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Bem vin Por Silvia Fregoni, Ivo Ribeiro e João Villaverde | De São Paulo 06/12/2010 Texto: Compartilhar (http://static.valoronline.com.br/sites/default/files/imagecache/media_library_bigimage//gn/10/12/arte06sa-101- investir-d1.jpg) Caixa das empresas listadas em bolsa cresce mais que a dívida e alcança R$ 237 bilhões. Preparadas para investir A situação financeira das companhias brasileiras de capital aberto há tempos não é tão confortável como agora. O caixa cresce a uma velocidade superior à da dívida, e o movimento se acentua nos últimos trimestres. Mas, se por um lado o cenário é favorável para o aumento dos investimentos, por outro traz questionamentos sobre a gestão do dinheiro pelas empresas. Dois levantamentos baseados nos dados do terceiro trimestre do ano atestam esse cenário. Um deles, realizado pelo Valor Data, mostra que o caixa consolidado das companhias não financeiras listadas em bolsa alcançou R$ 237,5 bilhões em setembro, com crescimento de 33% em relação ao mesmo período do ano passado. Sem considerar Petrobras e Vale, que pelo tamanho distorcem as comparações, o caixa das companhias atingiu R$ 173,2 bilhões, o que significa expansão de 30% em 12 meses e de 38% em relação ao terceiro trimestre de 2008, o último antes do estouro da crise financeira mundial. São altas superiores às da dívida financeira bruta, que alcançou R$ 397,7 bilhões, com aumentos de 17% e 35%, respectivamente. Com isso, a relação entre a dívida líquida e o patrimônio líquido das companhias também melhorou, embora não tenha atingido o patamar do terceiro trimestre de 2008. O indicador está em 40,9%, contra 44,1% no mesmo período de 2009 e 38,6% há dois anos. Outro levantamento, realizado pelo economista Geraldo Biasoto, presidente da Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap) de São Paulo, analisou os balanços de 193 empresas não financeiras, excluindo Petrobras. A pesquisa mostra que as companhias industriais estão menos endividadas hoje do que estavam no pré-crise, ou em setembro de 2008. Page 1 of 3 Preparadas para investir | Valor Online 6/12/2010 http://www.valoronline.com.br/impresso/vale/1902/347547/preparadas-para-investir

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Bem vin

Por Silvia Fregoni, Ivo Ribeiro e João Villaverde | De São Paulo06/12/2010

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Caixa das empresas listadas em bolsa cresce mais que a dívida e alcança R$ 237 bilhões.

Preparadas para investir

A situação financeira das companhias brasileiras de capital aberto há tempos não é tão confortável como agora. O caixa cresce a uma velocidade superior à da dívida, e o movimento se acentua nos últimos trimestres. Mas, se por um lado o cenário é favorável para o aumento dos investimentos, por outro traz questionamentos sobre a gestão do dinheiro pelas empresas.

Dois levantamentos baseados nos dados do terceiro trimestre do ano atestam esse cenário. Um deles, realizado pelo Valor Data, mostra que o caixa consolidado das companhias não financeiras listadas em bolsa alcançou R$ 237,5 bilhões em setembro, com crescimento de 33% em relação ao mesmo período do ano passado.

Sem considerar Petrobras e Vale, que pelo tamanho distorcem as comparações, o caixa das companhias atingiu R$ 173,2 bilhões, o que significa expansão de 30% em 12 meses ede 38% em relação ao terceiro trimestre de 2008, o último antes do estouro da crise financeira mundial. São altas superiores às da dívida financeira bruta, que alcançou R$ 397,7 bilhões, com aumentos de 17% e 35%, respectivamente.

Com isso, a relação entre a dívida líquida e o patrimônio líquido das companhias também melhorou, embora não tenha atingido o patamar do terceiro trimestre de 2008. O indicador está em 40,9%, contra 44,1% no mesmo período de 2009 e 38,6% há dois anos.

Outro levantamento, realizado pelo economista Geraldo Biasoto, presidente da Fundação do Desenvolvimento Administrativo (Fundap) de São Paulo, analisou os balanços de 193 empresas não financeiras, excluindo Petrobras. A pesquisa mostra que as companhias industriais estão menos endividadas hoje do que estavam no pré-crise, ouem setembro de 2008.

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A relação entre o endividamento líquido e o capital próprio das empresas atingiu 0,31 no fim do terceiro trimestre deste ano, não só inferior aos 0,39 de setembro de 2009, mas também menor que há dois anos - 0,33 em setembro de 2008. "As empresas aproveitaram o momento de recuperação e, depois, a aceleração econômica, para deixarem seus balanços mais limpos", diz Biasoto, da Fundap.

Alexandre Espírito Santo, economista da Way Investimentos e professor de finanças da ESPM-RJ, diz que um caixa forte é confortável para a empresa e os acionistas em épocas de crise, como a que o mundo tenta superar agora. Além disso, o dinheiro deixa as companhias preparadas para aproveitar oportunidades de negócios. "Quando o mercado internacional voltar a crescer, o que talvez ainda não aconteça em 2011, os investimentos vão se acelerar e as companhias brasileiras estarão prontas para isso."

Mas ter recursos em caixa também preocupações às empresas. A Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) vive um dilema: o que fazer com um caixa que cresce mês a mês. No fim de setembro, estava em R$ 11,9 bilhões. Segundo um alto executivo da fabricante de aço, mineradora de ferro e produtora de cimento, custa caro à empresa carregar um caixa tão elevado, pois a aplicação não tem o mesmo rendimento se fosse tomar o mesmo recurso no mercado.

O que fazer, então? Entre as alternativas, antecipar pagamento de dívida não é interessante. Um caminho, explica o executivo, é fazer uma distribuição extraordinária de dividendos. Um outro, que é o que a companhia persegue, é a compra de ativos, mas isso não está tão fácil de se concretizar.

A Usiminas, maior fabricantes de aços planos do país e da América Latina, encerrou setembro com caixa de quase R$ 4 bilhões, considerado bem confortável. Com isso, a dívida líquida da empresa ficou em R$ 4,9 bilhões, 1,6 vez o resultado operacional. O foco da companhia tem sido garantir caixa forte e baixo endividamento.

"Estamos com um caixa expressivo, mas é bom lembrar que temos um plano de investimento de R$ 5 bilhões até 2014 com os nossos projetos de expansão e agregação de valor nas nossas linhas de produção", afirma Wilson Brumer, presidente da empresa. Para o setor mineração, no qual tem parceria com a Sumitomo, os recursos para investimento já estão garantidos com a venda de 30% do capital da Usiminas Mineração à companhia japonesa por US$ 1,92 bilhão.

Alexandre Póvoa, sócio da Modal Asset Management, acredita que a única justificativa para uma empresa manter dinheiro em caixa é a convicção de que poderá ter em breve uma boa oportunidade de negócio. "Caso contrário, é má gestão financeira."

Segundo ele, o ideal seria a empresa distribuir o caixa aos acionistas na forma de dividendos e, na hora de uma boa oportunidade, tomar dívida. "Mas estamos em um período de transição, em que as companhias ainda não têm confiança para fazer planos de investimentos. A tendência que é as empresas passem a ter mais segurança e, então, se endividem mais para crescer."

O caixa das companhias engorda com os resultados da atividade e, em alguns casos, com a captação de recursos por meio de ofertas públicas de ações. Algumas empresas têm até caixa líquido positivo, ou seja, possuem dinheiro suficiente para pagar toda a dívida e ainda sobrar recursos.

A companhia de shopping centers Multiplan é uma das que fecharam o terceiro trimestre com caixa líquido, de R$ 306,9 milhões. De acordo com Armando d'Almeida Neto, vice-presidente e diretor de relações com investidores, os recursos já estão comprometidos com projetos de crescimento em andamento. "Temos planos de investir R$ 1,4 bilhão de 2010 a 2012, o que será financiado com a geração de caixa e o dinheiro existente." Boa parte do caixa da Multiplan veio de uma oferta de ações realizada em setembro de 2009, de R$ 792,3 milhões. "A nossa geração de caixa é forte e também nos permite acumular", diz o executivo.

Algumas companhias que captaram recursos por meio de oferta de ações e de dívida já estão colocando em prática agressivos planos de crescimento. A Hypermarcas, fabricante de medicamentos, alimentos e de produtos de higiene e limpeza, coleciona

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aquisições. Após anunciar mais três compras, no total de R$ 251,5 milhões, em novembro, o presidente da empresa, Claudio Bergamo, disse que manterá a estratégia de crescer via compra de marcas e empresas.

O professor Ricardo Almeida, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), alerta para o fato de que dinheiro em caixa pode não ser indicação de que a empresa planeja investimentos. Para ele, pode ser sinal de precaução diante de um cenário de aquecimento da economia. "Se a operação vai crescer, os custos operacionais também vão, e as empresas sabem disso."

Para ele, ainda há um entrave à aceleração dos investimentos no Brasil, que é a infraestrutura. "As companhias não realizarão grandes projetos enquanto verem gargalosestruturais. Os investimentos virão quando houver certeza de que a infraestrutura também vai deslanchar", avalia.

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