar de raíz a vaga de incêndios.

NÓS-UP perante a catástrofe ecológica que padece Galiza polos incêndios florestais

Agosto 200�

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JACOBEU NOM

3�DOSSIER CENTRAL

Depois de meses de reunions a várias bandas, comissons parlamentares, de-claraçons e polémicas tam pomposas como carentes de conteúdos alterna-tivos reais, as forças políticas repre-sentadas no Parlamento autonómico galego tivérom que vir a reconhecer, nesta mesma semana, o seu fracasso na tentativa de acordarem um novo Estatuto de Autonomia. Um facto que nom por previsível deixa de ter a sua importáncia, merecendo as seguintes consideraçons por parte de NÓS-Uni-dade Popular:

1. Nestes longos meses, a maioria do nosso povo assistiu ao paroxismo da política-espectáculo, aos jogos mala-bares dos três principais actores políti-cos da autonomia para acordarem um novo texto que, dando continuidade à dependência da Galiza, aparentasse representar um avanço na posiçom que o nosso país ocupa no cenário de poder institucional espanhol. É eviden-te que os particularismos e interesses imediatos de cada força impedírom

um acordo de consenso, questionan-do a suposta “importáncia” de um estatuto continuísta para os interesses da Galiza.

2. Assim, com o passar dos meses, vimos como o BNG foi esquecen-do a sua

proposta quase-soberanista de Dez-embro de 2005, até ficar reduzida ao nada. Conformando-se com algumhas novas competências, a cessom de mais dinheiro do Estado e umha referência inócua ao carácter nacional da Galiza no Preámbulo do novo texto, o BNG procurou o apoio do espanholismo

mais “moderado” do PSOE, mas nem assim conseguiu que o PP facilitasse o que Tourinho e Quintana apresenta-riam como vitória com umhas eleiçons municipais às portas.

3. A vaza da direita es-panhola, representada por Feijó, após ter con-seguido um inaudito entreguismo do BNG e todas as atençons do PSOE de Tourinho, continua a ser armar-se em defensor de umhas essências his-

panas que, na verdade, nengumha das três forças parlamentares pom em ris-co, mas que entra na lógica da aposta estratégica do PP a nível estatal.

De facto, o puro jogo pré-eleitoral e o pior partidarismo, postos em cena de costas à maioria social, substituírom nestes meses o que deveria ter sido um debate amplo, aberto e sem res-triçons sobre os direitos que assistem ao nosso povo para decidir sobre o seu futuro em relaçom aos povos vizinhos e ao seu estatuto jurídico-político, e sobretodo em relaçom à imprescindí-vel posta em prática desses direitos.

4. Apesar do anterior, os sectores sociais galegos ainda comprometidos com posiçons soberanistas sabem que, durante os últimos dous anos, NÓS-Unidade Popular e a esquerda independentista no seu conjunto apre-sentou análises, propostas e iniciativas políticas construtivas frente ao limita-do e antidemocrático processo de re-formas promovido polas forças institu-

cionais. Denunciamos também a nossa exclusom da Comissom Parlamentar, ao mesmo tempo que apoiamos o cri-tério exposto polo sindicalismo nacio-nal e de classe nesse foro, coincidindo na reivindicaçom do reconhecimen-to do direito de autodeterminaçom como chave para qualquer verdadeiro avanço democrático e de futuro para a Galiza.

Afirmamos, em definitivo, que a far-sa da reforma em curso tinha pouco a ver com os verdadeiros interesses da maioria social, estando verdadei-ramente ao serviço da estabilidade

institucional do modelo imposto polo Estado espanhol em 1978 e nom dos nossos direitos nacionais nem dos in-teresses de classe da maioria social galega.

5. Se para algo servírom estes meses de ficçom institucional, foi para que o BNG reafirmasse nom só a sua pro-gressiva direitizaçom, mas também a sua imparável deriva autonomista e contrária à soberania nacional galega. Também para que, na mesma medi-da, se tenha reafirmado a necessidade objectiva de que os diversos sectores soberanistas e de esquerda demos passos na articulaçom de umha força verdadeiramente significativa e com projecçom social que afronte as pre-mentes necessidades do povo trabal-hador galego com base no exercício dos nossos direitos nacionais e de classe.

�. Como conclusom a este gora-do processo de reforma estatutária, NÓS-Unidade Popular fai um apelo à

reflexom de todos os sectores verdei-ramente comprometidos com o futuro da Galiza e do seu povo trabalhador, para avançarmos na superaçom de toda ilusom reformista e autonomista; para unirmos forças na luita por umha Galiza socialista, nacionalmente eman-cipada e livre da opressom patriarcal.

Em tam ineludível tarefa, o nosso povo poderá contar sempre com as modes-tas forças e o compromisso inabalável de NÓS-Unidade Popular.

Direcçom Nacional de NÓS-Unidade Popular

NÓS-Unidade Popular perante a fracassada farsa da reforma estatutária

Janeiro 200�

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JACOBEU NOM

3�DOSSIER CENTRAL

Todos e todas à rua contra a des-truiçom do território por parte do capitalismo espanhol

Pensar globalmente, agir localmente. Máxima do ambientalismo de clarís-sima aplicaçom na manifestaçom que nos levará novamente às ruas da ca-pital da Galiza no dia 17 de Fevereiro, convocad@s pola plataforma Galiza nom se Vende, dentro de umha maré de autoorganizaçom popular que cres-ce nos últimos meses um pouco por toda a Galiza:

- No interior, em defesa do patrimonio natural e cultural do Courel, perante a cumplicidade entre as empresas pre-dadoras da minaria e a servil Consel-haria da Indústria, disposta a legalizar a destruiçom da serra courelá.

- Na costa, contra a extensom irra-cional de urbanizaçons, campos de golfe, portos desportivos, etc, sempre

ao serviço das elites turísticas, num modelo de país que renuncia a um desenvolvimento sustentável e auto-centrado, em favor de umha Galiza convertida em ‘parque temático’.

- Também na costa, com um plano de acuicultura que ameaça as zonas mel-hor conservadas da nossa geografia litoral, graças à permissividade da Ad-ministraçom autonómica de Tourinho, Quintana e companhia.

- No norte, com indústrias poluentes e perigosas como a central regasifica-dora de REGANOSA, contestada polo movimento popular trasanquês, e

imposto polos três par-tidos parlamentares a coro: PP, PSOE e BNG; ou como a celulose de Ponte Vedra, que ago-ra querem levar para as Pontes, como se o que nom serve numha cidade galega pudes-se servir noutra.

- Em toda a Galiza, com a aprovaçom de PGOM ao serviço das construto-ras e dos especuladores que finan-ciam os partidos ‘de ordem’, e nom das populaçons que precisam de mais serviços públicos e zonas verdes que humanizem as nossas cidades e vilas.

- Também em toda a Galiza, com um modelo de transporte incompatível com o desenvolvimento sustentável do nosso país e do nossso plane-ta, baseado no carro particular e no agressivo TAV, em lugar de numha rede de caminhos de ferro ágil que li-gue internamente a Galiza com umhas condiçons e uns tempos dignos.

Todas essas agressons, e outras, es-tám a ter resposta de movimentos sociais nascidos espontanemanente da indignaçom popular e da com-provaçom de que tanto o PP como o PSOE e o BNG estám no poder para algo mui concreto, que nada tem a

ver com os interesses da maioria so-cial galega. Eles som só os gestores da minoria poderosa, da classe dirigente capitalista galego-espanhola, que ten-hem os seus rendimentos económi-cos como único referente na hora de lançar projectos empresariais e inicia-tivas especulativas cada dia.

Esses especuladores e empresários financiam os partidos maioritários e por isso o BNG serve a Tojeiro e Reganosa em Mugardos; por isso o PSOE defende os interesses de Pes-

canova e Stolt Sea Farm, mentindo sobre um suposto “impacto zero” das centrais acuícolas; por isso, em defini-tivo, o PP, o PSOE e o BNG aprovam Planos urbanísticos que convertem as nossas cidades e vilas em ‘monopolis’ das grandes construtoras.

É umha boa notícia que o nosso povo, que os galegos e as galegas nos orga-nizemos para fazer frente ao conti-nuísmo do PP representado na actual Junta da Galiza. Porém, é necessário nom só agir localmente, mas pensar globalmente nas causas da predaçom em massa do nosso território. Som os interesses financeiros do capitalismo promovido polo Estado espanhol no nosso país que possibilitam essas po-líticas clonadas que a maioria padece-mos. É, portanto, necessário aumen-tar o nosso grau de organizaçom e de consciência sobre a necessidade de emancipar o nosso país do domínio espanhol e capitalista.

É necessário ir além dos conflitos concretos e construir umha alterna-tiva social e política que aposte na derrota do neoliberalismo capitalista e que ponha a maioria social galega à frente do nosso país. É imprescindível avançarmos unitariamente, como este 17 de Fevereiro, até derrotarmos o nosso inimigo de classe, a burguesia, e até conseguirmos que o nosso povo exerça o seu legítimo direito de auto-determinaçom.

No caminho, cada luita das acima re-feridas será decisiva para ganharmos forças e confiança para as luitas que vam vir.

Ali onde a esquerda independentis-ta representada por NÓS-Unidade Popular estiver presente, apostará claramente em dinamicas como a descrita, sem nos deixarmos enganar polas falsas alternáncias eleitorais, até conquistarmos um novo desenvolvi-mento, de tipo socialista, num país soberano e livre, onde o povo seja o que mais ordena.

Contra a destruiçom do território!

Avante a luita nacional e de classe por umha Galiza sustentável!

Avante a luita pola independência na-cional e o socialismo!

3 anos de continuísmo: PP-PSOE-BNG a mesma merda é

Fevereiro 200�

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análise

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JACOBEU NOM

O Dia da Classe Obreira Galega é marcado neste ano polo reconheci-mento mais ou menos explícito, por parte dos porta-vozes da classe do-minante, do período de crise mundial que atravessa o capitalismo, como de facto sempre aconteceu de maneira cíclica.

No Estado espanhol, os sucessivos governos do PP e do PSOE tenhem mantido inalterado o rumo neoliberal da economia, garantindo aumentos sistemáticos na taxa de lucro das gran-des empresas e entidades financeiras, enquanto umha crescente precarieda-de vinha definindo o mercado laboral.

A Galiza, historicamente submetida a umha dependência crónica das direc-trizes e critérios económicos da classe dirigente espanhola, através do cola-boracionismo de umha burguesia ga-lega vendida, tem tido em todos estes anos os piores parámetros em empre-go, estabilidade, segurança, igualdade de condiçons entre trabalhadores e trabalhadoras e acesso da juventude ao mercado laboral.

E, como nom podia ser de outro jei-to, a crise mundial actual, cada vez mais patente no Estado espanhol, só acentua as tendências já existentes no nosso país, Galiza, o que fica sobreto-do em evidência polos altos índices da carestia da vida (os piores da última década), que em todos os períodos de crise ponhem de manifesto o alcance da mesma.

O acesso a umha vivenda digna con-vertido num luxo ao alcance de uns poucos, a permanente discriminaçom das mulheres, as condiçons draconia-nas que a juventude trabalhadora en-frenta para se incorporar ao mundo laboral, som alguns indicadores claros de aonde leva o modelo neoliberal que defendem e aplicam todos os partidos institucionais na Galiza: o PP, o PSOE, o BNG e IU.

Enquanto os salários continuam a ser ‘contidos’ em favor dos interesses pa-tronais, mais umha vez é a classe obrei-ra que assume os custos da crise de um sistema que nom nos representa, que só enriquece os patrons e condena a maio-

ria social à precariedade permanente, com jornadas de trabalho intermi-náveis e direitos sociais e laborais mais e mais reduzidos.

De NÓS-Unidade Popular temos cla-ro que a única saída para a crise é a au-toorganizaçom obreira e popular, para enfrentar de maneira unitária as polí-ticas neoliberais, respondendo a cada agressom com mais autoorganizaçom e mais luita. Luita sindical e política, à margem de qualquer dependência dos centros de poder do sistema, tanto dos patronais como dos partidários.

É, por isso, preocupante comprovar como alguns dos responsáveis pola orientaçom da política económica e social na Galiza, nada menos que de-putados de um dos grupos governan-tes na Galiza, o BNG, participam em manifestaçons convocadas polo sin-dicalismo nacionalista, como se nada tivessem a ver com a situaçom de pre-cariedade e exploraçom que o nosso povo trabalhador padece.

É preocupante o grau de dependência de umha parte da dirigência sindical em relaçom a directrizes partidárias alheias aos interesses da nossa classe e à imensa maioria dos filiados e filiadas da nossa central sindical.

Para nós, e para a mairoia dos trabalha-dores e das trabalhadoras, a luita por converter o sindicalismo nacional na primeira força da classe obreira galega deve incluir a luita contra qualquer su-

bordinaçom dos interes-ses do povo trabalhador aos interesses particu-lares de qualquer força política, junto a umha atitude abertamente combativa e partici-pativa, dando todo o protagonismo às bases sindicais frente

a qualquer tentaçom burocrática ou dirigista.

Por outra parte, nom queremos deixar de assinalar como na convocatória deste ano o Estado espanhol exerce de autêntico provocador frente ao povo trabalhador galego e, especial-mente, de Ferrol, ao levar a Família Real em pleno à mesma cidade em que a polícia franquista assassinou dous operários na greve de 1972. O rei no-meado por Franco virá precisamente na comemoraçom dessa data para in-sultar a memória da nossa classe e do nosso povo, daí que, se sempre é mal recebida a presença de Juan Carlos de Bourbon no nosso país, desta vez seja especialmente repudiável a sua chegada a Ferrol precisamente no Dia da Classe Operária Galega para botar um barco de guerra nos estaleiros da cidade galega.

Além do rechaço à presença do che-fe do Estado espanhol, a militáncia da

esquerda independentista, como par-te das bases sindicais nacionais e de classe, aproveitará este 10 de Março para reivindicar mais umha vez a uni-dade contra as políticas anti-obreiras de quais quer governos, sejam quais forem as siglas que os sustentem.

Existem exemplos exemplares de lui-tas que nos marcam o caminho: o te-lemarketing em Vigo e na Corunha e o naval do sul da Galiza som só dous exemplos claros, mas a crise vai au-mentar nos próximos meses e a classe dominante vai fazê-la recair n@s de sempre. Novas luitas virám: enfrenta-mo-las com unidade e independência de Classe.

Viva a Classe Obreira Galega!

Viva Galiza Ceive, Socialista e nom pa-triarcal!

10 de Março: defendamos os direitos sociolaborais e a independência da nossa classe

Março 200�

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JACOBEU NOM

3�DOSSIER CENTRAL

O Dia da Pátria de 2008 coincide com o terceiro aniversário do gover-no PSOE-BNG na Junta da Galiza. O balanço destes mais de 1.000 dias de gestom do bipartido é desolador. Nengumha das raquíticas promessas do acordo de governo foi aplicada. A política económica, sociolaboral, cul-tural, ambiental, identitária do tandem Tourinho-Quintana é simplesmente continuísta à da era Fraga. As expectativas depositadas por am-plos sectores sociais ficárom em sim-ples águas de bacalhau. A mudança tranquila nom passou de umha mera palavra de ordem que só beneficia a corrupta casta burocrática e funciona-rial que aplica a patir de Sam Caetano e das fundaçons privadas políticas neo-liberais e regionalistas.O governinho PSOE-BNG tem cum-

prido exclusivamente com os desejos e as necessidades dos donos deste país, satisfazendo Madrid e Bruxelas, as mul-tinacionais e o grande Capital, supedi-tando-se obedientemente ao quadro constitucional e autonómico imposto polo franquismo. Três anos perdidos, pois, na construçom nacional da Ga-liza.

Mas este 25 de Julho também tem lu-gar numha conjuntura adversa e difícil para a imensa maioria social que con-formamos a Naçom Galega. A grave crise económica do capitalismo está a golpear com força nas condiçons de trabalho e de vida da classe trabalha-

dora. O desemprego aumenta, os salários es-tám congelados, a pre-cariedade laboral segue imparáveis tendências alcistas, a pobreza e a exclusom social cresce, a emigraçom é um fenómeno em alta, enquanto se in-

crementa a inflaçom e os preços dos alimentos de consumo básico, a elec-tricidade, os combustíveis, as hipote-cas nom deixam de subir.Nem o governo espanhol nem o seu apêndice na Comunidade Autónoma adoptam medidas de choque tenden-tes a paliar os efeitos da crise sobre a maioria social, optando por manter políticas neoliberais que fam recair so-bre a classe trabalhadora, basicamente sobre aqueles sectores mais fracos da mesma, -a juventude, pensionistas, mulheres e imigrantes, as suas funes-tas consequências. Mas, enquanto isto sucede, os bancos, as companhias seguradoras, as grandes empresas, o grande capital consegue aumentar a sua obscena taxa de ganho.

É necessário avançar na configuraçom

de um amplo movimento social de protesto para fazer frente à insanciável voracidade da burguesia, para defen-der os nossos direitos laborais e as nossas condiçons de vida. A classe tra-balhadora galega tem que responder com contundência e de forma maciça à crise que nos querem fazer pagar. Há que caminhar face umha greve geral.

As épocas de crise, de ausência de ex-pectativas, de falta de horizontes, de desencanto e ansiedade, som as mais proclives para projectar colectivamen-te em causas alheias as frustraçons indi-viduais. Enganam-se aqueles e aquelas compatriotas que, abraçando bandei-

ras foráneas, fundindo-se em alegria com as cores do fascismo e do impe-rialismo espanhol, coincidindo com os responsáveis pola sua frustraçom em celebraçons promovidas polo regime, vam encontrar o caminho para sair do buraco ao que nos condena Espanha e o Capital.A luita é a única via para recuperarmos o nível de vida perdido, as condiçons de trabalho arrebatadas, o orgulho de sermos galeg@s, a alegria que nos rou-bárom. Isto na Galiza está represen-tado pola nossa bandeira, a das cores branca, azul e vermelha.

A esquerda independentista e socialis-ta galega articulada à volta de NÓS-UP apela para que o conjunto da classe trabalhadora da Galiza secunde a mo-bilizaçom pola Soberania Nacional que

convoca a entidade autodeterminista Causa Galiza o 25 de Julho às 13.30 horas na Alameda de Compostela.

Que os ricos paguem a crise!

Contra o Estatuto e a Constituiçom, adiante a luita pola autodetermi-naçom!

PP, PSOE, BNG a mesma merda é!

Viva Galiza livre, socialista e nom pa-triarcal!

25-J Dia da Pátria: Galiza é a nossa Naçom; obreira a nossa classe. Branco, azul e vermelho as cores da nossa bandeira

Julho 200�

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JACOBEU NOM

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Tempos de crise para a imensa maioria socialTodos os índices socioeconómicos som claramente alarmantes. Os letais efei-tos da crise estrutural capitalista estám golpeando com força as condiçons la-borais e de vida da classe trabalhadora e dos sectores populares galegos. A realidade é tam diáfana que o regi-me já nom se esforça em negá-la. Dúzias de empresas estám a fechar ou a reduzir quadros de pessoal, aplican-do eufemisticamente EREs; o desem-prego bate recordes; a congelaçom dos salários e a queda do consumo evidência as dificuldades do presente para o povo trabalhador; mulheres, ju-ventude e pensionistas som os sectores mais afectados; a pobreza e a exclu-som social atinge níveis já esquecidos; o dramático êxodo que nos acom-panhou inexoravelmente nos mais recentes capítulos históricos adopta agora a forma de emigraçom maciça entre a juventude com formaçom académica e técnica numha autêntica fuga de cérebros; a precariedade e o incumprimento generalizado da legis-laçom laboral na contrataçom está a converter-se em norma; a submissom e a obediência laboral que provoca o medo vai acompanhada polo endure-cimento das condiçons de trabalho; o patriarcado avança sem complexos; a alienaçom embrutecedora dificulta or-ganizar a resistência. Som tempos de crise e turbulências. Duros, cinzentos e tristes. A incerteza e o fatalismo semelham ganhar adep-tos.

Tempos de suculentos negóciosMas, como historicamente tem acon-tecido, também som tempos onde o capitalismo aplica com ferocidade e de forma descarnada, sem aditivos, nem eximentes, a sua doutrina preda-dora e especulativa, que nom duvida em incrementar as taxas e os níveis de empobrecimento, exploraçom e alienaçom para assim garantir e perpe-tuar os seus lucros. Bancos, compan-hias de seguros, grandes e medianas empresas, multinacionais, nom estám dispostas a recuar nos seus obscenos benefícios.Em aras da competitividade e do pro-gresso que afronte a crise a burgue-sia, des-

provista de complexos e escrúpulos, por meio do patronato, pressiona a casta política que a representa e os sin-dicatos corruptos a negociar um novo “Pacto da Moncloa” para aplicar ex-cepcionais medidas de choque, endu-recer a legislaçom laboral, flexibilizar ainda mais as leis do mercado, aproxi-mando-nos assim dos parámetros de-cimonónicos que tantos sacrifícios e sangue custou superar. Querem que a sua crise a paguemos os de baixo, as trabalhadoras e os trabalhadores, os que vivemos do nosso esforço. Para que isto seja factível, os seus efi-cazes aparelhos de dominaçom ideo-lógica intimidam com virtuais ameaças globais, bombardeam sem trégua com patranhas, criminalizam as organi-zaçons revolucionárias, o movimento popular, @s que simplesmentem resis-tem e luitam, levantando cortinas de fumo, promovendo a amnésia, para despistar e amortecer os efeitos reais e tangíveis de umha crise à que já nin-guém pode escapar. Procuram justificar a supressom de direitos e liberdades individuais e colectivas a bem da sua segurança e privilégios, procurando a inconscien-te cumplicidade dos sectores popula-res desorganizados e desarmados da consciência operária e nacional que pretendem definitivamente aniquilar.

Crise nacional. A Naçom pode desapa-recerEstes fenómenos ten-hem lugar numha ad-versa conjuntura de ofensiva global espan-hola contra as naçons submetidas nesse cárcere de povos

chamada Espanha. A endémica e es-trutural crise do estado-naçom espan-hol tenta ser novamente superada implementando agressivas po-líticas recentralizadoras contra o projecto na-cional galego e do res-to das naçons o p r i -midas.D é c a -das de pol ít icas ass imi la-c i o n i s t a s democráti-cas no ensino e nos meios de comunicaçom de massas, aparentemente inó-cuas para as amplas maiorais sociais, dam como resultado que a Galiza afronte o início do século XXI à beira da indefensom, de um precipí-cio letal que nos pode fazer cair irremediavelmente na maré uniformizadora a que nos quer conduzir o capitalis-mo espanhol e transnacional. A acelerada perda de falantes do nosso idioma nacional, a lamentável normalizaçom de hábitos e condutas intoleráveis há poucas décadas atrás, a metódica e paulatina socializaçom dos símbolos e imaginário espanholis-ta entre a juventude, a trivializaçom e desprezo dos sinais medulares dumha Naçom trabalhadora forjada numha dilatada história, é também resultado dos banais e irresponsáveis compor-tamentos do autonomismo de práti-ca regionalista na última década, e da fragmentaçom e debilidade da esquer-da independentista e do movimento cultural normalizar articulado à volta dos centros sociais. Os que podiam frear os sintomas optárom por subes-timá-los, e quem com lucidez diagnos-ticava estes fenómenos carece de ca-pacidade real de os afrontar para além da denúncia.As enormes dificuldades e vulnerabili-dade que atravessa a Naçom permitem explicar a crise demográfica que ano após ano gera umha preocupante que-da de habitantes só compensada com o novo fenómeno da imigraçom para o que o movimento de libertaçom na-cional ainda carece de umha estratégia definida que permita integrar este con-tingente de povo trabalhador na Galiza que queremos construir.

A p ó s mais de 150 anos de cons-t r u ç o m do mo-v i m e n t o nacional, a ameaça do abismo a que nos conduz Es-panha continua sem ser superado.

Crise ecológicaA grave crise ambiental é sem lu-gar a dúvidas mais profunda e preocu-pante do que nos querem fazer acredi-tar. Pola primeira vez, a sobrevivência da espécie humana acha-se em perigo. É tangível um enorme holocausto global derivado do esbanjamento de recursos e a implementaçom a escala planetária de um modelo de desenvol-

Manifesto à Pátria e ao Povo Trabalhador GalegoCHEGOU A HORA DA UNIDADE PARA RESISTIR E LUITAR

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análise

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reportagem

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41DOSSIER CENTRAL

vimento antagónico com o equilí-brio e respeito ecológico.Embora persista a marginali-zaçom e o empobrecimento secular que a Galiza padece na divisom internacional do trabal-

ho, o nosso país nom é alheio a estes fenómenos. Todo o contrário. Temos uns índices de contaminaçom superiores

o de sociedades mais industria-lizadas e urbanizadas que a nossa.

Os infames planos do capitalismo espanhol e da Uniom Europeia

que reduzírom à mínima ex-pressom o sector primário

inviabilizando assim a im-prescindível soberania alimentar, pretendem seguir sobreexploran-do os nossos recur-sos. As coordenadas criminosas baseiam-se na implantaçom com absoluta impuni-dade de indústrias de enclave, de insensa-tas reflorestaçons de monocultivos de espécies forá-neas, dum modelo energético alheio

às necessidades en-dógenas, destruindo as costas e espaços

naturais protegi-dos com portos

despor t i vos , constru indo

urbanizaçons, campos de golfe,

vias de transporte que desvertebram o País e o

incomunicam, no qua-dro de umha estratégia turistificadora que pre-tende inviabilizar eco-nomicamente a Galiza até lograr convertê-la numha simples reser-va de matérias-pri-mas, energética e de mao de obra barata.

Refundaçom do obsoleto nacio-nalismo ou recomposiçom da es-querda independentista?Os três últimos quinquénios fôrom espectadores de um progressivo pro-cesso de aggiornamento da principal estrutura defensiva que os sectores populares galegos tenazmente ergué-rom desde meados da década de ses-senta do século XX até atingir a sua actual plena integraçom no sistema político espanhol. A direcçom e imen-sa maioria dos quadros da esquerda nacionalista optou por capitular fren-te Espanha e o Capital adoptando um inofensivo e contraditório perfil cen-trista e regionalista que lhes permitiu saborear as migalhas que o regime lhe condece pola sua lealdade. O autonomismo logo da nefasta ex-periência do bipartido pretende apli-car de forma oportunista e a marchas forçadas um giro à esquerda para re-compor-se, ganhar tempo, evitando assim um maior descalabro eleitoral e retrocesso nos espaços de poder institucional atingidos. Porém, este movimento nom passa de ser algo meramente virtual. O actual auto-nomismo nom se pode regenerar. O pactismo, a adulteraçom ideológica, a cumplicidade com os inimigos de clas-se e nacionais, a renúncia estratégica ao exercício do direito de autodeter-minaçom e à transformaçom social estám plenamente inoculadas no seu seio, fam parte do seu ADN. Só pessoas bem intencionadas, ingé-nuas e incautas podem acreditar ho-nestamente nas possibilidades reais de

voltar a fazer do BNG umha ferra-menta útil para defender Gali-

za desde os interesses das camadas populares. O

seu ciclo está esgota-do. Inexoravelemen-te o BNG caminha a ser um espectro mais da velha es-querda desnutrida e anémica, estrate-

gicamente derrota-da e imbricada na ló-

gica do parlamentarismo burguês.

Este processo enquadra-se na mais que provável mudança de ciclo que após o parêntese do zapaterismo leva-rá a direita tradicional a voltar a ocu-par o governo espanhol.

É hora de avançarmos na reformu-laçom do independentismo socia-listaA grave e profunda crise social e nacio-nal colhe-nos a contrapé. Porém nom é o momento de inclinar bandeiras,

de resignaçom e desencanto. Todo o contrário! É imprescindível dar passos firmes e claros face à recomposiçom sociopolí-tica da esquerda independentista e so-cialista galega. A reorganizaçom deste espaço é urgente, nom pode seguir dilatando-se sine die. É hora de adop-tar com valentia e coragem a grande matéria pendente. A indecisom, a co-modidade e o conformismo nom ten-hem cabimento. Nom existem muros infranqueáveis.As responsabilidades colectivas desta lamentável situaçom nom podem se-guir condicionando a actual divisom e fragmentaçom que impossibilitam ser-mos um projecto útil para defender a naçom galega e os interesses de classe e de género da imensa maioria social. É necessário visibilizar mudanças de atitudes. Há que mover ficha. As experiências falhadas que arrasta-mos tampouco podem continuar a ser umha lousa inamovível que condiciona e negue antidialecticamente o futuro. Com modéstia revolucionária, sem fal-sos protagonismos, sem condicionan-tes prévios, nem modelos preestabele-cidos, apelamos o conjunto de agentes políticos e sociais de carácter nacional e local, de activistas do movimento popular e operário, que nos enqua-dramos nos parámetros da esquerda independentista, a iniciar um processo de diálogo tendente a superar este mal endémico que nos consome e esterili-za para organizar a resistência, injectar moral, frear a ofensiva do Capital e do projecto espanhol, como objectivos imprescindíveis que posteriormente permitam sentar as bases de umha vi-tória estratégica da Naçom Galega, da emancipaçom social de género.

Com total honestidade, estamos ple-namente convencidas de que é possí-vel com generosidade e olhar de futu-ro iniciar a imprescindível transfusom de ideias, de projectos, de modelos que permitam elaborar sínteses de mí-nimos colectivamente aceitáveis que possibilitem a convergência para, com iniciativa, impulso, inconformismo, e intransigência, dotar o País e a nossa classe do baluarte organizado que de-mandam amplos sectores populares.

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Os ataques contra a classe trabalhado-ra, contra os povos, contra as mulhe-res e a juventude multiplicam-se neste tempo de crise sistémica. Como é ha-bitual, o bloco de classes dominantes pretende evitar o colapso a cuja beira se situou, descarregando o látego so-bre as costas dos e das oprimidas.

Chegamos ao Dia da Pátria de 2009 com a memória recente inçada de acon-tecimentos que ilustram a agudizaçom da exploraçom, da dominaçom e das luitas contra elas. A exemplar comba-tividade do proletariado do metal e a imensa dignidade nacional que destila a resposta dada ao espanholismo no passado 8 de Fevereiro, som apenas dous exemplos bem conhecidos de como a rebeldia do nosso Povo Trabal-hador se desata antes do que muitos pensárom. Mas, afortunadamente, o fenómeno goza de umha profundidade bastante maior. As incontáveis luitas

laborais, vicinais, ambientalistas ou labregas

encetadas nos últimos tempos care-cem de objectivos estratégicos, sim; som propensas ao espontaneísmo e, em conseqüência, à derrota, é certo; carecem de coordenaçom ou refe-rentes políticos revolucionários... mas

som prometedores sin-tomas de insubmissom à brutalidade capitalista que devemos promo-ver e desenvolver.

O nosso inimigo é plenamente cons-ciente desta realida-de, é por isso que,

acompanhando as dinámicas abertas, encontramos um nível de repressom e controlo social que semelha próprio doutras épocas e regimes políticos. Milhares de forças policiais estám a ser mobilizadas para defender os interesses do patronato em todo o país, incontáveis sançons económicas som impostas a todo o espectro dos movimentos sociais, os direitos de livre expressom e manifestaçom en-contram-se parcialmente suprimidos de facto. Este intermitente estado de excepçom nom é gratuito, responde a umha necessidade imperiosa de evitar o madurecimento do primário incon-formismo do nosso povo.

A nefasta experiência do governinho entreguista do PSOE-BNG na Junta, a sua capitulaçom com Espanha e doci-lidade com o neoliberalismo, foi umha magnífica escola pedagógica para am-plas camadas populares sobre o error

de depositar expectativas no social-liberalismo e no regionalismo. Após este fugaz parêntese que possibilitou a recuperaçom de Sam Caetano pola direita tradicional, a única alternativa para a nossa emancipaçom nacional, de classe e género é a que tenhem mos-trado as trabalhadoras de Caramelo, as tractoradas labregas, o proletariado metalúrgico... a luita organizada.

No 25 de Julho, quando o segmento mais consciente e comprometido do Povo Trabalhador se reúne para visibi-lizar esse compromisso com o projec-to nacional galego, devemos saber ligar todas as batalhas que damos ao longo do ano com os objectivos estratégicos que todo ou toda revolucionária galega nunca deve esquecer: a independência nacional, a construçom do socialismo e a aboliçom do patriarcado.

Que os ricos paguem a crise!

Unidade contra a repressom espan-hola!

PP, PSOE, BNG a mesma merda é!

Viva Galiza livre, socialista e nom pa-triarcal!

Contra Espanha, Independência NacionalContra a crise capitalista, Socialismo

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Perante o 1º de Maio, Dia do Interna-cionalismo Proletário, NÓS-Unidade Popular quer fazer um apelo à partici-paçom maciça da classe obreira galega nas manifestaçons convocadas pola CIG por todo o País para defender-mos os nossos direitos frente à ofen-siva da burguesia no contexto da crise económica capitalista. Umha crise que se converteu no pre-texto para o governo espanhol do PSOE tomar umha série de decissons antipopulares que fam que o peso da crise económica recaia sobre a maio-ria trabalhadora. O mesmo governo que destina fundos multimilionários para ajudar a bancos em perigo pola crise financeira e para impulsionar o processo de concentraçom das caixas de aforro favorecendo os interesses de uns quantos empresários (para isto sim há dinheiro), também está a pac-tuar umha nova reforma laboral para embaratecer e facilitar o despedimen-to e recurtar direitos laborais atingidos após décadas de luita obreira.Por nom falarmos da proposta de re-forma do sistema de pensons, com a que pretendem que trabalhemos até os 67 anos e que quotizemos 25 anos em lugar dos 15 actuais para “assegu-rar” um sistema de pensons que su-postamente “corre perigo” no futuro.Devemos acrescentar o aumento de um imposto indirecto como o IVA, decissom que empobrecerá as classes populares mentres se evita umha re-forma fiscal que se baseie nos impos-tos directos aumentando a pressom fiscal sobre os ricos e reduzindo-a en-tre as rendas mais baixas.

Os recurtes em gastos sociais, algo que na Galiza também favorece a políti-ca privatizadora do gover-no autonómico do PP em ámbitos como a sanidade, o ensino ou os serviços sociais. Mas para manter o exército espanhol par-ticipando na invasom e ocupaçom imperialista do Afeganistám, ou no Líba-no, também há dinheiro de sobra.Mentres tanto, sindicatos corruptos e vendidos ao Estado como CCOO e UGT tam só fôrom quem de organizar manifestaçons para cubrir o expediente e aparentar que fam algo em defesa da classe tra-balhadora, mas por detrás negociam com o governo espanhol e a CEOE a nova reforma laboral.Corresponde ao sindica-lismo nacional e de classe representado pola CIG emprender este caminho, abandonando as atitudes vacilantes e a dependên-cia política do reformismo autonomista representa-do polo BNG para fazer converger as múltiplas lui-tas laborais e sociais que se pruduzem na Galiza numha Greve Geral na-cional que para a esquerda independentista é umha necessidade inexcusável neste contexto de constan-tes agressons da burguesia e de crise do sistema capi-talista. Devemos parar os pés da burguesia e dos seus la-caios e demonstrar que o povo trabalhador galego nom está disposto a tragar com outra reforma laboral que só beneficia a quem provocárom esta crise.Que os ricos paguem a crise!

Contra a crise capitalista, Independên-cia e Socia-lismo!

Contra a reforma laboral e das pensons, GREVE GERAL!

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A ofensiva global que a burguesia es-panhola desenvolve contra as conquis-tas e direitos da classe obreira nom pode ser desligada da aceleraçom das medidas espanholizadoras que padece a Galiza, nem do incremento da mar-ginalizaçom e exploraçom laboral das trabalhadoras.

O Estado espanhol pretende fazer recair sobre a classe obreira, sobre as mulheres e as naçons que oprime, os custos do duro pacote neoliberal imposto polo seu submetimento às directrizes do FMI, do Banco Central Europeu e do governo alemám. O mesmo Estado que nega a existência do povo galego, o exercício do direi-to de autodeterminaçom, que crimi-naliza a luita pola independência, que pretende avançar no processo secular de assimilaçom lingüístico-cultural da Galiza, é incapaz de evitar que Berlim, Bruxelas e Washington determinem a sua política económica. É um governo prepotente e soberbo com os povos, mas completamente submisso e obe-diente com as potências imperialistas.

O povo trabalhador galego deve deixar de olhar para o exterior, tem que con-fiar nas suas próprias forças e recursos, nas suas capacidades. Tantos séculos de exploraçom e opressom, de esqueci-mento e marginalizaçom som mais que suficientes para sabermos que nada bom podemos esperar de Espanha. Temos que apostar na Galiza, definir

o nosso futuro colectivo como povo, avançar na conquista de umha Pátria libertada. E a única classe objectiva-mente interessada em conquistar a in-dependência e a soberania somos essa imensa maioria social que conforma-mos o povo trabalhador.

A burguesia intermediária, a burguesia nacional e a pequena burguesia estám satisfeitas e conformes com o papel re-servado à Galiza. No melhor dos casos, pretende atingir maiores quotas de au-togoverno mediante o incremento de competências autonómicas que permi-ta facilitar o sucesso dos seus negócios, mas nunca apostar na recuperaçom da soberania conculcada por Espanha.

Conta com três grandes forças políticas para representar os seus interesses. PP, PSOE e o BNG cumprem correcta-mente essa funçom: som organizaçons interclassistas que, com matizes e rit-mos próprios, perpetuam na Galiza a lógica do capitalismo espanhol.

A classe obreira nom pode confiar, nem a pode ter como aliada. Nós,

mulheres e homens do mundo do Tra-balho temos força mais que suficiente para dirigir e construir um movimen-to de libertaçom nacional de carácter socialista e antipatriarcal que vincule a emancipaçom de classe e género com a conquista da plena soberania e inde-pendência nacional.

A unidade do povo trabalhador com base num programa reivindicativo anticapitalista, antipatriarcal e anti-imperialista é a principal tarefa da es-querda independentista e socialista galega. Unidade para luitar por umha Pátria superadora do espanholismo, do capitalismo e do machismo. Eis o principal objectivo que o MLNG tem nesta conjuntura histórica: difundir e desenvolver o seu genuíno projecto revolucionário.

Viva Galiza Ceive, Socialista e nom pa-triarcal!

BNG-PSOE-PP a mesma merda é!

Antes mort@s que escrav@s!

Dia da Pátria 2010Por umha Galiza sem espanholismo, capitalismo e machismo

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A greve geral de 29 de Setembro atingiu no nosso país um importante apoio. A indústria e a construçom, o transporte e destacados sectores de serviços ade-rírom maciçamente à jornada de luita. A juventude, mulheres e pensionistas secundárom a convocatória.O elevado grau de apoio desmentiu os prognósticos de comentadores, as falácias dos inquéritos e as falsas apre-ciaçons das burocracias sobre a falta de condiçons para garantir o seu sucesso.A elevada participaçom nas manifes-taçons e a combatividade exprimida desmentírom os discursos e práticas paralisantes em que estám instaladas as cúpulas sindicais.

A classe obreira galega manifestou a necessidade e disponibilidade de luitar para frear as políticas neoliberais que implantam os partidos da burguesia e o patronato. Paralisou as fábricas e centros de trabalho, ocupou as ruas, denunciando o governo espanhol do PSOE e a Junta da Galiza do PP.Frente ao pactismo de CCOO e UGT, e o seguidismo da direcçom da CIG, o 29 de

Setembro foi umha injecçom de au-toestima colectiva sobre a capacidade de resposta e luita do conjunto do povo trabalhador galego. Constatou a imensa força e potencialidade da classe obreira unida e mobilizada com base em objec-tivos concretos e imediatos. Porém, foi insuficiente. Enquanto às poucas horas do sucesso da jornada o sindicalismo amarelo espanhol manifes-tou que carece de vontade para man-ter a luita, sentando os seus líderes nas mesas de negociaçom para novamente vender os interesses obreiros e popu-lares, a resposta do governo e o patro-nato foi clara. Nom retira a reforma laboral e anuncia umha nova navalhada no sistema público de pensons, assim como na negociaçom colectiva, com o objectivo de desproteger e desarmar ainda mais a capacidade de defesa e lui-ta do proletariado.

Som necessárias, portanto, novas jor-nadas de luita. É preciso radicalizar a resposta obreira e popular. É impres-cindível continuar a alargar e aprofun-

dar o caminho aberto 29 de Setembro.A classe obreira galega está farta de promes-sas, de pactos, de ne-gociaçons, de fotogra-fias com os governos de turno e o patrona-to. Nom acreditamos neste sindicalismo

corrupto e entreguista. Tampouco no seguidismo disfarçado de retórica e ri-tualismo mobilizador.

O êxito de 29 de Setembro contrasta com a posterior falta de iniciativa sin-dical. Desta nefasta prática deriva o reforçamento do lógico e entendível desprestígio e desconfiança das massas obreiras e populares com o sindicalis-mo realmente hoje existente. Da pas-sividade sai reforçada a frustraçom e a desesperaçom, o descrédito da orga-nizaçom obreira e o reforçamento das ideologias reaccionárias.Por isso é necessária mais umha greve geral. O sindicalismo nacional e de clas-se nom pode seguir atado às dinámicas alheias, nem aos cáculos eleitoralistas. Tem que acreditar exclusivamente na classe obreira galega e agir no seu qua-dro nacional de luita. Nom se pode adiar mais a decisom, nom se pode dilatar mais a data para iniciar desde já a sua preparaçom.A CIG tem o dever de convocar com o resto de organizaçons sindicais e sociais galegas umha nova greve geral de ex-clusivo carácter nacional.

Há que parar o País. Há que golpear sem trégua a burguesia. Há que re-forçar a consciência de classe. Mostrar que só a luita organizada é o caminho para mudar as políticas neoliberais im-plantadas polo PP e o PSOE, mas tam-bém polo BNG.

Nom há vias intermédias: ou a nego-ciaçom de mais privilégios para as bu-rocracicas sindicais e as castas políticas, ou a luita organizada contra o capitalis-mo e as suas dolorosas políticas, que condenam o povo trabalhador galego a um futuro de exclusom social e miséria generalizada.

Há que optar. Nom se pode continuar enganando a classe obreira. A esquerda independentista e socialista galega nun-ca tivo a mais mínima dúvida.

Viva a classe obreira galega!PP, PSOE, BNG a mesma merda é!Independência, Socialismo e Antipa-triarcado!

Que os ricos paguem a crise!, Na Galiza mais umha greve geral

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entrevista

Telmo Varela

Em dezembro de 2010 foi detido Miguel Aparício, filiado da CUT, e � de março deste ano, na opera-çom “Codeso” da Guarda Civil. Tu és também detido junto com outra pessoa. Quais som os motivos das vossas detençons e da entrada em prisom?Bom, na Galiza há mais de 250 mil de-sempregadas e desempregados; duas mil famílias perdem a sua vivenda por ano, por nom poderem fazer frente às cargas hipotecárias; a juventude é a mais castigada polo desemprego, o seu futuro é incerto; as mulheres te-nhem experimentado um retrocesso no seus direitos... O governo, para sair da crise, está a aplicar reformas labo-rais e económicas sobre reformas, o que vem ser o mesmo: apertar-nos o cinto mais e mais para que sejamos as trabalhadoras e os trabalhadores que realmente paguemos a sua crise. Sa-bem que o vamos passar muito mal, mas também sabem que se nos orga-nizarmos e luitarmos, nom lhes vai ser tam fácil descarregar a crise sobre as nossas costas. Em definitivo, nom po-dem permitir luitas como a greve do metal ou como a da Greve Geral de 29 de setembro. Sempre que a classe obreira se dispom a organizar-se, em autênticas organizaçons de classe, é brutalmente reprimida e atacada, sem piedade, pola grande burguesia. His-toricamente sempre tem sido assim e, até onde eu sei, a burguesia nom mudou. Está decidida a fazer o que for preciso para se perpetuar no poder e assegurar os seus privilégios e preben-das de por vida.

Claro, nom podem prender-nos por sermos militantes sindicais, daí que nos queiram criminalizar em atos de sabo-

tagem. Com essa acusaçom, mandá-rom-nos para a cadeia, sem provas de nengum tipo, só por indícios e supeitas da Guarda Civil.

Os meios de comunicaçom da bur-guesia, desde as primeiras horas, já te condenárom numha infame campanha de intoxicaçom e cri-minalizaçom, dando a conhecer a tua trajetória e anterior estadia em prisom. Quantos anos estives-te encarcerado e quais fôrom os motivos?Com a minha detençom corrêrom rios de tinta. A minha anterior militáncia nos GRAPO véu-lhes como umha luva para montaren todo o conto e apre-sentar-nos como obreiros mui perigo-sos aos quais há que manter fechados sob sete chaves.

Os mass-media jogárom um papel de-terminante nesta guerra de preven-çom. Porque lhe dérom tanto bombo? Simplesmente para incidir na opiniom pública e justificar o meu encadeamen-to. É significativo o facto de remonta-rem ao ano 1980 para justificar a ope-raçom contra o movimento obreiro de agora.Porém, Miguel Nicolás nom tem an-tecedentes e, em troca, também está

preso, melhor dito, seqüestrado. Nom nos deixemos enganar, foi deti-do e mantenhem-no preso por ser um moço com iniciativa, pola sua genero-sidade, solidariedade e porque nom comungava com rodas de moinho. Porque outros “quatro” sindicalistas por um delito muito mais grave do que acusam a Miguel, no qual houvo feridos e correu o sangue, nom tivé-rom que pisar a cadeia?. Que justiça é esta! Quantos pesos e quantas medi-das tem? Cevam-se com eles porque representa essa juventude com inquie-tudes e com esse espírito de luita tam necessário hoje em dia.

Passei mais de 21 anos nas prisons do Estado espanhol, sempre longe da minha terra e dos meus. Nesses anos percorrim as piores cárceres, -inclusi-ve estivem um ano na prisom de Ceu-ta. Para manter alguns dos meus direi-tos e a minha dignidade como pessoa vim-me obrigado a realizar numerosas greves de fame, algumhas delas de mais de 40 dias.

Numha das cartas enviadas à opi-niom pública assinada conjunta-mente com Miguel, defendes a le-gitimidade e necessidade da luita combativa e sem trégua da classe obreira contra o Capital. Vamos ver. A burguesia nom fai uso de toda a sua força para nos combater? Sempre que umha luita se desmarca dos padrons impostos polos grandes sindicatos, bem pagos, e o patronato somos brutalmente reprimidos. Cen-tenas de operárias e operários sabem de que estou a falar. Muitos deles ficá-rom com seqüelas para toda a sua vida. Da mesma forma a classe obreira está legitimada para se defender dos brutais

ataques da burguesia e deve empregar todos os métodos ao seu alcance.A prática tem mostrado avondo que toda aquela luita que se radicaliza con-segue maiores resultados.

Na tua prática sindical com os se-tores mais conscientes e avança-dos do proletariado e a juventude sempre afirmaste a necessidade de superar as lmitaçons inerentes ao sindicalismo e adoptar um com-promisso mais amplo e global.Com certeza, se realmente queremos quebrar as cadeias da exploraçom e atingir a nossa ansiada libertaçom na-cional, é necessário um referente que guie o conjunto do povo trabalhador a alcançar esses objetivos. Para mim, a tarefa principal neste momento é a de dar forma a umha alternativa políti-ca independentista e de esquerda, que ligue com as camadas populares do País de maneira que se converta num referente político claro, honesto, hon-rado, com os pés no chao; que seja um exemplo a seguir em todos os aspetos e, em definitivo, com capacidade real de aplicar no futuro da nossa naçom, a verdadeira democracia proletária.

O sindicato tem a tarefa de conseguir melhorias económicas e laborais para as trabalhadoras e trabalhadores, e despertar neles a consciência de clas-se. Mas o seu papel nom é o de dirigir o processo revolucionário, isso corres-ponde a outro tipo de organizaçom.

Como som as condiçons e a tua vida na prisom? Que diferenças constatas no sistema carcerário espanhol atual e as das anteriores etapas nas quais já estiveste pre-so?

Voz Própria entrevista Telmo Varela, Secretário-Comarcal da CUT de Vigo,

atualmente preso na Lama

“Há mais motivos que nunca para luitar e sair à rua”

“Sempre que a classe obreira se dispom a organizar-se, em

autênticas organizaçons de classe, é brutalmente

reprimida e atacada, sem piedade, pola grande burguesia”

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Telmo Varela

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Em essência, o sistema carcerário de hoje em dia vem sendo o msmo que o de há vinte anos. Mas nisto a burguesia também aprendeu e tem polido algu-mhas cousas. Agora todas as prisons som por módulos. Isto que quer dizer? Pois que no interior de um macrocár-cere há muitos pequenos cárceres, sem relaçom uns com os outros, onde o preso é submetido a um maior con-trolo e a umha maior pressom.Por exemplo, o complexo carcerário da Lama tem 15 módulos e os presos som classificados por módulos segun-do a sua docilidade. Há módulos para presos de primeiro grau e para isola-mento ou de castigo.Estas paredes estám impregnadas de sangue e de pánico. Som autênticos centros de tortura, os presos, só com ouvirem falar dos módulos 14 (de cas-tigo) e 15 (primeiro grau), ficam arre-piados de horror.Agora está todo automatizado e com muito mais medidas de segurança; cir-cuito fechado de televisom, megafonia para falar e escuitar, sensores, etc.

No dia seguinte de eu entrar, já me no-tificárom que estava incluído no FIES (Ficheiro de Especial Seguimento). Isto quer dizer que tenho as comunicaçons orais e escritas intervindas e restringi-das. Só podo escrever 4 cartas a se-mana, e tenho metade das chamadas telefónicas que tenhem outros presos. Com isto perseguem isolar-me do exterior, o que quer dizer que o que realmente lhes preocupa é a mensa-gem política e de resistência que podo transmitir. Além disto, ao estar incluído

nesse ficheiro, nom podo realizar nen-gumha atividade cultural nem manual. Só me fica passar as horas deitado no pátio, entre as drogas e as brigas.

Estás a receber umha ampla soli-dariedade na prisom. A CUT e o Comité de Solidariedade a Apoio a Miguel e Telmo (CSAMT) estám a ocupar a rua, promovendo em Vigo concentraçons mensais. Que queres transmitir a toda a gente

que te apoia e se implica na vossa libertaçom?A solidariedade é um aspeto muito importante da luita. Nom é fácil ser solidário ou solidária, requer dumha aprendizagem como em outra faceta da luita. A sociedade, desde que nasce-mos, educa-nos em valores individua-listas e egoístas. Por isso, o solidário ou solidária vai-se comprometendo neste

labor na medida que se desprende da educaçom burguesa. Quando umha pessoa pratica a solidariedade, está a contribuir para que a luita avance, ao tempo que eles mesmos se tornam mais livres.

Nom é nada fácil que o pessoal se im-plique nas campanhas de solidariedade, mas por pouco que se aproxime, con-tribui-se mais do que se pensa. Quero esclarecer que estou a falar de solida-riedade, nom de caridade, que é um conceito bem distinto, e muita gente confunde. A solidariedade implica com-promisso e libertaçom de um mesmo.Agora mesmo toca pelejar por sacar-nos da cadeia, e a única maneira é in-crementar a luita por todas as partes, estender a solidariedade a cada recan-to do país. Só com a luita e as mobiliza-çons, com umha vasta e potente solida-riedade vamos parar a vaga repressiva. Nom fica outra!

A toda a gente que nos apoia, quero transmitir que confio na sua genero-sidade, e enquanto nom chega o mo-mento da libertaçom, a sua solidarieda-de é o nosso melhor alimento, dá-nos forças, calor e ánimos para afrontar esta dura prova. A todas, estou imen-samente agradecido. Cada mostra de solidariedade levo-a guardada no fundo meu coraçom.

A crise do capitalismo em escala

global está a provocar resistências e um incremento da luitas obrei-ras e populares. Na Galiza, acaba-mos de participar em duas greves gerais, mas este 1º de Maio a as-sistência às mobilizaçons foi mui baixa. Como sindicalista, que per-cepçom tés dos acontecimentos e que prognósticos farias?Discrepo com a pergunta. A crise do

capitalismo nom está a provocar a resistência que deveria. As medidas adoptadas polo governo imperialista espanhol som de umha intensidade mui profunda e nom obtivérom a res-posta merecida, porque o movimento operário foi apanhado em cueiros.Na nossa Galiza, nom há um referente político claro, nem com a força capaz de se situar à frente do movimento obreiro e popular. Isto por um lado; polo outro, o sindicalismo de clase e nacional ainda é muito fraco, e para que a CUT nom ocupe o papel que lhe corresponde, a repressom fai o seu trabalho. Foi assim como começárom o desenho de criminalizaçom da nossa central sindical, tendo como conseqü-ências as multas administrativas sobre os nossos filiados e filiadas, a vigiláncia permanente e como ponto e seguido as detençons.

Há mais motivos que nunca para lui-tar e sair à rua, porém, a assistência às

mobilizaçons do 1º de Maio foi mais reduzi-da que nunca. Parece umha contradiçom, mas nom é tal. Os par-tidos domesticados e os sindicatos vendidos

figérom do 1º de Maio um dia de fes-ta, de caralhada, mas a gente nom está para caralhadas, está indignada, elimi-nando todo significado reivindicativo e de luita. Dá a impressom que aqui, da noite para a manhá, passou-se do capitalismo ao socialismo e já nom há nada que reivindicar nem nada por que luitar.O 1º de Maio, enquanto existir o ca-pitalismo parasitário, nom pode ser um dia de festa, os obreiros e obreiras

indignadas pola miséria nom tenhem vontade de andar de “procissom”. Já tenhem as processons das festas paro-quiais para luzir as melhores roupas.

Luita de classes, luita nacional ou combinaçom de ambos fatores com a incorporaçom da luita con-tra a opressom da mulher?Esta pergunta está respondida nela mesma. A Galiza é um país sem Esta-do próprio, portanto, nom pode haver libertaçom social sem libertaçom na-cional e vice-versa. Em conseqüência, luita nacional e luita de classes tenhem que ir unidas. Nom pode existir umha autêntica luita por um objetivo sem o outro.

O Comunismo continua a ser a única alternativa viável para a hu-manidade?Podia responder com um rotundo sim. Quer queiramos, quer nom, caminha-mos face o comunismo. O próprio processo histórico mostra-nos que as sociedades tenhem evoluído de so-ciedades inferiores a sociedades mais avançadas. O sistema capitalista está a chegar ao seu fim, já nom tem ca-pacidade de manobra para sair desta profunda crise. Entom, depois do capi-talismo que nos fica? Nom vamos vol-tar ao feudalismo ou ao esclavagismo... nom teria sentido voltarmos para trás. Só nos fica olharmos para diante e, depois do capitalismo, só pode vir o socialismo. Esta sociedade de tránsito para o comunismo é a encarregada de criar as condiçons para dar passagem à sociedade mais avançada da história: o comunismo. Onde o homem e a mu-lher, por fim, estarám em pé de igual-dade, serám livres e universais.

Que mensagem queres enviar à juventude rebelde galega e à es-querda independentista e socialis-ta galega?Eu nom som quem para enviar mensa-gem algum à juventude rebelde galega e menos ainda à esquerda independen-tista e socialista galega. Só podo dizer à juventude e ao povo galego em geral que a pior das atitudes é a indeferença, dizer “nom podo fazer nada, já me irei apanhando”. Com organizaçom e luita, há futuro.

“Se realmente queremos quebrar as cadeias da exploraçom e atingir a nossa ansiada libertaçom

nacional, é necessário um referente que guie o conjunto do povo trabalhador a alcançar esses objetivos”

“A toda a gente que nos apoia, quero transmitir que confio na sua generosidade, e enquanto nom chegar o momento da

libertaçom, a sua solidariedade é o nosso melhor alimento, dá-nos forças, calor e ánimos para afrontarmos esta dura prova”

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análise

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entrevista

Alberte Moço

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internacional

Euskal Herria

Bildu irrompeu na luita sociopolítica num momento caraterizado por umha crise global, “nova” no sistema capita-lista, que devemos separar analitica-mente em quatro subcrises ou crises parciais: umha, a mundial capitalista; outra, a europeia; além disso, a estatal espanhola e, por último, a específica basca. Equivoca-se quem menospreze alguma delas e, sobretodo, quem nom

as interrelacione como subcrisis inse-res em umha totalidade superior. Tam-bém erra quem reduza esta crise só ao estritamente económico e político, sem entender que som todos os pila-res do capital os minados internamen-te. Por último, comete um grave erro estratégico quem achar que o capita-lismo entrou numha nova fase históri-ca na que as suas forças repressivas, o

seu complexo industrial-militar, a cres-cente autonomia do capital financeiro, e as fraçons mais reacionárias e brutais da burguesia imperialista ocidental ce-derám pacífica e submissamente a sua propriedade e o seu Estado às classes e povos explorados.

Os três erros básicos aqui expostos nom som novos na história das luitas sociais, mas agora nom podemos es-tender-nos neste problema crucial, pois que queremos e devemos es-tudar o contexto e as perspetivas de Bildu dentro desta realidade mundial objetiva e inquestionável, refletin-do sobre alguns dos problemas mais sérios aos quais tem de fazer frente. Dentre vários, só temos espaço para estudar quatro:

A primeira reflexom trata sobre a crescente gravidade da situaçom à qual tenhem de se enfrentar as eleitas e eleitos de Bildu nas instituiçons sob a sua responsabilidade. A crise em Hego Euskal Herria nom vem dada só pola sua dependência política, em todos os sentidos, do Estado espanhol, que também, como ao mesmo tempo polo efeito duplo da crise endógenas de umha economia industrializada muito dependente do mercando europeu e mundial, sobretodo na média e alta tecnologia, e da titánica resistência das forças conservadoras -UPN, PP, PSOE e PNV- para tomar medidas globais que acelerem umha saída justa e progressista. Ao invés, estas forças assumem conscientemente a direçom estratégica do capital financeiro-in-dustrial da euro Alemanha e os seus aliados. Assumem-na tanto porque te-nhem os mesmos interesses de classe como porque tenhem medo ao efeito

cumulativo que tenhem as pequenas conquistas sociais sobre a consciência social e nacional do povo trabalhador. Dada a gravidade da crise, tenhem muita importáncia as pequenas mas palpáveis vitórias sociais que podem obter mediante a luita municipal, sin-dical, foral, etc, e mediante os seus efeitos estimulantes nos movimentos populares e em toda a série de coleti-vos e grupos. As forças conservadoras e reacionárias conhecem perfeitamen-te esta dinámica e, apesar das suas di-ferenças, nom estám dispostas a ceder nas reivindicaçons fundamentais.

À resistência que já está a encontrar Bildu se soma a relativa falta de for-maçom de muitos dos seus eleitos e eleitas. Referimo-nos à formaçom adequada à gravidade da crise e da resistência do imperialismo espanhol e colaboracionista. Desde depois que sim tem muita gente formada na po-lítica autárquica e foral, mas há que ver até que ponto está já mentalizada teórica e politicamente das caracterís-ticas da “nova” crise global do sistema. Umha cousa era luitar numha cámara municipal com recursos económi-cos ou com capacidade de recuperar depois de umha queda provisória de arrecadaçons, e outra muito diferente é saber que existe umha dívida muni-cipal cronificada de maior ou menor tamanho, no meio de um retrocesso da capacidade arrecadatória. A políti-ca progressista que quer aplicar Bildu vai enfrentar-se logo à carência de recursos e à oposiçom reacionária. O voluntarismo valente serve num primeiro momento, mas mais cedo que tarde será urgente a necessidade de umha formaçom teórica e política adequada.

Bildu na voragem

capitalistaIñaki Gil de San Vicente

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Euskal Herria

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A dureza deste choque irá em aumen-to conforme a política social se reforce com umha outra política nacional bas-ca ofensiva dirigida a recuperar direitos democráticos cerceados e persegui-dos; com outra política cultura e lin-güística que procure a recuperaçom e avanço do Euskara; com outra política ecologista e de qualidade da vida que limite o consumismo, e assim um lon-go et cétera. Na medida em que Bildu e a totalidade da esquerda abertzale fagam questom desta luita, aumentará polo lado espanholista e colaboracio-nista a dureza da sua oposiçom e dos seus contra-ataques. Nom pode ser de outro modo, porque a crise global reduz cada vez mais os possíveis espa-ços de negociaçom e pacto, obrigando cada bloco a reforçar as suas posturas se quiger seguir sendo fiel aos seus ob-jetivos, ou se nom pode ceder mais. Há poucos anos existia umha muito superior margem de manobra munici-pal e foral porque havia mais dinheiro público, mais economia produtiva e a dominaçom espanhola nom precisava peremptoriamente aumentar a extor-som económica. Agora aquela fase de vacas gordas acabou e as arcas estám cada dia mais cheias de teias de aranha. É nestas condiçons que se confirma a tese marxista de que a política é a eco-nomia concentrada.

A segunda reflexom trata sobre as di-ficuldades mais profundas que surgem quando se desenvolve em ponto ante-rior. Falamos da necessidade inevitável de estabelecer negociaçons com as empobrecidas “classes médias” e pe-quena burguesia nos povos, e com a burguesia nas Diputaçons. A dinámica política vista na reflexom primeira é impossível sem estes contactos. Ain-da existem muitos trabalhadores as-salariados que se consideram “classes médias”, e muitos autoemprgeados e autónomos, profissons liberais, etc, que se consideram pequena burguesia ou burguesia. Nos povos sobrevivem com maior ou menor dificuldade mui-tos lojistas e comerciantes, pequenos negócios e serviços de reparaçons, etc. Desde mediados do século XIX o mar-

xismo acertou ao definir corretamen-te as dúvidas, temores e indecisons timoratas que ofuscam a fragmentária consciência destes coletivos, e a neces-sidade de integrar na luita revolucioná-ria. Umha leitura atualizada dos quatro primeiros congressos da Internacional Comunista contribui-nos sugestons muito valiosas no atual contexto de auge do neofascismo e da reaçom em toda a Europa.

Numha naçom oprimida isto é ainda mais óbvio. É sabido que o PNV e UPN tenhem um dos seus bastions mais só-lidos nesta gente. Vam usá-las como “aríetes populares” contra Bildu. Desa-tivar esta tática, atraí-los e impedir que girem à direita e à extrema-direita é umha necessidade para aumentar a so-lidez do povo trabalhador. Embora seja muito improvável que estes setores gi-rem ao neofascismo, sim é seguro que o nacionalismo espanhol tentará endu-recer o fanatismo imperialista das suas bases sociais, as mesmas que aplaudem as vitórias do futebol espanhol, por di-zer o mínimo. O Estado mobilizará os seus recursos sujos, manipuladores e intimidadores, já o fai, para aparentar que “derrota democraticamente” a esquerda abertzale, a Bildu. Fazer do independentismo o projeto popular além de legítimo, sobretodo e funda-mentalmente hegemónico em Euskal Herria é umha das tarefas estratégicas decisivas para derrotar a tática de pin-ça entre o colaboracionismo e o nacio-nalismo espanhol.

A terceira reflexom trata sobre a ine-xorabilidade do contra-ataque espa-nhol, que tem a sua economia inter-vinda de facto, embora ainda nom de jure, polo imperialismo. A flamante independência nacional espanhola fi-cou reduzida a muito poucos ámbitos porque na realidade é um “protetora-do económico”, é umha economia que depende do exterior. Apesar de todas as mensagens de tranquilidade que se enviam ao capital financeiro mundial e ao imperialismo, é sabido que a econo-mia espanhola está a sofrer um derru-bada produtiva causada, entre outras

razons, pola debilidade da sua bur-guesia industrial que durante o longo franquismo crescia sob o domínio dos grandes bancos, nom podendo assim desenvolver-se como em outros Esta-dos agora bem mais sólidos. Histori-camente a burguesia espanhola quase nom se preocupou com o desenvolvi-mento tecnocientífico industrial, pre-ferindo os lucros imediatos embora muito inseguros e de curta duraçom, ao planejamento para criar umha eco-nomia potente. Nom podemos esten-der-nos agora nesta decisiva questo -o fracasso ou a extrema debilidade da revoluçom burguesa no Estado espa-nhol-, mas sim mostrar como a cres-cente debilidade produtiva espanhola multiplica as necessidades de explorar as classes e os povos oprimidos para compensar o retrocesso na hierarquia imperialista.

É esta realidade objetiva, que se apresenta sob a forma de um nacio-nalismo imperialista exacerbado, que determina que se imponha a fraçom mais reacionária do bloco de classes dominante, a representada polo PP. Mas nom se trata só do choque geral e abstrato entre o nacionalismo espa-nhol e a identidade basca, mas também do confronto prático, diário e social de classe entre a opressom espanhola e a libertaçom basca. Dado que Bildu é a expressom pública da ascensom de massas do sentimento nacional basco progressista e independentista revolu-cionário, por isto mesmo, agudiza-se a irreconciliabilidade entre o imperialis-mo espanhol e a emancipaçom basca já que, no essencial, o que está em jogo nom é outra cousa que a propriedade privada espanhola sobre a zona de Eu-skal Herria que ocupa. Dado que Bildu se constituiu na primeira força no ám-bito municipal, isto é, no nível do po-der institucional mais próximo e direto do povo trabalhador, por esta imediata proximidade, a açom de Bildu é umha das mais perigosas para o capitalismo. As outras duas perigosas som a luita sindical e a luita dos movimentos popu-lares e sociais. Existe, portanto, umha força de massas, popular e operária, na

qual Bildu ocupa um local decisivo na sua área.

A quarta reflexom trata sobre como a crise e o retrocesso do euroimpe-rialismo em escala mundial acelera o desenvolvimento deste choque de contrários. A implacável ditadura do capital financeiro-industrial esmaga a liberdade dos povos, e nom só dos oprimidos, nas também dos que te-nhem Estados muito fracos, como o grego, o português, o irlandês, etc. Contra as forças centrífugas inerentes à financiarizaçom, erguem-se as forças centrípetas dos povos explorados que sentem na sua carne a traiçom das suas burguesias. Esta dinámica já demons-trada teoricamente desde a metade do século XIX, é agora mais atual do que nunca. As luitas dos povos explo-rados polo euroimperialismo é já luita de classes e ao mesmo tempo luita de libertaçom nacional de um “novo” tipo ali onde ditos povos som formalmen-te independentes mas estám prática e economicamente encadeados ao eu-roimperialismo.

Membros da esquerda abertzale levam advertindo desde o Tratado de Maas-trich de 1992 que a lei de centraliza-çom e concentraçom de capitais -que junto à da sua perequaçom é o segredo último da atual quarta reordenaçom europeia-, provoca o aparecimento de novas opressons nacionais que se so-mam às clássicas. Naçons formalmen-te livres, como a grega, que tenhem o seu Estado “independente” padecem no entanto a dominaçom do capital financeiro transnacional. Esta reali-dade facilita a tomada de consciência das naçons que nem sequer temos um Estado próprio, e reforça-nos no nos-so objetivo de o conseguirmos quanto antes, mas nom um Estado débil, co-varde e vendido ao capital financeiro, mas consciente de si, como é o caso da Islándia. Aqui a tarefa de Bildu apa-rece no seu pleno sentido já que pode e deve ser um médio de avanço ao Es-tado basco, caso contrário defraudará o povo trabalhador.

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